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Método de cultura popular – conscientiza e politiza...

educação e política separados, mas como


duas partes, não so a educação vai decidir s rumos da historia,mas educação verdadeira
permite uma emancipação...

A Pedagogia do Oprimido é considerada a principal obra de Freire (GADOTTI,


2004) e está dividida em quatro capítulos, antecedidos de uma apresentação
de Ernani Maria Fiori e uma introdução intitulada “primeiras palavras”: 1.
Justificativa da Pedagogia do Oprimido; 2. A concepção ‘bancária’ de educação
como instrumento da opressão; 3. A dialogicidade – essência da educação
como prática de liberdade; 4. Teoria da ação antidialógica. Beisiegel (2010, p.
79) faz um breve resumo de cada capítulo:

O primeiro é dedicado à análise da “contradição opressor-


oprimido”. Examina a situação concreta de opressão sob a
perspectiva dos opressores e dos oprimidos. Conclui afirmando
que “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os
homens se libertam em comunhão”. O segundo capítulo, em geral
mais lembrado pelos leitores, é dedicado ao estudo das
concepções bancária e problematizadora da educação. Conclui as
análises observando que “ninguém educa ninguém – ninguém se
educa a si mesmo – os homens se educam entre si, mediatizados
pelo mundo.” O homem é visto como “um ser inconcluso,
consciente de sua inconclusão e seu permanente movimento em
busca do Ser Mais”. O terceiro capítulo discute a relação entre a
dialogicidade (a essência da educação como prática da
liberdade) e o diálogo. Examina os temas geradores e o conteúdo
programático da educação, trabalha a metodologia dos temas
geradores e suas possibilidades conscientizadoras. Finalmente, o
quarto capítulo é dedicado ao estudo da antidialogicidade e da
dialogicidade como matrizes de teorias antagônicas da ação
cultural: uma primeira, que serve à opressão e a segunda,
comprometida com a libertação.

Medeiros (2013, p. 128-129) destaca como uma das razões que levou
Freire a escrever esta obra foi o problema da humanização/desumanização:

(coisificação) pela qual passa a nossa sociedade, pois, as


contradições aí existentes geram uma totalidade desumanizada e
desumanizante e, nesse caso, a Pedagogia do Oprimido pode ser
entendida como uma Pedagogia Humanista que luta pela
humanização, pelo trabalho livre, pela desalienação, pela
afirmação dos homens como pessoas, como “seres para si”.

Torres (2008, p. 10) complementa estas breves análises em relação à


Pedagogia do Oprimido: “Estou convencido de que existem dois livros que
marcam importantes desenvolvimentos da filosofia da educação no século 20:
um é Educação e democracia, de John Dewey, e outro é Pedagogia do
oprimido, de Paulo Freire”. E Gadotti (2004, p. 59) pondera que a Pedagogia do
Oprimido, elaborada nos primeiros anos do exílio é “fruto de um trabalho
educativo exercido em situações concretas, e não de devaneios intelectuais ou
simplesmente da leitura de livros”.
O livro Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire traz à tona a questão da
relação dialética (contradição) entre opressores versus oprimidos e de como é
necessário uma práxis que possa orientar uma ação visando a superação
dessas contradições.

Em
seu primeiro capítulo que tem como título “Justificativa da Pedagogia do
Oprimido”, Paulo Freire (1987, p. 16) discute o processo de desumanização
causada pelo opressor a seus oprimidos “[...] desumanização, que não se
verifica apenas nos que têm sua humanidade roubada, mas também, ainda que
de forma diferente, nos que a roubam, é distorção da vocação do ser mais”.
Freire relata que a forma de imposição que o opressor envolve o oprimido faz
com estes “sejam menos”, ou seja, vejam-se em condições onde ele precise do
seu usurpador. Neste capítulo Paulo Freire desenvolve tal discussão em torno
da oposição entre humanização e desumanização e de luta para recuperar a
humanidade dos oprimidos.

E esta luta somente tem sentido quando os oprimidos, ao buscar


recuperar sua humanidade, que é uma forma de criá-la, não se
sentem idealistamente opressores, nem se tornam, de fato,
opressores dos opressores, mas restauradores da humanidade
em ambos (1987, p. 16)

A compreensão de Paulo Freire sobre a Humanização do Ser Humano


constrói-se como uma ontologia do ser. Ele entende que o ser humano é um
ser inacabado – no mesmo sentido da filosofia existencialista sartreana
(GARCIA, 2008) – e em processo constante de humanização. Em outras
palavras, a vocação ontológica dos seres humanos é um processo contínuo de
sua humanização em busca do “ser mais”. Mendonça (2008) considera que
Freire recebeu influência de três vertentes do humanismo: o humanismo
existencialista, o humanismo cristão e o humanismo marxista. Vale ressaltar
que o humanismo existencialista de Freire não se limita apenas ao pensamento
de Sartre, mas igualmente ao pensamento de filósofos como Martin Heidegger,
Gabriel Marcel e Karl Jaspers. E Medeiros (2013, p. 130) ressalta como a
vocação ontológica do ser humano: “é ser sujeito e não objeto. Ser sujeito da
história, de sua própria história. Uma história que não se constrói no vazio, mas
em sociedade, em que homens e mulheres se mostram capazes de “ser mais”,
mais humanos, e de superar qualquer situação de desumanização”.

Ao assumir que o problema central da história presente da humanidade


seja o de sua humanização, Freire entende naturalmente que isto se dá em
contraposição à sua desumanização, reconhecendo assim a oposição histórica
entre Humanização e Desumanização: o oposto do processo de sua vocação é
a desumanização dos seres humanos (MELO JÚNIOR; NOGUEIRA, 2011).
Freire reconhece a desumanização como realidade histórica e ontológica
(MEDEIROS, 2013, p. 130). E o processo de liberdade deve ser vista como
uma luta pela libertação da situação de desumanização na qual os oprimidos
se encontram.

A libertação do estado de opressão é uma ação social, não podendo,


portanto, acontecer isoladamente. O homem é um ser social e por isso, a
consciência e transformação do meio deve acontecer em sociedade. Mas como
poderá o homem sair da opressão se os que nos “ensinam” são também
aqueles que nos oprimem? No desenvolver de seu livro, Paulo Freire procura
conscientizar o docente do seu papel problematizador da realidade do
educando e de como a educação também tem um papel importante nesse
processo de busca pela liberdade e que, por isso, Freire é levado a aprofundar
alguns pontos discutidos em sua primeira obra: Educação como prática da
liberdade.

Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se


libertam em comunhão (1987, p. 29)

A ação política junto aos oprimidos tem de ser uma “ação cultural” para
a liberdade. É como homens que os oprimidos têm de lutar e não como
“coisas”. O processo de desumanização coisifica os homens e, portanto, lutar
pela sua humanização é fazer com que estes deixem de ser “coisas”. É
precisamente porque reduzidos a quase “coisas”, na relação de opressão em
que estão, que se encontram destruídos. Para reconstruir-se é importante que
ultrapassem esse estado de quase “coisa”.

Essa liberdade que tanto o oprimido almeja, tem que ser conquistada
por seu próprio esforço e em comunhão com os outros, pois como afirma
Freire (1987, p. 29), “ninguém liberta ninguém e ninguém se liberta sozinho: os
homens se libertam em comunhão”, e quando o mesmo não consegue ver que
é um alienado, não é uma doação que alguém faça, e sim uma busca dolorosa
para encontrar essa liberdade, mergulhados nesse mundo que o opressor o
expõe, os oprimidos têm medo dessa liberdade, ficam divididos em sair desse
mundo o qual está preso ou livrar-se, deixa-os confusos, e continuam sofrendo
interiormente. “A libertação, por isto, é um parto. E um parto doloroso. O
homem que nasce deste parto é um homem novo” (FREIRE, 1987, p. 19). É
difícil, exaustivo encontrá-la, mas quando chegar a ser na vida dos oprimidos,
tornam-se seres diferentes do que se podia ver antes.

“Não haveria oprimidos, se não houvesse uma relação de violência que


os conforma como violentados, numa situação objetiva de opressão” (FREIRE,
1987, p.23). Os oprimidos se conformam, se acomodam e aceitam a violência
com que são tratados, não procuram enxergar a realidade ao seu redor,
aceitam tudo com facilidade, são humilhados pelos opressores.

“Somente os oprimidos, libertando-se, podem libertar os opressores”


(FREIRE, 1987, p.24). Ou seja, no momento em que os oprimidos se
libertarem, os opressores deixarão de existir, e assim ambos encontrariam a
liberdade. Opressores geram opressores, e muitos que são oprimidos almejam
ser opressores por causa do “poder” de opressão, que por muitos oprimidos é
tido como objetivo. Apesar do opressor parecer está acima de tudo, ele
também não é um ser livre, porque depende do oprimido para estar acima dos
outros, precisa do “poder”.

“Para os opressores, o que vale é ter mais e cada vez mais, à custa,
inclusive, do ter menos, ou nada ter dos oprimidos” (FREIRE, 1987, p.25). Os
opressores não medem as consequências, para continuar no seu papel de
opressor, quanto mais tem, mais querem ter, torna-se uma busca sem fim, não
ligam se os oprimidos nada tem, o que querem é alcançar seus objetivos, sem
com nada se importar.

Mas uma vez os homens, desafiados pela dramaticidade da hora atual,


se propõem a si mesmo como problema, descobrem que pouco sabem de si,
de seu “posto no cosmos’’, e se inquietam por saber mais. O problema de sua
humanização, apesar de sempre dever ter sido, de um ponto de vista
axiológico, o seu problema central, assume, hoje, um caráter de importante
preocupação.

A Pedagogia do Oprimido, que não pode ser elaborada pelos


opressores, é um dos instrumentos para esta descoberta crítica, a dos
oprimidos por si mesmo e a dos opressores pelos oprimidos, como
manifestações da desumanização.

Se os homens são os produtores desta realidade e se esta, na


“inversão da práxis’’, se volta sobre eles e os condiciona, então transformar a
realidade opressora é tarefa histórica, é tarefa de homens e mulheres. Ao
fazer-se opressora, a realidade implica a existência dos que oprimem e dos
que são oprimidos. A pedagogia do oprimido que, no fundo, é a pedagogia dos
homens empenhando-se na luta por sua libertação, tem suas raízes aí. A
Pedagogia do Oprimido, que busca a restauração da intersubjetividade, se
apresenta como pedagogia do homem.

A Pedagogia do Oprimido, como pedagogia humanista e libertadora,


terá dois momentos distintos. O primeiro, em que os oprimidos vão desvelando
o mundo da opressão e vão comprometendo-se, na práxis, com a sua
transformação; o segundo, em que, transformada a realidade opressora, esta
pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em
processo permanente da libertação. Segundo Medeiros (2013, p. 129) essa
Pedagogia Humanista caracteriza-se ainda:

por um movimento de liberdade que surge a partir dos oprimidos,


sendo a pedagogia realizada e concretizada com o povo na luta
pela sua humanidade. É uma pedagogia de homens e mulheres
que lutam num processo permanente pela sua libertação, pelo que
tem necessariamente de ser feita com o povo através da reflexão
sobre a opressão e suas causas, que gera uma ação
transformadora, denominada por práxis libertadora (MEDEIROS,
2013, p. 129).

No capítulo II, Paulo Freire discute “A concepção ‘bancária’ de


educação como instrumento da opressão”, e pretende mostrar as formas
mais comuns de se conduzir e manter inertes uma sociedade. Por conseguinte,
nos leva a aspirar por uma libertação dessa inércia, deste palco de fantoches
cujo manipulador está o opressor e o oprimido como manipulado. Na
concepção de Paulo Freire esse modelo de educação também apresenta
formas de controle e opressão e tem na concepção “bancária” a característica
da sociedade opressora: ela deposita conhecimento aos educandos de forma
que o mesmo fique limitado só ao conhecimento que lhe é imposto sem que
haja diálogo e debate de opiniões e ideias.

Desta forma, Paulo Freire (1987, p. 33) nos conduz a pensar na


necessidade de mudança, de liberdade e superação do atual estado de inércia,
criticando e mostrando alguns caminhos que possam seguramente nortear tais
anseios. Ele traz a discussão de que é o professor quem faz o seu aluno um
mero depositário: “desta maneira, a educação se torna um ato de depositar, em
que os educandos são os depositários e o educador o depositante”..

Uma vez conhecendo sua situação na sociedade, o educando jamais se


curvará para a condição de oprimido, pois seu lema será a igualdade e por ela
buscará. A educação bancária transforma a consciência do aluno em um
pensar mecânico, ou seja, em sentir como se a realidade social fosse algo
exterior a ele e de nada lhe aferisse. “Na concepção bancária, predominam
relações narradoras, dissertadoras. A educação torna-se um ato de depositar
(como nos bancos); o ‘saber’ é uma doação, dos que se julgam sábios, aos que
nada sabem” (GADOTTI, 2004, p. 69). E Martins (2014, p. 58) ressalta como
Freire identifica a figura do professor bancário “que atua depositando
conteúdos nos alunos, tidos como recipientes vazios que precisam ser preen-
chidos pelo professor, agente único do processo de educação para esta
concepção”.

Já a educação problematizadora gera consciência de si inserido no


mundo em que vive e diz respeito à ideia de que deve existir um intercâmbio
contínuo de saber entre educadores e educandos, com a intensão de que os
últimos não se limitem a repetir mecanicamente o conhecimento transmitido
pelos primeiros. Além disso, como ressalta Beisiegel (2010, p. 89) “Para a
educação problematizadora, enquanto trabalho humanista e libertador, a
importância assenta em que os homens submetidos à dominação lutem por
emancipação”. A educação problematizadora assenta no diálogo através do
qual professores e alunos estabelecem possibilidades comunicativas em cuja
raiz está a transformação do educando em sujeito de sua própria história. É a
superação da dicotomia educador versus educando. Nesse processo de
educação problematizadora, o professor aprende enquanto ensina pelo diálogo
de seus educandos, estimulando o ato cognoscente de ambos, ou seja, ensina
e aprende a refletir criticamente.

O processo de educação é um ato eminentemente humano, pois só os


homens tem consciência de sua incompletude e, por isso busca compreender o
mundo que vive em sua finitude. Mas é no ser que transforma que ele percebe
a sua importância, portanto é na educação problematizadora que gera história
que se humaniza a sociedade.

O capítulo III tem como tema “A dialogicidade – essência da


educação como prática de liberdade” e demostra o quanto é importante o
desenvolvimento do diálogo no processo educativo em oposição ao método
bancário de transmissão de conhecimento.

Paulo Freire (1987, p. 45) fundamenta o diálogo no amor e aborda


também a práxis, que tem como dimensões: a ação, reflexão e ação
transformadora. A palavra tem nesse sentido um valor de transformação,
transformar o mundo e aos homens. E para libertar os oprimidos de sua
condição de opressão, utiliza-se do diálogo. Sendo a palavra um direito de
todos, e não um privilégio como muitos defendem e uma ação amorosa, pois:
“Não há diálogo, porém, se não há um profundo amor ao mundo e aos
homens”.

Neste capítulo Freire (1987, p.56) descreve também alguns elementos


chaves do seu “método”, como a utilização de temas geradores para fomentar
o diálogo e o aprendizado. Segundo Freire, “investigar o ‘tema gerador’ é
investigar, repitamos, o pensar dos homens referido à realidade, é investigar
seu atuar sobre a realidade, que é sua práxis”.
Os temas geradores são importantes e devem partir sempre da
realidade e não como a educação tradicional que se baseia em conteúdos pré-
estabelecidos. Não é possível ensinar as pessoas simplesmente com palavras
que não sejam do domínio do educando.

É necessário que haja uma investigação e uma coleta desses temas


que fazem parte do convívio social do povo que se quer ensinar. É possível
vermos professores que acreditam que os conteúdos são mais importantes do
que a experiência que o aluno traz da vida, o sujeito não tem um conhecimento
e se faz necessário inserir os conhecimentos no indivíduo sem se preocupar
com a historicidade. E os temas geradores são propulsores para novos
diálogos.

É extremamente danoso uma sociedade sem o diálogo, sem a troca de


experiência, onde o “eu” é detentor da verdade absoluta, e o outro não deve
interferir em seus conceitos. Sem diálogo a sociedade se divide e se torna alvo
fácil dos opressores que induzem pessoas fragilizadas e egoístas, onde a
liberdade será quase que impensável.

O diálogo não anula o “eu”, pois parte das nossas próprias


experiências, mas em comunhão com o outro, que também trazendo sua
experiência constrói uma nova visão nessa troca de saberes. A liberdade é
alcançada através de uma consciência crítica na práxis, onde o eu e
o outro estarão em um constante diálogo na transformação da realidade.

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Acessado em 08/06/2015
Quando tentamos um adentramento no diálogo como fenômeno
humano, se nos revela algo que já poderemos dizer ser ele
mesmo: a palavra. Mas, ao encontrarmos a palavra, na análise do
diálogo, como algo mais que um meio para que ele se faça, se nos
impõe buscar, também, seus elementos constitutivos (FREIRE,
1987, p. 44).

Para nos libertamos das garras dos nossos opressores precisamos


encontrar no diálogo a nossa arma de defesa. A maioria das pessoas é coagida
a ficarem silenciadas, não podendo expressar suas opiniões tornando-se
pessoas submissas aos detentores do poder da sociedade vigente. O diálogo é
a base da comunicação, por via dele que conhecermos o outro, suas carências
e necessidades. Se eu não escuto o outro eu não o conheço. A palavra é a
chave da libertação do oprimido. E Paulo Freire volta ao tema do amor como
fundamento para o diálogo.

Não há diálogo, porém, se não há um profundo amor ao mundo e


aos homens. Não é possível a pronúncia do mundo, que é um ato
de criação e recriação, se não há amor que o funda. Sendo
fundamento do diálogo, o amor é, também, diálogo. Daí que seja
essencialmente tarefa de sujeitos e que não possa verificar-se na
relação de dominação. (1987, p.45).

Somente posso ouvir a voz de quem está ao meu redor se eu tiver amor
ao mundo e aos homens, porque é praticando uma relação harmoniosa que
saberei as suas necessidades. O diálogo é o encontro dos homens
mediatizados pelo mundo. O mundo será o que me ligará aos outro homens e
mulheres, nossas leituras de mundo nos farão reconhecer a importância da
comunicação entre o eu e o tu.

A educação tem que ser pautada na conversa, na comunicação entre


professor e aluno e entre os colegas, assim a educação se tornará uma
educação para a libertação onde todos terão direito em expressar suas
opiniões.

Com isso o autor nos mostra a importância do contexto social e cultural


trazido pelo aluno à sala de aula. É a partir dessa reflexão da cotidianidade,
dos elementos que compõem a realidade do aluno que deverá ser baseado o
conteúdo programático da educação, como propõe Paulo Freire. Dessa forma a
aprendizagem ocorrerá mais rápido, pois é mais fácil trabalhar com palavras
que estejam no dia a dia do povo, para explicar-lhes o sentido.

“Nosso papel não é falar ao povo sobre nossa visão de mundo, ou


tentar impô-la a ele, mas dialogar com ele sobre a sua e a nossa” (FREIRE,
1987, p. 49). O método da dialogicidade ganha importância ao conceder aos
participantes do processo de ensino e aprendizagem a liberdade de expressão.
Aqui o direito de refletir já não está restrito ao professor que repassa sua visão
de mundo, sua realidade, mas abre-se espaço para que o aluno também possa
expressar sua percepção da realidade.
Vemos assim como Freire construiu um importante instrumento
educativo na formação de uma consciência do povo na transformação social:
uma educação do povo para o povo e com o povo.

O capítulo IV trata da “Teoria da ação antidialógica” e mostra, por


assim dizer, os dois lados da moeda, os quais o próprio autor visualiza o
primeiro como incorreto – a Teoria da Ação Anti-Dialógica –, e o que realmente
deveria ser disseminado e seguido – sua Teoria da Ação Dialógica –, na qual
descreve a importância do homem como ser pensante de práxis sobre o
mundo. A ação transformadora se faz pela reflexão e ação. Demonstra também
que um ser que se dedique a liderança revolucionária da opressão, não deve
confundir seu papel de representante do diálogo com os oprimidos, impondo o
seu ponto de vista. Tem que levar a verdadeira palavra daqueles que
representa emergindo o novo em meio ao velho da sociedade dominante. Além
disso, o caráter revolucionário dos oprimidos, em sua ação transformadora, é
uma ação pedagógica, da qual emerge novas possibilidades de renovação
social. O quadro abaixo demonstra os dois lados dessa moeda.

Em sua
descrição sobre o sistema de opressão antidialógico, Paulo Freire descreve
que são quatro os elementos utilizados para a realização da dominação (como
visto no quadro acima): conquistar, dividir, manipular e invasão cultural. A
primeira delas é a conquista, que segundo Freire (1987, p. 78) “o antidialógico,
dominador, nas suas relações com o seu contrário, o que pretende é conquistá-
lo, cada vez mais, através de mil formas”.

O primeiro caráter que nos parece poder ser surpreendido na ação


antidialógica é a necessidade da conquista [...] Todo ato de
conquista implica num sujeito que conquista e num objeto
conquistado. O sujeito da conquista determina sumas finalidades
ao objeto conquistado, que passa, por isto mesmo, a ser algo
possuído pelo conquistador (FREIRE, 1987, p. 78).

O segundo ponto é dividir, para manter a opressão. A divisão das


massas se faz necessária para poder dominá-las, pois, um povo unido é sinal
de perigo. Esse é o discurso de quem oprime, por isso, evita-se trabalhar
conceitos como lutas, revoltas, união, etc.

Esta é outra dimensão fundamental da teoria da ação opressora,


tão velha quanto a opressão mesma. Na medida em que as
minorias, submetendo as maiorias a seu domínio, as oprimem,
dividi-las e mantê-las divididas são condição indispensável à
continuidade de seu poder (FREIRE, 1987, p. 79).

Além disso, é pela manipulação que os opressores controlam e


conquistam as massas oprimidas para a realização de seus objetivos, “a
manipulação, na teoria da ação antidialógica, tal como a conquista a que serve,
tem de anestesiar as massas populares para que não pensem” (FREIRE, 1987,
p. 84). Então o terceiro ponto é a manipulação da elite dominadora, que as
massas populares com menos conhecimento político são facilmente
enganadas por pessoas que entendem um pouco mais, usando isso para
continuar seu poder sobre eles. Enquanto pessoas que estão ao lado da
minoria tentam contrariar de toda forma esse ato.

Através da manipulação, as elites dominadoras vão tentando


conformar as massas populares a seus objetivos. E, quanto mais
imaturas, politicamente, estejam elas (rurais ou urbanas) tanto
mais facilmente se deixam manipular pelas elites dominadoras
que não podem querer que se esgote seu poder (FREIRE, 1987,
p. 83).

Por fim a invasão cultural é um instrumento da conquista opressora,


“neste sentido, a invasão cultural, indiscutivelmente alienante, realizada
maciamente ou não, é sempre uma violência ao ser da cultura invadida, que
perde sua originalidade ou se vê ameaçado de perdê-la” (FREIRE, 1987, p.
86). A minoria dominante impõe sua visão de mundo e todos se guiam por ele.

Finalmente, surpreendemos na teoria da ação anti-dialógica, uma


outra característica fundamental, - a invasão cultural que, como as
duas anteriores, serve à conquista. Desrespeitando as
potencialidades do ser a que condiciona, a invasão cultural é a
penetração que fazem os invasores no contexto cultural dos
invadidos, impondo a estes sua visão do mundo, enquanto lhes
freiam a criatividade, ao inibirem sua expansão (FREIRE, 1987, p.
86).

Paulo Freire encerra esse capítulo colocando os elementos da ação


dialógica, que são: a colaboração, a união, a organização e a síntese cultural.

A colaboração do diálogo entende o outro como o outro e respeita a sua


culturalidade. A união da massa oprimida se faz necessária, e é papel do
representante dessa classe mantê-la unida para ganhar força de
transformação, “a organização das massas populares em classe é o processo
no qual a liderança revolucionária, tão proibida quanto este, de dizer sua
palavra, instaura o aprendizado da pronúncia do mundo, aprendizado
verdadeiro, por isto, dialógico” (FREIRE, 1987, p. 103 – grifo nosso). A síntese
cultural se fundamenta na compreensão e confirmação da dialeticidade
permanência-mudança, que compõem a estrutura social.
Portanto, compreendendo a tese fundamental de Paulo Freire neste
livro, vemos que ele elabora conceitos pedagógicos pelos quais o educador
deve enveredar-se para uma transformação no contexto social de dominação
que se dá através do processo de educar.

A conscientização se dá por um processo gradual em que se busca a


liberdade sem produzir novos opressores e oprimidos. Ele coloca uma
revolução na estrutura social, através da qual o homem como sendo de
fundamental importância a sua existência no mundo, é capaz de fazer sua
história, sem um futuro a priori, como este que é imposto pelas minorias
dominantes.

Em virtude dos fatos, Freire, na sua Pedagogia do Oprimido, nos faz


compreender sobre a prática da liberdade com uma nova pedagogia de ação
reflexiva e crítica, abrindo fronteiras para o pensar do homem , e isso tudo se
deve na comunicação com o outro, ou seja, no diálogo.

Ao analisarmos essa obra de Paulo Freire, percebemos que até hoje,


em nossas escolas, o conceito de educação problematizadora ainda não
conseguiu ser implantada. O professor formador de conscientização vive um
drama entre ensinar o que pensa ou cumprir com o currículo que lhe é imposto
pelos órgãos educacionais. Vive pesquisando para preparar uma aula que
muitas vezes os alunos nem param para ouvir por que o conteúdo que o
professor tem que cumprir não condiz com a realidade que seus alunos vivem.
Então podemos entender que o sistema educacional de hoje também continua
a disseminar a opressão. Não tanto por causa do professor, mas pelas
condições de trabalho que lhes é imposto. O educador hoje é tão vítima como o
oprimido, pois é meramente mais um deles.

Percebemos que esse sistema educacional atual se configura através


de uma pirâmide, na qual as unidades hierárquicas “dominantes” exercem uma
forte pressão sobre os “dominados”, prevalecendo assim, a lei do mais forte. O
discurso de Paulo Freire na teoria é encantador e nos faz analisar essa
educação libertadora e dialógica que amplia o senso crítico e faz-nos acreditar
como seres iguais na capacidade de absorver, transformar e desenvolver
novos conhecimentos, porém, sabemos que a realidade vivenciada é total e/ou
parcialmente diferente. E que para que tal discurso possa se efetivar de fato,
na prática, é preciso colaboração, união e organização das classes populares,
em diálogo permanente para a transformação da realidade opressora em que
vivemos.

Referências Bibliográficas

BEISIEGEL, Celso de Rui. Paulo Freire. Recife: Fundação Joaquim Nabuco,


Editora Massangana, 2010. (Coleção Educadores).

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1987
GADOTTI, Moacir. Convite à leitura de Paulo Freire. 2. ed. São Paulo:
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GARCIA, Márcio da Conceição. O Existencialismo de Jean-Paul Sartre e a


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MARTINS, Bruno. Oprimidos da Pedagogia: de Paulo Freire à educação


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MEDEIROS, Alexsandro. Humanização versus Desumanização: reflexões em


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MELO JÚNIOR, Ebenezer da Silva; NOGUEIRA, Marlice de Oliveira. A


humanização do ser humano em Paulo Freire: a busca do “ser mais”. Revista
Formação@Docente, Belo Horizonte, vol. 3, n. 01, dezembro/2011, p. 01-14.
Acesso em 25/01/2017.

MENDONÇA, Nelino Azevedo de. Pedagogia da Humanização: a pedagogia


humanista de Paulo Freire. São Paulo: Paulus, 2008.

TORRES, Carlos Alberto. Reinventando Paulo Freire 40 anos depois. In:


GADOTTI, Moacir (org.). 40 olhares sobre os 40 anos da Pedagogia do
Oprimido. São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2008.

Leia mais: http://www.portalconscienciapolitica.com.br/products/pedagogia-do-


oprimido-resenha-critica/

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