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URRÍCULO E MÍDIA
EDUCA TIV
EDUCATIV
TIVAA BRASILEIRA
É vedada a reprodução total ou parcial desta obra.
Associação Brasileira de
Editoras Universitárias
MARLUCY ALVES PARAÍSO
CURRÍCUL
URRÍCULOO E MÍDIA EDUCATIV
EDUCATIV A BRASILEIRA :
TIVA
PODER , SABER E SUBJETIVAÇÃO
Chapecó, 2007
REITOR: Gilberto Luiz Agnolin
VICE-REITORA DE PESQUISA, EXTENSÃO
E PÓS-GRADUAÇÃO: Maria Assunta Busato
VICE-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO: Gerson Roberto Röwer
VICE-REITOR DE GRADU AÇÃO
AÇÃO:: Odilon Luiz Poli
GRADUAÇÃO
CDD 375
|13| Prefácio
|17| Apresentação
|259| Referências
|273| Anexo
Ao escrevermos, como evitar que escreva-
mos sobre aquilo que não sabemos
ou que sabemos mal? É exatamente nesse
ponto que imaginamos ter algo a dizer.
Só escrevemos na extremidade do nosso
próprio saber, nesta ponta extrema que
separa nosso saber e nossa ignorância e que
transforma um no outro. É só deste modo
que somos determinados a escrever. Suprir a
ignorância é transferir a escrita para
depois ou, antes, torná-la impossível.
Deleuze
P REFÁCIO
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A noção de flechas foi tomada da reflexão de Nietzsche (1999) sobre a aventura intelectual. Nessa
reflexão ele sugere que os pensadores atiram flechas no vazio, até que outros pensadores as
recolham para enviarem em novas direções: “La Naturaleza dispara al filósofo como um dardo em
médio de los hombres; no apunta, pero espera que el dardo quede clavado em alguma parte.”
(Nietzsche, 1999, p. 134).
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A “palavra mídia passou, nos últimos anos, a ser usada em lugar de meios de comunicação ou em lugar
da simples citação do meio considerado” (Fischer, 1996, p. 29). Fischer mostra, em seu trabalho, “o
caráter ‘globalizado’ do funcionamento dos meios, no sentido das mútuas-referências e da redundância
dos textos” (Fischer, 1996). Nessa mesma direção, utilizo o termo mídia em lugar da citação do meio
considerado. O termo mídia educativa, por sua vez, é utilizado para referir os meios (televisão e revista)
destinados explicitamente a educar pessoas à distância, em parceria ou em substituição à escola.
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Utilizo neste livro o feminino acompanhando o masculino, quando me refiro a homens e mulheres.
Em alguns casos utilizo apenas o feminino, como por exemplo, quando me refiro às professoras, já
que, como mostro ao longo deste livro, trata-se de um discurso endereçado para professoras, mulhe-
res. Tal decisão apóia-se no entendimento de que a linguagem institui o sujeito e de que seu uso
produz relações de poder; neste caso, relações de poder relativas a gênero. Para Scott (1990, p. 11),
uma escrita que não leve a linguagem em consideração “não saberá perceber os poderosos papéis que
os símbolos, as metáforas e os conceitos jogam na definição da personalidade e da história humanas”.
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Em levantamento que fiz sobre a produção de artigos, dissertações e teses sobre mídia e educação
no Brasil na década de 1990 – Paraíso (1999a) –, encontrei muitos trabalhos sobre a recepção de
programas televisivos. Alguns desses estudos podem ser vistos em: Guerra (1991), Castro (1992),
Ferraz (1993), Mario (1995), Barros (1995), Rocha (1995), Trindade (1996), Nampo (1996),
Cunha (1997), Gomes e Cogo (1997), Venegas (1997), Batista (1998) e Franco (1998).
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Já realizei uma pesquisa de recepção. Em 1999 concluí uma investigação que analisava o
impacto dos programas televisivos do canal TV Escola no currículo de uma escola pública muni-
cipal de Belo Horizonte (MG), divulgada pela Secretaria de Educação a Distância do MEC
(SEED/MEC) como “escola que fazia bom uso de programas televisivos” (Paraíso, 1999b).
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Currículo cultural é usado por Giroux (1995a) para diferenciar de currículo escolar. Ainda que
o currículo escolar seja também cultural (aliás um artefato cultural por excelência), a expressão
currículo cultural enfatiza a importância de pesquisadoras na educação estudar outros currículos
(além do escolar) que contribuem para a formação das pessoas e que disputam espaço na produção
de sentidos e dos sujeitos.
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Essa característica educativa da mídia tem feito com que pesquisadoras dirijam seus esforços para
analisar os diferentes modos utilizados pela mídia para ensinar. Nesse sentido, são exemplares os
estudos de Fischer (2001a, 2001b) que analisam o “dispositivo pedagógico da mídia”. A autora
analisa uma variedade de programas televisivos – como desenhos animados, programas de entre-
vistas e de auditórios, novelas etc. – para mostrar os diferentes modos da mídia fazer-se pedagógi-
ca. Se a mídia ensina nesses diferentes programas, uma multiplicidade de técnicas e tecnologias é
colocada em ação quando decide declaradamente ensinar e ajudar a “salvar a escola pública
brasileira”. É isso que analiso e mostro neste livro.
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Estou me referindo ao canal “TV Escola” que faz parte do “Programa TV Escola”, criado pela
Secretaria de Educação a Distância do MEC (SEED/MEC) no ano de 1995. No tópico “Do
corpo discursivo” do próximo capítulo explicarei o que é o programa. A revista “TV Escola”,
material de análise desta investigação, também faz parte do “Programa TV Escola”.
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Segundo dados divulgados pela SEED/MEC, até dezembro de 1997 os programas do canal TV
Escola já haviam chegado a 48.980 escolas públicas do ensino fundamental, das 53.969 existentes
no Brasil com mais de cem alunos. Esses dados foram divulgados pela SEED/MEC em folhetos
e encartes que vieram anexados aos vários números da revista “TV Escola” em 1998.
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Em diferentes trabalhos no campo dos estudos culturais o termo texto é tomado como sinônimo
de discurso. Veja por exemplo Giroux (1995b), Kellner (1995) e Costa (2000). Conforme afirma
Silva (2000b, p. 106-107), o fato de confundir-se freqüentemente os dois conceitos “tem levado a
tentativas de fornecer definições que distingam os dois termos – em última análise, esta distinção
dependerá do contexto específico em que serão utilizados”.
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a escola pública e seus problemas, bem como o currículo escolar, sejam alvo
de atenção em discursos cujos enunciados circulam em diferentes espaços
sociais: na universidade, nos institutos de pesquisa, nas famílias, nas
instituições assistencialistas, políticas e na mídia.
Neste livro, trato das ações e dos investimentos sobre a educação feitos
por uma instituição específica: a mídia. Analiso o discurso sobre a educação
escolar dentro de um espaço: o espaço da mídia educativa. Movo-me, então,
em dois campos discursivos: o da educação e o da mídia. Este capítulo tem
por objetivo relatar o caminho teórico-metodológico que percorri durante este
estudo, apresentando algumas considerações sobre a trajetória da pesquisa
realizada, sobre os textos selecionados para a análise e as ferramentas conceituais
que possibilitaram os argumentos desenvolvidos ao longo do livro.
DO CORPO DISCURSIVO
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O corpo discursivo de uma pesquisa é constituído pelos materiais escolhidos para analisar
determinado discurso. Neste livro trata-se dos materiais (meios e textos) escolhidos para analisar o
discurso da mídia educativa brasileira sobre a educação escolar.
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Foucault (1995a) usou o termo “modalidades enunciativas” para conceituar as formas pelas
quais enunciados aparecem em espaços e épocas particulares. Trata-se das posições e lugares que
são ocupados nos discursos para que algo se torne dizível e operável.
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Agradeço as contribuições das então bolsistas Shirlei Rezende Sales do Espírito Santo (Aperfei-
çoamento CAPES) e Angelamara Funayaamo (Iniciação Científica CNPq) nessa etapa da pes-
quisa.
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Os quinze parceiros do canal são: CNI (Confederação Nacional da Indústria), FIRJAN (Fede-
ração das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), FIESP (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo), Fundação Bradesco, Banco Itaú, CNN Internacional, Fundação Odebrecht, Grupo
Votorantin, Fundação Vale do Rio Doce, Instituto Ayrton Senna, RBS (Rede Brasil Sul), Sadia,
CNT (Confederação Nacional do Transporte), Rede Globo e SEBRAE/Nacional.
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O “Amigos da Escola”, por exemplo, é um projeto da Rede Globo financiado pela Telemar, pelo
governo da Bahia, pela Petrobrás e pelo Banco Itaú.
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Com pequenas chamadas do tipo: “Banco Itaú, parceiro do Futura na aventura do conhecimento”,
“a Rede Globo acredita no Futura”, “Grupo Votorantin, mais uma parceira da rede do conhecimento”,
“O Bradesco também acredita nesta parceria para o conhecimento”, “Quem quer um Brasil melhor
investe na educação e no Futura” (RBS TV e Sadia), o Futura nomeia os parceiros do investimento
na educação. As propagandas que divulgam a importância desse canal estão veiculadas em diferentes
espaços da mídia, como revistas, jornais, rádios e outros canais de TV.
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Os equipamentos que compõem o kit tecnológico são adquiridos “pela escola por intermédio da
Secretaria de Educação do Estado ou pelo Município, com recursos do BIRD e do salário-
educação administrados pelo FNDE/MEC” (TV Escola, n. 17, 1999, p. 2). A distribuição do kit
foi planejada pela SEED do seguinte modo: “as escolas das redes estaduais devem procurar as
Secretarias de Educação e as escolas das redes municipais devem dirigir-se à prefeitura, para
solicitar sua inclusão no projeto de aquisição do kit a ser encaminhado ao FNDE. Tem direito ao
kit toda escola pública servida por energia elétrica, com mais de cem alunos no ensino fundamental”
(TV Escola, n. 17, 1999). Com grande parte das escolas equipadas, o MEC deixou as escolas
“prontas” para receber programas educativos. Agora vem investindo em propagandas que
recomendam sua utilização e/ou narram as conquistas alcançadas por aquelas escolas que fazem
uso desses programas.
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Trabalhos sobre programas tipicamente educativos ou que discutem a educação a distância no
Brasil podem ser vistos em: Teixeira (1991), Nadal (1993), Wink Filho (1994), Araújo (1995),
Scala (1995), Blois (1996), Foresti (1996), Nampo (1996), Soares (1996), Trindade (1996),
Guimarães (1997) e Coutinho (1997).
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O “Amigos da Escola tem o apoio do MEC e o suporte técnico do Centro de Estudos e Pesquisas
em Educação, Cultura e Ação Comunitária (CENPEC)”.
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A Coleção Amigos da Escola, elaborada pelo CENPEC e enviada pela Globo a todas as escolas
que se cadastraram no projeto, “visa orientar tanto a escola como os possíveis voluntários e instituições
parceiras sobre como desenvolver um trabalho conjunto”. Com uma escrita simples, a coleção
propõe o que os voluntários podem fazer nas escolas, como a escola deve recebê-los e orientá-los e
a importância desse trabalho para a melhoria da escola pública.
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A Rede Globo também reprisava o programa naquele período todos os sábados às 8h15min.
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Palavras usadas pelo apresentador do programa ao sintetizar do que se trata o Ação.
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Até abril de 1999 a tiragem era de 200 mil exemplares. A revista “TV Escola” (n. 15, mai./jun.
1999), informa que “a tiragem foi ampliada para 300 mil exemplares, para que possa chegar a um
maior número de professores”.
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A revista possuía 36 páginas. O aumento de páginas e algumas mudanças efetuadas foram
anunciados com entusiasmo na página da carta ao editor da revista (n. 15, mai./jun. 1999, p. 4).
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Veiga-Neto (2000) apresenta algumas dificuldades e potencialidades dessa articulação.
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Algumas introduções, sínteses ou problematizações podem ser vistas em: Nelson, Treichler , Grossberg
(1995), McRobbie (1995), Simon (1995), Giroux (1995b), Kellner (1995), Silva (1995a, 1999a),
Escosteguy (1999), Johnson (1999), Costa (2000a), Veiga-Neto (2000) e Paraíso (2004).
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Conforme explicita Rose (2001a, p. 50), a noção de dobra é usada com base em Deleuze e “sugere
uma forma pela qual podemos pensar na emergência da internalidade no ser humano sem postular
qualquer interioridade prévia”. Indica “uma relação sem um interior essencial, uma relação na qual
aquilo que está ‘dentro’ é simplesmente um dobramento do exterior” (Rose, 2001a).
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Esse conceito será melhor definido adiante. A respeito ver Foucault (2000b), Burchell, Gordon e
Miller (1991), Gordon (1991), Miller e Rose (1993) e Rose (1997a, 1997b, 1998, 2001a, 2001b).
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Para uma discussão sobre jogos eletrônicos e o governo de si e dos outros ver Mendes (2006).
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Primeiramente, para Foucault (1988a) não existe um centro a partir do qual emana todo o poder.
O poder não se localiza no Estado ou na fronteira das classes. Ou seja, Foucault pulveriza e
descentraliza o poder; o poder não vem de um centro ou das instituições, mas de “todos os lugares”
(Foucault, 1988a, p. 89). Em segundo lugar, o poder não é descendente, mas ascendente. Toma
os indivíduos ao mesmo tempo como objeto e como instrumento de seu exercício e vai pouco a
pouco invadir essas formas maiores. Em vez de agir de cima para baixo, submetendo, ele se irradia
de baixo para cima e vai se alastrando, já que o poder é um conjunto de relações (Foucault, 1999,
p. 143). Em terceiro lugar, se o poder é uma relação ou uma estratégia, ele se exerce antes de se
possuir e não é de mão única (Foucault, 1999, p. 26). Por fim, o poder não é essencialmente
repressivo, já que incita, suscita, produz (Foucault, 2000h, p. 148).
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A preocupação de Foucault com a verdade deu-se sempre de modo diferente das preocupações
tradicionais que, como ele mesmo expressou, pareciam buscar uma verdade preexistente. Ele
preocupou-se com a política do verdadeiro: processo pelo qual determinados discursos vêm a ser
considerados verdadeiros. Não existe uma verdade a ser descoberta; existem discursos que a
sociedade aceita, legitima e faz circular como verdadeiros (Foucault, 2000g, p. 231).
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Racionalidade prática é entendida como um pensamento prático, que utiliza “determinados
expedientes técnicos de escrita”: “listagem, numeração e computação” (Miller; Rose, 1993, p. 79).
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Formato 16 X 23 cm
Tiragem 800
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