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Comportamento
e Cognição
Temas aplicados
Volume 19
Organizado por Roosevelt R. Starlíng
ESETec
Editores Associados
2007
Copyright © desta edição:
ESETec Editores Associados, Santo André, 2007.
Todos os direitos reservados
Starting, R. R.
400 p. 23cm
CDD 155,2
CDU 159.9.019.4
ISBN - 85-88303-85-X
Apresentação...................................................................................................... 11
Roosevelt R. Starling
7
Prefácio
10
Apresentação
Roosevelt R. Starling
12
Capítulo 1
O que precisamos para descrever
a prática da terapia comportamental?
S obre C o m p o riam en lo e C o jn iç ã o
Mineiro de Uberaba. Como cada estudo exige um procedimento que possibilite resposta
as questões e neste caso era solicitação do setor do mastologia ,pois pelos dados da
literatura há indícios de que fatores psicológicos estão relacionados ao relato de dor.,
Jenkins,Jamil,Gately e Mensel (1993). Conhecíamos também os dados de Gíannotti
que realizou um estudo de impacto sobre queixas de dores cardíacas em usuários de
um hospital, que resultou em mudanças no atendimento e internações.
O objetivo do estudo foi caracterizar a dor de mama e avaliar alterações depois das
informações fornecidas pelo pesquisador. Após uma entrevista semi-est/uturada foi solicitado
a 50 mulheres o registro no domicilio, durante uma semana, da ocorrência da mastalgia. Ao
retomarem com os registros o pesquisador transmitiu ao grupo A informações sobre dor de
mama e ao grupo B sobre estilo de vida e novamente solicitou-se registro de dor.
Os dados demonstraram que a dor é avaliada entre moderada ou intensa, com
duração de um a dez anos, e que a maioria utiliza estratégias para lidar com ela. A dor
ocorre no trabalho e no lazer, com ou sem atividade física, só ou acompanhada sugerindo
multideterminação. A maioria receia que seja sinal de câncer e algumas relacionam
com depressão, problemas familiares ou conjugais. Há indícios que as informações
tranqüilizaram as participantes.
Uma análise dos registros da primeira e segunda etapa demonstra que favorecem
obter um quadro da dor. Foi possível verificar os antecedentes da dor, as atividades realizadas
durante o dia. Alguns participantes concluíram que a dor era da coluna o que pode ser
explicação plausível por não existir patologia que explicasse a dor. Também podemos
supor que melhorou a auto-observação pois as participantes estavam sozinhas em mais
da metade dos episódios de dor. Interessante constatar que 19 participantes admitem que
medo está relacionado a dor pois o falar pode desencadeá-la e distrair fazer com que
desapareça. Há participantes que se tranqüilizam com as informações e resultados normais
dos exames. Metade das participantes desconheciam que outras mulheres tinham dor de
mama o que pode provocar medo. Além do medo a depressão é outro estado interno
relacionado a dor para os participantes relacionaram três das cinco palavras com a
donproblemas familiares,câncer, depressão, medo e problema conjugal.
As mulheres que não realizaram o registro foram contatadas por telefone ou
pessoalmente. Embora se espere perda de dados, provavelmente falta de mais detalhes
fornecidos pelo pesquisador, escolaridade e falta de consequenciação para devolução,
podem ser fatores ponderáveis. Se a dor existe para algumas mulheres o problema é
individual e corrobora a existência de programas psico-educativos nos hospitais,
ministrados por equipes multidisciplinares.
Este tipo de estudo analisou o relato escrito, feito em registros e pode ser que a
dificuldade para escrever, reduziu os dados obtidos. Ma também propiciou a inexistência de
relatos dramáticos, diante desse tipo de situação. É no entanto uma fornia de mesmo em
prestação de serviço obter dados que favoreçam formas de intervenções mais adequadas a
população. Também, caracterizar dor sem componente orgânico que justifique, é tarefa difícil.
Em 1997, Joscelaine M. Silveira depositou um mestrado sobre” o estudo das
verbalizações de um terapeuta em relação a queixas apresentadas pelo cliente. Embora
tenha transcrito as sessões gravadas e analisado as interações do terapeuta cliente,
escolheu verificar as queixas que permaneciam e como se agrupavam. Analisou também
quais as conseqüências fornecidas pelo terapeuta especialmente como era o feedback
para os fatos relatados e as metáforas que haviam tido impacto no comportamento do
cliente. Portanto a análise de classes de verbalizações do terapeuta e cliente mostraram
que o comportamento do terapeuta foi controlado pela descrição da queixa e as verbalizações
deste, em resposta as queixas, aumentaram a freqüência em relação a elas. Embora o
comportamento do terapeuta possa ter sido controlado por variáveis não observáveis na
sessão, estava, no entanto, controlado pelo referencial teórico, durante suas intervenções.
Sobre C pm portanvenlo.e C o jn lç io
Continuando a resumir os (rabafhos, e procurando difundir pra que os
interessados procurem publicações ou as teses na biblioteca da USP, pois nelas estão
contidos detalhes relevantes da colocação do problema e analise de dados e
metodologia. É uma forma de demonstrar como analisar a interação terapeuta cliente é
relevante. São teses demoradas de anos de trabalho e analise detalhada.
Veremos o problema de pesquisa colocado por Regina W íelenska(2002)
“Adesão a mudança de com portam ento: interações verbais terapeuta-cliente nas
primeiras sessões". Trabalho parcialmente publicado em 2003. O objetivo da tese estava
escolhido, mas o terapeuta e cliente foram escolhidos, pelo acaso. Dupla bem-humorada
e trabalhando em conjunto harmonioso. Poucas sessões eram suficientes para estudar
o tema, que seria a tese. No entanto, o contrato previa o final da terapia como um direito
de c/iente, Uma das classes de com portam ento que se destacou foi o humor nas
sessões. O cliente tinha uma história de desistência de terapias anteriores, e como as
sessões foram conduzidas facilitou a adesão, pois o terapeuta percebeu que poderia
dar tarefas e treinar comportamentos mas que o humor era fundamental no caso
especifico. Portanto, a interação terapeuta cliente, obedeceu características próprias
que facilitavam a adesão a tratamento. O ouvinte faz o contraponto do falante e nesse
sentido o terapeuta modelava a fala do cliente. A classe de resposta produzir humor,
interação em que as verbalizações do T ou C provocavam risadas em ambos, salvo em
situações em que o T preferiu não rir junto, pelo fato do cliente ter feito comentário
jocoso sobre si próprio. O relacionamento não punitivo removeu ou atenuou a estimulação
aversiva. Evidentemente haviam outras classes de resposta como emitir verbalização
com tema diferente do que estava sendo abordado pelo interlocutor, alterando o tema
da conversa ou dirigir pergunta ao interlocutor obtendo um não como resposta ou ainda
sem solicitação, fornecer ao interlocutor informação considerada clinicamente relevante.
Esses são exemplos de classes de respostas de T e C. Salientei mais o humor
para mostras que as vezes as sessões surpreendem. O sucesso das intervenções
pareceu depender dos participantes modelarem o comportamento verbal do interlocutor,
com expressões reciprocas de respeito, admiração e solidariedade sem aversividade,
como observamos em Wielenska e Kerbauy (2003). Os relatos de mudança e a adesão
foram os reforçadores do terapeuta.
É um percurso fascinante a análise da interação terapeuta cliente. Descrevi esse
percurso em estudos diferentes, publicados nesta coleção Comportamento e Cognição.,
desde o vol1, Mas o primeiro trabalho foi apresentado no Instituro Sedes Sapientiae, em
1996, quando Roberto Banaco (PUC) e eu (USP) fomos convidados para falar em um
jornada sobre Pesquisa em Cínica, com profissionais de diversos referenciais teóricos.
Em cada dia do curso, dois profissionais do mesmo referencial, de instituições diferentes,
expunham suas idéias que eram debatidas pela audiência no final. Foram publicadas
nos Cadernos de Pesquisa do Instituto Sedes Sapientiae (1996). A conferência que fiz foi
reformulada e publicada no volume 1 de Ciência e Cognição.
20 R íc h d K od rtg u tt Kertoauy
que facilitem esse trabalho que pode ser empregado por ex, sem programas especiais
para encontrar palavras.
Form ular questões relevantes e o riginais. Há possibilidades de descrever uma
metodologia ou esclarecer um conceito ou utilização dele óü de técnicas^ em detalhes.se
a questão é bem formulada. Também avalio se a questão responde um prqblema que
afete o trabalho profissional e beneficie o paciente. Se é possível caracterizar o trabalho
como de pesquisa e porque.
Considero que deveria olhar também a viabilidade e o repertório de entrada do
orientando ou aluno e o meu próprio para trabalhar com os detalhes necessários, sem
tomar o empreendimento aversivo. Confesso que esse item é o pior, pois considero que ter
alguém que trabalha lado a lado é um reforço e que refazer até chegar as classes também
é reforçador. Descobri, que pode não ser para todos... e no Brasil é comum encontrar um
ouvido amigo, disposto a ouvir queixas com muita pena... mas isto é uma outra história
embora precise ser prevista. Suponho que uma variável relevante é a pergunta ser instigante.
A pesquisa proposta passa a ser também, um estudo de caso.Se a proposta é analisar
a interação terapeuta cliente, o efeito da terapia é o resultado do que acontece na sessão.
A avaliação e o diagnóstico acontecem ao mesmo tempo no desenvolvimento da
terapia, portanto as questões propostas pelo terapeuta, pesquisador, devem conter uma
descrição desse processo e procurar descrever quais são os eventos eliciadores ou o
contexto, os discriminativos e os reforçadores. A analise funciona! é o objetivo último.
Exemplos de problemas que podem ser a questão das sessões transcritas; Quais
as decisões do terapeuta durante a sessão e o que a controlou? Qual o efeito dessa
escolha no comportamento do cliente? Como o terapeuta identifica os eventos emocionais
e como analisa para o cliente? Para Skinner (1989) o sentimento é um tipo de ação sensorial,
como ver e ouvir. Decorre disto como são as condições públicas responsáveis pela descrição
do sentimento do cliente. Quais as palavras preferidas pelo cliente para descrever eventos
e como o terapeuta atua para modifica-las ou não? Quando o conhecimento das
contingências foi traduzido para o cliente de modo a facilitar sua vida?
Ler e reler e ouvir a fita ou ver o vídeo até encontrar o episódio que determinará o corte
da sessão. A pergunta de pesquisa é que determina a exclusão das falas posteriores.
Nada impede que trechos excluídos sejam recuperados posteriormente se a pergunta
foi ampliada, trocada ou se o corte mostrou-se inadequado em outras leituras. Este
começo é um ir e vir que exige reflexão e conhecimento de análise funcional.
Análise dos trechos selecionados. Que implica em um levantamento de categorias
iniciais, que no caso das em oções, poderia ser quais as em oções d escritas
acompanhadas de descrição fisiologia e quais as nom eadas com descrição das
situações. À medida que a analise prossegue e novas categorias são formuladas, ao
compará-las é possível agrupá-las em classes. Geralmente as classes começam
minuciosas e detalhadas e, no decorrer da análise, é possível agrupá-as em classes
mais amplas.
Como última fase exam ina-se criticam ente o que foi relatado e a intervenção do
terapeuta. O exame crítico é apoiado na literatura. È importante salientar que para analisar
a interação terapeuta cliente, é preciso ter as duas falas em seqüência, para que o dado
permita a analise. Também se as falas forem analisadas sep.àradas é praticamente
impossível juntá-las. Para encontrar uma classe de resposta, pode ser necessário
várias falas de ambos, pois o que a define é a funcionalidade,
É fundamental verificar quais estímulos discriminativos são fornecidos pelo terapeuta
e quais são formulados pelo cliente e como ele transpõe o que acontece na sessão para sua
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Resultados e Discussão
A seguir serão apresentados dados coletados durante a fase de linha de base
do processo terapêutico, ou seja, durante as quatro primeiras sessões de atendimento.
Mediante o preenchimento das folhas de registro de monitoração e por meio do relato
verbal foram observadas ocorrências de situações-problem a e com portam entos
específicos. Abaixo consta um fragmento de sessão ilustrativo:
Situação freqüente - o marido, constantem ente, se recusa, sem justificativa, a
acompanhar a esposa (cliente) em eventos comemorativos de sua família, e se recusa,
também, a acompanhá-la na terapia.
T - Como você se comporta quando L. se recusa e se mostra indiferente nestas situações?
C - Eu tento conversar, explicar a importância da presença dele para mim Às vezes ele nem
me olha enquanto eu falo. Mas eu insisto?!! Só que chega uma hora que a gente se cansa,
né!? Aí, na maioria das vezes, eu também não vou, ponque é muito chato chegar sozinha e
ouvir as pessoas perguntando por ele o tempo todo. Tenho que ficar inventando desculpas...
T - E com relação a terapia? Você não desistiu.
C - É que eu quero muito aprender a lidar com todas essas situações. Não sei se
agüento continuar casada se isso continuar...
Por meio do relato verbal supracitado observa-se que a cliente acredita estar
agindo adequadamente insistindo no diálogo e desistindo de sair quando o marido não
lhe dá atenção. Entretanto, por meio do estabelecimento de relações funcionais entre
os eventos descritos, considerando a freqüência de ocorrência de situações
semelhantes, observa-se que há conseqüências reforçadoras para os comportamentos
inadequados do marido (recusa em acompanhá-la sem justificativa? e indiferença
enquanto ela verbaliza). A partir disso, estes comportamentos tenderão a aumentar de
Quadro 2 - Exemplos de regras formuladas pela cliente com relação a seus comportamentos,
aos comportamentos do marido e referentes à relação conjugal.
Na seqüência, há um fragmento de sessão que complementa as demonstrações
de insatisfação da cliente com o relacionamento conjugal, em que relata não acreditar
nas mudanças no comportamento do marido, bem como aponta pensamentos de
incapacidade sobre a conquista de resultados. Observa-se que a cliente antecipa
resultados negativos e faz generalizações sobre tentativas anteriores de modificação:
T: Como foi sua semana com seu marido?
C: Péssima!!! Não vou conseguir sair desse casamento e não consigo suportar as
coisas como estão, (choro...)
T: Você já tentou agir de outra maneira pra conseguir resultados diferentes?
C: Não adianta nada. Já tentei de tudo.
T: Tudo o quê?
C: (Tempo) ...Na verdade, acho que sempre fiz tudo igual. Vivi pra ele. Faço tudo o que ele
quer. Se eu mudar, a tendência é que as coisas piorem ainda mais...
T: Mas, você já tentou?
C: Não. Desse jeito acho que não.
Segue a apresentação de alguns exemplos de análise funcionais realizadas,
também, durante a fase de linha de base. Serão considerados para análise os
comportamentos do marido, os comportamentos da cliente que conseqüenciam os
comportamentos do marido e as conseqüências gerais:
A seguir serão apresentados os resultados gerais das intervenções efetuadas,
referentes aos comportamentos da cliente e as conseqüências para a modificação dos
padrões de comportamento de interação do casal.
Um fragmento de sessão que evidencia o aprendizado da discriminação das
contingências em vigor e suas conseqüências será apresentado a seguir. O relato
ilustra um trecho do diálogo entre terapeuta e cliente após explicações gerais sobre
como as contingências devem ser analisadas.
S itu ação A n te c e d e n te C o m p o r t a m e n t o s da C l i e n t e
C o n s e q ü ê n c ia s para o C o n s e q ü ê n c ia s G e ra is
C orn p ç r t a n i e n í o s do M a r i d o C o m p o r t a m en to d o M 3 r id o
Marido dí z que não Insi ste para que el e vâ El e v a i a p ú s m e i a h o r a d e
comparecerá a festa da Ch ora D iz q u e n ã o fic a rã o insist ência e f i ca irritado.
f a mí l i a, poi s acha os p o r m u i t o ( e m p o . R e c l a m a do Di s cu t em e c h e g a m no final
pa r en t es dela e s n o b e s . casam e n l o . da f e s la .
P> * = C o n s e q ü ê n c ia s G e ra is
C o n s e q ü ê n c ia s para o
C o m p o r ta m e n t o s d o M a r i d o C o m p o rta m e n to do m a rido
Ma r i d o a c on v i da para ( ant ar Arruma-se em t empo S a e m no h o r á r i o c o m b i n a d o .
f o r a . El e e s c o l h e o l u g a r e m adequado. Agradece o A m b o s se d i v e r t e m d u r a n t e
que irão . c o n v i t e e di z q u e a d o r o u a a noi t e e c o n v e r s a m s o b r e
s u r p r e s a . N o v a s f o r m a s de assuntes que não eram
d e s c r e v e r as c o n t i n g ê n c i a s : discutidos antes.
"É. . . acho que vai ser
di v e r t i d o . . . N ã o v o u r e c f a m a r
d i s s o . . . O u t r o di a v o u c h a m á -
lo p a r a sai r e e s c o l h e r o
l ugar . . . A c h o q u e el e d e v e
estar q u e r e n d o m e agr ada r,
d o j ei t o d e l e . V o u c u r t i r a
n o i t e e m o s t r a r q u e g o s t e i do
c o n v i t e . V o u a p r o x i m á - l o de
mim e não af ast á-l o c omo
vi nha f az e n d o
Figura 4 - Análise funcional do comportamento da cliente durante situações envolvendo problemas
com o marido, durante a fase de intervenção.
Linha de Avaliação
Base Final
Figura 7 - Demonstração de habilidades por parte do marido, por meio de demonstração de atenção,
expressão de elogios e comunicação de desagrado por meio de apontamento e não de brigas,
durante as fases de linha de base e avaliação final.
Considerações Finais
É importante ressaltar que os resultados dos atendimentos dependeram da
disponibilidade da cliente em questão para lidar com as contingências aqui expostas e
adesão ao procedimento terapêutico, bem como da identificação da possibilidade de
recuperação e estabelecimento de interações conjugais adequadas.
Vale enfatizar que cada caso clínico apresenta-se de forma diferenciada,
podendo, em alguns casos, haver baixa probabilidade de ocorrência de modificações
consideráveis nos comportamentos de interação do casal, principalmente quando são
realizadas intervenções apenas com um dos conjugues, como foi o caso.
Houve importantes modificações nos comportamentos apresentados pela
cliente, como na habilidade de comunicação e assertividade, e conseqüentes mudanças
na forma de interação do casal. Entretanto, o trabalho terapêutico funcionou com algumas
limitações, pois a participação do marido no processo terapêutico seria um fator facilitador
das intervenções. Neste caso, o processo terapêutico realizado com a esposa atendeu
a maior parte dos objetivos propostos, pois esta apresentava poucas habilidades verbais
e não-verbais de comunicação que necessitavam de intervenção individual.
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1Este e 09 demais participantes recebem tratamento ABA na HeliantoApücar - Centro de Estuòos e Tratamento dos Transtornos Invasivos
áo DesenvoWmenlo e Quadros Assemelhados em São João dei-Rei (MG)
do participante, tais como resposta de observação, contato visual, coordenação manual
e óculo-manuai, uso funcional de objetos e AVD’s (atividades de vida diária) mostrava-
se ausente ou insuficiente. Igualmente, habilidades mais específicas - como, por
exemplo, as habilidades de auto-proteção: caminhar em uma calçada, desviar-se de
objetos ao caminhar, não ingerir substâncias estranhas - e habilidades sociais básicas
- tais como participar de atividades de lazer em grupo, respostas de cooperação,
desempenhar uma tarefa simples quando solicitado ou simplesmente, esperar sua vez
em uma fila -, também apresentavam déficits severos ou ausência. Com relação às
habilidades verbais, o repertório vocal do participante era reduzido a ecóícos e ocasionais
frases descontextualizadas. Na escala ABLLS o participante apresentou aproveitamento
igual a 15%, ou seja, dos 680 itens avaliados, o participante desempenhava apenas 99
e nenhum deles com desempenho suficiente. Trata-se, portanto de um jovem com
repertório bastante restrito e déficits marcantes em várias áreas do desenvolvimento.
4 Para o cálculo da ftuênda de um repertório, dividimos o número das ocorrências corretas da resposta-alvo dividido peto número total d©
oportunidades da respasta-alvo Em se tratando de um reperlotio de mandos, acertamos o critério de fluénda cotno 100%, ou seja, a
resposta-alvo ocorreu em todas as oportunidades de resposta disponíveis.
Resultados e discussão:
H Ú M E R âB * SESSÃO D * TftSIMQ
GRÁFICO 1; Número cto respostas corretas nos 30 íe w fle s de tro rio para a inpíantaçflo do prim eiro mando BEBER.
GRÁFICO 2: Número de respostas correias nas 34 sessões de treino para a im plantação da segundo mando
COM£R.
GRÁFICO 3: Número de respostas corretas nas 151 sessòes de treinam ento dos dois mandos
sim ultaneam ente (Beber e Comer)
Método
Linha de Base: Nesta primeira fase foi verificado o repertório de entrada do residente.
Foi realizada observação sistemática e registro do desempenho do residente em situação
não-treinada da atividade. O terapeuta apresentava o Sd e registrava a seqüência e os
componentes que o treinando realizava sem assistência. As respostas não foram reforçadas.
Análise de tarefa: A análise de tarefa consiste no processo técnico de quebrar
um comportamento complexo em seus componentes menores (elos) estímulo-resposta.
Para realizar uma análise de tarefa, primeiro é preciso identificar as respostas
necessárias para o desempenho da tarefa e ordená-las. Depois é necessário identificar
o Sd associado a cada resposta da tarefa. Ensinar a tarefa envolve colocar cada resposta
sob controle discriminativo (Miltenberger, 2000). Segundo Horner e Keilitz (1975), a
seqüência das respostas deve ser estabelecida pelo participante e mantida durante o
treinamento. Alguns elos podem ser modificados, caso o treinador perceba que facilitará
a ocorrência do comportamento; outros não podem ser modificados por impedimentos
físicos, como por exemplo, colocar pasta na escova após abrir o tubo.
Miltenberger (2000) apresenta três caminhos para identificar a seqüência correta
dos comportamentos numa cadeia; um deles é observar a pessoa engajada na tarefa
e registrar cada componente de estímulo-resposta. A análise da tarefa para esta
intervenção foi baseada na observação da seqüência apresentada pelo treinando no
desempenho da tarefa. A análise de tarefa assim produzida está ilustrada no Quadro 2.
1 - A p r o x i m a r - s e d a pi a 15 . Ab rir a torneira
2. P e q a r a e s c o v a 16 . Lavar a boca
3. P e g a r a p a s t a 17 . C o l o c a r â q u a na b o c a . s em e n g o l i r
4. A b r i r a p a s t a 18 . J o g a r á g u a d a b o c a na pi a
5. P o r a t a m p a n a pi a 19 . Lavar a escova
6. E n c o s t a r a p a s t a n a e s c o v a 20. G uardar a escova
7. A p e r t a r a p a s t a d e v a g a r 21. F e c h a r a torneira
8. P e r a p a s t a na pi a o u a r m á r i o 22. P e q a r a pasta
9. A b r i r a t o r n e i r a 23. F e c h a r a pasta
1 D. M o l h a r a e s c o v a 24. G u a r d a r a pasta
11 . F e c h a r a t o r n e i r a 25. P e g a r a toalha
12 . E s c o v a r o s d e n t e s d e b a i x o 26. E n x uqar a boca
1 3. E s c o v a r o s d e n t e s d e c i m a 27. J o g a r a t o a l h a n o l i xo
14. E s c o v a r os d e n t e s d a f r e n t e
Sd25 (toalha disponível) + prompt ’! pegar a toalha (R) ’! toalha limpa na mão '! Sr/Sd
Sd26 (toalha limpa na mão) + prompt'! enxugar a boca (R) *! toalha suja na mão ’! Sr/Sd
Sd27 (toalha suja na mão) + prompt ‘í jogar toalha no lixo (R) ’! toalha suja no lixo ’! Sr
Resultados
Gféfcú S. finha basa « rM p o ttM inò*p*nò*nte* tio piSm êkv rr*« trvkto, ftirfta catfoia ò * 27«loa.
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PRIMEIRA 0 4 2 0 20
9o MÊS
DE
ÚLTIMA 0 4 2 0 20
TREINO
Tabela 1: Número de respostas e tipos de procedimentos aplicados nas primeiras e últimas sessões
do 1o e 9o mês de treino
M étodo
Participante: jovem de 13 anos de idade, portador de Transtorno Autista, com sérios
problemas de recusa alimentar iniciados há 11 meses e com intercorrências médicas
importantes, que incluíam convulsões, hepatite medicamentosa e constipação. No período
anterior ao início do seu tratamento ABA, permaneceu 47 dias com apresentação de crises
convulsivas, sendo que por sete dias não ingeriu qualquer tipo de alimentação oral, incluindo
água. Por isso foi necessária a utilização de sonda nosogástrica. O consumo diário de
alimentação do participante não era suficiente para garantir sua manutenção física' e havia
risco de vida real. Na época da sua admissão para tratamento apresentava peso de 46
quilos e índice de massa corporal (IMC) de 18. Contudo, dada à persistência do problema,
após duas semanas a partir do início da intervenção permanecia recusando toda e qualquer
alimentação sólida e o seu peso e IMC abaixaram para, respectivamente, 41 quilos e 16,
apresentando desmaios e já não conseguindo andar. Dois meses antes de sua admissão
foi retirada a sonda nosogástrica e segundo informações dos pais, passou a ingerir alguns
alimentos que incluíam arroz, bife, salsicha e café com leite. As tentativas de condução do
participante ao refeitório resultavam em excessos comportamentais caracterizados por
chorar chutar, bater portas, jogar cadeiras. Daí foi levantada a primeira hipótese: a recusa
alimentar poderia estar sob controle de uma história aversiva (alimentação forçada) bem
como também respondendo à (inevitável) atenção social decorrente dos seus excessos
comportamentais e do seu estado debilitado e arriscado.
Ambiente: as sessões foram conduzidas inicialmente em uma sala utilizada
para trabalhos individuais que continha duas cadeiras, uma mesa e os alimentos que
seriam utilizados. Posteriormente o participante recebia o tratamento no refeitório com
o terapeuta e, na fase seguinte, permanecia no refeitório nos horários habituais das
refeições junto com os demais.
Procedimento para coleta de dados: a variável depende selecionada para
mensuração foi a quantidade de alimentação ingerida. Nla iinha de base, os dados
coletados se referiam ao registro da quantidade e tipo de alimentos que o participante
ingeria sem qualquer intervenção. Durante a coleta destes dados foi registrada a
quantidade e tipo de alimentos ingeridos pelo participante, com a utilização de estímulos
reforçadores positivos. Na fase dois do tratamento os dados eram coletados pelo
terapeuta que conduzia a sessão, em uma folha que registrava a porcentagem das
respostas de ingerir a alilmentação oferecida em outro recipiente (copo plástico). O
número de respostas era multiplicado por 100 e dividido pelo número de tentativas. Na
fase três, os registros se referiam à quantidade de alimentação sólida ingerida pelo
participante (em colheres de chá). A freqüência das respostas era o número de colheres
de chá que o participante ingeria em cada dia. Na fase quatro, foi medido o número de
refeições realizadas pelo participante durante os períodos do dia, onde o total de refeições
oferecidas diariamente era de cinco.
DIAS
G rirficc 8: Quanttdado de miüfttroa ingeridos diariamente peio participante durante a linha d« base.
DATAS
Ib MROZE BIFE »FÊllíÕ "oCíFÉCOMLÉITt
OCAFËCOMLEITE EMUCHON OCJtfíCOU Une CSUSTAOEW
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SE S Sâ iS
Gfàfiaj 14: Núnwo tíe refeições reafizacJas peto participante durante a Fase 4, onde s sopa já ingerida habitualmente por ele
foi reürada graduglmerts de sua dieta.
Resultados
Os dados obtidos mostraram a eficácia de um tratamento utilizando estímulo
reforçador positivo para aumentar a consumação de refeições, Quando comparamos a
listagem de alimentos ingeridos pelo participante antes da intervenção proposta com a
listagem pós tratamento, observamos que houve um aumento marcante da consumação.
Este aumento diz respeito não somente ao número de itens que foram introduzidos na
dieta do participante, mas também em relação à quantidade de alimentação ingerida.
Também após a intervenção, todas as refeições oferecidas ao participante foram
ingeridas. Houve aumento de peso e conseqüentemente do índice de massa corporal
(IMC), sendo que os últimos registros mostraram peso de 54 quilos e IMC de 19. O
índice de massa corporal não mostrou grandes diferenças, pois no início do tratamento
o participante tinha a estatura de 1, 59m e no final do tratamento estava com 1,67m.
A Tabela 2 mostra uma comparação entre os itens ingeridos pelo participante e
coletados durante a fase de linha de base com os itens que o participante passou a
ingerir após o tratamento. O participante passou a consumir uma dieta normal, rica em
nutrientes e valores calóricos necessários para sua manutenção física.
Gráfico 1S: dados de folow-Lp coletados um ano após o término do tratamento Quantidade, em gramas,
da alimentação ingerida pelo participante
Conclusão
Estudos anteriores demonstraram que a utilização de estímulo reforçador
positivo sozinho foi insuficiente para aumentar consumação de alimentos (por exemplo:
Piazza, Reed, Patel, 2004 e Patel e cols., 2002). No entanto, neste caso, o uso de
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Método
1. Participantes
Participaram do estudo 484 alunos de 2a série do ensino fundamental de sete
escolas da rede pública, pertencentes a 14 turmas. A amostra foi constituída de 51,85%
de meninos e 48.76% de meninas, com idade média de 8 anos.
O critério de seleção da amostra foi a inclusão de todos os alunos matriculados
na 2a série, cujos professores manifestaram interesse em participar de um estudo
preventivo proposto às escolas.
2. Instrumentos
Para identificar o status das crianças perante seus pares foi utilizado o
procedimento sociométrico por nomeação - ferramenta utilizada nos estudos relatados
na literatura da área (e.g. Attili, Vermigli & Schneider, 1997; Balda, Punia & Singh, 2005;
Prinstein & La Greca, 2004; Schaughency, Vannatta, Langhinrichsen, Lally & Seeley,
1992). Tal procedimento foi ampliado pelas autoras do presente estudo com vistas a
obter os indicadores de aceitação e rejeição entre colegas.
Para tanto, foram conduzidas entrevistas com os participantes, cujo conteúdo
foi registrado em uma ficha, previamente elaborada, onde constavam as seguintes
informações: nome da criança entrevistada, número do diário de classe dos colegas
escolhidos e os motivos das nomeações.
A título de esclarecimento, as nomeações positivas e negativas (colegas dos quais
gosta e colegas dos quais que não gosta) são as informações necessárias para as avaliações
sodométricas. Já as verbalizações sobre os motivos das escolhas das crianças fornecem
elementos indicativos de aceitação e rejeição, com pouca referência nas pesquisas acessadas.
3. Procedimentos
As entrevistas sociométricas foram realizadas nas dependências das escolas
em que as crianças estudavam, em formato individual. As entrevistadoras, quando em
duplas, as executaram, em aproximadamente 1h e 40 minutos.
Os alunos foram conduzidos - em pequenos grupos - à sala de entrevista e
solicitados a nomear três colegas de sua sala com os quais gostaria de brincar e outros
três com os quais não gostaria de brincar e o porquê da nomeação para cada um (e.g.
Entrevistadora: (nome da criança entrevistada), você poderia me dizer os nomes de três
colegas de sua ciasse com quem você gostaria de brincar?"......*por que você gostaria de
brincar com......(nome do colega)?".... ”e com..... (nome do outro colegaf ..........."Agora, me
diga os nomes de três colegas de sua sala com quem você não gostaria de brincar”).
Quando as crianças não sabiam justificar sua escolha, a entrevistadora
reformulava a pergunta da seguinte forma: “o q u e .... (nome do colega escolhido) faz
que você gosta? ou o que você gosta no jeito d o .... (nome do colega)?”. Este tipo de
estratégia auxiliou a compreensão da pergunta nas situações ocorridas.
Resultados e Discussão
Uma das constatações mais imediatas durante as entrevisteis sociométricas
consistiu na observação da dificuldade das crianças para especificar os motivos pêlos
quais escolhiam determinados colegas para brincar, sendo mais fácil descrever os
comportamentos ligados à escolha daqueles com quem não gostariam de brincar. Isto se
Avaliação Sociométríca
A análise do status sociométrico revelou predominância da categoria mediana,
compreendendo 60,12% da amostra de 484 crianças, conforme Figura 1. As crianças que se
enquadram nesta categoria geralmente são preferidas por alguns colegas enquanto não por
outros. Pode-se, então, dizer que elas se possuem características presentes em outras
categorias sodométricas. Newcomb, Bukowski e Pattee (1993) ao realizarem um estudo de
meta-análise observaram que as crianças com status mediano se assemelhavam às rejeitadas
quanto ao isolamento e à expressão de agressividade em suas interações ao mesmo tempo
em que se aproximavam das populares quanto às habilidades social e cognitiva.
Tabelai Pofceníagem do enquacframento sodométnco distribuída por gênero em toda amostra do estudo (N=484).
Indicadores de Aceitação
Dentre variados aspectos mencionados pelos participantes, o mais freqüente
indicador de aceitação identificado entre pares foi a emissão de comportamentos pró-
sociais (65,08%), como brincar, voltar para casa com o colega, fazer trabalhos com o
colega, ser amigo (coleguismo/companheirismo), emprestar coisas, dividir lanche, ajudar
na tição (cooperação).
Nota-se, desse modo, o quanto o coleguismo/companheirismo e a cooperação
são valorizados pelo grupo, constituindo importante elemento de aceitação e inclusão.
Este dado toma-se ainda mais evidente quando se analisam os motivos em função da
classificação das crianças, pois 31,03% daquelas enquadradas como populares foram
mencionadas em virtude de comportamentos pró-sociais, indo ao encontro dos
resultados de Gary, Hinmon & Ward (2003), que encontraram correlação positiva entre
atratividade, popularidade e comportamento pró-social. Além disso, os estudos de Coie
& Kupersmidt (1983) destacaram, dentre os comportamentos pró-sociais, o comportaça,
o qual não recebeu nenhuma menção no presente trabalho.
As menções às características positivas dos colegas (sim pático, feliz,
engraçado, sincero, bondoso, criativo) apareceram em 52,06% dos relatos seguidas da
categoria afinidade, com registro de 37,60%. Ambas as categorias encontram-se
associadas a 32,13% e 29,58%, respectivamente das citações de crianças populares.
O fato demonstra o quanto algumas qualidades intrínsecas ao indivíduo favorecem a
competência social, devendo ser consideradas quando do planejamento de intervenções.
E, finalmente, apesar de os comportamentos pró-acadêmicos representaram
o menor percentual dos motivos citados pelas crianças, 8,67%, entre as crianças
populares, eles aparecem em 25,93% dos casos.
Tais resultados evidenciam que as qualidades positivas e as afinidades são
mais valorizadas pelas crianças deste estudo, constituindo-se em elem entos
fundamentais das relações sociais. Além disso, as referências aos comportamentos
pró-acadêmicos demonstram a admiração e o respeito por aqueles que cumprem as
tarefas escolares, atendendo à exigência de bom desempenho acadêmico.
Os dados se revestem de importância na medida em, que sinalizam a
possibilidade de promover a inclusão de. crianças a partir da meJhoria d© sua
Indicadores de rejeição
Quanto às categorias que indicam rejeição, observou-se que os comportamentos
extemalizantes foram relatados por 62,81% das crianças. Em segundo lugar, aparecem
os comportamentos de perturbação do ambiente (atrapalhar a aula/lição e ser bagunceiro),
com 24% de citações, seguidos das características pessoais negativas (12%). Em
contrapartida, as dificuldades acadêmicas não passaram de 1,19% do total.
A predominância de referências aos comportamentos extemalizantes e perturbação
do ambiente corrobora os dados da literatura (e.g. Coie & Koeppl, 1995; Gomes da Silva,
2000; Price & Dodge, 1989) que apontam o afastamento dos colegas motivado por estas
condutas. As crianças que não possuem em seu repertório habilidades para resolução de
conflitos e negociação são percebidas negativamente por seus pares, tomando-se vulneráveis
à rejeição. Não por acaso a análise da classificação das crianças rejeitadas demonstra que
41,78% delas são citadas em virtude de seu comportamento perturbação do ambiente,
seguidas de 30,40% consideradas extemalizantes. Embora a agressividade seja
freqüentemente correlacionada à rejeição, Coie, Dodge, Terry e Wright (1991) apontam que
nem todas as crianças rejeitadas são agressivas, sendo o contrário verdadeiro. Tal afirmativa
é confirmada pelos dados da presente investigação, que encontrou 2,74% das crianças
populares associadas à perturbação do ambiente e 3,2% a comportamentos extemalizantes.
Apesar de este ponto estar sendo ressaltado há mais de uma década nas pesquisas sobre
interações sodaís, ainda não há evidências sólidas que sustentem sua compreensão.
A categoria características negativas, embora em percentual bastante inferior,
também foi mencionada como justificativa à exclusão, estando associados a 16,98%
dos casos de crianças classificadas como rejeitadas pelo grupo, enquanto as crianças
populares só são citadas em 5,66% dos casos. Contrário ao coleguismo, as
características negativas, como individualismo, egoismo, constituem evidência de falta
de flexibilidade para ceder, dividir e compartilhar. Sendo assim, as intervenções focadas
na competência social não podem negligenciar este aspecto, devendo ampliar o
repertório de comportamentos típicos do coleguismo.
Mesmo se constituindo na categoria menos citada no conjunto de motivos, as
características pessoais negativas encontram-se associadas a 22,58% das crianças
rejeitadas, fortalecendo a idéia de que certas qualidades promovem maior índice de
rejeição entre pares. Simultaneamente, elas apresentam baixo índice de características
pessoais positivas, mencionadas apenas em 4,23% dos casos.
Considerações finais
Os resultados encontrados no presente trabalho salientam dois aspectos
fundamentais quando se considera a possibilidade de uma intervenção sobre o desempenho
social infantil. Primeiramente, como sublinha Sandstrom (2003), não basta verificar em que
categoria sodométrica a criança se encontra perante o grupo. É preciso discriminar os
comportamentos que afetam seus colegas, levando-os a rejeitá-las ou, ao contrário, a recebê-
las com prazer em suas atividades e brincadeiras. Nesse sentido, os indicadores de rejeição
e aceitação revelam o modo de interação das crianças com dificuldades de relacionamento,
fornecendo subsídios relevantes para o delineamento do trabalho dinico.
Em segundo lugar, os indicadores explicitados pela análise das respostas infantis
realçam a maior ou menor competência social das crianças mencionadas na avaliação
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A relação terapêutica
A relação terapêutica deve ser analisada como uma interação de mútua influência
entre terapeutas e clientes. Nela o cliente tem a oportunidade de emitir comportamentos
que lhe têm trazido problemas e, a partir da interação com o terapeuta, pode aprender
formas mais efetiva de comportar-se (Meyer & Vermes, 2001; Prado e Meyer, 2004).
A relação terapêutica pode ter influência na efetividade dos diversos
procedimentos utilizados para produzir mudanças no comportamento do cliente. Follette,
Naugle e Callaghan (1996) relatam que o interessante na relação terapêutica é a obtenção
de resultados eficazes na terapia analisando a relação entre terapeuta e cliente, e este
aspecto se baseia mais na teoria de psicoterapia do que em fatos experimentais.
Kohlemberg e Tsai (1991/2006) ressaltam que a reação do terapeuta é a J
conseqüência primária do comportamento do cliente, assim, numa sessão de terapia,
o terapeuta deve estar atento aos comportamentos clinicamente relevantes do cliente
que ocorrem durante a sessão, para que consiga emitir o reforço referente aos
progressos conseguidos pelo mesmo. Estar consciente e atento aumenta a
probabilidade de reações apropriadas do terapeuta.
Ferster, Culbertson e Boren (1978) esclarece que seria difícil determinar o quanto
da terapia é governado pela teoria ou pela interação e descoberta com o cliente, posto que
terapeuta e diente modificam o comportamento um do outro enquanto interagem,
Skinner (1953/2000) descreve a importância de o terapeuta representar uma
audiência não-punitiva, portanto, ele deve evitar o uso de punições, críticas ou objeções
ao comportamento do cliente, evitar apontar erros de pronuncia, gramática ou lógica, e
evitar qualquer sinal de incômodo quando o cliente, de alguma maneira, critica-o ou
verbaliza palavras ofensivas. “Do ponto de vista do paciente, o terapeuta, em princípio, é
apenas mais um membro de uma sociedade que tem exercido excessivo controle. É
tarefa do terapeuta colocar-se em situação diferente." (p. 403).
A literatura também mostra a importância do terapeuta analista do comportamento
ter domínio dos pressupostos teórico-filosóficos da abordagem que fornece subsídios para
sua análise e fornece significados às suas intervenções dínicas (Brandão, 2001). O terapeuta
que faz uso dos princípios do comportamento oferece ao seu diente um nível mais adequado
de análise e dispõe de técnicas que lhe possibilitam compreender e descrever o
comportamento de forma mais apropriada (Ferster, Culbertson & Boren, 1978).
Crazida Freire Vieira, Paulâ Virgínia Oliveira Eli is, lima A. OouUrt de Scruia Britto
Alguns autores procuraram identificar comportamentos do terapeuta, com relação
à freqüência de ocorrência, que causassem maior impacto no comportamento do cliente e
definiram sete comportamentos do terapeuta como importantes, são eles: a)empatia (facilita
a comunicação pessoal com paciente e o envolve mais no processo, desenvolvendo a
confiança na terapia); b) apoio (que envolve comportamentos de aprovação, confirmação e
reforçamento por parte do terapeuta); c) diretividade e controle (estão relacionados com a
organização e andamento das sessões, além de encorajar o cliente a exibir algumas
condutas dentre ou fora das sessões); d) questionamento (está presente na atividade
terapêutica, já que o terapeuta precisa de informações sobre os fatos e explorar sentimentos);
e) clarificação e estruturação (representam dar informações ao cliente a respeito do contexto
da terapia); f) interpretação (refere-se ao terapeuta criar hipóteses sobre as relações causais,
características de personalidade ou outros aspectos do cliente); e, por último, g) confrontação
e crítica (têm o objetivo de identificar contradições no comportamento dos clientes e provocar
a reestruturação destes) (Schaap, 1993, citado por Rangé, 1998).
Algumas propriedades dos comportamentos do terapeuta também favorecem a
efetividade no processo terapêutico, como: a) responsividade (habilidade para oferecer atenção
ao que o cliente tenta comunicar); b) imediaticidade verbal (responder prontamente, atentamente
e honestamente ao que está acontecendo no instante); c) habilidades verbais (perguntar,
clarificar, parafrasear, resumir); d) competência lingüística (decodificar metáforas, usar
metáforas, paradoxos); e e) uso criterioso do humor (Kleine, 1994, citado por Rangé, 1998).
Rimm e Masters (1983) afirmam que o terapeuta comportamental deve adaptar
seu método de tratamento e empregar diferentes procedimentos, dependendo do problema
do cliente. O clínico que tende a ver todos os problemas psicológicos como um conjunto
de estados ou processo comum intemo, e acredita que estes estados são inconscientes,
será menos propenso a conseguir interpretar a queixa apresentada pelo cliente como
sendo seu real problema. Brown, O’Leary e Barlow (1999) complementam esta idéia
quando sustentam que os terapeutas, além de possuir as qualidades já evidenciadas
por outros autores, deveriam apresentar um firme treinamento das técnicas utilizadas na
terapia e demonstrar habilidades para oferecer os componentes ativos destas técnicas,
Leahy (2001, citado por Falcone 2003) descreve outros fatores importantes
encontrados nas práticas clínicas. Alguns terapeutas apresentam necessidade de
perfeição e temem falhar. Dessa forma, eles podem se recusar a atender casos “difíceis"
ou exigir cada vez mais do cliente, focalizando sua atenção para a eficiência do tempo,
o que atrapalha a manifestação de empatia. Já outros, estão preocupados em excesso
com o abandono do cliente, o que faz com que o terapeuta interaja na sessão de modo
não-assertivo, evitando conteúdos difíceis durante a sessão ou deixando de confrontar
comportamentos destrutivos do cliente.
De acordo com Guilhardi e Queiroz (2001), o terapeuta precisa discriminar as
contingências em operação, que o torna consciente de seus comportamentos e
sentimentos no processo terapêutico. Alguns conjuntos dessas contingências são
apresentados pelos autores, como: o conhecimento teórico, procedimentos terapêuticos
e modelos metodológicos do Behaviorismo Radical, que aparecem em forma de regras
de atuação; a participação do terapeuta em grupos sóclo-profissionais (outros
terapeutas, pesquisadores) que mantém o terapeut? em contato com os procedimentos
e métodos; e a análise que outro profissional da área faz de seu comportamento, podendo
ser este processo chamado de terapia ou de supervisão.
Kohlenberg e Tsai (1991/2006) argumentam que o terapeuta deve ter também alguns
cuidados no processo terapêutico. Diante de qualquér intervenção em andamento, é importante
que o terapeuta sempre esteja atento ao que é melhor para o diente naquele momento e em
Método
Participante
Participaram deste estudo, uma díade cliente e estagiária-terapeuta, proveniente
de uma clínica escola de psicologia de uma universidade particular. A cliente de 22 anos
de idade, sexo feminino, solteira, 1o grau incompleto, desempregada e residia com a
madrinha. A estagiária terapeuta, 23 de idade, solteira, cursando o estágio
supervisionado em psicologia clinica, abordagem comportamental.
As queixas principais que levaram a cliente a buscar o atendimento terapêutico
foram: dificuldades no relacionamento com a família, dificuldades de interação social
(falta de assertividade, dificuldades para fazer amigos, tomar decisões), vergonha por
possuir uma prótese num dos olhos, insatisfação com a aparência, baixa auto-estima,
timidez, ansiedade e medo de perder o controle.
A cliente relatou à estagiária-terapeuta que aos três anos de idade se submeteu
a uma cirurgia que substituiu um olho com problemas por um olho de vidro. Alguns
meses após este fato, seus pais se divorciaram. Tais eventos marcaram sua vida.
Conseqüentemente passou parte da infância trabalhando com diferentes famílias na
função de babá e sem remuneração.
Aos quinze anos se mudou para a casa de uma amiga. Iniciou trabalho
remunerado como empregada doméstica ou acompanhante de idosos. Nesta época
passou a freqüentar festas, quando conheceu seu primeiro namorado. Através do
trabalho conheceu a madrinha que a batizou e a acolheu em sua casa.
Ambiente e Material
As observações e os registros em vídeo foram realizados em consultório padrão
da clínica-escola. No consultório havia uma mesa, três cadeiras, duas poltronas, mesa
Çrazldá Freire Vidra, Paul« Virgínia Oliveira Lliai, lima A. Goulart de Souza Brilto
de centro, tapete, armário, pia, quadros, iluminação, ventilação e acústica adequadas. O
consultório foi equipado com uma câmera de vídeo instalada próximo à díade, conforme
demonstra a Figura 1. Outros equipamentos utilizados foram: fitas VHS, computador,
impressora, aparelho de TV, além de papel, canetas e lápis. Utilizou-se para o estudo,
também, Folhas de Registro dos Comportamentos Verbais e Não-Verbais da Estagiária-
Terapeuta, contendo cabeçalho e atividade a ser desenvolvida, data da observação e
espaço para registro das categorias comportamentais.
Procedimento
Um documento de consentimento informado foi assinado. Neste documento
foi pedida a autorização da cliente para o registro em video das sessões e para a sua
utilização em pesquisas. Este documento continha todos os esclarecimentos sobre as
pessoas autorizadas a manusearem o material registrado, sobre o sigilo das
informações e de qualquer tipo de identificação da cliente.
Foram registrados em vídeo dados referentes a sete sessões terapêuticas, sendo
que as duas primeiras sessões foram descartadas, devido ao possível efeito intrusivo da
filmadora. O tempo de gravação de cada sessão foi de uma hora, durante a fase de intervenção.
Procedeu-se a coleta de dados através de registro por amostragem de tempo, sendo
utilizados, de cada fita, dez minutos escolhidos aleatoriamente entre o início e final da sessão.
p razida Freire Vieira, Paula Virffnii Oliveira Elias, lima A. Goulart de Souza Enlto
Após os registros dos dados, foi feita a análise quantitativa da freqüência de ocorrência
das categorias compoftamêntais selecionadas. Se houvesse dúvidas, as fitas eram reprisadas.
Para garantir o índice de fidedignidade dos dados, foi solicitada a colaboração de
uma estagiária-terapeuta da equipe, para a realização do teste de concordância. Para o
cálculo do índice foi utilizada a fórmula padrão: (Concord ância/{ Discordâ ncia + Concordância)]
*1 0 0 .0 percentual de fidedignidade foi calculado para as categorias e variou de 83% a 97%.
Resultados
Os dados obtidos no presente estudo serão apresentados em forma de
freqüência e percentual. Nas Tabelas 1 e 2 os resultados são apresentados
separadamente para as categorias de comportamentos verbais (V) e de comportamentos
não-verbais (NV), durante as cinco sessões registradas em vídeo na fase de intervenção.
Os dados da Tabela 1 demonstram que entre todas as categorias V, a de
'Investigar' foi a que ocorreu com maior freqüência (36,5%), seguida pela categoria
‘Falar frase curta’ que alcançou 31,9%. O percentual da categoria V ‘Informar' foi 18,1%,
‘Pedir feedbacK, ‘Reforçar’ e ‘Confrontar’ alcançaram percentuais aproximados, ficando
entre 5,6%, 4,2% e 3.7%, respectivamente.
Discussão
O presente estudo teve como objetivo observar os comportamentos verbais e
não-verbais de uma estagiária-terapeuta que podem ser consideradas possíveis
agentes de mudança, em sessões realizadas em uma clínica-escola. Ressafta-se
também a importância de estudar o comportamento humano em contextos clínicos.
Para descrever, definir e quantificar as categorias comportamentais foi utilizado
o registro em vídeo como instrumento de coleta de dados. Optou-se, portanto, .pelo uso
deste tipo de registro, para posterior descrição das categorias de comportamentos da
estagiária-terapeuta. Segundo Fagundes (1985), a observação comportamental é
importante para os psicólogos pesquisadores, pois serve como um instrumento de
Çrazida Freire Vieira, PauU Virginia Oliveira Elias, Ibna A. QouUrt de Sôiizí Britto
trabalho para a obtenção de dados, que podem, entre outras coisas, ampliar nosso
entendimento a respeito do comportamento sob investigação e ajudar no levantamento
de hipóteses e estabelecimento de diagnósticos.
Os comportamentos apresentados peta cliente, também présentés nas
filmagens, não foram foco de análise, mas sugere-se que estes dados possam ser
quantificados e avaliados em próximos estudos.
Os dados apresentados nas tabelas demonstram que os comportamentos
não-verbais ocorreram em maior número que os comportamentos verbáis. Segundo
Caballo (2003/2006) pesquisadores concluíram que os sinais visuais são recebidos
de maneira mais confiável e precisa que os auditivos. Além disso, os sinais não-verbais
também dinamizam a interação entre indivíduos, pois um sinaliza ao outro, com um
olhar ou um balançar de cabeça, que é a sua vez de tomar a palavra.
A categoria 'Manter contato visual com a cliente’ foi registrada em todos os vídeos
filmados, o que parece demonstrar que a estagiária-terapeuta respondia atentamente a
cliente. Caballo (2003/2006) descreve que o contato visual entre indivíduos é, normalmente,
um sinal de envolvimento, enquanto desviar o olhar pode significar desejo de evitar contato.
Já com relação aos comportamentos verbais, observou-se que dentre efes, a
categoria ‘Investigar' obteve a maior ocorrência. Skinner (1953/2000) afirma que este é
o primeiro de muitos passos que devem ser dados em um processo terapêutico. Com
relação â relevância das investigações clínicas para coleta de dados, o terapeuta deve
buscar informações a respeito da história de vida do cliente, sobre o comportamento
que necessita ser alterado e sobre as circunstâncias nas quais este cliente está inserido.
Os dados referentes aos comportamentos não-verbais selecionados e alguns
comportamentos verbais, como a categoria verbal ‘Falar frase curta’, indicam uma possível
preocupação da estagiária-terapeuta em mostrar-se interessada e atenta às falas da cliente
de forma reforçadora e não punitiva. Os outros comportamentos verbais selecionados podem
indicar o interesse da estagiária-terapeuta em propidar melhor engajamento da cliente na
terapia, levando assim, a uma possível mudança dos comportamentos problema da diente.
A ocorrência da categoria ‘Reforçar’ apresentou a menor freqüência dentre as
outras categorias presentes, porém, outras categorias podem ter apresentado, também,
funções reforçadoras, como, por exemplo, ‘Manter contato visual com a cliente', 'Balançar
a cabeça afirmativamente', ‘Sorrir’ e ‘Inclinar o corpo'. Skinner (1953/2000) explica que
classificamos um evento como reforçador quando este aumenta a probabilidade de
ocorrência de um operante.
Com a análise dos dados, observa-se que a estagiária-terapeuta parecia estar
freqüentemente focando sua ação para prestar informações à cliente. Nas sessões
onde não foi registrada nenhuma ocorrência na categoria ‘Reforçar1, por exemplo, pode-
se perceber que houve alta freqüência de registro de outras categorias, como ‘Informar1
e ‘Investigar1. Estas últimas categorias de comportamento, também, foram registradas
no estudo de Fernandes (2005) a respeito da relação médico-paciente. Elias e Britto
(2004) denominam a categoria ‘Informar’ como uma Categoria Funcional de Intervenção
Educativa, que tem a função de informar ao cliente sobre pontos importantes a respeito
da terapia nas primeiras sessões de atendimento ou ao longo do processo.
Os dados mostram que as ocorrências de comportamentos registrados no
'Vídeo 1’ e no ‘Vídeo 4’ tiveram a maior e a menor freqüência, respectivamente, tanto
para os comportamentos verbais (V) quanto para aos comportamentos não-verbais
(NV). Estes dados parecem demonstrar que durante a primeira sessão registrada em
vídeo houve uma maior oportunidade para intervenções, isto é, para a emissão, por
Referências
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10 presentetrabalho é parte da monografia apresentada pela prnisira autora ao curso òe Espedatlzaçào em Psicoterapia na Anái se do
Coriportementoda Universidade Estadual dc Londrina. Contato: marinho.Rwlu@hotr>ailco[n
Modelagem
Outro princípio de aprendizagem relevante é a modelagem de comportamentos,
importante principalmente quando se quer instalar uma classe cuja ocorrência levaria
muito tempo para ser observada ou poderia não vir a ocorrer. Segundo Skinner (1998, p.
101), "um operante não é algo que surja totalmente desenvolvido no comportamento do
organismo. É o resultado de um contínuo processo de modelagem.”
Esse procedim ento consiste em u tiliza r reforçam ento d ife re n c ia l por
aproximações sucessivas para algum comportamento terminal (meta). Em outras
palavras, “a modelagem é baseada no reforço diferencial: em estágios sucessivos,
algumas respostas são reforçadas e outras não. Além disso, à medida que o responder
se altera, os critérios para o reforço diferencial também mudam, em aproximações
sucessivas da resposta a ser modelada" (Catania 1999, p. 131). Nas palavras de Skinner
(1998, p. 106), “a contingência que aperfeiçoa a habilidade é o reforço diferencial de
respostas que possuem propriedades especiais. [Além disso], o reforço que desenvolve
a habilidade deve ser imediato, [senão] (...) a precisão do efeito diferencial se perde".
Deve-se ressaltar aos pais que somente quando a criança conseguir emitir
uma resposta prévia adequadamente é que se pode aumentar o nível de exigência do
desempenho para que o reforço seja apresentado. Além disso, ao se ensinar um novo
comportamento, deve-se utilizar o reforçamento contínuo até que o comportamento
esteja consistente. Só então se deve começar a utilizar o reforçamento intermitente para
manter o comportamento de forma rpais duradoura.
Instrução
A instrução refere-se à verbalização de como realizar um determinado comportamento
e suas conseqüências: refere-se à verbalização de uma regra. Segundo Baum (1999), todas
as instruções são regras. Regra, segundo Skinner (1953/1998), refere-se a um estímulo
discriminativo verbal que indica uma contingência. Regras são “ dicas' faladas ou escritas,
explícitas ou implícitas que orientam a ação dos indivíduos, já que indicam uma condição
‘se...então’ vigente em determinado ambiente ou situação, sugerindo uma ação
especrfica^Oliveira, Neves, Silva e Robert, 2002, p. 49). Por exemplo, quando um pai diz a uma
filha: “Se você subir muito alto nesta árvore, poderá cair', ele está lhe explicitando uma regra.
A instrução seria a mesma regra dita de outra maneira: “Não suba nesta árvore, senão irá cair".
As regras (ou a utilização de instruções) são importantes na aprendizagem de
vários comportamentos, especialmente em situações em que as conseqüências são
remotas ou insuficientes para estabelecer ou m anter a ocorrência de alguns
comportamentos, como por exemplo, o comportamento de estudar, de escovar os dentes,
a aquisição de bons hábitos alimentares, a aprendizagem da ética relativa às
conseqüências de nossos atos sobre os outros etc.
No entanto, não basta estabelecer as regras, é preciso que os pais ensinem
seus filhos a segui-las, através da apresentação de conseqüências adequadas para o
seguir e o não seguir a regra. Neste sentido, pode-se dizer que o seguimento de regras
está estreitamente relacionado com o estabelecimento de limites pelos pais. Segundo
Oliveira e colaboradores (2002), o seguimento de rêgras pressupõe a necessidade de
os pais estabelecerem limites claros para o comportamento de seus filhos. Estabelecer
limites é ensinar à criança o que é permitido e o que é proibido. Esses limites podem
2.1) Fazer amigos, iniciar conversas e brincarjunto/ Faixa etária da criança: pré-escolar
princípio(s) de Aprendizagem envolvido: Modelagem
Estes são comportamentos que se desenvolvem melhor na escola. No entanto, os pais
podem facilitar o seu aprendizado, ao procurarem aproximar o filho de outras crianças (em um parque, na
vizinhança ou no prédio), incentivando-o a entrar em contato com as mesmas. Para isso, os pais podem ensinar
primeiramente comportamentos mais simples, como chegar perto de um coleguinha, falar “oi” e perguntar seu
nome. Quando a criança conseguir realizar tais comportamentos, os pais devem reforçar logo após sua
ocorrência, dizendo ao filho por exemplo: “Filho, achei legal você ter ido falar “oi" para o seu colega e perguntado
o nome dele, porque assim você fará bastante amigos”. Quando esses comportamentos já estiverem bem
estabelecidos no repertório da criança, os pais podem então ensinar outros mais complexos, como propor
brincadeiras aos colegas ou perguntar do que querem brincar, sempre valorizando tais comportamentos após sua
ocorrência. Quando a criança tem a oportunidade de estar com outras crianças, de preferência da mesma idade,
e tem o incentivo dos pais para isso, este aprendizado mais fácil, é importante também que os pais convidem
outras crianças, para brincarem em sua casa, a fim de que seu filho tenha a oportunidade de aprender a
3 - COMPORTAMENTOS DE CIVILIDADE
Dizer "por favor", agradecer, cumprimentar, pedir desculpas quando fez algo errado /
_________________ Faixa etária da criança: pré-escolar ou escolar__________________
Princíplo{s) de Aprendizagem envolvido: Instrução e Modelação
Todos estes comportamentos são praticamente ensinados da mesma forma: os pais devem
explicar aos filhos a importa ncia de cada um e em quais situações sociais devem ser emitidos (instrução), servir
de modelo para os filhos (dizendo “por fa v o r quando faz um pedido ao filho, dizendo 'obrigado“ ao filho quando
este She fez um favor, etc) e expor os mesmos nas situações que requerem tais atitudes, incentivando-os a
emitirem tais comportamentos e valorizando-os logo após sua ocorrência. Podem dizer por exemplo: "Filho, você
se comportou de forma muito educada hoje quando pediu desculpas ao seu colega. Gostei muito do seu
comportamento!" ou os pais podem comentar entre si na presença da criança: “Você viu João (marido), hoje o
Tiago (filho) se comportou de forma multo educada, pois cumprimentou todos os que vieram à nossa casa. Nós
ficamos muito felizes quando se comporta assim, náo é?!"
Prlncíplo{s) de Aprendizagem envolvido; Modelação
Vale comentar em relação ao comportamento de pedir desculpas que, segundo Silva (2000)
muitos pais têm receio de admitir os próprios erros aos filhos, pois temem que estes deixem de respeitá-los e percam
as noções de limites. Estes pais agem de acordo com certas regras culturalmente aceitas de que ei es, enquanto
autoridades, devem manter certo distanciamento dos filhos, para que esteâ não sejam ‘estragados’ e de que os pais
nunca devem demonstrar seus erros ou “fraquezas’ diante dos filhos. Ao contrário do que muitos pais pensam,
admitir os próprios erros diante dos filhos não prejudica a educação, mas os ensina por modelação a admitir os
próprios erros e pedirem desculpas quando necessário, tanto aos próprios pais como a outras pessoas.
4.2) Atender a pedidos e perguntas e saber ouvir I Faixa etária da criança: pré-
__ escolar e escolar____________________________
Princípio(s) de Aprendizagem envolvido: Modelação
Para ensinar este tipo de comportamento, primeiramente os pais devem servir como
modelos adequados de atenção. Devem procurar estar atentos àquilo que os filhos falam, às estórias que
contam sobre seu dia na escoia e seus amigos, às perguntas que fazem, tanto de curiosidades como de
dúvidas, aos pedidos, mesmos que esses não possam ser atendidos. Pais que sabem escutar os filhos e
atender às suas perguntas e pedidos, estão servindo como modelo adequado de tais comportamentos. Outra
forma bastante válida para ensinar os filhos a escutarem e que muitos pais deixam de fazer, é eles próprios
contarem aos filhos sobre o seu dia, as coisas boas e desagradáveis que aconteceram, as atividades que
realizaram. Além de estarem proporcionando uma experiência que possibilita o treino do comportamento de
saber ouvir, os pais estão fornecendo modelo aos filhos de contar o que se passa com eles, favorecendo que
5 - COMPORTAMENTOS EMPÁTICOS
Expressar apoio e compreensão / Faixa etária da criança: escolar
Considerações finais
A família é considerada um núcleo importante para a inserção social da criança e
tem um papel único e singular no comportamento desta. A criança não nasce com um sistema
de valores e normas latente que precisa apenas ser desenvolvido, mas com uma capacidade
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104 Ana PritcíU Balista, Emíltanc Costa A$sí* Ollvenra e MofianaJanu&fio Samdo
padrão é uma maior latência da resposta de fuga/esquiva apresentada pelos animais
previamente submetidos aos choques incontroláveis, o qúe indica dificuldade ou não
aprendizagem dessa resposta, caracterizando o desamparo, sendo que tanto os animais
previamente expostos aos choques controláveis quanto os não submetidos aos choques,
aprendem igualmente a resposta que está sob reforçamento negativo.
No Laboratório de Análise Biocomportamental, do Instituto de Psicologia da
Universidade dfe São Paulo (IP/USP), o desamparo aprendido vem sendo analisado em
relação a diferentes variáveis ambientais que podem potenciar, evitar ou reverter esse
efeito, além do estudo da eficácia de drogas antidepressivas. Dessa forma, serão
apresentados, a seguir, três estudos recentes desenvolvidos nesse laboratório. Um
estudo verificou o efeito de uma substância homeopática, com indicação para alguns
sintomas observados na depressão em humanos, sobre o desamparo aprendido em
animais. Um segundo estudo, também com animais, discute a generalidade do
desamparo entre contextos aversivos e apetitivos e a eficácia de um tratamento não
farmacológico (com reforçamento positivo) em reverter o desamparo já estabelecido.
Por fim, um terceiro trabalho buscou analisar o efeito de uma história de incontrolabilidade
sobre a aprendizagem de uma nova resposta operante, em sujeitos humanos. Será
feita uma comparação desse estudo com humanos e trabalhos anteriores com animais,
visando identificar processos comuns a eles, atém de apontar d ificu ld a d e s r a
generalização desses estudos entre espécies. Os resultados são discutidos frente à
sua contribuição para o conhecimento desse efeito, bem como em relação às possíveis
implicações para estudos clínicos que envolvam a depressão humana, mostrando a
vantagem da ligação laboratório/clínica no avanço da análise do comportamento.
106 A nà Priscila Batuta, Emítame Costa Assis Oliveira e Maríarta jartuário Sameio
uma suposta generalidade entre espécies e contextos. Por exemplo, embora a quaso
totalidade dos trabalhos sobre o desamparo com animais tenha utilizado estímulos
aversivos (choques elétricos) tanto no tratamento com incontrolabilidade como no teste
de aprendizagem da nova resposta operante, Maier & Seligman (1976), sugeriram que
o desamparo tratava-se de um fenômeno que se generalizaria para todas as condições
de estímulo, aversivo ou não. A partir disso nos,questionamos: será que existe
embasamento experimental para que tal generalidade seja afirmada?
Trabalhos foram realizados buscando responder essa questão, e seus resultados
têm se mostrado contraditórios: dificuldade de aprendizagem com reforçamento positivo
após tratamento com estímulos aversivos incontroláveis (Calef, Choban, Shaver, Dye &
Geller, 1986; Caspy & Lubow, 1981; Rosellini, 1978; Rosellini & DeCola, 1981; Rosellini,
DeCola & Shapino, 1982) ou ausência de desamparo em teste com estímulos apetitivos,
após exposição à incontrolabilidade dos choques (Capelari, 2002; Capelari & Hunziker,
2005; Mauk & Pavur, 1979; Rapaport & Maier, 1978). Aliado a isso, os estudos diferem
bastante quanto aos procedimentos empregados na fase de teste com reforçamento positivo.
Dentre os estudos que mostraram que eventos aversivos incontroláveis interfem na
aprendizagem com reforço positivo e aqueles que não obtiveram essa interferência, somente
o de Capelari (2002) e o de Rosellini, De Cola & Shapiro (1982), por exemplo, utilizaram
procedimentos que envolviam controle de estímulos. Esse conjunto de dados enfrequece,
portanto, a suposição de que a incontrolabilidade dos estímulos aversivos gera o desamparo
aprendido, independentemente do contexto onde o teste é realizado. O que se pode afirmar
é que o desamparo aprendido é um efeito comportamental bem e stabelecido
experimentalmente dentro de contextos aversivos, com choques elétricos, mas ainda não
se sabe a extensão da sua generalidade para contextos com outros estímulos.
Outra questão intrigante que permeia os estudos sobre o desamparo se refere a
possibilidade de sua reversão utilizando procedimentos não farmacológicos (investigação do
efeito de variáveis ambientais sobre o comportamento). Esses estudos partiram do
pressuposto de que, se a exposição à incontrolabilidade promove a aprendizagem de que o
estimulo independe da resposta, então a exposição a uma condição oposta, de controle do
ambiente, pode modificar essa aprendizagem, revertendo o desamparo (Seligman. Maier &
Geer, 1968; Seligman, Rosellini & Kozak, 1975; Williams & Maier, 1977). Nos estudos pioneiros
realizados por Seligman et. al, em 1968 e em 1975, a reversão do desamparo já estabelecido
foi feita através da exposição forçada a contingência de fuga na fase de “tratamento", de modo
que os animais eram fisicamente forçados a emitir a resposta que desligava o choque. Uma
exceção ocorre no estudo de Williams e Maier, onde não houve a exposição forçada na fase de
“tratamento”, embora esta tenha se dado, também, em contexto aversivo. Desse modo, estes
estudos nos mostram que a reversão do desamparo foi possível através da exposição ao
controle de eventos, no caso, aversivos. Procedimentos tentando a reversão do desamparo
com reforçamento positivo são escassos na literatura: com animais, encontramos apenas o
estudo de Erbetta (2004) e com humanos, os de Klein & Seligman (1976) e Nation & Massad
(1978). Os procedimentos diferem de estudo para estudo, dificultando a comparação dos
resultados, além do fato de ser controversa a generalização do desamparo com sujeitos
humanos, como se verá em uma análise apresentada adiante.
Partindo dessas duas questões acerca dos estudos sobre o desamparo aprendido
e visando a importância da ponte laboratório/clinica, já que este é tido como um modelo de
depressão, o estudo relatado investigou, através de um procedimento longitudinal onde um
mesmo sujeito foi acompanhado por diversas sessões, em diferentes fases do experimento:
1) se animais previamente expostos a choques incontroláveis, e que apresentaram o
desamparo aprendido em teste de fuga, mostraram dificuldade de aprendizagem
108 Ana Priscila Baffst^ Ertiileane Coítà Ai*is Oliveira c M àriana Januário Samdo
Dentre os diversos problemas de procedimento verificados em alguns estudos
com humanos, chama a atenção o fato de que a resposta a ser emitida na fase de
treino, pelos sujeitos do grupo controlável, é de aprendizagem rápida, o que acaba
fazendo com que a exposição ao estímulo aversivo seja muito reduzida tanto para esses
sujeitos como para os do grupa incontrolável a eles acoplados (Hiroto, 1974; Hiroto &
Seligman, 1975; Matute, 1993; 1994, 1995). Os trabalhos com animais já demonstraram
que a quantidade de exposição ao estímulo aversivo incontrolável é uma variável crítica
para a ocorrência do desamparo (Crowelll & Anderson, 1981; Glàzer & Weiss, 1976),
podendo o mesmo ser suposto para os estudos com humanos Frente a isso, a baixa
exposição à incontrolabilidade compromete a análise dos resultados se não ocorrer o
déficit de aprendizagem que caracteriza o desamparo.
Outro aspecto a ser apontado é o fato de que alguns estudos não utilizam um
grupo Ingênuo (sem exposição ao tratam ento) com o referente do padrão de
aprendizagem a ser avaliada no teste. O que esses trabalhos apresentam como referente
é um grupo que é exposto ao estímulo aversivo, mas lhe é solicitado que não emita
nenhuma resposta (Hiroto & Seligman, 1975; Matute, 1993; 1994; 1995). Esse
procedimento apresenta uma falha estrutural, apontada por Hunziker (2003) em alguns
estudos com animais: se o desamparo aprendido é definido como a dificuldade de
aprendizagem operante em decorrência da experiência prévia com estímulos aversivos
incontroláveis, então o mínimo que deve ser exigido nos estudos é que exista o grupo
dos sujeitos ingênuos e que estes aprendam à resposta que está sob reforçamento no
teste. Portanto, para se analisar o desamparo, quer com animais ou com humanos, é
um pré-requisito metodológico que sujeitos ingênuos apresentem aprendizagem
operante no teste, estabelecendo um padrão comparativo para análise da aprendizagem
apresentada pelos grupos experimentais.
Ainda em fase de realização de estudos pilotos, a fim de definir os parâmetros
para estabelecer um procedimento que permita a verificação do efeito de uma história
de incontrolabilidade sobre a aprendizagem de uma nova resposta operante em sujeitos
humanos, foram realizados três diferentes procedimentos.
No primeiro, foi utilizado o mesmo estímulo aversivo nas fases de treino e teste
(som agudo), exigindo como resposta de fuga emitir uma combinação de duas teclas
numéricas (n°64 no treino e n°58 no teste). Ao emitir a resposta de fuga, o grupo
Controlável (C) eliminava o estímulo aversivo para si e para o grupo Incontrolável (INC)
a ele acoplado, permitindo que ambos os grupos fossem expostos às mesmas latências
de som. Para os sujeitos do grupo INC os sons eram sempre incontroláveis. O grupo
Ingênuo (I) não passou por esta fase. No teste, todos os grupos poderiam eliminar o
estímulo aversivo emitindo a resposta de fuga. Como resultado foi observado que o
grupo INC apresentou dificuldade de aprendizagem no teste, enquanto que os demais
grupos aprenderam a resposta, o que vem a corroborar com a análise do desamparo
aprendido. Este método empregado apresentou algumas falhas, na fase de treino por
ser uma tarefa de rápida aprendizagem, o grupo INC permanecia pouco tempo exposto
à estimulação aversiva, o que pode ter interferido na aprendizagem posterior. Também,
as tarefas de treino e teste apresentaram-se muito semelhantes, ocorrendo apenas
manutenção da resposta, e não uma nova aprendizagem operante, por estes motivos
foi estabelecido um novo procedimento.
Diferenciando as fases de trçino e teste em relação à tareia operante e aos
estímulos aversivos, realizou-se o segundo estudo piloto. Na fase de treino frente ao
estímulo aversivo som, uma contingência de fuga “complexa" (variabilidade - Lag4 -
uma seqüência de 4 respostas deve diferir das 4 últimas) foi implantada, com o objetivo
So b « Comportamtnio e CojrtiçJo
de maior exposição ao estímulo aversivo, e no teste, realizou-se uma tarefa de sedução
de anagramas descartando a possibilidade de manutenção de resposta operante e
também buscando verificar a ocorrência ou não de generalidade entre contextos.
Estudantes universitários foram divididos em três grupos (n=7) formando a tríade, grupos
C, (NC e I. Na fase de treino, durante 60 tentativas o grupo C interromp/a o som quando
emitia uma seqüência de quatro resposta utilizando as letras P e Q do teclado, diferindo
das 4 últimas seqüências emitidas (Lag=4). O estímulo aversivo era eliminado também
para o grupo INC acoplado a ele. Caso a seqüência correta não fosse emitida o som
permanecia até a emissão de uma resposta correta ou até completar 10s registrando
como falha de resposta. Na fase de teste, os três grupos foram expostos a 20 anagramas,
sendo 100s de latência máxima em cada um. Como resultados, os três grupos
apresentaram aprendizagem de uma nova resposta operante, não ocorrendo o
desamparo e não havendo generalização entre contextos. Um problema foi verificado
neste procedimento com relação ao tempo de exposição ao estímulo aversivo na fase
de treino. A contingência Lag4 embora planejada como sendo “complexa" propiciando
maiores latências, acabou sendo também de aprendizagem rápida, deste modo uma
nova manipulação foi realizada buscado aumentar estas latências. No terceiro estudo
piloto, todos os parâmetros utilizados foram os mesmos, a única diferença foi a
contingência de Lag empregada, mudando de 4 para 8, ou seja, o grupo C interrompia
o estímulo aversivo emitindo uma seqüência de 4 resposta com P e Q que diferisse das
8 anteriores. Os resultados apontaram novamente aprendizagem para todos os grnpos,
embora o objetivo de aumentar a exposição a estimulação aversiva tenha sido satisfeito.
Concluindo, foi observado a não ocorrência do Desamparo Aprendido diante de
estímulos aversivos diferentes. Provavelmente, o grupo INC ficou sob controle da regra, já
que a instrução indicava a emissão de respostas como meio para obtenção do reforçamento
negativo. Portanto, a manutenção da freqüência de Rs possivelmente ocorreu devido ao
reforçamento acidental. Também a não utilização de feedback de erro, propiciaria maiores
chances do desenvolvimento de reforçamento acidental. Devido à possível “ilusão" de controle
o gmpo INC, este talvez não tenha sido submetido ao procedimento totalmente incontrolável,
não havendo interferência na nova aprendizagem operante. A análise dos relatos verbais
pós sessões, indicaram relatos de controle em participantes do gmpo INC.
As pesquisas envolvendo participantes humanos no estudo do desamparo
aprendido apresentam muitas dificuldades metodológicas, como o estímulo aversivo a ser
empregado (questões éticas), as escolhas das respostas operantes, a instrução dada
inicialmente e o estabelecimento de um grupo realmente incontrolável. Diante destes dados
e dificuldades, esta pesquisa continua em andamento, buscando delinear um procedimento
com rigor metodológico, assim como estabelecido em animais não humanos.
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112 Ana Prtsdld Batista, Ermleanf Cotta Amis Oliveira c M ariana .lamilrio Sameto
: v- . - — - Capítulo 9
Caracterização da clientela infantil em
espera para atendimento psicológico em
clínica-escola no início do século XXI:
comparação com dados de décadas
anteriores 1
Ana Priscila M artelozo
M aria Luiza M a rin h o
Cyntbia Borges de M ou ra
L/niversidade Estadual de Lond rina
Nas ultimas décadas, a literatura acerca da Psicologia Clínica Infantil vem sendo
incrementada por estudos que caracterizam a clientela que procura atendimento nas
clínicas psicológicas brasileiras. O opjetivo desses estudos é especificar que tipo de
família procura atendimento para sua criança e quais os motivos as ievam a procurá-lo.
Frente a informações desse tipo, o grande desafio que se apresenta aos psicólogos é
a possibilidade de se avançar na compreensão da gênese dos problemas infantis e
atender adequadamente a demanda dessa população.
Essas preocupações com o comportamento infantil vêm ocorrendo desde
décadas atrás, mas o mundo que propicia o cenário às relações tem se modificado de
forma veloz. Isto tem gerado admiração e, por vezes, perplexidade. A tecnologia avança de
maneira espantosa e isso tem implicações diretas na maneira como as pessoas vivem
o seu dia a dia. A princípio foi o rádio, depois a televisão e hoje é a internet. O verbo
“navegar* marca a liberdade, a ausência de limites e a imensa facilidade de acesso a todo
0 tipo de informações, pessoas ou lugares. Valores, costumes e normas sociais são
modificados à medida que a sociedade é levada a acompanhar essas novas tendências.
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2005), a
população brasileira sattou de 120 milhões de pessoas em 1980 para mais de 180 milhões
em 2005. As famílias continuam a sair da zona rural e se concentrar nas grandes cidades; as
taxas de analfabetismo decrescem sensivelmente (cerca de dois pontos percentuais nos
últimos cinco anos) e a média de anos de estudo da população gira em tomo dos 4 a 7 anos.
As mulheres vêm ganhando mais espaço no mercado de trabalho, se comparadas com os
homens; entre 1999 e 2003 a porcentagem de homens trabalhando passou de 44% para
46%, enquarito que para as mulheres esse número aumentou de 29% para 34%. No entanto,
a maior parte da população brasileira continua a se caracterizar como sendo de baixa renda
e se süsténta com cerca de 2 saiários riiínimos por mês, em média. (IBGE, 2005)
1Monografia apresentada pela primeira autora ao curso de Especialização em Psioolerapia na Análise do Comportamento da
Univeradade Estadual de Lohdrína. Contato marinho maki@hotma#.com
Método
Participaram do presente estudo 47 pais ou responsáveis por crianças que estavam
na lista de espera da dínica-escola de atendimento psicológico da Universidade Estadual
de Londrina (UEL), Estado do Paraná, durante o segundo semestre do ano de 2004. A idade
dessas crianças variou entre dote e 14 anos e os encaminhamentos haviam sido feitos por
algum profissional, pela escola ou a partir de procura voluntária por parte da família.
As entrevistas de triagem foram realizadas nas salas de atendimento da Clínica
Psicológica e duraram em média 50 minutos. Compareceram para a entrevista tanto o
casal de pais, quanto pais ou mães separadamente, ou mesmo avós ou outro familiar.
116 Ana PrlscfLa M arldozo, María Luiza M arinho« Cynthia Borges d« Moura
As perguntas feitas aos pais ou responsáveis pelas crianças seguiram o roteiro da
ficha de triagem padrão da clín iça-escola,. que aborda os seguintes itens: dados de
identificação (nome, data de nascimento, endereço e telefone); dados do núcleo familiar
(quantas pessoas compõem a família, escolaridade, profissão e renda); informações
adicionais (encaminhamento, realização prévia de tratamento médico ou psicológico,
uso de medicações e identificação escolar); queixa; dados sobre relacionamento familiar
e vida escolar; expectativas com relação ao atendimento.
A partir das fichas e nelatos de triagens, os dados coletados foram categorizados
de acordo com as seguintes categorias: sexo e idade das crianças, situação conjugal dos
pais, renda familiar, fonte de encaminhamento, realização de tratamento psicológico anterior,
realização de tratamento médico anterior ou em andamento, utilização de medicação e a(s)
palavra(s) chave(s) relacionada(s) à(s) queixa(s). Cada criança poderia conter em sua ficha
mais de uma palavra chave relacionada à(s) sua(s) queixa(s), as quais posteriormente
foram agrupadas em categorias de queixas, confonme descrito na Tabela 1.
CATEGORIA o e s c r iç Ao
Resultados
Caracterização familiar
A maioria das famílias que procuraram atendimento para suas crianças na
Clinica Psicológica da UEL eram de poucos membros, sendo compostas em média
por 3 pessoas. A maioria dos pais declararâftv estar casados, o que não significava
necessariamente estarem unidos judicialmente. A renda familiar apresentou variação
entre menos que um e oito salários mínimos, com a maioria concentrada na faixa de até
4 salários. A porcentagem de famílias de baixa renda provavelmente constituiu a maior
parte da amostra porque a clínica de presta atendimento gratuito.
Fig. 01 - Idade das crianças em lista de espera para atendimento na clínica psicológica da UEL, no
segundo semestre de 2004.
Com relação ao sexo, 72% das crianças eram do sexo masculino e 28% do
sexo feminino, conforme demonstra a Figura 2. O dados confirmam os achados de
estudos anteriores, com maior procura de atendimento para crianças do sexo masculino.
Esses estudos registram proporção de dois meninos para cada menina que procura
atendimento. Os dados do presente estudo apresentam procura ligeiramente maior
para os meninos do que encontrado em estudos anteriores publicados.
A Figura 3 mostra a distribuição das queixas trazidas pelos pais ou responsáveis
pelas crianças. Cada criança poderia apresentar mais de uma queixa, sendo que as
porcentagens aqui apresentadas dizem respeito ao número de vezes que determinada
queixa foi citada.
^ meninos
§ | meninas
Fig. 02- Distribuição por gênero das crianças ém lista de espera na clinica-escola de atendimento
psicológico da UEL no segundo semestre de 2004.
118 Ana PrisciLa M arteioai, M aria Lutza Marinho e Cynthia Borges de Moura
Cerca de 48% das queixas dizem respeito à comportam entos do tipo
externalizado, a saber, comportamento agressivo e anti-social (22%), hiperatividade
(13%), desobediência e rebeldia (13%).
Figura 03 - Distribuição das queixas apresentadas pelos pais ou responsáveis por crianças em
lista de espera na clínica-escoia da UEL no segundo semestre de 2004 em categorias ( valores em
porcentagem de ocorrência da categoria)
Discussão
Ao analisarem-se os dados e compará-los com estudos de caracterização
anteriores a partir da consideração de variáveis como sexo, idade e tipo de queixa, é
interessante, ou no mínimo curioso, que mesmo passado quase meio século, o perfil
da clientela atendida por clínicas psicológicas brasileiras e a demanda dessa clientela
seja a mesma. O predomínio de crianças do sexo masculino, em idade escolar e com
queixas referentes a comportamentos externalizados ou dificuldades escolares é
registrado desde o trabalho pioneiro de Schoenfeldt e Longhin em 1959.
Parece pertinente uma discussão que avance no sentido de se compreender a
regularidade desses dados, pois se parte do pressuposto que as contingências sociais
vigentes há cinqüenta anos já não são mais as mesmas. De qualquer forma, as
características e os tipos de problemas que levam as famílias procurem atendimento
psicológico para as suas crianças continuam sendo os mesmos.
Iniciamos com as hipóteses de Santos (1990) a respeito da maior incidência da
procura por atendimento para meninos, a saber, a alta expectativa de pais e professores com
relação ao desenvolvimento de habilidades sociais dessas crianças e a diferenciação
socialmente determinada dos papéis desempenhados por meninos e meninas. Isso pode
contribuir para que a avaliâção do comportamento de meninos e de meninas como “normal"
ou “anormal” seja diferente. Essa hipótese pode ser confirmada se considerarmos o tipo de
queixa preferencialmente citada pelos pais no presente estudo: problemas com
comportamentos do tipo extemalizado (agressividade, comportamento anti-social ou hiperativo)
revelam problemas de ajustamento e sociabilidade. Da mesma forma, queixas escolares
demonstram preocupação com o desempenho futuro dessa criança no mundo acadêmico e
do trabalho, considerando-se que os homens devam corresponder às exigências sociais de
provimento da família, ainda que no mundo atual a inserção da mulher no campo profissional
seja uma realidade em um número considerável de famílias brasileiras.
No entanto, chama a atenção os dados obtidos recentemente por Louzada
(2003) sobre a equivalência na freqüência de procura por atendimento por pessoas do
sexo masculino e do sexo feminino. Isso de deve, provavelmente, porque a autora
utilizou uma amostra composta por crianças e adultos. A procura de atendimento na
idade infantil parece que tem se mantido maior par meninos em idade escolar, mas a
procura para atendimento na idade adulta tem sido maior para o sexo feminino.
120 Ana Priscila M artelo»), M srii U iiu Marinho c Cynlhia Borges de Moura
Com relação às altas taxas de encaminhamentos feitos para crianças em
idade escolar, algumas hipóteses podem ser lançadas. É possível que os problemas
comportamentais apresentados por essas crianças tenham sido gerados antes de seu
ingresso na vida escolar. Da mesma forma, é comum paiã lidarem com essa situação
imaginando que "é fase” ou que “com o tempo passa". Nesse casò, é possível constatar
certa desinformação ou nièsmo inabilidade dos pais em identificar quais
comportamentos são esperados para suas crianças no decorrer de seu
desenvolvimento. Logo, esses problemas podem gerar conseqüências aversivas quando
essas crianças iniciam contato mais regular com outras crianças da mesma idade, de
forma que a comparação entre elas se torna inevitável. Mais ainda, os comportamentos
que até então podiam ser tolerados pelos pais ou pela família, podem não ser aceitos
pelo grupo, professores ou mesmo pelos pais das outras crianças.
Por outro, tanto no presente estudo como em anteriores as maiores taxas de
encaminhamento aconteceram para crianças a partir dos 7 anos de idade.
Considerando-se que as famílias dessas crianças são predominantemente de baixa
renda e que suas mães provavelmente precisaram trabalhar fora desde a tenra idade
de seus filhos, é possível que essas crianças já tenham freqüentado creches ou escolas
de educação infantil, onde elas tiveram oportunidade de entrar em contato com outras
crianças, possibilitando avaliações do tipo anteriormente exposto. Mas porque esses
encaminhamentos não aconteceram mais cedo?
Possivelmente, as queixas referentes ao comportamento dessas crianças
dificultem o bom desempenho delas no ensino formal, como é o caso de comportamento
agressivo, por exemplo. Até então, a escolarização estava associada ao lúdico, à recreação
e à estimulação do convívio com os pares. Ao ingressar no ensino fundamental, as
exigências são outras e a forma de .se comportar em sala de aula também. Ao mesmo
tempo, começam a existir as cobranças por desempenho acadêmico, que podem
ocasionar queixas relativas às dificuldades escolares. A partir daí, a comparação entre
as crianças pode ser materializada em forma de desempenho acadêmico.
Queixas feitas pela escola em relação à criança são geralmente aversivas para os
pais, que passam a ser chamados pelos professores na escola e impelidos a encontrar a
solução para o problema. A atenção para os filhos necessita ser aumentada com supervisão
de tarefas e trabalhos exigidos pela escola. Diante desses motivos, é possível que ocorra a
procura por ajuda especializada para orientar sobre como intervir diante dos problemas.
Outro dado importante é a alta taxa de encaminhamentos de crianças para
atendimento psicológico feitos por médicos. Quando recorremos à literatura para discutir
esse dado, percebemos que depois da procura declarada como "espontânea"
(caracterizando o interesse da família pelo atendimento) os encaminhamentos eram
tradicionalmente feitos por escolas ou outras instituições relacionadas à educação. O
aumento do número de encaminhamentos feito por médicos, atualmente, talvez
demonstre uma maior aceitação por parte dos profissionais desta área do tratamento
psicológico como forma de contornar os problemas infantis. R E G
Diretamente relacionado a esse fato, percebemos também alta incidência de
crianças que utilizam regularmente medicação parg hiperativldade. Como já exposto
anteriormente, muitas dessas crianças não apresentam necessariamente o diagnóstico
de Transtorno de Déficit de Atenção/Hipenatividade. O termo “hiperatividade" aparece corno
uma forma mais moderna de se referir a comportamentos do tipo extemalizado, antigamente
tratados como “nervosismo", demonstrando a popularização do diagnóstico de TDAH.
É possível que as famílias, inicialmente, recorram ao serviço médico para
controlar os problemas que percebem em suas crianças, simplesmente por entender
Referências
Os casos
Cinco participantes relataram o envolvimento de algum familiar com drogas.
Dessas, duas - participantes “Ana” e "Bárbara" - relataram o envolvimento do próprio
filho, e mantiveram interações diretas com traficantes ou agiotas, como descrito pelo
diagrama 1. Segundo elas, e corroborado pela análise funcional das crises, foi na
recorrência dessas interações que se desenvolveram seus sintomas de ansiedade.
126 Tiigo Carlos Zortta. Leandro Qam* Mora?5 « Eiijou Bdlista Borlotf
Ana chegou ao grupo encaminhada pela direção do hospital, com aparência abatida.
Relatou que não conseguia dormir sem o auxilio de remédios há um ano e que se sentia
tensa e cansada devido ao envolvimento de seu filho, Jr., com as drogas. Quando Jr.começou
a usar drogas, ela tentara várias possibilidades para afastá-lo e chegou a mudar de
residência, mas seus esforços foram vãos. Além do uso intenso de drogas, Jr. endividou-se
com agiotas e sempre procurava a mãe para quitar as dívidas. Ana disse que chegou a um
estado em que quando seu telefone tocava, ela já sentia todas as sensações corporais da
ansiedade, pois sabia que era o filho ligando para relatar problemas ou traficantes ou
agiotas para cobrar dívidas de Jr. Além disso, o ex-marido de Ana era alcoólatra e pouco a
ajudava nessas resoluções. As dívidas cresceram de tal forma que, impossibilitados de
receber, os traficantes, armados, invadiam a casa de Ana durante a noite para levar os
móveis, de modo que a partir dai, ela não mais conseguia dormir, e ainda precisava trabalhar
durante todo o dia. Em meio àquela situação, Ana procurou ajuda em várias instituições
públicas como delegacias e hospitais, mas não teve êxito. Oisse que pensou em incendiar
sua casa, a fim de chamar a atenção da imprensa, para ver se alguém a ajudava. Logo após
ter entrado no grnpo terapêutico, uma sobrinha residente no exterior pagou as passagens
de Jr. e então ele foi para o exterior trabalhar e conseguiu pagar as dívidas que tinha no
Brasil, mas ainda não se livrara do vício. As coisas se acalmaram com a ausência do filho,
mas os traficantes continuaram a cobrar as dividas, e os sintomas de Ana ainda
permaneciam, juntos ao medo do retomo do filho.
Bárbara, também funcionária do hospital, chegou ao grupo em situação
semelhante à de Ana, relatando problemas com o filho adotivo, usuário de drogas.
Trabalhava em dois empregos, divorciada, e possuidora de muitos bens, Bárbara ainda
se responsabilizava pela mãe idosa que há cinco anos havia perdido a visão. Deixava a
mãe trancada num quarto enquanto trabalhava, para que a mãe não saísse e se
machucasse na nova casa em que estavam vivendo. Quando chegou ao grupo
terapêutico, relatava que seu filho já tinha alcançado o vício por “drogas mais pesadas",
como o craque, por exemplo. Falava que seu filho não era mais o mesmo de quando foi
por ela adotado. Em uma das sessões, Bárbara disse ao grupo que no dia anterior
havia chegado do trabalho e muitos dos móveis, e utensílios da casa haviam sido
vendidos pelo filho. Muitas vezes ele chegava em casa com marcas de agressão por ter
roubado utensílios da vizinhança.
Com muito sofrimento, Bárbara teve de fugir de seu filho junto com a mãe cega, e
se mudar varias vezes de bairro, pois ele já estava agredindo-a fisicamente para que ela lhe
desse recursos financeiros que pudessem manter seu vicio. O filho chegou a ameaçá-la de
morte, dizendo que ficaria com todos os bens se ela morresse, acontecimentos que, durante
o tratamento, a deixavam muito ansiosa, o que é mostrado nos escores dos testes.
Ana obteve escores de 29, 32 e 4 nas respectivas aplicações, enquanto Bárbara
apresentou os resultados 9, 26 e 6, evolução respaldada pelos seus relatos.
Alternativas
Diante da impossibilidade de promover mudanças no contexto social mais
amplo das participantes, medidas que proporcionassem uma redução do impacto das
propriedades aversivas desse ambiente em sua saúde foram tomadas, bem como o
desenvolvimento de meios de interação mais eficientes nas situações de crise. Destaca-
se aqui o relaxamento muscular progressivo, o treinamento em análise da preocupação
e resolução de problemas, e o treinamento em habilidades sociais, em que foram
trabalhados temas como resolução de problemas, habilidades sociais, técnicas de
minimização da ansiedade, divisão de responsabilidades nas preocupações, instruções
sobre como verbalizar com o filho e tarefas de casa.
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(\ Prática: Compra
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Prática: InyiasSóde
e pa^amartcde dMda.
Discussão e Conclusão
Ao lidar com práticas culturais o interesse dos analistas de comportamento
recai sobre contingências similares entre classes de atores, mais do que no
comportamento de um único indivíduo (Mattainí, 1996). Na prática cultural analisada
aqui a situação torna-se ainda mais complexa já que estão envolvidas múltiplas classes
de atores. Os processos de violência coletiva que tipificam o tráfico de drogas
frequentem ente envolvem redes altam ente complexas de antecedentes e
conseqüências (Mattaini, 1996, ver exemplos em Mattainí 2003) que tem a participação
de diversos atores: usuários, polícia, traficantes, agiotas, familiares de usuários, etc..
Dessa maneira, estratégias clínicas unidimensionais, voltadas para um único ator
podem ser inefetivas, dado os múltiplos fatores e atores envolvidos (Mattaini, 1996),
Segundo Glenn (2006), quando a condição insatisfatória ou ameaçadora provém
de um produto agregado ocasionado pelo comportamento de muitas pessoas, o problema
é considerado um problema cultural, e uma intervenção cultural pode ser necessária. Este
é o caso do tráfico. A mudança no comportamento de um único indivíduo (geralmente é o
usuário) raramente terá um impacto discemívet no processo (p. 33). Se as interrelações são
fortemente sustentadas (isto é, se as contingências operantes encadeadas são estáveis),
o produto agregado pode ser consistentemente produzido (é por isto que tem-se a impressão
do tráfico ser um problema aparentemente insolúvel); embora o comportamento das mesmas
pessoas seja tipicamente recorrente, contingências entrelaçadas podem permanecer
intactas (com variações) quando um ou algumas pessoas são substituídas (p. 36), por
exemplo pelo assassinato impunitivo de muitos dos jovens usuários.
Entretanto, embora não tenha sido possível controlar os eventos culturais relevantes
ao desenvolvimento dos sintomas da mulheres dos GAM’s, a terapia foi eficaz em fornecer
ferramentas que possibilitaram o enfrentamento de situações aversivas. O tempo todo os
autores estiveram atentos a esta limitação inexorável, ou seja, compreenderam que os
resultados da intervenção nos GAM’s com essas mulheres caracterizam o que Fawcett et.
al. (1980) denominaram “mudanças de primeira ordem" - mudanças num sistema social
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na ABPMC disponível em: www.abpmc.org.br
M eg Çom es M artins
Psico/ur/IESB
Caso: K., 4 2 anos, com pareceu ao atendim ento psicológico, pois abusou
sexualmente da enteada C., a primeira vez quando ela tinha 9 anos, e perdurou até ela
completar 12 anos de idade. C. revelou o abuso à m ãe B., recentemente, aos 17 anos,
e logo começou a freqüentar psicoterapia. A m ãe B. também procurou um psicólogo
para si e para o marido K , que concordou em participar das sessões. Em relação ao
abuso sexual, K. relatou que nunca houve penetração, que acontecia quando B. estava
dormindo e C. pedia para dormir na cama com o casal. Ao perceber que B. dormia, K.
introduzia o dedo na vagina da enteada e tocava seus seios. K. assumiu que iniciou a
enteada na sexualidade com os toques, que foi tudo um deslize e que só aconteceu
porque C. sem pre foi precoce (m enina com corpo de m ulher), carinhosa e q u e ,
frequentemente, dormia na cama dos pais até os 13 anos de idade. Verbalizou que
sentiu-se seduzido e afirmou que o abuso aconteceu apenas com a enteada e não com
outras crianças. K. relatou que se sentia carente emocionalmente em relação a sua
esposa B. e que existiam muitas discussões entre eles. Sentia-se cobrado e chateado.
B. exigia atenção, sexo e que eie seguisse a religião dela. A relação conjugal sempre foi
conturbada, desde os tempos de namoro, quando o sogro pressionava K. para se casar
com B. revelando que B. tinha uma família muito protetora e que deixava K. acuado para
tomar decisões. Percebia muitas diferenças entre ele e a mulher no campo intelectual,
nas perspectivas de vida, nos planos futuros e na forma de conduzir o relacionamento.
K, já tentou romper o relacionamento com B„ mas confessa que tem pena da mulher
que já tentou se m atar ao ver a possibilidade de perder o marido. K. relatou que, primeiro,
vai esperar B. se estruturar financeiramente para depois tentar um processo de separação
novamente. Antes de se casar com S.. K. estava separado há apenas 4 meses da
primeira mulher com quem afirma ter vivido sua única paixão, tinha afinidade intelectual
e sentia paz e liberdade. K. afirma que B. é muito carente e ele não. Não se sente
satisfeito consigo mesmo, pois costumava ser brincalhão e alegre. Hoje não consegue
ma/s ser dessa forma quando B. está presente. Apesar disso, assume que B. é excelente
mãe, dona de casa e é uma pessoa admirável, mas não para ficar com ele. Gostaria de
viver um amor apaixonado de homem e mulher.
A literatura sobre abuso sexual demonstra muitas questões acerca do atendimento
a criança vitimizada, todavia poucos textos mantêm o foco no atendimento ao abusador. Para
exemplificar, a literatura na área de abuso sexual infantil, geralmente, apresenta os temas:
conseqüências do abuso sexual a curto e a longo prazo para a criança abusada (Azevedo,
2. Aspectos do atendimento
2.1 Do profissional e sua postura
O aspecto mais importante no atendimento ao abusador sexual intrafamiliar é
a atitude do profissional, que deve primar pelo respeito a todos os membros da família,
desde a criança vítima, ao abusador, a mãe, o pai e os irmãos, dentre outros importantes.
A capacitação do profissional que quer se dedicar à área do abuso sexual ou atende
esses casos é de suma importância. O treinamento em reconhecer aspectos antecedentes
e conseqüentes do abuso deve permear a sua vivência profissional, e esse treinamento
passa pela busca constante da literatura sobre o tema, da troca de experiências com outros
profissionais e da própria experiência em atendimentos dos casos que envolvem abusos,
Além disso, é de grande relevância que o profissional busque identificar quais
as emoções e sentimentos envolvidos no atendimento e de que forma podem influenciar
a relação profissional-cliente. Em casos de abuso sexual, a intensidade da violência e
do abuso vivencíada pelas famílias se reflete nos profissionais que as atendem e
reverberam neles sentimentos intensos com relação à situação das pessoas envolvidas
em lais circunstâncias (Ribeiro, 2004). Indignação, raiva, dor, impotência, nojo,
agressividade, ma) estar, desânimo, angústia e pena são alguns sentimentos que
arrebatam os profissionais ao conhecer e enfrentar situações de abuso sexual infantil.
O ponto principal é não banalizar para não impedir a ação. Os sentimentos ambíguos
envolvidos entre a esquiva de uma pessoa que emitiu ou emite um comportamento
repugnante e a necessidade de conhecê-lo e estabelecer vínculo terapêutico são
naturais, no sentido de que acometem os profissionais enquanto pessoas que estão
dentro de um processo de trabalho, mas não totalmente neutros à história de sofrimento
que está sendo relatada, tanto da criança quanto do abusador.
Para Ravazotla (1997) são as emoções que causam desconforto ao profissional,
tais como mal estar, raiva, medo, horror despertadas das relações abusivas ocorridas
na família, que propiciam a atuação e intervenção nesses casos, permitindo que se fale
em voz alta sobre essa violência, que tende a ser mantida em silêncio e segredo. Esses
eventos encobertos também propiciam uma mobilização no sentido de buscar maneiras
de ajudar as pessoas envolvidas nas relações abusivas, levando os profissionais a
Referências
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aplicação (pp. 27-44). São Paulo: Artmed.
Introdução
Por muitos séculos, a concepção de sexo foi marcada pelo domínio da religião,
sendo vista como manifestação do diabo peio cristianismo. As prostitutas eram
recipientes que levavam consigo os males do sexo, e as mulheres descentes não
podiam manifestar seus interesses sexuais. No mundo ocidental, se observam várias
contradições e ignorância sobre o comportamento sexual, o qual apenas no século XX,
com a utilização de método científico por pesquisadores, foi melhor entendido.
No início do século XX, o engenheiro Alfred Jones criou uma máquina antí-
masturbação que queimava a pele de homens e mulheres quando acionada. Outra
invenção para eliminar sonhos eróticos foi um aparelho ligado a um gramofone que
tocava uma música suave e acordava a pessoa que estava sonhando (Foucault, 1977).
No mesmo período, Havellock Eílis, profundamente religioso, teve uma visão que
o levou a dedicar a vida aos desejos da carne e a pregar o evangelho do sexo. Eliis acreditava,
influenciado por Freud, que a fonte de grande parte do sofrimento humano viesse da
repressão sexual e um modo de se livrar da dor era dedicar-se a religião natural do amor
livre. Por isso, foi um visionário e reformador do seu periodo ao acreditar na excelência do
sexo. Seu trabalho mais significativo foi intitulado de "Estudo sobre a Psicologia do sexo”,
uma enciclopédia de sete volumes. Em 1897, ele publicou o primeiro volume “inversão
sexual” que tratava a homossexualidade como parte integrante da vida humana. Pelo fato
de não definir a vida homossexual como crime nem como doença, Ellis foi atacado pelas
autoridades legais que proibiram seu livro, taxando-o de literatura indecente.
Nos anos 20 e 30, a Alemanha era considerada a máquina sexual da Europa,
havendo uma busca frenética por liberdade erótica e artística. Nessa época, Magnus
Hirschfeld, professor universitário e médico assumidamente homossexual, fundou o
Instituto de Ciências Sexuais em Berlim, realizando pesquisas regulares sobre sexo. Deu
o nome de travesti para homens que apresentavam anomalias sexuais. Reich, um
"Instituto São Paulo tie Anôtee do Comportamento- INSPAC e Centro **Unlversilário de BrasOta - UniCeub
Instituto SSo Paulo de Anáíse do Comportamento- INSPAC
144 AntónioIsidrtidaSilva.Qei*ontadro-Marínho,Lianad«SilvaMousinho
estudante radical de Freud, acreditava que o poder do orgasmo mudaria o mundo. Nessa
visão, os desejos sexuais eram vistos como a principal força motora da vida humana.
Acreditava que podia armazenar a energia de orgasmos em caixas de madeiras. Morreu
preso em 1957 porque suas idéias constituíam uma ameaça à segurança nacional.
Avançando na história da revolução sexual, nas décadas de 40 e 50, o sexo na
América ainda era dominado pela culpa. As leis do sexo da época só permitiam a
masturbação e sonhos eróticos, sendo que tudo o mais era tabu. Contudo, em 1940, Affred
Kinsey, professor da Universidade de Indiana, causou polêmica com suas idéias ao desviar
seu interesse de sexo entre animais para seres humanos. Em 1947, Kinsey criou o Instituto
de Pesquisa do Sexo, onde ele e seus pesquisadores investigavam o comportamento
sexual dos americanos. Desenvolveram uma técnica especial de entrevistas sobre sexo,
nas quais se fazia perguntas decoradas e se mantinham os olhos fixos nas pessoas. Em
1948, publicou um ensaio “O comportamento sexual masculino”, onde apresentou
estatísticas sobre o comportamento sexual masculino envolvendo masturbação, traição e
sexo com animais. Mais tarde, em 1953, publicou um livro sobre o comportamento sexual
feminino revelando novamente estatísticas que chocaram os americanos. Embora a
sociedade americana tenha aceitado as estatísticas sobre os homens, o mesmo não
ocorreu com as mulheres as quais não podiam ser vistas como prostitutas que se
masturbavam e tratam seus maridos. Essas idéias permitiram que a culpa associada ao
sexo fosse reduzida, argumentando que se todos o fazem, o pecado não é de ninguém.
Ainda nos anos 50, levando adiante as pesquisas de Kinsey, o casal de médicos
Masters e Johnson, munidas da mais avançada tecnologia, convidaram prostitutas e
estudantes para realizar suas pesquisas sobre o comportamento sexual humano. Os
voluntários possuíam eletrodos conectados nos seus corpos e, sozinhos ou em pares,
se masturbavam ou mantinham relações sexuais, enquanto suas respostas fisiológicas
eram medidas. As pesquisas forneceram informações nunca antes reunidas por outros
estudiosos. Em seus estudos fisiológicos provaram que o orgasmo feminino ocorre no
clitóris, derrubando a teoria de Freud do orgasmo vaginal que até então prevalecia. Em
1966, publicaram as primeiras descobertas no livro “Resposta sexual humana”. Seus
trabalhos pioneiros ajudaram a descrever a linguagem da revolução sexual, mostrando
como funcionava o sexo. Também ajudaram as pessoas a fazê-lo melhor criando a
terapia sexual para vários problemas sexuais (Masters e Johnson, 1997, 1970).
O presente trabalho tem como objetivo identificar o processo de aprendizagem
do comportamento e das disfunções sexuais, bem como apresentar a terapia sexual na
perspectiva da Análise do Comportamento.
Aprendizagem Sexual
Para a Análise do Comportamento, o comportamento sexual humano possui duas
particularidades. A primeira é a função biológica da manutenção da espécie. A segunda,
cultural, diz respeito à evolução do comportamento para uma realização romântica e afetivo-
sentimental. Ao longo da vida, as pessoas buscam realizações em diferentes setores. No
setor sexual, busca-se satisfação, prazer e felicidade. No entanto, essa realização pode ser
dificultada pela história particular do indivíduo, pois, embora os organismos sejam dotados
de potencial para atividade sexual, nem sempre a história ambiental é favorável.
Segundo Masters e Johnson (1997), todo organismo nasce com potencialidade
para a resposta sexual, sendo que esta possui cinco fases: desejo, excitação, platô,
orgasmo e resolução. Todavia, a história de exposição às contingências pode
interromper o fluxo da resposta fisiológica. As interações interpessoais disfuncionais,
Centro Medular
Resultado: Orgasmo
DO Concorrência de Estímulos;
146 Antônio Isidro da Silva, Orison IskW M arinho, liana d l Sltva Mousmho
SD, um determinado comportamento é reforçado e, na presença de Sdelta, a ocorrência
deste mesmo comportamento não é consequenciada. Como resuttado, na presença
de SD, o comportamento será evocado, enquanto que na presença de Sdelta, o
comportamento deixará de ocorrer. Entretanto, as funções estabelecedoras dos
estímulos, isto é, das operações estabelecedoras (OE), são identificadas a partir de
dois principais efe/tos. Primeiramente, o efeito estabelecedor do reforço - caracterizado
pela alteração da efetividade do reforçamento - e, em segundo lugar, efeito evocativo do
comportamento - caracterizado pela alteração da frequência de qualquer comportamento
historicamente reforçado por tal reforço (da Cunha e Isidro-Marinho, 2005).
No contexto sexual, diversos estímulos adquirem, a partir de uma história de
condicionamento, as funções de indicar a disponibilidade de reforçamento ou até mesmo
da punição. Por exemplo, diante de uma situação sexual, um rapaz pode ficar atento às
“caras e bocas" de sua parceira, pois teve uma história de aprendizagem em que certos
gestos e expressões indicavam a possibilidade de reforço ou punição. Diante de alguma
expressão, que historicamente esteve associada à rejeição, ou seja, probabilidade de
punição, este rapaz pode ter o fluxo de sua resposta sexual interrompido. Igualmente as
operações estabelecedoras. Por exemplo, uma história de relacionamentos sexuais
desconfortáveis e com dores pode levar mulheres a terem o valor reforçador da atividade
sexual diminuído. Além disso, na exposição às contingências sócio-cutturais como
família, religião, modelos e mídia, as regras a respeito de sexo são aprendidas e têm a
função, enquanto operações estabelecedoras, de controlar respostas sexuais, no
sentido apetitivo ou aversivo. Os tabus, por exemplo, a respeito do sexo, podem levar
pessoas a verem a atividade sexual como sendo algo aversivo.
Em termos conseqüentes, os estímulos exercerão as funções de fortalecimento
e enfraquecimento de operantes. O refprço, além de fortalecer o comportamento público
que o produziu, aumentando sua freqüência, produz efeitos sobre comportamentos
encobertos relacionados ao pensar e ao sentir. No entanto, a punição e a extinção, além
de enfraquecerem, ou seja, diminuírem a probabilidade de ocorrência do comportamento
que as produziu, geram “efeitos colaterais” sobre o mundo privado de um indivíduo
(Skinner, 2000; Baum, 1999). Por exemplo, se as contingências forem reforçadoras, o
pensar e sentir a respeito de sexo será positivo e agradável, havendo desejo, excitação,
orgasmo e uma prática sexual satisfatória. Todavia, quando as contingências são
aversivas haverá bloqueios de respostas sexuais, podendo haver prejuízos no desejo
sexual, lubrificação, excitação e orgasmo. O indivíduo pode apresentar vergonha, medo,
ansiedade e comportamentos de fuga e esquiva da situação sexual.
No contexto terapêutico, a compreensão das conseqüências do comportamento
sexual é de grande relevância. Conseqüências reforçadoras associadas aos quadros
emocionais e sensações agradáveis aumentam a freqüência de respostas para sexo.
Em contrapartida, conseqüências aversivas associadas aos quadros emocionais e
sensações desagradáveis, diminuem a freqüência de respostas para sexo e aumentam
a freqüência de respostas de fuga e esquiva. Em ambos os casos, a auto-estima do
indivíduo pode ser afetada, positiva ou negativamente. Vale ressaltar que os eventos
privados que fazem parte do ato sexual, assim como todos os comportamentos públicos
associados, constituem os problemas a serem tratados.
Por fim, para que haja uma melhor análise do comportamento sexual, ó necessário
que o terapeuta analítico-comportamental busque identificar as diversas variáveis das
quais o comportamento sexual é função, b qual se refere ao pensar, ao sentir e ao agir. Em
suma, uma pessoa que mantém relações sexuais responde pública e privadamente a
contingências variadas: estímulos eliciadores, estimulos discriminativos, operações
Disfunções sexuais
No âmbito de uma perspectiva anaíítico-comportamentai, 0 comportamento
sexual apresenta interfaces importantes que envolvem uma estrutura anatômica-
fisiológica interagindo com o ambiente, onde se conjugam as contingências no processo
de aprendizagem respondente e operante. O comportamento sexual pode ser analisado
sob vários aspectos: identidade, preferência e disfunções sexuais. Neste trabalho iremos
discutir apenas as disfunções sexuais.
As dificuldades sexuais, antes da década de 60, eram vistas como manifestação
de um quadro de psicopatologia e com pessimismo terapêutico (Kaplan, 1995, 1978,1977).
Muitas propostas de tratamento das disfunções foram desenvolvidas a partir dos trabalhos
de Masters e Johnson. Com a publicação do livro "Incompetência Sexual" houve destruição
dos mistérios que cercavam a resposta sexual, favorecendo a quebra de mitos e tabus
(Masters e Johnson, 1970). Concomitantemente, as pesquisas sobre métodos contraceptivos
avançaram, levando à liberdade sexual da mulher e favorecendo a prática de sexo.
Mesmo com o avanço nas pesquisas sobre o comportamento sexual, um estudo
realizado no Brasil por Abdo (2004) revelou que 42,8% dos homens e 50,9% das mulheres
apresentam algum tipo de dificuldade sexual, sugerindo que entre as informações sobre
sexo e sua prática existe uma lacuna. Os modelos mais tradicionais de tratamento do
comportamento sexual utilizam um referencial médico-fisiológico, no qual pensamentos,
percepções e sentimentos são entendidos como as causas do fracasso sexual, desviando
a atenção das variáveis determinantes das disfunções. Assim, parece haver necessidade
de um tipo de intervenção que favoreça a prática funcional do sexo.
Do ponto de vista analítico-comportamental, as disfunções sexuais podem ser
definidas como interrupção da seqüência do fluxo da resposta sexual do indivíduo,
acompanhada de respostas encobertas e públicas, em função de uma história de
exposição às contingências e, que envolvem comportamentos disfuncionais e
inadequação de pares. Embora a literatura médica especializada descreva a topografia
comportamental da disfunção sexual, o clínico comporta mental busca estabelecer as
relações funcionais entre as diferentes topografias de respostas e as variáveis que as
produzem. Portanto, a análise funcional do comportamento sexual é ponto de partida
para a compreensão e tratamento das queixas sexuais.
Inicialmente, consideremos as disfunções sexuais masculinas mais comuns:
ejaculação precoce e disfunção erétil. Uma descrição topográfica fornece dados para se
identificar diferentes respostas em nível público (por exemplo, reflexo ejaculatório breve e
flacidez peniana enquanto respostas fisiológicas, além de repertórios de esquiva do
contexto sexual em ambos os casos), e uma série de respostas em um nível privado
(sentimentos dé desconforto, medo, auto-estima diminuída, fracasso, etc, além de
respostas fisiológicas associadas aos quadros emocionais). Por outro lado, no caso das
disfunções sexuais femininas o mesmo pode ser observado. Além de topografias púbicas
(como respostas fisiológicas tem-se a falta de lubrificação vaginal e a contração do perineo
vaginal, além de respostas de fuga e esquiva da atividade sexual), os quadros disfuncionais
femininos apresentam, em sua maioria, uma alta freqüência de respostas encobertas,
tais como: interrupção do reflexo orgástico, dores e desconforto durante a atividade sexual,
sentimentos desagradáveis sobre si e sobre o sexo, medo e vergonha do fracasso sexual.
A análise funcional de tais comportamentos deve ser iniciada pela identificação
dos contextos em que as respostas (públicas e privadas) ocorrem, considerando as
Referências
Luc V an d en b erg h e
A psicoterapia analítico funcional emergiu nos anos de oitenta como uma forma de
psícoterapía que usa a retação terapêutica como o único instrumento de transformação
(Kohlenberg & Tsai, 1987). A observação que os problemas do paciente podem se manifestar
em relação ao anafista não era uma novidade. Porém, esse fenômeno tinha sido conceituado
em termos intrapsíquicos. Foi explicado em um nivel meta-psicológico como algo que
ocorre dentro do psiquismo do cliente (transferência) e do terapeuta (contratransferência). A
FAP propõe uma compreensão contextualista para o mesmo fenômeno. Nessa, a
transferência e a contratransferência nãb são situadas no psiquismo do indivíduo, mas no
relacionamento entre as pessoas. Tal visão tem implicações pragmáticas para a atuação
do terapeuta. A ocorrência de reações emocionais entre terapeuta e cliente pode dar acesso
direto às causas das dificuldades para as quais o cliente procura terapia, já que etas podem
ser vivenciadas e estudadas enquanto estão ocorrendo. No caso de um cliente que se
queixa do fracasso nos seus relacionamentos íntimos pode ser detectado, por exemplo, o
que ele faz que atrapalha o desenvolvimento de uma relação interpessoal, como efe faz a
outra pessoa (no caso o terapeuta) se sentir, como ele reage às manobras interpessoais
do outro etc. Por via dessa análise, a ocorrência de tal fenômeno entre o cliente e o
terapeuta se torna uma oportunidade de trabalhar as causas dos problemas enquanto
estão acontecendo ao vivo (Kohlenberg & Tsai, 1994a) em vez de discutir soluções
para problemas que ocorrem fora da sessão.
A FAP foi proposta como uma abordagem de tratamento integrativo e completo,
baseado na construção de um relacionamento interpessoal genuíno e intenso que
providencia uma variedade densa de vivências curativas. E é desta forma que ela é
geralmente praticada. Porém, existe a opção alternativa de usar estratégias propostas
pela FAP como técnicas adjuntivas na prática da terapia cognitivo-comportamental. Nesse
último caso essas estratégias se transformam num método para turbinar o tratamento,
tornando a vivência mais intensa e dando acesso direto às crenças e às distorções
cognitivas do cliente enquanto essas estão ocorrendo ao vivo. Assim, na vivência direta
toma-se possível observar a contingência que mantém o controle verbal e trabalhar a
mesma enquanto ocone (Kohlenberg Tsai, 1994b; Hopko & Hopko, 1999; Kohlenberg,
Kanter, Bolling, Parker & Tsai, 2002; Kanter, Schildcrout & Kohlenberg, 2005). Independe da
questão se a FAP é usada corno tratamento por si mesma ou como técnica adjuntiva, os
princípios fundamentais da abordagem continuam os mesmos.
152 LucV&ndtnWghe
manter uma postura neutra e objetiva. Quando a busca de acolhimento pelo cliente é um
CRB1. o terapeuta deve se abster de reforçar essa estratégia. Mas quando é um CRB2,
se toma imprescindível acolher cada ocorrência desíé mesmo comportamento. Também
n30 podemos dizer que o terapeuta deve ser transparente e compartilhar informações
pessoais com o cliente. Sempre a atitude do terapeuta dependenderá da questão, quais
efeitos suas reações terão sobre o comportamento clinicamente relevante. Para cada
cliente, o terapeuta deve interrogar seus sentimentos à luz da sua conceituação do caso.
Essa conceituação inclui sua análise funcional dos problemas que o cliente vive no seu
cotidiano, os recursos dos quais o cliente dispõe e a história de aprendizagem que torna
os problemas e déficits no repertório interpessoal compreensível.
A conceituação do caso permite questionar de maneira fúcada o que o cliente
está fazendo com o terapeuta em cada momento. A cliente que foi vitima várias vezes de
abuso sexual em relações de dependência e não consegue lidar com intimidade e
aproximação emocional está agora se fechando para o amor que a terapeuta expressa
para ela (Kohlenberg & Tsai, 1998)? A cliente que destrói seus relacionamentos com
padrões de ciúme está repetindo as mesmas atitudes com o terapeuta (Carrascoso
Lopes, 2003)? A cliente cujas formas agressivas e incoerentes de tidar com gente tinha
se mostrado a forma mais eficiente para conseguir compreensão e apoio das pessoas
com quem convive, ou o cliente que aprendeu lidar com todos os desafios com esquiva
passiva no decorrer de uma história em que todas as suas iniciativas foram cruelmente
punidas, usam os mesmos estilos para lidar com o terapeuta na sessão (Vandenberghe,
Ferro & da Cruz, 2003)? Quando as respostas a esses tipos de perguntas são positivas, o
terapeuta pode concluir que será com esses comportamentos que deve trabalhar.
Sempre será a interação entre terapeuta e ciiente que oferece as oportunidades
para intervir. O fato que esse relacionamento é diferente de outros relacionamentos do
cotidiano perm ite a atuação terap êu tica. Será exatam en te a o co rrê n c ia
dos comportamentos clinicamente relevantes nesse contexto diferente que permitirá
que esses comportamentos sejam influenciados de maneira que difere das formas em
que pessoas importantes influenciam os mesmos na vida do cotidiano (Ferro, 2006;
Callaghan, Naugte & Follette, 2003). Os modos terapêuticos de influenciar os
comportamentos clinicamente relevantes são geralmente resumidos em termos de
três guias. Para poder atuar de acordo com estas, o terapeuta deve elaborar alvos
claros para cada sessão. Esses alvos são descrições do que ele pode fazer durante a
sessão para promover as metas que foram combinadas com o cliente.
Há três princípios (também chamados de guias) na condução da FAP, que ajudam
na formulação concreta dos alvos para a sessão. Primeiro princípio: o terapeuta deve
observar, evocar e avaliar CRBs. Segundo princípio: o terapeuta deve consequenciar CRBs
e observar o efeito das consequências sobre o cliente. Há cinco diferentes técnicas para
responder a um CRB1: extinguir; ignorar (passivo); bloquear (ativo); evocar um
comportamento alternativo; permitir a ocorrência de uma conseqüência natural punidora.
Responder a um CRB2 é possível somente por permitir a ocorrência de um reforço
natural ou por ampliar ou destacar um reforço natural que está ocorrendo, mas ao qual o
cliente não teria acesso. Podemos ilustrar a primeira forma de reforçar com o exemplo de
um cliente para quem expressar suas necessidades é um CRB2. Quando estó cliente
pede algo ao terapeuta que tem sentido no contexto do relacionamento entre eles, o
terapeuta procurará providenciar o que o cliente pedju. Um exemplo da segunda forma
poderia ser o compartilhar de um sentimento relevante do terapeuta que ocorreu como
consequência natural de um CRB2 emitido pelo cliente. Se o terapeuta não compartilha
este efeito que o comportamento do cliente tem sobre ele, esfa conseqüência não poderia
Prática e pesquisa
Um livro de Kohlenberg e Tsai (2001/1991) que foi escrito no fim dos anos
oitenta, descreve em detalhes como a FAP foi praticada em Seattle durante esta década.
A abordagem se diversificou a partir dessa época. Durante os anos de noventa colocou-
se em Seattle cada vez mais ênfase áobre exercícios de contato emocional, enquanto
em Reno continuou cultivando a ênfase em processos básicos de aprendizagem. Mesmo
assim, um consenso se mantinha na forma em que o tratamento deve ser desenvolvido.
A primeira sessão inclui uma avaliação inicial do tipo que é comum na terapia
cognitivo-comportamental, inclusive com uso de questionários. A vertente de Reno
destaca como muito importante que haja uma análise funcional formal do comportamento
do cliente no cotidiano, mas dispensa questionários e não considera essencial o uso
da folha de trabalho que em Seattle é o instrumento central pelo qual o terapeuta se
norteia a qualquer hora. Trata-se de uma folha dividida em colunas em que o terapeuta
anota dados sobre a história relevante do cliente, dos comportamentos problemáticos,
dos recursos disponíveis e das crenças relevantes no cotidiano, como também as
metas da terapia e as tarefas específicas que o terapeuta se põe em relação aos CRBs
na sessão. A vertente de Seattle não insiste numa análise funcional formalizada do
comportamento no cotidiano, mas enfatiza que a avaliação também evoca CRB1s e
CRB2s. A situação de ser avaliado evoca no cliente comportamentos que podem, às
vezes, dizer mais do que os resultados do processo de avaliação em si.
Desde a primeira sessão o cliente é esclarecido em relação às idéias
subjacentes da FAP. O terapeuta oferece uma introdução geral com os motivos de usar o
relacionamento terapeuta-cliente como instrumento de atuação. O terapeuta explica
similaridades e diferenças entre esse relacionamento e outros relacionamentos no
cotidiano, quais são as vantagens de trabalhar com o que ocorre na sessão e quais são
as expectativas do terapeuta com esie procedimento. Sempre é dado um espaço
suficiente para que o cliente tire dúvidas e se posicione frente a esta abordagem. A
primeira sessão é encerrada com uma tarefa de casa. O cliente é solicitado a relatar os
seus eventos de vida. Muitas vezes isso ocorre através de uma tarefa padronizada que
Referências
Emoção
A emoção, ou melhor, o comportamento emocional manifesto é, geralmente,
acompanhado por respostas viscerais, fisiológicas. Desta forma, a emoção ou o sentimento
não é causa do comportamento. A confusão acontece porque a emoção é sentida pelo
indivíduo enquanto este se comporta (Millenson, 1967/1975; Skinner, 1989/1991).
Discriminar e descrever o sentir só são possíveis mediante a comunidade verbal,
que dispensa contingências para que isto ocorra (Santos, 2000). Tal comunidade também
define, por meio da aprendizagem, se o comportamento do indivíduo é adaptado ou
desadaptado (Gongora, 2003). O primeiro está relacionado à sua aceitação pela comunidade
verbal e ao controle do indivíduo sobre suas respostas. No entanto, no comportamento
fsbianaagularvsi@hotmalt.Qom/ gmBbuertopsi@hatmaiLcom
Comportamento Dependente
A dependência a outras pessoas é um fenômeno adaptativo do ser humano
(Beck et al., 2004/2005).
Para Staats e Staats (1966/1973), o comportamento dependente se dá por meio
da aprendizagem. Visto que está sob o controle de estímulos físicos e sociais que
favorecem a generalização das respostas emitidas. A quantidade de estímulos
reforçadores sociais efetivos não é homogênea para todos os indivíduos.
A dependência pode ser criada por meio do controle de ordens dos pais sobre
o comportamento da criança. Esse controle prejudica a tomada de decisões, que,
geralmente, será expressa pelo indivíduo independente (Staats & Staats, 1966/1973).
Habilidades Sociais
O termo Habilidades Sociais deve ser compreendido dentro de um contexto
cultural e situacional. Daí a dificuldade em defini-lo (Cabalto, 1996/2002).
Uma proposta de definição de Habilidades Sociais foi apresentada por Caballo
(1986, apud Caballo, 1996/2002, p. 365), a saber:
O comportamento socialmente habilidoso é o conjunto de comportamentos emitidos por
um indivíduo em um contexto interpessoal que expressa os sentimentos, atitudes,
desejos, opiniões ou direitos desse indivíduo, de um modo adequado à situação,
respeitando esses comportamentos nos demais e, que geralmente resolve os problemas
imediatos da situação enquanto minimiza a probabilidade de futuros problemas.
A terapia proporciona a análise da coerência dos comportamentos socialmente
habilidosos, visto que o terapeuta possibilita ao cliente o desenvolvimento de recursos
de enfrenta mento perante seus comportamentos desadaptados (Reinecke, 2000/2004).
Terapia Comportamental
A Terapia Comportamental, para Neri(1987, p. 23), tem por objetivo “(...) controlar
as variáveis ambientais que favorecem a extinção de comportamentos inadequados e a
aquisição de outros que possibilitem uma atuação mais adequada do cliente em seu
contexto". Para isto, Costa (2002) afirma ser necessário o desenvolvimento de três
etapas no processo clínico: avaliação, intervenção e acompanhamento.
t
Sobre Comportamento e Cognição 163
Redução da Ansiedade em situações problemáticas; c - Reestruturação Cognitiva e, d
- Treinamento em Solução de Problemas (Caballo, 1996/2002).
No Treinamento em Habilidades são ensinados comportamentos empregando-se
instruções, modelação, ensaio comportamental, retroalimentação e reforço. A Redução da
Ansiedade pode ser feita por meio da Dessensibilização Sistemática. Já a Reestruturação
Cognitiva busca modificar as crenças do diente. O Treinamento em Solução de Problemas
ensina o cliente a observar corretamente o valor de cada resposta que possa ser dada, a
processar este valor, selecionar a resposta mais viável e executá-la (Caballo, 2002/2003).
Este estudo objetivou verificar como. ocorre a relação dos comportamentos de
medo e dependência. Além de pesquisar a funcionalização de tais comportamentos através
da utilização de técnicas operantes e respondentes fornecidas pela Terapia Comportamental.
Método
Participante
Amélia (nome fictício), 29 anos de idade à época deste estudo, casada, mãe
de dois filhos, classe média baixa, dona de casa, ensino fundamental completo, a
segunda filha entre sete irmãos.
História Clinica - Os dados sobre a história clín ica de Am élia são
apresentados, a seguir, tendo como critério as fases de seu desenvolvimento.
Materiais e Ambiente
As sessões foram realizadas em consultório padrão de Clínica Escola de Psicologia.
Foram utilizados materiais didáticos como: papel chamex l caneta, lápis, pasta
para arquivo de registros, fichas de freqüência e de evolução da participante.
Aplicou-se, também, instrumentos diagnósticos e de avaliação, tais como:
Questionário de História Vital (Lazarus, 1975/1980); Inventário de Depressão de Beck-
BDI, Inventário de Ansiedade de Beck-BAI, Escala de Desesperança de Beck-BHS e
Escala de Ideação Suicida de Beck-BSI (Cunha, 2001) e, Inventário de Habilidades
Sociais-IHS (Del Prette & Del Prette, 2001/2003).
Procedimento
Foram realizadas duas sessões semanais com duração de 1 hora e 40 minutos,
cada. A primeira fase do atendimento compreendeu da 1a a 6a sessões, nas quais foi realizada
a Linha de Base. O rappori objetivou o estabelecimento de confiança, favorecendo o
fortalecimento da relação terapêutica. A entrevista comportamental buscou levantar as queixas
da participante. Para a compreensão de sua história de vida, foi utilizado o Questionário de
História Vital (Lazarus, 1975/1980), contendo questões abertas, semi-abertas e fechadas,
com a finalidade de pesquisar as várias áreas de sua vida. Foi aplicada, também, a Bateria de
Beck (Cunha, 2001): BDI, investigador dos níveis de depressão, variando seus escores de 0
a 11, para o nível mínimo; de 12a 19, para leve; de 20 a 35, para moderado; e de 36 a 63, para
grave; BAI, que avalia os níveis de ansiedade, no qual os escores de 0 a 10 representam um
nível mínimo de ansiedade; de 11 a 19, um nível leve; de 20 a 30, um nível moderado; e de 31
a 63, um nível grave; BHS, que verifica a intensidade das atitudes do indivíduo quanto ao futuro,
variando de 0 a 4, para mínimo; de 5 a 8, para leve; de 9 a 13, para moderado; e de 14 a 20, para
grave; e a BSI, que apresenta dois níveis: presença de ideação suicida e ausência de ideação
suicida, verificando as variações da gravidade dos desejos, planos e atitudes suicidas. Foi
aplicado, também, o IHS (Dei Prette & Del Prette, 2001/2003) para verificar a presença ou
Resultados
Os dados apresentados, neste trabalho, foram coletados desde a 1a sessão,
por meio de observações e, posteriormente, de observações e intervenções.
Fragmento da 2a Sessão.
Disparam
Percebe-se só respostas
\
em casa (1). simpáticas
(2).
Modelagem
às respostas
da medo.
(RBC)
Sai em busca de
alguma pessoa
(3).
As respostas
de medo
desaparecem A pessoa
(5), (6). a acolhe
e protege
(4).
Níveis de Ansiedade
(1- Pouco; 2- Moderado; 3- Muito; 4- Extremo)
Categoria de Medo
Linha de Base
Avaliação
4* Sessão 18a Sessão
Análise Funcional
Análise Funcional foi realizada em todas as etapas do processo terapêutico.
Adiante são demonstrados dois exemplo da aplicação deste instrumento em seus
momentos distintos do programação de intervenção, tendo sido substanciada por dados
obtidos a partir de Diários de Registro <Je Comportamento. Veja as Tabelas 3 e 4, a seguir.
(13a sessão)
Estímulo Respostas Conseqüências
22:15 - Amélia, em sua casa, Fisiolóoicas: calafrios, Redução das respostas
sozinha dirige-se ao seu respiração acelerada e curta. fisiológicas, cognitivas e
quarto, para dormir. Cnnnitivas- fala a si mesma emocionais, desconfortáveis.
que pode chegar aonde Após, cerca de 10 minutos,
deseja. Amélia dorme
Fmnránnaift' marln profundamente.
moderado.
Ooerantfis Públicos: faz o
Controle Respiratório e
apronta-se para deitar-se
sozinha.
Tabela 4 Análise Funcional de comportamentos adaptados - intervenção
Estou encantada com o que posso com o autocontrole. Ontem, já dormindo, tive um
pesadelo horrível. Assim que comece/ a ficar naquele antigo estado lastimável de
medo, dei ordem para que acordasse. Acordei dentro do sonho e me disse: 'Esse
pesadelo é irreal, não precisa ter medo dele Volte, vá dormir’. E voltei e continuei a
dormir no sonho, ou na vida raal, não sei. Não foi incrível! Já faço o controle até
dentro dos sonhos/pesadelos. Vou dar fim aos pesadelos. Ou melhor, já dei.
Discussão
Análise Funcional, conforme Kohlenberg e Tsai (1991/2001), permite estabelecer
a relação funcional do comportam ento e a aprendizagem de um repertório
comportamental adequado, o que aconteceu neste processo terapêutico.
Quando a participante, na 2a sessão, relatou que se tomou dependente de outras
pessoas, parece ficar explícito o TPD e a relação entre fobias e tal transtorno. Isto porque o
medo tende a despertar a proteção nas outras pessoas, como ocorria com Amélia (Beck et
al., 2004/2005). Daí a necessidade de compreender quais eram os medos de Amélia
(Tabela 2) e conhecer os fatores causadores e mantenedores dos mesmos, através do
instrumento da Escrita Terapêutica, por meio das Cartas Não~Enviadas e dos Diários de
Referências
Comportamento
Para ser comportamento é necessária uma ação por parte do organismo. Essa
ação depende diretamente das variáveis externas do ambiente imediato e histórico. É um
processo, logo não é facilmente observado; é mutável e, conseqüentemente, exige técnicas
e energia de quem se dedica a estudá-lo (Skinner, 1953/2000). Por ser complexo, como
salienta esse autor, estudar e explicar o comportamento não é tarefa fácil. Não por sua
inacessibilidade, simplesmente por ser de difícil imobilização, ou seja, exatamente por
estar em contínuo processo de modificação, possibilitado pela interação ambiental. Ainda
assim, de acordo com Barbosa (2004, p. 165), mesmo sendo complexo, o comportamento
jamais será classificado pelo analista do comportamento como patológico, uma vez que
‘'(...) se ele ocorre, é porque de alguma maneira é funcional, tem valor de sobrevivência
(...).”, e essa necessidade de adaptação serve para preservar o bem-estar e a vida.
O comportamento humano, seja ele qual for, adaptado ou não, ocorre em função
das contingências de aprendizagem do indivíduo, ao iongo de seu desenvolvimento
(Staats & Staats, 1966/1973). Essas contingências formarão a história de aprendizagem
da pessoa, denominada por Staats (1996) como Repertório Básico de Comportamento
- RBC, que é o somatório de todas as experiências adquiridas por ela ao longo da vida.
Comportamentos adaptados, como salientam Staats e Staats (1966/1973), são
aqueles que se adaptam ao meio em que o indivíduo vive, destacando as experiências, o
aprendizado e as cognições. A muitos desses comportamentos o indivíduo não apresenta
o controle sobre suas respostas sendo, na maioria das vezes, nomeados como
comportamentos social e cultural inadequados. E é esta falta de controle por parte de quem
pratica ação que leva a alguns estudiosos defini-los como desadaptados ou “patológicos”.
Perfeição
Houaiss, Vtllar e Franco (2001) definem perfeito como aquele “Que reúne todas
as qualidades; que não tem defeito; ideal; impecável; excelente (...)*. Afirmam os autores
que a busca pelo perfeccionismo seria uma busca “patológica” em ser perfeito (p. 2186).
Portanto, o significado de perfeccionismo se dá na obrigatoriedade de acertar
sempre, e em tudo. Quando exacerbado, esse repertório pode levar ao medo do medo de
errar, à tensão, à insegurança, à angústia, à rigidez e à criticidade em relação a si mesmo.
Desta forma, no processo d^ intervenção tem-se que deixar claro ao cliente
conceitos importantes sobre sempre que o indivíduo produz algo, simples ou complexo,
pode ocorrer: (1) a possibilidade do acerto ou a ausência deste; (2) o aprendizado
ocorre de forma gradativa e não de uma forma '‘meteórica”, repentina, isto é, sem
treinamentos e crescimentos gradativos; (3) posteriormente, deve ser desenvolvida a
fase de criação de estratégias assertivas para o processo de construção de novos
comportamentos socialmente mais hábeis, visando a redução das respostas de medo,
de insegurança, angústia, rigidez e até a redução da crítica depreciativa em relação a si
mesmo. Possibilitando, com isto, (4) a melhoria de sua auto-estima.
Auto-Estima
A auto-estima advém de como o indivíduo vê a si próprio, bem como a forma em
que ele cumpre suas regras pessoais, percebe-se e interpreta a realização de suas regras
e valores de forma positiva, mantendo-se motivado. Porém, o não cumprimento das próprias
regras e valores e da auto-avaliação negativa que acompanha essa falta de cumprimento,
tais como a culpa e a vergonha, conduzem assim à baixa auto-estima (Álvarez, 1996/2002).
A baixa auto-estima pode estar relacionada a certos fenômenos negativos, como
depressão e suicídio. Características cognitivas semelhantes têm sido encontradas
entre os indivíduos que apresentam comportamentos suicidas. Dentre elas podem ser
citados: a desesperança apontando para uma rigidez de pensamento; o pensamento
dicotômico que reforça essa rigidez e a carência de um repertório para a solução de
problemas (Keller & Weriang, 2005). „
Staats e Staats (1966/1973) compreendem que os processos internos não-
observáveis, como as atitudes e sentimentos do indivíduo em relação a ele próprio,
Auto-Regras
O comportamento verbal que o indivíduo emite relacionado a si mesmo, bem
como as concepções que tem do seu comportamento social são denominados de
auto-íinguagem . Tomados a partir das suas interações com o meio, esses
comportamentos possibilitam a construção de regras. Com isto, os indivíduos passam
a ser governados por regras que aplicam às situações específicas da vida, de acordo
com a forma que os mesmos as interpretam (Staats & Staats, 1966/1973).
Na perspectiva skinneriana, regras são estímulos específicadores de contingências
e exercem controle como estímulos discriminativos, fazendo parte de um conjunto de
contingências de reforço. Por esta definição, instruções, avisos, conselhos, ordens, leis seriam
exemplos particulares de classes de regras, uma vez que todos podem descrever contingências
e funcionar como estímulos discriminativos (Santos, Paracampo & Albuquerque, 2004).
As classes de regras se diferem umas das outras, pois, as regras “(...) estão
mediadas pelas pessoas; outra, por depender da disposição do ambiente e, pelo efeito
aumentativo que a regra pode ter sobre o caráter reforçador ou punitivo dos estímulos.",
"(...) é importante destacar que o sujeito pode por ter como objeto seu próprio
comportamento verbal” (Álvarez, 1996/2002, p.71).
As regras segundo as quais as pessoas vivem são denominadas de auto-
regras. Assim, elas podem ser definidas como uma espécie de livro de regras com o
qual as pessoas guiam e avaliam a elas mesmas e aos demais, aplicando-as ao julgar
seu próprio comportamento e o dos outros. Reconhecer e reconciliar as regras pessoais
possibilitam ao indivíduo passar a compreender suas situações de vida e assim alcançar
o seu autocontrole (Wessler & Hankin-Wessler, 1996/2002).
O autocontrole é construído também pelo meio social, que tem suas razões
para ensinar os indivíduos a mudarem o comportamento: tornando-o menos adversativo
e, possivelmente assim, mais reforçador a outrem (Skinner, 1974/2003).
M étodo
Participante
Sofhia, 37 anos à época deste estudo, 2a filha de uma prole de três irmãs, divorciada,
autônoma, ensino superior incompleto, classe média, com diagnóstico de depressão
profunda. Farmacoterapia: Sertralina, 50 mg. 2 vezes ao dia e Rivotril, 2 mg, 1 vez à noite.
Queixas principais: depressão, lapsos de memória, angústia e instabilidade emocional.
História Clínica - Está apresentada de forma agrupada por períodos de 5 anos.
0 a 5 anos: parto difícil; balbucios; pesadelos. 5 a 10 anos; molestada por parentes
próximos (tios e padrinho). 10 a 15 anos: excelente aluna; socialmente retraída; passa
a trabalhar, mesmo contrariando os pais. 15 a 20 anos: primeira experiência sexual;
èngravída-se e casa-se; separação e retorno à casa dos pais. 20 a 25 anos,■morte dos
pais; responsável pela filha de um ano e meio e tutora da irmã caçula. 25 a 30 anos:
sente-se só; sua irmã casa-se e muda-se para outra cidade. 30 a 35 anos: conhece o
atual namorado; passa por constantes problemas profissionais. 35 a 37 anos: sente-se
feia; receio de envelhecer. Aos 36 anos crise: insônia por uma semana; fortes dores na
região lombar; respostas agressivas.
Procedimento
Foram realizadas duas sessões semanais, tendo cada uma delas duração de
50 minutos. O procedimento consistiu em cinco fases: Linha de Bàse, Tratamento I,
Avaliação Pós-Férías, Tratamento II e Avaliação Final.
A Unha de Base compreendeu a fase inicial, sendo realizada da 1a à 4a sessão.
Nela foi construído o rapporí^ objetivando enfatizar a empatia na relação terapêutica.
Posteriormente, foram feitos a entrevista inicial com a participante, visando à coleta de
dados acerca das queixas que apresentava; o contrato terapêutico; assim como a explicação
dos procedimentos dentro da abordagem; e objetivo das técnicas e do trabalho cooperativo.
Nessa fase, foram aplicados instrumentos para facilitar a obtenção de informações
sobre a participante. O Questionário de História Vital de Lazarus (1975/1980): visando
pesquisar sua história de vida. Adiante, deu-se a aplicação dos testes: Inventário de
Depressão de Beck (BDI), aplicado na 4a sessão para avaliar a depressão, com escores
classificados em mínimo (0 a 11), leve (12 a 19), moderado (20 a 35), grave (36 a 63);
Inventário da Ansiedade de Beck (BAI), com o objetivo de avaliara intensidade dos estados
ansiosos, sendo os escores classificados em mínimo (0 a 10), leve (11 a 19), moderado
(20 a 30), grave (31 a 63); Escala de Desesperança de Beck (BHS), que avalia a intensidade
de desesperança, com escores classificados em mínimo (0 a 4), leve (5 a 8), moderado
(9 a 13), e grave (14 a 20); e a Escala de Ideação Suicida de Beck (BSI), para investigar
idéias e tentativas suicidas (Cunha, 2001). Também foi utilizado o Inventário de Habilidades
Sociais (IHS), aplicado na 5a sessão com o objetivo de investigar as habilidades presentes
no comportamento. A interpretação dos escores do IHS é baseada em termos de percentis
e leva-se em consideração o escore total, os escores fatoriais e os valores de cada item.
O escore total avalia, de forma geral, a existência de recursos e défícitsem habilidades no
repertório do respondente. Os valores situados acima do percentil 50 indicam escores
mais altos em habilidades sociais; abaixo desse percentil há indicação de haver uma
baixa habilidade social e o valor situado no percentil 50 indica uma posição mediana (Del
Prette & Del Prette, 2001/2003). Os escores fatoriais devem ser interpretados considerando
os comportamentos, assim como as habilidades do indivíduo em diferentes contextos
sociais. O escore fatorial F1 indica habilidades de enfrenta mento com risco; F2, habilidades
para lidar com demandas de expressão de afeto; F3 avalia habilidades de conversação e
desenvoltura social; F4 aponta habilidades de auto-exposição a desconhecidos e ao
novo; F5 investiga habilidades de autocontrole da agressividade (Del Prette & Del Prette,
2001/2003). Ainda foram utilizados os Diários de Registro de Comportamentos, com
objetivo de possibilitar o acompanhamento dos comportamentos da participante e a
automonitoração destes por parte dela (Bueno & Britto, 2003).
A 2a fase compreendeu o Tratamento I, abrangendo da 5a à 24* sessão. Nessa
etapa, foram aplicadas as técnicas da TCC. De acordo com Skinner (1953/2000), a Análise
Funcional consiste na formulação científica da interação entre o indivíduo e seu ambiente,
Fgse. Procedimento
Unha de Identificação dos comportamentos-problema, por meio da
Base observação, entrevista inicial, contrato terapêutico, Questionário de
Xaà 4a História Vital, aplicação de testes psicológicos: BDI, BAI, BHS, BSI e
sessão IHS; e Diários de Registro de Comportamentos.
Tratamento II
23a à 39 a Intervenção nas Auto-Regras; Diários de Registros Diversos sobre
sessão Comportamentos-Problema específicos à participante; Análise
Funcional; Reestruturação Cognitiva; Treino em Habilidades Sociais;
Cartas Não-Enviadas.
Avaliação
Fjngl Replicação dos testes: BDI, BAI, BHS, BSI e IHS; mensuração dos
4-Qa á 42a resultados; resumo do processo terapêutico.
sessão
Resultados
Os dados apresentados neste,,trabalho foram coletados desde a 1a sessão da
Linha de Base, Tratamento l,. Avaliação Pós-Férias, Tratamento II e Avaliação Final,
favorecendo o planejamento de uma intervenção estruturada e eficaz, necessária para
construir um novo repertório comportamental assertivo na participante.
Figura 1 - Resultados comparativos da Bateria de Beck nas fases: Linha de Base, Tratamento I,
Avaliação Pós-Férias e Avaliaçáo Final.
Técnica do Espelho
Sofhia apresentava um rigor muito grande ao analisar seu corpo. Em função
disso, a insatisfação era um ato contínuo. Então, na 9a sessão houve a decisão de levá-
la a se observar no espelho para identificar do que gostava ou não nela. Os resultados
favoreceram a definição de estratégias de intervenção. Logo que a tarefa foi proposta,
Sofhia verbalizou:
Fragmentos da 9a Sessão
C - Eu não gosto do que vejo quando me olho.
T - Do que especificamente você não gosta quando se olha?
C - Eu me acho feia: estou envelhecendo, meu corpo já não é mais o mesmo; meu
cabelo, minha pele... nossa, me sinto péssima!
T - Fale-me melhor da forma como é se sentir péssima?
C - Eu não gosto do que eu vejo. Caso pudesse e tivesse condições, faria uma plástica
completa; só manteria a minha alma.
Após esta verbalização, definiu-se que ela realizaria a Técnica do Espelho,
como tarefa de casa.
A participante precisou de 7 dias para conseguir realizar a tarefa Técnica do
Espelho, não apresentando a mesma na 10a sessão, mas sim na 11a sessão. O
resultado está demonstrado no fragmento, a seguir:
Figura 2 - Resultados comparativos do IHS nas fases: Unha de Base, Tratamento l, Avaliação Pós-
Férias e Avaliação Final
Discussão
Como salientam Staats e Staats (1966/1973), toda ordem comportamental,
adaptada ou não, tem função. Pesquisar a função do comportamento é tarefa básica ao
terapeuta, necessária para a ocorrência de uma intervenção adequada ao
desenvolvimento de novas habilidades sociais, isto é, ao autocontrole de seus repertórios
de comportamento (SKinner, 1974/2003).
Assim, neste estudo, a Análise Funcional foi um instrumento bastante utilizado
com a finalidade de melhor compreensão das relações entre os antecedentes e os
conseqüentes às respostas apresentadas por Sofhia. O uso sistemático deste
instrumento parece ter favorecido o autoconhecimento da participante sobre as
contingências sociais nas quais tinha que apresentar uma resposta. E, muitas vezes,
essas contingências eram interpretadas pela participante como muito aversivas,
conseqüenciando-lhe comportamentos inadequados, como demonstra a Tabela 2.
Porém, a observação, descrição e análise de muitas situações sociais que experimentara
sugerem ter possibilitado a construção de novos repertórios mais assertivos, isto porque,
conforme Skinner (1953, 2000), a Análise Funcionai consiste na formulação científica da
interação entre o indivíduo e seu ambiente. E essa form ulação favorece o
autoconhecimento e posterior autocontrole dos repertórios de comportamentos.
Os resultados, ora evidenciados por este estudo, salientam o perfeccionismo
de Sofhia, que se tornou mais freqüente após a morte de seus pais, quando passou a
ser responsável por si, sua irmã e sua filha. Destaca, também, o medo, igualmente
muito freqüente, sentido e verbalizado por Sofhia: “Tenho medo de fracassar e minha
filha se decepcionar comigo, de não dar conta de educá-la, estudá-la, sustentá-la. Não
posso errar com ela" (Sofhia, Setembro de 2005). Esses dados parecem sugerir que o
perfeccionismo advém de um medo exacerbado de errar e a busca da perfeição. Medos
evocados por auto-regras muito rígidas sobre a impossibilidade que lhe dava quanto ao
errar e a busca pelo perfeccionismo, como demonstra Tabela 5. O procedimento
favorecido pela Tabela 5 parece ter contribuído com a percepção mais flexível da
participante a respeito de suas auto-regras disfuncionais, sendo as mesmas
substituídas por auto-regras mais funcionais e de assertividade, favorecendo o
autocontrole, como demonstra a Tabela 6. Confirmando, como sugerem Wessler e
Hankin-Wessler (1996/2002), as auto-regras servem para guiar e avaliar a si mesma e
aos demais, aplicando-as ao julgar de seu próprio comportamento e o dos outros.
A busca pelo perfeccionismo e a dificuldade de aceitação com a sua própria
auto-imagem confirmaram uma baixa auto-estima de Sofhia, observada quando da
Técnica do Espelho, ao demonstrar dificuldade de aceitação do seu próprio corpo: “Eu
Referências
190 Carolína de Fátima F. d< Souza, W andla M . M aciel e Jo io dos Santos Carme
(2000), seguindo critérios médicos e toporáficos, considera que a ansiedade, pode ser
normal ou “patológica”. Para avaliá-la, sugere os seguintes aspectos: intensidade,
duração, freqüência e interferência, sendo este último, o mais importante para os
analistas do comportamento, uma vez que diz respeito ao processo de fuga e de esquiva
que implica a não realização de atividades diárias e, por conseguinte, a diminuição da
variabilidade comportamental e de respostas de contracontrole.
De acordo com o DSM IV-R (1994) dentre os transtornos de ansiedade está a
fobia social, definida como um medo marcante e persistente de uma ou mais situações
sociais ou de desempenho, no qual a pessoa está exposta a desconhecidos ou a
avaliação destes e teme demonstrar ansiedade ou agir de modo hum ilhante e
embaraçante. Kaplan e Sadock (1998) explicam que a pessoa reconhece que o medo é
excessivo e irracional, sendo assim, as situações sociais e de desempenho temidas
são evitadas ou suportadas com intensa ansiedade ou sofrimento.
Enquanto o modelo médico descreve os sintomas e sinais deste transtorno, o
modelo analítico-comportamental visa compreender as contingências que o mantêm,
conforme destacado na apresentação desta monografia.
Falcone (2001) aponta que estes indivíduos podem ser classificados de acordo
com dois subtipos, o generalizado e o circunscrito. Os indivíduos que apresentam quadro
de fobia social generalizada costumam temer tanto as situações públicas envolvendo
desempenho (falar em público, escrever, comer ou beber na presença de outros, usar
banheiros públicos, etc), quanto as situações de interação social (iniciar ou manter
conversações, participar de pequenos grupos, comparecer a um encontro, ir à festa, etc). A
autora destaca que os do tipo circunscrito, podem temer apenas uma situação pública de
desempenho, como também algumas situações (mas não a maioria) de interação social.
Segundo Savoia (2001), os sintomas dos transtornos ansiosos incluem
componentes cognitivos autonômicos e comportamentais. Viscott (1982) explica que o
corpo, de forma autônoma, reage liberando na corrente sanguínea poderosos hormônios
estimulantes. Estes hormônios fazem o coração bater mais forte e rapidamente e também
dirigem um fluxo sanguíneo para onde ele é mais necessário. Sofrendo influência do sistema
nervoso simpático, a maioria dos sintomas físicos da ansiedade que independem da
vontade do indivíduo, caracterizam-se por: aumento da pressão arterial, dores estomacais,
sudorese excessiva, dilatação das pupilas, palidez ou rubor da pele e taquicardia.
No que se refere aos componentes comportamentais, Savoia (2001) afirma
que, de acordo com a história de vida das pessoas, podemos identificar os fatores que
predispõem o desenvolvimento da ansiedade social patológica. Este autor ressalta que
uma das possibilidades de a fobia social se desenvolver, é a conseqüência de uma ou
mais experiências de condicionamento aversrvo.
Em relação às influências destas experiências desagradáveis, Millenson (1967), ao
descrever ansiedade, nos esclarece sobre alguns efeitos e conseqüências. Para tanto, baseia-
se no modelo de supressão condicionada, que foi testado em laboratório, através de
experimentos com ratos conduzidos por Estes e Skinner (1959/1972). Inicialmente condidonou-
se a resposta de pressão à barra (RPB), em uma câmara de condicionamento operante. O
estímulo reforçador utilizado era a gota d água. Depois de estabelecida a RPB, liberava-se
uma corrente elétrica no assoalho engradado da câmara. O choque elétrico funcionava como
punição e ocorria independentemente do comportamento do sujeito. A RPB foi diminuindo
irregularmente de freqüência, para depois'se adaptar ao choque, retomando sua freqüência
inicial. Um estímulo sonoro foi, então, introduzido alguns segundos antes da liberação do
choque. O som, inicialmente estímulo neutro, passou a sinalizar a ocasião de liberação do
192 Caralina dt Fitlm a F. de Souza, W «ndU M . Maciel e Joào dos Sarrtoi Carmo
Para Baum (1999), Reflexos são traços com porta menta is mais simples, pois
através de um estímulo este se reflete em uma resposta. Para o autor é como se fosse
uma seleção natural, logo que estão diretamente ligados à manutenção da saúde e à
promoção da sobrevivência.
Segundo Skinner (2000), o reflexo tomou-se um instrumento mais importante
quando se demonstrou que novas relações entre estímulos e resposta podem ser
estabelecidas durante a vida do indivíduo. O reflexo pode ocorrer de maneira inata
(reflexo incondicionado) ou aprendida (reflexo condicionado). v
Para Baum (1999) os reflexos são produtos da seleção natural e parecem estar
envolvidos na manutenção da saúde, na promoção da sobrevivência e da reprodução.
Skinner (1974) explica que um tipo de relação entre o comportamento e a estimulação
é chamado Reflexo Incondicionado, tais como a respiração, a digestão, a circulação,
etc. Neste sentido este último afirma que a sobrevivência pode ser dita contingente em
relação a certos tipos de comportamento.
Em relação ao Reflexo Condicionado ou Condicionamento respondente, Baum
(1999) esclarece que sua forma mais antiga, derivada da idéia de Pavlov, fala em
respostas eliciadas por estímulos, sugerindo uma relação causal de um para um.
Pavlov estudou uma série de reflexos, mas sua pesquisa mais conhecida centrou-se
em respostas (de cães) ao alimento e demonstrou que quando um estímulo, tal como
um som ou uma luz, precede com regularidade o ato de dar comida, o comportamento
na presença desse estímulo se altera (BAUM, 1999).
Apesar da importância dos comportamentos reflexos, Skinner (1995) se utiliza
da Lei do Efeito de Thomdike para explicar que o comportamento se estabelece quando
seguido de certas conseqüências. Diz-se que o comportamento é fortalecido por suas
conseqüências e por tal razão as próprias conseqüências são chamadas reforços.
Para Skinner (1995) o termo aprendizagem pode ser mantido proveitosamente no seu
sentido tradicional para descrever a predisposição de respostas em uma situação
complexa. Considera também que a aprendizagem ocorre a partir de três níveis de
determinação, o Filogenétco, o Ontogenético e a Cultura.
O Filogenético é responsável pela sobrevivência da espécie e envolve
comportamentos instintivos e incondicionados. Baum (1999) explica que o princípio
básico da filogênese é que, dentro de uma população de indivíduos que variam em
genótipo, os tipos que têm maior sucesso tendem a se tornar mais freqüentes ou
permanecer como tal, caracterizando o processo de seleção pelas conseqüências.
O nível Ontogenético relaciona-se à história pessoal de cada indivíduo. Silvares
e Meyer (2000) explicam que esta história de vida é responsável pelo desenvolvimento
do comportamento e pela função de antecedente e conseqüente de estím ulos
específicos. No caso da fobia social, Sidman (1995) esclarece que o sujeito, sem
conhecimento das experiências particulares que levaram às ações fóbicas, sente apenas
o desconforto interno e a perturbação que as multidões evocam.
No que se refere ao nível Ontogenético, é inegável a grande influência que a
cultura exerceu, exerce ou exercerá no repertório comporiamenta! de cada um. Para
Skinner (2000), o efeito de um ambiente social influencia o comportamento dos indivíduos
de acordo com os grupos os quais estes estão inseridos, pois a partir das afinidades
existentes entre os elementos deste grupo, irá existir o caráter comum (momento em
que o grupo tem a mesma tendência afravés de seus costumes).
Tem-se então a concepção de Cultura proposta por Skinner (1974), como um
ambiente social que representa um conjunto de contingências de reforços mantidos
194 C^rotína de Fátima f. de Souz^, WancíU M . M a tie l t João dos Sanigs Carmo
A im portância da Resifíêncía frente às adversidades
O termo Resiliência vem deum a longa trajetória que se originou nas ciências
exatas, mais precisamente na Física e Èhgénharia. Yunes e Szymanski (2001) explicam
que foi Thomas Young, em 1807, qúem introduziu o -ternio, considerando tensão e
compressão na noção de módulo dé elasticidade. Young buscava relacionar a aplicação
de força em um corpo e a deformação resultante (YUNES e SZYMANSKI, 2001). Dito de
outra maneira, Yunes (2003) explica que a resiliência refere-se à capacidade de um
material absorver energia sem sofrer deformação plástica ou permanente.
Yunes e Szymanski (2001) explicam que no Brasil, a palavra Resiliência e seus
significados ainda permanecem desconhecidos para a grande maioria das pessoas,
enquanto que na América do Norte e na Europa o termo é muito utilizado para referendar e
direcionar programas políticos de ação social e educacional. Este anonimato pode ser
explicado pelo fato de que só no final da década de 1970, o conceito de Resiliência passou
a ser estudado pela Psicologia e pela Psiquiatria (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006).
Inicialmente os estudos em Psicologia levantaram a seguinte questão: por que
sob as mesmas condições adversas em que se espera vulnerabilidade, alguns indivíduos
manifestam invulnerabilidade e competência? (TROMBETA e GUZZO, 2002). Kotliarenco
et al (1997) explicam que nas primeiras publicações alusivas a resiliência, tendeu-se a
utilizar o conceito como equivalente à invulnerabilidade, mas posteriormente foram
estabelecidas claras distinções entre ambos. Rutter (1993) explica que o termo
invulnerabilidade remete à idéia de resistência absoluta ao estresse, de uma característica
imutável, como se fôssemos intocáveis e sem limites para suportar o sofrimento. No
entanto, postular a resiliência como conceito no lugar da “invulnerabilidade", se deve ao
fato de esta implicar que o indivíduo é afetado pelo estresse ou pela adversidade, e é
capaz de superá-lo e sair fortalecido (GROTBERG, 2005).
Para Blum (1997) o questionamento correto seria: por que alguns indivíduos
criados em circunstâncias adversas, parecem viver saudável e produtivamente, enquanto
outros parecem nunca superar as adversidades?
Assis, Pesce e Avanci (2006) frisam que devido as complexidades de qualquer
estudo voltados para os aspectos emocionais do ser humano, a resiliência deve ser
sempre relativizada e entendida dentro de um conjunto amplo de fatores intrínsecos e
extrínsecos ao indivíduo.
Uma outra concepção de resiliência cuja validade já foi refutada, diz respeito a
uma capacidade individual de adaptação bem-sucedida em um ambiente “desajustado"
(ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006). Para as autoras existem algumas incertezas que
permeiam esta concepção.
A primeira refere-se ao foco no indivíduo que acaba por desconsiderar a interação
entre aquilo que é subjetivo e aquilo que o meio externo oferece como suporte ao
sujeito. A segunda refere-se ao cunho subjetivo do que pode ser considerado adaptação
bem sucedida e ambiente desajustado, uma vez que as variações culturais determinam
diferentes interpretações. Por último, ao considerar como não-resiliente o indivídjuo mal
sucedido em determinado aspecto, desconsidera-se outras esferas da vida em que ele.
se mostra plenamente capaz de superar dificuldades (ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006).
Dessa forma, observa-se que o conceito de re siliê n cia vem sofrendo
modificações durante décadas. Atualmente, dentre os mate aceitos, destaca-se o de
Blum (1997) que a considera como a capacidade de recuperar-se e manter um
comportamento adaptado após um dano. Antunes (2003) acrescenta que resiliência diz
respeito não só .a capacidade de resistir às adversidades, mas de utilizá-las em seus
R eferências
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Operações Estabelecedoras
Operações Estabelecedoras (OE) são operações ambientais que, por definição,
possuem dois principais efeitos, denominados de:
(a) efeito estabelecedor do reforço e (b) efeito evocativo. O efeito estabelecedor do
reforço é caracterizado pela alteração momentânea da efetividade reforçadora de algum
objeto, evento ou estímulo e o efeito evocativo, por sua vez, é caracterizado pela alteração
momentânea da freqüência de um tipo de comportamento que tem sido reforçado por
aquele objeto, evento ou estímulo.
O termo OE foi, inicialmente, introduzido na literatura analítico-com porta mental por Keller
e Schoenfeld (1950/1974) para tratar das variáveis motiviacionais. Segundo os autores,
os analistas do comportamento deveriam estudar motivação como variável ambiental
de forma a evitar o conceito de impulso. Na proposta de Michael (1993), o conceito de
motivação como OE enfatiza os efeitos estabelecedor do reforço e evocativo do
comportamento, a partir de uma definição mais completa:
1. Efeito estabelecedor do reforço - altera a efetividade reforçadora (ou punitiva) de um
outro evento (privação de alimento altera a efetividade de alimento como um reforçador);
2.Efeito evocativo - o qual pode ser melhor entendido como três efeitos distintos:
a,)Efeito direto da OE sobre o comportamento (efeito evocativo/supressivo) - evoca ou
suprime imediatamente comportamentos que tenham sido seguidos pelo evento cuja
efetividade fora alterada pelo efeito 1;
tyEfeito da OE sobre o SD (efeito evocativo/supressivo) - um aumento na efetividade
evocativa/supressiva de todo SD para o comportamento que tenha como conseqüência
o evento reforçador ou punidor cuja efetividade fora alterada pelo efeito 1;
c^Efeito da OE sobre reforçamento/punição condicionados - um aumento/diminuição na
freqüência de comportamentos que tenham como conseqüência reforçadores/punidores
condicionados cuja efetividade depende do reforçador/punidor sob o efeito 1.
As operações estabelecedoras são classificadas como: (1) Operações
Estabelecedoras Incondicionadas - definidas pela natureza filogenética do evento
reforçador, ou seja, essas operações alteram a efetividade de reforçadores
Conclusão
Em resumo, analisar diferentes estímulos com funções de OE parece ser de
grande relevância para a análise funcional do comportamento. O conceito de OE permite
ao terapeuta analítíco-comportamental incluir em sua análise um elemento-chave, que
ao ser identificado, pode auxiliar a elaboração de intervenções eficazes. Enfim, alterar
operações estabelecedoras também é papel do terapeuta, pois sua alteração funciona
como um ponto chave para intervenções clínicas que visam melhorar o repertório
comportamental do cliente e, conseqüentemente, a sua qualidade de vida.
Referências
' O preseftte trabaího é parte da dissertação apresentada pela primeira autora ao Programa cte Mestrado em Análise do Comportamento <ta
Universidade Esiadoal de Londrina (U EL).
/
Sobrt Comportamento r CognifSo
válidas, desde que se refiram às relações funcionais verificadas para cada um dos
domínios disciplinares considerados: o biológico e o psicológico" (Staríing, 2001, p.270).
No que tange a essas relações funcionais, a Análise do Comportamento considera,
ainda, que tanto uma mesma variável pode afetar várias respostas, quanto uma única
ocorrência de um comportamento pode ser considerada função de mais de uma variável,
peste modo, o comportamento é concebido como produto de uma multiplicidade de variáveis
filogenéticas, ontogenéticas e culturais. Tais variáveis no ambiente imediato do organismo
© em sua história ambiental, possuindo um status físico, e podendo, desta forma, serem
acessadas dentro dos moldes científicos (Skinner, 1953/1998).
A Análise Funcional dessas variáveis das quais um comportamento é função
poderia ser efetuada de acordo com duas dimensões: microanálise e macroanálise. A
microanálise consiste no estudo das contingências responsáveis pela manutenção de
um determinado comportamento-problema, analisando-se apenas os estímulos
antecedentes, as respostas e seus conseqüentes. A macroanálise supõe um
levantamento amplo dos vários problemas e da história de aprendizagem de um
jndivíduo, de modo a possibilitar o esclarecimento da relação funcional entre as várias
áreas de seu funcionamento {Meyer, 1997).
Em qualquer uma destas dimensões, no entanto, a Análise Funcionai poderia
trazer benefícios a diversos contextos e populações: a) ao permitir a especificação das
condições que precedem o comportamento (operações estabelecedoras ou estímulos
antecedentes), de modo a viabilizar uma intervenção nas mesmas (Iwata Kahng, Wallace,
& Lindberg, 2000); b) ou identificar as conseqüências (punitivas ou reforçadoras) que se
seguem a determinado comportamento, e que devem ser alteradas ao se desejar
modificá-lo {Iwata, et al, 2000). Além disso, medidas preventivas também poderiam ser
mais bem implementadas, uma vez que se entenda sob quais condições determinados
comportamentos provavelmente ocorrem, e que se trabalhe no sentido de diminuir sua
probabilidade de emissão futura (Iwata et a l 2000).
Assim, no que se refere ao contexto odontológico, considera-se que uma Análise
Funcional da interação entre o odontopediatra e a criança poderia auxiliar na solução
das inúmeras dificuldades enfrentadas por estes profissionais. A área da Psicologia
que realiza estudos para a solução de problemas enfrentados na Odontologia, em
especial na Odontopediatria, é denominada Odontologia Comporta mental. Constitui
um campo interdisciplinar com um corpo de conhecimentos útil à avaliação e à
manipulação do repertório de comportamentos de pacientes, em especial de crianças,
expostos a tratamentos odontológicos (Moraes & Pessoti, 1985).
Uma das principais dificuldades enfrentadas por odontopediatras, na qual a
Odontologia Comportamental é chamada a intervir, díz respeito a crianças que não
permitem a realização do procedimento odontológico. Estas crianças são denominadas
na literatura sob o rótulo de não-colaboradoras ou opositoras, por apresentarem
comportamentos, como, por exemplo: recusar-se a abrir a boca, levantar-se da cadeira
odontológica, chorar, gritar, executar movimentos com o corpo ou com a cabeça e, ainda,
chutar ou morder o odontopediatra.
As crianças opositoras correspondem a cerca de 25% da população infantil que
freqüenta os consultórios odontológicos (Allen, Stanley & McPherson, 1990). Algumas
conseqüências importantes do comportamento opositor da criança são o aumento na
duração do tratamento (consultas mais longas ou mais idas ao consultório) e, muitas
vezes, a não execução do procedimento odontológico da forma mais adequada, o que pode
piorar sua condição bucal (Ailen et al.). Para o profissional, o manejo de crianças opositoras
M étodo
Participaram da pesquisa dois profissionais graduados em Odontologia (OP1 e
OP2) que cursavam Especialização em Odontopediatria da Universidade Estadual de
Londrina e que formavam uma dupla durante seu estágio. Ambos estavam graduados há
um ano no início da pesquisa. Houve, ainâa, a participação de quatro crianças (C1, C2, C3
e C4) de ambos os sexos, com idades entre um ano e seis meses a seis anos. Essas
crianças foram retiradas de uma amostra mais abrangente de 20 crianças de outro estudo
Resultados e Discussão
Apresenta-se a seguir, nas Figuras 1, 2, 3 e 4 a descrição dos comportamentos
observados durante as interações entre os odontopediatras (OP1, do sexo msculoino e
OP2, do sexo feminino) e as quatro crianças mais opositoras (C1; C2; C3 e C4). Em seguida
a cada transcrição da interação, comentam-se tanto os comportamentos das crianças
como dos profissionais, com base nos pressupostos da Análise do Comportamento.
i C l , d e it ad a na c a d e ir a , i n c l i n a o c o r p o par a o lado d a m ã e .
stas pa r a o den ti sta
e c h o r a m in g a n d o c o m o s d e d o s d a m ã o na b o c a , e n q u a n t o o o l h a .
P e r m a n e c e p a r c i a l m e n t e de
i O P I diz: “ P e g a a g i r a f i n h a” ( se re f e r in d o ao s u g a d o r ) . O P I dá o s u g a d o r pa r a a m ã e
C l p e g a na m ã o o s u g a d o r tj ue a m ã e o f e r e c e , pára de c h o r a m i n g a r , m a s c o n i i n u a c o m o c o r p o
i n c l i n a d o pa r a a m ã e , de c o s t a s para o d e n t i st a .
O P 1 c o l o c a a luz no ro st o da c r i a n ç a e diz- “ O l h a o s o lz i n h o pr a n ó s v e r m o s o d e n t i n h o ” !
I O P J a rr um a n o v a m e n t e a s iu v a s . OPi diz à c r i a n ç a : “ O I h a , a g i r a f i n h a e s t á t i r a n d o
toda a g u a da b o c a " ,
O P I m e x e o s d e d o s s o b re a b a rr ig a de C l ( c ó c e g a s ) e c o m a s m ã o s a c o m o d a o c o r p o
de C 1, c o r r e t a m e n t e
n a c a d e ir a , l e v a n t a n d o - o até q u e a c a b e ç a e s t i v e s s e v o l t a d a pa ra o d e n l i s t a .
I C l , c o m o s u g a d o r na b o c a , p e rm it e q u e o d e n t i s t a e a m ã e a c o l o q u e m d e b a r r i g a
pra e i m a T
^ O P I di z: “ O l h a , q u e b o m ! ” .
C l o l h a pa r a a m ã e . M ã e p e r c e b e q u e a fi lh a est á m o l h a d a n a s c a l ç a s e p e r g u n t a : “ F i l h a , v o c ê
f e z x i x i n a s c a l ç a s ? ” C l c o m o s u g a d o r na b o c a , faz si n a l n e g a t i v o c o m a c a b e ç a , o l h a n d o pa ra
a mãe.
^ O P I o l h a p a r a a c r i a n ç a e di z: “ A h h ! ”
A m ã e d a c r i a n ç a f a z c a r i n h o na c a b e ç a e diz: “ F o i p o r q u e eu p e d i, à q u e l a h o r a , p r a v o c ê
s e g u r a r u m p o u q u i n h o , n é ? ” “ V o c ê ta va a p e r t a d a . .. ” .
i O P I o b s e r v a a i n t e r a ç ã o da m ã e e d a f ilh a, d e p o i s t o c a n o n a r i z d a c r i a n ç a l e v e m e n t e e di z:
e i x a o ti o ve r se
te m d e n t i n h o no v o V ” .
I
1 a f a s t a o s u g a d o r da b o c a e a ab re.
O P I e x a m i n a a b o c a d a c r i a n ç a , e n q u a n t o diz : “O l h a q u e b o n i t a ! ” .
Com base nos dados da Figura 1, que apresenta a interçâo entre 0P1 e C1, é
possível observar que, inicialmente, no trecho transcrito, a criança C1 se mostrava
opositora em relação ao procedimento odontológico. A criança apresentou várias
tentativas de fuga e de esquiva, exemplificadas pelos choramingos, mão na boca e
principalmente por sentar-se do costas para o profissional. Verificou-se, porém, que no
decorrer da interação, o odontopediatra utilizou estratégias adequadas de manejo da
criança, tais como a fantasia, o contato físico, os elogios, ou a descrição de suas ações,
de modo a garantir uma gradativa cooperação. Além disso, o odontopediatra também foi
bastante apropriado ao utilizar a mãe da criança como colaboradora na saúde bucal de
seu filho. 0P1 não puniu, em nenhum momento as respostas apresentadas pela criança,
nem mesmo quando a mãe o praticou, em decorrência de C1 ter urinado nas calças.
^ C 2 o J h a para a e s c o v a .
X O P 1 p e ga na m ã o da c r i a n ç a . O P 1 liga a e s c o v a e passa na pa r fe s u p e r i o r da m ã o de C 2 .
O P ) diz:
" O h , dá c o s q u i n h a ! ”
^ C 2 o lh a pa r a o d e n t is t a.
I OP1 se vira cm d i r e ç ã o á m e s a de i n s t ru m e n t o s , em p o s i ç ã o op o s t a
c r ia n ç a para c o l o c a r f l ú o r
na e s c o v a .
C 2 ol ha para c i m a (para a lu z ) .
^ OP1 d i / : “A bre a b o c a ” .
C 2 abre a bo ca ,
OP 1 re al iz a a e s c o v a ç ã o .
2 a p o n t a pa ra o s u g a d o r pr es o na c a d e i ra od ont o ló g ic a , no c a n t o s u p e r i o r e s q u e r d o ,
1
r e a ç ã o aà c ri a n ç a .
C 2 o lh a pa ra a de n t is t a au x il ia r.
^ O P 1 diz: “ T e m um b ie b in h o Já no fundo , v a m o s t i r a r ? ” .
^ O P l se vira para c o l o c a r f l ú o r na e s c o v a .
C2 fe ch a a bo ca.
^ O P ! toca n* b o t a da c r ia n ç a .
C 2 abr e a b o c a e fecha o s o J h o s , a p e rt an do ^ o s
O M c*cov* por 5 segundos c diz: "isso." Tira a escova da boca da criança para colocar
flfcoi novamente.
; d en ti sta a u x i l i a r
^ O P l sc vira
colocar
paru
o
colocar
sugador.
flúor na tscovs,
C 2 fe c h a a b o c a .
PI escova ú dcnlc da criança poT S segundos t diz: “ I s s o ' ’1 O T 1 lira a escovft da boca da
CI13E
ian ç a p a i a c c lo c ar
f 1q o r .
I C 2 olha para o dentista, virando os olhos para vê-lo, sem m e x e r a cabeça, enquanto
iJ a boca p a£ rr a
ia d er n- t‘i; s*t‘ a auxiliar colocar o sugador.
C 2 p e r m i t e a e s c o v a ç ã o , e n q u a n t o o l h a pa r a a d e n t i s t a au x il ia r .
O P l di z : “ O l h a o b i c h o pu la n d o , ó ! ”
C 2 v ir a r a p i d a m e n t e a c a b e ç a pa r a o l a d o e s q u e r d o , n a t e n ta t iv a dc e s c a p a r da i m o b i l i z a ç ã o , a o
m e s m o t e m p o que f e c h a os o l h o s .
O P I vu li a ;í c a b e ç a de C 2 par a a p o s i ç ã o c o rr e t a n a c a d e i r a , i m o b i l i z a n d o a c a b e ç a d a c r i a n ç a ,
p r e n d e n d o o q u e i x o des ta, e m a n t e n d o su a b o c a ab e rt a .
^ C2 p e r m i t e o p r o c e d i m e n t o .
^ O P 1 diz : “ O lh a o s b i c h i n h o s p u l a n d o ai, ó ! ”
C 2 b a l a n ç a ra p id a m e n te a c a b e ç a c p e g a o s u g a d o r o f e r e c i d o pela de n t is t a a u x i l i a r , l e v a n d o - o a
b o t íi . C 2 p e r m a n e c e c o m o r o s t o v i r a d o , o l h o s b a i x o s e b o c a Fechada.
C 2 a b r e a b o c a , m a s e m s e g u i d a v ir a a c a b e ç a pa ra um la do e para o o u t r o c o m o s o lhos
fechados. „
O P l g u a r d a o m a t e r ia l .
O P l a r r u m a os in s t r u m e n t o s p o r 12 s e g u n d o s re s t a n t e s .
^ C 2 p r e s t a a t e n ç ã o nas o r i e n t a ç õ e s d a de n t i st a a u x i l i a r : “ t e m o s q u e c u i d a r d o s d e n t i n h o s ,
s e n ã o faz m a i s do d ó i,
a b re a b o c a g r a n d e q u a n d o o ti o p e d i r , m e u a m o r ”
C 3 está cora o s u g a d o r na b o c a .
O P 2 , c o m g a z e na i n ã o , di z: “A g o r a c r e m e pa r a f aze r a b ar b a c o m o o p a p a i ! " .
C 3 rei ir;* o s u g a d o r da b o c a .
^ C 3 p e r n n t e , p o r é m c o m e ç a a c h o ra r .
^ O P 2 ri e c o m e n t a : “ C h o r a n d o c o m o um b e b e z i n h o ! N o s s a ! ” .
C 3 a u m e n t a a i n t e n s id a d e do c h o r o .
O P 2 v o lt a - s e par a a m e s a e di z: “V a m o s tira r a b a rb a , e n t ã o ! ” .
^ C 3 o l h a par a O PZ.
^ O P 2 d iz : “ V a m o s tirar a b a r b a ! T i r a r a b a r b a ! ” E n q u a n t o p e g a outr a g ã z e e en ro la
n o d e do .
^ C3 c o m e ç a a ch or ar .
^ O P 2 c o n t i n u a o p r o c e d i m e n t o , d i z : “ P r o n t o ! A g o r a v i t a m i n a de l i m ã o ! ”
C 3 dá u n grifo c u r to .
O P 2 diz: “ Is s o ! ! V i t a m i n a de l i m ã o * ”
C 3 grita n o v a m e n t e .
O P 2 di z : “ A b r e pa ra a t i a ! ! A b r e p a r a a t i a ! ! ” ( p a s s a n d o os d e d o s c o m g a z e ruis de n t es da
criança),
C 3 vo l t a a c h o ra r .
C 3 o lh a e di m in u i a i n t e n s i d a d e do c h o r o .
O P 2 diz: “V a r a o s m o s t r a r a l í n g u a ! ”
C 3 abre a b o c a e p e r m i t e o p r o c e d i m e n t o .
I O P 2 l i m p a a l í n g u a da c r i a n ç a e d iz : “ I s s o ! A b a r b a ! A b a r b a ! ” O P 2 di z: “A c a b o u ! D à um
b Ti ji nh o n a g i r a f a ! ! ”
( fa z b e i j o c o m a b o c a c o m o m o d e l o ) .
2
O P d i z : “ G o s t e i m uito da gíraíinha!” , cnloca a mão na m ã o da crian ça e faz ca rin h o
jií girafa di zendo:
^M uitoda girafinJtair’
ir C 3 f a * s i n a l po s i t iv o c o m a c a b e ç a .
O P 2 ú i z : “ E a g o r a ? ? 0 <juc Icm q u e f a z e r ?
C3 olh a para o O P 2 .
O P 2 d i z : Mc s l m í C 4 1 "
C 4 grita sito.
^ C 4 d k m i n u i a i n l e o s i d a d c do cho ro.
Conclusões
Com base nos relatos apresentados acima, parece que ambos odontopediatra
manejaram com êxito muitas das respostas opositoras das crianças atendidas na
profilaxia mediante o emprego de estratégias adequadas. Essas respostas dos
profissionais parecem ter contribuído para o estabelecimento de um ambiente agradável
para as crianças, do qual não foi preciso esquivar-se com choros, gritos ou outros
comportamentos opositores. Ao compreenderem, confortarem ou elogiarem as crianças,
essas ações dos odontopediatras podem ter contribuído para aumentar a probabilidade
de respostas cooperativas com o procedimento odontológíco (Fioravante etal., no prelo).
Isso pôde ser observado, a partir dos fragmentos de interações estabelecidas
entre OP1 e C1 e entre OP2 e 03, nos atendiemntos de profilaxia. Durante o atendimento
de C1 e C3, OP1 e OP2 empregaram uma série de estratégias adequadas de manejo
das respostas infantis, tais como a fantasia, o contato físico ou o conforto emocional, os
elogios ou a descrição de suas ações de modo a contribuírem para evocar respostas
cooperativas por parte das crianças. Parece que ser elogiada ou acariciada pode ter
reforçado positivamente respostas cooperativas das crianças, aumentando a
probabilidade de tais respostas em situações análogas futuras. Da mesma forma,
quando as crianças cooperaram com o procedimento odontológíco, seu padrão pareceu
contribuir para reforçar positivamente as respostas adequadas dos profissionais,
aumentando sua probabilidade de emissão durante este tipo de procedimento
odontológíco. Além disso, é provável que respostas opositoras das crianças durante a
profilaxia possam ter sofrido extinção, j'que em geral tendem a não ser conseqüenciadas
com a interrupção do procedimento (Fioravante e tal., no prelo; Skinner, 1953/1998).
Além dessas conseqüências, foi possível também identificar alguns dos
antecedentes que poderiam estar associados à emissão das respostas opositoras
das crianças na profilaxia. Conforme demonstrado acima, as respostas opositoras
infantis pareceram não se correlacionar com as respostas inadequadas dos
profissionais, já que os profissionais praticamente não apresentaram respostas
inadequadas durante a profilaxia. Deste modo, foi importante levantar hipóteses sobre
a existência de outras variáveis que poderiam estar contribuindo para a emissão destas
respostas, de modo a viabilizar uma intervenção junto às mesmas.
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5Badiaret em Psicologia pela Universidade da Amazônia e Enfermeira pela Universidade Federal do Pará.
3Doutor em Educação, Professor do Curso de Psicologia da Universidade da Amazônia.
* Neurologista Professor do Cureo de Medicina da Universidade Federal do Paré
Epídemíoiogia
Etiologia
Segundo Nitrine (2000) estudos sugerem fortemente que as mulheres sejam
mais afetadas do que os homens, mas, como a expectativa de vida das mulheres é peio
menos 5 anos maior que dos homens essa correlação ainda precisa ser
estatisticamente ajustada e melhor esclarecida.
Um dos fatores de grande relevância é o nivel de educação, podendo assim se
considerar um fator de proteção para a DA, pois, quanto maior o número de anos de
estudo formal menor seria o risco de desenvolver Alzheimer (Mayeux & Chun, 1995). Essa
possibilidade deve ser analisada com reserva a partir da constatação de que pessoas
com mais escolaridade administram suas limitações cognitivas com maior facilidade
que analfabetos ou com baixo nível de escolaridade. É importante dizer que a plasticidade
neuronal também pode estar implicada nesse processo (Mayeux & Chun, 1995).
Segundo Nitrine (2000), lesões cranioencefálicas, baixos níveis de instrução e
síndrome de Down em um parente de primeiro grau também se associam a maior risco
de doença de Alzheimer, o que reforça a observação anterior. Outros possíveis fatores
de risco tem sido estudados, porém, com pouco resultado prático como: exposição ou
ingestão de substâncias tóxicas como o álcool, chumbo e solventes orgânicos;
medicamentos diversos; trauma craniano; exposição à radiação; estilo de vida; estresse;
infecções; doenças imunológicas, e câncer.
Diagnóstico
O diagnóstico de DA tem como fundamentação a presença de demência em que o
distúrbio de memória é geralmente a manifestação inicial, e na exclusão de outras hipóteses
Patologia
Além dos critérios clínicos para diagnóstico da DA é importante, também,
evidências histopatológicas obtidas por uma biópsia ou autópsia.
O grau de atrofia do córtex cerebral varia. O peso de cérebros de indivíduos com
DA pode variar em 850 e 1.250g à autópsia (Mayeux & Chun, 1997), ao exame
Tratamento
No tratamento da DA, segundo Nitrini (2000), primeiramente foram usados os
vasodilatadores, com base na crença equivocada de que a insuficiência vascular
cerebral fosse responsável pela “demência senil". Logo depois, surgiram os
nootrópicos, drogas estas que foram testadas em animais e exibiram algum efeito
positivo sobre o aprendizado ou a memória, cujo mecanismo de ação é geralmente
desconhecido ou apenas presumido (Nitrini, 2000)
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/
Sobre Comportamento e Cognição 233
Apesar dessas colocações, o autor expõe princípios éticos que justificariam a
prevenção: a) virtude antecipatória - "capacidade de intervir com a finalidade de evitar
um dano”, “um sim à vida.”; b) universalidade - a prevenção permite um direito igualitário
em relação à saúde, tendo um potencial maior nesse aspecto do que os serviços
diagnósticos e curativos. No caso da vacinação coletiva, permite uma indiferenciação
entre classes sociais no acesso à saúde; c) princípio de atenuação de conflitos - os
profissionais da saúde muitas vezes lucram e recebem reconhecimento através do
sofrimento e da doença, ao buscar resolvê-los. Quando práticas preventivas são
realizadas, reduz-se essa percepção acerca do valor do trabalho desses profissionais.
Além de Winett e cols. (1991), outros autores fundamentados pela filosofia
behaviorísta radical também apresentam comentários importantes sobre o lema da
prevenção . Zamberlan, Freitas, Fukahori e Novais (2003) afirmam que a prevenção
consiste na análise e contextualização dos processos de mudança pelo qual um
organismo passa e promoção de repertórios comportamentais adequados para interagir
com o ambiente. Para August, Egan, Realmuto e Hektner (2003), a prevenção depende
de fatores individuais. As práticas preventivas devem levar em conta tais fatores para
que haja acréscimo de ganhos aos programas preventivos. Já Inesta (1990) afirma que,
ao realizar prevenção, o psicólogo clínico deve levar o cliente a:
1.saber o que deve fazer;
2.saber como fazer;
3.saber porque tem que fazer;
4.saber como reconhecer a oportunidade de fazer algo ou não;
õ.saber fazer outras coisas em situações de risco ou fazer o mesmo de outra maneira.
Tais ações envolvem, de uma perspectiva analítico-com portam ental,
discriminação de estímulos, treinos comportamentais e operações estabelecedoras.
Além disso, Inesta (1990) afirma que o “saber” não se refere à disponibilidade das
informações em si mesma, pois estas devem estar vinculadas a uma prática de
reconhecimento das condições ambientais, ao exercício dos comportamentos
implicados e do contato com os efeitos dessas ações, pois, caso o contrário, não há
impacto no comportamento futuro de um indivíduo.
Hovell e cols. (1991) acrescentam que os modelos cognitivos de prevenção
desviam a atenção dos determinantes mais relevantes para a modificação de
comportamentos. Esses determinantes estariam baseados na análise funcional do
comportamento, sendo extremamente importante a investigação de contingências, de
esquemas de reforçamento e de controle de estímulos. Em acréscimo, Ingberman
(2001) propõe: “devem se criar contingências para que o saber torne-se um poder
fazer”.
Percebe-se, portanto, que não há uma definição única para prevenção. Como
são poucos os indivíduos que se envolvem com a prevenção, pode-se supor necessária
uma definição mais coesa, que contemple aspectos que favoreçam a realização de
práticas preventivas.
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Introdução
Segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde, no mundo, há mais
de um bilhão de adultos com excesso de peso. Destes, pelo menos 300 milhões são
obesos. Um novo estudo dos Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças (CDC)
indica que as mortes ocasionadas pela má alimentação e a falta de exercício aumentaram
33% durante a última década, e, cedo, poderiam superar o tabagismo como a principal
causa de morte prevenível. (OPAS, 2003)
A obesidade e o excesso de peso são fatores de risco relevantes para o
surgimento de doenças crônicas, como diabete tipo 2, cardiopatias, hipertensão,
acidentes vasculares cerebrais e certos tipos de câncer. (OPAS, 2003)
No Brasil, a obesidade já é considerada um problema de saúde pública. Têm-
se mais obesos do que desnutridos em nosso país. (Heller, 2004)
Estima-se que de 2% a 8% dos gastos em tratamentos de saúde em vários
países do mundo sejam destinados à obesidade. No Brasil, Monteiro e cols. realizaram
um estudo comparando 3 avaliações transversais de base populacional nos anos de
1975, 1989 e 1996. Estes autores descreveram um aumento na velocidade de
crescimento da obesidade no nosso país.
A obesidade é vista atualmente como um dos problemas de saúde pública mais
preocupantes, devido ao seu crescente aumento e as graves conseqüências que pode
acarretar. Trata-se de um fenômeno multifatorial que envolve componentes genéticos,
comportamentais, psicológicos, sociais, metabólicos e endócrinos. (Bjòmtorp, 2003).
O tratamento cirúrgico da obesidade (cirurgia bariátrica) é um recurso utilizado
nos casos da obesidade mórbida e/ou comorbidades associadas.
De acordo com a Portaria N° 628 de 26 de abril de 2001, do Ministério da Saúde, e da
Resolução N° 1.766/05, de 11 de julho de 2005, do Conselho Federal de Medicina os pacientes
que forem se submeter à cirurgia bariátrica devem dispor de acompanhamento psicológico.
São candidatos para o tratamento cirúrgico (cirurgia bariátrica) os pacientes
com IMC maior que 40 Kg/m2ou com IMC maior que 35 Kg/m2 associado a comorbidades
P rotocolo de psicologia
1. Pré-operatório
No pré-operatório, o paciente precisa ser informado das mudanças significativas
pelas quais ele atravessará. O acompanhamento psicológico fornece condições para
que o paciente perceba a amplitude do processo que passará e o ajuda a tomar decisões
mais conscientes e de acordo com seu caso particular. A cirurgia bariátrica deve ser
contra-indicada em qualquer caso em que o paciente não esteja plenamente de acordo
com a cirurgia ou não seja capaz de apreciar as mudanças que ocorrerão após a operação,
quer por transtornos psiquiátricos de eixo I ou por incapacidade cognitiva (Segai, 2002)
Será seguido o procedimento recomendado pelo Ministério da Saúde, com o
preenchimento de prontuário e protocolo de triagem da mesma.
Na avaliação para preparo psicológico, transtornos do humor, do comportamento
alimentar e outros relevantes para o tratamento cirúrgico da obesidade devem ser
abordados, orientados e tratados, se presentes. Para tai, fazemos uso dos seguintes
procedimentos;
1.1 Avaliação psicológica
Composta por:
•ENTREVISTA
•USO DOS INVENTÁRIOS (devidamente validados no Brasil):
- Escala Beck de Depressão
- Escala Beck de Ansiedade
- Escala de Compulsão Alimentar Periódica (BES - Binge Eating Scale), para a verificação
do Transtorno do Comer Compulsivo.
Conclusão
A função deste artigo é fomentar a discussão acerca do acompanhamento
psicológico em programas de cirurgia bariátrica, haja vista a escassez de literatura
sobre o tema, mais especificamente, baseada na Análise do Comportamento.
Em virtude disto, embora ainda não tenha havido pesquisa para avaliar o impacto
do protocolo, é possível relatar algumas contribuições que a proposta trouxe para o programa.
O protocolo facilitou a operacionalização da assistência psicológica, organizando o perfil
dos usuários do serviço, os encaminhamentos e a evolução destes dentro do programa,
além de servir de instrumento para promover a interdisciplinaridade e controle social.
Os pacientes tiveram participação ativa na construção do protocolo, sugerindo
a seqüência de atividades e fornecendo feedback acerca da condução do processo. O
uso de protocolos em serviços de saúde pública favorece a construção de serviços
usuário-centrado, uma vez que diversos atores (gestores, profissionais de saúde e
usuários) contribuem para a condução do processo saúde-doença.
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No passado, o câncer era visto pela população leiga como uma enfermidade
associada à dor, sofrimento e certeza de morte. Hoje em dia, apesar do que é feito e do
sofrimento real envolvido, muitos ainda,associam o câncer com a morte (Gazzi, Kajika &
Rodrigues, 1991; Arán, Zahar, Delgado, Viegas, Cabral & Souza, 1996). Dados históricos
apresentados pela literatura observam que o câncer sempre foi associado a uma doença
de caráter sujo, contagioso e sem cura, em que a sociedade discrim inava seus
portadores (SanfAnna, 2000).
Receber um diagnóstico de câncer é uma notícia inicialmente devastadora e
um evento de impacto importante na vida da pessoa, pois o paciente com câncer e sua
família são acometidos por momentos carregados de emoções - sofrimento, dor, raiva,
angústia e ansiedade - desde o momento de seu diagnóstico e durante o seu tratamento.
Além de estigmatizante, essa doença acarreta prejuízos nas habilidades funcionais e
vocacionais e incerteza quanto ao futuro em decorrência do tratamento, que, geralmente,
é longo (Bergamasco & Ângelo, 2001; Scott, 2004).
Além das preocupações acima descritas, o câncer de mama produz efeitos
negativos na auto-estíma e auto-imagem da paciente, pois o foco de atenção é um
órgão repleto de simbolismo para a mulher - feminilidade, sexualidade e maternidade.
Assim, sendo, o anúncio desse diagnóstico seguido pelos tratamentos, pode ocasionar
abalos significativos na vida pessoal e profissional da paciente.
O câncer de mama é a segunda neoplasia maligna com maior inddênda entre as
mulheres brasileiras, assim como uma causa relevante de mortes por câncer no Brasil.
Afirma-se que é considerada uma patologia que está entre os maiores problemas de saúde
pública associado ao câncer feminino no país (INCA, 2007). Se detectado em estágios iniciais,
o câncer de mama é passível de tratamento e cura, aumentando o tempo de vida das mulheres.
254 A na Claudia Paranoni Sampaio, Vera Lúcia Adam í Raposo do Amaral e Marta Luita M arinho
que o câncer de mama é a maior causa de óbitos por câncer na população feminina
brasileira. Estima-se para esse ano que 50.000 mulheres serão diagnosticadas com câncer
de mama, vindo a óbito em tomo de 10.000 delas. Segundo informações do ÍNCA (2007),
um dos fatores que dificultam o tratamento é o estágio avançado em que a doença é
descoberta. Cerca de 50% dos casos são diagnosticados em estágios avançados, gerando
tratamentos muitas vezes mais mutilantes, o que causa maior sofrimento à mulher.
Há que se observar que os meios de comunicação têm sido o veículo usado para
divulgar campanhas de prevenção ao câncer de mama de maneira objetiva, conscientizando
a população sobre a importância da prevenção e de um diagnóstico precoce. As associações
de apoio enfatizam que o diagnóstico pode ser simples e rápido e que deve começar dentro
de casa, com o auto-exame das mamas. O auto-exame devo ser feito mensalmente após
a menstruação e consiste na inspeção e palpação das mamas com o intuito de verificar a
existência de nódulos, dor e alterações na pele (Sasaki, 2000). Outras formas de diagnosticar
o câncer de mama podem ser feitas através do Exame Clínico das Mamas (ECM), da
mamografia, da ultra-sonografia e da biópsia aspirativa.
O ECM é realizado por um médico ou enfermeira treinados e é possível detectar
nódulos de até um centímetro de tamanho, se superficial. A mamografia é atualmente o
exame de imagem radiográfica que consegue diagnosticar com precisão e precocemente
as malignidades, revelando neoplasias com poucos milímetros e ainda não palpáveis. A
ultra-sonografia é um exame que complementa a mamografia, auxiliando na caracterização
dos tumores. E, finalmente, como descreveu Sasaki (2000), a biópsia aspirativa é indicada
nos casos de lesões palpáveis e é realizada por meio de um instrumento composto por
uma cânula, mola e agulha, que uma vez acionado determina a retirada do fragmento da
lesão, que será posteriormente submetido ao exame histopatológico.
Para Sasaki (2000), esses exames fornecem dados suficientes para avaliar o
grau de estadiamento clínico do câncer, ou seja, a extensão anatômica da doença e dos
órgãos acometidos, e a opção entre os tratamentos radical ou conservador. Dentre as
cirurgias conservadoras, encontram-se a tumorectomia e a quadrantectomia. A primeira
consiste na remoção somente do tumor, já a segunda é a extirpação de um quadrante
da glândula mamária onde está localizado o tumor e sua pele circundante. Esses
procedimentos somente são usados para excluir nódulos de pequeno diâmetro.
Para tumores com mais de três centímetros de diâmetro é recomendado a
mastectomia radical modificada, onde a mama é totalm ente extirpada e há um
esvaziamento radical, no entanto, preserva-se o músculo peitoral. No caso de existir
infiltração extensa da musculatura peitoral (em casos de câncer localmente avançados)
é utilizada a cirurgia de mastectomia radical, a qual além da retirada total da mama, são
extraídos os músculos peitorais e há um esvaziamento axilar radical (Sasaki, 2000).
Seguido a essas cirurgias mutiladoras, a mulher pode optar pela cirurgia de reconstrução
mamária, durante ou após a cirurgia para retirada do tumor. De acordo com Camargo,
Marx e Sasaki (2000) a reconstrução mamária tem por objetivo restabelecer a imagem
corporal e melhorar a auto-imagem, além de restaurar uma parte do corpo da mulher.
Depois de passado esse processo cirúrgico, há probabilidade de recidiva e/ou
metástase. Com o intuito de minimizaras chances dessas ocorrências, a mulher é submetida
a outros tratamentos. A radioterapia é um tratamento no qual utilizam-se radiações para
destruir um tumor ou minimizar as chances de recorrência na área da cirurgia por destruir
eventuais células residuais e interromper seu crescimento. Na quimioterapia utilizam-se
medicamentos,para combater o câncer. Ào cair na corrente sangüínea, eles são levados a
todas partes do corpo, destruindo as células doentes que estão formando o tumor e
256 Ana CUudía Paranrini Sampaio, Vera Lúcia Adami Raposo do Amaral t M aria Lufca Marinho
O psicólogo como agente de mudança comportamental no contexto da saúde é
responsável por lidar com os comportamentos que mantêm a doença e promovam a saúde
(Amaral, 1999; Miyazaki & Amaral, 2001). De acordo com Amaral (2001) o foco de análise são
as variáveis de controle imediatas, que ao serem alteradas podem alterar o comportamento.
A curto prazo, este tipo de manejo comportamental pode auxiliar na intervenção de outros
profissionais e facilitar o trabalho interdisciplinar como um todo. Já a médio e longo prazo, a
Psicologia deve contribuir para que o paciente desenvolva padrões de comportamentos de
adesão ao tratamento, prevenção de problemas de saúde e comportamentos de risco. Desta
forma, a intervenção psicológica pode atuar na prevenção, tratamento e reabilitação (Guimarães,
1999; Miyazaki & Amaral, 2001), na coesão da equipe interdisciplinar (Angerami-Camon,
1995) e nas orientações às famílias dos pacientes (Laloni, 2001; Venâncio, 2004).
Essa área se distingue da Psicologia Clinica por compreender o comportamento
no contexto da saúde e doença (Kerbauy, 2001) e por descrever especificamente o papel
dos fatores psicológicos na regulação do estado de saúde (Miyazaki & Amaral, 2001;
Starling, 2001). Dentro do contexto hospitalar, a Psicologia da Saúde ramifica-se entre os
diversos setores de atuação médica. A oncologia recorre aos psicólogos para auxiliá-los
no momento de fornecer o diagnóstico do câncer para o paciente e sua família (Carvalho,
2002). Nasce então, uma ramificação da Psicologia da Saúde: a Psiconcologia.
Segundo Gimenes (2003), “a Psiconcologia começa a surgir como área
sistematizada de conhecimento a partir do momento em que a comunidade científica passa
a reconhecer que tanto o aparecimento quanto a manutenção e a remissão do câncer são
intermediados por uma série de fatores cuja natureza extrapola condições apenas de natureza
biomédica" (p. 42). De acordo com a autora, a Psiconcologia é considerada como uma
interface entre a Psicologia e a Oncologia, pois os conhecimentos adquiridos foram gerados
nessas duas áreas. Desta forma, a Psiconcologia dá assistência na prevenção, no tratamento,
na reabilitação e na fase terminal junto aos pacientes oncológicos, sua família e os profissionais
de Saúde envolvidos. Essa área engloba também a pesquisa e o estudo das variáveis
psicológicas e sociais relevantes para a compreensão da incidência, da recuperação e do
tempo de sobrevida após o diagnóstico do câncer. E, finalmente, a Psiconcologia pode contribuir
na organização dos serviços de oncologia que visem ao atendimento integral do padente
(físico e psicológico), dando suporte à formação e o aprimoramento dos profissionais de
Saúde envolvidos nas diferentes etapas do tratamento (Gimenes, 2003).
Com os avanços na área médica, aumenta-se o tempo de sobrevida de um padente
oncológico sendo importante um acompanhamento psicológico que garanta qualidade de
vida aos enfermos. O diagnóstico e o tratamento do câncer têm efeitos importantes na vida
do paciente, o que gera sentimentos de raiva, tristeza e insegurança e também reestruturação
das atividades diárias (Costa Jr, 2001). Cabe ao psicólogo a função de auxiliar o padente
oncológico a organizar suas atividades, verificar quando as reações emodonais interferem
no tratamento e auxiliar a equipe no manejo comportamental do enfermo, fadlitando o
seguimento das orientações médicas, ou seja, obtêm-se uma participação mais ativa e
positiva do padente durante o tratamento, resultando numa melhor adesão, evitando assim,
o abandono do mesmo (Carvalho, 1996).
Pesquisas (Spiegel, 1990; Leal, 1993) mostram que as mulheres com câncer de
mama submetidas ao acompanhamento psicológico obtêm ganhos significativos, tais como:
melhora no estado geral de saúde; melhora na qualidade de vida; melhor tolerância aos
efeitos adversos da terapêutica oncológica (cirurgia, quimio/radioterapia) e melhor
comunicação entre paciente, família e ecfúipe. Dessa forma, observa-se que as intervenções
psicológicas podem ter conseqüências positivas tanto no aspecto emocional - depressão
e ansiedade - quanto nos sintomas físicos - náuseas, vômitos e fadiga (Spiegel, 1990).
258 Ana Claudia ParJtiziiii Sampaio, Vera Lúcia Adamt Raposo do Amaral c M aria Luiia M arinho
a própria sexualidade. Sabe-se que a mama é o símbolo de feminilidade, contribuindo com
a sedução e o erotismo em um relacionamento sexual e que sua ausência pode contribuir
com o aparecimento de dificuldades nesta esfera da vida. Apesar de não ser um estudo
extremamente centrado nesse aspecto (mesmo sendo esse o objetivo), os autores
encontram dados interessantes. Os resultados se assemelham aos dos estudos já citados
em relação aos aspectos gerais da vida da paciente, e, no que concerne à sexualidade, eles
verificaram que a reciprocidade da relação sexual depende da mulher, ou seja, se ela toma-
se mais receptiva, o companheiro tende a aproximar-se mais dela e o relacionamento
toma-se melhor. Esses resultados corroboram com os encontrados por Rossi e Santos
(2003) em que o relacionamento sexual dependeu muito de como era antes da doença.
Aquelas com bom relacionamento com o parceiro continuaram da mesma forma, mas
aquelas que o relacionamento não era bom, relataram piora.
Sabe-se que a mastectomia causa prejuízos de ordem física, emocional e social.
De ordem física porque pode ocorrer infecção após a cirurgia e há limitação nos movimentos
dos braços e ombros e, conseqüentemente, limitações nas atividades diárias da vida
ncrmaf. No campo social, causa dificuldades, pois as mulheres sentem vergonha e
escondem a mutilação (Camargo, Marx & Sasaki, 2000). Com o objetivo de compreender o
significado da mastectomia para mulheres no pós-operatório por câncer de mama, Ferreira,
Franco e Queiroz (2002) entrevistaram 24 mulheres mastectomizadas e encontraram
características em comum. São elas: medo da morte e da metástase; mutilação associada
a modificação do corpo; tristeza, estranhez da amputação; medo de ficar incapacitada das
atividades profissionais; preocupação com a queda do cabelo decorrente do tratamento
quimioterápíco; demonstraram interesse em fazer reconstrução mamária; uso de disfarces
no peito ao freqüentarem lugares públicos; dificuldades com o parceiro por sentirem-se
envergonhadas; e relatam mudanças de comportamentos, no estilo de vida e na forma de
pensamento como uma maneira de enfrentar o pós-operatório e a convivência com a doença.
Arán e colaboradores (1996) entrevistaram 52 mulheres com câncer de mama e,
ao analisarem o conteúdo das entrevistas, verificaram que muitas delas (provavelmente
por falta de informações), associaram o câncer a uma doença incurável e demoravam em
procurar atendimento por medo da confirmação do diagnóstico. Essa pesquisa sinaliza a
importância da divulgação e campanhas informativas do governo federai a respeito de
informações, pois diversas participantes desse estudo relataram demora em procurar
atendimento médico, pois não sentiam dores, mesmo percebendo a presença de nódulos
na mama. Esses dados corroboram com o estudo de Neme e Kato (2003).
Para averiguar as crenças e os temores diante do tratamento em mulheres
com diagnóstico positivo de câncer de mama, na fase inicial do tratamento, Neme e
Kato (2003) entrevistaram 20 mulheres, entre 30 e 65 anos de idade, com câncer d e .
mama - com níveis de estadiamento entre l a III, sem metástase. Ao conduzir uma
entrevista semí-estruturada, as pesquisadoras observaram que a maioria das mulheres
vêem o câncer de forma muito negativa, mesmo quando diante de prognósticos positivos
e possibilidade de cura. Desse modo, as mulheres relataram temores quanto à
quimioterapia e radioterapia, indicando a falta de informação à respeito dos tratamentos
(e isso poderia explicar os temores). Esse estudo gerou informações além dos objetivos
ora propostos. Através dos relatos das participantes, os autores extraíram variáveis que
ajudam a lidar melhor com a doença e os tratamentos, são elas: a vontade de viver, a fé
divina, a presença e o apoio dos familiares, amigos e equipe de saúde.
Com o objetivo de verificar o papel da fé no enfrentamento do câncer e nos
tratamentos oncológicos, Horta, Neme, Capote e Gibran (2003) entrevistaram 24 pacientes
com câncer, entre 35 è 65 anos e constataram que após o diagnóstico da doença, 87,5%
260 A na Claudia Paranimi Sampaio, V ira Lúda Adami Raposo do Amaral e M a tia Luiia Marinho
negativas, principalmente entre as mulheres dos estágios mais avançados da doença,
porém, esse estudo de Tomich e Helgeson (2004) apresenta um problema metodológico,
pois somente são questionados benefícios e não malefícios, o que induz que sejam
encontrados dados que apontam mais benefícios.
Na literatura, também encontram-se pesquisas que avaliam a efetividade de
programas de intervenção com a população portadora de câncer de mama. Helgeson,
Cohen, Schulz e Yasko (2001) verificaram o efeito de diferentes intervenções em grupo na
qualidade de vida das participantes e se os efeitos conseguidos a curto prazo, seriam
mantidos através dos anos de seguimento. Para isso, participarem da pesquisa, 312
mulheres com diagnóstico de câncer de mama nos Estágios I e II, que foram submetidas
à cirurgia e a quimioterapia como formas de tratamento. Essas mulheres tinham idades
variando de 27 a 75 anos e foram recrutadas após o diagnóstico. A amostra foi dividida da
seguinte maneira: Com 79 participantes, o Grupo 1 participou de oito encontros, com
duração de 45 minutos cada e em cada encontro, um profissional diferente da área de
saúde dava explicações a respeito do câncer de mama, tratamentos e medidas saudáveis
relacionadas à recuperação. O Grupo 2, com 74 participantes, se encontram por oito
vezes, com duração de 60 minutos cada vez. Nessa condição, as discussões geraram
em torno da expressão (positiva e negativa) de sentimentos e a auto-exposição era
incentivada por um facilitador. Os encontros do Grupo 3 correspondiam à somatória de
atividades dos Grupos 1 e 2. Oitenta e duas mulheres participaram desse grupo. O Grupo
4, considerado controle por não ser submetido a nenhuma intervenção, contou a
participação de 77 mulheres. Todos os grupos eram compostos por 8 a 12 mulheres.
Vários foram os instrumentos utilizados por Helgeson, Cohen, Schulz e Yasko
(2001) para avaliação da eficácia das intervenções, bem como estas foram avaliadas em
diferentes períodos de tempo. Contrariando a hipótese dos autores (de que o Grupo 3
ofereceria melhores benefícios às mulheres) a intervenção ao qual foi submetido o Grupo 1
foi a que apresentou melhores resultados. As participantes desse grupo apresentaram
maiores níveis de vitalidade, níveis menores de dores no corpo e maiores níveis de
funcionamento quando comparadas ao grupo controle (Grupo 4). Esse fato pode ser devido
às informações recebidas nos encontros e que as instrumentam nas atividades do dia-a-
dia (demonstrando ser uma aprendizagem ao longo do tempo). Não foram detectados
benefícios ao longo do tempo para o Grupo 2, talvez porque a expressão emocional necessite
de um tempo maior para gerar benefícios e talvez porque somente a expressão emocional
não seja forte o suficiente para afetar o funcionamento físico e psicológico. Como o Grupo 1
apresentou os melhores resultados e o Grupo 2 também apresentou bons resultados, os
pesquisadores hipotetizam que a intervenção proposta no Grupo 3 não tenha gerado bons
resultados porque uma intervenção pode ter anulado os efeitos positivos da outra.
Considerações Finais
Como pode ser visto, a partir dos dados apresentados acima, várias são as
tentativas para compreender o universo das mulheres mastectomizadas. Estudos
procuram identificar inform ações im portantes acerca das vivê n cia s por elas
experimentadas. Por outro lado, nenhum deles clarifica os pontos em que há dificuldades
específicas, pois apontam somente aspectos gerais após a mastectomia. Não foram
encontradas pesquisas que descrevessem funcionalmente as variáveis envolvidas.
Alguns estudos levantam hipóteses da relação entre os eventos ambientais, a doença
e os comportamentos decorrentes, más essa relação não é demonstrada.
Dessa forma, sugere-se que sejam realizados estudos analítico-comportamentais
dirigidos a analisar funcionalmente comportamentos públicos e privados de mulheres
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264 Ana Cliudia Paramini Sainpaio, Vera Lúcia Adatni Raposo do Amaral t M aria Lu na Marinho
Capítulo 23
Estratégias utilizadas por
odontopediatras no manejo do
comportamento infantil1
O lív ia Ju ste n B ran d e n b u rg *
Ju lia n a A ccioly Q av azzo n i*
M a ria Luíza M a r in h o 3
Universidade Estadual de Londrina
M étodo
Participaram no presente estudo oito odontopedíatras, do sexo feminino, da
cidade de Londrina-PR. Duas das dentistas estavam cursando especialização em
odontopediatria. O tempo de atuação como odontopedíatras de cada uma das outras
seis dentistas era: menos de um ano, um ano e meio, três anos, seis anos, dez anos e
26 anos. A clientela dessas profissionais variava de 0 a 18 anos.
Os dados foram coletados através de um roteiro de entrevista estruturada,
elaborado para este estudo, com as seguintes perguntas: descreva qual é o padrão do
seu procedimento com crianças na primeira consulta; quais estratégias você utiliza
quando a criança não colabora?; quais estratégias você utiliza para a criança colaborar?;
quais são suas maiores dificuldades com as crianças?; o que você acharia importante
pedir como auxílio para a área da Psicologia?
As dentistas foram contatadas por indicação por pessoas conhecidas ou
pacientes. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas e analisadas.
Resultados e Discussão
Estratégias adotadas na primeira consulta
Ao receber uma criança para a primeira consulta, a maioria das dentistas relataram
que se comportam de forma a facilitar a adaptação da criança ao novo ambiente. Algumas
delas utilizaram o temno “condicionamento", próprio da odontopediatria, para se referir ao
processo de habituação ou adaptação da criança ao ambiente e às pessoas do contexto
odontológico. Para que isso aconteça, foram descritas diferentes estratégias: na sala de
espera, são disponibilizados brinquedos para as crianças; ao entrar no consultório, as
dentistas apresentam a sala, os móveis, os aparelhos e cada instrumento. Uma dentista se
diferenciou relatando que lê livros, junto com a criança, relacionados ao dentista. Nessa
primeira consulta, disseram não realizar procedimentos odontológicos, havendo exceção
nos casos de emergência. Uma delas relatou que apenas conta os dentes com a criança.
Além desse processo de condicionamento, metade das dentistas disse que se
preocupa com a criança em primeiro lugar, dando toda a atenção para ela, buscando criar
um vínculo. Elas conversam, uma delas disse que se abaixa para falar de igual para igual,
perguntam sobre a vida familiar e escolar da criança, para depois perguntar sobre assuntos
relacionados aos dentes (pasta utilizada, escovação). Apareceram também respostas
sobre acolhimento, tratamento com carinho, demonstração de amizade e segurança. Por
último, todas as dentistas permitem a presença dos pais na sala de atendimento, com os
quais algumas fazem uma anamnese inicial sobre diversos aspectos da criança.
O padrão de atendimento relatado pelas dentistas tem respaldo na literatura
da área de odontopediatria. Grinberg e Schor (1984) descrevem como deve ser o primeiro
encontro da criança com o dentista, incluindo indicações de não se realizar tratamento
odontológico no primeiro atendimento, respeitar o tempo da criança, apresentar todos
os instrumentos, deixar a criança manipulá-los e usar linguagem acessível.
270 O íivw lusten Braniletiburfl t Jutiana Actàoly Cavazzoni e M ana Luíza M arinho
necessário mostrar firmeza na voz e aumentar um pouco o volume para controlar o
comportamento da criança. Greenbaum, Turner, Cook e Melamed (1990) encontraram que
o controle pela voz foi efetivo no controle de comportamentos da criança. Houve diferença
significativa na redução da não-colaboração entre as crianças do grupo que receberam
comandos em voz elevada de forma contingente, em comparação com as crianças do
grupo em que os dentistas falavam sem alterar o volume da voz. Trata-se de uma medida
punitiva e apesar de os autores terem encontrado que não houve alteração nas reações
emocionais das crianças, eles alertam para os efeitos em longo prazo. Apesar de a punição
ter um efeito imediato (na pesquisa de Greenbaum et al„ 1990, houve eliminação rápida
das respostas de não-colaboração após intervenção em voz alta), sabe-se que em longo
prazo a aprendizagem nem sempre ocorre e existem outras desvantagens no uso de
métodos aversivos. Por exemplo, pode ocorrer um processo de condicionamento e o estímulo
neutro “dentista" passar a eliciar respostas de medo e ansiedade.
Por último, as dentistas relataram ameaçar a criança de pedir aos pais que se
retirem da sala caso elas não colaborem. Quando os pais se retiram, o combinado é retomarem
somente no momento em que a criança passar a colaborar com a dentista. Se a presença
dos pais na sala de atendimento afeta ou não o comportamento da criança, trata-se de uma
questão ainda não conclusiva. Uma pesquisa empírica demonstrou que as crianças atendidas
com pais na sala da consulta apresentaram muito mais comportamentos não-cotaborativos
do que as crianças que foram atendidas sem a presença dos pais (Marzo, CampaneUa,
Albani & Galtusi, 2003). Na pesquisa de Carr et al. (1999) muitos dentistas disseram acreditar
que a ausência dos pais permite o estabelecimento da relação entre o dentista e a criança
sem interferências. No entanto, a demanda social tem influenciado essa opinião dos dentistas
e 84% dos participantes daquela pesquisa disseram permitir a presença dos pais.
Dificuldades: lidar com os pais do paciente
Quando interrogadas sobre as dificuldades encontradas com as crianças, a
resposta mais comum entre as dentistas (seis em oito) foi justamente em relação aos
pais. O controle do comportamento das crianças só foi citado como dificuldade por duas
dentistas. Isoladas, também apareceram outras dificuldades como quando a criança
sente dor, sente medo, quando vem encaminhada de outro dentista, realização correta
da técnica, entendimento das diferentes fases da criança.
As dentistas explicaram que os pais geram as maiores dificuldades, porque
consideram que estes são responsáveis pelo comportamento da criança no consultório. As
entrevistadas no presente estudo disseram que como os pais não impõem limites aos
seus filhos e são superprotetores, as crianças são “mimadas" e “rebeldes”. Algumas também
citaram a falta de participação dos pais e outra dentista, a exigência deles. Opinião semelhante
foi encontrada na pesquisa de Adair, Waller, Schafer e Rockman (2004), em que os dentistas
disseram acreditar que os estilos parentais mudaram nos últimos tempos de uma forma
que afetou negativamente o comportamento das crianças no consultório.
Uma forma de lidar com os pais foi identificada nas respostas das dentistas:
procuram conversar com eles. As profissionais disseram que preparam os pais em
relação aos procedimentos odontológicos, aos manejos que o dentista pode utilizar e
possíveis reações do filho. Elas consideraram importante alertar os pais para serem
participativos, mas não interferirem nos momentos em que o dentista precisa manejar
o comportamento da criança, além de cuidarem com as expressões faciais.
Em concordância com essa dificuldade, a necessidade de saber como orientar
os pais foi um dos aspectos mais freqüentes mencionados diante da pergunta sobre o
que a Psicologia poderia auxiliar a odontopediatria. Além disso, algumas entrevistadas
relataram a necessidade de instrução aos dentistas sobre as fases da criança,
Conclusão
O agrupamento das respostas por pergunta mostrou que, de forma geraL o
comportamento das dentistas entrevistadas obedece a um mesmo padrão. Houve algumas
diferenças, como por exemplo nos tipos de distração utilizados. Apenas uma das dentistas
relatou respeitar a individualidade da criança e agir diferente conforme o paciente.
Apesar da pequena amostra da presente estudo, os resultados sugerem que
as odontopediatras utilizam muitas estratégias de manejo comportamental positivas.
Entretanto, nos casos em que estas não funcionam, fazem uso da restrição física, uma
técnica potencialmente aversiva. Visto que se trata de uma técnica muito utilizada, parece
necessário o desenvolvimento de pesquisas sobre estratégias alternativas.
A Análise do Comportamento tem muito a contribuir com a odontopediatria. Por
exemplo, auxiliar na compreensão do comportamento da criança e do dentista. Como
ressalta Moraes (2002), entende-se que o problema não está na criança, e sim na interação
com variáveis ambientais, que em gera! podem ser manipuladas. Além disso, o autor
lembra que se os dentistas utilizam técnicas aversivas, é porque o uso destas é reforçado
pela redução da não-colaboração. Compreendendo isso, aponta-se para necessidade
de demonstrar aos profissionais a efetividade de outras técnicas de fácil implementação.
Por último, os resultados dessa pesquisa exploratória indicam que a demanda
dos dentistas está mais relacionada aos pais de seus pacientes do que ao controle do
comportamento das crianças. Pesquisas futuras podem verificar se isso corresponde a
um problema de fato, ou se existe incompreensão dos dentistas em relação ao
comportamento da criança. Talvez os dentistas confundam comportamentos de não-
colaboração que foram condicionados com birra da criança. Sem a compreensão de
por que a criança não colabora, muitas vezes os profissionais podem responsabilizar
apenas os pais pelos comportamentos inadequados de seus filhos. Enfim, as
participantes relataram a necessidade de entender melhor o desenvolvimento infantil,
um conhecimento importante para auxiliar no manejo das crianças, A Psicologia poderia
suprir esta necessidade ao ser incluída nos cursos de formação de odontologia.
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' O presenteIrabalho é parte do estudo da dssertaçâo de mestrado da primeira autora, mestranda do Programa Análise do Comportamento
da Universidade Estadual (te Londrirva.
Contato: ju9avaz20rt@yahoo.com br
* Bolsista CAPES
’ Medicamentos que têm maior eficácia comprovada pera determinado tratamento e devem ser utilizados preferencialmente
' Questionário padronizado utflzado para avaliar níve) de dependência de nicotina.
Intervenções Psicológicas
Em relação aos estudos que utilizam intervenções psicoterápicas, observa-se
que os primeiros programas psicológicos para deixar de fumar surgiram a partir das
técnicas de terapia e modificação do comportamento na década de 60 (Becona, 1998).
Segundo o autor, desde o aparecimento destas técnicas, tem-se utilizado um grande
número delas para deixar de fumar, tais como os procedimentos aversivos (fumar rápido,
sacíação, choque elétrico, reter a fumaça) e procedim entos não aversivos
(automonitoramento, controle de estímulos, redução gradual da ingestão de nicotina e
alcatrão, manejo de contingências, dessensibilização). No inicio, os programas
5 A abslínênda se refere ao não consumo de tabaco e tem sido avaílada alw é s do nível de CO no ar exalado ou da cotinlna no sangue, urina
ou saliva Em relação ao nivel de CO observa-sfi que os pesqusadores têm u(ili2ado entre Gc 10 ppm para definir o nível de abstinência.
Tratamentos Combinados
Sobre as pesquisas que utilizam tratamento combinado (medicação associada
à psicoterapia), um exemplo é o estudo realizado por Cinciripini et al. (1996). O objetivo do
estudo foi avaliar um tratamento terapêutico para cessar o comportamento de fumar
associado ao adesivo de nicotina. Participaram da pesquisa 64 sujeitos, os quais foram
designados a dois grupos: terapia comportamental sozinha (n = 32); e terapia
comportamental associada ao adesivo de nicotina (n = 32). O tratamento comportamental
incluiu as seguintes estratégias terapêuticas: informar sobre efeitos físicos e psicológicos
da nicotina; fortalecer comportamentos incompatíveis com o fumar; manipular o ambiente
desencadeador da resposta de fumar (ex. sair com pessoas não fumantes); respirar
profundamente; revisar as razões para parar de fumar e repetir frases de “coping' (ex. a
vontade vai passar). Esta intervenção foi realizada durante quatro semanas, com encontros
semanais em grupo de 7 a 11 pessoas e duração de 2 horas. A prevenção de recaída
consistiu em mais quatro sessões de intervenção terapêutica e incluiu as seguintes
estratégias: antecipar e lidar com situações de alto risco para fumar (ex: evitar o uso de
álcool e outras situações associadas ao cigarra); desenvolver habilidades para reduzir a
tensão, aumentar a energia e o prazer, manipular o afeto e evitar contato com estímulos
aversivos através de (a) controle de contingências, (b) inoculação do estresse, (c) treino
assertivo e (d) técnicas para melhorar o sono; aumentar o exercício e programar eventos
positivos. Os autores apenas citam as estratégias utilizadas e não as descrevem, o que
dificulta o entendimento de como avaliam medidas subjetivas como "aumento de energia
e prazer”, "manipulação de afeto", “impulso de fumar". As medidas na etapa de seguimento
Pesquisas Brasileiras
No Brasil, as pesquisas são muito mais recentes do que os estudos
internacionais e, portanto, o conhecimento sobre o tabagismo ainda não foi tão
aprofundado quanto o que se observa nos estudos realizados principalmente nos
Estados Unidos e Europa. Enquanto as pesquisas internacionais já estão desenvolvendo
programas de controle de tabagismo volíados para grupos específicos, como por
exemplo, para jovens ou para pessoas com transtornos psiquiátricos, no Brasil as
pesquisas têm se direcionado aos estudos de prevalência de fumantes (Guazzeíli,
Filho & Fiss, 2005; Ribeiro et al., 1999), relações entre tabagismo com outras doenças
médicas (Chatkin, Silva, Fritscher, Fiterman & Reck, 2005; Levy, Silva & Morano, 2005) e
eficácia de alguns tratamentos na cessação do fumar direcionados à população geral
(Haggstràm, Chatkin, Cavalet-Blanco, Rrodin & Fritsher, 2001; Otero et al., 2006). No
entanto, mesmo nestas áreas de pesquisa, a literatura brasileira é consideravelmente
ínfima em relação aos estudos de outros países.
Em relação às pesquisas que avaliam a eficácia de tratamentos para cessar o
comportamento de fumar, encontram-se poucos estudos brasileiros publicados na
literatura. Observa-se que a maioria destas pesquisas utiliza a associação da psicoterapia
aliada a farmacoterapia na cessação do fumar. Alguns estudos serão relatados para
demonstrar a eficácia que este tipo de intervenção tem obtido na população brasileira.
A pesquisa realizada por Otero et al. (2006) avaliou a efetividade dos métodos
de abordagem cognitivo-comportamental e terapia de reposição de nicotina com adesivos
para cessação de fumar. Participaram deste estudo 1.199 adultos, do Município do Rio
de Janeiro, Brasil. Os participantes foram designados aleatoriamente a dez grupos:
uma sessão de abordagem cognitivo-comportamental breve com (GBA) ou sem (GB)
uso de adesivos; uma sessão de abordagem cognitivo-comportamental intensiva com
(G1A) ou sem (G1) uso de adesivos; duas sessões de abordagem cognitivo-
comportamental intensiva com (G2A) ou sem (G2) uso de adesivos; três sessões de
abordagem cognitivo-comportamental intensiva com (G3A) ou sem (G3) uso de adesivos;
quatro sessões de abordagem cognitivo-comportamental intensiva com (G4A) ou sem
(G4) uso de adesivos. A sessão de intervenção breve teve duração de vinte minutos e a
intensiva, de sessenta minutos. O intervalo entre as sessões de intervenção dos grupos
com duas ou mais sessões foi de uma semana. A intervenção psicológica foi baseada
no Programa do INCA, o qual inclui as seguintes estratégias: intervenção
psicoeducacional, estratégias para lidar com a “fissura", relaxamento, treino assertivo,
prevenção de recaída e reestruturação cognitiva. Porcentagens de abstinência foram
estimadas através do relato verbal durante os 12 meses de seguimento. As porcentagens
Considerações Finais
Atualmente, existe uma grande quantidade de informação sobre a eficiência de
distintos programas para deixar de fumar. Com base em resultados de pesquisas,
revisões, guias clínicos, meta-análises,etc, observa-se que as intervenções psicológicas,
especificamente os programas multicomponentes, têm obtido resultados satisfatórios
na cessação do tabagismo. Sobre as medicações que auxiliam na cessação do fumar,
percebe-se uma diminuição de intervenções unicamente farmacológicas, sendo a
Referências
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1. Introdução
A partir da perspectiva da Análise do Comportamento, podemos dizer que a
escolha profissional de uma pessoa é socialmente determinada pela combinação de
sua história genética, pessoal, familiar e cultural. A combinação dessas variáveis no
curso de vida conduz o desenvolvimento de interesses e habilidades relacionadas ao
exercício de determinadas escolhas profissionais.
A escolha profissional envolve o comportamento de tomada de decisão. Skinner
(1989) analisa o processo de tomada de decisão em termos de manipulação de
variáveis. Para ele, tal comportamento é, essencialmente, um processo de geração de
condições que tomarão um curso de ação mais provável que outro. Entendido dessa
forma, o decidir-se não é, então, a execução do ato decidido, mas o comportamento
anterior responsável por ele. (Nico, 2000)
Tomar uma decisão profissional é um comportamento cujos reforçadores são
diferentes dos reforçadores que exercerão controle no desempenho futuro da profissão.
As conseqüências do comportamento de exercício profissional não estão presentes na
situação de escolha. O sujeito, na melhor das hipóteses, pode apenas estimar, com
pequeno grau de segurança a probabilidade de que elas realmente venham a ser
reforçadoras (Moura, 200). Assim, pode-se supor que as ações envolvidas na tomada
de decisão (comportamento não-verbal) estejam ligadas à formulação verbal a respeito
de sob quais parâmetros decidir (regras) (Catania, Matthews & Shimoff, 1982). Tal
desempenho é mantido por contingências sociais (mediadas por outros).
O processo de manipulação de variáveis para decisão profissional, então,
envolve regras sociais implícitas no contexto verbal de controle do comportamento de
escolha. Isto quer dizer que as variáveis analisadas para compor a decisão profissional,
envolvem as expectativas e o conhecimento tanto do estilo de vida e nível socioeconômico
quanto de status social proporcionados pela profissão.
Objetivo
A partir desta análise, percebemos que diversos são os fatores de influenciam
na escolha profissional. O presente estudo buscou encontrar alguns desses fatores
em relatos verbais de crianças de escoia pública e privada do município de Beto Horizonte.
A escolha de escolas de diferentes extratos socioeconômicos teve como objetivo a
investigação de diferenças entre os grupos.
Como forma de pesquisa, foi escolhida a aplicação de questionários
respondidos pelos próprios alunos para a coleta de dados. Essa escolha foi motivada
pela facilidade de obtenção de maior número de dados com maior economia de tempo.
2. Método
2.1. Amostra
Para obtenção dos dados da pesquisa, foi utilizada uma amostra de 60 crianças, 30 de
uma escola pública e 30 de uma escola privada, com idades de 9,10 e 11 anos, de
ambos os sexos, escolhidas aleatoriamente.
O número de questionários foi escolhido para que obtivéssemos uma amostra
estatisticamente significativa de cada escola. As escolas foram escolhidas por
conveniência de acordo com a acessibilidade das mesmas.
2.2. Procedimento
2.2.1. Material
Foi entregue um questionário, onde as crianças respondiam a questões sobre profissão
dos país e sobre o que queriam e o que não queriam ser quando crescessem e
justificavam suas escolhas.
2.2.2. Procedimento-
A aplicação do questionário foi realizada em grupo. As instruções dadas pediam que as
crianças respondessem às questões e que solicitassem ajuda do aplicador caso
necessário. É importante ressaltar que as crianças podiam responder com mais de um
item nas questões sobre as profissões e, deste modo, os resultados exprimem o número
de vezes em que foram citadas as profissões e não o número de crianças que as escolheram.
A aplicação foi feita em uma sala reservada para tal e não haviam interrupções.
2.2.3. Análise-
Para a análise dos dados do estudo, foi escolhida a Estatística Descritiva a partir da
categorização das escolhas das crianças em grupos de modelos de escolha profissional.
Estes modelos foram: a) Modelos com curso superior, b) modelos sem curso superior,
c) modelos de influência da mídia, d) modelos de influência religiosa e e) modelos de
influência da profissão dos pais.
Foram descritas as porcentagens de aparecimento de escolhas segundo estes diversos
modelos tanto na escola pública quanto na escola privada.
CvUffDtlt«
4. Conclusões
A partir dos resultados obtidos, foi possível formular algumas hipóteses sobre
o comportamento de escolha dessas crianças. É importante ressaltar que este estudo
não pretende uma generalização das observações empíricas para a população geral,
mas apenas analisar o padrão de escolha da profissão nas populações escolhidas.
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Boletim Contexto, 20. São Paulo. ■
Skinner, B. F. (1989). Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontes.
Skinner, B. F. (1974). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix
Método
Participantes: Participaram da pesquisa 272 estudantes de graduação do curso
de Psicologia do início (82 alunos) e do final (190 alunos) do curso de três instituições
de ensino superior da Grande São Paulo, aqui denominadas instituições: A, B e C. Os
participantes foram assim distribuídos:
A : 101 alunos, sendo 26 de início de curso e 75 do final do curso. Considera-se
aqui alunos de início aqueles que cursavam o 1o semestre e estavam tendo pela primeira
vez uma disciplina específica da área. Os alunos do final cursavam o 2° semestre e
continuavam tendo a disciplina específica.
B: 95 alunos, sendo 30 de início e 65 do final do curso. Nesta instituição, os alunos
de início cursavam o 3osemestre e estavam tendo pela primeira vez uma disciplina específica
da área. Os alunos do final cursavam o 9o semestre correspondente a um dos semestres
de estágio supervisionado em atendimento dínico na abordagem comportamental.
Resultados e Discussão
Apesar do questionário usado no presente estudo para investigar a formação
dos alunos de Psicologia em análise do comportamento ser composto de 18 questões,
especialmente as respostas às questões que tratam da posição skinneriana acerca
dos processos cognitivos (pensamentos, sentimentos) serão apresentadas aqui. Tal
seleção deve-se ao fato de que a aceitação dos processos cognitivos pelo behaviorismo
radical bem como a possibilidade de investigação e tratamento desses processos via
relato verbal ainda serem mal compreendidos pelos alunos, conforme resultados dos
estudos anteriores que foram replicados neste atual.
Figura 1 destaca as respostas dos alunos à pergunta “O Behaviorismo Radical é
considerado a Psicologia S’!R?”, cuja resposta exigida era SIM ou NÃO. Na Figura, cada
instituição é representada por quatro colunas. As colunas da esquerda, em cada instituição,
representam os alunos do início do curso e as colunas da direita representam os alunos do
final do curso. Observa-se que, com exceção dos alunos da instituição B, tanto de início (!)
quanto de final (F) do curso que responderam NÃO a esta questão (aproximadamente 60%),
os alunos das instituições A e C responderam SIM a essa mesma questão. Desses alunos,
42% de I e 82% do F eram da instituição C e 100% do I e 88% do F eram da instituição A.
pensamento e sonhos*.
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'Docente da UMESP nas disciplinas Pressupostas Básicos da Anáfee Experimenta! cio Comportamento eAnáfee Experimental do Comportamento.
JOoutora em Psicologia Experimental peto IPUSP, docente da dscipltna de AnáSse Experimental do Comportamento do Curso de Psicologia
áa UMESP. Especialista em Psicoterapia Comportamental e Çoçjnitiva pelo tPUSP.
"Mestranda do programa d© Pstcotogia Experimental da Universidade de São Paulo (USP) e Professora Voluntária em Análise do
Comportamento (UMESP).
‘Terapeuta oomportamental, pós graduando (latu senso) em Psiootogia Clínica e Professor Voluntário em A.náRse Experimental do
Comportamento (UMESP).
M étodo
Participantes
Participaram desta pesquisa 67 alunos do 9° e 10° períodos do curso de
graduação de Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), sendo 63
do sexo feminino e 4 do sexo masculino com idades variando entre 21 e 50 anos. Todos
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Instrumento
Para a coleta de dados utilizou-se um questionário misto com o objetivo de identificar
os critérios de escolha da abordagem teórica pelos alunos. O questionário continha dados
de identificação (sexo, idade e período letivo) que visaram caracterizar os participantes da
pesquisa, e cinco questões mistas. A primeira questão buscou verificar se os participantes
já realizaram a escolha da abordagem psicológica ou se possuem preferências. A segunda
questão objetivou identificar os critérios utilizados pelos participantes para a escolha da
abordagem. O objetivo das três últimas questões foi obter dados sobre a história acadêmica
e extra-acadêmíca que estavam relacionadas à escolha de abordagens.
Procedimento
Os questionários foram entregues individualmente, sendo respondidos por
todos os alunos em um mesmo horário, estando todos em uma única sala. Anteriormente
ao início da aplicação, foi dada a seguinte instrução:
“A cada um de vocês, será entregue um questionário sobre escolha de abordagem
psicológica. Este trabalho tem o objetivo de verificar quais os possíveis critérios
utilizados pelos alunos do último ano do curso de psicotogia da UMESP na escolha
de uma abordagem psicológica. "
Resultados
Os resultados do presente estudo indicam que 46% dos participantes já tinham
escolhido a abordagem em que iriam atuar, enquanto 54 %, até o momento, não haviam
feito qualquer tipo de escolha. Conforme pode ser observado na parte superior da Figura
1, dentre os participantes que disseram ter uma abordagem de sua escolha, 87% optaram
pelas demais abordagens (Psicanálise, Fenomenologia, Psicologia Analítica, entre outras),
enquanto que apenas 13% optariam pela abordagem comportamental,
Foi perguntado para os participantes que ainda não definiram uma abordagem
psicológica (54%) se possuíam preferência por alguma abordagem para a sua atuação após a
formação. Destes, 86 % dos participante^ disse que tem preferência e 14% disse não ter
qualquer preferência. Dentre aqueles que têm preferência, 78% optariam por outras abordagens,
enquanto que 22% optariam pela abordagem comportamental (Ver parte inferior da Figura 1).
Não
14%
L.
Figura 1: Porcentagem de escolha e de preferência da abordagem comportamental e demais
abordagens psicológicas.
Múmtíriíi TCC
Figura 2: História de participação em atividades acadêmicas dos participantes que optaram pela
abordagem comportamental.
300 M » fiín lo m a Chippan, Adriana R. Kubio, Maríana J. Sam fio e Regis R. Çuedrs
I Outras Abordagens □ comportamental
Referências
Desde o início do Behaviorismo Radical (década de 40) até os dias de hoje, não é
raro encontrar preconceitos em relação à abordagem. Em 1974, Skinner já se preocupava
com esta questão, apontando que as compreensões equivocadas referem-se à falta de
esclarecimento sobre os significados e realizações de uma ciência, e que provavelmente,
estas ainda estariam relacionadas ao Behaviorismo Metodológico de Watson, que para Skinner,
dispunha de poucos dados que lhe permitissem extrapolações para comportamentos mais
complexos, dando assim, margem para interpretações simplificadas acerca de suas idéias,
Skinner (1974) afirma: “as deficiências da apresentação de Watson são agora,
creio eu, principalmente de interesse histórico. Contudo, a crítica não mudou muito".
(p.10) O autor continua, apontando sobre o fato de haver alguma outra razão para tal
incompreensão do Behaviorismo, podendo se dever ao fato de que a Ciência é em si
mesma, mal compreendida.
Muitos autores como Musgrove (1974); Woolfolk, Woolfolk e Wilson (1977);
Morris (1985) entre outros, se preocuparam em investigar os problemas relacionados a
aceitação e opinião acerca da abordagem comportamental.
Em relação à mídia, muitas informações errôneas sobre a análise do
comportamento foram encontradas principalmente em jornais diários e em artigos
publicados em revistas, em que Skinner e a análise do comportamento têm recebido
atribuições pejorativas (Morris, 1985).
Ainda para exemplificar a divulgação incorreta da análise do comportamento, Morris
(1985) descreve um jogo popular (“Trivial Pursuif), onde uma das perguntas é: “Quem
inventou a caixa que psicólogos usam para dar choque em ratos? (Resposta: B.F. Skinner)".
Segundo Morris (1985) programas de disseminações corretas de informações,
que visem tanto ações preventivas, quanto ações remediativas, para lidar de uma forma
organizada com os problemas já disseminados, ajudariam a análise do comportamento
a ser vista de uma maneira correta.
M étodo
Sujeitos
Participaram desta pesquisa sete professores do curso de graduação de
Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), com formação em
Psicologia, atuando de acordo com referenciais teóricos não Behavioristas. Cinco do
sexo feminino e dois do sexo masculino. Foi obtido de cada participante assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo I).
Material
Para a coleta de dados foi utilizado um questionário com base em instrumento
desenvolvido por Amador (1998) sobre a concepção do professor de Psicologia “não-
Behaviorista” sobre o Behavíorismo Radical.
O questionário contém vinte e duas questões divididas em duas partes. Na
primeira parte, os participantes deveriam responder considerando sua posição em relação
à Psicologia. Na segunda parte, responderam de acordo com o seu conhecimento sobre
o Behaviorismo Radical. O questionário foi constituído de questões abertas e fechadas.
O questionário buscou identificar: » a concepção de Psicologia e mais
especificamente, a concepção de homem do professor;» o conhecimento do professor
em relação ao Behaviorismo Radical;' a opinião do Professor frente 9 esta abordagem.
Procedimento
Os participantes foram selecionados em relação ao curso em que ministram
aulas, no caso a Psicologia, e a atuação de acordo com abordagens teóricas “não*
Behavioristas". Os questionários foram entregues individualmente, junto com uma
instrução e o terrno de consentimento livre e esclarecido. Como procedimento
programado, o material deveria ser respondido no ato da entrega, porém, por opção de
todos os participantes, o mesmo foi levado, sendo devolvido em um prazo máximo
estipulado pelos experimentadores de uma semana. Foram entregues dezoito
questionários, porém apenas sete dos professores devolveram o material respondido.
As questões foram analisadas quantitativamente e qualitativamente, indicando-
se porcentagem e formação de categorias, porém no presente artigo será apresentado
apenas os dados referentes à maioria das respostas emitidas em cada questão.
Resultados
Os resultados serão apresentados em duas categorias: Behaviorismo Radical
e Psicologia, sendo o último referente às demais abordagens.
Com relação ao objeto de estudo da Psicologia, o comportamento foi à resposta
mais freqüente, assim como em relação ao Behaviorismo Radical. O objetivo da Psicologia
foi apontado como investigar e propor saídas para o bem estar do homem e a busca pela
compreensão do comportamento. Já para o Behaviorismo Radical, as respostas mais
freqüentes foram prever comportamento e identificar variáveis observáveis. Segundo os
participantes, é através da investigação científica e de avaliações das funções mentais
Discussão
De acordo com o objetivo da presente pesquisa de verificar o conhecimento
dos professores de Psicologia não-Behavioristas sobre o Behaviorismo Radical, e sua
concepção de Psicologia, foi observado que há poucas respostas comuns para as
perguntas apresentadas em relação à Psicologia e ao Behaviorismo. Provavelmente
este dado pode apontar que os participantes possuem concepções do Behaviorismo
Radical e da Psicologia como sendo visões diferentes de homem e de mundo. Para
Silva (1987) o Behaviorismo é o choque contra a concepção tradicional do homem
veiculada a literatura libertária, através de agências controladoras como a educação,
religião, política e a própria cultura popular. Skinner (1974) ainda afirma que “ uma
formulação Behaviorista exige mudanças perturbadoras" (p-10).
Certas concepções errôneas sobre a análise do comportamento são muito
resistentes a mudanças Lamal (1995), isto pode ser confirmado pelos dados coletados
no presente estudo, em que as colocações relacionadas ao Behaviorismo, em sua
maioria, são inadequadas e/ou incompletas, apresentando uma visão incorreta sobre a
abordagem. Skinner (1974) assinala que certas afirm ações im próprias sobre a
abordagem podem ainda estar relacionadas ao Behaviorismo Metodológico de Watson,
embora este seja apenas de interesse histórico, a crítica não mudou muito.
A ciência de forma geral parece ser mal compreendida, incluindo-se a Análise
do Comportamento (Skinner, 1974).
Os professores com uma visão com pré-conceitos e conceitos incorretos sobre
o Behaviorismo podem atuar em sala de aula discutindo direta ou indiretamente sobre
a abordagem perpetuando tais visões. Lamal (1995) verificou que os preconceitos não
estão limitados ao estudantes, mas são encontrados também em livros didáticos e
entre professores universitários.
Gomes, W.B., Teixeira, M.A.P.L., Crescente, D.B., Fachel, J,, Sehn, L.& Klarmann, P(1996). Atitudes
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'e-mail para correspondência rivROPOsii&hnlmail mm Mestrando em psfcotogia (UnB), Professor òe ExtensSo em Segurança Pública da UFPI,
Editor Responsável da Revista "Çlêntia: Comportamento e Cognição" Trabalho apresentado no XV Encontro Brasileiro de Psfcoterapla e
Medidna Compcrtamentí, 2006, na mesa-redonda intitulada: Aspectos analitk»oornportarnentals sobre agentes criminais: discriminando os
discriminados e as variàvósque os fizeram transgressores (o abusador sexual, o ranciderte crVninal e a mulher crimmosa)
'E-maH para correspondência' meoamfi)olobo.com. Psicóloga dintca e juridica da PSICOJUR (Associação Brasilienae de Psirok>gia
Clinica e Jurfdica-DF), Professora Universitária das faculdades IESB e JK.
Estudo de caso 2
Homem de 32 anos, ensino superior incompleto, morador de bairro de classe média-
alta. Reincidente pela 3a vez. Na adolescência foi agente de algumas transgressões, sempre
no sentido de furtos ou roubos. O início da prática se deu em casa quando algo fhe era negado
e ele possuía acesso a dinheiro ou objetos que lhe permitissem troca pelo reforço desejado.
Como ninguém em casa creditava a ele a autoria dessas transgressões, ele era
continuadamente reforçado. Essas práticas foram se generalizando, pois lhe assegurava
certa autonomia financeira, e um reforço social muito grande por parte dos amigos, primeiro
porque ele sempre tinha coisas novas, depois porque era considerado esperto por isso. No
fim da adolescência teve acesso a drogas, mas não “curtiu". No entanto, percebeu uma
grande oportunidade de se manter financeiramente. Passou logo a “atravessador". Quando
fora preso a primeira vez, foi liberto em seguida por um de seus consumidores, um expoente
do judiciário local. Saindo da carceragem, passou rápido a traficante, onde fez amizades que
substituíam as amizades que perdera. Os amigos não queriam mais sua presença, a família
tinha medo de sair com ele, pois a Polícia Federal o rondava sempre, até que fora preso
novamente. Solto, resolveu abrir um comércio cujos clientes eram seus antigos consumidores,
que requeriam dele a droga. O resto dos conhecidos e da sociedade local o excluía, não
acreditando na sua tentativa o que era reforçado enormemente pelos policiais. Seu negócio
faliu. Relembrando da rentabilidade do tráfico e da diferença do trabalho (desgaste), voltara
mais uma vez ao comércio de drogas, com sucesso imediato, o que era bastante reforçador,
bem como a conquista do poderio que ele exercia dentro e fora das "bocas”. Nas palavras dele
quando da última condenação: “Não sei o que vou fazer quando sair novamente, mas caso eu
seja recebido da mesma forma, a vida do crime vai sim ser uma possibilidade pra mim."
Transtorno do Pânico
Segundo o DSM-IV (2000), o Transtorno do Pânico consiste de ataques de
Pânico inesperados e recorrentes acerca dos quais o indivíduo se sente
persistentemente preocupado. Pode ser com ou sem agorafobia. O ataque de pânico é
um período distinto no qual há o inicio súbito de intensa apreensão, temor ou terror,
freqüentemente associados a sentimentos de catástrofe iminente. A agorafobia é definida
como ansiedade ou esquiva a locais ou situações das quais poderia ser difícil escapar
ou nas quais o auxílio poderia não estar disponível em caso de pânico.
Os “sintomas" ou características de um ataque de pânico são: palpitações;
sudorese; tremores ou abalos; sensação de falta de ar, sufocamento, asfixia; dor ou
desconforto torácico; náusea, desconforto abdominal; tontura, vertigem, desmaio;
desrealização (sensações de irrealidade); despersonalização (estar distanciado de si
mesmo); medo de perder o controle ou enlouquecer; medo de morrer; parestesias
(anestesia ou sensações de formigamento); calafrios, ondas de calor (DSM-IV, 2000).
Tratamentos tradicionais
Nas formas de tratamento descritas anteriormente, as intervenções são feitas
basicamente a partir do quadro clínico apresentado pelo cliente. Neste sentido, padrões
comportamentais ou "sintomas" semelhantes induzem a intervenções semelhantes,
sejam medicamentosas ou baseadas em técnicas. Já na Análise Comportamental
Clínica ou Terapia Analítico-Comportamental, conforme já foi exposto, padrões
comportamentais semelhantes podem se referir a processos comportamentais
(funções) diferentes, identificados apenas por meio de uma investigação funcional das
diversas relações comportamentais na vida do indivíduo.
Para ilustrar esta diferença, serão apresentados três casos clínicos atendidos
pelo autor, em que se observa um quadro clínico muito semelhante, enquadrado no
diagnóstico de Transtorno do Pânico, mas que a partir de uma análise de contingências
atuais e históricas, requereram interpretações e intervenções diferentes.
Dados iniciais
Caso clinico 1
Nome (fictício): Maria
Dados: estudante universitária de 19 anos de idade.
Início do quadro clínico: primeiro episódio de pânico aos 11 anos de idade.
Outros tratamentos: psicoterapia dinâmica quando adolescente, terapia comportamental
por 2 anos e meio, encerrada uma semana antes do inicio da terapia com este autor.
Nos três casos, o quadro clínico se caracterizava por falta de ar, sensação de
sufocamento, sensação de morte iminente, sudorese, palpitações, medo de perder o controle
e pensamentos catastróficos. Maria (19a) apresentava o quadro em qualquer momento do
dia, com freqüência maior em situações longe de casa, especificamente no trânsito. Joaquim
(27a) em qualquer momento do dia, mas principalmente quando estava em casa à noite e
José (37a) apresentava mais à noite, quando estava deitado, ou no meio do sono.
Fatos recentes
Muitos casos de pânico são atribuídos exclusivamente a eventos aversivos
recentes, que normalmente contribuíram ou estão contribuindo para o início e a
manutenção do quadro clínico.
Maria: embora seus ataques já ocorressem há alguns anos, Maria havia passado
quase um ano sem tê-los. Dois fatores então foram interpretados como fortes contribuintes
para a reincidência. Um se refere ao acidente de uma grande amiga, que passou dias na
Unidade de Terapia Intensiva de um hospital, seguidos de semanas de internação. Maria
acompanhou-a em todos os momentos, convivendo diariamente com a ameaça de perdê-
la e com o dia-a-dia em um ambiente estressante com elevada taxa de óbitos e pessoas
correndo sérios riscos de vida. Outro fator aversivo é que Maria estava começando a
passar por cobranças em sua vida relacionadas à idade, às quars nunca havia passado
antes, tais como exigências em relação a trabalho, estudo e maior independência.
Manoet. havia passado por um término de namoro há umas cinco semanas.
Embora inicialmente não aceitasse que isto poderia estar lhe afetando, reconheceu o
tanto que o estava fazendo sofrer, principalmente por que sua ex-namorada dava pistas
de uma possível volta, ao mesmo tempo em que tinha sido vista, por amigos de Manoel,
em companhia de uma outra pessoa. Outro fato recente foi a quebra da empresa que
Manoel tinha em sociedade com o irmão. Isto havia ocorrido há uns dois meses e ele
estava muito irritado e incomodado com isto, apesar de ter o amparo econômico da
família. Manoel justificava seus ataques de pânico a uma possível relação com o uso de
esteróides anabolizantes que havia ingerido há um mês atrás, quando iniciou a prática
de musculação em uma academia. «
José sua empresa estava crescendo muito e havia se tomado uma grande concorrente
para outras empresas do mesmo ramo e que estavam há mais tempo no mercado. José
História de vida
Aspectos relacionados à história de vida tendem a ser pouco utilizados em
análises comportamentais aplicadas, onde observa-se grande ênfase nas contingências
atuais e enfoque restrito a alguns comportamentos específicos (e.g. Miltenberger, Fuqua
& Woods, 98). Num modelo clínico, isto pode tomar a interpretação limitada. A seguir
será apresentado um pouco da história de vida de cada cliente, sendo descritos aspectos
que estariam relacionados ao seus quadros clínicos .
Maria: foi muito superprotegida pelos pais, sendo filha única até os 9 anos de
idade; teve poucas experiências de enfrentar diretamente condições aversivas, sendo
freqüentemente “poupada” destes tipos de situação; foi e é dependente em vários
1Na realidade, observa-se que o emprego destas técnicas pode também não depender do conhecimento de tetos recentes.
Seleção e adaptabilidade
Na filogênese ou história da espécie, membros de uma espécie que apresentem
características mais adaptáveis ao ambiente em que vivem têm mais chances de
sobreviverem e transmitirem estas características aos seus descendentes por herança
genética (Hull, Langman & Glenn, 2001). Este processo é conhecido como seleção
natural. Da mesma forma, na ontogênese ou história do indivíduo, classes de respostas
são selecionadas ao longo da vida em função das conseqüências que elas produzem
(Skinner, 1966). Este processo ê entendido como reforçamento e explica a aquisição de
padrões comportamentais apresentados por uma pessoa.
No entanto, o selecionismo prepara um organismo para viver em um ambiente
semelhante ao que viveu no passado (Skinner, 1981). Mudanças em potencial do ambiente
podem tomar o que foi selecionado inapropriado e apresentar demandas por variabilidade.
Em relação à história de vida de uma pessoa, os comportamentos que produziram ou produzem
conseqüências reforçadoras no passado, podem não fazê-los nas condições atuais; o que é
reforçado numa situação, pode não ser em outra; o que é eficaz para produzir certos
reforçadores pode não ser na produção de outros; os efeitos reforçadores a curto prazo
podem não ocorrer a longo prazo ou se caracterizarem como efeitos aversivos e; efeitos
reforçadores podem vir acompanhados de conseqüências aversivas de grande impacto.
O entendimento destas relações funcionais permite ao terapeuta e cliente,
identificarem não apenas o que uma pessoa faz ou como faz, mas por quê faz e o que
mantém este fazer. A partir do conhecimento destas variáveis, pode-se melhor saber o
quê e como fazer (Marçal, 2005). Concluindo, o modelo selecionista constitui-se em
uma poderosa ferramenta clínica, permitindo interpretações e intervenções precisas.
Maria
Maria passou por muitas situações de reforço não contingente, onde tinha acesso
a reforçadores positivos e à remoção de estímulos aversivos, independentemente da
emissão de comportamentos de enfrentamento, iniciativa, persistência, autocontrole, etc.
Paralelamente, as contingências selecionaram atitudes de queixa, esquiva, sinalização de
sofrimento e de necessidades, entre outras características. O pouco contato direto com
contingências aversivas tomou Maria despreparada para lidar com elas e muito suscetível
a quadros de ansiedade e insegurança nestas condições, principalmente se não houvesse
alguém para protegê-la. Regras relacionadas à incapacidade, fragilidade, necessidade
dos outros, foram facilmente estabelecidas e mantidas pelas contingências (principalmente
sociais) ao longo destes anos. Seu repertório comportamental favorecia o excesso de
cuidados dos que com ela conviviam, ajudando a manter o quadro de não enfrentamento. A
idéia de doença, associada ao Transtorno do Pânico, muito contribuiu para desviar a atenção
das relações com o ambiente ao qual o seu organismo esteve sempre exposto e que
impediam a possibilidade de mudança. No início da terapia, Maria ainda continuava em um
ambiente de superproteção, que era bem agravado por isto estar relacionado a uma
importante função reforçadora para a sua mãe. A motivação para mudança existia a partir do
pouco poder de escolha que Maria tinha em sua vida, do sofrimento decorrente do pânico e
da ansiedade em geral, do fato de Maria estar cansada de ser “a doente" e sempre precisar
dos outros, de estar namorando alguém que não gostava apenas porque ele estava sempre
disposto a ajudá-la em suas dificuldades, etc. A simples aplicação de técnicas com fins de
reduzir a ansiedade não permitiria uma interpretação neste nível apresentado.
O bjetivos terapêuticos? O principal seria d e senvolver autonom ia e
independência de um modo geral. Os principais recursos incluiriam vivenciar situações
reforçadoras que fossem contingentes à produtividade, iniciativa, persistência e
enfrentamento. Se o contato com certas contingências foi determinante na aquisição do
repertório comportamental atual, novas experiências seriam necessárias para a
implementação de novos repertórios. Isto deveria ocorrer inicialmente em níveis mais
acessíveis (i.e. mais fáceis de lidar) aos que Maria estava, naquele momento. O fato de
Maria saber que não tinha como ela ser diferente a partir de tudo o que viveu e que não
havia como mudar em função das contingências presentes foi de fundam ental
importância para engajar-se na busca destes contextos terapêuticos. O raciocínio da
ACT (Hayes, Strosahl & Wilson, 1999) envolvendo a aceitação de que as esquivas
experenciais tinham efeito temporário, que o controle da ansiedade precisaria ser
reduzido ou atenuado e que necessitaria aumentar a disposição para a tolerância
emocional, teve um importante papel no engajamento destas condições anteriormente
aversivas, isto é, situações que requeressem autonomia e enfrentamento.
Manoel
A história de sucessos e êxitos, não fortaleceu comportamentos persistentes e
adaptativos em situações de insucessos ou fracassos. Regras a respeito de si. ou
seja, sua auto-imagem, foram estabelecidas e mantidas neste contexto de sucessos e
reconhecimentos sociais dentro e fo r^ da família. Comportamentos de esquiva de
prováveis insucessos foram aprendidos, assim com o tatos distorcidos sobre
improdutividade (e.g. “alguma coisa deu errado para eu não ter ido bem” ou “eu é que
R E G
José
Muitos reforçadores importantes, presentes ao longo de sua vida, foram diretamente
produzidos por seus comportamentos e não teriam sido obtidos de outra forma. José não
recebia coisas “de graça", ao mesmo tempo em que tinha em seu pai um exemplo de
alguém que "se virava" para conseguir o que queria. A responsabilidade pelos irmãos mais
novos incluindo o controle sobre eles, ter arcado com as conseqüências dos seus atos, ter
que se virar para obter dinheiro e o êxito do pai que era um modelo para José, favoreceram
a seleção de comportamentos de ter iniciativa, ser responsável por si e pelos outros, tomar
decisões, ser persistente, ser obsessivo, etc. Estas experiências contribuíram para que
José se tomasse eficiente naquilo que fazia e por conseguinte se habituasse a centralizar
e controlar tarefas nas quais estivesse envolvido. Regras do tipo “se eu não fizer, ninguém
fazne “os outros não vão fazer bem como eu faço" foram facilmente estabelecidas e também
Conclusão
Este texto pretende mostrar o alcance que a análise funcional do comportamento
pode ter no contexto clínico. Apesar da semelhança topográfica dos comportamentos
que caracterizam o quadro clínico nos três casos diagnosticados como Transtorno do
Pânico, as interpretações e intervenções foram diferenciadas. Os processos de exposição
gradativa para dessenbilização ou contracondicionamento continuaram, porém não
apenas com objetivos respondentes, mas sim, visando selecionar novos repertórios a
partir do contato com as novas contingências. As situações em que deveria haver
exposição também foram específicas para cada cliente e identificadas somente após
uma análise m olar da vida de cada um, tal como foi aqui apresentada. O
autoconhecimento foi um recurso básico e indispensável nas três condições. As
estratégias e o raciocínio propostos pela ACT (Hayes, Strosahl & Wilson, 1999) se
adequaram a todos os casos, já que muitos dos recursos envolviam entrar em contato
com condições aversivas que normalmente produziam esquiva e que seriam
necessárias para se acessar reforçadores importantes na vida da pessoa.
O modelo funcionalista na clínica se enquadra dentro de uma visão
multideterminista do comportamento conforme proposto por Skinner (1953). As estratégias
utilizadas em cada caso foram bastante eficazes na remissão do quadro clínico inicialmente
apresentado por eles, ampliando também os repertórios comportamentais de todos.
‘ Uma intervenção muita mais compatível com a anáise do comportamento do que com um modeto cognitivo de intervenção, como por
exemplo, a técnica desenvolvida porBeck, óe reestruturação cognitiva (Costa, 2002).
Referências
introdução
A Terapia Cognitivo-Comportamental é conhecida por ser uma abordagem com
limitação temporal e objetivos claramente estabelecidos (Hawton, Salkovskis, Kir & Clark,
1997), voltada para o presente e que envolve uma relação cooperativa entre cliente e terapeuta.
Segundo Franks ( 1996) há uma inclinação do público em geral a considerar a
terapia comportamental como um “conjunto de poderosas, e potencialmente danosas,
técnicas para o estímulo da conformidade e o controle do comportamento humano,
sem consideração com os direitos e os sentimentos dos demais" (pâg 19).
Entretanto, alguns autores (Evans, 1985, Voetz e Evans, 1983 apud Godoy, 1996)
diferenciam a terapia e a avaliação comportamentais em dois modos: um enfoque centrado
no problema e um enfoque construtivo ou sistêmico. No primeiro caso, o objetivo é classificar
os comportamentos-problema e indicar o tratamento mais adequado e que elimine o
problema. No enfoque construtivo, o objetivo da terapia é mais global: ajudar o cliente a
tomar conhecimento da funcionalidade de seus comportamentos e modificar muitas classes
de comportamentos em muitas situações, de forma que o indivíduo desenvolva uma nova
maneira de se relacionar com o ambiente. Trata-se de instrumentalizar o cliente para que
esse possa dispor de uma série de ferramentas mais adaptativas em sua vida diária.
A terapia ou psicoterapia comportamental de autoconhecimento visa a
descoberta da funcionalidade dos comportamentos da pessoa de modo abrangente:
sua forma de agir, de pensar e sentir, diante de situações específicas de patologia e
diante de qualquer outro contexto de relações com o ambiente; não visa controle
específico de sintomas, embora possa eventualmente fazer focalizações. Acredita-se
que a melhora nos sintomas ou a solução de um dado problema específico possa
decorrer da auto-descoberta e da reaprendizagem de novas relações.
Para Skinner (1974), o autoconhecimento está intimamente vinculado à
comunidade verbal, pois o relato de algo vivenciado de maneira encoberta ou interna é
produto de contingências verbais especiais, organizadas por uma comunidade. Nesse
sentido, o autoconhecimento possui uma origem social. Por exemplo, quando uma
criança se machuca fisicamente, a mãe pode verbalizar algo como “Isso dói’ ou “Que
’ lwapontes@oomtxylatreritotamano.coni
* dsantoroíSinackerttie ccm br
Apresentação do caso
A. tem 37 anos, é natural de Pamaíba, Piauí, é solteira, mora sozinha e mantém
um relacionamento homossexual há 20 anos. Tem sete irmãos, sendo 3 mulheres e 4
homens. Trabalha no ramo de pesca há 20 anos, sendo funcionária desta empresa
desde o início da mesma.
A. veio para São Paulo aos 17 anos, em busca de melhores condições de vida.
Inicialmente morava com um de seus irmãos numa favela no bairro do Grajaú. Nesta
época já havia iniciado um relacionamento homossexual na sua cidade natal, e a
namorada ficou no nordeste. Conseguiu seu primeiro emprego trabalhando como
vendedora numa loja de produtos do norte (Casa do Norte). Um de seus clientes, dono
de uma loja de produtos para pesca, admirado com as habilidades de venda da paciente,
convidou-a para trabalhar em sua loja. Ela aceitou e aos poucos, o dono da loja foi
incentivando-a a alugar um imóvel e sair da favela. Ele a ajudou muito, inclusive
comprando móveis para sua casa. Por diversas vezes sua namorada pedia para que
ela deixasse o emprego para ir visitá-la e assim fez a cliente em duas ocasiões. Após
retornar a São Paulo e conseguir um novo emprego, rompeu com a namorada, pedindo
para que seu irmão não desse notícias suas para a namorada, pois esta eventualmente
exigiria que ela largasse o emprego novamente para visitá-la e A. procurava estabilidade
profissional. Ficou cinco anos sem contato algum com a namorada.
Em um campeonato de pesca conheceu um dos funcionários dà rede de lojas em
que trabalhava por ocasião dos atendimentos e recebeu um convite para trabalhar lá. A loja
estava para falir quando foi comprada por um empresário que expandiu o negpdo. A paciente
é funcionária dessa rede de lojas há 10 anos. Aos poucos conseguiu economizar para comprar
seu próprio apartamento. Nas entrevistas afirmou gostar do trabalho, sentir-se realizada com
Referências
Josafá M. Cunha: Psicólogo pela UFPR, aluno do Programa de pós-graduação em Educação (Mestrado) da UFPR. toaafasiaqmalLcom
Lidiâ N O Weber: Mestre e Doutora em Psiootogia Experimental pela USP, Professora da Graduação em Psicologia e da Pós-graduação em
Educação da UFPR, Coontenadtra do Núcleo de Análise tfc>Comportamento, www.nac.ufbr brflldiaw lkSa@ufar.br
* Os dados desta pesquisa foram coletados porGiaraha Piazetla pare seu trabalho de condusâo cte curso de FSIcologla da UFPR, orientado
pela primeira autora
Características do bullying
Nansel e cols. (2001) conduziram um amplo estudo para investigar a prevalência
da vitimização entre pares, envolvendo 15.686 estudantes entre o 6o e 10° anos escolares,
encontrando que 29,9% dos estudantes estavam envolvidos diretamente em eventos de
vitimização, sendo 13% como agressores, 10,6% como vítimas e 6% como vítimas-
agressores. Um estudo multinacional envolvendo 24 países ocidentais (King, Wold, Tudor-
Smith & Harel, 1996), investigou o bullying entre adolescentes de 13 a 15 anos, sendo
que o comportamento de agredir a outros ao menos uma vez no último período foi relatado
por 40% ou mais das garotas em 11 países, e 40% ou mais dos garotos em 20 países.
No contexto brasileiro, Lopes e Saavedra (2003) conduziram uma pesquisa com
uma amostra de 5.875 estudantes de 5a a 8a Série do Ensino Fundamental. Destes 40,5%
relataram envolvimento direto em bullying, sendo 16,9% como vítimas, 12,7% como
agressores e 10,9% como vítimas-agressoras além de 57,5% admitirem testemunhar o
bullying, sendo que o principal local para o assédio seria a própria sala de aula.
Destaca-se uma crescente mobilização contra a violênda escolar em diversos países
(Espelage & Swearer, 2003), sendo que um possível catalisador para esse fato seriam
algumas formas de violênda esiudaníil relacionadas ao bullying como os ataques armados
de estudantes a seus pares, e o assédio sexual entre estudantes. Uma pesquisa investigando
os estudantes que realizaram ataques com armas de fogo em suas escolas aponta que 71%
destes haviam sido vitimizados por seus pares (Vossekuil, Fein, Reddy, Borum & Nidzekesjum,
2002), enquanto que DeSouza & Ribeiro (2005), trabalhando com estudantes brasileiros,
observaram uma relação positiva entre o bullying e o assédio sexual, para ambos os gêneros.
Existe uma forte interação entre características individuais e sociais no
desenvolvimento do bullying (0 ’Connel!, Pepler & Craig, 1999). A empatia, por exemplo,
desempenha um importante papel em relação ao relacionamento entre pares, sendo que
estudantes com níveis mais altos de empatia atribuem um valor negativo ao bullying, agredindo
menos a outros (Endresen & Olweus, 2001). Por outro lado, caso haja suporte sodal para
comportamentos agressivos entre pares, atribuindo-se a estes um valor de “parte normal e
aceitável do cresdmento", este tende a aumentar em freqüência (Endresen & col., 2001).
Quanto ao gênero, pesquisas demonstram que garotas utilizam principalmente
formas indiretas de agressão, enquanto garotos estão mais comumente envolvidos em
agressões diretas (Olweus, 1993, Espelage & Swearer, 2003; DeVoe & Kaffenberger, 2005).
Ao investigar a influênda do contexto escolar sobre a inddênda da vitimização entre
pares, Ma (2002) observou que escolas caracterizadas por ações disciplinares positivas, forte
envolvimento dos pais e padrões altos de rendimento escolar tem menor inddênda de bullying.
Quanto à utilização da punição para redução da vitimização entre pares, DeSouza & Ribeiro
(2005) encontraram entre estudantes brasileiros um aumento na inddênda do bullying quando
os estudantes do sexo masculino tinham a perspectiva de serem punidos ao comportarem-
se dessa maneira sendo que os autores, sendo que a explicação de seria a necessidade dos
garotos afirmarem sua independência e identidade ao desafiar seus professores (Moffitt,
Efeitos do B u líying
Olweus, Limber e Mihalic (1999) observaram uma relação significativa entre o
bulíying e o comportamento anti-social, sendo que 60% dos garotos identificados como
agressores no período entre o 6o e 9o anos escolares foram condenadas por pelo
menos um crime quando adultos, comparados com 23% dos garotos que não praticaram
bulíying. Este traço foi definido por Farrington (1993) como “tendência antisocial” dos
estudantes que vitimizam seus pares. Alguns autores (Espelage & col., 2003; Juvonen,
Graham & Schuster, 2006) destacam os ganhos para o agressor o aumento de sua
fama, prestígio ou bens, conquistados à custa da vítima ou grupo vitimizado, sendo que
em diversos estudos foi demonstrado que os agressores são oriundos dos mais diversos
contextos familiares e sociais (DeVoe & Kaffenberger, 2005).
O bulíying também é considerado um fator de risco para transtornos psicológicos
durante a adolescência. Salmon, James e Smith (1998) apontam que estudantes que vitimizam
seu colegas têm níveis mais altos de depressão, embora seu nível de ansiedade seja igual
ou mesmo menor que o de seus pares. Em um estudo conduzido entre adolescentes
finlandeses a ansiedade, depressão e outros sintomas psicossomáticos foram mais
freqüentes entre vítimas-agressoras (Kaltiala-Heinom, Rimpelà, Rantanen & Rimpela, 2000).
No mesmo estudo, o abuso de álcool e outras substâncias caracterizaram os agressores e
as vítimas-agressoras. Entre as garotas foi encontrada uma relação significativa entre
transtornos alimentares e a participação no bulíying, em qualquer papel, enquanto que para
os garotos essa relação ocorreu somente no grupo das vítimas-agressoras.
Crianças e adolescentes que desempenham concomitantemente o papel de
vítimas e agressores são os menos populares em seu grupo de pares, sendo tanto
alvos de provocações quanto provocando outros com freqüência (Olweus, 1993).
Kumpulainen e cols. (1998) observaram que as vítim as-agressores são
caracterizadas por níveis mais altos de distúrbios psiquiátricos, incluindo hiperatividade.
A queles que são somente vítim as ca racterizaram -se p rin cip a lm e n te por
comportamentos de internaiizaçâo, com anedonia, oposto ao com portamento de
extemalização encontrados para os agressores. Nesse mesmo estudo foi encontrada
uma maior probabilidade de encaminhamento psiquiátrico para vítimas-agressores,
sendo esta probabilidade aumentada em 6,5 vezes para meninos e 9,9 v e z e s para
meninas, em relação ao grupo não envolvido em bulíying.
As características dos indivíduos que se envolvem no bulíying como vítimas e
agressores sugererem que eles têm uma personalidade instável, caracterizada por alto
nível de ansiedade (Guerin & Hennessy, 2002), maior até mesmo que o das vítimas. Um
exemplo dos prejuízos para as vítimas são os resultados do estudo de DeVoe e Kaffenberger
(2005), onde as vítimas apresentaram 1á% de chance de serem atacadas; 18% relataram
ter medo de serem atacados na escola às vezes; 15% estavam envolvidas em brigas
freqüentes, contra respectivamente 4%, 3%, 4% do grupo de estudantes que não sofria
A influência da família
Há várias décadas o estudo da interação entre pais e filhos, em especial a
influência dessa interação sobre o desenvolvimento das crianças e adolescentes, tem
sido importante objeto de estudo em psicologia (Salvador & Weber, 2005; Weber & Cunha,
2006). Durante as interações pais-filhos são observados comportamentos em que se
expressa afetividade, responsividade ou autoridade sendo que o conjunto de atitudes dos
pais em relação à criançg, é denominado estilo parental, o qual define o dima emocional
em que as práticas parentais se expressam ( Cecconello, Antoni & Koller 2003).
A literatura sobre o tema permite identificar duas dimensões distintas na interação
de pais e filhos: as práticas educativas e os estilos parentais. As práticas educativas
referem-se às estratégias utilizadas pelos pais para atingir objetivos, que pretendem
para os filhos, específicos em diferentes domínios (acadêmico, social, afetivo) sob
determinadas circunstâncias e contextos. O uso de explicações, de punições ou de
recompensas constitui exemplo dessas práticas. Weber, Salvador e Brandenburg (2006),
apontam que as práticas educativas têm se destacado por constituírem comportamentos
dos pais reforçados por modificações produzidas no comportamento dos filhos.
O estilo parental, por sua vez, refere-se ao padrão global de características da interação
dos pais, que geram um clima emocional. Ou seja, é uma classe de respostas dos pais mais
ampla, que é comum em várias ações e momentos (Weber, Brandenburg & Viezzer, 2003).
Alguns estudos apontam uma relação significativa entre o comportamento
agressivo e o ambiente familiar. Ambientes familiares caracterizados por disciplina
negativa tem sido associado positivamente com o desenvolvimento do comportamento
agressivo (Tolan & Loeber, 1993; Pinderhughes, Dodge, Bates, Pettit & Zelli, 2000),
sendo que as crianças agressivas seriam provenientes de um ambiente familiar
caracterizado por estilos parentais negativos (Rigby, 2003).
Olweus (1980), em um dos estudos pioneiros sobre a influência familiar sobre
a agressividade, sublinhou quatro fatores familiares que contribuiriam positivamente
para o comportamento agressivo em meninos: (1) negativism o materno, (2)
penmissividade materna para agressão, (3) uso de métodos de poder assertivo pelo pai
e mãe, destacando ainda (4) a temperamento do menino. Um estudo mais recente
(Flouri & Buchanan, 2003) demonst.ou ainda que o baixo nível de envolvimento do pai e
da mãe contribuiu significativamente e independentemente para o aumento da freqüência
do bullying em adolescentes de ambos os sexos.
M étodo
Participantes: 107 estudantes (61 sexo masculino, 46 sexo feminino) com
idades entre 11 e 15 anos (média=11,19), recrutados em turmas de 5a e 6a Série em
uma escola pública de Curitiba - PR.
Instrumentos: Utilizou-se a Escala de Agressividade e Vitimização (EAV) e a
Escala de Responsividade e Exigência (ERE), de Lambom e cols. (1991),
/
Sobre Com portam en to e Cognição
A EAV fof elaborada a partir da Escala de Agressividade de Orpínas e col. (2001),
consistindo em 18 itens sendo 10 relacionados a respostas agressivas emitidas pelo
adolescente, 08 relacionados à vitimização e um para investigar a segregação em
decorrência do bulíying. Os valores de consistência interna das subescalas de
agressividade foram altos e adequados para pesquisa, sendo que o alfa de Cronbach
destas foi respectivamente igual a 0,85 e 0,83. Em cada questão da EAV é solicitada a
freqüência de comportamentos praticados ou sofridos pelo participante durante os últimos
30 dias. Todas as questões referem-se a comportamentos entre pares que possam
ocorrer no contexto escolar sendo que foram incluídas formas de agressão direta e indireta
que podem resultar em prejuízo físico ou psicológico tanto para a vitima quanto para o
agressor. As respostas para cada item podem variar de 0 vezes a 6 ou mais vezes.
As Escalas de Responsividade e Exigência foram validadas para o contexto brasileiro
por Cosia, Teixeira & Gomes (2000), com base no trabalho de Lambom e cols. (1991). São
compostas por 16 questões, divididas em duas dimensões, a responsividade com 10 itens
e a exigência com 6 itens, sendo ambas avaliadas por um sistema Likert de 3 pontos.
Procedimento: Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Departamento
de Psicologia da UFPR. Ao realizar o contato com a escola explicou-se o objetivo e método
deste estudo, obtendo-se assim a autorização para aplicação no turno da tarde. As turmas
para aplicação foram selecionadas pela coordenação da escola, sendo que os estudantes
que aceitaram participar, após receberem informação sobre o trabalho, assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e responderam os questionários em saia
durante um tempo de aula (1° Agressividade e Vitimização e 2o Estilos Parentais).
Para a análise do bulíying foram computados os escores totais de cada sub-
escala e respectivas medianas na amostra para definir se os escores foram altos ou
baixos, excluindo-se aqueles que foram iguais à mediana. Na sub-escala de
agressividade, com um escore máximo possível de 60, a mediana foi igual a 7, e na
sub-escala de vitimização, com um escore máximo possível de 48, a mediana foi igual
a 11. Com base nestas informações o comportamento de agressividade e a vitimização
dos estudantes foram classificados nas categorias agressor, para estudantes com
escore alto em agressividade e baixo em vitimização; vítima, com escore baixo em
agressividade e alto em vitimização; vítima-agressora, com escores altos nas duas
dimensões e as testemunhas, com escores baixos nas duas dimensões.
Para a análise dos estilos parentais foi utHizado o procedimento similar ao realizado
na ECAVE com base nas medianas da amostra. A classificação dos estilos parentais foi
feita segundo critérios a seguir: pais com escore alto em ambas dimensões correspondem
ao estilo autoritativo; com escore baixo em ambas dimensões, ao estilo negligente; com
escore baixo em responsividade e alto em exigênda, ao estilo autoritário; com escore alto
em responsividade e baixo em exigênda, ao estilo indulgente. Para ampliar a análise sobre
a interação com os pais a amostra foi dividida por níveis em função dos escores de
responsividade e exigênda, separadamente. Assim, tanto para exigência quanto para
responsividade foram estabelecidos três níveis: baixo escore (abaixo do percentíl 40), médio
escore (entre os percentis 40 e 60) e alto escore (acima do percentíl 60).
O processamento de dados e os cálculos estatísticos foram realizados por
meio do programa Statistícal Package for the Social Sciences (SPSS 11.0).
Resultados e discussão
Inicialmente serão analisados separadamente os estilos parentais e prindpalmente
as categorias de bulíying, e a seguir serão analisadas as relações existentes entre os estilos
Estilos parentais
Para os estilos parentais, analisados a partir das Escalas de Responsívidade
e Exigência, as freqüências obtidas mediante os escores combinados do pai e da mãe
foram 36,5% autoritativos; 35,1% negligentes; 14,9% autoritários e 13,5% permissivos.
Observa-se portanto uma proporção efevada tanto do estilo mais adequado
quanto do pior estilo, respectivamente autoritativo e negligente, sendo que essa
distribuição está de acordo com achados de outros estudos sobre estilos parentais
(Lambom & cols., 1991; Costa & cols., 2000, Weber& cols., 2003). Pais autoritativos são
caracterizados por altos níveis de exigência e conttole, mas também são comunicativos,
em páticos e envolvidos com seus filhos, resultando no d e se n vo lvim e n to de
comportamentos adequados como por exemplo habilidades sociais, auto-estima e
otimismo (Costa & cols., 2000; Pettit & cols. 2001, Weber & cols. 2003). Já os pais
negligentes são caracterizados como não envo/vidos e não exigentes, sendo que esse
estilo parental é considerado um fator de risco para a criança (Weber & cols., 2003).
Categorias de bullying
Com base nos dados obtidos na EAV os participantes foram categorizados de
acordo com os escores nas dimensões de agressividade e vitimização, ressaltando o
principal papel desempenhado por cada participante nas suas interações com pares,
sendo que as freqüências foram de 17.3% como agressores; 17,3% como vítimas;
32,7% como vítímas-agressoras e 32,7-% como testemunhas.
Conforme outros estudos realizados no Brasil (Lopes & col., 2003) observou-se uma
freqüência elevada de comportamentos agressivos e vitimização entre estudantes. Entretanto,
ao reconhecer que o bullying ocorre com fireqüênda em uma escola não se deve concluir que
a escola seja um loca! de risco para o crime ou violência. Um estudo publicado pelo Center for
Disease Controt and Prevention (2001) destaca que menos de 1 por cento de todos os
homicídios entre crianças e adolescentes estão relacionados à escola.
Género e bullying
Foi observada uma relação significativa entre gênero dos participantes e escore
de agressividade (t=3,905; p<0,001), com os meninos mais agressivos que as meninas,
corroborando o trabalho de DeSouza & Ribeiro (2005) entre estudantes brasileiros. Há
também uma relação significativa entre as categorias do bullying e gênero, sendo que
na Figura 1 pode-se observar claramente a prevalência de meninos entre os agressores
e de meninas entre as vítimas.
Segregação
A freqüência de estudantes que evitaram alguma vez contato com um estudante
que foi vítima de bullying por medo de tomarem-se novas vítimas foi igual a 26%. Foi
observada uma relação significativa entre relação significativa o comportamento de evitar
contato com as vítimas do bullying e os,escores de agressividade (r= 0,326; p<0,001) e
vitimização (r= 0,446; p<0,001), sendo que este resultado parece indicar que, com base em
sua experiência, tanto as vítimas quanto os agressores buscam esquivar-se de situações
/
Sobre Com portam cnlo e Cognição
em que possam ser vitimizados, sendo que as vítimas em particular sofrem com a ansiedade
e medo quanto a seu próximo evento de agressão {Mahady; Craig & Pepler, 2000).
É importante notar que um dos objetivos do agressor no bulíying é o ganho de poder
à custa de outro indivíduo, infligindo alguma forma de sofrimento (Olweus, 1993), sendo que
a segregação dos estudantes que são vitimizados é um colateral deste comportamento.
Assim, a intervenção nestas situações deve ir além da resolução de conflitos entre vítimas e
agressores, devendo também levar em consideração a indusão social das vítimas.
Referências
Akiba, W., (2004). Ijime: bullying in Japan, International Journal of Educational Research, 41, 216-236.
Balòry, A.C. (2003). Bullying in schools and exposure to domestic violence, Child Abuse S Neglect
(27), 713-732.
Cecconello, M., De Antoni, C. & Koller, S. H. (2003). Práticas educativas, estilos parentais e abuso
físico no contexto familiar. Psicologia em Estudo, 8, 45-54.
Center for Disease Control and Prevention (2001). School health guidelines to prevent unintentional
injuries and violence. Morbidity and Mortality Weekly Report, 50 (RR-22).
Costa, F.T., Teixeira, M.A.P. & Gomes, W.B. (2000). Responsividade e exigência: duas escalas para
avaliar estilos parentais. Psicologia: Reflexão e Crítica, 13 (3), 46-52.
Lidia N.D. Weber; Mestre e Doutora em Psicologia Experimental pela USP, Professora da Graduação em Psicologia e da Pós-graduação em
Educação da UFPR, Coordenadora do Niideode Análise do Comportamento, www.nac.ufty brfflflaw lldiafòufpr br
Josafá M. Cunha: Psicólogo pela UFPR. aluno do Programa de piVt-gradi laçflo erwEducacÃo (Mestradot da UFPR tosatost&qrfiall com
Venitíus F. Moura: Psicóloga pela UFPR
348 Lidia NaUlia Dobm nskyj Weber, Josafi Moreira da Cunha t Venlciui Fernando Moura
Fatores de risco e proteção para o com portam ento anti-social
Diferentes pesquisas mostram a existência de múltiplos fatores que.influenciam
a agressividade e o comportamento anti-social na infância e na adolescência, como por
exemplo, a interação familiar e as práticas educativas (Barfcer & Òlsén, 1997; Feinberg,
Howe, Reiss & Hetherington, 2000; Marinho, 1999; Reid & çot$., 2002) a situação
socioeconômíca desfavorável e viver em comunidades violentas (Dodge, Pettit e Bates,
1994; McLeod, Kruttschnitt, Dornfeld, 1994; Patterson & cols., 1992) e outras variáveis do
contexto, como a mídia (Paik & Comstock, 1994).
Estudiosos da ciência do comportamento humano têm trabalhado
sistematicamente, nas últimas décadas para identificar os determinantes do comportamento
anti-social presentes na infância e na adolescência, o qual pode ter seu curso prolongado
na vida adulta (Dekovic, Janssens & Van As, 2003; Marinho, 1999; Mayer, 1995; Patterson,
DeBaryshe & Ramsey, 1989; Patterson & cols., 1992; ReppokJ & cols., 2002).
Patterson e cols. (1992), a partir de diversos estudos desenvolvidos no Oregon
R esearch In stitu te descreveram um modelo de desenvolvimento seqüencial do
comportamento anti-social dividido em quatro fases principais: (1) o treinamento básico para
padrões de comportamentos anti-sodais se inida em casa a partir de uma disciplina ineficiente
dos pais, o que permite uma troca coercitiva entre a criança e os demais membros da família;
(2) na idade escolar, os comportamentos anti-sociais ou coercitivos aprendidos no lar colocam
a criança sob risco de fracasso acadêmico (devido à desobediênda e esquiva de ordens por
parte da criança) e de rejeição pelos colegas (provocada por comportamento agressivo e
coercivo) e até mesmo pelos pais; (3) estes fatores aumentam a probabilidade da criança se
envolver com grupos de “rejeitados“, cometendo atos negativos contra a escola e rebelando-
se contra a autoridade dos adultos; (4) as crianças que seguem esta seqüência de
desenvolvimento, se não tratadas, têm alta probabilidade de apresentar problemas de
adaptação na vida adulta, problemas no emprego, no casamento, uso de drogas, detenção
por crimes ou desordens mentais, entre outros. Dez anos após o lançamento deste trabalho,
a equipe do Oregon Research institute lança um novo e amplo trabalho (Reid & cols, 2002)
sobre o desenvolvimento do comportamento anti-social, reafirmando os princípios básicos
do modelo citado além de apresentar algumas possibilidades de intervenção.
Desta forma, os aparentes atos coercitivos "inofensivos" observados na interação
da criança com a sua família são os protótipos dos comportamentos anti-sodais presentes
na adolescênda (Patterson & cols., 1992). Os indivíduos que apresentam comportamentos
anti-sociais aprendem a comportar-se desta forma, em suas interações familiares, à medida
que suas ações são freqüentemente reforçadas negativamente, ou seja, seus atos produzem
como conseqüência a remoção de eventos aversívos e ameaçadores (Sidman, 1995).
O comportamento anti-social é uma queixa muito freqüente e não apresenta
bom prognóstico, sendo que as crianças que inicialmente mostram altas taxas de
comportamento anti-social estão mais sujeitas a persistirem neste comportamento
comparando-se às crianças que apresentam baixas taxas (Loeber, 1982). A maioria dos
casos não tratados evolui para a delinqüência na adolescência e transgressão na vida
adulta (Marinho, 1999; Reid & cols, 2002).
O uso da punição corporal é freqüentemente encontrado na literatura assodado a
comportamentos anti-sodais em crianças (Gershoff, 2002; Grogan-Kaylor, 2005; Patterson &
cols., 2002; Weber, Viezzer & Brandenburg, 2004). Brenner e Fox (1998) analisaram a relação
entre as práticas parentais e problemas de comportamento em crianças, e os achados
indicaram que a o uso de punição verbal e corporal é um forte preditor de tais problemas.
350 Lidia Natalia Dobrianskyi Weber, Joajià M otw ra da Cunha e Vcnlmis Fernando Maura
Farringtorr, 2004; Thomberry, Freeman-Gallant, Lizotte, Krohn, & Smith, 2004). Segundo
Marinho (1999), quando pais anti-sodais, ou com fraca capacidade de manejo da criança,
são colocados diante de lím.estresse agudo e prolongado, as rupturas familiares
decorrentes desta exposição colocam a criança em situação de risco, sendo que a
disciplina parental inadequada representa um mecanismo importante na transmissão
do comportamento anti-social de uma geração a outra.
Além das práticas parentais inadequadas, os conflitos conjugais relacionam-
se com a agressividade nos filhos (Hart, Nelson, Robinson, Olsen & McNeilly-Choque,
1998; Katz & Gottmah, 1993). Webster-Stratton e Hammond (1999) realizaram um estudo
que analisou a influência dos conflitos conjugais sobre os problemas de conduta nos
filhos e constataram que os problemas na relação com os pares e com os pais estão
relacionados com úm manejo negativo dos conflitos conjugais, juntamente com uma
atitude crítica dos pais em relação aos filhos, além de baixa responsividade emocional.
O baixo status socioeconômico é também um fator de risco para comportamentos
agressivos em crianças, sobretudo pelas experiências de socialização predispostas
nestes meios, como a exposição à disciplina hostil, baixo envolvimento materno, convivência
com adultos agressivos, estressores familiares, fafta de apoio social materno, influência
de grupos desviantes, entre outros (Dodge & cols., 1994; Magnuson, & Duncan, 2002).
Silva e Hutz (2002) ressaltam que a presença de atividades ilícitas (como o tráfico
de drogas), o vandalismo e um clima de permissividade com a violência, presentes em
comunidades carentes, tornam essas áreas inadequadas para um desenvolvimento
saudável das crianças e dos adolescentes, dificultando a tarefa das famílias de protegerem
e cuidarem de seus filhos. A dificuldade financeira, o desemprego e a dificuldade em
ingressar no mercado de trabalho reduzem o envolvimento parental e aumentam a
probabilidade de utilização de disciplina inadequada (Cecconello, Antoni & Koller, 2003).
Eamon e Mulder (2005) realizaram um estudo buscando analisar os preditores do
comportamento anti-social entre adolescentes latinos, e encontraram que jovens do sexo
masculino, que viveram boa parte das suas vidas na pobreza, exibiram maiores índices de
comportamento anti-social e revelaram significativa influência de pares desviantes.
Conforme já foi ressaltado, o impacto da pobreza e da violência comunitária representa
um fator de risco para o comportamento anti-social e para a delinqüência. Entretanto deve-se
destacar o fato de que muitas crianças com condições adversas em suas experiências não
se tomam delinqüentes, enquanto outras, mesmo com boas condições no ambiente famíiar,
chegam a cometer crimes (Erickson, 1998; Formiga & Gouveia, 2005).
Em relação às diferenças entre os gêneros, muitas pesquisas têm apontado
que na adolescência os meninos apresentam maiores índices de comportamentos
anti-sociais, agressivos e delinqüentes do que as meninas, além de maior predisposição
ao abuso de álcool e drogas (Keung, 2005; Kim, 2005). Lier, Vitaro, Wanner, Vuijk e
Crijnen (2005) constataram diferenças entre os gêneros no desenvolvimento de
comportamento anti-social, pesquisando crianças de ambos os sexos com trajetórias
elevadas, moderadas e baixas deste padrão de comportamento. Os autores destacani
que apenas os meninos persistiram com uma trajetória elevada de comportamentos
anti-sociais, enquanto uma minoria das meninas seguiu uma trajetória moderada.
Adolescentes de ambos os sexos com maior envolvimento com pares desviantes
estão mais propensos a apresentarem comportamentos anti-sociais (Heinze, Toro &
Urberg, 2004). Farrell e White (1998) apontam que a pressão dos pares também é um
fator importante para o uso de drogas entre os adolescentes, principalmente quando há
a falta do pai oü padrasto, e problemas emocionais por parte da mãe.
Possibilidades de intervenção
Para modificar o comportamento anti-social ou o comportamento agressivo é
fundamental levar em consideração o contexto social no qual as crianças vivem (Reid,
Patterson & Snyder, 2002).
A atuação de uma equipe multidipiinar faz-se necessária, porém, o papel do
psicólogo tem fundamental importância para a prevenção e intervenção de comportamentos
anti-social. Neste sentido, o profissional pode atuar desde a realização de trabalhos junto à
comunidade, como os grupos de orientação para pais (Marinho, 1999; Weber, Salvador &
Brandeburg, 2005), bem como intervir junto às crianças e adolescentes que apresentam
tais problemas comportamentais, seja através de tratamento psicológico (Kazdin & Wassell,
2000; Silva & col., 2002) ou trabalhos realizados no campo das habilidades sociais que
visam desenvolver comportamentos pró*sociais incompatíveis com esses comportamentos
socialmente indesejados (Caballo, 2003; Marinho & Caballo, 2002).
M étodo
Participantes: 120 estudantes de uma escola pública situada na periferia de Curitiba-
PR, sendo 73 do sexo masculino e 47 do sexo feminino, com idades entre 14 a 17 anos.
Instrumentos: foram utilizados dois instrumentos: Escalas de Qualidade de
Interação Familiar (EQIF) de Weber, Viezzer e Brandemburg (2006) e um questionário
sobre comportamentos anti-sociais, elaborado para o presente trabalho. O instrumento
EQIF é composto por 50 questões, avaliadas por um sistema Likert de cinco pontos,
distribuídas em dez dimensões da interação familiar: relacionamento afetivo, envolvimento,
regras e monitoria, punição corporal, comunicação positiva dos filhos, comunicação
negativa, modelo, sentimento dos filhos, clima conjugal positivo e clima conjugal negativo.
O questionário de comportamentos anti-sociais é composto por oito itens que investigam
a freqüência de comportamento anti-social (desobedecer aos pais, mentir, ameaçar ou
intimidar, agredir fisicamente, envolver-se em brigas de gangues, matar aula, destruir
propriedade, roubar ou furtar) e um item sobre consumo de drogas ilícitas. Todos os itens
do questionário são avaliados por um sistema Likert de 3 pontos.
Procedimento: Após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética do Departamento
de Psicologia da UFPR, realizou-se contato com a escola selecionada por localizar-se em
conhecida por elevada taxa de criminalidade, e conseqüentemente, uma região de risco
para desenvolvimento de comportamentos anti-sociais (Teixeira, 2005). Com a autorização
da direção da escola, realizou-se a seleção da amostra, sendo a participação voluntária e
anônima sendo que todos os participantes, após orientação sobre a pesquisa, assinaram
o Termo de Consentimento Esclarecido e Informado. Os participantes responderam
coletivamente aos questionários na própria escola durante o tempo de aula.
Análise dos dados: As escalas de qualidade de interação familiar foram
analisadas por meio dos escores totais de cada dimensão através do programa
Statistica! Package forthe Social Sciences (SPSS). Os resultados em cada uma das dez
dimensões foram distribuídos em três categorias através dos quartiles 25 e 75 (1=baixo
352 Lídia Natalia Dobrian*fcyj Webw, Josafá M oreira da Cunha e Ventcius Fernando Moura
escore; 2-médio escore; 3=alto escore) e relacionadas (testada pelo toste de qui-
quadrado) com as respostas sobre comportamentos anti-sociais, variáveis gênero,
estrutura familiar e freqüência de consumo de drogas ilícitas.
Resultados e discussão
Primeiramente são apresentados os principais dados sobre os comportamentos
anti-sociais investigados. A seguir, a relações entre os comportamentos anti-sociais e as
dimensões da Escala de Qualidade de Interação Familiar (EQIF) são discutidas. Após expõe-
se a relação dos comportamentos anti-sociais com o uso indevido de drogas, que por sua vez
apresenta forte relação com diversas manifestações do comportamento anti-social.
Boa parte dos adolescentes entrevistados relataram a emissão de diferentes
comportamentos anü-sodais (Figura 1). Uma possível explicação para este fato é a condição
socioeconômica da amostra somada à elevada criminalidade relatada na região (Teixeira,
2005), sendo que a combinação desses fatores contribui significativamente para o
desenvolvimento de comportamentos anti-sociais (Silva & Hutz, 2002; Eamon & Mulder, 2005).
Tabela 1. Valores do teste qui-quadrado e percentuais para a relação entre comportamento anti
social com relacionamento afetivo
E n v o iv ím e n to
C o m portam e ntos F req B a ix o M é d io Altò
antl-soclals % % % (g .i-4 )
D e sobe dâ ce ra o s Nunca ■>1.1 2 3, 1 33.3 17,422'
pais Às vezes 44 A 51 .5 63 .3
Sempre 44,4 1 5 ,4 3.3
T otal 100 100 10 0
M entir Nunca 1 1 ,1 5 0 .0 60,0 20,478“
Às. v e ? e s 51 rô 36,5 36,7
Sem pre 37.0 1 3. 5 3.3
T otal 100 100 100
Am eaçar ou Nunca 3 3,3 73, 1 S3 ,3 20,012"'
Intlm idar À s vez es 51 ,9 1 5 ,4 13.3
Sem pre 14,8 1 1 .5 3 ,3
Tota \ 100 1 0Û 100
Agredir N un ca 2 5.9 4 0 ,4 60,0 8,790
fisicamente Às vezes 29.6 28.6 26,7
Sem pre 4 4.4 3 0.8 ^ 3,3
TotaF 100 100 100
E nvoIv&r-se dm N unca 51 ,9 69.2 8 6,7 9.771 *
b r i g a s d« A s véZêâ 1 4, £ 9,6 10.0
gangues Sem pre 33,3 21 r2 3 .3
Tota 1 1 00 100 100
M atar auta N un ca 3 7,0 6 3 ,5 5 3 ,3 6 ,0 4 8
Àa v e r e s 1 1 ,1 1 5 ,4 1 0,0
Sem pr e S1 ,9 21 ,2 3 6.7
T o ta l 100 10 0 100
Destru Ir Nunca 40,7 80 .8 Q3.3 23.873**
propriedade À a veres 33 ,3 7,7 6.7
Sem pre 2 5.$ 1 1.5
T otal 10 0 10 0 1C0
R o u b a r ou fu r ta r Nunca 4 4 ,4 B2 ,7 10 0,0 2 6.982**
Às vazes 33.3 1 1 ,5
Sem pre 22.2 5 ,6 -
T o ta l 100 100 100
* p < 0 105 ** p<0,001
Tabela 2 . Valores do teste qui-quadrado e percentuais para a relação entre comportamento anti
social com Envolvimento.
354 Lidia Natalia Dobrtaníkyj Wcber, josafâ Moreira da Cunha c Venícius Fernando Moura
Estes achados da Tabela 2 estão de acordo com a literatura sobre fatores de
risco e proteção para o comportamento ànti-social. O baixo apoio e envolvimento dos
pais estão associados a freqüências altas de comportamentos anti-sociais na
adolescência (Patterson & cols., 19SF2; Reid & cols., 2002; Simons & cols., 1998),
enquanto que o envolvimento dos pais na vida de seus filhos adolescentes, expresso
por meio de supervisão não-intmsiva é indicado como um dos fatores protetivos mais
fortes para os filhos (Dekovic & cols., 2003; Reppold & cols.; 2002; Weber, 2005).
Na análise da dimensão regras e monitoria (Tabela 3) este fator da interação
entre pais e filhos está relacionado negativamente e de forma significativa à freqüência
de todos os comportamentos anti-sociais investigados.
Rearas e monitoria
Comportamentos Freq. Baixo Médio Alto
anti-sociais % % % {g í.= 4)
Desobedecer aos Nunca 14,8 19,2 36.7 12,518*
Pais Às vezes 48,1 61,5 60,0
Sempre 37,0 19,2 3,3
Total 100 100 100
Mentir Nunca 11.1 51,9 56,7 19,227**
Âs vezes 51,9 36,5 36,7
Sempre 37,0 11,5 6,7
Totai 100 100 100
Ameaçar ou Nunca 33,3 73,1 03,3 23,214"
intimidar Às vezes 55,6 13,5 13.3
Sempre 11,1 13,5 3,3
Total 100 100 100
Agredir Nunca 22,2 44,2 56,7 10,049*
fisicamente
As v e z e s 29,6 26,9 30,0
Sempre 48,1 28,8 13,3
Total 100 100 100
Envolver-se em Nunca 40,7 80,8 76,7 19.160*'
brigas de Às vezes 14,8 5,8 16,7
gangues Sempre 44,4 13,5 6,7
Total 100 100 100
Matar aula Nunca 29,6 67,3 53,3 18,630**
Às vezes 7,4 17,3 10,0
Sempre 63,0 15,4 36,7
Total 100 100 100
Destruir Nunca 40,7 82,7 90,0 26,985“
propriedade Às vezes 22,2 11,5 10,0
Sempre 37,0 5,8 -
Total 100 100 100
Roubar ou furtar Nunca 40,7 86,5 96,7 34,072**
Às vezes 29,6 11.5 3,3
Sempre 29,6 1,9 -
Total 100 100 100
* p<0,05 ** p<0,001
Punição corporal
Comportamentos Freq, Baixo Médio Alto X2
anti-sociais % % % (g.i.=4)
Desobedecer aos Nunca 37,8 14,0 17,2 12,491*
pais As v ezes 43,2 74,4 51,7
Sempre 10,9 11,6 31,0
Total 100 100 100
Mentir Nunca 45,9 46,5 34,5 3.863
Ás v ezes 43,2 39,5 37,9
Sempre 10,8 14,0 27,6
Total 100 100 100
Ameaçar ou Nunca 64,9 76,7 51,7 6,019
intimidar Às vezes 21,6 16,3 37,9
Sempre 13,5 7,0 10,3
Total 100 100 100
Agredir Nunca 48,6 48,0 24,1 16,702*
fisicamente
Às vezes 29,7 34,9 17,2
Sempre 21,6 16,3 58,6
Total 100 100 100
Envolver-se em Nunca 67,6 79,1 58,6 7,451
brigas de Às vezes 13,5 11,6 6,9
gangues Sempre 16,9 9,3 34,5
Total 100 100 100
Matar aula Nunca 56,8 60,5 41,4 6,878
Às vezes 13,5 16,3 6,9
Sempre 29,7 23,3 51,7
Total 100 100 100
Destruir Nunca 74,4 65,5 74,4 7,208
propriedade Às vezes 16,2 14,0 10,3
Sem pre 2,7 11,6 24,1
Total 100 100 100
Roubar ou furtar Nunca 86,5 83,7 58,6 9,721*
Às vezes 5,4 11,6 27,6
Sempre 6,1 4,7 13,8
Total 100 100 100
* p<0,05 ** p<0,001
Tabela 4. Valores do teste qui-quadrado e percentuais para as manifestações do comportamento
anti-social com relação significativa com punição corporal.
356 Lidia N atai ia Dobrianskyj Wcber, Josafá Moreira da Cu rtia t Venlrius Fernando M oura
não-coercitivas em detrimento das coercitivas para o controle de comportamentos
inadequados dos adolescentes (Sidman, 1995). A punição gera subprodutos muito
negativos para aqueles que a vivenciam, como a “violência, agressão, opressão,
depressão, inflexibilidade emocional e intelectual, autodestruição e destruição dos
demais, ódio, doenças e estado geral de infelicidade" (Sidman, 1995).
Conforme dados da tabela 5, a dimensão comunicação positiva dos filhos
apresentou relações significativas e negativas com os comportamentos de desobedecer
aos pais, mentir, ameaçar ou intimidar, agredir fisicamente outros, matar aula, destruir
propriedade e praticar furtos ou roubos. Quando havia um percentual elevado de
comunicação positiva dos adolescentes com seus pais, a freqüência dos
comportamentos anti-sociais era baixa, sendo que a única exceção foi o envolvimento
em brigas entre gangues, para o quaf não foi encontrada relação significativa.
Comunicacâo positiva dos filhos
Comportamentos Freq. Baixo Médio Alto X2
anti-sociais % % % (g .i= 4 )
Desobedecer aos Nunca 11,1 17,6 41,3 2 6 ,2 3 1 "
pais Ás vezes 40,7 68,6 54,8
Sempre 48,1 13,7 3,2
Total 100 100 100
Mentir Nunca 14,8 49,0 58.1 18,024'*
Às vezes 48,1 37,3 38,7
Sempre 37,0 13,7 3,2
Total 100 100 100
Ameaçar ou Nunca 44,4 66,7 83,9 14,347*
intimidar Às vezes 48,1 19,6 9.7
Sempre 7,4 13,7 6,5
Total 100 100 100
Agredir Nunca 25,9 33,3 71,0 15,358*
fisicamente Às vezes1 33,3 33.3 16,1
Sempre 40,7 33,3 12,9
Total 100 100 100
Envolver-se em Nunca 66,7 60,8 87,1 6,680
brigas de As vezes 11,1 13,7 6,5
gartgues Sempre 22,2 25,5 6,5
Total 100 100 100
Matar aula Nunca 29,6 60,8 64,5 9,811"
Às vezes 14,8 11,8 12,9
Sempre 55,6 27,5 22,6
Total 100 100 100
Destruir Nunca 51,9 78,4 87,1 13,084*
propriedade Às vezes 25,9 7,8 12,9
Sempre 22,2 13,7 -
Total 100 100 100
Roubar ou furtar Nunca 59,3 78,4 93,5 9,949’
Às vezes 25,8 13,7 3,2
Sempre 14,8 7,8 3,2
Totai 100 100 100
* p<0,05 ** p<0,001
Tabela 5. Valores do teste qui-quadrado e percentuais para as manifestações do comportamento
anti-social com relação significativa com comunicação positiva dos filhos.
Comunicação negativa
Comportamentos Freq. Baixo Médio Alto X*
antisociais % % % (g-i-=4)
Desobedecer aos Nunca 31,3 28,6 8,6 7,967
pais Às vezes 50.0 59,5 62,9
Sempre 16,8 11,9 28,6
Total 100 100 100
Mentir Nunca 46,9 50,0 31,4 3.492
Ás vezes 34,4 38,1 48,6
Sempre 18,8 11,9 20,0
Total 100 100 100
Ameaçar ou Nunca 65,6 73,8 57,1 3,899
intimidar Às vezes 25,0 21,4 25,7
Sempre 9,4 4,B 17,1
Total 100 100 100
Agredir Nunca 43,8 50,0 31,4 7,065
fisicamente Às vezes 34,4 28,6 22,9
Sempre 21,9 21,4 45,7
Total 100 100 100
Envolver-se em Nunca 75,0 76,2 57,1 5,317
brigas de Às veies 12,5 9,5 11,4
gangues Sempre 12,5 14,3 31,4
Total 100 100 100
Matar aula Nunca 43,8 64,3 51,4 7,525
Às vezes 25,0 7,1 8,6
Sempre 31,3 28,6 40,0
Total 100 100 100
Destruir Nunca 71,9 08,1 60,0 9,128
propriedade Às vezes 12,5 9,5 20,0
Sempre 15,6 2.4 20,0
Total 100 100 100
Roubar ou furtar Nunca 64,4 85,7 62,9 8,106
Às vezes 6,3 9,5 25,7
Sempre 9,4 4,8 11,4
Tota! 100 100 100
* p<0,05 ** p<0,001
Tabela 6. Valores do teste qui-quadrado e percentuais para as manifestações
do comportamento anti-social com relação significativa com comunicação negativa.
358 Udía Nalàiia Dobrianskyj Weber, Josafi Moreira da Cunha e Venfcius Fernando Moura
dos pais para o desenvolvimento dos adolescentes. Entretanto, é importante ressaltar que os
pais também podem atuar como modelos aduttos agressivos na medida em que utilizam
métodos coercitivos para inibir seus filhos (Ferreira & Marturano, 2002; Sidman, 1995).
Modelo
Freq. Baixo Médio Alto X2
Comportamentos % % % (g.i-=4)
anti-sociais
Desobedecer aos Nunca 17,9 17,0 35,3 10,313*
pais Às vezes 46,4 68,1 52,9
Sempre 35,7 14,9 11,8
Total 10 0 100 100
Mentir Nunca 14,3 53,2 52,9 14,485*
Às vezes 53,6 36,2 35,3
Sempre 32,1 10,6 11,8
Total 100 100 100
Ameaçar ou Nunca 42,9 72,3 76,5 9,64 7*
intimidar Às vezes 42,9 19,1 14,7
Sempre 14,3 8,5 8,8
Total 100 100 100
Agredir Nunca 17,9 44,7 5R.8 16,359'
fisicamente
Às vezes 39,3 19,1 32,4
Sempre 42,9 36,2 8,8
Total 100 100 100
Envolver-se em Nunca 50,0 72,3 82.4 1 0,0 37 *
brigas de Às ve2 es 14,3 8,5 11,8
gangues
Sempre 35,7 19,1 5.9
Total 100 100 100
Matar aula Nunca 35,7 61,7 50,8 10,369*
Às vezes 7,1 12,8 17,6
Sempre v 57,1 25,5 23,5
Total 100 100 100
Destruir Nunca 53,6 72,3 94,1 16,931'
propriedade Às vezes 17,9 19,1 2,9
Sempre 28 ,6 8,5 2,9
Total 100 100 100
Roubar ou furtar Nunca 53,6 76.6 100,0 2 0, 7 6 7 * *
Às vezes 25,0 17 ,0 0
Sempre 21,4 6,4 0
Total 100 100 100
* p<0,05 “ p<0,001
Tabela 7. Vaíores do teste qui-quadrado e percentuais para as manifestações do comportamento
anti-social com relação significativa com modelo.
360 lid ia Natatia Dobrianikyj Wrt>«r, Jota fi M oreira da Cunha e V<nkhu Fernando M oura
C l i rn » c o n i u o a I D o s i t i v o
C q w p o rtâ m e n t o s F ra q . 5 a ix o U t d ío A ile
* I | ti -S OCl f i Ji % % ffl . 1 . 4 4 )
%
Oo^ôbedêtC f aos Nunta 1 9 ,4 22,C 2 8, 6 6.6 12
pa io As vazes 5 1. 6 56,0 6 7 .9
S«mpf# 2$,0 2 2.0
T o ia 1„ I CO . JOO 1 00
M 6 fitr' Nunca ■2 S , 0 ' M s .0 5 0 ,0 11 .7^9'
A s ve 35 ,5 42,0 42,9
Sampr« 35,S ‘ 10,0 7 ,1
Tet a! ,100 10 0 too
A m e s ça < o u Nunca 5 4 ,e * ; 7 2 ‘.0 6 7 .9 3,433
irt JirT» id 9 T , A& v € i 3 5 ; 5. • • t f l . O 2 1 .4
Ô € m p Ve 9,7' T t o v0 1 Q .7
Tot al too v 100 1 oo
A g re dir N i i n ca 32.3 • 50.0 3 9 .3 4 0 54
fi ç t c s m e n te Às v e t e & 38,7 20,0 32.1
S e m p re 29,0 30.0 2 a .6
T o ta 1 100 10 0 100
F n vfllv?r-s« e m N ií n c a 56.1 74 .0 1 h .0 3.04/
bri gas d e ÀÃ 1 8 ,4 e .o / .1
H a n g ti v s 5 e m p re 72.6 f 8. 0 1 7, 9
Total 100 100 1 Cl 0
fví a Í<3 r a y le Nunca 4 1 ,9 5 4 ,0 6 7 ,9 6.955
Às v a r a s 9,7 1 6,0 7. 1
S e m « '« 40,4 76,0 25.0
1 o ta \ 100 ?0 Ü \ 00
£ e $ i r u 'ií Nunca 5 1 ,6 7 8 .0 g ? .<? 14,500*
& f 0 p ri « d ® 4 « À s vezes 2 5,8 tü.o 7.!
S em pre 22.6 12,0
T o ta 1 10Q 100 1 00
R í u b f l f íti fartar N u n ce 64.5 74.0 100,0 12 ,4 16 '
Às v í i e s 19,4 1 e, o
S e fn p re < 6, 1 «, o
T út ai 100 100 10 0
4 p < 0 .0 5 * ' p <G ,00 1
362 Lidia Nalalw Dobrianskyj Weber, Josaf* M o td ra da Cunha e Venkius Fernando Moura
Conclusões
O objetivo do presente estudo foi investigar os fatores de risco e de proteção,
em famílias de comunidade carente, para a manifestação de comportamentos anti
sociais de adolescentes. Os resultados deste trabalho demonstram que as práticas
educativas e os demais aspectos da interação familiar percebidos pelos adolescentes
apresentaram , em sua maioria, relações significativas com a freqüência de
comportamentos anti-sociais relatados por eles.
Com exceção de comunicação negativa, foram observadas muitas relações
significativas entre as práticas educativas parentais e os comportamentos anti-sociais
relatados, e no caso das dimensões Modelo, Regras e Monitoria todas as relações
estabelecidas apresentaram diferenças estatisticamente significativas.
Os resultados deste trabalho indicam que quando adolescentes percebem
seus pais com uma qualidade da interação familiar positiva existe correlação negativa
com a emissão de comportamentos anti-sociais na adolescência.
Com base nos resultados, pode-se concluir que pais que demonstram afeto,
expressam apoio e participam da vida de seus filhos, estabelecem regras e supervisionam
o cumprimento das mesmas, reforçam o diálogo com os filhos, possuem uma relação
conjugal positiva e se apresentam como modelos morais adequados para os filhos
estão contribuindo para o desenvolvimento pró-social dos mesmos. A importância das
práticas educativas parentais positivas como protetores ao desenvolvimento do
comportamento anti-social é amplamente discutida na literatura (Dekovic & cols., 2003;
Patterson & cols., 1992; Reid & cols., 2002; Reppold & cols., 2002; Simons & cols., 1998;
Richards & cols., 2004). Em contrapartida, a falta dos aspectos supracitados aliada à
presença de um clima conjugal negativo e de punição corporal, estão relacionadas à
manifestação de comportamentos anti-sociais e agressividade na adolescência (Ferreira
& Marturano, 2002; Gershoff, 2002; Hart & cols., 1998; Maldonado & Williams, 2005;
Meneghel & cols., 1998; Silva & Hutz, 2002; Webster-Stratton & Hammond, 1999).
Foi observada uma forte correlação entre o consumo de drogas e diversos
comportamentos anti-sociais emitidos pelos adolescentes sendo que estes dois
comportamentos exercem forte influência recíproca (Adalbjamardottir & col., 2002; Gómez, 2001;
Juárez & cols., 1998) sendo que alguns comportamentos anti-sociais podem ser motivados
pela necessidade de consumir drogas, como no caso dos roubos e furtos (Bukstein, 2000).
Os adolescentes pesquisados constituem o que Patterson & cols. (1992)
denominaram como “amostra de risco", devido aos fatores de pobreza, violência e
crim inalidade presentes na comunidade em que vivem. Conforme já exposto
anteriormente, a situação socioeconômica desfavorável e viver em comunidades
violentas representam um fator de risco para a manifestação de comportamentos anti
sociais (Dodge & cols., 1994; Teixeira, 2005), o que tornam essas áreas pouco
adequadas para um desenvolvimento saudável das crianças e dos adolescentes (Silva
& Hutz, 2002). Levando-se em conta essas considerações e com base nos resultados
deste trabalho, pode-se inferir que o contexto socioeconômíco exerce forte influência,
mas não é um determinante do comportamento anti-social ou delinqüente.
Destaca-se a importância dos pais, que podem atuar tanto como um fator de
proteção para os filhos, sobrepondo-se às influências de um meio hostil ou violento em que
os adolescentes vivem, e também como fator de risco, contribuindo para o desenvolvimento
de repertórios anti-sociais nos seus filhos. Com isto em vista, ressalta-se a necessidade
de elaborar e difundir programas comurfitários de intervenção, com a finalidade de instruir
os pais acerca das práticas educativas mais adequadas (Marinho, 1999; Marinho & Caballo,
2002; Weber, Salvador & Brandenburg, 2005). Deste modo será possível prevenir e reduzir
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A criança está inserida no contexto familiar e escolar, onde ela deve desempenhar
diversos papéis, que são, por vezes, conflitantes (Marturano, 1999). Por um lado, tem-se a
família (especialmente os pais) como agente primário do desenvolvimento infantil, responsável
em transmitir as primeiras informações, crenças, valores e interpretações sobre o mundo
{Polonia & Dessen, 2005). Para estas autoras, um dos principais papéis da família é o de
socialização da criança, induindo-a no mundo cultural, através do ensino da língua matema e
de regras de convivência em grupo. Por outro lado, tem-se a escola, que também contribui
para o desenvolvimento de crianças e adolescentes, mais especificamente no que diz respeito
à aquisição do saber culturalmente organizado (Polonia & Dessen, 2005). Para a escola tem
se dado bastante valor, pois com a mudança recente na organização das atividades familiares,
a criança se insere neste contexto cada vez mais cedo, sendo a escola outro importante
ambiente socializador (Lipp, Arantes, Buriti & Witzig, 2002). Porém, é no ambiente familiar e na
relação com os pais, que a criança encontra a principal fonte de recursos para lidar com os
desafios do processo de integração e adaptação à escola (Marturano, 1999). Por isso, a
relação pais-filhos constitui a base referencial para o desenvolvimento global do indivíduo,
enfatizando-se, assim, a importância de estudos sobre esse assunto.
Sendo assim, no presente trabalho pretendeu-se explorar, por um lado, as práticas
educativas parentais, que correspondem a estratégias utilizadas pelos pais para atingir objetivos
específicos em relação a seus filhos, ou seja, são estratégias com o objetivo de suprimir
comportamentos considerados inadequados ou de incentivar a ocorrência de comportamentos
adequados (Alvarenga, 2001). E, por outro lado, o desempenho acadêmico que, como afirmam
Loureiro e Sanches (2006, p.7Q), “constitui um importante indicador de recursos de adaptação
da criança às demandas específicas da idade escolar". Portanto, o objetivo foi o de verificar o que
a literatura sobre o assunto, bem como dados empíricos, tem a nos dizer sobre a relação entre
as práticas educativas parentais e o desempenho académico dos filhos.
1 O presente trabalho apresenta dados parciais da dissertação de mestrado da primeira autora, sob orientação da segunda autora (Mestrado
do Programa de Pôs-Graduaçôoem Educação da UFPR).
- 1ESSA - Rua Pinheiro Machado. 189,84010-310, Ponte GrossaíPR, anuip.77Pnqivetioo.eofn .br
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Tabela 3: Estudos internacionais, publicados a partir do ano 2000, sobra interação familiar e
desempenho acadêmico dos filhos
Tabela 4\ Estudos nacionais sobre interação familiar e desempenho acadêmico dos filhos
/
práticas parentais como preditores de desempenho acadêmico (Bradley & cols., 1968;
Dubois & cols., 1992; Duchesne & cols., 2005; Miedel & Reynolds, 1999). Sendo assim,
duas hipóteses podem ser discutidas quanto à relação verificada entre práticas educativas
parentais e desempenho acadêmico: 1) as práticas podem ser prediíoras do sucesso ou
fracasso acadêmico, na medida em que propiciam o aprendizado de comportamentos
adequados ou inadequados em relação ao estudo e em relação à escola; 2) e/as podem
ser mantenedoras do sucesso ou fracasso acadêmico, ou seja, se as práticas parentais
conseqüenciam determinados comportamentos dos filhos, podem exercer controle sobre
tais comportamentos, fortalecendo-os ou não. Ao constatar associação entre algumas
práticas parentais e o desempenho acadêmico dos filhos, provavelmente pode-se deparar
com a situação na qual o comportamento dos pais fortalece o comportamento dos filhos
e, este, por sua vez, também fortalece o comportamento dos pais, caracterizando um eido
de interação. D'Avila-Bacaiji e cols. (2005) consideram tal ciclo de interação, no qual os
comportamentos são mutuamente fortalecidos, como um processo de retroalimentação.
Outra relação também investigada foi entre o desempenho acadêmico e o tipo
de estrutura familiar (famílias monoparentais e biparentais). O resultado sobre a
comparação entre o desempenho acadêmico de adolescentes dos dois tipos de famílias
foi obtido através do Teste t. Verificou-se uma diferença significativa, ou seja, adolescentes
de fam ílias biparentais apresentaram média de desempenho acadêmico
significativamente superior (67,8) aos adolescentes de famílias monoparentais (63,0),
Este resultado corrobora dados encontrados por alguns pesquisadores: adolescentes
que passaram pela experiência de transição na estrutura familiar, como o divórcio, por
exemplo, apresentaram desempenho acadêmico inferior (Kurdek & cols., 1995); filhos
apresentaram melhor desempenho quando os pais apresentavam um bom suporte co-
parental (Stright & Neitzel, 2003); viver com pai e mãe biológicos foi um indicador
associado ao melhor desempenho em matemática (Wang, 2004); crescer em família
estruturada (biparental) foi um fator associado a um melhor nível de funcionamento
acadêmico em adolescentes (Duchesne & cols., 2005); e, ainda, crianças com maior
envolvimento paterno apresentaram melhor desempenho acadêmico (Cia & cols., 2004).
3. Considerações finais
Após a exposição e discussão de dados bibliográficos e empíricos, torna-se
importante retornar à pergunta do título deste capítulo: Como os pais podem contribuir no
desempenho acadêmico de seus filhos? Pôde-se concluir que os pais podem contribuir
sim para o desempenho acadêmico de seus filhos, e de diferentes maneiras: favorecendo
ou prejudicando. Verificou-se que as práticas parentais de envolvimento, afetividade, regras
e monitoria adequadas, abertura ao diálogo, suporte co-parental foram importantes fatores
familiares que estiveram associadas a melhores índices de desempenho acadêmico, o
que indica que tais fatores favorecem um saudável desenvolvimento dos filhos. Por outro
lado, o uso de punição física, coerção, comunicação negativa, conflitos familiares, clima
conjugal negativo e estrutura familiar monoparentat foram importantes fatores que estiveram
associados a piores índices de desempenho, indicando que tais fatores familiares podem
afetar negativamente o desenvolvimento saudável dos filhos, prejudicando seu rendimento.
Os achados e discussão deste trabalho corroboram dados encontrados por
Hübner (1999) em atendimento clínico. Esta autora verificou que existem dois padrões
antagônicos de família, as quais chamou de famílias “pró-saber" e “anti-saber” . O padrão
"pró'Saber" é de famílias que valorizam e respeitam as atividades relacionadas à vida
acadêmica dos filhos e favorecem um clima agradável e estimulador para a busca do
conhecim ento; enquanto o padrão “ anti-saber" é de fam ílias que utilizam
Referências
Volume 19
Organizado por Roosevelt R. Starlíng
ESETec
Editores Associados
2007