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CRONOLOGIA
da educação estão associadas a.uma
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i:,t* fatalismo pragmático neoliberal
Freire postulou a
educação como
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ato dialógico S$ A pedagogia crítica
libertador, tendo !r' {N
do eduãador brasileiro
como fontes e a teoria do agir
o humanismo comunicativo do
e uma dialética marxista em que filósofo alemão
a subjetividade é condição da convergem para a
transformação social criação de uma ética
da responsabilidade
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$,.-:-li-ii::iÊ ::::i,:;:il,.ir..:+ universal
Da infância pobre ao método
inovador de alfabetização, do exílio ti'iïijii à ]:.iÍ:i;-11:ï{:it:i::r. Í i.i -ïii_,:í.ri
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ao reconhecimento internacional, a A transformação das elabora
trajetória de Paulo Freire é atravessada Freire em máximas pedagógicas
por uma ética humanista radical transposição mecânica e ilegítima de
valores políticos para o âmbito escolar
!T/WW.VIVERM ENTECEREBRO.COM.BR
VIVER MENTE&CÉREBRO
www.vivermentecerebro.com.br
DIRETOR CERAL: Alhedo NaÍari
DIRETORA ADIUNTA: Ana Luisa Astiz
MEMóRIA DA PEDAGOGIA Ng 4 _ PAULO FREIRE
EDITOR: Manuel da Costa Pinto
EDITORA-ASSITENTE: Ana Weiss
DIAcRAMAçÃO: Ana Maria Onofri
ICONOcRAFIA: Odete Ernestina Pereira
REVISÃO: Elvira c. Castanon, Maria Eugênia de 5á, Saulo Krieger e
Stephania C. Gambirasio
REDAçÃO
(redacaoviveÌ@duettoeditorial.com.br)
EDITORA: Ana Claudia Ferrari
EDITOR-ASSISTENTE: Bruno Zeni
EDITOR DE ARTE: Gerson Gomes Martins
ASSISTENTE DE ARTE: Paula de Freitas Lopes
ICONOGRAFIA: Pietra SteÍania Diwan (coordenação),
Sara Alencar e Silvia Nastari (assistentes)
PRODUTOR CRAFICO: Dalton do Nascimento
Uto1ia urgente
Ere
REVSÃO: Edna Adorno (coordenação) e Luiz Roberto Malta
Daniela de oliveira
PTANEIAMENTO E INTERNET: Mariana Monné (coordenação) atualizações. Nesta ediçã0, por exemplo, são apontadas afnidaáes e áet'asagens em
relação ào construtiuismo (4ue Freire não conbecia Quaudo elaborou seu Mítoá0")
PROPAGANDA: Carolina Conde "
PRoMoçÃo: silvia campos
CENTRAL DE ATENDIMENTO AO ASSINANTÉ e àlransJormação apressada de algumas de suas afrmações em slogans queleuam
BRASIL: (l 1) 3038-6300
(atendimento@duettoeditorial.com.br) para o âmbito escolar oalores da uida pública sem ter em conta as espeafcidades âe
NOVAS ASSINATURAS
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NUMEROS AVULSOS E EDIçOES ESPECIAIS
(edicoesawlsas@duettoeditorial.com.br) Abase da práxis de Paulo Freire, todauia, í uma concepção dialígica áe sujeito
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permite (para alun de aproximações a pensadores cono MikhailBakhtin e liirgen
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Habumas) Jormular uma ética Que tun na educação um âe seus imperatiuos cate!ó-
OUVIDORIA
(owidoria@duettoeditorial.com.br) ricos. Pois se toáo aprendizado é um ato socialmente construído (e não a reprodução
Coleção Memória da Pedagogi4 nq 4 - Paulo Freire, ISBN 85-99535-04-8.
Distribuição com exclusividade para todo o BRASILT DINAP S.A. Rua Dr solitária de estruturas lingüísticas e ,:squemt$ de pensamento), a leitura áas palaoras
Kenkiti Shimomoto, 1678. Números avulsos podem ser solicitados ao
seu iornaleiro ou na central de atendimento ao leitor (1 l) 3039-5óOl ao eQuiuale a uma produção áe sentiáo Que necessariamente afrma a autonomia dos
preço da última ediçào acrescido dos custot de postagem.
sujeitos contra o, dirrrrro, que descreoun a marcba áa história como Jatalidade,
IMPRESSÃO: EDIOURO GúFICA
DIRETOR RÉSPONSÁVÉL| AIfTEdO NAStATi
contra a "cuhura do silêncio", Que associa opressão política, exploração econômica
e priuação áas palauras (Jorma essencial da alienação). Reside aí a uniuersalidade
ptlpp ANHN - e a urgêflcia - de sua utopia.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO.NA-FONTE
Ao fnal áute nunero sobre Paulo Freire, o "suplunento Especial" (que a cada ediçAo
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, HJ.
decisiuos da bistória da educaçao) recapitula a obra áe outro " rwolucio-
focalizn momentos
Colecáo memoria da pedagoqia, n.4: Paulo Freire: a uto-
Dia do sabeÍ/ editor Manuel da Costa Pinto : lcolaboradores Moacir nário"' Jean-JacQuesRousseau,fldsoJo dolluniuismo Que antecipa o conceito romântíco
Gadotti... et al.l. - Rio de Janeiro : Ediouro : Sào Paulo : Segmento-
Duetto,2005 áe "formaçã0" , constituindo uma áas cbaues para a moderna peáago1ia'
Suplemento especial: A educação no iluminismo
lnclui bibliograÍia
lsBN 85-99535-04-8
'1
. Freire, Paulo. 1921-1997.2. Educação de adultos. 3. Educaçáo
Manuel da Costa Pinto
oooulal 4. Globalizacào - AsDectos morais e Eticos. 5. Socioloqia
bdlcacional. 6. Mudânça soóial. L Pinto, Manuel da costa. ll. Tí-
tuloì Paulo Freire.
cDD 370.1 Crédito da foto de capa: @ ARQUIVOS PAULO FREIRE/ INSTITUTO PAULO FREIRE
cDU 37.015.4
VIVER MENTE&CÉREBRO
mffi wtuKw&sffiffi
POR MOACIR CINOTTI
este ano, o "Projeto Memória", uma iniciativa da Cremos que o reconhecimento da importância da obra
Fundação Banco do Brasil, homenageia Paulo de Paulo Freire no campo da educação dar-se-á quando
Freire. O "Projeto Memória" se propõe valorizar a a escola deixar de ser confinada no seu espaço para reco-
cultura e a história do nosso país, homenageando grandes nhecer a educação ao longo de toda a vida. O legado de
personalidades brasileiras. No ano passado o homenagea- Freire não pode ser considerado como uma contribuição
do foi Josué de Castro. A ediçao de 2005 foi realizada à educação do passado, mas à educação do futuro.
em parceria com o Instituto Paulo Freire e a Petrobras. É Não se pode entender o pensamento pedagógico de
um trabalho que objetiva resgatar, difundlr e presetvar a Paulo Freire descolado de um projeto social e político.
memória do educador Paulo Freire, contribuindo para a Por isso, não se pode "ser freiriano" apenas cultivando
popularização de sua biografia e de sua obra, tendo em suas idéias. Isso exige, sobretudo, comprometer-se com
vista a difusão de seu legado humanístico entre educado- a construção de um "outro mundo possível". Como dizia
res, pesquisadores, profissionais da educação, alunos e a ele, em Pedaqoqra da autonomia, "o mundo não é; o mundo
população em geral. está sendo". Sua "pedagogia sem fronteiras" é um convite
Um conjunto de produtos, com o título geral Paulo para transformá-lo.
sendo distribuído gratui-
Freire' eáucar para transJormar, está
tamente a 5 mi1 bibliotecas públicas e a mais de 18 mil ï-ïÇüES *fi Vïtì il F-{{S'ïüKr,q
escolas, um livro fotobiográfico, um vídeo documentário, Paulo Freire confessou no último grande Congresso
uma exposição itinerante, um almanaque histórico, um Internacional sobre o seu pensamento, realizado em setem-
guia do professor, cartazes etc. O Instituto Paulo Freire bro de 1996 em Vtória (ES), que se considerava, desde
acompanhou e participou da elaboração de todos os pro- sempre, como um "menino conectivo" (ver Paulo Freire'
dutos, zelando pela qualidade e pela fidelidade ao espírito a práxis político-peáagógica do educaáor). Essa característica
da obra de Paulo Freire. não era apenas pessoal. Era também epistemológica. Ele
Por isso, creio que é um momento muito feliz quando conseguia, melhor do que qualquer outro intelectual que
arevista Vver Mente a Cérebro se propõe organizar uma conheço, criar laços, interligar as categorias da história, da
publicação como esta, discutindo a atualidade do legado política, da antropologia, da economia, de classe, gênero,
de Paulo Freire, ao lado de outros grandes educadores e etnia, pobres e não-pobres. Sua pedagogia não é apenas
educadoras. uma pedagogia para os pobres. EIe, como ser conectivo,
Para nós, do Instituto Paulo Freire, ele continua sendo queria ver também os não-pobres e as classes médias se
a grande referência da educação emancipadora. E1e pode engajando na transformação do mundo em favor dos
ser comparado a muitos educadores do século XX, mas "esfarrapados do mundo".
ninguém melhor do que e1e formulou uma pedagogia dos Em todos os escritos de Freire, dos mais antigos aos
silenciados e da responsabilidade social, dos oprimidos e mais atuais, ele nos falava das virtudes como exigências
dos que não são oprimidos, mas estão comprometidos com ouvirtudes necessárias à prática educativa transformadora.
eles e com eles lutam, como afirma na dedicatória do seu Mas ele também nos deu exemplo de algumas virtudes,
livro mais conhecido Peáagogìa do oprimiá0. Colocar Paulo entre elas, a coerência e a simplicidade. E1e não foi coeren-
Freire no passado é não querer mexer na cultura opressiva te por teimosia. Para ele, a coerência era uma virtude que
de ontem e de hoje que ele denunciava. tomava a forma da esperança. Paulo praticava sobretudo
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a virtude do exemplo, dava testemunho do que pensava. não diminuindo em nada seu saber, os faria gente melhor.
Nessa coerência entre teoria e prática, eu destacaria o valor Cente mais gente". O simples não se opõe ao concreto e
da solidariedade ao complexo. Opõe-se ao prolixo. A simplicidade de Paulo
Outra virtude que conquistou foi a simplicidade. O Freire era densa, concreta e complexa.
simples não e o fácil E difícil ser simples. Ele conseguia Paulo Freire era também um ser humano esperan-
estranhar o saber cotidiano sem ser pernóstico, arrogante.
çoso. Não por teimosia, mas por "imperativo histórico
Paulo detestava o intelectr,ral arrogante, sobretudo o in- e existencial", afirma no seu livro Pedagogia da esperauça.
telectual arrogante de esquerda. Para ele o intelectual de Além da esperança cultivou a autonomia. Autonomia é
direita já era por convicção arrogante, mas o de esquerda a capacidade de decidir-se, de tomar o próprio destino
era por deformação. É assim que termina o seu último nas suas mãos. Diante de uma economia de mercado que
livro Pedagogia da autonomia, "Nem a arrogância é sinal de
competência nem a competência é causa de arrogância.
A {:Ol'lP!iEËNSÁO $ü pËhlSAN4Ët\ïü cio educador {na fç16. n3
Não nego a competência, por outro lado, de certos arro-
i:iblioteca dn lnstitulo Faulo Fre ire) vinrrila-se ao comprornìsso com
gantes, mas lamento neles a ausência de simplicidade que, a reccnstrução da reaiìdarJe social e poiítica
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invade todas as esferas de nossa vida, precisamos lutar presarial orienta-se pela "lógica do mercado" que é uma
lógica competitiva. O neoliberalismo procura naturalizar
- também através da educação - para criar na sociedade
civil capacidade de governar-se e de governar através de
a a desigualdade. "É assim mesmo", "não há outra coisa a
uma "esfera pública cidadã", como diziaJürgen Habermas, fazer", ouve-se dizer. Por isso, Paulo Freire chamava a
um autor muito apreciado por Paulo Freire (ver Horizontes atenção para a necessidade de observarmos o processo de
da (re)Jundamentação em educação popular, um âíálo4o entre Freire e construção da subjetividade democrática, mostrando, ao
Habermas e (,ritical theory and educatron' Freire, Habermas aná tbe contrário, que a desigualdade não é natural. Ìnsistia que
díalogical subject), para criar mecanismos de gestão pública era preciso aguçar nossa capacidade de estranhamento e
não-estatal, alternativa ao socialismo autoritário e ao capi- ter cuidado com a anestesia da ideologia neoliberal. Ela
talismo neoliberal. Paulo Freire tinha um verdadeiro gosto é fatalista. O neoliberalismo age como se a globalização
pela democracia. Ele sempre a tratava com carinho. capitalista fosse uma realidade definitiva, e não uma ca-
O que mais o preocupava nos últimos anos era o tegoria histórica.
avanço da globalização capitalista neoliberal. Por que A sua concepção de mundo e a sua teoria sócio-político-
Paulo Freire atacava tanto o pensamento e a prática neoli- educativa nos ajudam não apenas a entender melhor como
berais? Porque o neoliberalismo é visceralmente contrário funciona o modelo neoliberal, mas nos ajudam a construir
Paulo Freire atacava a ética do mercado sustentada pelo condições de opressão -, ela deve enraizar-se na cultura dos
neoliberalismo, porque ela se baseia na lógica do controle povos. A pós-modernidade se caracteriza pelo simulacro e
e afirmava uma ética universal do ser humano. No seu livro pelo consumo imediato. Ora, a educação é um processo a
Peáagogia da autonomia, ele destaca, "Daí a crítica perma- longo prazo e precisa combater o imediatismo e o consu-
nentemente presente em mim à malvadez neoliberal, ao
cinismo de sua ideologia fatalista e a sua recusa inflexível
ao sonho e à utopia. Daí a minha raiva, legítima raiva, que
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envolve o meu discurso quando me re{ìro às injustiças a
que são submetidos os esfarrapados do mundo. Daí o meu
nenhum interesse de, não importa que ordem, assumir um
ar de observador imparcial, objetivo, seguro, dos fatos e
W
dos acontecimentos. Em tempo algum pude serum obser-
vador'acinzentadamente' imparcial, o que, porém, jamais
me afastou de uma posição rigorosamente ética".
Para ele, a educação não deveria orientar-se pelo
paradigma da empresa, que dá ênfase apenas à eficiência.
O paradigma da empresa ignora o ser humano. Para este
paradigma, o ser humano funciona apenas como agente
econômico, como um "fator humano". O ato pedagógico
é democrático por natureza. Ao contrário, o ato em-
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EN/ SEU PRIMEIRO LIVRO, Paulo Freire cita, além o
de Maritain, o filósofo francês CaLrriel Marcel, outro
representante do humanisnro cristão que antecederia a o
influência marxista em sua obra o
com teorias do que com disciplinas ou currículos. Insistia nos diz Henry Gìroux em Paulo Freire' a critícal encounter'
que os alunos buscassem, fora de seu currículo escolar, Isso nos vai mostrar que Freire assumiu o risco de cruzar
outros conhecimentos e saberes, em outras disciplinas, na fronteiras para poder ler melhor o mundo e facilitar novas
literatura, em outras linguagens e formas de comunicação. posições sem sacrificar seus compromissos e princípios.
Ele trabalhava ao mesmo tempo com várias perspectivas As barreiras e fronteiras estão sempre à nossa volta. Os
teóricas, a do militante político, do filósofo da liberta- intelectuais educadores que ocupam fronteiras muito es-
e
treitas não percebem que elas também têm a capacidade de
ção, do cientista, do intelectual, do revolucionário etc.,
entendendo que para a realização do ato pedagógico aprisioná-1os. Nesse sentido, é preciso realçar a importân-
concorrem muitas ciências. cia da obra de Paulo Freire em termos mais globais. Seria
ingênuo considerar a sua pedagogia como uma pedagogia
FRüI$TË r kÂ5 crì.ï-iaÂï]-qs só aplicável no chamado "Terceiro Mundo".
As teorias de Paulo Freire cruzaram as fronteiras das A obra de Paulo Freire tem sido reconhecida mun-
disciplinas, das ciências, para além da América Latina. Ao dialmente não apenas como uma resposta a problemas
mesmo tempo que as suas reflexões foram aprofundando o brasileiros do passado ou do presente, mas como uma
tema que ele perseguiu por toda a vida - a educação como contribuição original e destacada da América Latina ao
prática da liberdade -, suas abordagens transbordaram-se pensamento pedagógico universal. Não se pode dizer que
para outros campos do conhecimento, criando raízes nos seu pensamento responda apenas à questão da educação de
mais variados solos - desde os mocambos do Recife até as adultos ou à problemática social dos países pobres.
comunidades burakunins doJapão -, fortalecendo teorias e Quais são as contribuições mais destacadas de Paulo
práticas educacionais, bem como auxiliando reflexões não Freire e que the deram tamanha notoriedade?
só de educadores, mas também de médicos, terapeutas, Creio que a validade da teoria e da práxis de Paulo
cientistas sociais, filósofos, antropólogos e outros profis- Freire está ligada sobretudo a quatro intuições originais,
sionais. Seu pensamento é considerado um parâmetro de já destacadas sobretudo nos trabalhos de Carlos Alberto
transdisciplinari dade. Torres, especialmente em seu liwo Pedagogía áa luta, da
Não podemos ver Freire apenas como um educador pedagogia áo oprimiáo à escola pública popular,
de adultos ou como um acadêmico, ou reduzir sua obra a 1) Ênfase nas conáições gnosíotógicas da prática eáucatioa.
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que fundamenta oParadigmaTerra, isto é, a visão utópica da primeiros escritos, principalmente no seu primeiro livro
Tèna como um organismo vivo e em evolução, onde os seres (escrito em 1959 como tese doutoral e publicado apenas
humanos se organizam como uma única comunidade, com- em 2001 pelo Instituto Paulo Freire) Educdção e atualìdade
partilhando a mesma morada com outros seres e coisas. brasileira, ele cita com freqüência os filósofos humanistas
cristãos Cabriel Marcel e Jacques Maritain, autores que
}-{ Lï&,$ANISM{:} H T} TAï-fl ïTCA eram muito discutidos nos anos 50. Como humanista,
Quais são as fontes primárias do seu pensamento2 Que afirmou e dlfundiu a crença de que era possível mudar a
autores o influenciaram ou tiveram ressonância nele? Em ordem das coisas e mostrou como fazê-lo. Para ele a utopia
que corrente ou tendência pedagógica contemporânea era o verdadeiro realismo do educador.
poderia ele ser inserido? Embora não se possa falar com muita propriedade
Eis algumas perguntas que muitos me fizeram depois de de fases do pensamento freiriano, pode-se pelo menos
escrever alguns textos sobre Paulo Freire, principalmente dizer que a influência do marxismo deu-se depois da
depois do livro Paulo Freire, uma biobibliografã (1996). influência humanista cristã. São momentos distintos,
Conversei várias vezes com ele sobre isso. Ele sempre mas não contraditórios. Como aÊrma o filósofo alemão
se esquivava. Dizia que isso não era importante. De fato, Voldiettch Schmied-Kowarzik, em seu hvro Peáagogia
ele não se interessava muito em saber quais eram os autores átalítica, Paulo Freire combina temas cristãos e marxistas
ou as correntes filosóficas que o influenciaram. Nao é facil na sua pedagogia dialético-dialógica. Paulo Freire é um
,12 VIVER MENTE&CÉREBRO ESPECIAL PAULO FREIRE
dlalético. A educação é uma prática antropológica por ma H$$)nRANÇÂ
r-Ã_ã'iÂ
nalureza, portanto ético-política. Por essa razão, pode Em primeiro lugar, ele nos deixou sua vida, uma rica
tornar-se uma prática libertadora. O tema da libertação é biografia. Paulo nos encantou com a sua ternura, sua doçura,
ao mesmo tempo cristão e marxista. O método utilizado é seu carisma, sua coerência, seu compromisso, sua seriedade.
que é diferente; a estratégia é diferente. O fim é o mesmo. Suas palavras e suas ações foram palavras e ações de luta por
Encontramos Hegel como referência desde o início. A um mundo "menos feio, menos malvado, menos desumano".
relação opressor-oprimido lembra a relação senhor-escravo Ao lado do amor e da esperança, ele também nos deixou um
de Hegel. Depois vieram Marx, Cramsci, Habermas. Seu legado de indignação diante da injustiça. Diante dela, dizia
pensamento é humanista e dialético. que não podemos "adocicar" nossas palavras.
A afirmação da utopia como práxis docente e discente Além do testemunho de uma vida de compromisso com
lembra o paradigma humanista, cristão e socialista. O que há a causa dos oprimidos, e1e nos deixou uma imensa obra,
de original em Freire, com relação ao marxismo ortodoxo é estampada em muitas edições de seus livros, em artigos e
que ele afirma a subjetividade como condição da revolução, vídeos espalhados pelo mundo. Nela se encontra uma pe-
da transformação social. Daí o papel da educação como dagogia revolucionária. A pedagogia conservadora humilha
conscientização. Ele afirma o papel do sujeito na história o aluno. A pedagogia freiriana, a "pedagogia do diálogo",
e a história como possibilidade. A história é possibilidade. deu dignidade a ele, respeitando o educando e colocando
Não através de um movimento como mecanismo de luta de o professor ao lado dele como companheiro, companheira,
classes, pura e simplesmente, mas pela ação consciente de com tarefa de orientar e dirigir o processo educativo, como
a
sujeitos históricos organizados. Paulo Freire sustentava que o um ser que também busca e aprende ao ensinar.
socialismo é uma utopia que precisa ser renovada pela edu- Como o aluno, o professoré também um aprendiz... Esse
cação. Isso havia escapado aMarx e a Lênin e aos marxistas é o legado de Freire.No desenvolvimento da sua teoria da
em geral, que pouca importância deram à educação. Por isso educação, Paulo Freire conseguiu, de um 1ado, desmistificar
Paulo Freire foi criticado pela ortodoxia maxista. os sonhos do pedagogismo dos anos 60, que, pelo menos
na América Latina, sustentava a tese de que a escola tudo
ô podiar de outro lado, conseguiu superar o pessimismo dos
anos 70, para o qual a escola era meramente reprodutora do
o status Quo. Fazendo isso - superando o pedagogismo ingê-
é nuo e o pessimismo negativista -, conseguiu manter-se fiel
à utopia, sonhando sonhos possíveis. Fazer hoje o possível
z
de hoje, para, amanhã , fazer o impossível de hoje.
E
Em março de 1997, um grupo de jovens de Brasília ateou
fogo e matou um índio pataxó. Paulo Freire ficou muito
impressionado com este horor. E se perguntava por que
chegamos a tamanha barbárie. As causas são múltiplas' há a
mídia, a escola, a sociedade - todos somos responsáveis. Mas
há a impunidade que permite, sobretudo às classes poderosas,
fazer quase tudo o que quiserem sem ser punidas. Raramente
são punidas. Poucos são os ricos que estão nas cadeias. Por
isso precisamos dizer "não pode" sem ter medo de seÍTnos
antidemocráticos. Há o que pode e o que não pode ser feito.
Diante da injustiça, da impunidade e da barbárie, precisa-
mos de uma pedagogia da indignação. Dizer "não" provoca
conhecimento. O "não" desacomoda, incomoda, desinstala.
Obriga-nos a pesquisar. Dizer"não" é afirmar-se como "eu". É
buscar a ética, é valoç é postura. Paulo Freire nos falava com
freqüência de uma pedagogia da rebeldia.
REFUCIADOS AFRICANOS. Paulo Freire rÌedìcou Pedaqaqitt co aprimirirs ar:s esfarraparlo: rlo mundc
e aos que com eles sofrem e com eles lutam
Paulo Freire confessou certa vez que "não tinha ver- Dar continuidade a Freire, não significa tratá-lo
gonha de ser professor". Como um plantador do futuro, como um totem, ao qual não se pode tocar mas se deve
ele sempre será lembrado porque nos deixou 'Íaízes, apenas adorar, não significa também tratá-lo como um
asas e sonhos como herança. Paulo Freire nos deixa guru, que deve ser seguido por discípulos, sem ques-
um legado de esperança. Como criador de espíritos, a tioná-lo. Nada menos freiriano do que essa idéia. Paulo
melhor maneira de homenageá-lo é reinventá-lo. Não Freire foi, sobretudo, um criador de espíritos. Por isso,
copiá-lo. É l.uu. adiante o esforço de uma educação com deve ser tratado como um grande educador popular.
uma nova qualidade para todos. Essa nova qualidade não Adorar Freire como um totem significa destruir Freire
será medida pela quantidade absorvida de conteúdos como educador. Por isso não devemos repetir Freire,
técnico-científicos apenas, mas, pela produção de um mas "reinventá-1o", como ele mesmo dizia. Para esta
tipo novo de conhecimento, "molhado de existência" tarefa, não designou esta ou aquela pessoa ou institui-
e de história, um conhecimento que deve ser, acima de ção. Esta tarefa ele deixou a todos nós, tão claramente
tudo, uma ferramenta de mudança das condições de vida expressa já no Pedagogia do oprimido, quando o dedicou
daqueles que não têm acesso à existência plena. Ele nos "aos esfarrapados do mundo, e aos que neles se desco-
deixou teorias e exemplos que nos podem levar muito brem e, assim descobrÌndo-se, com eles sofrem, mas,
além de onde estamos hoje. Como disse um professor sobretudo, com eles lutam".
logo que ouviu falar de seu falecimento "ele nos deixou
"JìNLã,\{è
mais pobres porque partiu, mas estamos mais ricos {l{3N Ì "!: N iX-} Ë' itlì { Rf
tornando educadoras e aprendentes, multiplicando seus Conversations with Paulo Freire on pedagogies for the non-
poor. W. B. Kennedy, em Pedagogies for the non-poor, A. F. Évans,
espaços de formação. A escola, nesse novo contexto R. A. Evans e W. B. Kennedy (orgs.). Orbis Books (Nova york),
de impregnação do conhecimento, não pode ser mais 1986.
um espaço, entre outros, de formação. Precisa ser um Critical theory and education: Freire, Habermas and the
dialogical subject. R. A. Morrow e C. A. Torres. lnstituto paulo
espaço organizador dos múltiplos espaços de formação, Freire/Cortez, no prelo.
exercendo uma função mais formativa e menos infor- Educação e cidadania: a práxis de Paulo Freire em São paulo.
mativa. Precisa tornar-se um "círculo de cultura", como M. P. O'Cádia P. L. Wong e C. A. Torres. lnstituto paulo Freire/
dizia Paulo Freire, muito mais gestora do conhecimento Cor|ez,2002.
Estudios freirianos. C. A. Torres. Libros del euirquincho (Buenos
social do que lecionadora.
Aires), 1995.
Nesse contexto, o pensamento de Paulo Freire é mais
Horizontes da (re)fundamentação em educação popular: um
atual do que nunca, pois em toda a sua obra ele insistiu diálogo entre Freire e Habermas. J. I. Zitkoski. Editora URl, 2000.
nas metodologias, nas formas de aprender e ensinar, nos Literacy for citizenship: gender and grassroots dynamics in
métodos de ensino e pesquisa, nas relações pessoais, enfim, Brazil. N. P. Stronquist. SUNY Press (Albany, EUA),1997.
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VIVER MENTE&CÉREBRO t5