You are on page 1of 15

Brasília, 09 a 13 de dezembro de 1996 - Nº

57
Data (páginas internas): 18 de dezembro de
1996

Este Informativo, elaborado pela


Assessoria da Presidência do STF a partir de
notas tomadas nas sessões de julgamento das
Turmas e do Plenário, contém resumos não-
oficiais de decisões proferidas na semana pelo
Tribunal. A fidelidade de tais resumos ao
conteúdo efetivo das decisões, embora seja
uma das metas perseguidas neste trabalho,
somente poderá ser aferida após a sua
publicação no Diário da Justiça.

ÍNDICE DE ASSUNTOS
Ato Jurídico Perfeito e Retroatividade
Cabimento de Habeas Corpus
Cabimento de Reclamação
Coação Inexistente
Competência da Justiça Federal
Competência do Júri
Competência para Julgamento de HC
Delegação para Colheita de Provas
HC: Extensão Indeferida
Insumos para Produção de Jornais: Imunidade
IPTU e Taxas do Município de São Paulo
Lex Mitior: Hipótese de Não-Retroatividade
Pedido de Adiamento e Prazo
Reserva Remunerada e Acumulação
Reunião ou Separação de Processos
Tráfico Internacional e Competência

PLENÁRIO
Reserva Remunerada e Acumulação
Deferida a suspensão de eficácia do inciso IV e do § 2º
do art. 91 do Estatuto dos Policiais Militares do Estado do
Mato Grosso do Sul (LC 53, de 30.08.90), requerida em ação
direta ajuizada pelo Governador desse Estado. O Tribunal
entendeu que o primeiro dispositivo, ao arrolar entre as
causas de transferência ex officio para a reserva remunerada
a posse do policial militar “em cargo público permanente,
estranho à sua carreira, cuja função não seja a de
magistério”, ofende, aparentemente, o disposto no art. 42, §
3º, da CF, que prevê a transferência para a reserva e não para
a reserva remunerada do militar em atividade que aceitar
cargo público civil permanente. Quanto ao segundo preceito,
que admite a possibilidade de acumulação da remuneração
do referido cargo com os proventos da reserva, foi tido, à
primeira vista, como incompatível com o art. 37, XVI, da CF
(“é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos,
exceto...”). Precedentes citados: RE 163204-SP (DJ de
15.03.96); MS 22182-RJ (DJ de 10.08.95). ADIn 1.541-MS,
rel. Min. Octavio Gallotti, 09.12.96.

Competência para Julgamento de HC


Considera-se, em tese, coator para efeito de justificar a
competência originária do STF (CF, art. 102, i) , o tribunal
que, podendo fazê-lo de ofício, se omite em apreciar fato do
qual tenha inequívoco conhecimento, passível de ser tido
como favorável ao acusado. Com base nesse entendimento, o
Tribunal rejeitou preliminar de não conhecimento suscitada
pela Procuradoria Geral da República, a propósito de habeas
corpus impetrado contra decisão do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo que deixara de pronunciar-se sobre a
aplicação retroativa do art. 89 da Lei 9099/95 em benefício
de réu condenado por sentença não transitada em julgado.
HC 74.305-SP, rel. Min. Moreira Alves, 09.12.96.

Lex Mitior: Hipótese de Não-Retroatividade


Julgando o mérito desse habeas corpus, o Tribunal
afastou, por unanimidade, a aplicação do citado art. 89 a
processos nos quais já proferida sentença condenatória, ainda
que sem trânsito em julgado. Leia em “Transcrições” os
trechos essenciais do relatório e do voto condutor do
acórdão. HC 74.305-SP, rel. Min. Moreira Alves, 09.12.96.

IPTU e Taxas do Município de São Paulo


Declarada incidentemente a inconstitucionalidade de
dispositivos de lei do Município de São Paulo que
estabelecem para o imposto predial e territorial urbano
(IPTU) alíquotas progressivas em função do valor venal do
imóvel e prevêem a cobrança de taxa pelos serviços de
conservação e limpeza de rua (Lei 6989/66 com
modificações introduzidas pela Lei 10921/90). No tocante às
alíquotas, o Tribunal reiterou o entendimento firmado no
julgamento do RE 153.771-MG (Pleno, 20.11.96; v.
Informativo 54), no sentido de que a única progressividade
admitida pela CF/88, em relação ao IPTU, é a extrafiscal,
destinada a assegurar o cumprimento da função social da
propriedade urbana, nos termos dos arts. 156, § 1º, e 182, §
4º, II, da CF. Quanto às taxas de conservação e limpeza de
rua, foram elas consideradas inconstitucionais por possuírem
base de cálculo própria de imposto, o que ofende o § 2º do
art. 145 da CF, e pelo fato de não serem divisíveis os
serviços públicos que elas visam a custear, o que ofende o
inciso II do mesmo art. 145. Vencido o Min. Carlos Velloso.
RE 204.827-SP, rel. Min. Ilmar Galvão, 12.12.96.

Insumos para Produção de Jornais: Imunidade


A imunidade prevista no art. 150, VI, d, da CF (proibição
de instituir impostos sobre “livros, jornais, periódicos e o
papel destinado a sua impressão”) não alcança todos os
insumos utilizados na impressão de livros, jornais e
periódicos, mas somente aqueles compreendidos no
significado da expressão “papel destinado a sua impressão”.
Com esse fundamento, julgando recursos extraordinários
provenientes dos Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul,
o Tribunal afastou, por maioria de votos, a pretensão dos
recorrentes (empresas jornalísticas) de excluir a incidência
do ICMS na entrada das seguintes mercadorias, importadas
do exterior e utilizadas na produção e distribuição de jornais:
solução de base alcalina concentrada, motor de corrente
contínua, “drive” de retificação de corrente e tiras de plástico
para amarrar jornais. Vencidos os Ministros Carlos Velloso,
relator, Marco Aurélio e Celso de Mello que estendiam a
imunidade a todos os insumos necessários à produção de
jornais. Precedente citado: RREE 174476-SP e 190761-SP
(v. Informativo 46). RREE 203.267-RS, 204.234-RS e
203.859-SP, rel. orig. Min. Carlos Velloso; rel. p/ ac. Min.
Maurício Corrêa, 11.12.96.

PRIMEIRA TURMA
Competência do Júri
“A interpretação sistemática dos arts. 74, § 3º, 81 e 492,
§ 2º, do CPP, conduz à conclusão de que, negando os
jurados a ocorrência de tentativa de homicídio, que
funcionava como vis attractiva, passa a ser competente o
Juiz presidente para o julgamento de todas as infrações
remanescentes, inclusive as submetidas ao Júri ratione
conexitatis. A perpetuatio jurisdictionis determinada pela
norma geral do art. 81 do mencionado estatuto não se
aplica ao Júri, mas aos órgãos monocráticos ou colegiados
da justiça togada.” Este entendimento, adotado pela 1ª
Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, foi confirmado pela Turma em julgamento de
habeas corpus no qual se sustentava, com a concordância do
Ministério Público Federal, a ocorrência de violação à regra
da perpetuatio jurisdictionis (CPP, art. 81) pelo fato de o juiz
presidente do júri, em face da desclassificação para lesões
corporais da tentativa de homicídio imputada aos réus, haver
avocado para si o julgamento das demais infrações conexas.
Precedentes citados: HC 59487-SP (RTJ 101/997); HC
59890-SP (RTJ 102/599). HC 74.295-RJ, rel. Min. Celso de
Mello, 10.12.96.

Ato Jurídico Perfeito e Retroatividade


Enquanto garantia do indivíduo contra o Estado, a regra
que assegura a intangibilidade do direito adquirido e do ato
jurídico perfeito (CF, art. 5º, XXXVI) não impede o Estado
de dispor retroativamente, mediante lei ou simples decreto,
em benefício do particular. Com base nesse entendimento, a
Turma confirmou acórdão do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal que, fundado em decreto do Executivo local (Dec.
10349/87), determinara a correção monetária do valor de
contrato firmado com a Administração em dezembro de
1986, a despeito da inexistência de cláusula de reajuste. RE
184.099-DF, rel. Min. Octavio Gallotti, 10.12.96.

Pedido de Adiamento e Prazo


Indeferido habeas corpus no qual se pretendia a anulação
de julgamento realizado apesar de solicitação de adiamento
cujo exame acabou prejudicado por não haver sido levada
em tempo ao conhecimento do relator. Com base no art. 799
do CPP, que estabelece o prazo de dois dias para a prática
dos atos determinados em lei ou ordenados pelo juiz, a
Turma entendeu que, havendo a mencionada solicitação dado
entrada no protocolo do Tribunal a quo na antevéspera da
data marcada para o julgamento, não estava a secretaria
obrigada a remetê-la ao relator do feito antes dessa data, de
maneira que a parte, se quisesse assegurar a apreciação de
seu requerimento, deveria tê-lo apresentado diretamente ao
relator. HC 74.179-SP, rel. Min. Sydney Sanches, 10.12.96.

HC: Extensão Indeferida


Indeferido habeas corpus impetrado contra decisão do
STJ que negara, por três votos contra dois, a extensão de
ordem concedida anteriormente pelo mesmo órgão, por
empate, a co-réu do paciente. A Turma entendeu que a
extensão pretendida retiraria do magistrado cuja ausência na
sessão em que deferido o primeiro habeas corpus ensejara a
ocorrência do empate o poder de manifestar seu ponto de
vista sobre a matéria. Afastou-se, com esse fundamento, a
aplicação do art. 580 do CPP [“No concurso de agentes
(Código Penal, art. 25), a decisão do recurso interposto por
um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de
caráter exclusivamente pessoal, aproveitará aos outros.”).
HC 74.683-RJ, rel. Min. Ilmar Galvão, 10.12.96.

Competência da Justiça Federal - 1


Tanto em virtude do disposto no inciso I, como em razão
do que estabelece o inciso XI do art. 109 da CF (“Aos juízes
federais compete processar e julgar: I - as causas em que a
União, entidade autárquica ou empresa pública federal
forem interessadas na condição de autoras e rés, assistentes
ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de
trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do
Trabalho;” e “XI - a disputa sobre direitos indígenas;” ),
compete à Justiça Federal de primeira instância o julgamento
de ação ajuizada por particular em face da Fundação
Nacional do Índio (FUNAI) entidade autárquica federal e
de comunidade indígena, tendo por objeto área ocupada por
essa comunidade.

Competência da Justiça Federal - 2


Com base nesse fundamento, a Turma conheceu e deu
provimento a recursos extraordinários interpostos pela
Comunidade Indígena de Jaguapiré, pela FUNAI, pelo
Ministério Público Federal e pela União (que manifestara
anteriormente o seu interesse no feito), contra decisão do
Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul que,
afirmando a competência da Justiça Estadual para o seu
julgamento à consideração de que não se cuidava, na
espécie, de área indígena, mas de terras particulares
invadidas pelos índios , confirmara a procedência de ação de
reintegração de posse movida contra os dois primeiros
recorrentes. RE 183.188-MS, rel. Min. Celso de Mello,
10.12.96.

Coação Inexistente
Se o STF acolhe pedido de habeas corpus e determina
que o tribunal a quo complemente o julgamento da apelação
no tocante à concessão do sursis, esse tribunal atua
corretamente ao limitar-se, na continuação do julgamento, ao
exame dessa questão, não se podendo imputar a uma decisão
proferida dentro de tais limites constrangimento pela não
aplicação de lei superveniente supostamente mais favorável
ao réu. Com base nesse entendimento, a Turma indeferiu
pedido de habeas corpus no qual se alegava que o tribunal
apontado como coator, ao completar o julgamento da
apelação, deixara de aplicar o art. 89 da Lei 9099/95. HC
74.552-SP, rel. Min. Octavio Gallotti, 10.12.96,

SEGUNDA TURMA
Cabimento de Habeas Corpus
O art. 102, II, a, da CF, que prevê a competência do STF
para julgar em recurso ordinário o habeas corpus decidido
em única instância pelos Tribunais Superiores, se
denegatória a decisão, não impede que contra tal decisão se
impetre diretamente perante o STF novo pedido de habeas
corpus, nos termos do art. 102, I, i, da CF. Precedente citado:
HC 73.598-RN (DJU de 20.09.96). HC 73.423-RJ, rel. Min.
Francisco Rezek, 10.12.96.

Reunião ou Separação de Processos


O art. 82, do CPP (“Se, não obstante a conexão ou
continência, forem instaurados processos diferentes, a
autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os
processos que corram perante outros juízes, salvo se já
estiverem com sentença definitiva.”) não prevalece sobre a
faculdade atribuída ao juiz de determinar a separação dos
processos quando, pelo excessivo número de acusados, ou
por outro motivo relevante, esta separação seja conveniente.
Com esse fundamento, a Turma indeferiu pedido de habeas
corpus, no qual se sustentava a obrigatoriedade da reunião
dos diversos processos instaurados contra o paciente
acusado da prática de crimes relacionados com o “jogo do
bicho”, no Estado do Rio de Janeiro , em virtude da
existência de conexão probatória. HC 73.423-RJ, rel. Min.
Francisco Rezek, 10.12.96.

Delegação para Colheita de Provas


Rejeitou-se ainda, no julgamento desse habeas corpus, a
alegação de nulidade das provas colhidas pelo juiz de
primeiro grau por delegação do relator da ação penal movida
contra o paciente perante o Tribunal de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro. A Turma entendeu que a questionada
delegação, além de prevista pelo art. 9º, § 1º, da Lei 8038/90
(“o relator poderá delegar a realização do interrogatório ou
de outro ato da instrução ao juiz ou membro de tribunal com
competência territorial no local de cumprimento da carta de
ordem”), não acarretara, na espécie, prejuízo para a defesa;
de qualquer modo, o princípio da identidade física do juiz
não se aplica no processo penal. Vencido o Ministro Marco
Aurélio, ao fundamento de que o referido § 1º não autoriza a
delegação de atos de instrução que devam ser praticados na
mesma comarca em que situado o tribunal ao qual pertença o
relator. Precedente citado: AP 312-DF; AP 231-RN (RTJ
88/739). HC 73.423-RJ, rel. Min. Francisco Rezek, 10.12.96.

Cabimento de Reclamação
Não cabe ao STF o julgamento de habeas corpus
impetrado contra acórdão de Tribunal de Justiça ao qual se
atribui o vício de haver interpretado erroneamente decisão
proferida pelo STJ a propósito da mesma causa. Hipótese em
que o alcance do que decidido pelo STJ deve ser por ele
interpretado, via reclamação. HC 73.705-RJ, rel. Min.
Francisco Rezek, 10.12.96.

Investidura em Cargo Público


Concluído o julgamento de uma série de recursos
extraordinários provenientes do Estado de Santa Catarina,
nos quais se discutia sobre a validade, em face do art. 37, II,
da CF (“a investidura em cargo ou emprego público
depende da aprovação prévia em concurso público...”), de
norma estadual que prevê o “acesso” como forma de
investidura em carreira diversa daquela para a qual o
servidor ingressou no serviço público. Afirmando a
necessidade de concurso público para a investidura nos
cargos pretendidos pelos servidores, conforme decidido no
julgamento da ADIn 231-RJ (RTJ 144/24), a Turma
conheceu e deu provimento aos recursos extraordinários
interpostos pelo Estado. Vencido o Min. Marco Aurélio, sob
o entendimento de que os referidos cargos fazem parte da
mesma carreira na qual os servidores ingressaram por
concurso público. RREE 177.402-SC, 193.161-SC, 180.310-
SC e 180.914-SC, rel. Min. Carlos Velloso, 24.06.96.

Tráfico Internacional e Competência


Com base na Súmula 522 do STF (“Salvo ocorrência de
tráfico para o exterior, quando, então, a competência será
da Justiça Federal, compete à Justiça dos Estados o
processo e julgamento dos crimes relativos a
entorpecentes.”), a Turma deferiu habeas corpus impetrado
contra acórdão do TRF da 4ª Região que, apesar de haver
excluído da condenação imposta à paciente a causa de
aumento prevista no art. 18, I, da Lei 6368/76 (tráfico
internacional), reconhecendo apenas o crime de tráfico
interno, entendera prevalente a competência da Justiça
Federal para o julgamento da ação penal. Com o deferimento
do writ, decretou-se a nulidade do processo, determinando-se
a remessa dos autos à justiça estadual competente. HC
74.479-RS, rel. Min. Carlos Velloso, 13.12.96.

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos

Pleno 11.12.96 09 e 12.12.96 30


1ª Turma 10.12.96 ------ 216
2ª Turma 10.12.96 13.12.96 242

CLIPPING DO DJ
13 de dezembro de 1996

ADIn N. 1030-1*
RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO.
ESCRIVÃO DE EXATORIA E FISCAL DE MERCADORIAS EM
TRÂNSITO: ESTADO DE SANTA CATARINA. Lei Complementar
nº 81, de 10.03.93, do Estado de Santa Catarina.
I. - Transformação, com os seus ocupantes, de cargos de nível médio
em cargos de nível superior. Espécie de aproveitamento.
Inconstitucionalidade, porque ofensivo ao disposto no art. 37, II, da
Constituição Federal.
II. - Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente,
declarada a inconstitucionalidade dos Anexos I e II-55 e II-56 da Lei
Complementar 81, de 10.03.93, do Estado de Santa Catarina.

* Noticiado no Informativo 41

ADIn N. 1323-8
RELATOR: MIN. NÉRI DA SILVEIRA
EMENTA: - Ação direta de inconstitucionalidade. Medida
cautelar. 2. Lei complementar nº 1, de 26.6.1990, do Estado do
Piauí, art. 155, § 1º, em confronto com o art. 22, XI, bem assim com
o § 2º do art. 230 e com o art. 208, VII, todos da Constituição
Federal. 3. Previsão de acesso do policial civil, devidamente
identificado, a locais sujeitos à vigilância da polícia, dentre eles,
"ônibus urbano". 4. Legitimidade ativa ad causam da autora, a teor
do art. 102, IX, 2ª parte, da Constituição. 5. Regra estadual
impugnada que não se pode, desde logo, ter como dispondo sobre
gratuidade de transporte urbano. 6. Medida cautelar indeferida.

Noticiado no Informativo 4.

ADIn N. 1430-7*
RELATOR: MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: - Ação direta de inconstitucionalidade. Pedido de
liminar. Argüição de inconstitucionalidade de expressões e de
incisos constantes da Lei nº 6.915, de 10.11.95, do Estado da Bahia.
Custeio da previdência mediante contribuição dos servidores
inativos e dos pensionistas.
- A fundamentação jurídica do pedido não tem a relevância
necessária para a concessão da cautelar requerida. Precedente do
S.T.F. (ADIN 1.441, em que se indeferiu o pedido de liminar) com
relação à contribuição social para os servidores inativos da União.
Pedido de liminar indeferido.

* Noticiado no Informativo 38

HABEAS CORPUS N. 73211-9*


RELATOR: MIN. OCTAVIO GALLOTTI
EMENTA: - Inadmissível correção, pelo Juiz, em detrimento do
réu, de suposto erro de fato, que efetivamente configura erro de
direito. (...)

* Noticiado no Informativo 42

HABEAS CORPUS N. 73461-8*


RELATOR: MIN. OCTAVIO GALLOTTI
EMENTA: Escuta telefônica redundante em prova inexpressiva,
suplantada por elementos autônomos e suficientes, em que se veio a
basear a condenação da paciente.
Regime inicial fechado devidamente fundamentado pelo julgador.
Habeas corpus indeferido.

* Noticiado no Informativo 35

HABEAS CORPUS N. 74530-0


RELATOR: MIN. ILMAR GALVÃO
EMENTA: (...)
Desacolhimento do proposto pela Procuradoria-Geral da
República, no sentido da concessão de ofício do habeas corpus para
anular-se a decisão condenatória. É que a interceptação telefônica —
prova tida por ilícita até a edição da Lei nº 9.296, de 24.07.96, que
contamina as demais provas que dela se originam —, não foi a prova
exclusiva que desencadeou o procedimento penal, mas somente veio
a corroborar as outras licitamente obtidas pela equipe de
investigação policial.
Habeas corpus indeferido.

HABEAS CORPUS N. 74001-4


RELATOR: MIN. OCTAVIO GALLOTTI
EMENTA: - Dosagem regular da pena privativa de liberdade,
exceto quanto à aplicação da agravante do art. 61, I, h, do Código
Penal (crime cometido contra criança), pois a menoridade da vítima
já constituira elemento da definição do crime, como motivo de
presunção de violência (art. 224, a).
Prescrição não consumada, mesmo quando considerados,
isoladamente, cada um dos crimes praticados em continuidade.
Injustificada predeterminação da execução integral da pena, em
regime fechado (fatos anteriores à vigência da Lei nº 8.072-90).
Pedido, em parte, deferido.

HABEAS CORPUS N. 74201-7


RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO
EMENTA: (...)
A proteção constitucional inscrita no art. 29, VIII, da Carta Política
estende-se - observados os limites da circunscrição territorial do
Município - aos atos do Vereador praticados ratione officii,
qualquer que tenha sido o local de sua manifestação (dentro ou fora
do recinto da Câmara Municipal). (...)
- O Vereador, atuando no âmbito da circunscrição territorial do
Município a que está vinculado, não pode ser indiciado em
inquérito policial e nem submetido a processo penal por atos que,
qualificando-se como delitos contra a honra (calúnia, difamação e
injúria), tenham sido por ele praticados no exercício de qualquer
das funções inerentes ao mandato parlamentar: função de
representação, função de fiscalização e função de legislação.

HABEAS CORPUS N. 74418-4*


RELATOR: MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: (...)
1. Paciente absolvido no primeiro julgamento do júri sustentando a
tese de negativa de autoria; anulado este por recurso do Ministério
Público, foi condenado a 18 anos de reclusão no segundo
julgamento.
2. A nulidade do julgamento da apelação deveria ter sido argüida
antes da nova decisão do Tribunal do Júri.
3. Impossibilidade de alegar a nulidade de atos do primeiro
julgamento, porque já banidos do mundo jurídico.
4. Precedentes.
5. HABEAS-CORPUS conhecido, mas indeferido.

* Noticiado no Informativo 53

HABEAS CORPUS N. 74528-8*


RELATOR: MIN. MAURÍCIO CORRÊA
EMENTA: (...)
1. Ocorre concurso material de delitos quando o agente pratica na
mesma oportunidade fática, mediante ações imediatamente
subseqüentes, os crimes de extorsão mediante seqüestro e de roubo;
estes crimes são da mesma natureza, mas não são da mesma espécie:
têm definição autônoma e assim devem ser punidos. Precedentes.
Habeas-corpus conhecido, mas indeferido. (...)

* Noticiado no Informativo 51

MANDADO DE SEGURANCA N. 22160-7*


RELATOR: MIN. SYDNEY SANCHES
EMENTA: (...)
BOLSA DE ESTUDOS PARA DEPENDENTES DE
EMPREGADOS DA FUNDAÇÃO DE ASSISTÊNCIA AO
ESTUDANTE - FAE.
MANDADO DE SEGURANÇA impetrado contra decisão do
Tribunal de Contas da União, que suspendeu a concessão do
benefício.
Alegação de direito adquirido e invocação do princípio da
irredutibilidade de vencimentos. (...)
1. O art. 39 da Constituição Federal estabeleceu: a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de
sua competência, regime jurídico único e plano de carreira para os
servidores da administração direta, das autarquias e das fundações.
2. E a Lei nº 8.112, de 11/12/1990, baixou as normas relativas a
esse Regime Jurídico Único, não concedendo aos servidores "bolsas
de estudo", vantagens que antes eram previstas por Portarias da
Presidência da Fundação de Assistência ao Estudante - FAE.
3. Se os antigos servidores celetistas dessa Fundação, ao serem
convertidos em servidores estatutários, por força da referida norma
constitucional (art. 39), conservassem vantagens estranhas àquelas
estabelecidas no Regime Jurídico Único, então este não seria único.
A norma constitucional não se cumpriria. Instaurada estaria a
disparidade entre os servidores, em detrimento daquela norma que
pretendeu estabelecer Regime Jurídico Único, em face do qual não
se pode falar em direitos adquiridos dos servidores, nem mesmo a
pretexto de irredutibilidade de vencimentos, sobretudo quando a
redução destes não é nominal, segundo a jurisprudência da Corte.
(...)
5. Mandado de Segurança indeferido.
Votação unânime.
* Noticiado no Informativo 20

RECURSO EXTRAORDINARIO N. 145004-5*


RELATOR: MIN. OCTAVIO GALLOTTI
EMENTA: - Tem seu termo inicial de fluência na data da
entrada em vigor da Constituição de 1988 (5 de outubro), o prazo de
usucapião estabelecido no art. 183 da mesma Carta.

* Noticiado no Informativo 32

RECURSO EXTRAORDINARIO N. 170412-8*


RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: - CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. ICMS.
INCLUSÃO DO I.P.I. NA SUA BASE DE CÁLCULO:
OPERAÇÃO REALIZADA ENTRE CONTRIBUINTES E
RELATIVA A PRODUTOS DESTINADOS À
INDUSTRIALIZAÇÃO OU À COMERCIALIZAÇÃO A
CONFIGURAR FATO GERADOR DO ICMS E DO I.P.I. C.F., art.
155, § 2º, XI.
I. - Não inclusão, na base de cálculo do ICMS, do I.P.I., quando a
operação, realizada entre contribuintes e relativa a produtos
destinados à industrialização ou à comercialização, configure fato
gerador dos dois impostos. C.F., art. 155, § 2º, XI.
II. - O dispositivo constitucional não distingue entre
estabelecimentos industriais e equiparados. O que importa verificar é
a ocorrência da situação fática inscrita no inc. XI do § 2º do art. 155
da C.F., certo que os contribuintes do IPI estão definidos no CTN,
art. 51.
III. - R.E. não conhecido.

* Noticiado no Informativo 46

RECURSO EXTRAORDINARIO N. 186175-4*


RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. ICMS.
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA. INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO
SEM FINS LUCRATIVOS. C.F., art. 150, VI, "c".
I. - Não há invocar, para o fim de ser restringida a aplicação da
imunidade, critérios de classificação dos impostos adotados por
normas infraconstitucionais, mesmo porque não é adequado
distinguir entre bens e patrimônio, dado que este se constitui do
conjunto daqueles. O que cumpre perquirir, portanto, é se o bem
adquirido, no mercado interno ou externo, integra o patrimônio da
entidade abrangida pela imunidade.
II. - Precedentes do STF.
III. - R.E. não conhecido.

* Noticiado no Informativo 45

RECURSO EXTRAORDINARIO N. 190725-8


RELATOR: MIN. ILMAR GALVÃO*
EMENTA: ART. 97 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
ACÓRDÃO DE ÓRGÃO FRACIONÁRIO QUE, INVOCANDO
DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL,
MODIFICATIVA DE PRECEDENTE DO PLENÁRIO DA CORTE
DE ORIGEM SOBRE A MATÉRIA CONSTITUCIONAL EM
CAUSA, JULGOU DE LOGO A APELAÇÃO, SEM RENOVAR A
INSTÂNCIA INCIDENTAL DA ARGÜIÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE.
Procedimento que, na esteira da orientação estabelecida no art.
101 do RI/STF, não pode ser tido por ofensivo ao art. 97 da
Constituição Federal, posto que, além de prestigiar o princípio da
presunção da constitucionalidade das leis, nele consagrado, está em
perfeita harmonia não apenas com o princípio da economia
processual, mas também com o da segurança jurídica, concorrendo,
ademais, para a racionalização orgânica da instituição judiciária
brasileira.
Recurso não conhecido.

* Relator originário Min. Celso de Mello.

Acórdãos publicados:
T R A N S C R I Ç Õ E
S

Com a finalidade de proporcionar aos leitores


do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal,
divulgamos neste espaço trechos de decisões que
tenham despertado ou possam despertar de modo
especial o interesse da comunidade jurídica.

Lex Mitior: Hipótese de Não Retroatividade


HC 74.305-SP *

Ministro Moreira Alves (relator)

Relatório: O Dr. Marcos Tadeu Contesini impetra “habeas corpus”,


com pedido de liminar, em favor de Antonio da Silva Pedroso,
alegando que foi este condenado a 1 (um) ano de reclusão e a 10
salários mínimos de multa, como incurso nas sanções do artigo 5º, I
(três vezes) e inciso III, combinado com o artigo 5º, parágrafo único,
inciso I, e com os artigos 51 e 69, da Lei 6.766/79, e que, não tendo
ainda transitado em julgado a decisão condenatória, faz jus à
suspensão condicional do processo, com base no disposto no artigo
89 da Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, “lex mitior” que deve
ser aplicada retroativamente (artigo 5º, XL, da Constituição
Federal). [...]
A fls. 80/86, assim se manifesta a Procuradoria-Geral da
República, em parecer do Dr. Mardem Costa Pinto:
“[...]
2. O presente Habeas Corpus não deve ser conhecido.
3. É que o tema concernente à suspensão condicional do
processo não foi objeto de debate e decisão por parte do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ao julgar recurso
de apelação interposto pela defesa, razão pela qual o writ não
deve ser conhecido sob pena de supressão de instância,
conforme orientação do egrégio Supremo Tribunal Federal:

“EMENTA: Habeas Corpus. Pedido de revogação de


custódia provisória por falta de fundamentação do
despacho que a decretou.
2. Tratando-se de fundamento novo não suscitado no
Tribunal de origem, não cabe ao Supremo Tribunal Federal
aprecia-lo, porque importa em suprimir uma instância.”
(RHC 61.112/83 - DJ 24.06.88 - p. 1.395 - Rel. Ministro
Alfredo Buzard - 1ª Turma). [...]

4. No mérito, no caso de ultrapassagem da preliminar de não


conhecimento, somos pela concessão da ordem.
5. Com efeito, o benefício da suspensão condicional do
processo, em consonância com o posicionamento dominante da
doutrina, é tido como um instituto que possui natureza penal
devendo, portanto, retroagir aos fatos ocorridos antes da
vigência da Lei 9.099/95 sob o enfoque da lex mitior.
6. Vale transcrever o entendimento de Luiz Flávio Gomes na
obra “Suspensão Condicional do Processo Penal” - Editora
Revista dos Tribunais - páginas 136 e 154, verbis: [...]
7. Este também é o posicionamento de Fátima Nancy
Andrighi e Sidnei Beneti, in “Juizados Especiais Cíveis e
Criminais” - Editora Del Rey - página 176/177: [...]
8. Ademais, o Supremo Tribunal Federal já se posicionou
quanto ao tema reconhecendo a retroatividade benéfica do
instituto da suspensão condicional do processo, conforme
ementa abaixo transcrita:

“EMENTA: Habeas Corpus impetrado contra


acórdão que, em 13.12.95, sem pedir manifestação do
Ministério Público sobre a admissibilidade da suspensão
do processo prevista no artigo 89 da Lei n° 9.099/95, em
vigor desde 27.11.95, confirmou a sentença de 19.06.95,
que condenara o paciente a 15 dias de detenção e 50 dias-
multa, por infringência do art. 330 do Código Penal. Efeito
retroativo das medidas despenalizadoras instituídas pela
citada Lei n° 9.099/95 (Precedente do Plenário: Inquérito
n° 1.055, DJ de 24.05.96).
Pedido deferido para, anulados o acórdão e a
sentença, determinar-se a remessa dos autos da ação penal
ao Tribunal Especial Criminal, para a aplicação, no que
for cabível, do disposto nos artigos 76 e 89 da Lei
9.099/95.” (HC 74.017-1 - DJ 27.09.96 - Rel. Min. Octavio
Gallotti).

9. Considerando que a Lei 9.099/95 já estava em vigor à


época da decisão colegiada, deveria o Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo, ao verificar eventual incidência do
instituto da suspensão condicional do processo no caso
concreto, determinar a baixa dos autos ao Juízo a quo para que
o mesmo examine a possibilidade da aplicação do benefício, na
linha do entendimento do Juiz Luiz Flávio Gomes na obra
citada anteriormente:

“Sendo inaplicável em relação a normas penais o artigo 90


da Lei 9.099/95, é evidente que a suspensão condicional torna-
se cabível em relação aos processos em andamento, mesmo que
a denúncia (ou queixa subsidiária) tenha sido oferecida antes
da vigência da lei. Essa retroatividade benéfica alcança todos
os processos em andamento, pouco importando a fase: em
instrução, já com sentença ou pendente em Tribunal com
recurso interposto. Os que se encontram em Tribunal devem ser
baixados para que o Juiz abra a possibilidade de suspensão
condicional do processo.” (página 154).
[...]
12. Por todo o exposto, somos pelo não conhecimento do writ,
com a concessão da ordem, se vier a ser conhecido, para
anular o acórdão e determinar o retorno dos autos ao Tribunal
de origem, para a aplicação, no que for cabível, do disposto
nos arts. 76 e 89 da Lei 9.099/95.
É o parecer.”

Voto: 1. Rejeito a
preliminar de não-conhecimento do
presente “habeas corpus” levantada pela
Procuradoria-Geral da República.
Com efeito, no
caso, o fato novo - a incidência, ou não,
sobre o processo em causa da norma do
artigo 89 da Lei 9.099/95 - decorria da Lei
e, portanto, era do conhecimento do
Tribunal quando do julgamento da
apelação, podendo este, se entendesse
aplicável o referido artigo 89, suspender, de
ofício, o julgamento para que se cumprisse
o disposto nessa norma.
Conheço, pois,
deste “writ”, e passo a julgá-lo.

2. Reza o artigo
89 da Lei 9.099, de 26.09.95:

“Art. 89. Nos crimes em que a


pena mínima cominada for igual ou inferior
a um ano, abrangidos ou não por esta Lei,
o Ministério Público, ao oferecer a
denúncia, poderá propor a suspensão do
processo, por dois a quatro anos, desde que
o acusado não esteja sendo processado ou
não tenha sido condenado por outro crime,
presentes os demais requisitos que
autorizariam a suspensão condicional da
pena (art. 77 do Código Penal).
§ 1º. Aceita a proposta pelo
acusado e seu defensor, na presença do
Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá
suspender o processo, submetendo o
acusado a período de prova, sob as
seguintes condições:
I - reparação do dano, salvo
impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de freqüentar
determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da
comarca onde reside, sem autorização do
Juiz;
IV - comparecimento pessoal e
obrigatório a juízo, mensalmente, para
informar e justificar suas atividades.
§ 2°. O Juiz poderá especificar
outras condições a que fica subordinada a
suspensão, desde que adequadas ao fato e à
situação pessoal do acusado.
§ 3º. A suspensão será revogada
se, no curso do prazo, o beneficiário vier a
ser processado por outro crime ou não
efetuar, sem motivo justificado, a reparação
do dano.
§ 4º. A suspensão poderá ser
revogada se o acusado vier a ser
processado, no curso do prazo, por
contravenção ou descumprir qualquer outra
condição imposta.
§ 5º. Expirado o prazo sem
revogação, o Juiz declarará extinta a
punibilidade.
§ 6º. Não correrá a prescrição
durante o prazo de suspensão do processo.
§ 7º. Se o acusado não aceitar a
proposta prevista neste artigo, o processo
prosseguirá em seus ulteriores termos”.

Como se vê, esse


dispositivo legal introduziu em nosso
sistema jurídico uma suspensão condicional
do processo que pode culminar com a
extinção da punibilidade. Trata-se,
portanto, de instituto que se traduz na
utilização de uma providência de ordem
processual penal - a suspensão condicional
do processo - que pode conduzir a uma
conseqüência penal material - a extinção da
punibilidade. Por essa eventual
conseqüência, configura-se tal dispositivo
como lex mitior, aplicando-se ele
retroativamente em obediência ao que
estabelece a parte final do inciso XL do
artigo 5º da Constituição Federal, como
bem acentuou o eminente Ministro Celso de
Mello, na fundamentação de seu voto - que
tratava de hipótese relativa à aplicação do
artigo 91 dessa mesma Lei - proferido em
questão de ordem, apresentada ao Plenário
desta Corte, relativamente ao Inquérito
1055.
Para aplicar,
porém, esse dispositivo retroativamente, é
preciso determinar se essa aplicação se
pode fazer ainda quando já haja transitado
em julgado a decisão condenatória, ou se,
ainda que haja decisão condenatória, não
tenha ela transitado em julgado, ou,
finalmente, se apenas quando no processo
penal ainda não tenha sido proferida
sentença condenatória ou absolutória.
Os autores que
enfrentam essa questão - assim, ADA
GRINOVER E OUTRO (“Juizados
Especiais Criminais, Comentários à Lei
9.099, de 26.09.1995”, ps. 202/203, Editora
Revista dos Tribunais, São Paulo, 1996) e
DAMÁSIO DE JESUS (Lei dos Juizados
Especiais Criminais Anotada, 2ª edição, p.
114, Editora Saraiva, São Paulo, 1996) -
sustentam que o limite da retroatividade
dessa suspensão do processo penal é o da
possibilidade de sua incidência, ou seja,
sendo um instituto processual pressupõe o
andamento do processo de conhecimento, o
que implica dizer que, se já houve o trânsito
em julgado da decisão condenatória, é
impossível suspender um processo que já
terminou, até porque a lei em causa trata
da suspensão do processo e não de sua
ressurreição.
Adstringem-se eles
a fixar esse limite, partindo do princípio -
como salientam ADA GRONOVER E
OUTROS (Ob. cit., p. 203) - de que “essa
impossibilidade deriva da própria natureza
das coisas: é impossível suspender um
processo que já terminou”. Essa limitação,
porém, ao contrário do que pretendem esses
autores, não é um limite que deriva da
própria natureza das coisa, ou seja, o limite
da impossibilidade material, porquanto este
só ocorre no caso de pena cominada e já
cumprida, e não quando a pena ainda está
sendo cumprida, pois, levado a extremos o
princípio da retroatividade constitucional,
não haveria impossibilidade material, tendo
em vista a eventual conseqüência penal
benéfica da norma (a extinção da
punibilidade), que, por isso mesmo, não é
de natureza puramente processual penal, de
a “lex mitior” aplicar-se ao passado
atuando num processo que embora findo
ainda está produzindo efeitos.
A meu ver, os
limites da aplicação retroativa da “lex
mitior” vão além da mera impossibilidade
material de sua aplicação ao passado, pois
ocorrem, também, ou quando a lei
posterior, malgrado retroativa, não tem
mais como incidir, à falta de
correspondência entre a anterior situação
do fato e a hipótese normativa a que
subordinada a sua aplicação, ou quando a
situação de fato no momento em que essa
lei entra em vigor não mais condiz com a
natureza jurídica do instituto mais benéfico
e, portanto, com a finalidade para a qual
foi instituído.
A primeira dessas
duas últimas limitações à retroatividade foi
primorosamente caracterizada pelo
eminente Ministro SEPÚLVEDA
PERTENCE, como relator do “Habeas
Corpus” 70.641, julgado pela Primeira
Turma em 10.05.94. Esse “writ” tinha por
objeto a aplicação retroativa de lei
superveniente, que atribuiu efeito extintivo
da punibilidade de determinados crimes ao
pagamento de tributos, desde que anterior
ao recebimento da denúncia, e que a
impetração sustentava ser aplicável ainda
quando o pagamento fosse posterior ao
recebimento da denúncia e até mesmo do
trânsito em julgado da condenação. Em seu
voto, seguido pelos seus pares na referida
Turma, afastou S. Exa. essa aplicação com
esta justificativa:

“De minha parte,


“data venia”, não ouso emprestar tamanha
força ao dogma constitucional da
retroatividade “in melius” da lei penal.
A retroatividade da
lei - escusado dizê-lo -, é fenômeno do
mundo das normas, não, da natureza:
consiste basicamente em imputar as
conseqüências jurídicas da norma
superveniente aos fatos nela previstos,
embora anteriores à sua vigência, sem
contudo, poder para fazer retroceder o
próprio curso do tempo.
Assim, a lei
invocada, malgrado posterior ao
recebimento da denúncia, é certo que
poderia aplicar-se ao pagamento de
tributos efetivado antes da instauração do
processo, para atribuir-lhe o efeito extintivo
da punibilidade, que não tinha, ao tempo
em que sucedeu.
Nisso, porém, se
esgota a sua retroatividade: condicionado o
efeito extintivo à satisfação do crédito
tributário antes do recebimento da
denúncia, uma vez recebida esta, a lei
posterior, malgrado retroativa, não tem
mais como incidir, à falta de
correspondência entre a anterior situação
do fato e a hipótese normativa a que
subordinada a sua aplicação”.

Já a segunda
dessas duas últimas limitações a que me
referi - a que ocorre quando a situação de
fato, no momento em que a “lex mitior”
entra em vigor, não mais condiz com a
natureza jurídica do instituto mais benéfico,
e, portanto, com a finalidade para a qual
foi ele instituído - é, de certa forma, uma
extensão dessa primeira. De feito, ela existe
para demarcar até que momento a
retroatividade da norma mais benéfica se
aplica quando, no passado, na
oportunidade própria, não seria possível a
utilização do benefício que só surgiu
posteriormente, mas que ainda pode ser
aplicado porque a situação de fato existente
ainda admite que ele alcance a finalidade
para que foi instituído e que decorre da
natureza jurídica que lhe foi dada.
Ora, não há dúvida
de que o artigo 89 da Lei 9.099/95 criou
uma transação de natureza eminentemente
processual, embora com eventual
conseqüência penal (extinção da
punibilidade), em que não se atinge
imediatamente o “ius puniendi” do Estado
que permanece incólume até que, com o
cumprimento das condições dessa
suspensão ocorra a extinção da
punibilidade; enquanto isso não ocorre, há
apenas paralisação do processo. Não se
confunde, portanto, com a transação a que
se refere o artigo 76 da mesma Lei que é
eminente e diretamente penal, porquanto
em virtude dela há a aplicação de pena
restritiva de direitos ou de multa em lugar
de pena privativa de liberdade. Ademais, na
transação do artigo 89 o réu não admite
culpa, sendo uma forma pela qual ele se
defende, sem contestar a acusação, mas
também sem admitir culpa ou ver declarada
a sua inocência. Dentre as várias
finalidades dessa transação, como
acentuam corretamente ADA GRINOVER E
OUTROS (Ob. cit., p. 195), “a mais
marcante consiste em evitar a
estigmatização derivada do próprio
processo” e “como conseqüência, acaba
evitando também a estigmatização que traz
a sentença condenatória”.
Portanto, se já foi
prolatada sentença condenatória, ainda que
não transitada em julgado, antes da
entrada em vigor da Lei 9.099/95, não pode
ser essa transação processual aplicada
retroativamente, porque a situação em que,
nesse momento, se encontra o processo
penal já não mais condiz com a finalidade
para a qual o benefício foi instituído,
benefício esse que, se aplicado
retroativamente, nesse momento, teria, até,
sua natureza jurídica modificada para a de
verdadeira transação penal. Daí, a razão
por que DAMÁSIO DE JESUS (Ob. cit., p.
112), examinando o momento oportuno
para essa transação no juízo criminal, e
depois de observar que “uma das
finalidades da Lei 9.099/95 é desviar o
processo do rumo da pena privativa de
liberdade” acrescenta, com absoluto rigor
lógico, que “por isso, em qualquer
momento posterior à denúncia e ANTES DA
SENTENÇA, é admissível o “sursis”
processual”. Se assim é na aplicação
imediata desse artigo 89, o mesmo tem de
verificar-se na sua aplicação retroativa, que
não pode alterar a natureza jurídica do
benefício por ser aplicado a situação
processual incompatível com a finalidade
dele, até porque, para essa aplicação
retroativa já havendo sentença ou acórdão
condenatórios sem trânsito em julgado, ou
se anulam essas decisões (e o benefício não
foi criado para eliminar decisões
condenatórias) ou não se anulam elas (e o
benefício também não foi instituído para a
paralisação dos efeitos de decisões
condenatórias, que, persistindo, voltarão a
ter seus efeitos normais se as condições da
transação não forem cumpridas, o que
também desvirtua a natureza dessa
transação). Além disso, há que se
considerar que o próprio artigo 89, ao
aludir como requisito para a aplicação
dessa transação processual, à pena mínima
cominada pela lei como sendo a igual ou
inferior a um ano, pressupõe que não haja
pena imposta pelo Juiz, que tanto pode ser
a mínima, como, por circunstâncias
judiciais e agravantes, elevar-se até o
máximo (que, em alguns casos, pode
alcançar 6 anos).
Há mais, porém.
Para que essa transação seja
constitucional, em se tratando de crimes
que não estejam sujeitos à jurisdição da
Justiça especial de pequenas causas, é
necessário que ela não envolva pena, quer
na sua aplicação imediata quer na sua
aplicação retroativa, o que só é possível se
essa aplicação, em qualquer dessas duas
hipóteses, se fizer antes da ocorrência de
sentença condenatória ainda que não
transitada em julgado. Com efeito, têm
razão ADA GRINOVER E OUTROS (Ob.
cit., p. 205), ao sustentarem que a
suspensão do processo, em face do disposto
no artigo 98, I, da Constituição Federal - e
isso se dá evidentemente apenas quando se
trata de crimes não sujeitos a essa
jurisdição especial -, é constitucional por
não se tratar de transação penal, uma vez
que não envolve a aplicação da pena. A
respeito, bem acentuam esses autores:

“A suspensão
condicional do processo é instituto
rigorosamente constitucional. A CF, no art.
98, I, diz que cabe transação nas infrações
penais de menor potencial ofensivo. Já se
sustentou, por isso mesmo, que fora dessas
infrações não caberia nenhum tipo de
acordo (conciliação). A transação referida
pelo art. 98, I, da CF é a penal
(conformidade penal). Essa, pela
Constituição, só cabe nas infrações que ela
menciona. Ocorre que a transação que se
dá na suspensão do processo não envolve
aplicação de pena, é, portanto, a
processual, que tem duplo fundamento: de
um lado o princípio da discricionaridade
regrada (que é compatível o art. 129, I, da
CF, visto que o Ministério Público exercerá
a ação pública, na forma da lei); de outro,
o princípio da autonomia da vontade”.

Note-se, aliás, que


os autores têm feito a enumeração dos
crimes que dão margem à aplicação
imediata ou retroativa dessa transação
processual, e chegam estes a mais de 180,
vários dos quais de grande potencialidade
ofensiva, como, por exemplo, o estelionato
simples e seu subtipos, receptação,
corrupção de menores, falsificação de
documento particular, peculato mediante
erro de outrem, corrupção passiva simples e
privilegiada, corrupção ativa simples,
contrabando ou descaminho simples e seus
subtipos.
Observo, por fim,
que a Primeira Turma desta Corte, ao
julgar o HC 74017, anulou a sentença e o
acórdão condenatórios ainda não
transitados em julgado, para que fosse
aplicado retroativamente o disposto no
artigo 89 da Lei 9.099/95. Nesse
julgamento, porém, de que participei com a
minha adesão, foi levada em consideração
somente a fundamentação do voto do
eminente Ministro Celso de Mello, na
questão de ordem no inquérito 1.055, que
aludia, corretamente, à aplicação retroativa
dos artigos 74, parágrafo único, 76, 88, 89
e 91 da referida Lei, sem, no entanto, entrar
no exame do aspecto tratado no voto que
estou proferindo sobre as limitações dessa
aplicação retroativa, até porque nesse
julgado do Plenário não havia sequer ação
penal (e muito menos, portanto, sentença
condenatória) e foi aplicado o artigo 91
dessa lei 9.099/95 que era o que estava em
causa.
3. Em face do
exposto, e tendo em vista que, no caso, o
paciente, antes da entrada em vigor da Lei
9.099/95, já havia sido condenado em
primeiro grau de jurisdição às penas de um
ano de reclusão e multa de dez salários
mínimos, embora ainda não transitada em
julgado para a defesa - já o fora para a
acusação -, entendo que a hipóteses como
esta não se aplica retroativamente o artigo
89 da citada Lei, razão por que indefiro o
presente “habeas corpus”.

* Acórdão ainda não publicado.

BOAS FESTAS! O INFORMATIVO STF VOLTA A


CIRCULAR EM FEVEREIRO DE 1997.

Assessor responsável pelo Informativo


Miguel Francisco Urbano Nagib
nagib@stf.gov.br

You might also like