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OS CONTRIBUTOS DA GEOGRAFIA
Cristina Peixinho*
Mª Leonor Gracias**
1. Introdução
Neste artigo abordam-se alguns contributos da Educação Geográfica
para o Desenvolvimento. A Geografia, desde há longa data constrói a sua
identidade na relação do mundo físico com o mundo social e, por isso, mui-
tos têm sido os autores que lhe atribuem uma posição de charneira entre as
ciências. Este atributo adquire particular importância quando o tema em
causa é as desigualdades sociais, não só entre pessoas, mas também entre
povos, culturas ou comunidades, porque estas se inserem em espaços con-
cretos, e um dos grandes objectivos da educação dos nossos dias consiste na
formação de cidadãos responsáveis. Não é por isso estranho que entre as
dimensões mais valorizadas pela Carta Internacional da Educação Geográfica
se conte a Educação para o Desenvolvimento e a Educação para a Cidadania.
Assim a nossa reflexão centrar-se-á essencialmente em dois pontos. No
primeiro, apresentam-se alguns temas, objecto de estudo dos curricula de
Geografia, e cujo tratamento nas aulas de geografia, poderá contribuir, direc-
ta ou indirectamente, para a formação de alunos mais responsáveis e quiçá,
porque estes são os adultos de amanhã, para o desenvolvimento do mundo
mais equilibrado e mais justo. No segundo, serão apresentadas algumas
experiências de trabalho, desenvolvidas tanto pela organização OIKOS,
como por aqueles professores que, interessados na temática do desenvolvi-
mento, se lhe têm associado, implementando trabalhos diversos e permitindo
assim um efeito multiplicador da Educação para o Desenvolvimento. Nesta
se conta também um pouco da nossa experiência.
Países em desenvolvimento
Saúde
968 milhões de pessoas não têm acesso a fontes de água melhoradas (1998)
2.4 mil milhões de pessoas não têm acesso a saneamento básico (1998)
34 milhões de pessoas vivem com HIV/SIDA (final de 2000)
2.2 milhões de pessoas morrem anualmente devido à poluição do ar interna (1996)
Educação
854 milhões de analfabetos adultos, dos quais 543 milhões de mulheres (2000)
325 milhões de crianças fora da escola nos níveis primário e secundário, das quais
183 milhões de raparigas (2000)
Privação de rendimento
1.2 mil milhões de pessoas vivem com menos de 1 dólar por dia (dólares PPC de 1993),
2.8 mil milhões com menos de 2 dólares por dia (1998)
Crianças
163 milhões de crianças com peso deficiente menores de cinco anos (1998)
11 milhões de crianças menores de cinco anos morrem anualmente de causas evitáveis
(1998)
Países da OCDE
15% de adultos são funcionalmente analfabetos (1994-98)
130 milhões de pessoas privadas de rendimento (com menos de 50% do rendimento
médio) (1999)
8 milhões de pessoas subalimentadas (1996-98)
1.5 milhões de pessoas vivem com HIV/SIDA (2000)
“... a educação deve ser um processo aberto a todos durante toda a vida.
Porque não basta, à semelhança do que acontece em muitos países em desen-
volvimento, promover a alfabetização e a educação básica. Por isso mesmo
continuam em desenvolvimento, porque não adquiriram a capacidade para
construir a sua própria prosperidade, eles mesmos por eles mesmos.”
Daqui resulta que os países que nas últimas décadas alcançaram maior
crescimento económico, com benefícios claros para a sua sociedade, foram
também aqueles que maiores esforços realizaram no campo da educação ou
mais se empenharam na promoção do desenvolvimento intelectual.
Um bom exemplo desta prática, caso de sucesso ao longo dos últimos 40
anos, chega-nos da Ásia Oriental, os chamados “Tigres” ou “Dragões” do
Oriente – Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Singapura. A aposta numa
estratégia de educação orientada para a tecnologia permitiu-lhes um rápido
desenvolvimento das qualificações humanas, indispensáveis ao domínio das
novas tecnologias. O ensino básico foi prioritário logo no início do desenvol-
vimento destes países, mas à medida que o seu crescimento se processava e a
necessidade de trabalhadores mais especializados e instruídos se tornava pre-
mente para alimentar a competitividade, o ensino secundário e superior cres-
cem também vertiginosamente. Em Singapura, o número de trabalhadores com
educação secundária quadruplicou num período de tempo reduzido. Na Coreia
do Sul, o ensino superior elevou-se de 16% em 1980 para 68% em 1996.
Como alguns economistas explicam, a principal razão do enorme suces-
so desta região asiática não foi o grande aumento de produtividade mas antes
o grande investimento tanto no capital físico como no capital humano. No
essencial, o que estes países fizeram, foi aproveitar com vantagem os eleva-
dos valores de população em idade de trabalhar, aquilo que muitos autores
consideram um verdadeiro “Bónus Demográfico”, prevendo assegurar no
futuro o grande peso de uma população idosa crescente.
A Índia é outro país com grandes esperanças em obter a longo prazo bons
benefícios sociais e económicos pelos esforços que recentemente tem realizado
na criação de pólos de crescimento tecnológicos de informação e comunicação
de empresas estrangeiras (Bangalore). 1250 empresas de software são hoje
responsáveis por cerca de 30% das suas exportações, um potencial que se
prevê que venha a crescer nos próximos anos, uma vez que se projecta para
1 Um exemplo significativo destes fóruns decorreu recentemente no nosso país, na Fundação
Calouste Gulbenkian. Neste se debateram com grande profundidade as relações entre a
Globalização, o Desenvolvimento e a Equidade.
170 Inforgeo 15 – Educação Geográfica
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Educar para o Desenvolvimento: os Contributos da Geografia 179