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Data (páginas internas): 18 de dezembro de
1996
ÍNDICE DE ASSUNTOS
Ato Jurídico Perfeito e Retroatividade
Cabimento de Habeas Corpus
Cabimento de Reclamação
Coação Inexistente
Competência da Justiça Federal
Competência do Júri
Competência para Julgamento de HC
Delegação para Colheita de Provas
HC: Extensão Indeferida
Insumos para Produção de Jornais: Imunidade
IPTU e Taxas do Município de São Paulo
Lex Mitior: Hipótese de Não-Retroatividade
Pedido de Adiamento e Prazo
Reserva Remunerada e Acumulação
Reunião ou Separação de Processos
Tráfico Internacional e Competência
PLENÁRIO
Reserva Remunerada e Acumulação
Deferida a suspensão de eficácia do inciso IV e do § 2º
do art. 91 do Estatuto dos Policiais Militares do Estado do
Mato Grosso do Sul (LC 53, de 30.08.90), requerida em ação
direta ajuizada pelo Governador desse Estado. O Tribunal
entendeu que o primeiro dispositivo, ao arrolar entre as
causas de transferência ex officio para a reserva remunerada
a posse do policial militar “em cargo público permanente,
estranho à sua carreira, cuja função não seja a de
magistério”, ofende, aparentemente, o disposto no art. 42, §
3º, da CF, que prevê a transferência para a reserva e não para
a reserva remunerada do militar em atividade que aceitar
cargo público civil permanente. Quanto ao segundo preceito,
que admite a possibilidade de acumulação da remuneração
do referido cargo com os proventos da reserva, foi tido, à
primeira vista, como incompatível com o art. 37, XVI, da CF
(“é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos,
exceto...”). Precedentes citados: RE 163204-SP (DJ de
15.03.96); MS 22182-RJ (DJ de 10.08.95). ADIn 1.541-MS,
rel. Min. Octavio Gallotti, 09.12.96.
PRIMEIRA TURMA
Competência do Júri
“A interpretação sistemática dos arts. 74, § 3º, 81 e 492,
§ 2º, do CPP, conduz à conclusão de que, negando os
jurados a ocorrência de tentativa de homicídio, que
funcionava como vis attractiva, passa a ser competente o
Juiz presidente para o julgamento de todas as infrações
remanescentes, inclusive as submetidas ao Júri ratione
conexitatis. A perpetuatio jurisdictionis determinada pela
norma geral do art. 81 do mencionado estatuto não se
aplica ao Júri, mas aos órgãos monocráticos ou colegiados
da justiça togada.” Este entendimento, adotado pela 1ª
Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, foi confirmado pela Turma em julgamento de
habeas corpus no qual se sustentava, com a concordância do
Ministério Público Federal, a ocorrência de violação à regra
da perpetuatio jurisdictionis (CPP, art. 81) pelo fato de o juiz
presidente do júri, em face da desclassificação para lesões
corporais da tentativa de homicídio imputada aos réus, haver
avocado para si o julgamento das demais infrações conexas.
Precedentes citados: HC 59487-SP (RTJ 101/997); HC
59890-SP (RTJ 102/599). HC 74.295-RJ, rel. Min. Celso de
Mello, 10.12.96.
Coação Inexistente
Se o STF acolhe pedido de habeas corpus e determina
que o tribunal a quo complemente o julgamento da apelação
no tocante à concessão do sursis, esse tribunal atua
corretamente ao limitar-se, na continuação do julgamento, ao
exame dessa questão, não se podendo imputar a uma decisão
proferida dentro de tais limites constrangimento pela não
aplicação de lei superveniente supostamente mais favorável
ao réu. Com base nesse entendimento, a Turma indeferiu
pedido de habeas corpus no qual se alegava que o tribunal
apontado como coator, ao completar o julgamento da
apelação, deixara de aplicar o art. 89 da Lei 9099/95. HC
74.552-SP, rel. Min. Octavio Gallotti, 10.12.96,
SEGUNDA TURMA
Cabimento de Habeas Corpus
O art. 102, II, a, da CF, que prevê a competência do STF
para julgar em recurso ordinário o habeas corpus decidido
em única instância pelos Tribunais Superiores, se
denegatória a decisão, não impede que contra tal decisão se
impetre diretamente perante o STF novo pedido de habeas
corpus, nos termos do art. 102, I, i, da CF. Precedente citado:
HC 73.598-RN (DJU de 20.09.96). HC 73.423-RJ, rel. Min.
Francisco Rezek, 10.12.96.
Cabimento de Reclamação
Não cabe ao STF o julgamento de habeas corpus
impetrado contra acórdão de Tribunal de Justiça ao qual se
atribui o vício de haver interpretado erroneamente decisão
proferida pelo STJ a propósito da mesma causa. Hipótese em
que o alcance do que decidido pelo STJ deve ser por ele
interpretado, via reclamação. HC 73.705-RJ, rel. Min.
Francisco Rezek, 10.12.96.
CLIPPING DO DJ
13 de dezembro de 1996
ADIn N. 1030-1*
RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO.
ESCRIVÃO DE EXATORIA E FISCAL DE MERCADORIAS EM
TRÂNSITO: ESTADO DE SANTA CATARINA. Lei Complementar
nº 81, de 10.03.93, do Estado de Santa Catarina.
I. - Transformação, com os seus ocupantes, de cargos de nível médio
em cargos de nível superior. Espécie de aproveitamento.
Inconstitucionalidade, porque ofensivo ao disposto no art. 37, II, da
Constituição Federal.
II. - Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente,
declarada a inconstitucionalidade dos Anexos I e II-55 e II-56 da Lei
Complementar 81, de 10.03.93, do Estado de Santa Catarina.
* Noticiado no Informativo 41
ADIn N. 1323-8
RELATOR: MIN. NÉRI DA SILVEIRA
EMENTA: - Ação direta de inconstitucionalidade. Medida
cautelar. 2. Lei complementar nº 1, de 26.6.1990, do Estado do
Piauí, art. 155, § 1º, em confronto com o art. 22, XI, bem assim com
o § 2º do art. 230 e com o art. 208, VII, todos da Constituição
Federal. 3. Previsão de acesso do policial civil, devidamente
identificado, a locais sujeitos à vigilância da polícia, dentre eles,
"ônibus urbano". 4. Legitimidade ativa ad causam da autora, a teor
do art. 102, IX, 2ª parte, da Constituição. 5. Regra estadual
impugnada que não se pode, desde logo, ter como dispondo sobre
gratuidade de transporte urbano. 6. Medida cautelar indeferida.
Noticiado no Informativo 4.
ADIn N. 1430-7*
RELATOR: MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: - Ação direta de inconstitucionalidade. Pedido de
liminar. Argüição de inconstitucionalidade de expressões e de
incisos constantes da Lei nº 6.915, de 10.11.95, do Estado da Bahia.
Custeio da previdência mediante contribuição dos servidores
inativos e dos pensionistas.
- A fundamentação jurídica do pedido não tem a relevância
necessária para a concessão da cautelar requerida. Precedente do
S.T.F. (ADIN 1.441, em que se indeferiu o pedido de liminar) com
relação à contribuição social para os servidores inativos da União.
Pedido de liminar indeferido.
* Noticiado no Informativo 38
* Noticiado no Informativo 42
* Noticiado no Informativo 35
* Noticiado no Informativo 53
* Noticiado no Informativo 51
* Noticiado no Informativo 32
* Noticiado no Informativo 46
* Noticiado no Informativo 45
Acórdãos publicados:
T R A N S C R I Ç Õ E
S
Voto: 1. Rejeito a
preliminar de não-conhecimento do
presente “habeas corpus” levantada pela
Procuradoria-Geral da República.
Com efeito, no
caso, o fato novo - a incidência, ou não,
sobre o processo em causa da norma do
artigo 89 da Lei 9.099/95 - decorria da Lei
e, portanto, era do conhecimento do
Tribunal quando do julgamento da
apelação, podendo este, se entendesse
aplicável o referido artigo 89, suspender, de
ofício, o julgamento para que se cumprisse
o disposto nessa norma.
Conheço, pois,
deste “writ”, e passo a julgá-lo.
2. Reza o artigo
89 da Lei 9.099, de 26.09.95:
Já a segunda
dessas duas últimas limitações a que me
referi - a que ocorre quando a situação de
fato, no momento em que a “lex mitior”
entra em vigor, não mais condiz com a
natureza jurídica do instituto mais benéfico,
e, portanto, com a finalidade para a qual
foi ele instituído - é, de certa forma, uma
extensão dessa primeira. De feito, ela existe
para demarcar até que momento a
retroatividade da norma mais benéfica se
aplica quando, no passado, na
oportunidade própria, não seria possível a
utilização do benefício que só surgiu
posteriormente, mas que ainda pode ser
aplicado porque a situação de fato existente
ainda admite que ele alcance a finalidade
para que foi instituído e que decorre da
natureza jurídica que lhe foi dada.
Ora, não há dúvida
de que o artigo 89 da Lei 9.099/95 criou
uma transação de natureza eminentemente
processual, embora com eventual
conseqüência penal (extinção da
punibilidade), em que não se atinge
imediatamente o “ius puniendi” do Estado
que permanece incólume até que, com o
cumprimento das condições dessa
suspensão ocorra a extinção da
punibilidade; enquanto isso não ocorre, há
apenas paralisação do processo. Não se
confunde, portanto, com a transação a que
se refere o artigo 76 da mesma Lei que é
eminente e diretamente penal, porquanto
em virtude dela há a aplicação de pena
restritiva de direitos ou de multa em lugar
de pena privativa de liberdade. Ademais, na
transação do artigo 89 o réu não admite
culpa, sendo uma forma pela qual ele se
defende, sem contestar a acusação, mas
também sem admitir culpa ou ver declarada
a sua inocência. Dentre as várias
finalidades dessa transação, como
acentuam corretamente ADA GRINOVER E
OUTROS (Ob. cit., p. 195), “a mais
marcante consiste em evitar a
estigmatização derivada do próprio
processo” e “como conseqüência, acaba
evitando também a estigmatização que traz
a sentença condenatória”.
Portanto, se já foi
prolatada sentença condenatória, ainda que
não transitada em julgado, antes da
entrada em vigor da Lei 9.099/95, não pode
ser essa transação processual aplicada
retroativamente, porque a situação em que,
nesse momento, se encontra o processo
penal já não mais condiz com a finalidade
para a qual o benefício foi instituído,
benefício esse que, se aplicado
retroativamente, nesse momento, teria, até,
sua natureza jurídica modificada para a de
verdadeira transação penal. Daí, a razão
por que DAMÁSIO DE JESUS (Ob. cit., p.
112), examinando o momento oportuno
para essa transação no juízo criminal, e
depois de observar que “uma das
finalidades da Lei 9.099/95 é desviar o
processo do rumo da pena privativa de
liberdade” acrescenta, com absoluto rigor
lógico, que “por isso, em qualquer
momento posterior à denúncia e ANTES DA
SENTENÇA, é admissível o “sursis”
processual”. Se assim é na aplicação
imediata desse artigo 89, o mesmo tem de
verificar-se na sua aplicação retroativa, que
não pode alterar a natureza jurídica do
benefício por ser aplicado a situação
processual incompatível com a finalidade
dele, até porque, para essa aplicação
retroativa já havendo sentença ou acórdão
condenatórios sem trânsito em julgado, ou
se anulam essas decisões (e o benefício não
foi criado para eliminar decisões
condenatórias) ou não se anulam elas (e o
benefício também não foi instituído para a
paralisação dos efeitos de decisões
condenatórias, que, persistindo, voltarão a
ter seus efeitos normais se as condições da
transação não forem cumpridas, o que
também desvirtua a natureza dessa
transação). Além disso, há que se
considerar que o próprio artigo 89, ao
aludir como requisito para a aplicação
dessa transação processual, à pena mínima
cominada pela lei como sendo a igual ou
inferior a um ano, pressupõe que não haja
pena imposta pelo Juiz, que tanto pode ser
a mínima, como, por circunstâncias
judiciais e agravantes, elevar-se até o
máximo (que, em alguns casos, pode
alcançar 6 anos).
Há mais, porém.
Para que essa transação seja
constitucional, em se tratando de crimes
que não estejam sujeitos à jurisdição da
Justiça especial de pequenas causas, é
necessário que ela não envolva pena, quer
na sua aplicação imediata quer na sua
aplicação retroativa, o que só é possível se
essa aplicação, em qualquer dessas duas
hipóteses, se fizer antes da ocorrência de
sentença condenatória ainda que não
transitada em julgado. Com efeito, têm
razão ADA GRINOVER E OUTROS (Ob.
cit., p. 205), ao sustentarem que a
suspensão do processo, em face do disposto
no artigo 98, I, da Constituição Federal - e
isso se dá evidentemente apenas quando se
trata de crimes não sujeitos a essa
jurisdição especial -, é constitucional por
não se tratar de transação penal, uma vez
que não envolve a aplicação da pena. A
respeito, bem acentuam esses autores:
“A suspensão
condicional do processo é instituto
rigorosamente constitucional. A CF, no art.
98, I, diz que cabe transação nas infrações
penais de menor potencial ofensivo. Já se
sustentou, por isso mesmo, que fora dessas
infrações não caberia nenhum tipo de
acordo (conciliação). A transação referida
pelo art. 98, I, da CF é a penal
(conformidade penal). Essa, pela
Constituição, só cabe nas infrações que ela
menciona. Ocorre que a transação que se
dá na suspensão do processo não envolve
aplicação de pena, é, portanto, a
processual, que tem duplo fundamento: de
um lado o princípio da discricionaridade
regrada (que é compatível o art. 129, I, da
CF, visto que o Ministério Público exercerá
a ação pública, na forma da lei); de outro,
o princípio da autonomia da vontade”.