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Design de Superfície: novo campo ou hibridismo?

Surface Design: a brand new field or an hybrid?

MsC Sérgio Sudsilowsky, SENAC-SP.

Resumo
É bastante comum no Brasil a prática profissional “descobrir” uma
possibilidade de atuação até então incomum e, apoiada pelos discursos
dos veículos de comunicação especializados, tal prática ser
“oficializada”, configurando-se como uma “nova possibilidade” de
atuação profissional. Parece-nos que o mesmo vem ocorrendo com o
Design de Superfície. Assim, propomos para este artigo apresentar uma
metodologia de investigação que traga à tona tais discursos – seja da
práxis, das escolas de design ou dos veículos de comunicação -, a fim de
iniciarmos uma “cartografia” das atuações sobre as superfícies, nos
projetos de design.

Palavras Chave: Design, Superfície, Prática profissional

Abstract
Here, in Brazil, it is common that the professional practice "to discover"
an uncommon possibility to act and, supported for the speeches that
came from the specialized magazines and ONGs websites, such practical
tends "to be officialized", configuring itself as a new professional area to
act. It seems us that the same has been occurring on projects of Surface
Design. Thus, in this article we consider to present a methodological
investigation that brings this speeches - either from praxis, from Design
Schools or from the specialized medias -, to initiate a "cartography" of
surfaces performances, in design projects.

Key Word: Design, Surface, Professional practice


Introdução à temática

Nas áreas profissionais onde a prática projetual é ação comum, existe


uma possibilidade de atuação quase inexplorada, na sua configuração
autônoma: o projeto de superfícies.

Designers, arquitetos, artistas plásticos e quase todos os outros


profissionais que manipulam “superfícies” na sua prática profissional -
aproveitando para fazer um trocadilho – tende a fazê-lo de forma
“superficial”, i. e., as “peles1” das coisas são sempre utilizadas como
“base” para a expressão de suas idéias, espécie de suportes para
representações gráfico-imagéticas, tanto no meio físico como no digital,
raramente se preocupando com os diversos outros aspectos que
constituem esta mesma superfície (luz, textura, profundidade, carga
semântica etc.), sobretudo as possibilidades de causar ambigüidades na
resposta esperada para a representação que se pretende comunicar, por
meio desse “suporte”. Exemplo típico são as diversas empresas que têm
adotado o papel reciclado como suporte de comunicação para as suas
identidades visuais, esquecendo que apesar de estar “na moda”, as
texturas/cores e demais características físicas da superfície desse suporte
podem contrastar ideologicamente com a imagem já construída pela
empresa (sem falar da calibração de cores e qualidades de impressão, por
exemplo).

Como exceção, alguns campos da engenharia, fazendo o caminho


inverso dos demais profissionais citados, projetam e produzem
estruturas que geram superfícies, porém sem “prever” ou “planejar” –
projetar, portanto no sentido etimológico do termo – os resultados
"plásticos" e “estéticos” que essa superfície apresentará. Isso ocorre com
mais freqüência nas áreas de desenvolvimento de material e/ou
processos químicos, bio-estruturas e áreas afins, onde esses especialistas,
apesar de obterem superfícies extremamente complexas e eficientes,
ainda assim desconsideram-na, como possibilidade autônoma de atuação
projetual, registrando e divulgando muito mais as fórmulas e cálculos
estruturais do que propriamente resultados “superficiais”.

Aproveitando que trouxemos à tona uma das questões futuras da nossa


pesquisa – a relação entre estruturas e superfícies projetadas -, busquei
em Jean Baudrillard, falando sobre os “sistemas de objetos” que nos
cercam e conosco interfaceiam cotidianamente, uma denúncia:

“(...) pouco se diz sobre a questão de saber como os objetos são vividos, a que
necessidades, além das funcionais, atendem, que estruturas mentais misturam-se
às estruturas funcionais e as contradizem, sobre que sistema cultural, infra ou
transcultural, é fundada a sua cotidianidade vivida.” (Baudrillard, 1997:10/11)

Para fazer o devido diálogo com o trecho citado, é necessário apresentar,


também, um recorte mais delimitado do campo profissional que estamos

1 Conceito apresentado inicialmente pelo crítico de design Ézio Manzini, no livro “A Matéria da
Invenção” (1986).
investigando: são, a princípio, dois grandes blocos profissionais, duas
situações projetuais encontradas, onde, de um lado temos profissionais
que utilizam o projeto como forma predominante em sua prática
cotidiana e como linguagem de comunicação, interagindo com as
superfícies dos materiais, porém com caráter meramente de suporte –
praticamente transformando a superfície em algo invisível, já que é
comum a prática de “mascarar” essa mesma superfície, descartando
completamente a sua aparência visual e/ou tátil como elemento
comunicador e, do outro lado, profissionais que agem de forma tão
profunda na sua atuação com o material - sobretudo no projeto de novos
materiais, novos usos e possibilidades para os existentes -, que
desconsideram completamente a aparência resultante de suas pesquisas,
a superfície, portanto, surgindo quase que como “por encanto”, um mero
resultado inesperado.

E, partindo dessas duas formas de atuação e estabelecendo a ponte com a


reflexão proposta por Baudrillard, observo que é rara a atuação
profissional, em ambos os grupos acima citados, que pense o objeto2
como algo maior, composto de matéria-prima, processos de produção e
funções diversas, porem “revestido” de várias “peles”, plenas de
significados.

Design de Superfícies: novas possibilidades projetuais?

Em busca dessas possibilidades semânticas, venho desenvolvendo


pesquisas paralelas no campo do Design: a primeira, mais antiga e
institucional (iniciada em 2002), onde investigo a importância do uso da
cor nos projetos de Design, apresentando algumas propostas para a
construção de uma metodologia de ensino da Teoria da Cor, voltada
especificamente para os cursos que utilizam o projeto como linguagem
de comunicação metodológica (sobretudo o Design e a Arquitetura).
Quanto à outra, iniciada em 2004 e apresentada como proposta de tese
de doutoramento na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-Rio), onde procuro mapear o conceito de “Design de Superfície”,
suas origens e possibilidades de aplicação, a fim de propor uma
estruturação desta possível “sub-área” do design3, que seria um híbrido
de outras habilitações como o Design Gráfico, Design de Produtos e do
Projeto de Interfaces.

Isto posto, ao estruturar as frentes de trabalho a ser desenvolvidas em


ambas as atuações acadêmicas, percebi que venho pesquisando temas
comuns – ainda que sob enfoques diversos -, uma vez que na medida que
proponho novas abordagens para o ensino e aprendizado do uso da cor

2 Conforme apresentado pelo prof. Dr. Guastavo Amarante Bomfim em diversos artigos,
entendemos aqui o termo objeto como referente tanto aos objetos de uso (produtos), como
sistemas de comunicação (Bomfim, 1994, 1996 e 1997).
3 Em relação à essa classificação, falarei mais adiante sobre o documento resultante da revisão

da Tabela de Áreas do Conhecimento, feita pelo Comitê Assessor de Design do CNPq, durante o
mês de outubro de 2005
como um dos elementos primordiais nos projetos de design, desenvolvo
com os alunos projetos que envolvem a intervenção em superfícies, tanto
no que se refere à cor como possibilidade estruturante dos produtos
desenvolvidos, quando ligada intrinsecamente ao material escolhido para
o projeto, como na sua aplicação externa, “superficial”, quando elemento
plástico compositivo. Ou seja, as superfícies surgiram como ponto de
intersecção nas duas pesquisas, verdadeiras interfaces, tornando-se,
portanto, objeto principal e mediador das minhas investigações.

Assim, com o re-direcionamento do meu olhar, comecei a observar (e


registrar) os diversos discursos que espocam já há algum tempo nas falas
“de design”, principalmente naquelas que citam superfícies,
padronagens, “peles”, invólucros, embalagens e os demais sinônimos
que tais interfaces (entre objetos e sujeitos) possam surgir. São falas
institucionais, advindas de projetos pedagógicos e ementários de cursos
superiores e de pós-graduação, de associações de classe, sites do tipo
“.org” ou “.gov”, oficiais, e também artigos científicos, livros, revistas e
demais periódicos que se ocupam da comunicação em design, sem
deixar de lado, claro, as falas daqueles que se auto-denominam “designer
de superfícies”, que atuam na prática de projeto4.

O presente artigo pretende, dessa forma, discutir acerca das


possibilidades metodológicas para a execução da pesquisa proposta,
levantando, a partir de teóricos, questões a serem investigadas,
estabelecendo um “passo-a-passo” para a implementação do estudo. A
buscas da fundamentação necessária, a fim de dialogar com autores que
já se debruçaram sobre alguns dos temas em questão, tornou-se
necessária, sobretudo aqueles que investigaram as tais “peles” das coisas
(nos sentidos literal e figurado), os objetos de uso, o espaço e suas
interfaces. Para tanto, utilizo textos de autores como Ezio Manzini,
Abraham A. Moles, Jean Baudrillard, Gustavo Amarante Bomfim,
Friedensreich Hundertwasser, Pierre Bourdieau e Wilson Kindlein Jr.
sobretudo no que se refere ao campo da teoria dos objetos e das atuações
em superfícies, juntamente como Zygmunt Baumann, Umberto Eco,
Frederic Jameson e Gaston Bachelard, que se referiram às questões do
espaço, além da relação “moderno-pós-moderno”.

Procedimentos Metodológicos

Parto do princípio que uma prática profissional, quando é citada


oficialmente, de alguma forma já se configura como campo de atuação
reconhecido aqui no Brasil, como acontece com a profissão de
“Designer” - apesar de ainda não ser regulamentada, é campo
profissional reconhecido pelo governo brasileiro, uma vez que consta
dos documentos oficiais de diversos Ministérios e órgãos públicos
(incluindo nesses documentos os Diários Oficiais – federal e estaduais –
e regulamentos de concursos públicos). Assim, o primeiro de todos os

4 Ressalto que tais investigações acontecem tanto em fontes nacionais como internacionais,
ainda que o enfoque, aqui, será dos discursos brasileiros.
discursos que me propus a prospectar foi o governamental, uma vez que,
existindo “oficialmente” discursos sobre uma práxis ou uma atuação
profissional, alguma proposta estruturada já fora apresentada
institucionalmente em alguma das instâncias superiores. Portanto, iniciei
as buscas pela existência de registros “oficiais” de possibilidades de
atuação profissional na área de superfícies, coletando documentos dos
Ministérios do Estado, sobretudo o MTE (Ministério do Trabalho e
Emprego), MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior) e MEC (Ministério de Educação e Cultura).

Para este artigo restringirei as análises de discursos ao primeiro citado –


o TEM -, ficando para as próximas etapas da pesquisa o restante dos
documentos encontrados nos demais ministérios (MDIC e MEC).

O Ministério do Trabalho e Emprego brasileiro possui um amplo


catálogo que se propõe a listar o maior número possível de profissões
existentes no território nacional, conhecido como Classificação
Brasileira de Ocupações (CBO); publicado originalmente em 1994 e
revisto 2002, o CBO possui hoje mais de 3.150 profissões registradas
com informações bastante completas, dados que vão desde a área de
atuação, principais características do trabalho, “família” a que pertence,
normatização e legislação da área, e até mesmo características pessoais
esperadas para aquele que pensa em tornar-se um profissional da referida
ocupação. Para esclarecer melhor o que vem a ser o CBO, segue um
trecho do documento ministerial sobre a metodologia adotada na sua
confecção:

“(...) cada família ocupacional foi descrita por um grupo de 8 a 12 trabalhadores da


área, em oficina de trabalho (ou painel) com duração de três dias, sendo dois dias de
descrição e um dia de revisão, por outro comitê, também formado por
trabalhadores. Ao todo, foram 1.800 reuniões-dia, em vários pontos do Brasil, com
a participação de aproximadamente 7 mil trabalhadores.” 5

Aproveitando o mesmo documento, uma vez que oficial, adotamos as


bases conceituais por ele apresentadas a fim de delimitarmos o que se
entende por “ocupação”, “profissão”, “atividade profissional” (ou
“atuação profissional”), bem como “emprego” e “competência”
oficialmente no Brasil, já que pretendemos mapear um campo
profissional e a sua constituição a partir de discursos. Sendo assim:
“Ocupação é um conceito sintético não natural, artificialmente construído pelos
analistas ocupacionais. O que existe no mundo concreto são as atividades exercidas
pelo cidadão em um emprego ou outro tipo de relação de trabalho (autônomo, por
exemplo). Ocupação é a agregação de empregos ou situações de trabalho similares
quanto às atividades realizadas.

O título ocupacional, em uma classificação, surge da agregação de situações


similares de emprego e/ou trabalho. Outros dois conceitos sustentam a construção
da nomenclatura da CBO 2002:

5 Disponível em: www.mtecbo.gov.br, acesso em: 15/03/2006, às 11:26 h


» Emprego ou situação de trabalho: definido como um conjunto de atividades
desempenhadas por uma pessoa, com ou sem vínculo empregatício. Esta é a
unidade estatística da CBO.

» Competências mobilizadas para o desempenho das atividades do emprego ou


trabalho.

O conceito de competência tem duas dimensões:

» Nível de competência: é função da complexidade, amplitude e responsabilidade


das atividades desenvolvidas no emprego ou outro tipo de relação de trabalho.

» Domínio (ou especialização) da competência: relaciona-se às características do


contexto do trabalho como área de conhecimento, função, atividade econômica,
processo produtivo, equipamentos, bens produzidos que identificarão o tipo de
profissão ou ocupação.” (Idem)

Com as bases “conceituais” definidas, buscamos a existência de


classificação oficial para ocupações como:
• “design” - 11 citações para a ocupação, desde “web designer”,
“sound designer”, até os clássicos “desenhista ou designer industrial”
e “designer de produto gráfico”, além de 32 citações para atividade /
formação / referências sobre a profissão em outras áreas;
• “superfície” - 18 citações para a ocupação, desde “acabador de
superfícies”, até “trabalhadores de tratamento de superfícies”, além de
134 citações para atividade / formação / referências sobre a profissão
em outras áreas;
• além de 31 referências à atuação em “estamparia”, 36 referentes à
“interface”, e o surpreendente resultado de 1038 atividades
relacionadas à atuação em projetos!

É claro que, mesmo nas leituras superficiais, percebemos que tais


números (superlativos, diga-se de passagem) dizem respeito a uma
infinidade de profissionais, das áreas mais diversas, desde executivos
que acompanham projetos de Recursos Humanos até mesmo pintores de
parede. Porém, uma coisa também é perceptível: comissões as mais
diversas se debruçaram sobre temas comuns em seus relatórios,
confirmando o que diversos teóricos de design já afirmam há algum
tempo: o Design, como campo, constitui-se de uma multiplicidade de
áreas e fazeres, possibilitando o surgimento de sub-áreas, sub-atividades
e novas atuações profissionais, como é o caso do “Design de
Superfícies”.

Em tempo: desde o final da década de 1990 vem ocorrendo diversas


iniciativas governamentais a fim de “compreender” o campo do design,
suas particularidades, formas de atuação e possibilidades profissionais,
com destaque às Leis Educacionais (Currículo Mínimo, seguida das Leis
de Diretrizes e Bases da Educação Superior), o projeto “Oficinas de
Design”, do MDIC e Programa Brasileiro de Design, bem como as
Comissões de Especialistas e Comitês Assessores, entre outros. Dessa
iniciativa é importante destacar a mais recente: a “Revisão da Tabela do
Conhecimento”, sob a ótica do Design, realizada em outubro de 2005
pelo Comitê Assessor de Design/CNPq que, através da consulta a mais
de 200 pesquisadores da área, pertencentes a cerca de 40 instituições de
ensino e pesquisa de Design, sobretudo com a participação direta de
todas as coordenações de Pós-graduação em Design do país, resultou em
um documento que se propõe a rever todo o campo de atuação, desde a
própria redefinição da grande Área em que se encontra classificado nas
plataformas CNPq / LATES / CAPES – antes pertencente às
Engenharias -, ganhando agora status de área própria: Design (com
maiúsculo e sem itálico!)

Finalizando esse “intervalo” nas análises de discursos, cito um trecho do


referido documento, uma vez que nele aparece pela primeira vez a
possibilidade de o Design de Superfície ser considerada uma
“Especialidade”, uma vez que: “a feição transdisciplinar da Área do
Design permite a pluralidade dos elementos identificadores de sua
prática”6.

E sobre os discursos? Algumas considerações...

Retornando aos documentos oficiais, esse primeiro olhar sobre um


discurso governamental acerca de atuações profissionais me pareceu
bastante diversa, muitas vezes dúbia e, em alguns casos, até mesmo
contraditória, principalmente quando aponta características pessoais
“desejadas” para os atuantes nas áreas que conflitam com as ações
realizadas. Deu-nos a impressão de que as equipes trabalharam sempre
de forma estanque e enclausuradas nos gabinetes oficiais, sem ter havido
um momento sequer de encontro entre os membros de áreas afins. Porém
é preciso ressaltar a importância de tal iniciativa, uma vez que este
documento reconhece oficialmente áreas até então desprezadas,
incluindo-as no rol de benefícios sociais (como os “moto-boys”, por
exemplo).

Assim, circunscrever o termo “superfície”, mapeando os significados


que ela assume nas diversas áreas já citadas ao longo destes documentos,
sobretudo no Design, me parece a etapa seguinte a ser apresentada nesta
comunicação.

Além disso, mapear como ele se apresenta nos discursos das associações
de classe e escolas de design também se faz necessário, uma vez que
estas já começam a utilizar a expressão “Design de Superfície” para
nomear disciplinas e cursos, sejam cursos livres e até mesmo extensões
universitárias – não tardarão as pós-graduações... Como exemplo, eis
uma definição “formal” de Design de Superfície, encontrada em um site
bastante popular, de grande acesso pelos profissionais da área:

“Design de superfície: (Dg.) Ramo do design gráfico voltado à criação de


grafismos, ilustrações ou outros tipos de composições para aplicação em
diferentes tipos de superfícies. Destacam-se as usadas no revestimento de

6 Relatório “Revisão da Tabela do Conhecimento sob a ótica do Design”. Curitiba: CNPq,


Novembro de 2005
paredes, pisos ou calçadas, como pastilhas, azulejos, lajotas, papéis, tecidos,
carpetes, divisórias etc.”7

Em seguida, realizei um levantamento nas estruturas curriculares das


escolas de Design brasileiras a fim de localizar o “pensamento de Design
de Superfície” – quando da existência de. Encontrar momentos da
prática de ensino e aprendizagem onde haja o projeto de superfícies, ou
pelo menos onde a preocupação com a superfície como interface entre o
produto e o usuário esteja presente foi o recorte proposto para essa
prospecção, que ora se encontra em faze de tabulação.

Adiantando um pouco do encontrado, apenas três escolas aqui no Brasil


apresentam Núcleos de Pesquisa onde a superfície (ou o “design de
superfície”, nominalmente) aparece como objeto de estudo, porém com
caráter diversos nas três: a Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
com dois grupos de estudos na área: o “NDS – Núcleo de Design de
Superfície”, que apresenta vocação têxtil – porém já começa a debruçar
olhares para outros suportes e materiais, como a cerâmica – e o “LdSM –
Laboratório de Design e Seleção de Materiais”, da Escola de
Engenharia, com caráter mais técnico e voltado aos processos
produtivos. O terceiro deles encontra-se no Centro Acadêmico Senac
Santo Amaro, em São Paulo, como uma linha de pesquisa pertencente ao
Grupo “Matéria-Prima” denominada LæMS (Laboratório de Estudos
sobre Materialidade Sensível), Núcleo este do qual faço parte.

Em última instância acreditamos ser importante também mapear como as


principais escolas de “vanguarda” mundial apresentam a superfície aos
seus alunos, com destaque para as já contatadas MIT (Massachussets
Institute of Tecnology – Massachussets), Rhode Island School of Design
(Providence), FIT (Fashion Institute of Tecnology, New York) e Fashion
Institute of Design & Mershandising (Califórnia)todos nos EUA,
London College of Fashion (Londres, Inglaterra), e Scuola Politecnica
di Design di Milano (Milão, Itália), Ontario College of Art & Design
(Toronto, Canadá) e a Faculty of Textile Science & Technology, Shinshu
University (Nagano, Japão). Em tempo: tal seleção deu-se a partir de um
levantamento prévio onde as informações “Design” e “Superfície” (ou
Surface Design) aparecem juntas nos projetos pedagógicos, planos de
ensino, ementário ou quaisquer outros documentos institucionais de
escolas de Design.

Alguns autores, de forma esparsa e pouco estruturada, já começam a se


referir às possibilidades de atuação nos suportes e peles dos objetos,
alguns mesmos já o nomeando como "Design de Superfície”. Porém, o
que é comum na no campo do design em se tratando de novos
possibilidades projetuais, sobram contradições nos seus diversos usos.
Realizar uma categorização deste campo surge como objetivo secundário
da pesquisa em curso, já que, mesmo existindo desde o início da história
da humanidade, projetar superfícies ainda não é associado a nenhum

7 Site da Rede Design Brasil, disponível em:< www.designbrasil.org.br>,


acessado em 17/03/06, às 11:23 h
profissional específico, seja designer gráfico, de Comunicação Visual,
muito menos designer de produto. Assim, parametrizar este “novo”
campo de formação e atuação para os profissionais de Design, ao nosso
ver, requer urgência, já que há muito está comprovado que o dogma
modernista do “design se aprende fazendo” não possui mais lugar em
tempos “pós-modernos” de sociedades conectadas na tão propalada
“aldeia global”.

Como sugestão, aparece ainda a possibilidade de investigar áreas afins


que lidam com a superfícies em seus estudos, sobretudo aqueles eu se
ocupam de mapear percepções, sensações, interações, mutações,
comunicações, etc. Laboratórios como o Design, Manufacture and
Engineering Management, da University of Strathclyde, em Glasgow,
Escócia, desenvolvem pesquisas semelhantes às realizadas pelo LdSM,
porém com enfoque mais voltado para o trabalho com as novas mídias.

Além da estruturação do campo do Design de Superfície, a pesquisa


prévia já aponta para a necessidade de se abordar o projeto de design em
outros aspectos, levando em consideração a superfície como mais um
elemento compositivo e, por isso mesmo, dotada de grande carga
informacional, não apenas como suporte de expressão de informações.

Até porque os dois já citados tipos de ação projetual, que muitas vezes
são simbióticos e que perpetuam o ciclo da “negação” da superfície,
onde os que projetam superfícies geralmente não se preocupam com a
sua aparência pois, parece-nos, já faz parte do senso comum destes
profissionais o fato de que esta superfície será desconsiderada ou
completamente alterada nos projetos de produtos, edifícios, espaços etc.,
enquanto os outros nem mesmo dela tomam conhecimento. Ambos
parecem esquecer – ou deixam completamente de lado – o fato de que a
superfície “comunica”, já que é ela, no final, que se constituirá como a
interface entre o produto e o sujeito, seja este produto um resultado de
projeto gráfico, de objetos, para interfaces digitais ou o próprio edifício.

Assim, enfocar como áreas de busca o design, arquitetura, engenharia de


materiais, engenharia civil e artes plásticas, sobretudo a partir dos
discursos profissionais, é a minha próxima empreitada. Entender
historicamente como ocorre a relação homem-superfície-objeto,
investigando desde a história da arte, da tecnologia e dos processos
produtivos deve ser a etapa subseqüente, uma vez que conhecer as
principais atuações em superfícies pode ser uma das chaves para se
entender o significado que ela vez assumindo no processo de projetar.

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