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Breno Melaragno
Alunos
Júlia Cardoso
Rodrigo Abreu Pinto
A partir deste momento, o soberano (ou seja, o próprio Estado) passa a ser considerado o
verdadeiro lesado pelos crimes cometidos. Logo, posto que o dano é causado principalmente ao
soberano, surge a figura do procurador do rei como o danificado, substituído a vítima ao tomar o
autor do crime do objeto da indagação. Essa característica do Estado possuidor do monopólio da
resolução dos conflitos inter-individuais perdura até hoje, incluindo a figura do procurador. Alterou-
se, no entanto, a perspectiva de publicização da investigação: naquela altura, o inquirimento corria
em segredo do público e até mesmo do acusado. Esse ocultamento seria denominada por Foucault
de “produção da verdade na ausência do acusado”, evidenciando como ao acusado não lhe era
permitido o ônus da prova em sua defesa - ao contrário do que ocorre atualmente em que o ônus
da prova concerne tanto a acusado. De modo geral, as garantias ao acusado eram realmente
exíguas, pois esse era visto como alguém perigoso desde o momento da denúncia, permanecendo
preso e sem comunicação com o exterior (inexistia a figura do advogado). No interior da prisão, o
acusado poderia ser submetido a tortura física para que a “verdade” fosse enfim confessada, a qual
deveria em seguida ser pronunciada aos juízes pelo próprio acusado como “confissão espontânea”.
Se é certo que o sistema penal contemporâneo não prescreve legalmente tal prática, não é menos
certo que ela é recorrente em delegacias e presídios, sem falar nos inúmeros casos de “prova
plantada” contra o acusado.
Em seguida, a partir dos reformadores dos séculos XVIII e XIX, surgem as teorias penas
interessadas na requalificação dos criminosos como sujeitos de direito, exortando a função corretiva
da pena, capaz de reabilitar o sujeito como alguém novamente apto ao pacto social. Como bem
afirma Foucault, “não se pune para apagar um crime, mas para transformar um culpado (atual ou
virtual): o castigo deve levar em si uma certa técnica corretiva”. Para cumprir tais objetivos, a prisão
é enfatizada como lugar adequado para a transformação dos criminosos, pois seria o espaço onde
se aplicaria nos presos a técnica corretiva já que neutralizaria “virtualidade de perigos contida num
indivíduo e que se manifesta no comportamento observado cotidianamente”. A partir de então,
ocorre a centralização das penas na prisão, de modo pena de prisão é tornada a mais recorrente e
absoluta até hoje.