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O plano mestre para este complexo sistema foi a Torah.

Isso nos ajuda


a entender por que o Talmud declara que uma pessoa deveria sempre
ter em mente que toda ação sua pode alterar o estado do Universo. A
obrigação de cumprir a vontade Divina é mais que um assunto
pessoal. Desviar-se da vontade Divina rompe a harmonia do Universo.

O Talmude ainda proclama que o Universo não teria sido criado se não
fosse pelo mundo espiritual, pela palavra divina, pela Torah, chamada
“reshit”, princípio de tudo (Pes. 68).

A Escritura tem início com uma frase muito interessante: “No


princípio...”. A palavra usada aqui em hebraico é bereshit. Esta
palavra aparece somente duas vezes em toda a Escritura: aqui em
Bereshit (Gênesis) 1.1 e em Iochanan (João) 1.1. Um outro fator
interessante é que o primeiro verso da Torah em hebraico possui sete
palavras! Isto indica um senso de organização da parte do Criador,
que aqui demonstra-nos que seus atos foram todos planejados,
organizados e realizados de forma lógica e precisa, a fim de atingir
um objetivo: uma criação que glorificasse o Nome do D-us Eterno! Em
Iochanan 1.1 temos escrito que “no princípio o verbo era Elohim”. A
palavra “verbo” vem do hebraico há dabar que significa “falar,
declarar, conversar, ordenar, prometer”. Esta “a palavra” é Elohim,
porém o termo ali significa D-us Criador! Ou seja, aquilo que saiu da
boca do Eterno foram palavras, uma conversa d´Ele com os
elementos existentes fazendo com que Ieshua – sendo Ele esta
“dabar” – participasse da criação do universo e através deste diálogo
entre eles, tudo então foi formado!

Existe ainda algo curioso aqui: porque a Torah tem início com a letra
bet? Devemos perceber que esta letra tem uma abertura para a
esquerda, diferentemente das demais letras do alfabeto hebraico.
Mas o que isso significa? Significa que o processo de revelação tem
início a partir de agora e ao homem é dado conhecer somente aquilo
que lhe é revelado a partir da palavra “Bereshit”... A língua hebraica é
escrita da direita para a esquerda, significando então que ao homem
foi dado conhecer o que o Criador lhe revelou a partir de agora! O que
ficou para trás não está revelado e portanto ao homem é vedado o
direito de “especular” o que aconteceu antes da criação! Mas, por
que começar “da direita?” A direita é a origem e isso nos fala sobre o
poder, ou seja, tudo se originou e flui através do poder de Elohim que
foi manifesto pela palavra.

Alguns rabinos argumentam ainda que a letra “bet” como preposição


do termo “reshit” funciona como um construto indicando o tempo
em que a ação foi realizada. Então seria traduzido por “para”. A
palavra “reshit” significa "primeiro, princípio, melhor". Em sua raiz
temos vários outros significados como ro´sh, que significa "cabeça,
pico, cume, parte superior"; também ri´shâ que significa "princípio,
tempo remoto". Poderíamos então traduzir estas palavras assim:
“Para o princípio...”, ou “para o início” ou ainda “para o melhor”. Isto
aponta para algo que passamos a ter conhecimento e que está em
seu estágio primário, embrionário, inicial. Certamente que estas
palavras sugerem que haverá uma continuidade a fim de que a idéia
inicial possa tomar forma e possamos então compreender
plenamente o que iniciou-se aqui. Neste relato o tempo é
irrelevante... Não nos é dito quando deu-se este início... Sabemos que
este evento irá tornar-se algo tão importante que norteará a vida da
humanidade, pois o universo e o homem não tiveram sua origem não
num “processo evolutivo aleatório”; eles fazem parte de um delicado
e intrincado projeto oriundo da mais poderosa Mente do Universo!

O primeiro ato do Eterno nos é dito: “criar!” A palavra aqui traduzida


por “criou” é bara, que significa “criar sem material pré-existente”.
Em sua raiz temos a palavra berî´â que significa “coisa nova”. Isso
demonstra que a criação deu-se a partir do nada! É difícil
concebermos o “nada” pois nós não sabemos o que é isso, mas
podemos entender que somente o Eterno existia (e com Ele todo o
mundo espiritual). Alguns rabinos também crêem que este verbo
estaria no tempo conhecido por gerúndio, ou seja, “criando”, o que
enfatizaria o tempo da criação e não a ordem em que ela foi
realizada.

Vamos conhecer também o primeiro nome de D-us: Elohim. Aqui ele é


descrito como “D-us Criador”. A sua apresentação é feita logo no
início da primeira linha da Bíblia.

A primeira “obra” da criação foram “os céus e a terra”. Parece um


tanto vago falar-se sobre céus, pois nosso conhecimento sobre os
céus é um tanto quanto limitado. Ao referir-se aos “céus”, a palavra
hebraica usada é shamaim e está no plural, pois o Eterno está
falando de dois níveis, pois os céus, Sua morada já existiam então.
Aqui parece referir-se ao que conhecemos como “céus estelares”, ou
o local onde estão os planetas, estrelas, asteróides, cometas, etc... Há
também aquilo que chamamos de “céus” e que está sobre nossas
cabeças e que é conhecida cientificamente como “camada de
ozônio”.

Os gregos conheciam estes três níveis como: auronos, mesorainos e


eporainos, referindo aos céus, morada de D-us, os céus estelares e os
céus azuis sobre nossas cabeças. A ordem aludida no verso também
se encaixa na lógica científica, pois sem os céus estelares (universo),
onde seria colocada a Terra?

Aqui é falado também da criação da terra. A palavra “terra” vem do


termo hebraico erets e significa “terra, cidade (estado), mundo”. Mas
que terra é essa? Esta palavra hebraica não é usada comumente para
descrever o planeta que é chamado de “adamâ” com o sentido de
"Terra (planeta), solo, chão". Seria o planeta que conhecemos como
Terra ou não? Nós não podemos afirmar que se trate de outro planeta,
pois o Senhor neste momento estava criando o planeta no qual Ele
colocaria vida e isso somente aconteceu na terra! Outro detalhe
interessante é que a terra é chamada de “há erets”. Esta designação
acompanhada da preposição “hei” designa algo único, peculiar. Outro
fato interessante é que o povo de Israel chama a terra onde vivem de
“Há Erets”! Isso poderia indicar que quando o Eterno criou o planeta
Terra Ele pensou primeiro em Israel, já dizendo que “a terra” estava
sendo trazida à existência para que o seu povo pudesse ter ali
habitar!

Estes fatos são nos apresentados cientificamente como o Big-Bang ou


a Grande Explosão. Segundo os eruditos esta foi a origem do
Universo. E o nosso Universo não é algo que possa ser visto como
“uma coisa simples e rápida”, mas sim um conjunto intrincado de
planetas, cometas, asteróides, etc... que harmonicamente, coexistem
de forma satisfatória! Seria isso resultado de uma explosão? Poderia,
tal complexidade e harmonia ter se desenvolvido a partir de um
“acidente?” Esta teoria do Big Bang diz o seguinte:

Cosmologia, estudo do Universo em seu conjunto, incluindo teorias


sobre sua origem, evolução, estrutura em grande escala e seu futuro.
O estudo mais específico da origem do Universo e de seus sistemas
astronômicos, como o Sistema Solar, é chamado de cosmogonia.

As primeiras teorias cosmológicas importantes devem-se ao


astrônomo grego Ptolomeu, e a Nicolau Copérnico, que propôs em
1543 um sistema em que os planetas giravam em órbitas circulares
ao redor do Sol. Tal sistema foi modificado pelo sistema de órbitas
elípticas descrito por Johannes Kepler.

Em 1917 o astrônomo holandês Willen de Sitter desenvolveu um


modelo não estático do Universo.Em 1922 esse modelo foi adotado
pelo matemático russo Alexander Friedmann e em 1927 pelo
sacerdote belga Georges Lemaitre, que introduziu a idéia do núcleo
primordial. Lemaitre afirmava que as galáxias são fragmentos
proporcionados pela explosão desse núcleo, dando como resultado a
expansão do Universo. Esse foi o começo da teoria da Grande
Explosão (Big Bang) para explicar a origem do Universo, modificada
em 1948 pelo físico russo naturalizado americano George Gamow.

Gamow disse que o Universo se criou numa gigantesca explosão e


que os diversos elementos que hoje se observam foram produzidos
durante os primeiros minutos depois dessa Grande Explosão (Big
Bang), quando a densidade e a temperatura extremamente alta
fundiram partículas subatômicas, transformando-as nos elementos
químicos. Por causa de sua elevadíssima densidade, a matéria
existente nos primeiros momentos do Universo expandiu-se
rapidamente.

Ao expandir-se, o hélio e o hidrogênio esfriaram e se condensaram


em estrelas e galáxias.
Um dos problemas não resolvidos no modelo do Universo em
expansão é saber se o Universo é aberto ou fechado (isto é, se se
expandirá indefinidamente ou se voltará a se contrair).

“E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do


abismo; e o Espírito de Elohim se movia sobre a face das águas” (Gn
1:2). Este verso nos diz que há erets [a terra] era sem forma e vazia!
Parece haver aqui algo contraditório, pois no verso 1 lemos que
Elohim criou - sem material pré-existente - os céus e a terra!
Novamente temos aqui um problema: a palavra “era” em hebraico
vem do termo hayâ que significa “tornou-se, existir, acontecer”. Isso
pode então significar que algo aconteceu à criação anterior (do verso
1)! Mas o que teria ocorrido? O restante do verso nos informa que a
terra “tornou-se sem forma e vazia!” Existem aqui duas teorias:

1. Ha Satan, quando foi lançado da eternidade e expulso da presença


do Criador teria caído na terra e causado uma imensa destruição
naquilo que fora já criado por Elohim;

2. A criação ainda não tinha sido completada, sendo somente relatada


no verso 1, o que faz então com que ela agora possa então ser
retomada e dada à ela a sua forma final.

Estas e outras especulações não são explicitamente reveladas nas


Escrituras e portanto não temos o direito de estar “falando de forma
irresponsável” sobre aquilo que pode ou deve ter acontecido na
Eternidade!

Certamente que quando o Eterno criou a terra – planeta – ele a


colocou sobre – ou em – um lugar para que ela ali estivesse.
Imaginamos que esse “lugar” foi o vácuo (como o conhecemos hoje)
para que, a partir da posição da terra os demais planetas fossem
então colocados! Certamente foi por isso que está escrito que “havia
trevas sobre a face do abismo”. A palavra “trevas” vem do termo
hebraico hosheq e significa “escuridão, trevas, obscuridade, noite,
crepúsculo”. Este estado existia sobre o “abismo”. A palavra vem do
hebraico tehôm e significa “abismo, profundezas, lugares profundos”.
O restante do verso nos diz ainda: “e o Espírito de D-us se movia
sobre a face das águas”. A palavra “espírito” vem do termo hebraico
ruach que significa “vento, sopro, espírito” e a palavra “D-us” vem do
termo hebraico Elohim! Percebemos ainda que não havia nada
definitivo na terra, a não ser a água – que inclusive é na Escritura
uma figura do próprio Espírito de D-us – e que a própria água deveria
ser colocada em “ordem” para que depois as demais coisas fossem
chamadas à existência!

A partir do verso 3 é nos apresentada a metodologia usada pelo


Criador para trazer tudo o que conhecemos à existência: a palavra!
Parece estupidez afirmar que todas as coisas conhecidas e criadas
vieram à existência a partir de algo que foi dito por D-us! Mas está
escrito assim: “E ordenou (amar) Elohim...” (grifo nosso). A palavra
usada aqui refere-se à uma ordem que não pode deixar de ser
obedecida! O verso diz: “E disse D-us: Haja luz; e houve luz” (Gn 1:3).
A palavra “houve” vem do termo hebraico hayâ que significa “tornou-
se, existir, acontecer”. Novamente somos surpreendidos, pois agora
temos um fato novo: o Criador ordena à escuridão para que dela surja
a luz! Uma ordem dada pelo Criador deu início a um processo criativo
tão imenso que a luz surge da palavra que saiu da boca de D-us! A
palavra “luz” vem do termo hebraico ´ôr com o mesmo significado.
Esta palavra está estritamente ligada à vida e à felicidade. Então, a
primeira coisa que o Criador traz à existência é a vida e a felicidade
dentro do universo! Agora temos um outro fato: esta luz – que não é a
do sol – está em algum ponto remoto do universo, podendo até
mesmo ser detectada, mas não pode ser vista de forma a apontar-se
o lugar de onde ela vem!

Então vejamos: o Criador, ao abrir sua boca, ordena que algo


aconteça e isso já de uma forma pré-estabelecida, ou seja, com uma
forma, textura, altura, profundidade, limites, etc... que resultariam, ao
final, de algo completo e pronto! Isso eqüivale a dizer que houve uma
pré-concepção (ou geração) daquilo que seria criado na mente do
Eterno para que, depois, ao ser liberada a palavra de ordem, algo
começasse a acontecer! Isso está explícito também em Romanos 4.17
onde está dito: “a saber, D-us, que vivifica os mortos, e chama as
coisas que não são, como se já fossem” (grifo nosso).

O próximo passo da criação é fazer separação entre luz e escuridão.


“E viu Elohim que era boa a luz; e fez Elohim separação entre a luz e
as trevas. E Elohim chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi
a tarde e a manhã, o dia primeiro” (Gn 1:4-5). O destaque aqui é para
a forma como o dia se inicia: ao final da tarde! Para o judeu o dia tem
início por volta das 18:00 horas (ao pôr do sol). Mais à frente
perceberemos que esta designação trata do ciclo lunar de contagem
do tempo! Um outro detalhe é que o dia foi chamado de ehad termo
hebraico que significa “um, único”. Isto nos leva a concluir que não
houve em toda a história do mundo um dia como aquele, que foi um,
único entre os demais!

Agora o Eterno dará início à ordenação das águas para que delas
possa surgir a tão esperada vida: “E disse Elohim: Haja uma
expansão no meio das águas, e haja separação entre águas e águas.
E fez Elohim a expansão, e fez separação entre as águas que
estavam debaixo da expansão e as águas que estavam sobre a
expansão; e assim foi. E chamou Elohim à expansão Céus, e foi a
tarde e a manhã, o dia segundo” (Gn 1:6-8). Aqui a palavra
“expansão” vem do termo hebraico raqîa que significa “firmamento”.
Esta palavra indica a imensidão aberta dos céus. Foi feita uma
separação entre as águas que estavam no céu – nuvens – das águas
que estavam na terra – mares. Este foi o trabalho realizado pelo
Eterno no segundo dia!

Já no terceiro dia temos as seguintes atividades: “E disse Elohim:


Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a porção
seca; e assim foi. E chamou Elohim à porção seca Terra; e ao
ajuntamento das águas chamou Mares; e viu Elohim que era bom. E
disse Elohim: Produza a terra erva verde, erva que dê semente,
árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente
está nela sobre a terra; e assim foi. E a terra produziu erva, erva
dando semente conforme a sua espécie, e a árvore frutífera, cuja
semente está nela conforme a sua espécie; e viu Elohim que era
bom. E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro” (Gn 1:9-13). Duas coisas
acontecem aqui: a primeira é que há uma separação – através de
uma ordem dada por Elohim – da água e da terra! O planeta agora
começa a tomar um aspecto parecido com o que temos hoje, com a
porção seca separada da água! O interessante é que ao ajuntamento
das águas o Eterno chamou Mares! Devemos notar que aqui a palavra
está no plural! Nós hoje também sabemos que as águas marítimas
que temos no planeta são praticamente somente uma porção única!
Todos os mares do planeta estão interligados e certamente não
poderiam ser chamados de “mares”. O que acontece aqui é o que
vemos na prática hoje: o Eterno já anunciava que no planeta, em
lugares diferentes, existem águas que são habitadas por seres
marinhos que, dependendo do lugar onde vivem, tem um sabor
diferente, mesmo sendo o mesmo peixe, da mesma espécie!

Uma outra ação do Eterno é que à terra é dada uma ordem para que
produza “erva verde”. Esta palavra vem do termo hebraico dashe´
que significa “relva tenra e nova, grama verde, vegetação”. A palavra
“erva que dê semente” vem do termo hebraico ´eseb que significa
“vegetação, plantas verdes, erva, grama”. Esta palavra designa a
categoria de plantas que se pode chamar de “rasteiras” e não
lenhosas. As demais expressões nos falam de “árvore frutífera que dê
fruto segundo a sua espécie”.

Temos então no quarto dia a continuidade do processo da criação: “E


disse Elohim: Haja luminares na expansão dos céus, para haver
separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para
tempos determinados e para dias e anos. E sejam para luminares na
expansão dos céus, para iluminar a terra; e assim foi. E fez Elohim os
dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia, e o
luminar menor para governar a noite; e fez as estrelas. E Elohim os
pôs na expansão dos céus para iluminar a terra, e para governar o
dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas; e viu
Elohim que era bom. E foi a tarde e a manhã, o dia quarto” (Gn 1:14-
19). Aqui a expressão: “Haja luminares” seria traduzida assim: “torne-
se luminares”. A palavra luminar vem do termo hebraico ma´ôr que
significa “luz, luminar”. Esta palavra nos fala sobre objetos celestes
que contém (sendo fonte de luz) – ou rebatam – a luz. Tais “corpos
celestes” são conhecidos hoje por nós como sol, lua, estrelas,
planetas, cometas, asteróides, etc... Foi no quarto dia que o Eterno
então “decorou” o universo com uma grande variedade de corpos
celestes que o comporiam e dariam ao universo o equilíbrio que hoje
conhecemos! E por isso haver acontecido no quarto dia (4), que
representa o número do mundo, o Eterno deu ao homem a condição
de explorar o Universo sem no entanto exercer qualquer poder sobre
ele; poderemos observa-lo e até explora-lo, mas sem termos o direito
de mudarmos aquilo que já foi criado. Agora podemos dizer que o dia
de 24 horas como o conhecemos seria possível por causa da
existência do sol e da lua. Porque o sol foi criado maior que a lua?
Porque o dia seria mais importante que a noite? Diz um sábio judeu:
“É impossível que dois reis usem a mesma coroa!” É por isso que o
Eterno então designou o Sol como o astro “rei” e a lua somente
“rebate” a luz do sol, sendo então usada pra governar um período
menor de tempo, chamado noite!

Algumas coisas na criação são ainda hoje contestadas e tidas apenas


como “fábulas”. Mas pensemos bem: o que é mais provável (inclusive
matematicamente falando), que uma explosão, e depois, um longo
processo de evolução fizesse com que as coisas chegassem ao ponto
em que estão – sem contudo podermos provar tal evolução – ou o
único Ser imortal, eterno, santo, justo, etc... que se chama D-us, ter,
por um ato de sua vontade e através de sua Palavra criado tudo o que
vemos e conhecemos?

Esta é uma questão que parece estar muito longe de ser “decidida”
plenamente, pois muitos são os que ainda preferem crer numa
improvável evolução e tratar o Criador com desdém, enquanto outros
defendem o criacionismo sem qualquer base científica que os apóie,
ou seja, por puro fanatismo religioso!

Um fato mais deve ser colocado aqui: O Senhor é o único que


conhece o futuro! O profeta Isaías em 42.9 nos diz: “Eis que as
primeiras coisas já se realizaram, e novas coisas eu vos anuncio;
antes que venham à luz, vo-las faço ouvir”. Somente alguém que
detém todo o poder pode fazer uma coisa como esta! Concluímos que
a própria história está toda sendo escrita por Ele!

No quinto dia vemos o Eterno povoando os mares: “E disse Elohim:


Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente; e voem
as aves sobre a face da expansão dos céus. E Elohim criou as
grandes baleias, e todo o réptil de alma vivente que as águas
abundantemente produziram conforme as suas espécies; e toda a
ave de asas conforme a sua espécie; e viu Elohim que era bom. E
Elohim os abençoou, dizendo: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei as
águas nos mares; e as aves se multipliquem na terra. E foi a tarde e a
manhã, o dia quinto” (Gn 1:20-23). A palavra “abundantemente” vem
do termo hebraico sherets que significa “fervilhação, enxame”. Já a
palavra “alma” vem do termo hebraico nepesh que significa “vida,
alma, criatura”. Os mares foram então povoados a partir de uma
ordem dada pelo Criador às águas! Também os céus foram assim
povoados e as aves foram então criadas. Isso aconteceu também por
causa de uma ordem que o Eterno (Elohim) dá aos viventes
abençoando-os. A palavra “abençoar” vem do termo hebraico barak
que significa “dar poder a alguém para ser próspero, bem sucedido e
fecundo” em tudo o que fizerem! Ele também disse-lhes que
“Frutificai e multiplicai-vos”. Aqui a palavra “frutificai” vem do termo
hebraico parâ que significa “frutificar, ser frutífero, ser fecundo,
ramificar”. Já a palavra “multiplicar” vem do termo hebraico rabâ que
significa “ser grande, tornar-se grande, ser numeroso, tornar-se
numeroso”. Por isso o judeu se cumprimenta com “Toda rabâ”, muita
multiplicação!

Finalmente teremos agora o fim da criação com os atos criadores do


Eterno no sexto dia: “E disse Elohim: Produza a terra alma vivente
conforme a sua espécie; gado, e répteis e feras da terra conforme a
sua espécie; e assim foi. E fez Elohim as feras da terra conforme a
sua espécie, e o gado conforme a sua espécie, e todo o réptil da terra
conforme a sua espécie; e viu Elohim que era bom. E disse Elohim:
Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e
domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o
gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a
terra. E criou Elohim o homem à sua imagem; à imagem de Elohim o
criou; homem e mulher os criou. E Elohim os abençoou, e Elohim lhes
disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e
dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre
todo o animal que se move sobre a terra. E disse Elohim: Eis que vos
tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de
toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-
vos-á para mantimento. E a todo o animal da terra, e a toda a ave
dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há alma vivente, toda a
erva verde será para mantimento; e assim foi. E viu Elohim tudo
quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã,
o dia sexto” (Gn 1:24-31). Agora o Eterno ordena à terra para que ela
produza seres viventes! Temos de entender o que aconteceu aqui,
pois na constituição física dos animais temos todos os elementos que
constam na composição química da terra! Isso nos mostra que os
animais não “evoluíram”, mas sim foram criados a partir da terra.

Agora temos o ponto mais alto da criação: “Façamos o homem à


nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. A palavra “façamos”
vem do termo hebraico asâ que significa “fazer, fabricar, realizar”.
Aqui a ênfase recai sobre a ação de dar forma ao objeto. A palavra
“homem” vem do termo hebraico adam que significa “homem,
espécie humana”. Temos também proveniente da mesma raiz a
palavra adamâ que significa “solo, terra”. Também desta raiz provém
o termo adom que significa “vermelho”. Então é nos explicado que o
homem possui a imagem de D-us. A palavra “imagem” vem do termo
hebraico tselem com o mesmo significado. Basicamente a palavra
refere-se a uma representação, algo semelhante. Há ainda a palavra
“semelhança” que vem do termo hebraico demut, com o mesmo
significado. A palavra pode ser usada para designar semelhanças
sonoras e estruturais, no sentido de ser um padrão ou modelo. Temos
também aqui a ligação entre demut e dam (sangue em hebraico),
pois assim como o sangue corre no interior das veias do homem
dando-lhe vida, a demut também parece significar algo que é
semelhante, porém invisível aos olhos humanos! Esta imagem,
declara a Torah, é a imagem de D-us: “à imagem de D-us o criou”. A
tradução seria “tselem Elohim bara´”. É interessante notarmos que a
palavra bara´está próxima da palavra bar, que em hebraico significa
"filho".

Então, o Eterno faz com o homem o mesmo que fizera com os


animais: Ele o abençoa e ordena que frutifique e multiplique. A
finalidade da criação do homem está explicada em poucas palavras:
“e domine sobre...”. A palavra “dominar” vem do termo hebraico
radâ que significa “governar”. O homem deveria então exercer sua
autoridade sobre todos os demais elementos criados por Elohim, pois
Ele mesmo assim determinou. Assim Elohim dá ao homem tudo que
criara para que pudesse então tê-los como “mantimento”. Ou seja, o
homem poderia escolher na abundância da criação o que comer, até
que, mais tarde, o próprio D-us daria novos limites para seu
“cardápio” diário.

Quando termina a sua obra neste dia, ele é chamado de o sexto dia.
Em hebraico foi adicionado como prefixo a letra hey, que é o artigo
definido “o”, enfatizando que este também foi um dia muito especial
para a criação e para o Criador! Segundo a tradição judaica o sexto
dia da criação foi e dia 6 de Sivan. Esta data é muito especial, pois foi
também nesta data que o Eterno deu a Torah para o povo de Israel no
deserto! Ou seja, tanto a criação do homem quanto a dádiva da Torah
foram feitas no mesmo dia!

Vejamos a seqüência de atos criadores e organizadores de Elohim:

1° dia: Cria-se a luz. Separa-se luz das trevas; está estabelecido então
o dia e a noite. Também estabelece-se quando o dia começa: ao final
de cada tarde, ou ao anoitecer! (versículo 4).

2° dia: Criam-se os céus. Separam-se águas e águas.

3° dia: Cria-se a terra seca e os mares. Novamente Elohim ordena


(amar), mas agora à terra, que produza erva que dê semente, árvore
frutífera e cuja semente esteja em seu fruto.

4° dia: Cria-se os planetas que determinarão as épocas na terra e


também as estrelas.
5° dia: São criados os animais e toda forma de vida sobre o planeta.
Primeiro Elohim ordena (amar), agora às águas, e elas produzem os
peixes e répteis; e as aves voariam sobre a face da expansão dos
céus. Aqui está algo diferente: Elohim os abençoa, dizendo: frutificai,
multiplicai-vos e enchei a terra!

6° dia: Agora Elohim ordena (amar) à terra e ela produz os animais,


repteis e as bestas-feras do campo! Logo após isso ter acontecido,
muda-se a forma como as coisas são ditas, pois é usado o plural
dizendo: “Façamos (nós) o homem à nossa imagem, conforme a
nossa semelhança...” (Gn 1.26). Aqui a metodologia de criação difere
um pouco das outras, pois a partir disso é criado o homem com uma
função: ser como seu Criador! É dito sobre ele: “...e domine sobre...”.

O profeta Iesha'yah (Isaías) em 42.5 amplia o fato da criação dizendo:


“Assim diz Elohim, o ihvh, que criou os céus e os desenrolou, e
estendeu a terra e o que dela procede; que dá a respiração ao povo
que nela está, e o espírito aos que andam nela...” Aqui Elohim é
mostrado como aquele que criou os céus, que estendeu a terra e que
também dá vida e espírito aos homens! O Senhor cria e dá ao homem
tudo o que ele tem, inclusive sua própria vida!

“Antes de formar no sexto dia o homem, o ser mais importante da


Criação, D-us preparou-lhe o máximo de conforto e felicidade. O sol, a
lua e as estrelas para iluminar seu caminho; as flores, para gozar de
seus perfumes; os pássaros para entoar-lhe os seus cânticos
harmoniosos, e todos os bens da terra para desfrutar deles segundo o
seu desejo. Faltava-lhe dar o exemplo do sábado, o dia em que
deveria dedicar-se ao repouso do corpo e da alma, ao regozijo e à
elevação do seu espírito”.

Agora, após a criação ter sido acabada, acontece algo incrível: Elohim
descansa! Não parece absurdo falar em um ser tão poderoso e que
agora simplesmente descansa?

Este foi o ato de Elohim no sétimo dia! Foi também a primeira coisa
que o homem fez após ser criado! O homem tem a primeira
oportunidade de imitar seu Criador e descansar e também tem tempo
hábil para ter comunhão com Ele!

Este dia é especial para Elohim. É nos dito que ele abençoa e santifica
este dia! “E abençoou Elohim o dia sétimo, e o santificou; porque nele
descansou de toda a sua obra que Elohim criara e fizera” (Gn 2:3). É o
único dia que recebe um nome: Há Shabath [que significa “o
descanso”]. A palavra “santificar” vem do termo hebraico qadosh
que significa “ser consagrado, ser santo ser santificado”. Aqui temos
um padrão incomum: o Criador dá ao homem o exemplo daquilo que
ele deverá fazer. O Criador santifica – separa – o sétimo dia dando-lhe
uma qualidade que até o momento pertencia somente ao Criador:
qadosh! Nenhum outro dia e nenhum outro elemento ou mesmo ser
que fora criado recebe esta designação; somente este dia é
considerado assim, pois este dia se parece com seu Criador! Quando
percebemos isso entendemos então qual foi a primeira atitude do
homem após ser criado: ele descansou – guardou o shabat – com seu
Criador! O próprio D-us diz ao homem que a importância maior na
vida do homem seria a comunhão entre a criatura e o seu Criador!
Nada substituiria este momento entre os dois e justamente por isso o
Eterno estabelece que este dia seria separado, santificado,
consagrado para o homem e para Ele!

Temos então uma outra informação interessante: a inexistência da


chuva! “Estas são as origens dos céus e da terra, quando foram
criados; no dia em que o IHVH Elohim fez a terra e os céus, e toda a
planta do campo que ainda não estava na terra, e toda a erva do
campo que ainda não brotava; porque ainda o IHVH Elohim não tinha
feito chover sobre a terra, e não havia homem para lavrar a terra. Um
vapor, porém, subia da terra, e regava toda a face da terra” (Gn 2:4-
6). Temos aqui mais um fato fascinante, pois na frase: “no dia em que
o Senhor D-us fez a terra e os céus” a melhor tradução seria “no dia
de IHVH Elohim criou os céus e a terra”. A palavra “dia” - yom - em
hebraico vem preposicionada pelo artigo “be” que significa "no" ou
"para". Então temos também o tetragrama – IHVH – que significa “Eu
me torno aquilo que me torno” e a palavra Elohim significa “D-us
Criador”. O dia aqui citado é então tido como o “Dia do Senhor” um
dia no qual o Eterno traz a existência algo para impactar o universo.
Então explica-se que a terra era mantida úmida através do vapor de
subia dessa mesma terra e regava o solo, mantendo-o apropriado
para o plantio e cultivo.

Até agora nos foi dado um relato da criação, e no que diz respeito a
criação do homem, isso foi feita de forma resumida. No capítulo 2.7 é
nos dito como Elohim cria o homem: “E formou o IHVH Elohim o
homem do pó da terra, e soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida; e o
homem tornou-se alma vivente”. Aqui temos o uso da palavra
“formou” que vem do termo hebraico yetser que significa forma. Em
sua raiz temos o sentido de "moldar, formar". Há uma ênfase no
moldar o objeto envolvido ou dar-lhe forma, e isso pressupõe o uso
das mãos. Mas, quem atuou como o executor do molde? Novamente
aparece aqui IHVH Elohim com o mesmo significado obtido acima. A
substância principal usada pelo Criador para dar forma ao corpo
humano foi a própria terra! A palavra “pó” vem do termo hebraico
apar que significa “poeira, terra, chão, cinzas, argamassa, pó,
entulho”. No hebraico duas coisas são encontradas: pó vermelho
(adamah) e também sangue (dam). Ou seja: podemos concluir que o
homem é a terra viva! (com sangue). Por isto está dito em Gn 3.19:
“Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra,
porque dela foste tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás”. Parece
uma declaração forte, mas é a realidade: após a morte todos nos
convertemos em pó, retornando assim ao estágio em que nos
encontrávamos antes de sermos feitos “alma vivente” por Elohim! O
termo alma vivente veio por causa do “fôlego da vida”. A palavra
“fôlego” vem do termo hebraico neshamâ que significa “respiração”;
já a palavra “vida” vem do termo hebraico hayâ que significa “vida”.
A metodologia usada para isso foi “e soprou-lhe nas narinas”, onde a
palavra “soprou” vem do termo hebraico iapah que significa
“respirar, soprar”. O resultado final da criação foi: “e o homem
tornou-se alma vivente”. Aqui a palavra “homem” vem do termo
hebraico adam que significa “homem, espécie humana”. Já o termo
“alma vivente” é nepesh haya, onde a palavra nepesh significa
“vida, alma, criatura, pessoa, mente” e a palavra haya significa
“vida”. Ou seja, somente após o momento em que a respiração de D-
us entrou no homem é que ele passa a ter vida e sentimentos! O
boneco de barro agora possui vida em três dimensões: corpo, alma e
espírito!

“O fato de ter criado D-us um homem só, formando-o do pó da terra,


ensina segundo o Midrash, que não deve existir orgulho, desigualdade
de origem, linhagem e casta, entre os homens; ninguém pode chamar
ao seu semelhante de estrangeiro, pois pertence como ele à mesma
terra”.

Agora somos apresentados a uma outra dimensão da criação: o lar do


homem! “E plantou o IHVH Elohim um jardim no Éden, do lado
oriental; e pôs ali o homem que tinha formado. E o IHVH Elohim fez
brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e
a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do
bem e do mal. E saía um rio do Éden para regar o jardim; e dali se
dividia e se tornava em quatro braços. O nome do primeiro é Pisom;
este é o que rodeia toda a terra de Havilá, onde há ouro. E o ouro
dessa terra é bom; ali há o bdélio, e a pedra sardônica. E o nome do
segundo rio é Giom; este é o que rodeia toda a terra de Cuxe. E o
nome do terceiro rio é Tigre; este é o que vai para o lado oriental da
Assíria; e o quarto rio é o Eufrates” (Gn 2:8-14). Aqui temos uma
breve descrição de outra obra realizada por IHVH Elohim: o plantio do
Éden. A palavra “Éden” vem do termo hebraico eden que significa
“planície, estepe”. Isso significa que esta palavra não foi traduzida na
língua portuguesa, mas sim transliterada! Ela provém também de
uma outra raiz ´adan que significa “desfrutar, ter prazer em”. O Éden
é descrito como uma vasta região, onde ao lado oriental o Eterno
planta um jardim. A palavra “árvore” vem do termo hebraico ´ets que
significa “árvore, madeira, tronco, tora, madeiro”. Aqui ela é descrita
de três formas: boa para comida (certamente são as árvores
frutíferas), da vida e do conhecimento do bem e do mal. A árvore do
conhecimento é a que nos interessa. Primeiro temos algo que não
está claro em português e que ocorre no hebraico: a palavra
conhecimento vem precedida da partícula hey que é o artigo definido.
Isso significa que tal experiência seria única para aquele que a
desejasse! Já a palavra “conhecimento” vem do termo hebraico da´at
que significa “conhecimento, astúcia”. A raiz desta palavra expressa o
conhecimento adquirido de diversas maneiras pelos sentidos! Ela nos
fala de algo prático, que advém por meio de atos pensados e
medidos. A palavra “bom” vem do termo hebraico tôv que significa
“bom, agradável, belo, que dá prazer, alegre, jubilante, precioso,
correto, justo”. A palavra “mal” vem do termo hebraico ra´ que
significa “mal, maldade”. A raiz tem a conotação de infortúnio,
calamidade, perversidade. Percebe-se então um dualismo nesta
árvore, pois ela permitirá que, através e uma experiência única o
homem possa alcançar um conhecimento prático daquilo que é
positivo e negativo, bom e mal. Porém estas duas forças sempre
atuam de forma contrária, convivendo num mesmo lugar e se
contrapondo entre si. A localização deste lugar é ainda hoje incerta,
porém podemos afirmar que ele ficava na região que hoje
conhecemos como Iraque. Certamente houve uma grande mudança
nesta região, pois sabemos pela leitura da Torah que esta região tinha
uma determinada aparência e hoje ela está completamente mudada!

Mas, qual seria a função do homem neste lugar? O texto nos informa
que: “E tomou o IHVH Elohim o homem, e o pôs no jardim do Éden
para o lavrar e o guardar. E ordenou o IHVH Elohim ao homem,
dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da
árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque
no dia em que dela comeres, certamente morrerás. E disse o IHVH
Elohim: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora
idônea para ele. Havendo, pois, o IHVH Elohim formado da terra todo
o animal do campo, e toda a ave dos céus, os trouxe a Adan, para
este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adan chamou a toda a
alma vivente, isso foi o seu nome” (Gn 2:15-19). O local onde o
homem é posto – isso significa que ele (o homem) não foi criado ali -
tem um nome: Éden. O jardim foi então criado antes do homem com
uma finalidade: receber um novo ser que era a obra-prima da criação.
Esta palavra – Éden - foi transliterada e significa “planície, estepe”.
Ela está associada à palavra hebraica ´adan que significa “desfrutar,
ter prazer em”. Esta palavra “Éden” também significa roupas
vistosas, jóias vistosas, coisas caras. Aqui temos também a dimensão
daquilo que o homem faria no jardim: lavrar e guardar. A palavra
“lavrar” vem do termo hebraico ´abar que significa “transpor,
ultrapassar, atravessar, transportar, levar embora”. Ele vem
preposicionado com a partícula "le" que significa “para, em, com
relação a, de, por”. Este termo traz a idéia de movimento e indica o
movimento de uma coisa ou pessoa em relação a um objeto que está
parado. A palavra “guardar” vem do termo hebraico shamar que
significa “guardar, observar, prestar atenção”. Esta palavra também
vem preposicionada. Então o Eterno ordena então ao homem que ele
não coma da árvore do conhecimento do bem o do mal. A palavra
usada aqui para “ordenar” vem do termo hebraico tsavâ e significa
“ordenar, incumbir”. Da raiz desta palavra temos dois termos
importantes: mitsvâ que significa “mandamento” e também tsav
que significa “ordem”. Estas palavras nos mostram que há uma
relação muito forte naquilo que é dito a Adan, pois o Eterno também
lhe dá a opção para que ele escolha obedecer ou não. Por outro lado o
Senhor avisa ao homem que a desobediência lhe traria a morte! Esta
ordem se referia a uma árvore específica: a do conhecimento do bem
e do mal. A palavra “conhecimento” vem do termo hebraico da´at e
significa “conhecimento, astúcia”. A raiz expressa o conhecimento
adquirido de diversas maneiras pelos sentidos. Esta palavra vem
preposicionada significando que este tipo de conhecimento era único
para o homem! Já a palavra “morrer” vem do termo hebraico mût
que significa “morrer, matar, mandar executar”.

Agora o Eterno argumenta sobre a atual situação do homem: “Não é


bom que o homem esteja só”. A palavra “esteja” vem do termo
hebraico hayâ que significa “tornou-se, existir, acontecer”. Já a
palavra “só” vem de outro termo hebraico que é bad e que significa
“sozinho, por si mesmo, solitário”. A intenção do Criador não era que
o homem se tornasse um ser solitário, mas sim que ele pudesse
conviver em harmonia com outros de sua própria espécie! Então a
solução encontrada pelo Senhor foi: “far-lhe-ei uma ajudadora idônea
para ele”. Aqui a palavra “ajudadora” vem do termo hebraico ´ezer
que significa “ajuda, apoio, auxílio”. Na raiz desta mesma palavra
temos também um outro significado: tesouro! O que a Escritura quer
dizer então? Quer dizer que além de alguém para ajudá-lo o homem
estaria recebendo de seu Criador um tesouro, que é a mulher! Após
ter declarado isso o Eterno então dá a Adan a atribuição de dar
nomes aos seres viventes.

“A Torah condena o celibato. O homem é obrigado a contrair


matrimônio desde a idade de dezoito até vinte anos, se assim o pode
fazer (Maimônedes – Sefer Hamitzvot [Kidushin 29]). Porém, o homem
que tem de abandonar o estudo da Torah para procurar manutenção,
fica isento desta obrigação até formar uma situação, pois que,
segundo o Talmud, o homem deve, em primeiro lugar, preparar o lar,
plantar uma vinha (estabelecer trabalho) e depois contrair casamento
(Sotah 44). Quem não tem esposa, vive sem alegria e sem bênção
(Yebamot 62). O solteiro é considerado meio corpo (Zohar).

Isto aconteceu assim: “E Adan pôs os nomes a todo o gado, e às aves


dos céus, e a todo o animal do campo; mas para o homem não se
achava ajudadora idônea. Então o IHVH Elohim fez cair um sono
pesado sobre Adan, e este adormeceu; e tomou uma das suas
costelas, e cerrou a carne em seu lugar; e da costela que o IHVH
Elohim tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adan. E
disse Adan: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha
carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada.
Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua
mulher, e serão ambos uma carne. E ambos estavam nus, o homem e
a sua mulher; e não se envergonhavam” (Gn 2:20-25). Na criação da
mulher o processo foi semelhante: Elohim usa o próprio homem para
tirar dele sua companheira! O Criador dá ao homem um momento
para uma “soneca” e através e uma costela retirada do lado do
homem Ele forma uma mulher para Adan! A palavra “costela” vem do
termo hebraico tsela´ que significa “lado, costela”. Esta palavra está
muito próxima de um outro termo que a explica, tselem que significa
“imagem”, e representa algo que é semelhante.

Quando Adan vê a mulher, ele tem a primeira revelação de que temos


notícia na Escritura: “E disse Adan: Esta é agora osso dos meus
ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto
do homem foi tomada” (Gn 3.23). A partir do momento em que o
homem reconhece sua companheira (encontra-a), então eles se
tornarão um no Senhor! Então é-lhes dito o que fazer para
constituírem uma verdadeira família: “Portanto deixará o homem a
seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão uma só carne”
(Gn 2.24). Aqui a palavra “mulher” vem do termo hebraico ishshâ
que significa “mulher, esposa, fêmea”. O texto diz ainda que eles
seriam uma só carne. A palavra “carne” vem do termo hebraico
basar que significa “carne (pele, corpo)”.

Está aqui a conclusão da criação, explicada de forma a nos mostrar


que Elohim usou de duas metodologias distintas para atingir seus
objetivos: criar o universo e tudo o que conhecemos e também o
homem para habitar aqui.

O propósito é muito claro: a glorificação do nome do D-us Eterno! Está


escrito em Is 43.7: “...a todo aquele que é chamado pelo meu nome,
e que criei para minha glória, e que formei e fiz”.

Um outro detalhe muito interessante é o estado de santidade em que


se encontravam o homem e a mulher. “E ambos estavam nus, o
homem e a sua mulher; e não se envergonhavam” (Gn 2:25). A
palavra “nus” aqui vem do termo hebraico arâm que significa “por a
descoberto, descobrir”. Até a entrada do pecado no mundo o homem
não tinha a consciência da malícia, que faz com que as pessoas
olhem para as outras com pensamentos impuros! Até este momento
eles não precisavam de “cobertura” do Eterno pois dividiam com Ele
o mesmo espaço de santidade! A inexistência do pecado fazia com
que homem e mulher se olhassem e se vissem de forma natural,
como dois seres criador por Elohim que deveriam se completar!

Entra agora em cena o diabo que age por trás de um animal: a


serpente! É travado um diálogo entre a mulher e a serpente que visa
determinar quem está certo: a criatura ou o Criador! “Ora, a serpente
era mais astuta que todas as alimárias do campo que o IHVH Elohim
tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Elohim disse: Não
comereis de toda a árvore do jardim? E disse a mulher à serpente: Do
fruto das árvores do jardim comeremos, mas do fruto da árvore que
está no meio do jardim, disse Elohim: Não comereis dele, nem nele
tocareis para que não morrais. Então a serpente disse à mulher:
Certamente não morrereis” (Gn 3:1-4). Aqui há um jogo de palavras
que incitam a mulher a contestar o que havia sido dito pelo Eterno!
Há uma inversão daquilo que é dito no capítulo 2.16, onde está dito:
“E ordenou o IHVH Elohim ao homem, dizendo: De toda a árvore do
jardim comerás livremente”. Quando o inimigo usou este recurso de
retórica, ele trouxe uma tremenda confusão à mulher! E ela caiu
nesta “armadilha” do maligno, traindo assim a palavra do Senhor e a
confiança que o Eterno depositara em suas criaturas! Agora, só
restava tentar fazer com que o homem pudesse acompanhá-la, pois
caso contrário a mulher ficaria só na cena do pecado de traição ao
Eterno!

As conseqüências do pecado da mulher – e depois do homem – foram


nefastas! Vejamos o que foi que aconteceu: “Então foram abertos os
olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas
de figueira, e fizeram para si aventais. E ouviram a voz do IHVH
Elohim, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se
Adan e sua mulher da presença do IHVH D-us, entre as árvores do
jardim. E chamou o IHVH Elohim a Adan, e disse-lhe: Onde estás? E
ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e
escondi-me. E Elohim disse: Quem te mostrou que estavas nu?
Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses? Então
disse Adan: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da
árvore, e comi. E disse o IHVH Elohim à mulher: Por que fizeste isto?
E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi. Então o IHVH
Elohim disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais
que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu
ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida. E porei
inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente;
esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. E à mulher disse:
Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás
à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará.
E a Adan disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e
comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela,
maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias
da tua vida. Espinhos, e cardos também, te produzirá; e comerás a
erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te
tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te
tornarás” (Gn 3:7-19).

Vejamos alguns fatos importantes aqui:

O pecado “abriu os olhos” do homem mostrando-lhes que estavam


nus! O texto diz: “e conheceram que estavam nus”. A palavra
“conheceram” vem do verbo yada´ e significa “conhecimento
adquirido pelos sentidos; conhecimento experimental”. Isso nos
confirma que, naquele momento, eles perderam a sua inocência.

O homem – e também a mulher – fazem para si “aventais” com folhas


de figueira. Esta palavra vem do termo hebraico teenâ com o mesmo
significado. O importante aqui é que a figueira representa a cura e o
homem procurava por si só ser “curado” do pecado. Além disso a
figueira é um símbolo de Israel e é a única árvore mencionada pelo
nome no jardim criado pelo Eterno! Nas escrituras, assentar-se
debaixo de sua própria figueira representa participar das bênçãos de
paz, prosperidade e segurança, tanto presentes quanto futuras!
Israel, munido de “cura”, já esta presente no paraíso, esperando para
ser usado de forma legítima, pois somente quando isso acontecesse
seus objetivos seriam alcançados.

Outro aspecto foi que, num determinado momento do dia, ouviram a


voz de D-us (e a Escritura nos dá a entender que isso era habitual
entre eles) e esconderam-se! Isso nunca havia acontecido antes!

D-us agora “procura” o homem para relacionar-se com ele! Mas, pelo
que parece, o homem não está à disposição do Senhor por causa de
seu pecado!

Agora ambos – homem e mulher – transferem sua responsabilidade


para outrem e não assumem aquilo que fizeram!

A serpente também é “amaldiçoada” - arar que significa “prender por


encantamentos, cercar com obstáculos, deixar sem forças para
resistir, e passa a rastejar sobre seu ventre! Isso parece nos indicar
que a mesma no passado deveria locomover-se de uma outra forma,
provavelmente com pequenas pernas traseiras!

Há também a rivalidade entre a semente da mulher e a serpente, a


qual seria “pisada” pelo descendente da mulher! Está dito que
haveria “inimizade” entre serpente e a semente da mulher. Esta
palavra vem do hebraico ´ebâ e significa “inimizade, ódio,
hostilidade”. Esta “rivalidade” seria perpetrada pela “semente” da
mulher. Esta palavra vem do hebraico zera´ e significa “semeadura,
semente, descendência”.

E finalmente as dores para ambos os lados – homem e mulher – que


seriam uma parte da punição por causa do pecado! Também o
trabalho penoso que agora faria com que o homem não mais tivesse
“facilidades” ao trabalhar a terra!

Quando isso aconteceu o Eterno precisou então “cobrir” o homem


com peles, vestindo-os. Quem faz isso é IHVH Elohim que é o mesmo
que anteriormente se tornara para eles punição! O Eterno matou
animais e com suas peles fez túnicas. A palavra “túnica” vem do
termo hebraico kutonet com o mesmo significado; vestimenta
parecida com um camisão bastante longo e geralmente feita de linho.
Estas vestimentas eram as mesmas usadas pelos sacerdotes. Eles
então foram “vestidos” e esta palavra vem do hebraico labesh que
significa “vestir, estar vestido”.

Todas estas coisas trouxeram grandes influências sobre os


descendentes do homem de tal forma que a corrupção logo atingiu
toda a raça! Houve então o problema entre os dois filhos de Adan,
gerando assim a primeira morte de que se tem notícia na história do
homem: a morte de Abel!

Certamente isso está ligado à promessa que o Senhor havia feito à


Eva – Hava cujo significado é “vida”, de que um de seus
descendentes – não lhe foi dito qual seria – haveria de “pisar a cabeça
da serpente”. A morte prematura de Abel - Hevel - cujo significado de
seu nome é “vapor, sopro, vaidade” - através de Cain cujo nome
significa “possuir ou criar”, já foi um ato “preventivo” das trevas
quanto ao cumprimento da promessa do Senhor quanto ao seu
descendente! É interessante que na raiz deste nome temos também a
palavra qîn que significa “entoar um canto fúnebre” e qinâ que
significa “lamentação”. Sobre este fato temos uma história
interessante que diz:

"Cain disse a seu irmão Hevel, e quando estavam no campo, Cain


levantou-se contra seu irmão Hevel e matou-o".

Ao ler este versículo, surge uma dúvida imediata. A Torah escreve que
"Cain disse a Hevel" - então parece haver uma lacuna bem evidente,
uma pausa que nos intriga, porque a Torah não informa o que Cain
falou.

Toda a congregação está sentada ouvindo atentamente a leitura da


Torah, esperando pelo momento do clímax, quando ouvirão o que
Cain tem a dizer, e então, como se uma linha inteira tivesse sido
apagada, a narrativa salta para nos dizer que ele matou o irmão! Mas
o que aconteceu? O que conversaram os dois que fez Cain reagir tão
drasticamente?

O Targum Yonatan menciona esta dúvida relatando uma discussão


fascinante que ocorreu entre os dois irmãos, a qual levou diretamente
ao assassinato. Cain reclamou a Hevel que não havia justiça e um juiz
supremo neste mundo; não há Mundo Vindouro, e por isso os justos
não serão recompensados e os perversos jamais serão castigados.
Hevel discordou, e como resultado desta discussão, Cain decide
matar seu irmão.

Entretanto, mesmo após ouvir a explicação desta conversa, a


passagem ainda permanece obscura. Se estavam realmente
discordando sobre um assunto tão fundamental, não teria sido
informativo se a Torah nos relatasse isso de maneira direta?

Foi sugerido que a Torah omitisse qualquer menção explícita do


assunto da discussão porque, na verdade, é totalmente insignificante
para o desenrolar da história. Cain não tinha o direito de tirar a vida
de seu irmão, e ponto final, não importa o quanto ele justificasse suas
ações.
O fato de que ele tivesse uma suposta desculpa para seu
comportamento (tinham opiniões conflitantes) era irrelevante, porque
qualquer que fosse seu arrazoado, este permaneceu meramente uma
racionalização formulada pela mente humana, para se permitir a
busca de seus próprios desejos básicos.

Na verdade, Cain estava com inveja porque a oferenda de Hevel fora


aceita por D'us, enquanto que a sua não, por isso desejou matar o
irmão. Ele tinha apenas um problema - sua consciência. Mas não
poderia simplesmente destruir sua própria carne. Precisava de uma
desculpa, uma racionalização para sentir-se melhor a respeito daquilo
que estava para fazer.

Por esta razão, provocou uma discussão; descobriu que seu irmão
discordara, e usou isto como uma desculpa para o assassinato.
Entretanto, como era meramente uma desculpa, a Torah considerou-a
irrelevante, e por isso preferiu omiti-la da narrativa.

Quantas vezes inventamos desculpas para justificar nossas ações –


fabricando racionalizações que, se apenas usássemos o tempo para
analisá-las, veríamos que são totalmente infundadas? Somos
realmente honestos com nossos amigos, nossa família, com o Criador,
e com nós próprios, ou simplesmente procuramos as melhores
desculpas a fim de satisfazer nossa consciência?

Ao começarmos este novo ano, reforcemos nosso compromisso de


buscar a verdade e estejamos conscientes das perigosas
racionalizações que inevitavelmente impedirão nossa busca por uma
vida boa e com moral.

Após esse fato nos é dada uma genealogia de um homem justo


chamado Sete - Shet. Esse nome em hebraico significa
“compensação” e certamente está ligado à morte de Abel. Da
linhagem deste homem justo vieram personagens que marcariam a
história da humanidade: Enos - Enosh cujo significado é “homem,
pessoa”, e um outro deles foi Enoque. Com o nascimento de Enosh
teve início um acontecimento trágico: a profanação do nome do
Senhor! A palavra hohal está no tempo perfeito na terceira pessoa
masculina do singular do verbo halal que significa “profanar,
contaminar, poluir”. Ao contrário daquilo que lemos em nossa versão
em português que diz: “então começou a se invocar o nome do
IHVH”, o texto hebraico diz que houve uma profanação que começou
com o qara, “chamar, convocar, recitar” o nome de IHVH através da
pessoa de Enosh! O outro homem de quem falaremos é Enoque. Seu
nome em hebraico é Enok e significa “dedicar, inaugurar”. A
Escritura diz o seguinte sobre ele: “E andou Enoque com Elohim; e
não se viu mais, porquanto Elohim para si o tomou” (Gn 5.24). Este
homem andou com seu Criador, pois no texto hebraico temos Há
Elohim; não é um relacionamento comum, mas algo que ultrapassou
as fronteiras da simples “relação casual” e certamente atingiu um
nível de intimidade tão grande que o Eterno (o Criador) tomou-o para
si mesmo. Esta palavra “tomou-o” vem do termo hebraico laqah e
significa “tomar, agarrar, receber, adquirir, comprar, trazer, tomar por
esposa, arrancar”. Com Enok temos a inauguração de uma nova
etapa na vida cotidiana da humanidade, pois agora eles sabem que o
Criador pode tomar para si – arrebatar – aqueles cuja intimidade com
Ele ultrapassam os limites do viver diário comum. Enok simboliza o
“rapto” daqueles que são a noiva do Cordeiro e ainda haverão de
tornar-se em esposa amada d´Ele! Quando isso acontecer, então
estará sendo inaugurada na terra uma nova etapa da história
humana: a grande tribulação! Tudo de acordo com as Escrituras...

O texto de Gênesis 6 nos diz: “E aconteceu que, como os homens


começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram
filhas” (Gn 6:1). Aqui a palavra “multiplicar-se” foi mal traduzida, pois
provém do termo hebraico hohal e está no tempo perfeito na terceira
pessoa masculina do singular do verbo halal que significa “profanar,
contaminar, poluir”. Isso significa então que os homens não
começaram a multiplicar-se mas sim a contaminar-se, profanar-se! O
contexto reforça esta interpretação, pois a partir de agora a
corrupção se estenderá à muitos homens na terra!

Tal corrupção gerou uma “mistura” dos que tinham um


relacionamento com D-us (O Criador) com pessoas que já estavam
corrompidas, pois haviam recebido este tipo de padrão de seus
familiares (pais). O texto nos diz que: “Viram os filhos de Deus que as
filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de
todas as que escolheram. Então disse o Senhor: Não contenderá o
meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é
carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos” (Gn 6:2-3). Aqui
temos algo interessante, pois a frase “disse o IHVH” em hebraico
significando que IHVH ordenou – significado da palavra “amar” que
não haveria juízo – que cause contenda, briga – com o homem, pois a
palavra “contender” vem do termo hebraico dûn cujo significado é
“julgar”. O sentido é que o espírito não julgaria o homem para
sempre, pois no futuro haveria um padrão que não seria este, mas
sim o da palavra escrita – registrada – que então se tornaria o guia
para que o homem pudesse então servir ao Criador. Está já
“profetizado” que então haveria um teto limitando o viver do homem:
120 anos! Isso aconteceria quando houvesse este padrão escrito para
reger a vida do homem! É interessante que Moshe morreu aos 120
anos e ele foi o maior legislador de Israel.

Aquela época era um tempo atípico na história da humanidade:


“Havia naqueles dias gigantes na terra; e também depois, quando os
filhos de Elohim entraram às filhas dos homens e delas geraram
filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os homens
de fama. E viu o IHVH que a maldade do homem se multiplicara sobre
a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era
só má continuamente. Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o
homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração” (Gn 6:4-6). A
palavra “gigantes” provém do termo hebraico nepîlim que significa
“gigantes”. Esta palavra vem de uma raiz napal que significa “cair,
prostrar-se, ser lançado fora, fracassar”. Isso pode significar que estes
homens eram “caídos”, que estavam “prostrados” por algum motivo
forte: o pecado! A Escritura nos fala sobre “aqueles dias”, certamente
referindo-se ao tempo em que a corrupção, o pecado, começou a
abundar sobre a terra. Estes homens foram chamados de “valentes
da antiguidade”. Esta palavra vem do termo hebraico gibôr que
significa “poderoso, forte, valente, homem poderoso”. Por causa do
pecado, a mal se multiplicava sobre e entre os homens. Este “mal” é
ra´ e significa “mal, aflição, algo ruim, infortúnio, calamidade,
perversidade”. Isso fazia com que, inclusive o padrão de
pensamentos dos homens fosse afetada. A palavra “pensamentos”
vem do termo hebraico mahashabâ que significa “pensamento,
intuito, estratagema”. Certamente o pecado exercia uma grande
influência sobre as atitudes do homem e também sobre seu padrão
mental, o qual o dirigia de tal forma que ele arquitetava o mal
continuamente.

O resultado desta situação é que o Eterno “arrependeu-se” de haver


feito o homem. Esta palavra vem do hebraico naham que significa
“ter pena, lamentar”; a raiz reflete a idéia de “respirar
profundamente” e por conseguinte a manifestação física dos
sentimentos da pessoa, geralmente tristeza. A condição humana de
degradação gerou no Eterno um sentimento de pena, um lamento em
relação à condição degradante que já naquele momento se
encontrava a raça humana! Isso não fora planejado pelo Eterno para
o homem.

A reação do Eterno a esta situação foi: “E disse o IHVH: Destruirei o


homem que criei de sobre a face da terra, desde o homem até ao
animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; porque me arrependo de
os haver feito. Noé, porém, achou graça aos olhos do IHVH” (Gn 6:7-
8). A palavra “Senhor” vem do tetragrama – IHVH – e isso significa
que o Eterno se tornaria aquilo que precisamos que Ele se torne para
nós; neste caso juízo. Já a palavra seguinte, “destruirei” vem do
termo hebraico mahâ e significa “limpar, enxugar, eliminar”. Isso
indica que a punição que viria para o homem certamente seria dura,
porém causaria um efeito “eliminador” quanto ao mal que já havia se
alastrado pela terra. Porém, houve uma exceção: Noé! Este nome em
hebraico é Noah e significa “descansar, estabelecer-se”. Isso indica
que o Eterno encontrara um homem em quem Ele poderia
“descansar” e confiar, pois através dele se estabeleceria um novo
tempo sobre a face da terra!

Este homem foi tido por tão justo diante do Eterno que ele foi
“poupado” juntamente com todos os que creram na mensagem vivida
e pregada por Noé, que desempenharia um papel preponderante em
sua época e na salvação da raça humana!
Parahsat Noah

Logo no princípio desta narrativa aprendemos algo muito importante:


“Estas são as gerações de Noah. Era ele homem justo e perfeito em
suas gerações, e andava com Elohim” (Gn 6:9). A Escritura doravante
nos contará a história de um homem chamado Noé, Noah que em
hebraico significa "descansar, estabelecer". Entendemos que este é
um momento crucial na história da humanidade e agora o Eterno
escolhe um homem para estabelecer um novo tempo através de sua
vida! O estabelecimento de qualquer coisa depende de ações
concretas e sempre leva algum tempo. Para isso então o Eterno
chama este homem: para que num tempo determinado Ele volte a
estabelecer na terra a justiça e a comunhão do homem com D-us.
Noah já possuía um padrão de santidade, pois nós lemos a seu
respeito de ele andava com D-us! Noah já tinha um conhecimento de
D-us que se manifestava em sua comunhão com Ele, e isso está
expresso na declaração que lemos e isso fará uma grande diferença
logo mais adiante na narrativa de Gênesis. Este conhecimento está
expresso na palavra justo, tsadiq que em hebraico significa estar em
conformidade com um padrão ético e moral. Este conceito é reforçado
pela palavra “perfeito” que vem do termo hebraico tamîm, que
significa "íntegro, inteiro, reto". Este padrão é a natureza e a vontade
de D-us manifestas na vida daquele homem. Aqui a palavra que
define o Eterno vem do termo hebraico Elohim, que significa "D-us
Criador". Isso significa que Noah, além de possuir uma lei que lhe fora
inscrita no coração por D-us, também conhecia os padrões do Eterno
e andava de conformidade com eles. Isso significa dizer que Noah era
um homem santo!

A família de Noah consistia de sua esposa e três filhos: Shem que


significa “nome”; também temos em sua raiz shmw, ser alto,
excelência ou majestade, Ham, que significa “sogro” e Iapet, que
significa o "dilatado, o difundido". Estes certamente acompanhavam
seu pai e sabiam de sua comunhão com o D-us eterno! Noah
certamente lhes ensinava o que deveria é certamente lhes ensinava o
que deveria feito para agradarem ao Senhor de toda a terra!

Mas, em oposição ao quadro de justiça e comunhão com o Eterno a


Escritura nos relata a situação do mundo de então: “A terra, porém,
estava corrompida diante de Elohim, e cheia de violência” (Gn 6:11).
Este é o retrato de uma geração corrupta que só pode ser combatida
através da santidade de D-us vista em seus servos. A corrupção e a
violência de origem pecaminosa era tão grande que o Senhor já não
suportava mais ver aquilo! A palavra corrompida vem do termo
hebraico shahat que significa "cova, destruição". Imaginemos então
o que estava acontecendo: o D-us Eterno havia criado o homem à sua
imagem e semelhança, e este mesmo homem já se desviara tanto de
sua presença que a terra já se encontrava caminhando rumo à cova,
a destruição aos olhos de D-us. O nível e a intensidade da degradação
humana foram muito grandes e rápidos, pois já no princípio da
humanidade ocorre este fato! A terra estava violenta. Esta palavra
vem do termo hebraico hamas que significa violência, mal, injustiça.
Esta palavra é usada sempre com sentido de violência pecaminosa.

D-us então chama a Noah para dar-lhe instruções sobre o que fazer:
“Faze para ti uma arca de madeira de gôfer: farás compartimentos na
arca, e a revestirás de betume por dentro e por fora” (Gn 6:14). A
primeira instrução do Eterno é que Noé construa uma tebâ [arca],
que neste contexto significa um imenso barco que seria usado para
livrar Noah, sua família e os animais do juízo que viria através do
dilúvio. Além disso o Senhor o instrui para betumar a arca por dentro
e por fora! Isso nos mostra duas coisas: primeiro, o cuidado do Eterno
em dar instruções detalhadas a fim de fazer com que a arca
realmente funcione conforme seus propósitos estabelecidos, e em
segundo lugar mostra-nos que Noah conhecia o petróleo bruto e que
ele existia à flor da terra! Lembremo-nos que naquela época não era
possível extrair-se o petróleo do subsolo da terra, pois não havia uma
tecnologia que permitisse a identificação do lençol de petróleo assim
como a perfuração de profundos poços a fim de traze-lo para a
superfície!

O próximo passo é o de dar à Noah as medidas da arca: “Desta


maneira a farás: o comprimento da arca será de trezentos côvados, a
sua largura de cinqüenta e a sua altura de trinta” (Gn 6:15). A palavra
“côvado” vem do termo hebraico ´ammâ com o mesmo significado.
Esta palavra equivale a uma medida de comprimento que tem cerca
de 45 centímetros! Transformando estas medidas para metros,
teremos então:

Comprimento - 160 metros

Largura - 26,5 metros

Altura - 16 metros

Analisando-se as medidas acima teremos então uma grande surpresa:


a arca não era um “barquinho”, mas se parecia muito com um
transatlântico! As suas medidas nos permitem dizer que ela foi
suficiente para abrigar Noah e sua família além dos animais que
foram por ele transportados! A arca não possuía janelas, mas sim
compartimentos e andares! “Farás na arca uma janela e lhe darás um
côvado de altura; e a porta da arca porás no seu lado; fá-la-ás com
andares, baixo, segundo e terceiro” (Gn 6:16). As instruções eram
claras e precisas: a arca deveria ter somente uma porta e os andares
com os compartimentos para abrigar os animais. A arca aponta para
dois aspectos distintos: salvação e condenação! A salvação para
aqueles que crerem na palavra do homem de D-us (Noah) e a
condenação para os incrédulos! Percebemos que a para entrar-se na
arca seria necessário passar pela porta! Noah e seus filhos somente
consumaram sua plena “salvação” após terem passado pela porta
para dentro da arca – onde estavam então seguros! Quem nos
informa tornar-se Ele a porta? Ieshua! E um outro detalhe: havia
somente uma porta; assim como há somente um caminho que conduz
à salvação!

É tudo muito simples! Em Hebreus, a Escritura nos informa


justamente isso: “Ora, sem fé é impossível agradar a D-us; porque é
necessário que aquele que se aproxima de D-us creia que ele existe,
e que é galardoador dos que o buscam. Pela fé Noah, divinamente
avisado das coisas que ainda não se viam, sendo temente a D-us,
preparou uma arca para o salvamento da sua família; e por esta fé
condenou o mundo, e tornou-se herdeiro da justiça que é segundo a
fé” (Hb 11.6,7). O que fez a diferença entre Noah e os outros foi
justamente a sua fé! A fé de Noah foi posta em algo que lhe traria
resultados duradouros, enquanto que os outros habitantes do mundo
estavam colocando sua confiança em coisas perecíveis e que não lhes
traria nenhum retorno duradouro!

Agora o Eterno diz a Noah: “Mas contigo estabelecerei o meu pacto;


entrarás na arca, tu e contigo teus filhos, tua mulher e as mulheres
de teus filhos” (Gn 6:18). A palavra para pacto em hebraico é berith,
e significa “um pacto feito com derramamento de sangue”. Isso nos
mostra que alguém deveria morrer para que esta aliança fosse
consolidada! Isso deverá acontecer como resultado do livramento que
será dado aos homens através de Noah! Novamente nos é ensinado
que para haver redenção é necessário que haja derramamento de
sangue! O pacto é feito com base na vida que é derramada! A
salvação é resultado do derramamento de sangue feito no pacto! Não
foi assim que aconteceu nos dias de Ieshua? Não precisou ele morrer,
derramando seu sangue para que fôssemos salvos? Não foi isso feito
para reafirmar o pacto feito no passado com Avraham? O que
aconteceu no Tanach foi somente sombra daquilo que aconteceria e
se cumpriria em Ieshua!

O verso 19 nos diz: “E de tudo o que vive, de toda a carne, dois de


cada espécie, farás entrar na arca, para os conservar vivos contigo;
macho e fêmea serão” (Gn 6:19). Isso nos informa que nela estavam
todos os animais de todas as espécies, pois a terra não havia ainda se
dividido!

A ordem agora é: “Depois disse o IHVH a Noah: Entra na arca, tu e


toda a tua casa, porque tenho visto que és justo diante de mim nesta
geração” (Gn 7:1). Temos aqui a ocorrência de uma palavra muito
importante: o Eterno identifica-se como IHVH! Esta palavra significa
“Eu me torno aquilo que me torno”. E aqui, no verso 2, aparece um
conceito tido como “princípio da lei de Moisés”, mas que já era
conhecido por Noah. “De todos os animais limpos tomarás para ti
sete e sete, o macho e sua fêmea; mas dos animais que não são
limpos, dois, o macho e sua fêmea” (Gn 7:2). Este conceito fala de
“animais limpos”. A palavra “limpo” em hebraico é tahor, que
significa puro, limpo e é empregada para designar pureza ritual ou
moral. No caso dos animais, a pureza é ritual, ou seja, estes animais
são próprios para o consumo humano e podem ser oferecidos à D-us
em sacrifício! Mas qual seria a finalidade do Senhor dividir estes
animais nestas duas categorias? Certamente que isso já aponta para
a intenção do Senhor em preservar nosso corpo – pois os animais
seriam posteriormente consumidos como comida – dando-nos uma
melhor qualidade de vida através da alimentação. Destes o Senhor
ordena que entrem na arca sete casais; dos demais apenas dois
casais! Novamente somos ensinados que na época de Noah já
existiam princípios que depois seriam promulgados através da Torah
dada à Moisés! Mas esta e outras leis são anteriores à Torah! Então
percebemos uma intenção do Eterno em guardar o homem de pecar
contra Ele! Noah, sabedor destas coisas como homem que tinha um
alto grau de intimidade com o Senhor, obedece-o e parte para o início
de uma nova etapa na vida da humanidade.

Entendemos que somente através da obediência de Noah foi possível


a realização dos desejos do coração do Eterno e foi através dessa
obediência que o Senhor consumou a salvação da raça! Certamente
Noah não se tornou obediente da noite para o dia, mas ele com
certeza aprendeu a ser obediente obedecendo! Esse é o ponto chave
da questão: obedecer sem questionar ao Senhor. D-us não necessita
de homens que lhe questionem o porque das coisas. Ele realmente
precisa de homens que lhe obedeçam incondicionalmente e em
qualquer ocasião!

Após estes acontecimentos e também a conclusão da preparação de


todas as coisas, então é hora de ter início o dilúvio! “No ano
seiscentos da vida de Noah, no mês segundo, aos dezessete dias do
mês, naquele mesmo dia se romperam todas as fontes do grande
abismo, e as janelas dos céus se abriram” (Gn 7:11). Agora não é
mais possível voltar-se atrás, pois tem início o juízo do Eterno sobre
toda a carne. É também nos dito que o período total do juízo foi “E
houve chuva sobre a terra quarenta dias e quarenta noites” (Gn
7:12). Este versículo nos informa que a chuva duraria quarenta dias!
O número quarenta na Escritura está associado à provação e foi
justamente isso o que aconteceu! A humanidade está sendo provada
em suas convicções, pois não creram na palavra anunciada por Noah,
e por isso agora recebem o juízo! Há também o outro lado, em que
Noah e sua família são levados a aguardar o resultado do juízo
externo contra a humanidade! Eles estão, de certa forma, sem
nenhuma defesa, pois dependem agora da resistência da arca e do
tempo em que a água demoraria para baixar. Isso tudo deve ter
gerado em Noah e sua família uma ansiedade muito grande pelo
resultado final daquele acontecimento. E o mais importante: eles
estavam sendo preservados pelas mãos do D-us Eterno, que cuidou
deles a fim de não permitir que nada saísse errado!

Um detalhe muito importante precisa ser colocado aqui: não havia


possibilidade de Noah ou sua família ajudarem alguém que chegasse
após eles haverem entrado na arca. Durante cento e vinte anos Noah
anunciara o juízo e convidara as pessoas a serem salvas. Porém após
sua entrada na arca já não haveria mais possibilidades de salvação.
Porque? Veja o que diz a Escritura: “E os que entraram eram macho e
fêmea de toda a carne, como D-us lhe tinha ordenado; e o Senhor o
fechou por fora” (Gn 7:16). A arca foi fechada pelo Eterno e por fora!
Ou seja, não haveria possibilidade de que quem estava dentro dela
sequer tentar algo para ajudar os que estavam de fora! Primeiro é
dito que Noah obedeceu às ordens de D-us. Aqui a palavra que define
o Eterno vem do termo hebraico Elohim que significa D-us Criador!
Então, temos a seguir o conceito do “IHVH”. Sabemos pelas Escrituras
que o IHVH é quem abre qualquer porta, mas também é Ele que fecha
qualquer porta, inclusive a da salvação! Foi justamente por causa
disso que temos aqui a ocorrência do termo IHVH para designar este
momento! Para Noah e sua família o Eterno tornou-se a sua salvação;
em contrapartida, para aqueles que não creram nas palavras de Noah
o Eterno tornou-se o Juízo e a morte! Quando pensamos nisso
lembramo-nos de que algo semelhante acontecerá por ocasião da
volta do Senhor Ieshua. E após o Noivo ter voltado para buscar sua
Noiva, aqueles que ficarem de fora nada poderão fazer para entrar e
também aqueles que estiverem do outro lado com o Noivo nada
poderão fazer pelos de fora! Isso nos é contado numa parábola
contada por Ieshua que diz assim: “Então o reino dos céus será
semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao
encontro do esposo. E cinco delas eram prudentes, e cinco loucas. As
loucas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo. Mas
as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas
lâmpadas. E, tardando o esposo, tosquenejaram todas, e
adormeceram. Mas à meia-noite ouviu-se um clamor: Aí vem o
esposo, saí-lhe ao encontro. Então todas aquelas virgens se
levantaram, e prepararam as suas lâmpadas. E as loucas disseram às
prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se
apagam. Mas as prudentes responderam, dizendo: não seja caso que
nos falte a nós e a vós, ide antes aos que o vendem, e comprai-o para
vós. E, tendo elas ido comprá-lo, chegou o esposo, e as que estavam
preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta. E
depois chegaram também as outras virgens, dizendo: Senhor, Senhor,
abre-nos. E ele, respondendo, disse: Em verdade vos digo que vos
não conheço. Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que
o Filho do homem há de vir” (Mt 25:1-13). Aqui temos duas categorias
de pessoas: prudentes e loucas. A palavra prudente vem aqui do
termo grego sophron que significa "sensatez, prudência, controle
próprio". Esta palavra vem de duas raízes: sos+phron que significam
respectivamente sos, “salvo, seguro” e "phren", o coração. Esta
palavra vem de um termo hebraico que é tebûnâ que significa
"entendimento". Em sua raiz temos a palavra bîn que significa
"entender, considerar, perceber, ser prudente, discernir". Esta palavra
nos fala sobre o objeto do entendimento que é algo superior à mera
reunião de alguns dados.

Já a palavra “louca” vem do termo grego moria que significa


"estultícia, tolice". Esta pessoa ocupa-se tanto com a falta de
conhecimento como de discernimento. Ela vem de um conceito
hebraico que significa que a tolice não é ignorância, mas sim rebelião
contra D-us; não é fatalidade, mas sim culpa. O homem comprova
que é tolo quando rejeita a oferta de D-us e então cai no julgamento.
A obediência é a prudência dos crentes! Esta palavra vem de um
termo hebraico que é kasal e significa ser tolo. Esta palavra refere-se
a um estilo de vida atraente para pessoas imaturas mas que pode
levar à ruína e a destruição.

Mas porque isso acontecerá assim? É porque as pessoas novamente


não crerão nas palavras ditas pelos servos de D-us avisando que o
tempo é chegado e que o Noivo se aproxima!

O juízo vem sobre a terra e sobre a humanidade e destrói tudo o que


existe sobre a face da terra! A Escritura nos informa agora que o
Eterno dá atenção a Noah e aos animais na arca, a fim de recolocar
as coisas em seus devidos lugares! Agora tem início o período em que
a água escoaria a fim de permitir novamente que o homem habite
sobre a terra! E a arca agora irá se acomodar na região em que o
Eterno escolheu para dali reiniciar o processo de colonização da terra.
E assim foi. “E a arca repousou no sétimo mês, no dia dezessete do
mês, sobre os montes de Ararate” (Gn 8:4).

Quando tudo cessa, então Noah envia uma pomba a fim de saber se
já há vegetação na terra. A pomba voaria e se achasse alguma
vegetação ela certamente a traria para ele. Quando ele faz isso a
primeira vez a pomba volta sem trazer nada consigo. Mas na segunda
vez acontece algo de diferente. Veja que relato interessante nos é
dado em Gn 8.11: “E a pomba voltou a ele à tarde; e eis, arrancada,
uma folha de oliveira no seu bico; e conheceu Noah que as águas
tinham minguado de sobre a terra”. A árvore citada aqui é a oliveira.
A palavra oliveira vem do termo hebraico zayit que significa "oliveira,
azeitona". A oliveira é famosa por três coisas: seu fruto, seu óleo e
sua madeira. O interessante é que a primeira árvore que se recuperou
(ou que não pereceu) foi a oliveira! Isso nos fala muito fortemente,
pois a oliveira na Escritura é figura da nação de Israel! A palavra nos
fala então que quando vier a tribulação o Eterno preservará a Israel!
Isso nos fala também da igreja gentílica, que segundo Sha´ul nos
informa em Romanos 11, foi enxertada em Israel (a oliveira brava
enxertada na boa). Esta folha de oliveira que retorna com a pomba
nos diz novamente que Israel e a Igreja serão sempre preservados em
meio às maiores lutas e provações que a humanidade vier a
enfrentar! Quando tudo o mais havia perecido, a forte oliveira ainda
vivia! Aleluia!

O período total no qual eles ficaram na arca foi: “No ano seiscentos
da vida de Noah, no mês segundo, aos dezessete dias do mês,
naquele mesmo dia se romperam todas as fontes do grande abismo,
e as janelas dos céus se abriram” (Gn 7:11). Aqui tem início o dilúvio
e o período em que Noah, sua família e os animais ficam na arca. O
seu fim foi “E aconteceu que no ano seiscentos e um, no mês
primeiro, no primeiro dia do mês, as águas se secaram de sobre a
terra. Então Noah tirou a cobertura da arca, e olhou, e eis que a face
da terra estava enxuta” (Gn 8:13). Ou seja, eles ficaram praticamente
um ano dentro da arca! Nós devemos dizer que isso realmente foi um
milagre, em todos os sentidos, pois sabemos que várias coisas são
necessárias para a subsistência humana (quanto mais junto com
animais), e esse tempo todo eles passaram fechados dentro da arca!
A Escritura não nos informa que qualquer animal revoltou-se, ou
morreu, ou sequer que houve um “briga” dentro da arca por mais
espaço! Ali estavam as mãos do Eterno a fim de preservar a ordem
em meio a uma situação desconfortável!

Quando eles saem da arca, a primeira coisa que Noah faz com sua
família é oferecer um sacrifício ao Senhor! Há entre eles um profundo
sentimento de gratidão a D-us por terem sido preservados vivos em
meio à catástrofe que atingira o mundo. Há um sentimento de
“alívio”, por estarem vivos, por terem saído da arca, por poderem
voltar à normalidade, enfim, por verem novamente o mundo como
estavam habituados até então!

Aqui acontecem algumas coisas: Noah primeiro edifica um altar ao


Senhor. O altar na antigüidade era reconhecidamente “local de
sacrifício”, local onde alguém (ou algo) morre por outrem. Há também
o fato de animais limpos serem escolhidos para esse sacrifício.
Novamente um conceito da Torah aqui nos é mostrado (revelado), e
isso nos fala que Noah realmente tinha uma profunda comunhão com
o Eterno e ele certamente aprendeu isso com Ele! O que aconteceu
quando Noah fez o que aprendeu com o Senhor? “E edificou Noah um
altar ao Senhor; e tomou de todo o animal limpo e de toda a ave
limpa, e ofereceu holocausto sobre o altar. E o Senhor sentiu o suave
cheiro, e o Senhor disse em seu coração: Não tornarei mais a
amaldiçoar a terra por causa do homem; porque a imaginação do
coração do homem é má desde a sua meninice, nem tornarei mais a
ferir todo o vivente, como fiz. Enquanto a terra durar, sementeira e
sega, e frio e calor, e verão e inverno, e dia e noite, não cessarão”
(Gn 8:20-22). Aqui a palavra que define o Eterno vem do termo
hebraico IHVH que significa “Eu me torno aquilo que me torno”. Isso
significa que agora o Eterno se tornaria aquilo que Noah e seus
familiares necessitavam! O Eterno recebe o sacrifício como algo
maravilhoso, pois Noah está justamente fazendo aquilo que o Senhor
esperava dele. Novamente sua obediência se reflete em suas ações!
Por isso o Eterno dará continuidade aos seus planos através da vida
desse homem! Noah em sua pessoa nos fala de um modelo, ele nos
mostra como servirmos ao Eterno de forma a superarmos os
obstáculos e ao fim deles ainda podermos ter em nosso coração a
convicção de que poderemos continuar a ouvir e obedecer ao Senhor!
O Eterno afirma que “não mais amaldiçoaria a terra por causa do
homem”. A palavra amaldiçoar vem do termo hebraico qalal que
significa "ser sem importância, ser insignificante". Em sua raiz temos
a palavra qelalâ que significa "maldição". Esta palavra indica a
inversão de um estado abençoado ou justo e o rebaixamento a um
estado inferior. Nós percebemos que o mal foi trazido sobre a terra e
que o homem também sofreu com isso. A palavra “terra” vem do
termo hebraico adamâ que significa "solo, terra", de onde provém
também a palavra Adam, que significa "homem, espécie humana;
feito de terra". O Eterno disse que não mais destruiria a terra apesar
de “a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice”.
Aqui a palavra imaginação vem do termo hebraico yetser que
significa "forma". Neste contexto significa aquilo que é formado na
mente humana! Ou seja, o Senhor nos diz que o homem ministra
padrões negativos aos seus filhos e isso acabou desencadeando todo
um processo de destruição à humanidade nos dias de Noah!

Após o término do sacrifício, acontece o seguinte: “Abençoou D-us a


Noah e a seus filhos, e disse-lhes: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei
a terra” (Gn 9:1). A palavra usada aqui para abençoar é barak que
significa "dar poder à alguém para ser próspero, bem sucedido e
fecundo". Quando o Eterno abençoa (com barak), Ele ainda diz estas
palavras a Noah e seus filhos: “Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a
terra”. A palavra liberada pelo Eterno tinha um caráter duplo: Ele
ministrara a frutificação (parã) e a multiplicação (raba) de seus filhos,
com a finalidade de encherem a terra! Aqui a palavra frutificai vem do
termo hebraico parâ que significa "frutificar, ser frutífero, ser
fecundo, ramificar". Já a palavra multiplicar vem do termo hebraico
rabâ que significa "ser grande, tornar-se grande, ser numeroso,
tornar-se numeroso". Por isso o judeu se cumprimenta com “Toda
rabâ”, muita multiplicação! Isso nos parece um tanto óbvio, mas fica
novamente explícita a aprovação do eterno quanto à Noah e sua
família por terem obedecido ao Senhor em tudo.

O Senhor dá ainda à eles (que representam a humanidade redimida)


o poder sobre os seres viventes (reafirmando dessa forma a promessa
feita à Adão no Éden) e sobre a erva verde também como seu
mantimento. Está dito assim: “E o temor de vós e o pavor de vós
virão sobre todo o animal da terra, e sobre toda a ave dos céus; tudo
o que se move sobre a terra, e todos os peixes do mar, nas vossas
mãos são entregues” (Gn 9:2). Aqui a palavra “temor” vem do termo
hebraico môra´ que significa "medo, terror". Esta palavra está ligada
à emoção do medo (um sentimento advindo da alma) e está ligada à
reverência e ao respeito. Já a palavra pavor vem do termo hebraico
hat que significa "pavor, medo". Esta palavra indica um estado de
aniquilação, pavor absoluto, desmoralização.

Porém, já aqui o Eterno faz uma restrição ao homem: o sangue! “A


carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis”
(Gn 9:4). Já antes da Torah há um mandamento para que o homem
não coma sangue! Hoje é sabido que no sangue estão contidas todas
as informações genéticas do homem assim como também ali está a
sua saúde (ou doença), pois o sangue é o único fluido que circula por
todo o corpo humano fazendo o transporte de proteínas, vitaminas,
mas também de bactérias, vírus, etc... que são os fatores
transmissores de doenças! Porque não comer sangue? É óbvio que
nele estão contidas a vida e a morte e que este elemento não seria
necessário para suprir o homem de qualquer elemento necessário à
sua saúde.

O interessante é que quem estabelece este princípio é o próprio


Criador do homem! Isso nos mostra que, Aquele que nos criou (e que
conhece todos os detalhes de nossa constituição física) determinou
aquilo que seria bom (ou não) para comermos e bebermos. Estas
“leis” tem a finalidade de preservarem nossa saúde e de prolongarem
nossa vida sobre a terra. Alguns encaram isso como um conjunto de
limitações que lhes tira a liberdade de fazerem o que quiserem, mas
não é bem isso. Imagine você que seu filho após nascer (e no
decorrer de seu desenvolvimento) passa a ingerir substâncias que lhe
farão mal. Qual seria a atitude normal de um bom pai? Seria ensinar
ao filho o que ele pode ou não comer! E foi isso justamente o que o
Eterno fez conosco! Ele nos “aconselha” a seguirmos seus padrões
(inclusive alimentares) para termos uma melhor saúde e sermos
então mais felizes na terra.

Vejamos que agora o Eterno dá a Noah e seus filhos a forma e os


objetivos de seu concerto com eles: “Eis que eu estabeleço o meu
pacto convosco e com a vossa descendência depois de vós, e com
todo ser vivente que convosco está: com as aves, com o gado e com
todo animal da terra; com todos os que saíram da arca, sim, com
todo animal da terra. Sim, estabeleço o meu pacto convosco; não
será mais destruída toda a carne pelas águas do dilúvio; e não haverá
mais dilúvio, para destruir a terra. E disse D-us: Este é o sinal do
pacto que firmo entre mim e vós e todo ser vivente que está
convosco, por gerações perpétuas: O meu arco tenho posto nas
nuvens, e ele será por sinal de haver um pacto entre mim e a terra”
(Gn 9.9-13). A palavra aqui é novamente berith, ou seja, um pacto
(ou aliança) mediante o derramamento de sangue. Mas esta aliança é
diferente da outra que seria feita posteriormente com Avrham. Esta
aliança diz respeito aos homens, animais e à terra! Aqui fala-se da
não destruição da humanidade através das águas do dilúvio
novamente! Mas para que isso pudesse ser percebido por todos os
homens na terra (e também “lembrado” pode D-us nos céus), o
Eterno poria um arco, que é o sinal visível deste pacto firmado com
Noah.

Ao fim desta etapa nos é dito: “Estes três foram os filhos de Noah; e
destes foi povoada toda a terra” (Gn 9:19).

A seguir temos o reinicio da vida na terra. Aquilo que Noah e seus


filhos faziam antes do dilúvio, como as atividades agro-pastoris,
voltam novamente a ser o seu cotidiano. Mas, logo após o reinicio da
vida na terra, acontece um fato no mínimo bizarro: Noah após
embebedar-se, é visto nu por seu filho Cão, que lhe falta com o
respeito devido a seu pai e por isso recebe uma dura palavra de
Noah. Leiamos então a narrativa que diz: “E começou Noah a ser
lavrador da terra, e plantou uma vinha. E bebeu do vinho, e
embebedou-se; e descobriu-se no meio de sua tenda. E viu Cão, o pai
de Canaã, a nudez do seu pai, e fê-lo saber a ambos seus irmãos no
lado de fora. Então tomaram Sem e Jafé uma capa, e puseram-na
sobre ambos os seus ombros, e indo virados para trás, cobriram a
nudez do seu pai, e os seus rostos estavam virados, de maneira que
não viram a nudez do seu pai” (Gn 9:19-23).

Mas o que causou tantos problemas aqui? Foi o fato de Cão ter visto a
nudez de seu pai e a “divulgado” a seus irmãos. A palavra nudez vem
do termo hebraico ´erwâ que significa "nudez, vergonha". Já a
palavra “conhecido” vem do termo hebraico nagad que significa
"contar, tornar conhecido". O sentido básico da raiz é “colocar algo
em evidencia de forma ostensiva diante de alguém”. A forma como
Cão apresentou a nudez de seu pai é que foi condenável aos olhos de
Noah! Temos então uma reação muito forte da parte de Noah quanto
ao ocorrido.

Vejamos o que foi dito por Noah à seus filhos: “Despertado que foi
Noah do seu vinho, soube o que seu filho mais moço lhe fizera; e
disse: Maldito seja Canaã; servo dos servos será de seus irmãos.
Disse mais: Bendito seja o IHVH, o Elohim de Sem; e seja-lhe Canaã
por servo. Alargue Elohim a Jafé, e habite Jafé nas tendas de Sem; e
seja-lhe Canaã por servo” (Gn 9.24-27). Mas o que de fato aconteceu
aqui? Noah amaldiçoa seu filho Cão. A palavra amaldiçoar (aqui lit.
maldito) em hebraico é arar. Esta palavra tem suas raízes em
palavras que significam “capturar”, “prender”, “armadilha”, “funda”.
Significa também “prender” (por encantamento), “cercar com
obstáculos” e “deixar sem forças para resistir”. O que Noah fez então
a Cão? Ele simplesmente liberou palavras que determinaram o futuro
do moço assim como também o de seus descendentes!

Consideremos alguns pontos a seguir:

Noah era pai de Cão, portanto autoridade imediata e máxima sobre


ele, podendo através de sua palavra determinar o bem ou mal à ele;
Noah era um servo do Eterno (Criador), e isso lhe dava autoridade
para poder profetizar a palavra do Senhor;

Noah faz isso por causa de uma atitude errada de Cão. Esse é
portanto o juízo de D-us sobre esse moço que desonra seu pai!

Uma das coisas ditas por Noah à Cão está que ele seria “servo dos
servos de seus irmãos”. Esta palavra demonstra-nos o quão baixa
seria a condição de Cão e de seus descendentes!

Já em relação aos irmãos de Cão as coisas foram diferentes: a Sem


ele diz: “Bendito seja o Senhor, o Elohim de Sem; e seja-lhe Canaã
por servo”. Cão aqui seria servo do semitas (descendentes de Sem).
Já com Jafé ocorre assim: “Alargue Elohim a Jafé, e habite Jafé nas
tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo”. Novamente Cão seria
servo também de Jafé, mas Jafé habitaria nas tendas de Sem! Sem e
seus descendentes receberam a melhor porção da benção de Noah! A
eles coube o estar no topo, pois estes três geraram a população do
mundo que conhecemos hoje!

Mas como seria hoje esta divisão:

Semitas (descendentes de Sem) – Ásia

Camitas (descendentes de Cão) – África

Jafetitas (descendentes de Jafé) – Europa.

Para nós atualmente é notória diferença entre estas três grandes


divisões no mundo! Os semitas de forma geral estão espalhados por
todo o mundo, cumprindo o que fora dito por Noah, pois “habitam nas
tendas de Jafé”. Já os descendentes de Jafé são também muitos e
detentores do conhecimento secular e do poder econômico. Porém
aos camitas ficou reservado a condição de “seres inferiores”, ou povo
que é continuamente explorado pelos demais! E tudo isso graças à
uma palavra dita por um homem na antigüidade!

Poderíamos destacar vários fatos interessantes acerca dos


descendentes de Noah, porém cremos que um merece nossa atenção
agora. Queremos atentar para um dos descendentes e Cão: “Cuche
também gerou a Ninrode, o qual foi o primeiro a ser poderoso na
terra. Ele era poderoso caçador diante do Senhor; pelo que se diz:
Como Ninrode, poderoso caçador diante do Senhor. O princípio do seu
reino foi Babel, Ereque, Acade e Calné, na terra de Sinar. Desta
mesma terra saiu ele para a Assíria e edificou Nínive, Reobote-Ir,
Calá” (Gn 10.8-11). Este texto nos informa que um dos descendentes
de Cão foi Ninrode. Seu nome significa “rebelião” ou “o valente”. É
dito em nossa tradução: “Cuche também gerou a Ninrode, o qual foi o
primeiro a ser poderoso na terra”. A palavra primeiro está mal
colocada. Ela quer dizer que Ninrode tornou-se alguém que em função
de uma conduta veio a ser forte e poderoso. Esta palavra então que
faltou em português vem do termo hebraico halal que significa
profanar, contaminar, poluir. Vem de uma raiz árabe, hll, que significa
“desobrigar de deveres religiosos”.

Este homem foi o fundador de Babel (que depois é conhecida nas


Escrituras como Babilônia). Sua influência no mundo antigo foi
devastadora, pois é através da fundação desta cidade que vem a
confusão das línguas e a posterior separação e dispersão da
humanidade. A palavra Bavel em hebraico e provavelmente vêm da
raiz balal que significa “confundir”. Ele fundou também a cidade de
Ereque – Ereq que significa “longo”. Fundou também a Acade – Acad
que em hebraico significa "sutil, agudo, penetrante". Fundou ainda a
cidade de Calné – Calneh que em hebraico significa “fortaleza de
Anu”. É interessante que este homem fundou cidades que apontavam
para seu alvo: confundir, e, ao longo do tempo, sutilmente, levar as
pessoas à fortaleza de Anu!

Na atualidade sabemos que o nome Ninrode é dado a um dos


príncipes de Satanás, e ele tem por finalidade comandar toda a
violência no mundo!

Outra coisa interessante é que Babilônia tem algumas coisas tidas por
suas “especialidades”. Entre elas estão o comércio: “Javã, Tubál e
Meseque eram teus mercadores; pelas tuas mercadorias trocavam as
almas de homens e vasos de bronze” (Ez 27:13 – ver tbém. Ap 18.13).
A especialidade de Babilônia é comercializar a alma humana! Eles
trabalham com os sentimentos e anseios do coração humano,
fazendo deles assim suas presas fáceis. Suas emoções estão
totalmente escravizadas por Babilônia, pois é ela quem dita as regras
de conduta dos seus servos. Entendamos que Babilônia hoje é um
sistema de coisas que faz com que as pessoas sejam postas sob seu
domínio em toda a terra. Inclusive alguns servos do Senhor ainda
estão sob seu domínio, pois tem deixado que o sistema mundano
“dite” as normas, diretrizes e regras com as quais ele se guia! Parece
que alguns não atentam para a palavra que diz: “Rogo-vos pois,
irmãos, pela compaixão de Elohim, que apresenteis os vossos corpos
como um sacrifício vivo, santo e agradável a Elohim, que é o vosso
culto racional. E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-
vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual
seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Elohim” (Rm 12.1,2).

Por fim, nos é apresentado o maior símbolo do orgulho e da


arrogância do ser humano: a torre de Bavel! Nela estão expressos os
desejos de independência do homem para com D-us, além de
apreendermos também que sua intenção original era de que, no alto
daquela torre, haveria um lugar onde eles iriam para “receberem
revelações” dos deuses que ali viriam para encontrá-los!
Isso nos mostra um outro fato: crê-se que foi ali em Bavel que surgiu
a astrologia (consulta aos astros para conhecer-se o futuro). É sabido
que o homem tem um anseio muito grande de conhecer o seu futuro,
e para isso recorre aos mais variados meios (ainda que não lhe sejam
conhecidos ou lícitos), e então tenta sem D-us conhecer aquilo que
lhe sobrevirá no futuro.

Outra coisa que Bavel nos revela: o homem prefere seguir seus
próprios “instintos” a esperar em D-us por uma direção segura para
sua vida! Bavel tem por finalidade ministrar ao homem a sua
independência do Criador. Porém não lhes é dito que isso cria uma
profunda dependência dos deuses de Bavel e uma automática
condenação, tanto de Bavel quanto daqueles que adotam seus
princípios e sistemas!

No livro de Apocalipse, no capítulo 17 nos é informado que um dia, no


futuro, a grande Babilônia, a grande prostituta, será finalmente
vencida e seu sistema aniquilado para sempre!

Agora devemos nos posicionar: de que lado queremos realmente


ficar? Ficaremos atrelados ao mundo e seus esquemas e
estratagemas diabólicos (que são uma herança de Babilônia), ou
então permitiremos que o Eterno mude nossas mentes para
podermos experimentar qual seja a boa, perfeita e agradável vontade
de D-us? Faça sua escolha!

Parashat Lêch Lechá Vá por ti

Tudo tem início com uma ordem: “Ora, o IHVH disse a Abrão: sai-te da
tua terra e da tua parentela e da casa de teu pai, para uma terra que
eu te mostrarei” (Gn 12.1). A primeira coisa a considerarmos aqui é
que o Eterno fala (ou se apresenta) a Abrão como IHVH (o
tetragrama). Este nome significa “Eu me torno aquilo que me torno” e
traz implícito nele que este relacionamento com Abrão traria os
resultados que ele Abrão necessitava, pois se tornaria a solução do
problema que surgira na vida de Abrão. Há uma ordem: “Levanta-te e
vai”, e isso demonstra que deveria haver em Abrão um desejo de
obedecer a uma ordem que lhe conduziria a um destino incerto,
desconhecido. Ele deveria deixar “a terra” – em hebraico eretz, que é
utilizado para falar sobre a terra de Israel.

Isso demonstra que havia uma profunda relação entre a terra – local
de morada – de Abrão e aqueles que ali habitavam. A terra era
considerada por ele como seu lugar definitivo de convivência. Porém
o Eterno lhe ordenou que saísse dali a fm de poder apoderar-se
daquilo que o coração do Eterno desejou para ele. Seu nome em
hebraico é Abram e significa “pai exaltado”. O nome de Abrão indica
quem ele era na terra onde habitava.
O verso também nos mostra que já havia um relacionamento entre o
Eterno e Abrão, pois D-us fala com Abrão dando-lhe uma ordem,
fazendo-lhe também uma promessa! Aqui não há nenhuma indicação
de onde é a terra ou o que exatamente Abrão receberia do Senhor. Há
somente uma certeza: a de que há uma palavra dada pelo Eterno em
relação ao seu futuro e de que, há um caráter de fidelidade naquele
que a pronunciou!

Abrão agora é enviado não para a sua há eretz, mas sim para a há
eretz que o Eterno lhe daria! Esta terra o Eterno “mostraria” a ele. A
palavra “mostrarei” vem do termo hebraico ra´a e que significa ver,
olhar, inspecionar. Isso significa que Abrão veria, olharia,
inspecionaria a terra que o Eterno haveria de dar a ele e a seus
descendentes e ali sim seria a sua morada “definitiva”.

Juntamente com a promessa de uma orientação acerca de uma nova


habitação para Abrão, vem também outras coisas: “E far-te-ei uma
grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome e tu
serás uma benção” (Gn 12.2). Aqui o Eterno está falando com um
homem já avançado em idade e com tudo vários fatores contra si
mesmo da perspectiva humana! Mas o Eterno lhe promete fazer dele
uma grande nação! A palavra nação em hebraico é goy e significa
gentio, pagão, nação, povo. Esta palavra nos fala sobre a metodologia
que o Eterno usaria no decurso da história a fim de fazer de Israel um
povo muito grande em toda a terra! O interessante é que o termo nos
fala sobre uma mistura, um povo gentio que seria descendente de
Abrão! Novamente a metodologia do Eterno nos mostra que seus
desígnios devem ser obedecidos e não compreendidos! Quando o
Eterno prometeu isso a Abrão ele tinha cerca de 75 anos e já era um
homem completamente estabelecido em sua cidade. Ele não era um
qualquer, e não procurava por aventuras, mas através do
relacionamento que mantinha com o Eterno pôde então receber do
Senhor as promessas que o guiariam até a terra de Canaã! Esta
promessa feita a Abraão cumpriu-se de duas formas: a primeira é que
o povo de Israel acabou misturando-se com outros povos, dando
origem a descendentes chamados de “meio-israelitas”, porém sem o
conhecimento do Eterno, pois foram estes judeus que sofreram
muitas perseguições em nome do próprio D-us e por isso isolaram-se
a fim de não serem mortos e novamente exilados. A segunda é que
hoje os crentes em Ieshua dizem ser também descendentes de Abrão
pela fé! Eles porém não sabem que, em sua grande maioria, são
descendentes diretos dos judeus – porém destituídos do
conhecimento de suas verdadeiras raízes – e isso nos leva a
concluirmos que temos uma aglutinação e uma identificação daquilo
que chamamos de nação igreja mais a nação de Israel! Estes dois, na
realidade, formam apenas um só povo! Não é possível separarmos
estes dois povos, pois eles tem, em sua essência, tudo em comum!
Apenas falta, de ambas as partes, o conhecimento e o
reconhecimento um do outro! E este é o trabalho que o Espírito Santo
está realizando nestes últimos dias. Ele os está aproximando entre si
e derrubando as barreiras que há séculos foram postas a fim de
impedir este conhecimento e o reconhecimento daqueles que tem em
sua fé as origens comuns.

Uma outra coisa foi dita ainda a Abrão: que ele seria abençoado! A
palavra abençoar no hebraico é barak e significa dar poder para
alguém ser próspero, bem sucedido e fecundo! E quando o Eterno
prometeu isso a Abrão, como já dissemos, ele já era um homem com
uma vida estável em sua cidade! Em seu relacionamento com o
mundo exterior ele já desfrutava do sucesso, que é a abundância de
bens materiais e uma vida sem grandes problemas financeiros. Porém
haviam duas outras áreas que precisavam ser “incrementadas”: a da
“prosperidade” que é um maior relacionamento com D-us e sua
Palavra e a da fecundidade. A nível de prosperidade – relacionamento
com D-us – estava havendo um grande progresso; já a nível de
fecundidade aconteceu algo extraordinário: agora havia uma
promessa de que ele seria fecundo! E essa promessa adicionou um
aspecto à sua vida: o Eterno o faria fecundo! Este era, naquele
momento, o aspecto mais importante da promessa de D-us para
Abrão! Ele realmente apegou-se a esse aspecto daquilo que fora dito
pelo Eterno a fim de caminhar à luz e na esperança desta palavra! O
verso continua nos falando que o nome de Abrão seria engrandecido
e a palavra hebraica usada aqui é gadol e significa grande, pois vem
do verbo gadal que também significa crescer, tornar-se grande ou
importante, promover, tornar poderoso, e isso aconteceria com o seu
nome! Nós sabemos hoje que o Senhor cumpriu esta promessa a
Abrão pois seu nome traz motivação e bênção a muitas vidas que
miram-se naquilo que nosso pai fez! E está dito ainda que ele seria
ainda um beraka, ou seja, próspero, bem sucedido e fecundo!
Certamente que Abrão ao ouvir estas palavras teve suas entranhas
dentro de si movidas pela fé e emoção que se seguiram àquele
momento! Ele sabia que o Criador do universo estava lhe falando e
que Ele jamais libera palavras sem um objetivo mais elevado! Por isso
sua fé e esperança foram realmente restauradas e renovadas!

A promessa feita a Abrão tem um caráter de reciprocidade: “E


abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te
amaldiçoarem: e em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn
12.3). Perceba que há aqui um entrelaçamento entre a atitude dos
outros para com Abrão (e também seus descendentes) e a atitude do
Eterno para com estas pessoas! O que o Senhor quer dizer com isso?
Ele quer dizer o seguinte: dependendo da atitude dos povos para com
Abrão e seus descendentes Ele agiria de uma forma – no caso de os
abençoarem -, já quando fizessem o contrário, haveria um outro tipo
de reação da parte do Senhor para com eles! Novamente isso nos
mostra que o Senhor identificou-se de tal forma com seu povo que
conforme são tratados Ele – o Senhor – está sendo tratado também!
Temos aqui uma definição bem clara sobre isso: “abençoarei os que
te abençoarem” quer dizer: “darei poder para serem prósperos, bem
sucedidos e fecundos” todos os que, de alguma forma colaborarem
com vocês, sejam em gestos, atos, palavras ou intenções! A palavra
usada aqui para abençoar é barak. Mas há também o reverso desta
situação que é: “amaldiçoarei os que te amaldiçoarem”. Isto está
assim descrito no hebraico: a palavra “amaldiçoarei” é arar e quer
dizer amaldiçoar, capturar, prender por encantamento, cercar com
obstáculos, deixar sem forças para resistir. Essa será a paga que
receberão do Eterno por amaldiçoarem a Israel. Esta palavra
amaldiçoar é qalal e significa considerar sem importância, ser
insignificante, relegar ao desprezo. Agora juntemos as duas partes:
aqueles que por gestos, atos, palavras ou pensamentos consideram
Abrão ou seus descendentes sem importância, insignificantes ou
mesmo os desprezam (de qualquer uma das formas descritas acima)
recebem do Eterno como “prêmio” suas vidas “capturadas, sendo
presos por encantamos, tendo seu viver diário cercado por obstáculos
e sendo deixado sem forças para resistir!” Será que é possível
entendermos o quão sério o Senhor leva aquilo que é feito contra
seus filhos? Aqui está um dos marcos da fé bíblica e judaica no D-us
Todo-Poderoso! E é justamente este o momento em que o D-us Eterno
se compromete com Abrão e seus descendentes de forma decisiva!
Quando isso acontece há uma total interligação entre aquele que
liberou a promessa (D-us) e o receptáculo da mesma (Abrão e seus
descendentes). Detalhe: não há como anular a palavra que foi dita
pelo Senhor! Tudo o que fizemos ou fazemos deve ser pautado por
essa regra bíblica: nossa atitude para com o povo de Israel
determinará nosso futuro! Essa é realmente a condição em que o
Senhor colocou a humanidade a fim de ou abençoá-los dando-lhes
prosperidade, sucesso e fecundidade ou então o contrário, fazendo
com que os males de uma vida de servidão e escravidão sejam
permanentes sobre suas vidas!

O Eterno disse a Abrão que através dele – nele – seriam abençoadas


todas as famílias da terra. A palavra “família” vem do termo hebraico
mishpaha e significa família, clã, parentes. Esta palavra se refere a
um círculo de parentes que tem um laço sanguíneo. Isso nos fala
sobre uma amplitude maior do que o círculo familiar do lar! Em Abrão
– Israel – o Eterno daria poder para serem prósperos, bem sucedidos e
fecundos todos aqueles que estão ligados por laços sanguíneos!

Agora temos um outro aspecto que nos é revelado pelo Senhor: “E


apareceu o IHVH a Abrão e disse: à tua semente darei esta terra. E
edificou ali um altar ao Senhor que lhe aparecera” (Gn 12.7). Outra
vez é dada a Abrão uma promessa: “à tua semente darei esta terra”.
A palavra que define o Eterno vem do termo hebraico IHVH que
significa “Eu me torno aquilo que me torno”. Mas, o que realmente
aconteceu? A palavra “apareceu” vem do termo hebraico ra´a que
significa ver, olhar, inspecionar. Isso nos informa que o Eterno viu a
Abrão e falou com ele sobre a terra onde estava naquele momento. A
palavra semente em hebraico é zerá e significa semente,
descendência. Também denota a descendência como a linhagem
prometida a Abrão, Isaque e Jacó. Aqui o Eterno diz a Abrão que daria
a terra aos seus descendentes físicos. Isso nos lembra que somente
quem é dono de algo pode dar algo a alguém! Está escrito: “Do
Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e os que nele habitam”
(Sl 24.1). Bem, se a terra pertence ao Senhor, Ele como dono,
proprietário, pode dá-la a quem desejar! Quando lemos a Escritura
nós percebemos que somente um povo em todo o mundo recebe do
Eterno uma terra como sua possessão: Israel! Não há registro nas
Escrituras de outro povo a quem o Eterno tenha dado um pedaço de
terra, delimitando-o com fronteiras, a fim de que ali residissem com
seus descendentes como fez com Israel em Abrão! E a escritura que
lhes garante a posse do território está hoje nas mãos de bilhões de
pessoas em todo o mundo, que ao lerem cuidadosamente esta
passagem, percebem o grande cuidado e identificação tidos entre o
Senhor e Israel!

Quando tudo isso acontece com Abrão, ele então faz o seguinte: “... e
edificou ali um altar ao Senhor, e invocou o nome do Senhor” (Gn
12.8). Abrão fez um altar onde certamente sacrificou ao Senhor, e
aqui a palavra Senhor é o tetragrama - IHVH -, o que nos faz lembrar
que o Eterno tornou-se para Abrão aquilo que ele mais necessitava, e
além de edificar um altar e sacrificar ele também invocou o nome do
Senhor! A palavra invocar em hebraico é qara e significa chamar,
invocar, recitar. A atitude de Abrão, após ouvir tudo o que o Eterno
lhe disse foi de chamar Aquele que lhe aparecera pelo seu nome,
nome que lhe fora revelado anteriormente, e também é com base
neste nome que ele Abrão recebera as promessas que norteariam
sua vida até o momento de sua morte!

Após o recebimento dessas promessas vem a primeira prova sobre


Abrão e sua família: fome na terra! Nós entendemos que Abrão
poderia ter tido duas atitudes possíveis: profetizar sobre a terra a fim
de que a mesma fosse transformada e abençoada ou então fugir da
fome indo ao Egito. A segunda alternativa foi escolhida por ele.
Quando estavam chegando ao Egito, Abrão e Sarai combinam em
dizer que eram apenas irmãos, pois Abrão temia que por causa da
beleza de sua mulher ele poderia ser morto pelos prováveis
“pretendentes” de Sarai. Isso não foi algo espantoso quando ocorreu,
pois o nome Sarai em hebraico significa “princesa”. E quando
chegaram ao Egito assim aconteceu: “E viram-na os príncipes de
Faraó e gabaram-na diante de Faraó e foi a mulher tomada para a
casa de Faraó” (Gn 12.15). Aqui os príncipes de Faraó relataram ao
mesmo sobre a beleza da mulher estrangeira, a “irmã” de Abrão que
chegara ao Egito. A palavra “gabaram-na” em hebraico é halal e
significa exaltar, louvar, vangloriar. A raiz traz a idéia de estar
agradecido e satisfeito em elogiar alguma qualidade superior ou
grande feito em alguém. E foi justamente isso que foi feito aos
ouvidos de Faraó! Consideremos que Sarai já não era mais uma
“menininha”, pois nesta época deveria estar com seus 50 anos de
idade! Mas mesmo assim sua beleza era tão grande que quando
chegaram ao Egito o relato sobre essa beleza impactante chegou aos
ouvidos de Faraó! Os temores de Abrão agora tornaram-se realidade!
Mas, a Escritura nos diz que Faraó honrou a Abrão com bens e
propriedades por causa de Sarai. Mas o que vem a seguir é terrível:
“Feriu porém o Senhor a Faraó com grandes pragas, e a sua casa, por
causa de Sarai, mulher de Abrão” (Gn 12.17). A palavra ferir em
hebraico é naga e significa tocar, alcançar, ferir. A raiz da palavra
refere-se a um golpe que o senhor aplica ao seu servo vassalo. E aqui
a palavra Senhor é o tetragrama - IHVH -, o que nos esclarece o que
aconteceu: o Eterno tornou-se para Faraó naquele que o feriu por
causa da esposa de Abrão ter sido levada para seu harém.
Novamente percebemos o cuidado que o Eterno tem para com seus
filhos, e principalmente com aquele homem a quem o Eterno fizera
promessas de torná-lo grande em toda a terra como o pai físico da
nação de Israel! O simples fato de Faraó ter incluído Sarai em seu
harém pessoal fez com se desencadeasse uma violenta reação por
parte do Senhor, trazendo graves conseqüências sobre Faraó e toda a
sua casa! O Senhor não permite que seus filhos sejam subjugados ou
maltratados sem que haja um bom motivo para isso! Aqui, quando
Faraó descobre quem era Sarai, ele dá uma “bronca” em Abrão e
manda-o embora do Egito com suas novas propriedades juntamente
com sua mulher Sarai, que tanta dor de cabeça trouxe ao Egito!
Devemos aprender o seguinte: quando estamos em situação difícil
não devemos mentir, pois além das conseqüências normais de uma
mentira contra nossa vida ela também pode atrair outros tipos de
conseqüências sobre a vida daqueles que nos rodeiam trazendo
prejuízo, dor, angústia e às vezes até morte sobre essas pessoas!

No capítulo 13 há o retorno de Abrão do Egito e aqui aparece uma


figura interessante: Lot e seu nome significa “o que cobre com o véu;
envoltório, coberta”. Ele é sobrinho de Abrão e passará a compartilhar
do mesmo espaço com o seu tio. É claro que ele também possui bens,
e rebanhos e empregados. Essa união entre Abrão e Lot, logo no início
traz alguns problemas: “E houve contenda entre os pastores do gado
de Abrão, e os pastores do gado de Lot; e os cananeus e os fereseus
habitavam então na terra” (Gn 13.7). Este tipo de desavença entre os
funcionários de ambos – Abrão e Lot – fez com que eles se
separassem. Então surge a questão: para onde ir? “Não está toda a
terra diante de ti? Eia, pois, aparta-te de mim; se escolheres a
esquerda, irei para a direita; e se a direita escolheres, irei para a
esquerda. E levantou Lot os seus olhos, e viu toda a campina do
Jordão, que era toda bem regada, antes do Senhor ter destruído
Sodoma e Gomorra, e era como o jardim do Senhor, como a terra do
Egito, quando se entra em Zoar. Então Lot escolheu para si toda a
campina do Jordão, e partiu Lot para o Oriente, e apartaram-se um do
outro” (Gn 13.9-11). Aqui vemos muito claramente como age o
homem que confia no Eterno: Abrão chama seu sobrinho a fim de
evitar um confronto entre ele e Lot. Aqui está a atitude de um homem
prudente. Ele viu o que poderia acontecer e antecipou-se ao
problema que outros poderiam trazer-lhe. Outro aspecto é o da fé
inabalável e da sabedoria. Abrão dá a Lot o direito de escolher a terra
que melhor lhe parecesse a fim de ir para lá e cuidar de seu rebanho
com todo o conforto e na abundância de pastos.

Apesar de Abrão ter aberto mão de seu direito como ancião de dar a
Lot uma ordem, ele bem sabia que o Eterno estaria lhe dando aquilo
que há de melhor! Abrão abriu mão da escolha humana para poder
permitir que o Eterno escolhesse por ele! Quando Abrão fez isso
permitiu ao Eterno que Sua escolha, seu desejo, sua vontade, se
sobrepusessem àquilo que ele mesmo julgava ser bom!

Aqui o Eterno diz a Abrão: “E disse o Senhor a Abrão, depois que Lot
se apartou dele: Levanta agora os teus olhos, e olha desde o lugar
onde tu estás, para a banda do norte, e do sul, e do Oriente e do
ocidente” (Gn 13.14). O Eterno - IHVH - agora diz algo a Abrão:
“levanta teus olhos”. A palavra “levantar” em hebraico é nasa’ e
significa erguer, carregar, tomar. O que o Senhor quis dizer com isso?
Abrão provavelmente olhava para baixo enquanto o Eterno falava
com ele, e o Eterno precisava fazer com que Abrão assumisse a
postura correta: cabeça erguida a fim de receber aquilo que Ele lhe
daria! O Senhor diz a Abrão que apenas com seus olhos ele passeie
pela terra! A terra que ele agora via lhe seria dada como herança
perpétua! Por isso o Senhor lhe diz que seus olhos deviam ser
erguidos pelos quatro quadrantes da terra: “e olha desde o lugar
onde tu estás, para a banda do norte, e do sul, e do Oriente e do
ocidente”. O lugar onde ele estava servia apenas de referencial a fim
de contemplar os novos horizontes que lhe estavam sendo propostos
pelo Eterno. É como se o Eterno chamasse suas promessas dos quatro
cantos da terra e dissesse a Abrão o seguinte: “Olha o que é teu e vai
ao encontro de tua bênção!” Ele via, mas certamente não acreditava
naquilo que contemplava! Tão imenso era o território que seus olhos
se perdiam naquela bela paisagem! Mas não somente os olhos, como
também o coração e seus pensamentos que divagavam e viam, num
futuro não muito distante, as doze tribos de Ia'akov habitando na
terra que seus olhos agora viam! Ele viu o que ninguém havia visto:
“Por Pai de muitas nações te constituí, perante aquele no qual creu, a
saber, D-us, o qual vivifica os mortos e chama as coisas que não são
como se já fossem” (Rm 4.17). Abrão viu, pela fé, o futuro da
promessa e da escolha que acabara de fazer!

O Eterno ainda diz assim a Abrão: “Porque toda esta terra que vês, te
hei de tar a ti, e à tua semente, para sempre” (Gn 13.15). Aquilo que
Abrão vira seria dado não somente a ele, mas também aos seus
descendentes físicos, com quem o Eterno estaria aliançado para
sempre. O detalhe principal aqui está na frase: “para sempre”. Esta
expressão em hebraico é e significa perpetuamente, para sempre,
continuando no futuro, etc... A ordem agora era: “Levanta-te e
percorre essa terra no seu comprimento e na sua largura; porque a ti
a darei” (Gn 13.17). Abrão iniciaria um processo que conhecemos
como “ato profético” onde, andando e percorrendo a terra, ele estaria
assim simbolicamente “tomando posse” daquilo que estava sendo
prometido a ele! Hoje sabemos que tal ato profético surtiu efeito, pois
a terra pertence ao povo de Israel, justamente por causa da
obediência e do ato profético praticado por Abrão!

Agora aparece uma outra figura, que até hoje continua sendo
misteriosa para nós: O Rei de Justiça! “E o Rei de Justiça, rei de
Salém, trouxe pão e vinho: e era este sacerdote do D-us Altíssimo”
(Gn 14.18). O nome “Rei de Justiça” é composto de melek – que em
hebraico significa rei – e tsedek – que em hebraico significa justiça –
sendo o significado de seu nome “Rei daquele que é justo” ou “Meu
Rei é justo”. Outro aspecto interessante é que este homem era rei da
cidade de Salém – nome que em hebraico significa “paz” – e esta
cidade é identificada como a atual Ierushalaim! Não nos parece
significativo que o Rei de justiça fosse rei de Ierushalaim? Não é
tremendo saber que ele é o rei de paz? Este homem, quando veio ao
encontro de Abrão trouxe consigo ainda dois elementos: pão e vinho!
Justamente os elementos necessários para realizarem uma ceia
juntos! E o ato de comer com alguém na Escritura é símbolo de
manter-se comunhão com essa pessoa! O Rei de justiça queria
manter uma estreita comunhão com Abrão, pois ele era o rei de paz,
por isso precisava naquele momento manter com Abrão um contato
mais íntimo, e isso foi feito justamente à mesa, onde as pessoas
costumam revelar-se, pois ali sentem-se mais à vontade!

O homem "Rei de Justiça" era também sacerdote, e isso significa que


ele mantinha um contato íntimo com D-us e era o representante legal
do Eterno naquele momento na presença de Abrão. O REi de justiça
era sacerdote de El Elyon – o D-us Altíssimo – justamente e
coincidentemente o mesmo D-us que Abrão adorava e com quem se
relacionava! Isso nos mostra que já havia em Ierushalaim a
verdadeira adoração ao Eterno mesmo antes da chegada de Abrão
ali! Mas com que propósito ocorreu este encontro? “E abençoou-o, e
disse: Bendito seja Abrão do D-us Altíssimo, o Possuidor dos céus e da
terra” (Gn 14.19). Novamente vemos aqui a manifestação do grande
cuidado do Eterno para com seu povo: no capítulo 12 vimos que
houve uma promessa do Eterno que Abrão seria abençoado. Pois
bem, o que fora prometido pelo Eterno agora torna-se realidade
através de um sacerdote do Eterno! O que fora profetizado agora
torna-se fato! O Rei de justiça agora libera a palavra dizendo:
barechu ve´í amar baruk! “...abençoou-o, e disse: Bendito” A
palavra abençoar significa “dar poder para alguém ser próspero,
bem sucedido e fecundo”; enquanto que a palavra “disse” – amar
significa ordenar, liberar uma palavra de ordem sobre”. O que
aconteceu então? O Rei de justiça deu poder a Abrão para ser
próspero, bem sucedido e fecundo, ordenando... “Bendito
(abençoado – observação nossa) seja Abrão do D-us Altíssimo, o
Possuidor dos céus e da terra”. O sentido é que o D-us Altíssimo – El
Elion, possuidor dos céus e da terra, tornasse Abrão próspero, bem
sucedido e fecundo! E ali estava o homem capaz de liberar esta
palavra sobre Abrão a fim de que essa promessa se tornasse fato na
vida dele! A palavra El significa D-us, poderoso, forte e elion tem o
sentido de alto, de cima, superior, mais alto, supremo.

Qual foi o resultado deste encontro? “...E deu-lhe (Abrão) o dízimo de


tudo” (Gn 14.20). A palavra dízimo em hebraico é ma’aser e significa
justamente isso: a décima parte de algo que recebemos! Abrão então
deu ao Rei de justiça o dízimo como forma de reconhecimento de que
tudo vem do Eterno e que nós devemos novamente honrá-lo com os
dízimos de tudo o que recebemos! No decorrer da história de Israel os
dízimos serão usados para o sustendo dos sacerdotes e também para
suprir as necessidades dos órfãos, das viúvas e dos desempregados
que se achegavam aos sacerdotes em Israel.

Agora novamente há um diálogo entre o Eterno a Abrão: “Depois


destas coisas veio a palavra do IHVH a Abrão em visão dizendo: Não
temas Abrão, eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão” (Gn
15.1). Vejamos o que o Eterno quis dizer a Abrão. Ele diz que é o
escudo de Abrão. A palavra escudo em hebraico é magen e significa
escudo. Este substantivo refere-se a um objeto que proporciona
proteção ao corpo durante o combate. É o escudo pequeno (redondo)
usado pela infantaria ligeira e pelos oficiais. A idéia transmitida aqui
não é que a proteção sobre Abrão seria pequena, mas sim que, como
um oficial superior, Abrão não estaria na frente de batalha correndo
perigo de vida, e por isso mesmo sua proteção seria equivalente à
sua posição em meio à batalha! Outra coisa interessante é que a
palavra traduzida por “galardão” em hebraico é sakar e significa
assalariar, soldo, salário. Isso nos dá a idéia de “contratar os serviços
de uma pessoa em troca de pagamento”. O Eterno disse a Abrão que
o protegeria e que pelos serviços prestados à Ele (D-us) Abrão seria
pago com um alto salário! Veja a palavra “grandíssimo” que precede
sakar dando-nos a idéia de que o que Abrão haveria de receber não
seriam migalhas, mas sim aquilo que o Eterno teria de melhor a fim
de pagá-lo! Qual seria o melhor pagamento para Abrão naquele
momento? Isso foi justamente implícito na revelação do nome do
Eterno que falou com ele como sendo “aquele que se torna naquilo
que ele necessitava”. Ou seja, o pagamento que Abrão receberia
seria compatível com as suas necessidades do momento! Mas isso só
foi possível devido a um aspecto: Abrão foi obediente de forma
incondicional ao Eterno em toda a sua vida!

Abrão diz ao Eterno que tudo aquilo que possui será dado ao ser
“mordomo” Eliézer que é damasceno. É interessante que Abrão se
dirige ao Eterno como “Senhor D-us”, mas que na realidade é IHVH
Adonai, ou seja, aquele que se torna o Senhor de Abrão! Mas o que
virá agora?

Agora vem a promessa a Abrão quanto à sua descendência: “...este


não será o teu herdeiro; mas aquele que de tuas entranhas sair, esse
será o teu herdeiro” (Gn 15.4). A palavra “entranhas” em hebraico é
me’eh e aqui refere-se aos órgãos reprodutores, tanto do homem
quanto da mulher. Está claro que Abrão teria um filho que nasceria
como conseqüência do uso de seus órgãos reprodutores! Ou seja,
mesmo que houvesse qualquer impedimento natural, o Eterno estava
afirmando que Abrão teria um filho proveniente do esperma que
procederia dele mesmo! E esta pessoa se tornaria o seu “herdeiro”.
Esta palavra vem do termo hebraico iarash que significa tomar posse
de, desalojar, herdar, ocupar, apoderar-se de, ser herdeiro.

Quando ele ouve esta palavra, algo acontece dentro do ser de Abrão:
“E creu ele no Senhor, e foi-lhe imputado isso por justiça” (Gn 15.6). A
palavra crer aqui vem do hebraico aman e significa confirmar,
sustentar, estabelecer, ser fiel, estar certo, crer em. O resultado da
palavra do Senhor na pessoa de Abrão foi de que ele teve seus
sentimentos sendo confirmados, achou sustentação para aquilo que
estava em seu coração e teve seus pensamentos estabelecidos pelo
Senhor. Isso levou-o a posicionar-se e ser achado pelo Eterno como
alguém que estava na posição correta, podendo então receber aquilo
que Ele D-us lhe prometera. Abrão creu em IHVH – naquele que se
torna aquilo que precisamos que Ele se torne para nós – e isso foi-lhe
“imputado” por justiça. A palavra “imputado” vem do termo hebraico
hashab significa pensar, planejar, fazer juízo, imaginar, calcular. Já a
palavra “justiça” vem do termo hebraico tsedaka que significa
justiça, retidão. Quando juntamos tudo temos então uma atitude
correta de Abrão – confirmando a palavra do Eterno (a isso chamamos
fé) – e isso trouxe-lhe um pensamento do Eterno que o nomeou
homem reto diante d´Ele!

Finalmente, o Eterno sela esta relação com Abrão de forma final:


“Naquele mesmo dia fez o IHVH um concerto com Abrão, dizendo: a
tua semente tenho dado esta terra, desde o rio do Egito até ao
grande rio Eufrates” (Gn 15.18). Aqui destacamos que houve uma
promessa feita a Abrão pelo Senhor – IHVH – significando que Ele se
tornaria aquilo que Abrão precisasse. E quanto à terra, o selo desta
promessa foi um berith que é uma aliança feita mediante o
derramamento de sangue! O que nos interessa aqui é que este tipo
de aliança feita com sangue não pode ser revogada, a não ser por
uma superior aliança! Neste caso, não existe qualquer aliança
superior à esta, pois ela foi feita pelo próprio D-us com Abrão!
Quando Ele fez o berith com Abrão deu uma ordem dizendo: “...: a
tua semente tenho dado esta terra”. A palavra semente é zera e
significa semente, descendência. O termo nos fala sobre
descendência física, e mais adiante veremos que este descendente é
aquele filho de Abrão que já foi prometido e com esse filho o Eterno
estabeleceu sua aliança a fim de cumprir a promessa que fora feita a
seu pai Abrão! Já a terra é chamada de “há eretz”, o mesmo nome
dado à terra de Israel! Certamente o Eterno estava querendo dizer
com isso: “Aqui estabelecerei a minha nação amada, Israel”.
Não devemos nos esquecer que na terra ainda haviam dez nações
que precisavam ser “desalojadas” para darem lugar ao verdadeiro
dono da terra: Israel!

É impressionante vermos através da história quão grande é a


fidelidade do D-us Eterno para com seu povo! Todas as suas
promessas foram cabalmente cumpridas, jamais esquecidas ou
relegadas a um plano inferior dentro dos projetos do Senhor. D-us
importou-se e importa-se com cada um dos nossos desejos e anseios.
Por isso ele revelou-se como IHVH, aquele cujo nome é
impronunciável, porém é também aquele que “se torna aquilo que
precisamos em nossos momentos de dificuldades”. Já em seu nome, o
Eterno revela o quanto nos ama e o quanto nos quer usar a fim de
que os Seus propósitos, sonhos e desejos sejam estabelecidos na
terra através de vidas que escolham, voluntariamente, obedecê-lo a
fim de trazer à existência aquilo que é somente palavra revelada!

Assim foi com nosso pai Abrão. Obedeceu, creu e pode ver uma
pequena parcela daquilo que o Eterno ainda faria para Israel! Mas,
perguntaríamos, qual foi a sua importância para nós hoje? Abrão
simplesmente foi usado a fim de recebermos uma das mais
extraordinárias promessas bíblicas e que estabelece o padrão através
do qual seremos tratados quando estivermos na posição correta: “E
far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu
nome e tu serás uma benção” (Gn 12.2). Já vimos que a força desta
promessa no original é muito maior do que aquela que percebemos
em português. Portanto tomemos posse daquilo que nos foi outorgado
em Abrão, sendo assim como ele obediente e paciente a fim de
trazermos à existência e materializarmos todos os desejos e anseios
do coração do Eterno para seu povo!

Mesmo em meio à manifestações de poder e das promessas do


Eterno o homem tenta “ajudar” ao Senhor naquilo que é de exclusiva
responsabilidade d´Ele fazer. Isso aconteceu no caso de Hagar: “Ora
Sarai, mulher de Abrão, não lhe dava filhos, e ele tinha uma serva
egípcia, cujo nome era Agar. E disse Sarai a Abrão: Eis que o IHVH me
tem impedido de dar à luz; toma, pois, a minha serva; porventura
terei filhos dela. E ouviu Abrão a voz de Sarai. Assim tomou Sarai,
mulher de Abrão, a Agar egípcia, sua serva, e deu-a por mulher a
Abrão seu marido, ao fim de dez anos que Abrão habitara na terra de
Canaã. E ele possuiu a Agar, e ela concebeu; e vendo ela que
concebera, foi sua senhora desprezada aos seus olhos” (Gn 16:1-4).
Temos aqui algo que nos impressiona, pois Sarai dá sua serva
egípcia à seu marido como sua esposa! O nome desta mulher era
Hagar que em hebraico significa “fugitiva”. O significado de seu
nome seria amplamente comprovado no futuro da vida deles. Quando
Abrão mantém relações sexuais com Hagar ela engravida e isso faz
com que ela sinta-se “superior” à sua senhora Sarai, tratando-a então
com menosprezo.
A reação de Sarai é imediata: “Então disse Sarai a Abrão: Meu agravo
seja sobre ti; minha serva pus eu em teu regaço; vendo ela agora que
concebeu, sou menosprezada aos seus olhos; o Senhor julgue entre
mim e ti. E disse Abrão a Sarai: Eis que tua serva está na tua mão;
faze-lhe o que bom é aos teus olhos. E afligiu-a Sarai, e ela fugiu de
sua face” (Gn 16:5-6). A palavra de Sarai é extremamente forte
quando se dirige a Abrão, pois quando a escritura fala sobre “agravo”
o termo usado em hebraico é hamas e significa injustiçar, ser
violento com, tratar violentamente. Isso significa que o tratamento de
Sarai para com Abrão mudara radicalmente e certamente já havia
uma grande diferença na forma como tratavam-se e na forma como
conversavam. Hagar foi então “afligida” por Sarai. Esta palavra vem
do termo hebraico ´anâ e significa afligir, oprimir, humilhar. Na raiz
da palavra temos ainda o sentido de forçar, tentar impor, castigar,
causar dor em. Este foi o “reflexo” da atitude anterior de Hagar para
com Sarai que agora humilha sua serva egípcia, pois suas atitudes
para com ela certamente mudaram muito fazendo com que Hagar se
sentisse tão humilhada a ponto de fugir de Sarai.

Hagar em sua fuga tem um encontro inesperado: “E o anjo do IHVH a


achou junto a uma fonte de água no deserto, junto à fonte no
caminho de Sur. E disse: Agar, serva de Sarai, donde vens, e para
onde vais? E ela disse: Venho fugida da face de Sarai minha senhora.
Então lhe disse o anjo do IHVH: Torna-te para tua senhora, e humilha-
te debaixo de suas mãos” (Gn 16:7-9). Hagar encontra-se com o
“Anjo do Senhor”. Esta palavra vem do termo hebraico que significa
mensageiro de IHVH. O diálogo entre eles tem início com uma ordem
deste mensageiro que diz a Hagar para retornar e humilhar-se diante
de sua senhora. A palavra “humilhar” é o mesmo termo hebraico
´anâ usado nos versos anteriores, e isso significa que para Hagar a
situação de aflição, opressão e humilhação são necessários para que
ela possa ser “tratada” em sua personalidade.

Na continuidade do diálogo entre eles aconteceu que Hagar recebe


deste mensageiro uma promessa: “Disse-lhe mais o anjo do Senhor:
Multiplicarei sobremaneira a tua descendência, que não será contada,
por numerosa que será. Disse-lhe também o anjo do Senhor: Eis que
concebeste, e darás à luz um filho, e chamarás o seu nome Ismael;
porquanto o Senhor ouviu a tua aflição. E ele será homem feroz, e a
sua mão será contra todos, e a mão de todos contra ele; e habitará
diante da face de todos os seus irmãos. E ela chamou o nome do
Senhor, que com ela falava: Tu és D-us que me vê; porque disse: Não
olhei eu também para aquele que me vê? Por isso se chama aquele
poço de Beer-Laai-Rói; eis que está entre Cades e Berede” (Gn 16:10-
14). Chama-nos a atenção o fato de que o nome do filho de Hagar é
dado pelo mensageiro de IHVH, o este nome é Ismael que significa “o
Eterno ouvirá”. Além disso foi dito acerca dele: “E ele será homem
feroz, e a sua mão será contra todos, e a mão de todos contra ele; e
habitará diante da face de todos os seus irmãos”. A palavra “feroz”
vem do termo hebraico pere´ que significa “jumento selvagem”. Isso
explica – pelo menos em parte – a atitude de agressividade dos povos
árabes para com Israel!

Um outro aspecto é que “sua mão será contra todos”. A frase no


hebraico seria “mão de toda mão”! Isto nos fala sobre sua índole
guerreira que se voltaria contra todos os seus opositores!

No final do diálogo Hagar chama o Eterno de “D-us que me vê” onde


a palavra El significa D-us, poderoso, forte e ra´a e que significa ver,
olhar, inspecionar. Hagar tinha consciência de que o Eterno, o
poderoso a acompanhava com seus olhos por onde quer que andasse,
e mesmo ali no deserto Ele estava ao seu lado para cumprir seus
propósitos na vida daquela mulher.

Quando ela retorna para Abrão, ali dá a luz ao menino. “E Agar deu à
luz um filho a Abrão; e Abrão chamou o nome do seu filho que Agar
tivera, Ismael. E era Abrão da idade de oitenta e seis anos, quando
Agar deu à luz Ismael” (Gn 16:15-16). Nesta época Abrão já tinha
oitenta e seis anos! Somente agora ele tem a experiência de ser pai!

No capítulo 17.1 está escrito assim: “Sendo, pois, Abrão da idade de


noventa e nove anos, apareceu o IHVH a Abrão, e disse-lhe: Eu sou o
D-us Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito. E porei a
minha aliança entre mim e ti, e te multiplicarei grandissimamente”
(Gn 17:1-2). O Eterno – IHVH – se apresenta a Abrão como “D-us Todo-
Poderoso”. A palavra El já foi analisada, porém o termo Shadai
merece nossa atenção, pois em hebraico ele significa Todo-Poderoso.
Em sua raiz temos duas palavras, she que significa que, quem e daí
que significa bastante, suficiente; temos então she-daí “aquele que é
(auto) suficiente. O Eterno está se apresentando a Abrão como Aquele
que é suficiente para dar-lhe tudo aquilo que ele precisa; não há
necessidade de buscar em outra “fonte” os recursos necessários para
sua vida! A Abrão é dada uma ordem: ser perfeito! Esta palavra
“perfeito” vem do termo hebraico tamîm que significa ser completo,
estar terminado, ser perfeito. Isso demonstra que Abrão precisava
caminhar em seu relacionamento com o Eterno a fim de completar
algo que ainda lhe faltava, não só a nível pessoal mas também na sua
relação com D-us.

A reação de Abrão foi imediata: “Então caiu Abrão sobre o seu rosto,
e falou D-us com ele, dizendo: quanto a mim, eis a minha aliança
contigo: serás o pai de muitas nações; e não se chamará mais o teu
nome Abrão, mas Abraão será o teu nome; porque por pai de muitas
nações te tenho posto; e te farei frutificar grandissimamente, e de ti
farei nações, e reis sairão de ti; e estabelecerei a minha aliança entre
mim e ti e a tua descendência depois de ti em suas gerações, por
aliança perpétua, para te ser a ti por D-us, e à tua descendência
depois de ti. E te darei a ti e à tua descendência depois de ti, a terra
de tuas peregrinações, toda a terra de Canaã em perpétua possessão
e ser-lhes-ei o seu D-us” (Gn 17:3-8). Abrão cai com seu rosto em
terra e o Eterno – Elohim – continuou lhe dizendo o que lhe faria: a
aliança de D-us com Abrão é que ele se tornaria pai de muitas
nações! A palavra aliança vem do termo hebraico berith que significa
pacto com derramamento de sangue; a palavra pai vem do hebraico
ab com o mesmo significado. Já a palavra “muitas” vem do termo
hebraico hamôn e significa abundância, companhia, multidão,
barulho, riquezas, rugido, sonido e significa povos gentílicos, pagãos.
Mas o que significa isso? Significa que o Eterno já estava avisando a
Abrão que dele sairiam multidões de nações de “gentios”, povos que
vagariam pelo mundo afora e que um dia certamente haveriam de
recuperar a sua verdadeira identidade: a da casa de Israel!

É neste momento que o Eterno muda o nome de Abrão. Agora seu


nome muda para Avraham. Em hebraico a mudança é sutil – apenas
uma letra – mas que vem fazer toda a diferença na vida daquele
homem, pois é incluída em seu nome a letra hei que é uma das letras
do nome do Eterno, significando que Ele está tirando algo de si
mesmo e colocando em Avraham! O motivo da mudança está claro no
texto: “porque por pai de muitas nações te tenho posto; e te farei
frutificar grandissimamente, e de ti farei nações, e reis sairão de ti”.
Na continuidade do diálogo, vem a reafirmação da promessa já feita
anteriormente:a posse da terra e a promessa de que o Eterno lhes
seria por D-us - Elohim –

O Eterno diz ainda mais a Avraham: “Disse mais D-us a Abraão: Tu,
porém, guardarás a minha aliança, tu, e a tua descendência depois
de ti, nas suas gerações. Esta é a minha aliança, que guardareis entre
mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Que todo o homem
entre vós será circuncidado. E circuncidareis a carne do vosso
prepúcio; e isto será por sinal da aliança entre mim e vós. O filho de
oito dias, pois, será circuncidado, todo o homem nas vossas
gerações; o nascido na casa, e o comprado por dinheiro a qualquer
estrangeiro, que não for da tua descendência. Com efeito será
circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; e
estará a minha aliança na vossa carne por aliança perpétua. E o
homem incircunciso, cuja carne do prepúcio não estiver circuncidada,
aquela alma será extirpada do seu povo; quebrou a minha aliança.
Disse D-us mais a Abraão: A Sarai tua mulher não chamarás mais
pelo nome de Sarai, mas Sara será o seu nome. Porque eu a hei de
abençoar, e te darei dela um filho; e a abençoarei, e será mãe das
nações; reis de povos sairão dela” (Gn 17:9-16). O Eterno – Elohim -
agora fala agora de um pacto que seria feito entre Ele, Avraham e
seus descendentes: a circuncisão. A palavra “circuncisão” vem do
termo hebraico mûl com o mesmo significado. É interessante que a
circuncisão na carne é um sinal que o homem faz para com D-us,
mostrando assim que o ama; já a circuncisão no coração é um sinal
que D-us faz para que o homem possa amá-lo. A circuncisão deveria
ser feita aos oito dias de nascimento do menino. Mas, por que no
oitavo dia? Duas são as razões:
Segundo a medicina descobriu, no oitavo dia os anticorpos do
organismo humano estão em seu maior período de atividade, e isso
impede que neste dia qualquer infecção ou enfermidade oportunista
se instale no organismo. Nós sabemos que a circuncisão era feita com
facas de pedra ou com instrumento de metal rudimentar, e isso seria
uma oportunidade muito grande para que as crianças adoecessem,
não fora a mão do Eterno sobre elas.

O número oito indica recomeço, o início de algo novo. É interessante


que esta criança antes de cumprir o mandamento da circuncisão
passou por uma outra festa judaica: o shabat! Então, após ter
passado por seu primeiro shabat a criança pode ser circuncidada e
dar início a uma nova etapa de vida já com uma marca que a
acompanhará e a distinguirá de todos os demais seres humanos: a
circuncisão!

Agora, há uma promessa feita a Avraham em relação a Sarai: “Disse


Elohim mais a Abraão: A Sarai tua mulher não chamarás mais pelo
nome de Sarai, mas Sara será o seu nome. Porque eu a hei de
abençoar, e te darei dela um filho; e a abençoarei, e será mãe das
nações; reis de povos sairão dela. O Eterno – Elohim – haveria de
abençoar Sara! Isso significa que Ele lhe daria poder para ser
próspera, bem sucedida e fecunda em tudo o que fizesse! Agora, esta
palavra é específica à ela trazendo-lhe a fecundidade física que lhe
permitirá ter um filho. Este filho trará a existência nações – goim, que
significa povos e nações gentílicas. A Escritura ainda diz que “reis de
povos sairão dela”. Esta expressão “reis de povos” em hebraico é e
significa que os reis de Israel procederiam daquele que ela geraria!
Isto é maravilhoso, pois aqui o Criador de todas as coisas já está
dizendo a Avraham que mudaria a estrutura física de Sara para que
dela nascesse aquele que daria continuidade à origem da nação de
Israel!

Novamente a reação de Avraham é imediata: “Então caiu Abraão


sobre o seu rosto, e riu-se, e disse no seu coração: A um homem de
cem anos há de nascer um filho? E dará à luz Sara da idade de
noventa anos? E disse Abraão a Elohim: Quem dera que viva Ismael
diante de teu rosto! E disse Elohim: Na verdade, Sara, tua mulher, te
dará um filho, e chamarás o seu nome Isaque, e com ele
estabelecerei a minha aliança, por aliança perpétua para a sua
descendência depois dele” (Gn 17:17-19). Avraham prostra-se
novamente e ri-se, pensando em suas impossibilidades físicas – tanto
dele quanto de sua esposa – para que pudessem gerar e dar à luz um
filho! Ele então diz ao Eterno: “Quem dera que viva Ismael diante de
teu rosto!”, julgando que o Eterno a ele se referia. Mas o Eterno lhe
diz novamente: “Na verdade, Sara, tua mulher, te dará um filho, e
chamarás o seu nome Isaque, e com ele estabelecerei a minha
aliança, por aliança perpétua para a sua descendência depois dele”
(grifo nosso). Aqui o Criador – Elohim - já diz que o menino se
chamará Itzhaq que significa “ele rirá”. Diz ainda que a aliança –
berith, pacto com derramamento de sangue, seria estabelecida com
Itzhaq e com sua descendência perpetuamente!

Mas, e quanto à Ishmael? “E quanto a Ismael, também te tenho


ouvido; eis aqui o tenho abençoado, e fá-lo-ei frutificar, e fá-lo-ei
multiplicar grandissimamente; doze príncipes gerará, e dele farei
uma grande nação” (Gn 17:20). A promessa é de que Ishmael
também seria baraq – receberia poder para ser próspero, bem
sucedido e fecundo em tudo o que fizesse. E o Eterno faria com que
dele viessem doze nasi, termo hebraico que significa príncipe, chefe,
líder, comandante, governante, soberano. Esta promessa Eterno
cumpriu literalmente dando à Ishmael descendentes que se tornaram
governantes de nações árabes estabelecidas até hoje. As nações são
as seguintes: Líbano, Síria, Jordânia, Iraque, Arábia Saudita, Irã,
Koweit, Qatar, União dos Emirados Árabes, Omã, Iêmem, República
Democrática do Iêmem. Ele também seria uma “grande nação” goi
gentílica.

Novamente o Eterno deixa muito claro que, apesar de abençoar a


Ishmael, Ele teria um compromisso com Itzhaq! “A minha aliança,
porém, estabelecerei com Isaque, o qual Sara dará à luz neste tempo
determinado, no ano seguinte. Ao acabar de falar com Abraão, subiu
Elohim de diante dele” (Gn 17:21-22).

Após esta conversa entre Avraham e o Eterno, ele obedece ao Senhor


circuncidando-se a si mesmo e também à todos os de sua casa.
“Então tomou Abraão a seu filho Ismael, e a todos os nascidos na sua
casa, e a todos os comprados por seu dinheiro, todo o homem entre
os da casa de Abraão; e circuncidou a carne do seu prepúcio, naquele
mesmo dia, como Elohim falara com ele. E era Abraão da idade de
noventa e nove anos, quando lhe foi circuncidada a carne do seu
prepúcio. E Ismael, seu filho, era da idade de treze anos, quando lhe
foi circuncidada a carne do seu prepúcio. Naquele mesmo dia foram
circuncidados Abraão e Ismael seu filho, e todos os homens da sua
casa, os nascidos em casa, e os comprados por dinheiro ao
estrangeiro, foram circuncidados com ele” (Gn 17:23-27). Assim
Avraham cumpre o mandamento do Eterno e prepara-se para uma
nova etapa de muitas bênçãos em sua vida!

Que o Eterno nos ajude a sermos obedientes aos seus mandamentos


e assim desfrutarmos não somente de sua presença, mas também do
sucesso e da fecundidade, que certamente nos alcançará!

Parashat Vaierá E mostrou-se


Vayera - Aparece-lhe

O Eterno começa manifestando-se a Avraham assim: “Depois


apareceu-lhe o IHVH nos carvalhais de Manre, estando ele assentado
à porta da tenda, no calor do dia” (Gn 18:1). Parece que nada há de
importante nestas palavras, mas o versículo começa dizendo que
“Apareceu o Senhor...”. No hebraico esta frase está diferente: “Viu
IHVH...”. A palavra traduzida por “apareceu” é o termo ra´a que
significa ver, olhar, inspecionar; já a palavra que define o Eterno é o
tetragrama (IHVH)! Isso significa que o Eterno viu a Avraham e se
manifestaria a ele como aquele que “se torna aquilo que ele
(Avraham) precisa”! Percebemos que o Eterno é o D-us que vê nossa
necessidade e vem até nós a fim de suprir aquela necessidade para
que nossa alegria seja plena n´Ele! Há um outro aspecto muito
interessante aqui: o Senhor demonstra um cuidado e um carinho
muito especiais por Avraham, pois vai até a sua tenda (casa) a fim de
visitá-lo! Isso seria, no mínimo uma grande honra, se não uma grande
surpresa, pois o D-us de Israel materializou-se a fim de ir à casa de
seu servo para dar-lhe pessoalmente uma palavra que mudaria por
completo sua vida!

Às vezes pensamos que o Senhor está nos céus e não se importa


conosco, e que estas coisas aconteciam somente nos tempos bíblicos
com aqueles “grandes” homens de D-us! Mas quantas vezes somos
literalmente visitados por anjos e pelo próprio Senhor e não o
reconhecemos! Sem falar dos livramentos que recebemos dele sem
termos a consciência de seu cuidado e carinho por nós ainda hoje!

Então quando Avraham levanta seus olhos, ele vê três homens


chegando à sua tenda. Ele imediatamente os reconhece, vai até eles,
inclina-se e lhes diz: “E disse: Meu Senhor, se agora tenho achado
graça aos teus olhos, rogo-te que não passes de teu servo” (Gn 18:3).
Novamente aqui há uma inequívoca evidência de que Abraão sabia
com quem estava falando, pois a palavra que define o eterno aqui é
Adonai, que significa “o Senhor de todas as coisas”. Avraham sabia
que um daqueles homens em especial era o Senhor seu D-us! Além
dos costumes orientais de receber-se bem aos visitantes, havia algo
de muito especial naqueles homens que estavam visitando a
Avraham! Por essa razão Avraham apressa-se em colocá-los à
vontade e em servir-lhes água e comida, conforme o costume local.
Ele lhes diz: “rogo-te que não passes de teu servo”. A palavra
“passar” vem do termo hebraico ´abar e significa "transpor,
ultrapassar, atravessar". A palavra indica o movimento de uma coisa
ou pessoa em relação a algum outro objeto que está parado. Avraham
pede ao Eterno que não transponha, não ultrapasse sua tenda sem
antes gozar de sua hospitalidade.
No decorrer da conversa entre eles, Avraham recebe uma notícia
maravilhosa da parte do Eterno: “E disseram-lhe: Onde está Sara, tua
mulher? E ele disse: Ei-la aí na tenda. E disse: Certamente tornarei a
ti por este tempo da vida; e eis que Sara tua mulher terá um filho. E
Sara escutava à porta da tenda, que estava atrás dele. E eram
Abraão e Sara já velhos, e adiantados em idade; já a Sara havia
cessado o costume das mulheres” (Gn 18:9-11). Parece que a palavra
trazida pelo Senhor trouxe um impacto tão grande sobre eles, pois
inclusive sua situação física em nada os ajudava. Como nos informa a
Escritura, em Sarah já “havia cessado o costume das mulheres”. A
palavra costume vem do hebraico orah e significa "caminho, vereda".
Tal palavra demonstra que há um caminho natural no
desenvolvimento físico de uma mulher e nos informa que Sarah já o
havia percorrido! Ou seja, agora o seu corpo físico entrara num
estágio de degradação natural, um processo irreversível no qual,
humanamente falando, a concepção já não era mais possível.

Imaginemos a situação daquela família: Avraham, um homem cujo


coração e fé agradavam em muito ao Eterno juntamente com sua
esposa Sarah já haviam recebido d’Ele uma promessa de que deles o
Eterno geraria uma grande nação que mudaria o curso da história da
humanidade. Mas algumas vezes as palavras nada significam, pois
elas contrastam com a situação real de cada um de nós, gerando
naqueles que a recebem um certo mal-estar, pois a realidade é
diferente daquilo que está sendo ministrado, e isso traz um grande
conflito àquele que ouve e recebe este tipo de palavra. Assim foi com
Avraham e Sarah. E agora, Sarah ouve esta palavra e tem uma reação
normal à isso: “Assim, pois, riu-se Sara consigo, dizendo: Terei ainda
deleite depois de haver envelhecido, sendo também o meu senhor já
velho?” (Gn 18:12). Sarah ri daquilo que houve e em seu íntimo
pergunta-se: “Terei ainda deleite depois de haver envelhecido, sendo
também o meu senhor já velho?” A palavra aqui traduzida por
“deleite” é ‘eden e significa "roupas vistosas, jóias vistosas, coisas
caras". Sarah está dizendo o seguinte: “teria eu ainda prazer no
contato físico com meu marido como no passado já tive, pois isso me
foi tão maravilhoso, caro e precioso e agora eu não tenho mais. Seria
isso possível ainda para nós?” Na opinião de Sarah a velhice traz
consigo também a ausência de prazer no relacionamento com seu
marido.

O Senhor, conhecedor de todas as coisas ouve o íntimo do coração de


Sarah e diz: “E disse o IHVH a Abraão: Por que se riu Sara, dizendo:
Na verdade darei eu à luz ainda, havendo já envelhecido? Haveria
coisa alguma difícil ao Senhor? Ao tempo determinado tornarei a ti
por este tempo da vida, e Sara terá um filho” (Gn 18:13-14).
Novamente o Eterno se apresenta a eles como IHVH (hw"hy) “Eu me
torno aquilo que me torno”, ou seja, o Único que é capaz de tornar-se
a solução para o problema imediato que eles estão vivendo! Se eles
precisavam de um filho, ali estava o Criador pronto a satisfazer sua
necessidade, dando-lhes um filho! A pergunta do Senhor é incisiva:
“Haveria coisa alguma difícil ao IHVH?” O Senhor confronta Avraham
em sua fé dizendo-lhe: “Você me reconheceu e me honrou como o
Senhor; como podem vocês agora duvidarem de meu poder em
reverter qualquer tipo de situação em sua vida?” Não seria isso uma
incoerência, visto que Abraão e sua família os receberam em sua
casa, e sabiam que algo de extraordinário aconteceria? A palavra pala
´ significa "ser extraordinário, ser maravilhoso". Na continuação
temos “me IHVH”, que literalmente significa “daquele que se torna
aquilo que precisamos que Ele se torne”. Finalmente temos o termo
“dabar” que significa "falar, declarar, conversar, ordenar, prometer".
Literalmente, a frase ficaria assim: “Seria extraordinário aquele que
se torna aquilo que precisemos que Ele se torne declarar...”

Agora eles partem da casa de Avraham rumo à Sodoma e Gomorra.


Segue-se então um diálogo, no mínimo interessante: “E disse o IHVH:
Ocultarei eu a Avrahamo que faço, visto que Abraão certamente virá
a ser uma grande e poderosa nação, e nele serão benditas todas as
nações da terra? Porque eu o tenho conhecido, e sei que ele há de
ordenar a seus filhos e à sua casa depois dele, para que guardem o
caminho do IHVH, para agir com justiça e juízo; para que o IHVH faça
vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado. Disse mais o IHVH:
Porquanto o clamor de Sodoma e Gomorra se tem multiplicado, e
porquanto o seu pecado se tem agravado muito, descerei agora, e
verei se com efeito têm praticado segundo o seu clamor, que é vindo
até mim; e se não, sabê-lo-ei” (Gn 18:17-21).

Primeiro vem a pergunta: “Ocultarei eu a Abraão o que faço”. Isso


indica o grau de intimidade e de confiança que havia entre eles uma
intimidade e uma confiança muito grande, a tal ponto do Senhor fazer
essa pergunta. E foi justamente essa intimidade – e certamente a
retidão do coração de Avraham – que fizeram com que o Eterno
dissesse sobre Avraham: seria “uma grande e poderosa nação”. A
palavra “ocultarei” vem do termo hebraico casâ e significa "cobrir,
ocultar, esconder". Esta palavra em hebraico nos dá uma outra
dimensão daquilo que o Eterno realmente disse: a palavra "poderosa"
é atson e significa "ser forte, ser poderoso, ser grande, ser
numeroso". Em seguida temos a palavra "nação" que vem traduzida
do termo goi e significa "nação gentílica". O que significa isso então?
O Senhor já estava apontando para um desdobramento de sua
promessa que, além de beneficiar o povo de Israel, alcançaria
também as nações chamadas “gentílicas” e de tal forma que o seu
povo se tornaria “uma grande e poderosa nação”. Ora, a quem mais
poderia se referir essa promessa a não ser à Noiva do Senhor? Se
olharmos para os fatos de forma imparcial veremos o seguinte: Israel
nunca foi uma grande nação – numericamente falando – e essa
promessa nunca cumpriu-se, pelo menos até agora! Veremos também
que no livro de Romanos, no capítulo 11, Sha´ul nos fala sobre uma
obra de “ajuntamento" feita pelo Eterno entre Israel e os gentios: “...E
se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste
enxertado em lugar deles, e feito participante da raiz e da seiva da
oliveira, não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares,
não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. Dirás, pois: Os ramos
foram quebrados, para que eu fosse enxertado” (Rm 11.17-19). É
clara a relação estabelecida entre Israel e os gentios aqui! A partir de
então os gentios e Israel tornam-se um e passam a formar um grande
e poderoso povo que ama, louva, bendiz, busca e espera no D-us de
Israel! Este povo nós o conhecemos como a “Noiva”.

Uma outra promessa que se cumpre aqui é que em Avraham “serão


benditas todas as nações da terra”. Isso é maravilhoso, pois nos fala
que por causa de Abraão – e de seus descendentes – as nações (goi)
da terra seriam benditas. A palavra “benditas” em hebraico é barak,
e significa "dar poder a alguém para ser próspero, bem sucedido e
fecundo"! Então o que a Escritura está nos dizendo? Ela nos diz que,
por causa dos descendentes de Avraham espalhados por toda a terra
as nações gentílicas recebem poder para serem prósperas, bem
sucedidas e fecundas, pois essa foi a promessa do Eterno à Avraham
e nada pode anular ou cancelar aquilo que já foi dito por Ele! Mais
uma vez percebemos que os descendentes de Avraham seriam os
“canais” transmissores desta “bênção” às nações do mundo!

Já havia da parte do Eterno um prévio conhecimento de que Avraham


transmitiria aos seus descendentes tudo aquilo que havia aprendido
com Ele, para assim, perpetuar sua fé e obediência aos mandamentos
do Senhor. Está escrito assim: “Porque eu o tenho conhecido, e sei
que ele há de ordenar a seus filhos e à sua casa depois dele, para
que guardem o caminho do Senhor, para agir com justiça e juízo; para
que o IHVH faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado” (Gn
18:19). A palavra “conhecido” vem do termo hebraico iada´ que
significa "conhecer, saber". Novamente aqui há o destaque para a
relação de interdependência entre o Senhor e Avraham! Isso parece
incrível – que D-us dependa de um homem para qualquer coisa – mas
foi isso o que aconteceu! O Senhor dependia da obediência de
Avraham para levar adiante seu projeto com Israel e com o mundo.
Porém aqui o Eterno sabia que Avraham “ordenaria a seus filhos e à
sua casa...”. Esta palavra “ordenar” vem do termo hebraico tsavâ e
significa "ordenar, incumbir". A raiz desta palavra designa a instrução
de um pai para seu filho, de um fazendeiro a seus lavradores, de um
rei a seus servos. Isso nos mostra que este termo tem a dimensão de
uma ordem – ou incumbência – que não pode ser desobedecida!

Eles haveriam de guardar “o caminho do Senhor”. Esta expressão em


hebraico é “derek IHVH” e significa "caminho, estrada, jornada,
maneira, trabalho" do IHVH! Então o “caminho do Senhor” é a estrada
que Ele mesmo traçou para cada um de nós e ela está explícita na
sua Palavra, e nesta “estrada” o Senhor se torna aquilo que
precisamos que Ele se torne para nós a cada instante de nossa vida!
Para que isso aconteça os descendentes de Avraham devem “agir
com justiça e juízo”. Estas palavras em hebraico são (asâ tsedaqah
mishpat)! A palavra asâ significa "fazer, fabricar, realizar". Temos
agora a palavra tsedaqah que significa "justiça, retidão". A raiz tem
o sentido de conformidade a um padrão ético e moral. Finalmente
temos a palavra mishpat que significa justiça, ordenança, costume,
maneira. A palavra destaca a forma de governo civil ou religioso
dentro dos moldes do Eterno.

Foi baseado nesta profunda relação de interdependência que o


Senhor falou a Avraham o que aconteceria com Sodoma e Gomorra:
“Disse mais o IHVH: Porquanto o clamor de Sodoma e Gomorra se
tem multiplicado, e porquanto o seu pecado se tem agravado muito,
descerei agora, e verei se com efeito têm praticado segundo o seu
clamor, que é vindo até mim; e se não, sabê-lo-ei” (Gn 18:20-21). O
que estava acontecendo de tão grave aqui? Devemos considerar que
o Eterno aqui se apresenta com seu nome – IHVH – e isso nos fala que
Ele se torna aquilo que é necessário para alguém. No caso de Sodoma
e Gomorra, sua necessidade era o juízo, pois suas atitudes (pecados)
já haviam excedido em número e grau de tal forma que o Senhor –
IHVH agora decide tomar providências contra estas cidades. Havia
também um clamor feito contra ela. Essa palavra – clamor - vem de
zaak que significa "clamor, grito". O sentido básico é “gritar por
socorro em tempo de aflição”. Os “gritos de socorro” emitidos pelos
“justos” da cidade tinham um motivo: o pecado pesava muito sobre
eles! A palavra “pecado” vem do termo hebraico hata´ que significa
"errar, sair do caminho, pecar, tornar-se culpado, perder". Já há muito
o povo de Sodoma e Gomorra havia se perdido em sua caminhada
rumo ao Senhor! Eles erraram o alvo e já estavam profundamente
comprometidos com o pecado, e isso chamou a atenção do Eterno
que agora tomará uma atitude quanto à este fato.

Apesar da iniqüidade que imperava na cidade, havia um clamor de


alguém que chegou até o Senhor por causa do peso do pecado, e isso
desperta no Eterno um profundo interesse em verificar e julgar esta
causa!

Quando isso é comunicado a Avraham, dá-se um diálogo deveras


interessante entre o Senhor e Abraão: “E chegou-se Abraão, dizendo:
Destruirás também o justo com o ímpio? Se porventura houver
cinqüenta justos na cidade, destruirás também, e não pouparás o
lugar por causa dos cinqüenta justos que estão dentro dela? Longe de
ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja
como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra?
Então disse o IHVH: Se eu em Sodoma achar cinqüenta justos dentro
da cidade, pouparei a todo o lugar por amor deles. E respondeu
Abraão dizendo: Eis que agora me atrevi a falar ao IHVH, ainda que
sou pó e cinza. Se porventura de cinqüenta justos faltarem cinco,
destruirás por aqueles cinco toda a cidade? E disse: Não a destruirei,
se eu achar ali quarenta e cinco. E continuou ainda a falar-lhe, e
disse: Se porventura se acharem ali quarenta? E disse: Não o farei
por amor dos quarenta. Disse mais: Ora, não se ire o Senhor, se eu
ainda falar: Se porventura se acharem ali trinta? E disse: Não o farei
se achar ali trinta. E disse: Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor:
Se porventura se acharem ali vinte? E disse: Não a destruirei por
amor dos vinte. Disse mais: Ora, não se ire o IHVH, que ainda só mais
esta vez falo: Se porventura se acharem ali dez? E disse: Não a
destruirei por amor dos dez. E retirou-se o IHVH, quando acabou de
falar a Abraão; e Abraão tornou-se ao seu lugar” (Gn 18:23-33). Ao
fim deste diálogo, fica estabelecido que se houverem, pelo menos,
dez justos nestas cidades, a destruição não ocorreria. Mas nós
sabemos que não haviam nem mesmo dez justos ali e por isso e juízo
do Eterno foi inevitável contra eles! Um outro fato que merece
destaque é que no versículo 26, a expressão “disse o Senhor” é
“amar IHVH”, ordenou Aquele que se torna aquilo que precisamos que
Ele se torne para nós! Isso nos informa que o Eterno ordenou que
caso as condições propostas por Avraham existissem na cidade de
Sodoma, Ele a não destruiria!Porém, isso não aconteceu!

O juízo contou com a misericórdia do Senhor, que enviou dois anjos a


fim de retirarem Lot e sua família daquela cidade. “E vieram os dois
anjos a Sodoma à tarde, e estava Ló assentado à porta de Sodoma; e
vendo-os Ló, levantou-se ao seu encontro e inclinou-se com o rosto à
terra; e disse: Eis agora, meus senhores, entrai, peço-vos, em casa de
vosso servo, e passai nela a noite, e lavai os vossos pés; e de
madrugada vos levantareis e ireis vosso caminho. E eles disseram:
Não, antes na rua passaremos a noite. E porfiou com eles muito, e
vieram com ele, e entraram em sua casa; e fez-lhes banquete, e
cozeu bolos sem levedura, e comeram” (Gn 19:1-3). Lot, como era o
costume local, estava assentado à porta da cidade, e quando viu
estes dois homens chegando, certamente notou algo de diferente
neles, pois ele adianta-se e convida-os para irem à sua casa!
Certamente muitas pessoas iam e vinham a aquelas cidades! Muitos
passavam por suas portas a fim de negociarem, visitarem pessoas,
procurarem por seus interesses, etc... mas Lot justamente olhou para
aqueles dois homens e viu neles algo de diferente a fim de convidá-
los para irem à sua casa. Estes “homens” eram, na realidade, anjos
que haviam sido enviados justamente para livrar Lot e sua família da
morte!

A Escritura diz: “E porfiou com eles muito”. Esta palavra “porfiar” vem
do termo hebraico patsar que significa "empurrar, pressionar". Esta
palavra nos mostra que estes anjos foram quase que “forçados” a
irem para a casa de Lot! Quando eles finalmente concordam em ir
para lá são recebidos com toda a hospitalidade oriental e são tratados
como pessoas importantes naquele lar. É preparado para eles um
“banquete”. Esta palavra vem do termo hebraico mishteh que
significa "bebida, banquete, festim". Designa uma refeição especial
preparada para um hóspede de honra. Foram servidos à eles “bolos
sem levedura”. A palavra levedura vem do termo hebraico matstsâ e
significa "pães asmos, bolos asmos". Não nos parece curioso que Lot
serve aos seus convidados comida sem fermento? Isso indica que ele
reconheceu que aqueles homens eram santos - e por isso não
permitiu que houvesse fermento no pão – pois reconhecia sua
procedência e sua condição de santidade! Estes pães eram apâ,
termo hebraico que quer dizer "assado"!

Então algo de diferente acontece: “E antes que se deitassem,


cercaram a casa, os homens daquela cidade, os homens de Sodoma,
desde o moço até ao velho; todo o povo de todos os bairros. E
chamaram a Ló, e disseram-lhe: Onde estão os homens que a ti
vieram nesta noite? Traze-os fora a nós, para que os conheçamos”
(Gn 19:4-5).

O interessante é que vieram pessoas de toda a cidade e de todas as


idades a fim de verem os estranhos que estavam hospedados na casa
de Ló. Houve um frenesi tal que a notícia rapidamente se espalhou.
Eles foram notados de tal forma que os homens os queriam para si! O
texto diz: “Traze-os fora a nós, para que os conheçamos”. Aqui a
palavra conhecer é yada e significa saber, conhecer. Pode designar
também a relação sexual por parte tanto do homem quanto da
mulher. Aqui é usada para descrever a perversão sexual conhecida
como sodomia. Na realidade os que aqueles homens de toda a cidade
queriam era realmente ter um contato físico – sexual – com os anjos
que estavam na casa de Lot! Isso nos parece tão absurdo que beira à
loucura! Notemos que os homens vieram de todos os lugares a fim de
possuí-los! A notícia de que haviam chegado a casa de Ló homens
diferentes se espalhou e gerou um interesse tão grande que todos os
homens vieram a fim de participarem deste “evento”.

Esta atitude é também relatada por Sha´ul, quando ele nos informa:
“Porque do céu se manifesta a ira de D-us sobre toda a impiedade e
injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça. Porquanto o
que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque D-us lho
manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do
mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se
entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas,
para que eles fiquem inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a D-
us, não o glorificaram como D-us, nem lhe deram graças, antes em
seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se
obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a
glória do D-us incorruptível em semelhança da imagem de homem
corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso
também D-us os entregou às concupiscências de seus corações, à
imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; pois mudaram a
verdade de D-us em mentira, e honraram e serviram mais a criatura
do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém. Por isso D-us os
abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres
mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E,
semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da
mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros,
homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos
a recompensa que convinha ao seu erro. E, como eles não se
importaram de ter conhecimento de D-us, assim Deus os entregou a
um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm;
estando cheios de toda a iniqüidade, prostituição, malícia, avareza,
maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano,
malignidade; sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de
Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males,
desobedientes aos pais e às mães; néscios, infiéis nos contratos, sem
afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; os quais,
conhecendo a justiça de D-us (que são dignos de morte os que tais
coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem
aos que as fazem” (Rm 1:18-32). A descrição de Sha´ul neste texto
nos fala exatamente aquilo que estava acontecendo naquela cidade
com Lot e seus convidados! Houve uma tentativa da parte daqueles
homens de possuírem e praticarem sexo com os anjos que eram os
hóspedes de Lot! Literalmente, aquela cidade estava entregue à suas
paixões e perversões, pois o Eterno através disso traria um terrível
juízo sobre todos os seus habitantes!

O episódio termina então com uma discussão entre os habitantes da


cidade e Lot, que tenta proteger seus hóspedes: “E disse: Meus
irmãos, rogo-vos que não façais mal; eis aqui, duas filhas tenho, que
ainda não conheceram homens; fora vo-las trarei, e fareis delas como
bom for aos vossos olhos; somente nada façais a estes homens,
porque por isso vieram à sombra do meu telhado. Eles, porém,
disseram: Sai daí. Disseram mais: Como estrangeiro este indivíduo
veio aqui habitar, e quereria ser juiz em tudo? Agora te faremos mais
mal a ti do que a eles. E arremessaram-se sobre o homem, sobre Ló,
e aproximaram-se para arrombar a porta. Aqueles homens porém
estenderam as suas mãos e fizeram entrar a Ló consigo na casa, e
fecharam a porta” (Gn 19:7-10). O povo de Sodoma – diante da
resistência de Lot – chama-o de “estrangeiro”. Esta palavra vem do
termo hebraico haleâ que significa "longe, bem longe, para frente".
Naquele momento os habitantes da cidade disseram a Lot aquilo que
realmente pensavam dele: ele era alguém de longe e não deveria
intrometer-se na vida cotidiana da cidade; principalmente quando isso
envolvia sua “diversão!”

Como escapar desta terrível situação? É justamente aqui que entra


em cena aquilo que nos está escrito no livro de Salmos: “O anjo do
IHVH acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra” (Sl 34:7). Ali
estava, de forma palpável, cumprindo-se a Palavra do Altíssimo (antes
mesmo de ter sido escrita) a fim de proteger Lot e sua família, pois os
anjos do Senhor agora entrariam em ação! E foi o que aconteceu. “E
feriram de cegueira os homens que estavam à porta da casa, desde o
menor até ao maior, de maneira que se cansaram para achar a porta”
(Gn 19:11). A palavra traduzida por “feriram” é nakâ e significa
"golpear, ferir, bater, atingir". A palavra é usada no sentido de atingir
ou ferir algo ou alguém de forma não fatal. Aqueles anjos atingiram
aos homens daquela cidade com cegueira física (pois a espiritual já
era evidente), fazendo com que não conseguissem encontrar a porta
da casa de Ló que estava diante deles! A palavra “cegueira” vem do
termo hebraico sanwerîm que significa "cegueira repentina". O
resultado do “golpe” que feriu os sodomitas foi este: tiveram uma
cegueira repentina e não puderam sequer encontrar a porta da casa
de Lot que esta à sua frente!

Agora, aqueles homens dizem à Ló e aos seus o motivo de sua ida


àquela cidade e alertam: “Porque nós vamos destruir este lugar,
porque o seu clamor tem aumentado diante da face do IHVH, e o
IHVH nos enviou a destruí-lo” (Gn 19:13). A sua ida àquele lugar tem
uma finalidade: destruir a cidade! A palavra “destruir” vem do termo
hebraico mashhet que significa "destruição", pois vem da raiz shahat
que significa "destruir, corromper". O que eles estão dizendo a Lot é
que havia um clamor que chegara à presença do Eterno. A palavra
clamor é tsa’aq e significa "gritar, chamar por socorro, chamar". Essa
raiz significa “clamar por ajuda” (por estar muito aflito). Agora
certamente Lot entendeu que suas orações chegaram à presença do
Eterno e aqueles homens eram a sua resposta! Certamente inúmeras
vezes Lot clamou por socorro por causa da impiedade daquela cidade
e de seus habitantes, e agora lá estavam dois anjos, enviados pelo
Senhor a fim de destruírem a cidade por causa de seus pecados. A
palavra traduzida por “Senhor” é o tetragrama! Isso significa que aqui
o Senhor se tornaria em juízo para cidade, pois esta era a sua
necessidade iminente!

Após a estupenda revelação feita a Lot e sua família, segue-se o


conselho para que fujam dali, pois o tempo está acabando! “E ao
amanhecer os anjos apertaram com Ló, dizendo: Levanta-te, toma
tua mulher e tuas duas filhas que aqui estão, para que não pereças
na injustiça desta cidade. Ele, porém, demorava-se, e aqueles
homens lhe pegaram pela mão, e pela mão de sua mulher e de suas
duas filhas, sendo-lhe o IHVH misericordioso, e tiraram-no, e
puseram-no fora da cidade. E aconteceu que, tirando-os fora, disse:
Escapa-te por tua vida; não olhes para trás de ti, e não pares em toda
esta campina; escapa lá para o monte, para que não pereças. E Ló
disse-lhe: Ora, não, meu IHVH!” (Gn 19:15-18). Novamente
percebemos a misericórdia do Eterno para com os que o temem,
assim como a urgência do tempo em que se encontravam, pois muito
em breve viria a destruição total sobre a cidade e o Senhor os queria
poupar disso! Os anjos aconselham a Lot que fuja, para que não
pereçam na injustiça daquela cidade! A palavra injustiça vem do
termo hebraico avon e significa "iniqüidade, culpa, castigo pela
culpa". Aqueles anjos bem sabiam que o tempo da destruição da
cidade já havia chegado e nada poderia ser feito para mudarem
aquilo que já estava determinado pelo Altíssimo!

O conselho dos anjos ainda vale para nós hoje: “Escapa-te por tua
vida; não olhes para trás de ti”. Lot não deveria olhara para trás nem
pensar naquilo que ficou! Certamente ele já tinha uma vida
estabelecida, negócios, amizades, etc... Mas o Senhor o chama – de
forma urgente – a fim de abandonar tudo isso rapidamente a fim de
não morrerem juntamente com aquela cidade. Nós também somos
chamados pelo Senhor – de forma urgente – a fim de não perecermos
juntamente com o mundo e abandonarmos tudo o que se refere ao
nosso passado, pois certamente se obedecermos ao Senhor teremos
toda a nossa vida reconstruída pelo próprio Senhor, mas agora de
forma a exaltar Seu nome!

O próximo passo foi a destruição total das cidades: “Então o IHVH fez
chover enxofre e fogo, do Senhor desde os céus, sobre Sodoma e
Gomorra; e destruiu aquelas cidades e toda aquela campina, e todos
os moradores daquelas cidades, e o que nascia da terra” (Gn 19:24-
25). O que a Escritura nos diz aqui? A palavra traduzida por Senhor é
o tetragrama: IHVH e significa que o Senhor se tornaria para aqueles
homens aquilo que eles tanto necessitavam: o juízo! E foi justamente
isso o que aconteceu! Do alto – isto é, do céu – veio o juízo da parte
do D-us Eterno a fim de punir aquelas pessoas que nada queriam
saber sobre D-us! A chuva que veio sobre a cidade foi de “fogo e
enxofre”. Estas palavras no hebraico são respectivamente goprît que
significa enxofre e esh que significa fogo. A combinação dos dois
elementos fez com que a região onde o fato ocorreu se tornasse
estéril e o local onde as cidades existiam viesse a ser chamado de
“Mar Morto”. Devemos lembrar-nos de que quando os pastores de Lot
e Avraham disputavam a questão da terra e da água para seus
respectivos rebanhos, a Escritura nos diz que a Lot foi dada a
oportunidade de escolher para onde iria. E está escrito que ele
escolheu as “campinas de Sodoma”. Este fato demonstra que a
cidade era regada por um rio – neste caso o Jordão – e que ali havia
uma riqueza muito grande de flora!

Outro fato estarrecedor é aquilo que sobreveio à mulher de Ló: “E a


mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida numa estátua de sal”
(Gn 19:26). Quando da visita dos anjos à casa de Lot, já havia sido
dada uma ordem que estabelecia a forma como eles deveriam agir:
não olhem para trás! O que causou tal punição sobre a mulher de
Lot? Certamente foi a sua desobediência! Nós nem mesmo sabemos o
nome desta mulher; sabemos apenas que ela, através de sua
desobediência recebeu a paga e transformou-se numa estátua de sal!
Todos os desobedientes recebem o pagamento por suas atitudes!
Cedo ou tarde o que lhes é devido os alcança! Mas o seu pecado foi
só o de olhar para trás? Não nos parece que foi somente isso! A
palavra olhar em hebraico é (jb;n) nabat e significa olhar, contemplar.
O que nos parece é que houve um momento em que ela parou,
voltou-se e contemplou o que estava acontecendo àquelas cidades.
Isso nos dá idéia de que houve tempo para pensar em tudo o que ela
tinha ali, em seu passado, em seus bens, em suas amizades e todo
este conjunto de coisas deve ter-lhe pesado no coração. Não parece
que havia gratidão ao Eterno por lhe ter – até ali – poupado sua vida.
O que deve ter dominado aquele coração devem ter sido outros
sentimentos, e justamente por causa disso o Eterno trouxe sobre ela
seu juízo!

Este foi mais um fato marcante na vida de Lot, que agora torna-se
viúvo com duas filhas órfãs de mãe! Agora há apenas o que restou
desta família! Suas filhas não poderão mais levar adiante a
preservação do nome de seu pai, pois são os filhos homens que
perpetuam o nome de qualquer família e Lot não pode mais ter filhos
homens, pois lhe falta sua esposa. Então acontece um fato que nos
choca: as filhas de Lot deitam-se com seu próprio pai a fim de
“perpetuarem” o nome da família! “Vem, demos de beber vinho a
nosso pai, e deitemo-nos com ele, para que em vida conservemos a
descendência de nosso pai” (Gn 19:32). Aqui houve um plano
deliberado para que tudo acontecesse! Quando uma das filhas propõe
que se “deitem” com ele, ela utiliza-se da palavra shakab, deitar-se.
Este verbo aparece na maioria das vezes com o sentido de “ter
relações sexuais”. Vem da palavra shekobet que significa “cópula”.
Ou seja: elas planejaram que manteriam relações sexuais com seu pai
a fim de engravidarem dele e conservarem a descendência do pai.
Este, como todo ato impensado e errôneo, causou – e ainda causa –
muitos problemas para o povo de Israel. Desta união abominável
nascem Moab que significa “de seu pai” e Ben ami que significa
“filho do meu povo, e este é o pai de Amom, dois dos grandes
inimigos de Israel em toda a sua história! Essas moças quiseram
“ajudar” ao Eterno valendo-se de padrões e métodos que aprenderam
em Sodoma e Gomorra, e que resultaram em grandes problemas
futuros ao povo de Israel.

Após estes fatos, vem o nascimento de Isaque, que já havia sido


prometido e que agora torna-se realidade! “E o IHVH visitou a Sara,
como tinha dito; e fez o IHVH a Sara como tinha prometido” (Gn
21:1). A palavra traduzida por Senhor é o tetragrama! Aqui o Eterno
torna-se para Sarah justamente aquilo que ela mais necessita: a
bênção de ser mãe! A Escritura nos diz que IHVH visitou a Sarah. A
palavra "visitar" em hebraico é paqad e significa "computar, calcular,
visitar". Isso significa que, quando chegou o tempo determinado –
computado, calculado – pelo Senhor ele dá a Sarah justamente aquilo
que lhe havia prometido: o Riso [Itshaq]! O nome do menino significa
“ele rirá”, uma alusão clara ao futuro que o esperava! A comprovação
disso está no verso 2: “E concebeu Sara, e deu a Avraham um filho na
sua velhice, ao tempo determinado, que Elohim lhe tinha falado” (Gn
21:2).

Após o nascimento de Itshaq, vem então a obediência devida ao


Eterno: “E Abraão circuncidou o seu filho Isaque, quando era da idade
de oito dias, como Deus lhe tinha ordenado” (Gn 21:4). A circuncisão
havia sido instituída como um sinal visível do pacto do Senhor com
seu povo. Isso havia sido uma ordem que agora tinha seu pleno
cumprimento através da atitude de Avraham. A palavra ordenar em
hebraico é tsawâ e significa ordenar, incumbir. A raiz designa a
instrução de um pai para um filho, de um fazendeiro a seus
lavradores, de um rei a seus servos. Isso reflete uma sociedade
firmemente estruturada em que as pessoas tinham de prestar contas
à D-us pelo direito de mandar. Tudo aquilo que D-us havia dado a
Avraham Ele agora cobra-lhe em forma de obediência! O fruto da
obediência é sempre a bênção do Eterno! Agora, o Eterno dá a esta
família o riso incontido por causa do resultado da bênção que é
derramada sobre a família!

Após o grande momento de júbilo, novamente vem o equilíbrio da via


cotidiana e novamente uma decisão a ser tomada: “E disse a Abraão:
Ponha fora esta serva e o seu filho; porque o filho desta serva não
herdará com Isaque, meu filho. E pareceu esta palavra muito má aos
olhos de Abraão, por causa de seu filho. Porém Deus disse a Abraão:
Não te pareça mal aos teus olhos acerca do moço e acerca da tua
serva; em tudo o que Sara te diz, ouve a sua voz; porque em Isaque
será chamada a tua descendência. Mas também do filho desta serva
farei uma nação, porquanto é tua descendência. Então se levantou
Abraão pela manhã de madrugada, e tomou pão e um odre de água e
os deu a Agar, pondo-os sobre o seu ombro; também lhe deu o
menino e despediu-a; e ela partiu, andando errante no deserto de
Berseba” (Gn 21:10-14). Vejamos então o que aconteceu: Sarah
reclama o direito de herança de seu filho para com ele adquirir as
bênçãos prometidas a Avraham. A palavra "herança" (ou herdar) é
yarash e significa "tomar posse, desalojar, herdar". Trata-se da
herança física a ser recebida por Itshaq. Sara sabia que se Ismael não
fosse afastado do convívio da família muitos males sobreviriam. Isso
fez Abraão ser impactado por essa palavra, mas o próprio D-us lhe
aconselha a agir assim e lhe promete: “Não te pareça mal aos teus
olhos acerca do moço e acerca da tua serva; em tudo o que Sara te
diz, ouve a sua voz; porque em Isaque será chamada a tua
descendência”. O Senhor afirma a Avraham que irá chamar, convocar
sua descendência física através de Itshaq! A palavra “descendência”
vem do termo hebraico zera e significa "semeadura, semente,
descendência física". Não há o que discutir: Itshaq é o filho da
promessa, pois ele fora prometido pelos lábios do Criador à Avraham
e Sarah! Outra coisa que o Senhor diz a Avraham é: “Mas também do
filho desta serva farei uma nação, porquanto é tua descendência”.
Quando o Senhor diz que fará de Ismael uma nação ele usa a palavra
goi, que significa "nação gentílica". Os descendentes de Ismael são
até hoje os “primos” dos judeus e são também o maior problema que
Israel enfrenta desde então até a atualidade.

O interessante é notarmos que Avraham despede Hagar e Ismael para


o deserto. Deserto em hebraico é midbar e pode descrever três tipos
de terreno em geral:

Pastagens

Terra não habitada


Áreas extensas em que oásis ou cidades e vilarejos existem aqui e ali.

O local para onde Hagar e Ismael foram enviados foi a segunda


opção. Eles foram para uma terra não habitada, lugar de ninguém.
Parece irônico, mas a maioria dos povos árabes habita em desertos...

A diferença entre os judeus e os árabes aparece logo aqui: “E habitou


no deserto de Parã; e sua mãe tomou-lhe mulher da terra do Egito”
(Gn 21:21). A esposa de Ismael foi escolhida por sua mãe, sem
consultar ao Senhor e consequentemente trazendo para si um padrão
humano e mundano de vida, pois sua mulher foi uma egípcia! Os
árabes preferem ter laços com os “mundanos” do que com aqueles
que detêm a bênção do Eterno!

Agora Avraham passará pelo maior teste de sua vida, quando sua fé
será duramente provada, mas ao final ele será aprovado pelo Eterno
e tornar-se-á o símbolo máximo da fé bíblica em todos os tempos. O
que aconteceu a Abraão foi assim: “E aconteceu depois destas coisas,
que provou Elohim a Abraão, e disse-lhe: Abraão! E ele disse: Eis-me
aqui. E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem
amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre
uma das montanhas, que eu te direi. Então se levantou Avraham pela
manhã de madrugada, e albardou o seu jumento, e tomou consigo
dois de seus moços e Isaque seu filho; e cortou lenha para o
holocausto, e levantou-se, e foi ao lugar que Elohim lhe dissera. Ao
terceiro dia levantou Abraão os seus olhos, e viu o lugar de longe”
(Gn 22:1-4). Esta escritura tem início nos informando que Avraham foi
“provado” por D-us. A palavra provado em hebraico é nasa "testar,
tentar, provar, examinar, pôr à prova". A palavra que define o Eterno
é "Elohim". Isso nos fala que o Criador agora vem a Avraham para
colocá-lo sob um rígido teste! Esta palavra nos fala de algo tão forte
que chega a ser comparado com uma “tentação”!

O Eterno ordena a Avraham que ofereça Itshaq em holocausto. A


palavra holocausto em hebraico é olã, e significa "holocausto, oferta
queimada, sacrifício queimado". Na realidade o que o Senhor estava
dizendo à Avraham era o seguinte: “Sobe a Moriá, prepara um altar,
mata o moço e oferece-o à Mim como uma oferta queimada”!
Avraham, mesmo sabendo da gravidade do que tinha sido dito pelo
Eterno, toma seu filho e segue à risca as instruções que lhe foram
dadas, e ao terceiro dia ele vê o lugar sobre o qual o Eterno lhe havia
dito!

É claro que muitas perguntas passaram pela mente daquele homem


temente ao Eterno, mas cremos que em todo o tempo ele estava
orando e confiando que Aquele que lhe ordenara fazer o sacrifício era
poderoso para reverter qualquer situação em sua vida, desde que
houvesse de sua parte a obediência. Então, durante o caminho surge
a pergunta: “Então falou Isaque a Abraão seu pai, e disse: Meu pai! E
ele disse: Eis-me aqui, meu filho! E ele disse: Eis aqui o fogo e a
lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto? E disse Abraão:
Elohim proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho. Assim
caminharam ambos juntos” (Gn 22:7-8). O interessante é que a
pergunta de Itshaq tem sentido! Ele viu todos os componentes para o
holocausto, porém faltava o principal: o próprio cordeiro! A resposta
de Avraham é ainda mais impressionante: “o Elohim ra’â”. A
tradução literal é “O Eterno (Elohim) verá”. Mas, isso aparentemente
é uma grande contradição com o que está traduzido em nossas
Bíblias! Mas vamos seguir adiante a fim de entendermos o que
acontecerá.

Avraham segue á risca o que lhe fora dito pelo Eterno e chega agora o
momento crucial de sua jornada: “E estendeu Abraão a sua mão, e
tomou o cutelo para imolar o seu filho; mas o anjo do IHVH lhe
bradou desde os céus, e disse: Abraão, Abraão! E ele disse: Eis-me
aqui. Então disse: Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe
faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não me negaste
o teu filho, o teu único filho. Então levantou Abraão os seus olhos e
olhou; e eis um carneiro detrás dele, travado pelos seus chifres, num
mato; e foi Abraão, e tomou o carneiro, e ofereceu-o em holocausto,
em lugar de seu filho. E chamou Abraão o nome daquele lugar: O
IHVH proverá; donde se diz até ao dia de hoje: No monte do IHVH se
proverá” (Gn 22:10-14). A primeira coisa é que Abraão estendeu a
sua mão para matar seu filho. A palavra "matar" é shahat e significa
"matar, abater"; matar num sacrifício ritual. Avraham realmente
estava decidido a sacrificar ritualmente o moço ao Senhor, como lhe
fora pedido! E o que acontece é que o Senhor se torna sua resposta: a
palavra que define o Eterno é Elohim, e isso significa aqui que o
Eterno se apresenta como o Criador de todas as coisas e que agora
traz a resposta e livramento no que tange à vida de Itshaq! E
finalmente o Eterno lhe dá novas instruções a fim de Itshaq não seja
sacrificado. E quando Avraham olha atrás de si ele vê um carneiro
preso num mato e pronto à ser oferecido no lugar de Itshaq!
Novamente o Eterno torna-se aquilo que Avraham mais necessitava: o
sacrifício! Quando isso acontece, eles então cumprem o objetivo de
sua viagem: oferecer ao Eterno um sacrifício em obediência à Sua
Palavra. E o mais interessante é que Avraham chama aquele lugar de
Elohim ra’ã! Ou seja, o Criador de todas as coisas, veria sua
necessidade e o atenderia! Isso nos mostra que o Eterno viu aquilo
que aconteceria com Avraham no futuro e providenciou para ele que,
no momento oportuno, houvesse um cordeiro preso junto à eles a fim
de cumprirem seu propósito de sacrificar a Ele! Aquele que vê tudo e
sabe tudo encaminha a história de tal forma que seus servos
obedientes sejam abençoados em todos os seus caminhos!

O resultado final dessa atitude de Avraham foi: “E disse: Por mim


mesmo jurei, diz o IHVH: Porquanto fizeste esta ação, e não me
negaste o teu filho, o teu único filho, que deveras te abençoarei, e
grandissimamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas
dos céus, e como a areia que está na praia do mar; e a tua
descendência possuirá a porta dos seus inimigos; e em tua
descendência serão benditas todas as nações da terra; porquanto
obedeceste à minha voz” (Gn 22:16-18). Novamente o Eterno ratifica
sua promessa a Avraham e lhe diz que ele o abençoará – barak, em
hebraico – e isso significa que ele estava novamente recebendo poder
para ser próspero, bem sucedido e fecundo. Além disso, ele teria sua
descendência, que é zerá e significa semeadura, semente,
descendência física, que seria multiplicada! Hoje isso nos mostra de
que forma o Eterno conduziu a história a fim de que os judeus –
inclusive aqueles que desconhecem que o são – se multiplicassem de
tal forma que pudessem se tornar a maior nação da terra: A Noiva! O
Todo-Poderoso não perdeu o controle de todas as coisas!

Ele ainda afirmou que os descendentes físicos de Avraham possuiriam


as portas de seus inimigos. A palavra possuir é yarash e significa
"tomar posse, desalojar, herdar, ocupar, apoderar-se". A palavra porta
aqui é sha’ar e significa "a porta de uma cidade". A sha’ar era
naturalmente o meio de acesso controlado a uma cidade murada. O
Eterno diz a Avraham que ele e seus descendentes teriam autoridade
para tomar posse, desalojar, herdar, ocupar, apoderar-se dos lugares
que dão acesso – e logicamente são os principais – de qualquer
cidade onde eles estivessem! Através da obediência de Avraham nós
recebemos também autoridade para ordenarmos e desalojarmos
todos aqueles que se nos opõem. Nosso propósito deve ser o de
sempre levar adiante o Reino do Eterno D-us e o conhecimento de sua
Palavra! E, quando for necessário, devemos fazer uso desta
autoridade que nos foi conferida já em Avraham!

De tudo o que foi dito a suma seria: a obediência faz com que as
mãos poderosas do D-us Eterno movam-se em nossa direção a fim de
perpetuarem em nós os seus desejos, pois Ele como nosso Pai quer
nos dar sempre aquilo que há de melhor!

Que o Senhor nos ajude a compreendermos que seus desejos são


sempre os melhores para nós!
Chaie Sarah – A vida de Sara

Esta seção tem início com um triste relato: a morte de Sarah! “E foi a
vida de Sara cento e vinte e sete anos; estes foram os anos da vida
de Sara. E morreu Sara em Quiriate-Arba, que é Hebrom, na terra de
Canaã; e veio Avraham lamentar Sara e chorar por ela” (Gn 23:1-2). A
vida de Sarah agora havia chegado ao fim! Após cento e vinte e sete
anos de caminhada com o Eterno e com seu marido Avraham, agora
Sarah chega ao fim de sua existência. Este fato que nos é narrado nos
fala da vida de uma mulher que foi totalmente transformada pelo
Eterno! A mulher que havia sido concebida como uma “minha
princesa” – significado do nome Sarai – agora transforma-se numa
“princesa, dama da corte, rainha” – significado do nome Sarah –
e isso fez muita diferença, não somente em sua vida, mas também na
vida de Avraham e de todos aqueles que os conheciam. A palavra
sarâh também provém de uma raiz que significa lutar, contender, ter
poder. Dela resulta o substantivo “Israel”, que significa “aquele que
contende (luta) com El”. Quando o Eterno muda o nome de uma
pessoa, Ele também realiza uma profunda mudança interior, de
caráter, de personalidade, de atitudes, de posturas. Neste caso, ele
retira uma letra do nome de Sarai e coloca outra, que está em seu
próprio nome! Isso aponta para algo extraordinário: o Eterno colocou
algo de si mesmo em Sarai e transformou-a em Sarah! Nós nos
lembramos também que Sarai era uma mulher estéril, e isso era
considerado no oriente como uma maldição – mas já com Sarah as
coisas mudam! O Eterno muda a vida desta mulher de tal forma que
ela é transformada interiormente – em seu corpo físico – a ponto de
conceber uma criança aos noventa anos de idade! A restauração feita
pelo Senhor foi tão grande e tão perfeita que todos os órgãos
interiores de Sarah certamente foram renovados, pois ela necessitava
disso a fim de suportar uma gestação segura e tranqüila!

É neste contexto que o livro de Bereshit (Gênesis) relata a morte


desta mulher que mudou a história do povo de Israel, pois foi
justamente dela – outrora uma mulher estéril – que milagrosamente o
Eterno fez conceber e dar à luz ao filho da promessa: Iitshaq! Por isso
o relato nos informa que Sarah morreu em Quiriate-Arba, que é
Hebrom. Traduzindo a palavra “Quiriate-Arba” teremos literalmente,
qeriat, que em hebraico significa "cidade"; provém da raiz qarâ que
significa “encontrar-se”, sendo a cidade um local de encontro das
pessoas. Já a palavra arba significa "quatro". Esta cidade chama-se
Hebron, que em hebraico significa "união, confederação, associação,
liga". É aqui que ela se une ao seu D-us e Senhor na consumação de
sua vida terrena! Nada mais há para acrescentar à sua vida. A reação
de Avraham e dos seus é previsível e compreensível: “e veio Avraham
lamentar Sara e chorar por ela”. Não havia outra coisa a ser feita,
pois para Avraham a sua “princesa” partira e ele fora deixado só, sem
a companhia daquela que ele tanto amara e por quem tanto lutara!
Só resta o pranto daqueles que a amavam e que agora externavam
todo o seu amor e carinho por Sara lamentando e chorando por
aquela mulher exemplar e mãe da nação de Israel.

Avraham procura os residentes da região onde se encontrava a fim de


comprar-lhes um local para sepultar Sarah. “Depois se levantou
Avraham de diante de sua morta, e falou aos filhos de Hete, dizendo:
Estrangeiro e peregrino sou entre vós; dai-me possessão de sepultura
convosco, para que eu sepulte a minha morta de diante da minha
face” (Gn 23:3-4). Em sua palavra aos heteus, Avraham lhes diz duas
coisas muito importantes: ele se auto-denomina estrangeiro, em
hebraico ger e esta palavra significa "peregrino". A palavra refere-se
a alguém que não desfrutava dos direitos que geralmente o residente
possuía. Mas ele também diz ser peregrino, em hebraico tôshab,
significando peregrino. Esta palavra refere-se ao assalariado
temporário e sem terra. Em seu relato Avraham diz a eles que não
possui os direitos legais nesta terra porque sua passagem por ali é
temporária! É justamente por isso que ele precisou comprar um local
a fim de enterrar ali Sarah.

O fato em si não parece ser muito importante, pois Avraham está


apenas comprando uma sepultura para sua mulher, mas não é assim
que o Eterno vê as coisas! Avraham estava através deste ato
tomando posse da terra pela qual ele caminhara anteriormente, terra
esta que havia sido prometida a ele pelo Senhor como sua possessão!
Agora o Senhor estava estabelecendo um marco legal naquela terra,
pois Avraham compra a terra que D-us lhe prometera e sela a
promessa do Eterno para si e para sua família! Avraham faz algo que
chamamos de “ato profético”, pois o que ele fez naquele momento
mostrava algo ainda maior que aconteceria no futuro!
Os filhos de hete falam assim a Avraham: “E responderam os filhos
de Hete a Avraham, dizendo-lhe: Ouve-nos, meu senhor; príncipe de
Deus és no meio de nós; enterra a tua morta na mais escolhida de
nossas sepulturas; nenhum de nós te vedará a sua sepultura, para
enterrar a tua morta” (Gn 23:5-6). O que eles declaram aqui? Eles
chamam a Avraham de “príncipe de D-us”, em hebraico “nasik
Elohim” e isso significa que eles reconhecem que Avraham é um
príncipe do D-us Criador dos céus e da terra. Aqueles homens sabiam
quem era o D-us de Avraham, pois certamente viram aquilo que
estava sendo feito pelo Eterno na vida de Avraham e de sua família!
Por isso os heteus reconheciam publicamente a posição de Avraham,
que pouco antes havia declarado sobre si mesmo ser um estrangeiro
sem direitos numa terra estranha! Estes homens não vêem Avraham
desta forma! Eles realmente reconhecem quem ele é e a quem ele
serve!

Avraham tem uma atitude natural de quem está em meio a um povo


estranho como peregrino. “Então Avraham se inclinou diante da face
do povo da terra” (Gn 23:12). Apesar do reconhecimento dos filhos de
hete quanto à condição de Avraham, ele inclina-se em sinal de
humildade e diz os heteus aquele lugar que lhe agrada a fim de
sepultar Sara. Ele sabe que por enquanto, eles são “o povo da terra”.
Esta frase me hebraico é “le am há eretz”. Este povo eram os filhos
de Het. Esta palavra vem da raiz hat que pode também significar
"pavor, medo". Também significa "estar despedaçado, espatifado,
aterrorizado". Certamente já havia em seus corações um certo
“incômodo” que posteriormente viria a confirma-se pois este povo
haveria de ceder lugar ao verdadeiro “le am há eretz”, que são os
filhos de Israel. Os filhos de het estavam ali assustados, apavorados,
com medo diante da figura de Avraham, que era o herdeiro legal da
terra; agora possuidor de um pedaço da terra que finalmente uniria
Israel como um povo e uma nação eleita!

A sepultura comprada por Avraham foi a de Efrom e que lhe custou


quatrocentos siclos de prata. Esse valor eqüivaleria ao peso de 46,5
Kg em prata! “Meu senhor, ouve-me, a terra é de quatrocentos siclos
de prata; que é isto entre mim e ti? Sepulta a tua morta” (Gn 23:15).

A definição deu-se com o pesar do dinheiro e o pagamento da quantia


solicitada pelos naturais da terra. Então Avraham pode enterrar ali
sua morta, conforme está escrito: “E depois sepultou Avraham a Sara
sua mulher na cova do campo de Macpela, em frente de Manre, que é
Hebrom, na terra de Canaã” (Gn 23:19).

Agora a preocupação de Avraham será outra: ele já está em idade


avançada e quer ver seu filho Iitshaq casar-se com uma mulher que
lhe seja dada pelo D-us Eterno! “E era Avraham já velho e adiantado
em idade, e o Senhor havia abençoado a Avraham em tudo” (Gn
24:1). O que a Escritura nos diz aqui? Ela nos informa que Avraham
era velho. A palavra em hebraico é zaquen (!qez") e significa velho,
ancião, idoso. Mas também somos informados de que o Senhor –
IHWH – havia abençoado, em hebraico barak (%r;Be), que significa,
dar poder para alguém ser próspero, bem sucedido e fecundo.
Avraham em sua idade avançada poderia olhar para seu passado e
também para seu presente e dizer que Aquele que se torna aquilo
que ele precisa o havia feito ser próspero, bem sucedido e fecundo
em todas as áreas de sua vida. Isso demonstra-nos que por causa da
profunda relação de amor e amizade entre Avraham e o Eterno, Ele o
havia abençoado! Mas não nos esqueçamos de que a base para
receber-se qualquer coisa do Senhor é a obediência! Foi justamente
neste aspecto que Avraham foi provado e aprovado pelo Senhor e foi
justamente por isso que o Senhor fez a Avraham aquilo que fez.

Agora ele quer ver com seus próprios olhos outra bênção do Senhor
para sua vida: a felicidade de Iitshaq. Por isso ele chama seu servo –
seu homem de confiança – e lhe dá instruções de como agir neste
caso: “E disse Avraham ao seu servo, o mais velho da casa, que tinha
o governo sobre tudo o que possuía: Põe agora a tua mão debaixo da
minha coxa, para que eu te faça jurar pelo Senhor Deus dos céus e
Deus da terra, que não tomarás para meu filho mulher das filhas dos
cananeus, no meio dos quais eu habito. Mas que irás à minha terra e
à minha parentela, e dali tomarás mulher para meu filho Iitshaq” (Gn
24:2-4). Este homem tinha um alto grau de relacionamento com
Avraham e também uma alta estima por seu senhor, por isso ele o
ouve atentamente em suas recomendações. Quando Avraham lhe diz:
“Põe agora a tua mão debaixo da minha coxa” a palavra traduzida por
debaixo é tahat e significa "debaixo de, abaixo". Mas a palavra
traduzida por coxa é yarek e significa "coxa, lombo". Ela significa o
local onde o homem gera a sua descendência, ou seja, o seu órgão
genital! Ela – a coxa - é usada de forma figurada a fim de indicar o
órgão genital masculino. Mas o que Avraham estava fazendo na
realidade? Que estranho pedido era esse que ele fazia ao seu servo?
Devemos entender isso de acordo com a mentalidade oriental para
não nos “escandalizarmos” com o que Avraham pediu ao seu servo. O
órgão genital masculino era usado a fim de gerar a vida numa relação
conjugal. Quando o Senhor ordena que seja feita a circuncisão no
órgão genital masculino, seu objetivo é o de fazer uma aliança com a
vida! E é justamente isso o que Avraham está pedindo ao seu servo:
que ele faça uma aliança com ele (Avraham) – através da vida que ele
gerara – de que ele não buscaria uma esposa para Itshaq dentre os
filhos dos cananeus, que eram um povo estranho e trariam aos
hebreus uma mistura em sua raça. Isso certamente atrapalharia os
planos do eterno de suscitar o Messias da descendência de Avraham!
Por isso ele tem todo este cuidado quanto ao casamento de Iitshaq.

A continuidade da conversa entre Avraham e seu servo nos diz o


quanto ele estava preocupado com este fato: “Para que eu te faça
jurar pelo IHVH Elohim dos céus e Elohim da terra, que não tomarás
para meu filho mulher das filhas dos cananeus, no meio dos quais eu
habito” (Gn 24:3). O ato descrito acima é seguido de um juramento. A
palavra “jurar” é shaba e significa "jurar, conjurar, comprometer-se
por juramento". E Avraham interpõe entre ele e seu servo o Senhor D-
us. Aqui temos noção da importância do que ele diz quando vemos
que usou as palavras IHWH Elohim. Você poderia perguntar: mas o
que isso significa? Significa que Avraham colocou Aquele que se
tornara o que ele precisou que é também o Criador do Universo como
a testemunha de que seu servo haveria de cumprir o que prometera a
Avraham em relação à esposa para seu filho Iitshaq. Com isso,
Avraham tencionava resguardar-se de que nada haveria de acontecer
a fim de impedir que os propósitos de D-us se cumprissem na vida de
seus descendentes. A esposa de Iitshaq deveria ser de sua parentela,
ou seja, deveria ser descendente física de Avraham!

Avraham e seu servo agora falam sobre o que poderia acontecer


nesta jornada: “E disse-lhe o servo: Se porventura não quiser seguir-
me a mulher a esta terra, farei, pois, tornar o teu filho à terra donde
saíste? E Avraham lhe disse: Guarda-te, que não faças lá tornar o
meu filho. O IHVH Elohim dos céus, que me tomou da casa de meu
pai e da terra da minha parentela, e que me falou, e que me jurou,
dizendo: À tua descendência darei esta terra; ele enviará o seu anjo
adiante da tua face, para que tomes mulher de lá para meu filho. Se
a mulher, porém, não quiser seguir-te, serás livre deste meu
juramento; somente não faças lá tornar a meu filho” (Gn 24:5-8). O
servo de Avraham argumenta logicamente, pois sabe que sua jornada
poderá ser infrutífera. Porém a resposta de Avraham é categórica e
externa (declara) aquilo que ele crê que acontecerá: “O IHVH Elohim
dos céus, que me tomou da casa de meu pai e da terra da minha
parentela, e que me falou, e que me jurou, dizendo: À tua
descendência darei esta terra; ele enviará o seu anjo adiante da tua
face, para que tomes mulher de lá para meu filho”. Avraham crê que
o Eterno já estava providenciando tudo para seu servo e a sua visita à
parentela de Avraham fora precedida por um anjo que haveria de
preparar a circunstância de tal forma que tudo seria encaminhado
conforme Avraham crera e declarara! Nesta conversa ele declara
diversas promessas que o Eterno lhe fizera, e que agora haveria de
cumprir:

1. Avraham fala sobre o Eterno como IHWH Elohim.

2. O Eterno falou e jurou a ele. Aqui são usadas duas palavras


“fortes”, de um grande significado. O termo “falar” vem do hebraico
amar que significa "dizer, falar, ordenar". Já a palavra “jurar” vem do
hebraico shaba´ que significa "jurar, conjurar"; traz consigo a idéia
de “prender-se a um juramento”.

3. “...à tua descendência daria esta terra”. A palavra “esta terra” é


“ha eretz”; esta denominação é a mesma dada à terra de Israel!

4. O Eterno enviaria juntamente com o servo de Avraham (Eliézer),


Elietzer que significa “El ajuda” o seu anjo a fim de garantir o
sucesso da missão daquele homem. A palavra “anjo” em hebraico é
malako, que significa “meu anjo”.

Após dadas as instruções e esclarecidas as dúvidas sobre a viagem a


ser realizada, então cumpre-se o ritual de “por-se a mão debaixo da
coxa” conforme explicado anteriormente.

Agora o servo de Avraham sai em sua jornada em busca da esposa


para Iitshaq. “E o servo tomou dez camelos, dos camelos do seu
senhor, e partiu, pois que todos os bens de seu senhor estavam em
sua mão, e levantou-se e partiu para Mesopotâmia, para a cidade de
Naor. E fez ajoelhar os camelos fora da cidade, junto a um poço de
água, pela tarde, ao tempo que as moças saíam a tirar água. E disse:
Ó IHVH, Elohim de meu senhor Avraham, dá-me hoje bom encontro, e
faze beneficência ao meu senhor Avraham! Eis que eu estou em pé
junto à fonte de água e as filhas dos homens desta cidade saem para
tirar água; seja, pois, que a donzela, a quem eu disser: Abaixa agora
o teu cântaro para que eu beba; e ela disser: Bebe, e também darei
de beber aos teus camelos; esta seja a quem designaste ao teu servo
Iitshaq, e que eu conheça nisso que usaste de benevolência com meu
senhor” (Gn 24:10-14). Elietzer parte para a terra de Aram neharaim.
A palavra aram em hebraico significa Arã, Síria. Já o termo neharaim
significa "rios". Então, a tradução literal seria “Síria entre rios”; esta
região é conhecida como Mesopotâmia. Ele estava indo para a
“cidade de Naor”. A palavra Naor vem do termo hebraico que
significa "consolação".

Quando lemos o exposto acima então entendemos que Avraham


contou com seu servo que se chama “El (D-us) ajuda” a fim de trazer
para seu filho Iitshaq (Ele rirá) uma esposa, e ele foi procurá-la na
cidade da consolação, pois o rapaz precisava disso para esquecera
morte de sua mãe!

Neste texto também percebemos o que realmente aconteceu: aquele


homem que há tanto tempo caminhara com Avraham havia também
recebido de seu senhor uma outra influência: a fé no Eterno! Ele
reconhece quem é o Senhor e solicita que venha d’Ele a revelação e a
resolução de um problema que nenhum homem poderá em tempo
algum fazer de forma completa: escolher para si uma esposa que lhe
seja idônea e que o faça feliz! Somente Um conhece o coração do
homem a fim de determinar quem é melhor para quem! Este homem
ao orar declara sua inteira dependência do Eterno em sua jornada e
em sua escolha e ainda mais: ele pede que o Eterno faça
“beneficência” para com seu senhor Avraham. A palavra
“beneficência” em hebraico é hesed e significa "bondade, bondade
amorosa, misericórdia". Nós percebemos que o que aquele homem
pediu para seu senhor foi algo plausível de ser atendido pelo Eterno,
pois este homem conhecia o nível de relacionamento entre o Eterno e
Avraham e agora pede que o eterno tenha para com Avraham
bondade amorosa! Ele sabia o quanto era importante para Avraham
que Iitshaq se casasse com a mulher certa e que fosse plenamente
feliz!

Além disso, aquele homem pede ao Eterno que uma determinada


situação sirva como um “sinal” de que ele estaria diante da pessoa
certa para Iitshaq. Ele fica então num local estratégico – o poço onde
as moças iam retirar água para suas casas – e ali espera por uma
resposta do D-us de Avraham!

Certamente aquele homem não esperava que o Eterno agisse tão


rapidamente em resposta à sua oração, mas foi assim que sucedeu!
“E sucedeu que, antes que ele acabasse de falar, eis que Rebeca, que
havia nascido a Betuel, filho de Milca, mulher de Naor, irmão de
Avraham, saía com o seu cântaro sobre o seu ombro. E a donzela era
mui formosa à vista, virgem, a quem homem não havia conhecido; e
desceu à fonte, e encheu o seu cântaro e subiu. Então o servo correu-
lhe ao encontro, e disse: Peço-te, deixa-me beber um pouco de água
do teu cântaro. E ela disse: Bebe, meu senhor. E apressou-se e
abaixou o seu cântaro sobre a sua mão e deu-lhe de beber. E,
acabando ela de lhe dar de beber, disse: Tirarei também água para os
teus camelos, até que acabem de beber. E apressou-se, e despejou o
seu cântaro no bebedouro, e correu outra vez ao poço para tirar
água, e tirou para todos os seus camelos. E o homem estava
admirado de vê-la, calando-se, para saber se o IHVH havia
prosperado a sua jornada ou não” (Gn 24:15-21). Parece
impressionante, mas foi isso justamente o que o Senhor fez, pois
aparece em cena Rivqah, que em hebraico significa a que liga, que
une. Essa moça tinha algumas características que a faziam destacar-
se: era muito bonita e virgem. A palavra virgem em hebraico é
betûlâ, e significa "virgem, jovem, moça". Isso nos dá idéia de que
Rebeca era muito bela porém ainda uma jovem. Para efeito de
comparação poderíamos dizer que Rebeca era uma jovem que nesta
época deveria ter entre treze e quinze anos! Quando o servo de
Avraham a vê e pede a ela água, ele fica realmente muito espantado
com a resposta dela: ela fala e faz justamente aquilo que ele havia
pedido como um sinal de que aquela seria a esposa para Itzhaq! Ele
aguarda até que tudo esteja plenamente consumado e espera “E o
homem estava admirado de vê-la, calando-se, para saber se o Senhor
havia prosperado a sua jornada ou não”. A palavra aqui traduzida por
Senhor é o tetragrama. E isso significa que Aquele que se tornara
aquilo que necessitamos estava agora se tornando para o servo de
Avraham a solução de seu problema e pondo fim à sua busca! Já a
palavra “prosperar” vem do termo hebraico tsaleah que significa
"vencer, ter sucesso, ser útil, dar bom resultado, experimentar
abundância". Temos então a conclusão da oração feita por Elietzer da
seguinte forma: O Eterno se tornara para ele a solução de sua busca
dando-lhe um bom resultado dentro daquilo que ele necessitava!

Agora vem o momento da revelação, quando aquele homem


aproxima-se de Rebeca a fim de dizer-lhe o que ele fazia ali: “E
aconteceu que, acabando os camelos de beber, tomou o homem um
pendente de ouro de meio siclo de peso, e duas pulseiras para as
suas mãos, do peso de dez siclos de ouro; e disse: De quem és filha?
Faze-mo saber, peço-te. Há também em casa de teu pai lugar para
nós pousarmos? E ela lhe disse: Eu sou a filha de Betuel, filho de
Milca, o qual ela deu a Naor. Disse-lhe mais: Também temos palha e
muito pasto, e lugar para passar a noite. Então inclinou-se aquele
homem e adorou ao IHVH, e disse: Bendito seja o IHVH Elohim de
meu senhor Avraham, que não retirou a sua benevolência e a sua
verdade de meu senhor; quanto a mim, o IHVH me guiou no caminho
à casa dos irmãos de meu senhor” (Gn 24:22-27). Quando ele revela
a Rebeca o propósito de sua ida àquele lugar e lhe pergunta sobre
sua parentela e também sobre a possibilidade de passar a noite
juntamente com seus animais na casa de seus pais, ela rapidamente
fala que isso é possível. Então ele reage assim: “Então inclinou-se
aquele homem e adorou ao Senhor”. Neste verso temos duas
palavras diferentes com significados similares em português. A
primeira é a palavra “inclinar-se” que vem do termo hebraico qarar e
significa "derrubar". Já a palavra “adorou” é shaha e significa
"inclinar-se, ajoelhar-se"; a palavra que define o Eterno aqui é o
tetragrama! Novamente o servo de Avraham reconhece que Aquele
que se tornara a solução de sua busca merecia todo o crédito e a
adoração pelo que havia acontecido até então! Sua busca terminara
com sucesso, graças à interferência do Eterno D-us de Israel!

O comentário daquele homem reflete seu “estado de espírito”


naquele momento: “e disse: Bendito seja o IHVH Elohim de meu
senhor Avraham, que não retirou a sua benevolência e a sua verdade
de meu senhor; quanto a mim, o Senhor me guiou no caminho à casa
dos irmãos de meu senhor”. Elietzer declara ser o Eterno “IHVH
Elohim e meu senhor Avraham”; porém esta frase ficaria melhor
traduzida assim: O Eterno Criador e Senhor de Avraham! Ele afirma
que o Eterno não retirou dele sua benevolência. Esta palavra em
hebraico vem do termo hesed que significa "bondade, bondade
amorosa, misericórdia". Isso demonstra que havia uma atitude de
“amor em movimento” justamente na direção de Avraham por parte
do Eterno que o estaria abençoando justamente naquilo que lhe era
mais caro, precioso: a vida de seu filho! O Eterno também o
abençoara dando-lhe sua “verdade”! Esta palavra vem do termo
hebraico ´emet e significa "verdade, fidelidade, veracidade". Ou seja,
Elietzer está tendo confirmadas as palavras que dissera ao Senhor
quando de sua partida com a incumbência de buscar uma esposa
para Iitshaq diante de seus próprios olhos!

Então acontece agora que Rivqah volta à sua casa e diz aos seus o
que lhe sucedera, e sua família fica surpresa e quer conhecer aquele
homem e saber mais sobre o acontecido. Então o servo de Avraham
vai à casa de Naor, conta-lhes a história que motivou sua ida até ali e
então a família reconhece que este fato veio do Senhor para ajuntar
as famílias e abençoa-los mutuamente através do casamento de
Iitshaq e Rebeca.

Agora chega a hora de consultar a Rivqah quanto à tudo o que


acontecera: “E chamaram a Rebeca, e disseram-lhe: Irás tu com este
homem? Ela respondeu: Irei. Então despediram a Rebeca, sua irmã, e
sua ama, e o servo de Avraham, e seus homens. E abençoaram a
Rebeca, e disseram-lhe: Ó nossa irmã, sê tu a mãe de milhares de
milhares, e que a tua descendência possua a porta de seus
aborrecedores!” (Gn 24:58-60). Agora Rebeca fala de seu desejo de ir
com o servo de Avraham a fim de conhecer seu marido e seus
familiares enviam-na à seu novo lar debaixo de bênçãos e palavras
proféticas que também determinariam o futuro de seus filhos!
Quando eles abençoam-na, aqui eles utilizaram a palavra barak, que
significa "dar poder para alguém ser próspero, bem sucedido e
fecundo"! A palavra com a qual eles abençoaram-na fala que a
descendência de Rivqah – a sua zerá – descendência física, haveria
de possuir a porta de seus inimigos. A palavra “porta” em hebraico é
sha´ar significando porta (de uma cidade). Isso nos diz que os seus
descendentes poderiam reivindicar a possessão ou herança (também
a autoridade local de onde morassem) daqueles que os
aborrecessem. A palavra “aborrecer” em hebraico é sane e quer
dizer odiar, ser odioso. Exprime uma atitude emocional diante de
pessoas ou coisas que são combatidas, detestadas, desprezadas e
com os quais não se deseja ter nenhum contato ou relacionamento.
Isso nos mostra que a palavra profética que foi liberada para Rivqah
era extremamente positiva e realmente traria no futuro sobre a vida
dela inúmeras bênçãos, inclusive o milagre da cura da esterilidade!

Finalmente a partida de Rivqah com suas moças e o tão esperado


momento do encontro com Iitshaq aproximam-se! “E Rebeca se
levantou com as suas moças, e subiram sobre os camelos, e
seguiram o homem; e tomou aquele servo a Rebeca, e partiu. Ora,
Iitshaq vinha de onde se vem do poço de Beer-Laai-Rói; porque
habitava na terra do sul. E Iitshaq saíra a orar no campo, à tarde; e
levantou os seus olhos, e olhou, e eis que os camelos vinham” (Gn
24:61-63). Enquanto o servo de Avraham juntamente com Rebeca e
suas moças iam a caminho de casa, Iitshaq estava no campo, orando,
buscando comunhão com o Eterno, e ele certamente pedia ao Senhor
que Ele pudesse estar dirigindo toda a situação a fim de que sua
esposa pudesse estar já a caminho de seus braços! Ele vinha
caminhando da direção de “Beer-Lahai-Ro´i” que literalmente
significa “fonte daquele que vive e me vê”. Iitshaq estava no único
lugar possível para que sua alma pudesse ser saciada: na “fonte
daquele que vive e me vê!” É ali que ele busca o refrigério para suas
preocupações e anseios; ali ele bebe da água que lhe traz alívio – não
somente ao corpo físico, mas também o espiritual. Foi depois de um
destes momentos de oração, quando retorna para sua casa, então
Iitshaq levanta os olhos e vê a proximidade do servo de Avraham
juntamente com suas acompanhantes e vai ao seu encontro a fim de
recebê-los. A palavra “oração” vem do termo hebraico siah e significa
meditar, refletir, conversar, falar, queixar-se. Iitshaq não poderia ter
escolhido um lugar melhora para poder ter este contato com o
Eterno, certamente falando-lhe de suas preocupações e meditando –
trazendo à memória – tudo aquilo que o Senhor já lhe ouvera
prometido!

Então, finalmente, chega o grande momento do tão esperado


encontro entre Iitshaq e Rivqah: “Rebeca também levantou seus
olhos, e viu a Iitshaq, e desceu do camelo. E disse ao servo: Quem é
aquele homem que vem pelo campo ao nosso encontro? E o servo
disse: Este é meu senhor. Então tomou ela o véu e cobriu-se. E o
servo contou a Iitshaq todas as coisas que fizera. E Iitshaq trouxe-a
para a tenda de sua mãe Sara, e tomou a Rebeca, e foi-lhe por
mulher, e amou-a. Assim Iitshaq foi consolado depois da morte de sua
mãe” (Gn 24:64-67).

Após o tão esperado encontro, Iitshaq se aproxima, e Rivqah cobre-se


com seu véu. A palavra “véu” vem do termo hebraico tsa´ip e
significa roupão, xale, véu; então ela finalmente vê seu marido e é
vista por ele. Então, após um breve relato da viagem, Iitshaq e Rivqah
vão para a tenda de sua mãe Sarah e ali casam-se. A casamento foi a
consumação da união física entre os dois. Não houveram as
“formalidades” legais ou certidões, mas somente a união entre dois
corpos, fato este que realmente caracterizou o matrimônio de Iitshaq
e Rivqah! A escritura nos diz que lê “foi-lhe por mulher”. Esta palavra
em hebraico é le isha. Para Iitshaq, seu casamento com Rivqah foi
um verdadeiro bálsamo, pois através de sua esposa sua alma fora
curada pela perda de sua mãe Sarah. Isso nos mostra que além da
união entre duas pessoas, o casamento é muito mais, pois o projeto
do Eterno é que haja uma inteira e total integração entre o casal que,
havendo necessidades em ambos de cura, essa será efetuada pela
atuação do Senhor na vida do cônjuge através de seu par.

Após a consumação do casamento de Iitshaq, a Escritura nos informa


novamente sobre Avraham: “E Avraham tomou outra mulher; e o seu
nome era Quetura; e deu-lhe à luz Zinrã, Jocsã, Medã, Midiã, Jisbaque
e Suá. E Jocsã gerou Seba e Dedã; e os filhos de Dedã foram Assurim,
Letusim e Leumim. E os filhos de Midiã foram Efá, Efer, Enoque, Abida
e Elda. Estes todos foram filhos de Quetura. Porém Avraham deu tudo
o que tinha a Iitshaq; mas aos filhos das concubinas que Avraham
tinha, deu Avraham presentes e, vivendo ele ainda, despediu-os do
seu filho Iitshaq, enviando-os ao oriente, para a terra oriental. Estes,
pois, são os dias dos anos da vida de Avraham, que viveu cento e
setenta e cinco anos” (Gn 25:1-7). Isto nos parece de certa forma até
exagerado, mas Avraham mesmo em sua velhice e após a morte de
Sarah toma para si outra mulher chamada Qeturah cujo nome
significa “incenso”, a qual lhe dá outros filhos, e entre eles temos
Midian, que os estudiosos crêem ser o pai dos midianitas que
aparecerão mais tarde nas Escrituras e serão ferrenhos inimigos de
Israel! Não nos parece estranho que um dos filhos de Avraham venha
a tornar-se inimigo mortal da própria descendência de Avraham? Os
outros filhos de Avraham foram enviados para o oriente. Esta palavra
foi dada quando Avraham vivia nas proximidades de Hebron; sendo
assim ao oriente desta cidade temos hoje a Jordânia, a Arábia Saudita
e o Iraque! Portanto, podemos então supor que vários dos primitivos
habitantes destes países foram os filhos de Avraham com Qeturah e
que atualmente transformaram-se em ferozes inimigos e opositores
de Israel e dos judeus!

Nós às vezes nos questionamos o porque dessas coisas acontecerem.


Vemos na atitude de Avraham uma aberta preferência por Iitshaq – a
quem ele dá todas as suas posses – em detrimento dos outros filhos
que recebem apenas presentes e são enviados para o oriente com
sua mãe. Ao final desta narrativa vemos que Avraham viveu um total
de cento e setenta e cinco anos! Espantoso que alguém tenha tido
uma vida tão longa e tão produtiva diante do Eterno a ponto de
cumprir realmente os propósitos do Senhor e poder morrer em paz.

Agora a Escritura nos declara que Avraham morre. Aqui acontece algo
espantoso: “E Avraham expirou, morrendo em boa velhice, velho e
farto de dias; e foi congregado ao seu povo; e Iitshaq e Ismael, seus
filhos, sepultaram-no na cova de Macpela, no campo de Efrom, filho
de Zoar, heteu, que estava em frente de Manre, o campo que
Avraham comprara aos filhos de Hete. Ali está sepultado Avraham e
Sara, sua mulher. E aconteceu depois da morte de Avraham, que
Deus abençoou a Iitshaq seu filho; e habitava Iitshaq junto ao poço
Beer-Laai-Rói” (Gn 25:8-11). Neste relato encontramos novamente
juntos Ismael e Iitshaq! Após Ismael ter sido enviado com sua mãe
para o deserto, nada mais é dito sobre ele. Agora, repentinamente,
Ismael reaparece junto de Iitshaq no funeral de Avraham! Isso
significa que, mesmo distante do pai, Ismael mantinha algum tipo de
contato e recebia informações sobre Avraham de forma que, quando
lhe fora dito que Avraham morrera, ele imediatamente viera para o
funeral!

A Escritura nos fala que “E aconteceu depois da morte de Avraham,


que Deus abençoou a Iitshaq seu filho”. A palavra traduzida aqui é
Elohim, o D’us Criador e a palavra “abençoar” é barak! Isso significa
que o Criador deu poder a Iitshaq para ser próspero, bem sucedido e
fecundo! A mesma unção que estava sobre Avraham agora repousa
sobre seu filho Iitshaq! Novamente temos aqui uma clara alusão à
escolha de Israel – que é resultado da sucessão que ocorrerá através
de Iitshaq – em detrimento dos demais filhos de Avraham!
Certamente que tais filhos também foram “abençoados”; porém não
na mesma medida que Israel o foi! Aqui, o Criador do Universo Elohim
dá a Iitshaq poder para que ele e seus descendentes sejam prósperos,
bem sucedidos e fecundos em tudo aquilo que fizerem! Neste caso
não há como “revogar” aquilo que o próprio Criador estabeleceu e
deu a Israel como uma “herança” perpétua!
Terminamos com o relato sobre a descendência de Ismael: “Estas,
porém, são as gerações de Ismael filho de Avraham, que a serva de
Sara, Agar, egípcia, deu a Avraham. E estes são os nomes dos filhos
de Ismael, pelos seus nomes, segundo as suas gerações: O
primogênito de Ismael era Nebaiote, depois Quedar, Adbeel e Mibsão,
Misma, Dumá, Massá, Hadade, Tema, Jetur, Nafis e Quedemá. Estes
são os filhos de Ismael, e estes são os seus nomes pelas suas vilas e
pelos seus castelos; doze príncipes segundo as suas famílias. E estes
são os anos da vida de Ismael, cento e trinta e sete anos, e ele
expirou e, morrendo, foi congregado ao seu povo. E habitaram desde
Havilá até Sur, que está em frente do Egito, como quem vai para a
Assíria; e fez o seu assento diante da face de todos os seus irmãos”
(Gn 25:12-18). Vemos neste comentário algo, no mínimo curioso:
“Estes são os filhos de Ismael, e estes são os seus nomes pelas suas
vilas e pelos seus castelos; doze príncipes segundo as suas famílias”.
Aqui aparece a palavra “castelos”; ora nós sabemos que os castelos
foram idealizados na Europa e isso ocorreu somente na idade média!
Qual seria então a solução para este impasse? Em português
aparecem duas palavras que foram mal traduzidas: vilas e castelos. A
primeira vem do termo hebraico hatsîr e significa "aldeia, povoado".
Já o segundo – castelos – vem do termo hebraico tirâ que significa
"acampamento, fila de pedras, ameia". Isso nos informa então que os
descendentes de Ismael seriam doze homens que seriam os
“príncipes” de aldeias e acampamentos. Esta profecia cumpre-se
literalmente e hoje temos os descendentes de Ismael espalhados e
governando os seguintes países: Jordânia, Síria, Iraque, Irã, Koweit,
Qatar, União dos Emirados Árabes, Omã, República Democrática do
Iêmem, Iêmem, Arábia Saudita e Líbano.

Ismael, que é o pai das nações árabes, morre com cento e trinta e
sete anos e deixa atrás de si os descendentes que levariam à cabo
uma saga de ódio e de lutas contra Iitshaq e seus descendentes!

Mas, há ainda uma promessa – válida também para nossos dias - de


que os filhos de Israel “possuirão a porta de seus aborrecedores”. Que
o Eterno leve a cabo de forma plena esta promessa feita à seus filhos
de forma a aniquilar todo o poder que se levanta contra Israel!
Toledot (Gerações)

Começamos nosso estudo com a seguinte informação: “E estas são


as gerações de Itshaq, filho de Avraham: Avraham gerou a Itshaq; e
era Iitshaq da idade de quarenta anos, quando tomou por mulher a
Rivqah, filha de Betuel, arameu de Padã-Arã, irmã de Labão, arameu.
E Itshaq orou insistentemente ao Senhor por sua mulher, porquanto
era estéril; e o Senhor ouviu as suas orações, e Rivqah sua mulher
concebeu” (Gn 25:19-21). Este parágrafo começa nos falando sobre
toledot, que em hebraico significa "gerações, nascimentos". A palavra
"gerar" em hebraico é yalad e significa "dar á luz, gerar, produzir,
procriar". Significa algo que é produzido ou levado a existir por
alguém ou aquilo que procede de tal pessoa. Veremos aqui quem
foram os filhos de Itshaq e Rivqah. O texto também nos informa que
Iitshaq casou-se aos quarenta anos! Isso nos parece um tanto
incomum para os nossos padrões atuais, mas a Escritura nos fala
sobre um homem maduro – física, espiritual e emocionalmente – que
agora procura casar-se. Isso não se trata e um simples capricho de
Iitshaq, mas sim em dar continuidade à promessa que o Eterno fez à
sua família. Agora, aos quarenta anos ele está pronto (em todos os
aspectos) para casar-se com Rivqah. Este verso nos informa que
Rivqah era filha de B´tuel e seu nome pode significar: “homem de
El”; “El destrói” ou “casa de El”.

Novamente temos aqui um outro aspecto que identifica Itshaq com


Avraham: ele orou para que sua esposa pudesse conceber! Esta
palavra “orar” vem do termo hebraico ´atar e significa "orar,
suplicar". Esta palavra é incomum em seu uso como “oração”, pois
denota uma posição de súplica intensa, um ato de implorar algo a
alguém. Nesta mesma raiz temos também os significados de “ser
abundante” e “perfume (de incenso)”.

A palavra usada aqui para Senhor é o tetragrama (IHVH) e significa


que o Senhor se tornaria aquilo que Itshaq necessitava naquele
momento: a cura de Rivqah! O texto nos diz que ela era ‘aqar, que
em hebraico significa estéril. Isso nos fala sobre a sua incapacidade
em gerar um filho de seu próprio ventre. Na antigüidade as mulheres
estéreis eram consideradas como amaldiçoadas. Certamente que
Itshaq sabia disso e foi Àquele que poderia resolver seu problema e o
Eterno ouviu seu clamor. Novamente a Palavra nos diz o seguinte: “e
o Senhor ouviu as suas orações, e Rivqah sua mulher concebeu”. A
palavra "conceber" em hebraico é harâ e significa "conceber,
engravidar". Aquilo que parecia uma maldição agora é devidamente
mudado pelo Eterno que dá a Rivqah a capacidade de engravidar e
ter um filho sem qualquer interferência humana! Nós sabemos que o
Eterno agiu neste curto período duas vezes a fim de trazer a nação de
Israel à existência: curou Sarah e Rivqah de esterilidade! Sim, quando
o eterno determina que algo deva acontecer ele usa de seus
ilimitados recursos a fim de cumprir cada um de seus bons propósitos
na vida do homem!

Agora é Rivqah quem entra em cena: “E os filhos lutavam dentro


dela; então disse: Se assim é, por que sou eu assim? E foi perguntar
ao Senhor. E o Senhor lhe disse: Duas nações há no teu ventre, e dois
povos se dividirão das tuas entranhas, e um povo será mais forte do
que o outro povo, e o maior servirá ao menor” (Gn 25:22-23).

No início destes versos temos novamente a palavra “Senhor” que é o


tetragrama (IHVH)! Agora é Rivqah quem busca por algo e o Eterno
torna-se para ela a resposta ao seu questionamento! O que lhe é dito
nos mostra novamente o extensão do plano do Eterno para com as
nações do mundo: Ele falou-lhe que havia dentro do ventre dela
haviam duas nações. É notável que os meninos já “lutavam” dentro
dela. Esta palavra “lutavam” vem do termo hebraico ratsats e
significa "esmagar, oprimir". Antes mesmo do nascimento dos dois
garotos já havia entre eles uma “disputa” num nível inimaginável,
pois estando eles ainda no ventre de Rivqah já tentavam “esmagar-
se”, “oprimir-se” um ao outro! A palavra ventre é beten e significa
"ventre, barriga". No hebraico esta palavra denota “o abdômen
inferior”. A palavra nações em hebraico é goi e significa nações
gentílicas. Isso não nos parece estranho? Sabemos que Esav é o pai
dos edomitas, mas Ia´aqov dá origem às doze tribos de Israel. Como
então entender esta palavra? Isso somente pode ser entendido
quando percorremos a história e vemos que o Eterno fez com que
Israel fosse pulverizado pelo mundo pelo menos em duas ocasiões: no
cativeiro Assírio – quando dez tribos foram para lá e não mais
retornaram. Os que voltaram foram somente um pequeno
remanescente - e na destruição de Israel no ano 70 d. C. pelo general
romano Tito. Isso nos mostra que durante a história da humanidade
houve uma assimilação muito grande dos judeus no mundo e isso
também nos fala de pessoas que viriam a conhecer ao Eterno sem
que realmente soubessem quem são. Há muitos judeus cujas
identidades foram perdidas durante a história e que hoje são crentes
em Ieshua! Então agora percebemos o por que desta palavra dada a
Rivqah sobre seus filhos! Seu cumprimento maior estendia-se até os
nossos dias e com uma amplitude ainda desconhecida por nós!

Há ainda um outro detalhe: no fim do verso temos uma profecia: “e o


maior servirá ao menor”. Esta profecia tem se cumprido ao longo dos
séculos, pois Israel tem tido a primazia sobre seus “meio-irmãos”
descendentes de Esaú!

O nascimento dos garotos se deu assim: “E saiu o primeiro ruivo e


todo como um vestido de pêlo; por isso chamaram o seu nome Esaú.
E depois saiu o seu irmão, agarrada sua mão ao calcanhar de Esaú;
por isso se chamou o seu nome Ia´aqov. E era Itshaq da idade de
sessenta anos quando os gerou” (Gn 25:25-26). Temos agora um
vívido retrato de como tudo aconteceu! Os garotos nasceram
prontamente foram diferenciados: Esav significa "cabeludo". Isso se
deu porque o menino tinha muito cabelo (pêlo) em seu corpo. Já seu
irmão foi chamado de Ia´aqov justamente por estar segurando no
calcanhar (que é tido como o ponto fraco do homem). Seu nome
significa “calcanhar do Senhor”. Quando os garotos nasceram Itshaq
já tinha sessenta anos! Vimos acima que ele casa-se com quarenta
anos e que ele orou durante vinte anos para que sua esposa
concebesse! Isso nos faz pensar muito, pois vivemos num mundo
instantâneo, onde buscamos sempre os caminhos mais fáceis a fim
de atingirmos os resultados desejados mais rapidamente. Itshaq orou
sem desistir durante muito tempo a fim de que sua esposa fosse
curada! Ele não percorreu nenhum caminho mais fácil ou buscou um
atalho para receber aquilo que tanto necessitava. Aprendemos com
Itshaq a não desfalecermos, ainda que a resposta tão esperada não
venha imediatamente como esperamos.

Com o passar do tempo cada qual se “especializa” em alguma coisa:


Esav foi um perito em caça; já Ia´aqov viva uma vida tranqüila, mais
caseira. A frase “perito em caça” vem do hebraico iadâ tsaiid e
significa "ter conhecimento prático em caça". Já Ia´aqov habitava em
tendas. A palavra “tenda” vem do termo hebraico ´ohel e significa
"tenda, habitação". Esta palavra foi usada para definir o tabernáculo
de Moshe! Ou seja, enquanto Esav “divertia-se” caçando, Ia´aqov
divertia-se ficando “na tenda” (que aponta para o tabernáculo), ou
seja, na presença do Eterno! Foi num destes episódios de caça que
aconteceu um dos fatos que revelaram aquilo que Esav sentia de fato
por si mesmo e pelos direitos que possuía: “E Ia´aqov cozera um
guisado; e veio Esaú do campo, e estava ele cansado; e disse Esaú a
Ia´aqov: Deixa-me, peço-te, comer desse guisado vermelho, porque
estou cansado. Por isso se chamou Edom. Então disse Ia´aqov:
Vende-me hoje a tua primogenitura. E disse Esaú: Eis que estou a
ponto de morrer; para que me servirá a primogenitura? Então disse Ia
´aqov: Jura-me hoje. E jurou-lhe e vendeu a sua primogenitura a Ia
´aqov” (Gn 25:29-33). Aqui Ia´aqov tira proveito da situação de seu
irmão e “compra-lhe” o direito de primogenitura. A palavra traduzida
por primogenitura é bekorâ e significa "direito de primogenitura". A
idéia envolve especialmente as reivindicações legais do filho mais
velho de uma porção dupla da herança e de outros direitos que lhe
poderiam pertencer como mais velho. Este “acordo” foi fechado
através de um juramento. A palavra “jurar’ vem do termo hebraico
shaba´ e significa "jurar, conjurar"; traz a idéia de “prender-se a um
juramento”.

Esav então faz aquele negócio com seu irmão e demonstra o que
pensa sobre isso: “E Ia´aqov deu pão a Esaú e o guisado de lentilhas;
e ele comeu, e bebeu, e levantou-se, e saiu. Assim desprezou Esaú a
sua primogenitura” (Gn 25:34). A Escritura nos diz que Esav
desprezou a sua primogenitura. A palavra "desprezar" é bazâ e
significa "desprezar, desdenhar, manter sob desdém". O sentido
básico da raiz é “dar pouco valor a alguma coisa”. Quando Esav
desdenha seu direito sobre as bênçãos que naturalmente seriam
suas, o próprio D-us então transfere a Ia´aqov este direito a fim de
cumprir também a profecia que fora dada a Rivqah: “o maior serviria
ao menor”. O Eterno age de forma a concretizar seus objetivos e
planos através da vida daqueles que lhe obedecem.

Quando houve um período de fome na terra de Canaã, Itshaq vai para


o Egito a fim de não ser atingido por essa assolação. Quando isso
acontece então o Eterno fala com Iitshaq dizendo-lhe: “E apareceu-
lhe o Senhor, e disse: Não desças ao Egito; habita na terra que eu te
disser” (Gn 26:2). A palavra Senhor aqui é novamente o tetragrama!
Isso significa que o Eterno se tornaria aquilo que Iitshaq novamente
necessitaria: a provisão contra a fome! Iitshaq somente teria de
obedecer – não indo buscar ajuda no Egito - a fim de receber aquilo
que o eterno já havia preparado para ele!

A palavra do Eterno para Iitshaq foi: “Peregrina nesta terra, e serei


contigo, e te abençoarei; porque a ti e à tua descendência darei todas
estas terras, e confirmarei o juramento que tenho jurado a Avraham
teu pai; e multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus,
e darei à tua descendência todas estas terras; e por meio dela serão
benditas todas as nações da terra; porquanto Avraham obedeceu à
minha voz, e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus
estatutos, e as minhas leis” (Gn 26:3-5). As primeiras palavras do
Senhor para Itshaq foram: Peregrina nesta terra! A palavra peregrinar
é gûr em hebraico e significa "residir, ajuntar-se, ser estrangeiro,
morar (em/com), reunir, permanecer, peregrinar, habitar". A ordem é
que ele habite “nesta terra”. A palavra “terra” vem do termo hebraico
erets que significa "terra, cidade, mundo".
Houve também a menção do Eterno de abençoar a Itshaq. A palavra
abençoar é barak, e significa "dar poder a alguém par ser próspero,
bem sucedido e fecundo". Quando juntamos tudo temos o seguinte: o
Eterno ordena a Itshaq que resida, habite temporariamente numa
terra estranha – pois ali não seria seu lar definitivo – e ele ainda diz
que mesmo numa terra estranha ele o abençoaria, dando-lhe poder
para ser próspero, bem sucedido e fecundo! E há ainda outros
detalhes: o Eterno continua dizendo que daria à descendência de
Iitshaq aquelas terras. A palavra descendência é zerá e significa
"descendentes físicos". A terra outrora fora prometida a Avraham e
novamente o Eterno repete a promessa que já havia feito a Avraham
sobre a terra onde agora eles pisavam! Não há como impedir o agir
do Eterno! A palavra se completa dizendo: “e por meio dela serão
benditas todas as nações da terra”. Nesta frase temos os elementos
que apontam para os dias atuais, pois o Eterno diz que “abençoaria
todas as nações da terra” através da semente – descendência física”
de Itshaq! As palavras “abençoar” e “semente” já foram comentadas
acima; destacaremos somente a palavra “nações” que vem do termo
hebraico goi e significa nações gentílicas. Isso nos fala que os judeus
haveriam de abençoar – dar poder para serem prósperos, bem
sucedidos e fecundos - aos ímpios e pagãos em toda a terra! Ou seja,
os judeus seriam o canal através do qual o Eterno daria ao mundo
tudo aquilo que eles precisariam para seu viver diário! E não é difícil
comprovar isso em nossos dias...

O Senhor continua falado sobre a descendência física de Iitshaq,


dizendo que seriam numerosos, em hebraico rabah que significa "ser
grande, tornar-se grande, ser numeroso, tornar-se numeroso". Além
disso foi-lhe dito que através dessa descendência física todas as
nações da terra – goi – "nações gentílicas", seriam abençoadas. Estas
nações então receberiam poder para ser prósperos, bem sucedidos e
fecundos! O Senhor liga isso à obediência de Avraham que ouviu-lhe
à voz e portanto recebeu do Eterno inúmeras bênçãos!

Itshaq, juntamente com sua família habitou em Gerar. O nome desta


localidade - Gerar - significa “casa de guarda (guarita)”. Certamente
este era um tempo em que Iitshaq deveria estar numa posição de
maior vigilância, pois estava num território estranho, longe de seus
familiares e conhecidos e portanto deveria ter cautela em tudo aquilo
que fizesse. Seus novos vizinhos quiseram saber quem eram eles e o
que os levara para ali. A postura de Iitshaq foi a mesma de Avraham
quando desceu ao Egito: ele mentiu sobre sua esposa. E isso quase
trouxe uma tragédia sobre o povo que ali habitava! Está escrito
assim: “E perguntando-lhe os homens daquele lugar acerca de sua
mulher, disse: É minha irmã; porque temia dizer: É minha mulher;
para que porventura (dizia ele) não me matem os homens daquele
lugar por amor de Rivqah; porque era formosa à vista. E aconteceu
que, como ele esteve ali muito tempo, Abimeleque, rei dos filisteus,
olhou por uma janela, e viu, e eis que Iitshaq estava brincando com
Rivqah sua mulher” (Gn 26:7-8). Apesar daquilo que Itshaq tinha dito
sobre Rivqah, Abimeleq, cujo nome significa “meu pai é Rei”, notou
algo estranho entre eles. A nossa tradução diz que eles “brincavam”;
no hebraico esta palavra é tsahaq e significa "rir, divertir-se, brincar,
acariciar, trocar carícias íntimas". É lógico que alguém veria que entre
Itshaq e Rivqah haviam intimidades muito maiores que aquelas que
julgamos “normais” entre irmãos! O que acontecia entre eles era que
mantinham uma postura tal que procuravam evitar um contato físico
maior entre si em público! Porém parece que alguns atos
“escaparam” de seu controle e foram vistos “trocando carícias
íntimas” entre si. Isso assusta Abimeleq que chama a Iitshaq a fim de
questioná-lo sobre o fato, e quando lhe é confirmada a verdade – que
Rivqah e Itshaq eram cônjuges – Abimeleq ordena que nenhum
homem da terra toque em Rivqah, pois ele sabia que se tal fato
ocorresse isso atrairia um enorme problema para todo o povo da
cidade.

Quando Iitshaq diz a verdade, ele libera o poder do Eterno a fim de


abençoa-lo e multiplica sobre si a consumação daquilo que já havia
sido prometido à ele: “E semeou Itshaq naquela mesma terra, e
colheu naquele mesmo ano cem medidas, porque o Senhor o
abençoava. E engrandeceu-se o homem, e ia enriquecendo-se, até
que se tornou mui poderoso” (Gn 26:12-13). Isso demonstra para nós
que a obediência aos preceitos do Eterno realmente liberam sobre a
vida do homem as suas promessas. Note que Iitshaq estava
semeando em terra estranha, mas mesmo assim ele colheu “cem
medidas”, porque o Senhor dava a ele poder para ser próspero, bem
sucedido e fecundo em todas as coisas que realizava! A palavra
“medidas” vem do termo hebraico sha´ar com o mesmo significado.
Na raiz desta palavra temos também o termo "porta (de cidade)" e
também o significado de "calcular, estimar". Isso demonstra que
quando Itshaq entrou naquela cidade a autoridade do Eterno estava
com ele e isso fez com que tivesse sucesso diante dos olhos daqueles
filisteus; mais ainda, ele certamente estimou, calculou que sua
colheita pudesse ser boa, mas ela foi na medida da “bênção” do
eterno (IHVH)! A palavra “colheu” foi mal traduzida, pois vem do
hebraico matsa´ que significa “achar”; ou seja, ele semeou e achou,
um ano depois, cem medidas (que poderiam ser traduzidas por
“portas”) de bênçãos de IHVH!

Com o crescimento e o enriquecimento alarmante de Iitshaq,


surgiram também os problemas inerentes a ser rico. Os pastores –
que eram os empregados de Itshaq – começaram a ter problemas
com aqueles que tinham rebanhos em Gerar, pois eles disputavam
entre si os melhores pastos e a água disponível, cada qual para seu
rebanho. Iitshaq e os seus saem de Gerar e vão até Beer-sheva, cujo
nome significa “poço [ou fonte] dos sete”. Sabemos que o sete
representa a totalidade, plenitude; então ali Iitshaq haveria de
receber algo do Eterno que lhe traria totalidade, plenitude.
Há uma interpretação do Midrash que nos mostra o motivo por esta
disputa:

“Quando os servos do Rei Avimêlech viram como Itshaq ficara rico,


sentiram inveja.

Maldosamente, entupiram todos os poços que pertenciam a Yitschac.


Estes poços haviam sido cavados pelo pai de Itshaq, Avraham.
Yitschac ordenou aos servos: "Limpem meus poços de toda terra e
sujeira com que os servos de Avimêlech os encheram."

O Rei Avimêlech se deu conta que a inveja de seus servos poderia lhe
trazer problemas. "Vá embora," ordenou ele a Itshaq. "Você ficou
muito mais rico que nós."

Itshaq obedeceu, saindo da vizinhança da corte do rei, apesar de


permanecer na terra dos pelishtim.

Assim que havia se estabelecido, ordenou aos servos:

"Cavem a terra. Talvez achemos novos poços de água."

Os servos cavaram fundo e encontraram um manancial. Assim que


souberam disso, os servos de Avimêlech afirmaram:

"Na realidade, este poço pertence a nós, porque Itshaq achou-o em


nossa terra."

Eles expulsaram os servos de Itshaq para longe do poço e o tomaram


para si.

Mas algo estranho aconteceu!

Quando os servos do Rei Avimêlech tentaram extrair água do poço,


não saía água. O poço havia secado.

Então, os servos de Avimêlech devolveram o poço aos servos de


Itshaq. Assim que Itshaq recuperou a posse, este novamente se
encheu de água.

Itshaq chamou este poço de Essec, que significa "luta", referindo-se


ao fato de os servos de Avimêlech terem lutado por este poço.

Itshaq ordenou aos servos:

"Cavem novamente". Desta vez, acharam um segundo poço e


novamente os servos de Avimêlech o tiraram dos servos de Itshaq.
Mais uma vez D'us os puniu e, quando tentaram tirar água do poço,
este permaneceu seco. Quando os servos de Avimêlech viram isso,
devolveram o controle do poço a Itshaq.
Itshaq chamou este poço de Sitna. Sitna quer dizer "distúrbio", porque
os servos de Avimêlech o haviam perturbado, tirando-lhe a posse do
poço.

Itshaq então ordenou aos servos que voltassem a cavar e estes


encontraram um terceiro poço. Desta vez, os servos de Avimêlech não
tentaram tirar-lhe o poço. Haviam aprendido a lição!

Itshaq chamou este poço de Rechovot, que significa "espaço amplo"


ou "alívio", pois, desta vez, os servos de Avimêlech pararam de
discutir com ele; finalmente, encontrou paz e alívio das contendas”.

Então ali acontece algo ainda mais extraordinário: “E apareceu-lhe o


Senhor naquela mesma noite, e disse: Eu sou o Deus de Avraham teu
pai; não temas, porque eu sou contigo, e abençoar-te-ei, e
multiplicarei a tua descendência por amor de Avraham meu servo.
Então edificou ali um altar, e invocou o nome do Senhor, e armou ali a
sua tenda; e os servos de Itshaq cavaram ali um poço” (Gn 26:24-25).
Agora o Eterno é visto por Itshaq! No original aparece a palavra ra’ah
que significa "ver, contemplar", juntamente com o tetragrama – IHVH
– o que nos diz que “Aquele que se torna aquilo que necessita o
homem” estava diante de Itshaq a fim de tornar-se a solução de seu
atual problema! O Eterno diz a Itshaq que ele é Elohim – o D-us
Criador que apareceu a Avraham. Ele lhe informa que seria com
Itshaq e que o abençoaria – dar-lhe-ia poder para ser próspero, bem
sucedido (mais ainda) e fecundo e que ele teria sua descendência
física – zerá – multiplicada por amor a Avraham seu pai!

Nós podemos perceber o seguinte: por causa da promessa que havia


sido feita a Avraham e ratificada a Itshaq, agora o Eterno aparece a
este mesmo Iitshaq a fim de somente confirmar aquilo que já estava
sobre sua vida: o fato concreto de estar recebendo tudo o que lhe
fora prometido! Nós já vimos que Itshaq era um homem de muito
sucesso, graças à sua obediência! Mas o Eterno diz-lhe que ele
receberia ainda mais sucesso e engrandecimento familiar!
Novamente somos levados a crer que todas estas coisas não devem
ocupar o primeiro lugar em nossas vidas. Itshaq não as pediu; porém
o Eterno D-us é que apareceu-lhe e informou-lhe que tudo isso seria-
lhe dado como uma confirmação da aliança que havia entre o Eterno
e ele!

Todos estes fatos ilustram algo que já sabemos, porém não


praticamos: a obediência ilimitada traz sobre o homem os ilimitados
recursos e bênçãos as mais variadas. Lembre-se que existem nas
Escrituras cerca de 8.000 (oito mil) promessas nas mais variadas
áreas de nossa vida!

Enquanto isso acontecia, Abimeleq antevia o que seria necessário


acontecer: uma aliança entre Itshaq e Abimeleq! A Escritura nos diz o
seguinte: “E Abimeleque veio a ele de Gerar, com Auzate seu amigo,
e Ficol, príncipe do seu exército. E disse-lhes Iitshaq: Por que viestes
a mim, pois que vós me odiais e me repelistes de vós? E eles
disseram: Havemos visto, na verdade, que o Senhor é contigo, por
isso dissemos: Haja agora juramento entre nós, entre nós e ti; e
façamos aliança contigo. Que não nos faças mal, como nós te não
temos tocado, e como te fizemos somente bem, e te deixamos ir em
paz. Agora tu és o bendito do Senhor. Então lhes fez um banquete, e
comeram e beberam” (Gn 26:26-30). Aqui fica claro que a intenção de
Abimeleq em fazer uma aliança com Iitshaq era justamente o temor
que ele tinha quanto ao fato de Iitshaq, como estrangeiro, estar
crescendo tanto, a ponto de trazer-lhe um certo incômodo quanto à
segurança de seu povo. Abimeleq em sua conversa com Iitshaq
confessa duas coisas importantes: a primeira é quando ele diz “...
Havemos visto, na verdade, que o Senhor é contigo”. Nesta palavra
temos a tetragrama no original IHVH e isso nos diz que Abimeleq
reconhecia que ao lado de Itshaq estava Aquele que se torna aquilo
que Itshaq necessitava, e que quando Itshaq clamava a este D-us a
resposta lhe era dada. Em segundo lugar Abimeleq confessa que
necessita fazer um pacto com Itshaq. A palavra "pacto" ou aliança em
hebraico é berith e significa "um pacto feito com derramamento de
sangue". Era de domínio público que tal aliança não poderia ser
desfeita, a não ser que houvesse uma aliança superior àquela feita
entre eles. Isso implicaria em que deveria haver um sangue superior
ao que fora derramado pelo animal que seria sacrificado para selar o
pacto entre eles! Antes do pacto, haveria um juramento. Esta palavra
vem do termo hebraico ´alâ e significa "jurar, fazer um juramento
solene". Isso significa que ambos primeiro se comprometeram através
de suas palavras para depois concretizarem aquilo que fora dito
através do derramamento de sangue na morte de um animal.

A proposta de Abimeleq inclui os termos: “Haja agora juramento entre


nós, entre nós e ti; e façamos aliança contigo. Que não nos faças mal,
como nós te não temos tocado, e como te fizemos somente bem, e te
deixamos ir em paz”. Quando ele diz que os deixaria ir em paz, está
utilizando a palavra shalom em hebraico que significa "paz,
prosperidade, bem, saúde, inteireza, segurança". O que Abimeleq diz
é que Itshaq parte dentre eles com tudo o que lhe é de direito, mas
também com a ausencia de conflitos, com prosperidade – física,
mental e espiritual -, com inteireza e segurança totais! Novamente
ele confessa que Itshaq é bendito – barak – do Senhor. Aqui
novamente aparece o tetragrama (IHVH). Outra confissão de que
Aquele que se torna o que Itshaq necessita, tinha-lhe dado poder para
que ele se tornasse próspero, bem sucedido e fecundo! Tudo isso é
“selado” com um banquete! O banquete na antigüidade era usado a
fim de reconciliar-se pessoas inimigas. Neste caso a aliança foi
confirmada entre eles e os ânimos foram apaziguados através da
comunhão que tiveram quando comeram juntos.

Após este incidente, aparecem dois versículos, como se fossem um


apêndice ao texto nos dando informações sobre Esav. “Ora, sendo
Esaú da idade de quarenta anos, tomou por mulher a Judite, filha de
Beeri, heteu, e a Basemate, filha de Elom, heteu. E estas foram para
Iitshaq e Rivqah uma amargura de espírito” (Gn 26:34-35). Esav, de
forma contrária ao que certamente lhe fora ensinado, toma por
esposas mulheres que não temem – nem conhecem – ao Eterno D-us
de seus pais. Ele toma para si duas mulheres: Iehûdît, cujo nome
significa "judia"; na Tanach refere-se à língua usada pelos judeus;
pode também significar “louvada”. Temos ainda Basemat que
significa “especiaria”. Na raiz deste nome temos a palavra basãm
que significa "especiaria, tempero, perfume, cheiro ou aroma
agradável". O resultado está nas últimas palavras desde capítulo: elas
tornaram-se amargura de espírito para Iitshaq e Rivqah, pois
certamente conduziam Esav por caminhos que lhes desagradavam
profundamente! A palavra “amargura” vêm do termo hebraico morâ
que significa "mágoa". Isso é somente o reflexo das atitudes de um
filho que não honra seus pais. O resultado final da vida deste homem
será de uma grande oposição aos descendentes de seu irmão – Israel!

Na seqüência temos o pedido de Itshaq feito ao seu primogênito Esav


para lhe faça um guisado, a fim de que ele Itshaq possa abençoá-lo
antes de sua morte. Enquanto Esav sai para caçar o animal, Rivqah
chama Ia´aqov e fala-lhe sobre o que irá acontecer. Ela planeja o que
acontecerá então: “Agora, pois, filho meu, ouve a minha voz naquilo
que eu te mando: Vai agora ao rebanho, e traze-me de lá dois bons
cabritos, e eu farei deles um guisado saboroso para teu pai, como ele
gosta; E levá-lo-ás a teu pai, para que o coma; para que te abençoe
antes da sua morte” (Gn 27:8-10). Rivqah quer que Ia´aqov receba a
bênção de Itshaq seu pai e não Esav! A palavra "abençoe" em
hebraico é barak! Ela deseja que Ia´aqov receba o poder dado por
seu pai para ser próspero, bem sucedido e fecundo, pois certamente
ela consegue discernir que em Ia´aqov serão chamados os filhos de
Israel!

Ia´aqov argumenta com sua mãe dizendo: “Então disse Ia´aqov a


Rivqah, sua mãe: Eis que Esaú meu irmão é homem cabeludo, e eu
homem liso; Porventura me apalpará o meu pai, e serei aos seus
olhos como enganador; assim trarei eu sobre mim maldição, e não
bênção” (Gn 27:11-12). Ia´aqov temia ser amaldiçoado por seu pai
Itshaq. A palavra "maldição" em hebraico é qelalâ e exprime o "ser
afastado da escolha divina". Perceba que para Ia´aqov o ser incluído
nos planos do Eterno é o mesmo que ser amaldiçoado! Isso nos
mostra a força do relacionamento que havia entre o Eterno e Ia´aqov.
Ele não queria ser excluído dos planos que já haviam sido traçados na
Eternidade pelo Senhor! A resposta de Rivqah é ainda mais
contundente: “E disse-lhe sua mãe: Meu filho, sobre mim seja a tua
maldição; somente obedece à minha voz, e vai, traze-mos” (Gn
27:13). Rivqah assume o ônus da maldição, caso seu plano dê errado!

Ia´aqov faz conforme o que lhe é dito por sua mãe e tudo dá certo,
conforme ela planejou! O resultado é que Ia´aqov recebe uma das
mais belas e poderosas bênçãos que um homem pode receber em
sua vida: “Assim, pois, te dê Deus do orvalho dos céus, e das
gorduras da terra, e abundância de trigo e de mosto. Sirvam-te
povos, e nações se encurvem a ti; sê senhor de teus irmãos, e os
filhos da tua mãe se encurvem a ti; malditos sejam os que te
amaldiçoarem, e benditos sejam os que te abençoarem” (Gn 27:28-
29). Esta bênção é completa sobre a vida de Ia´aqov. Quem lhe daria
isso seria Ha Elohim O D-us Criador e inclui a provisão dos céus –
aquilo que a eternidade liberaria a fim de supri-lo no reino espiritual -
também a fartura e abundância da terra – produto de seu trabalho
que lhe seria dado pela terra onde ele estivesse. As “gorduras” da
terra viriam sobre ele. A palavra “gorduras” vem do termo hebraico
shamen e significa "gordura, riqueza". Na mesma raiz temos a
palavra shemen que significa "óleo", que era usado para unção. Aqui
a terra produz para ele de forma natural - a abundância de trigo e
mosto, que representam a provisão diária e a alegria de vida que
nunca cessaria de estar sobre ele e seus descendentes. Para Ia´aqov
a terra produziria segundo a sua própria “unção”; ou seja, o solo
devolveria à ele tudo o que lhe pertencia enquanto estivesse ligado à
Palavra obedientemente.

Há ainda algo mais profundo: o Eterno lhe outorga autoridade sobre


seus irmãos de tal forma que eles deveriam curvar-se diante dele!
Isso equivale a dizer que os judeus receberam autoridade sobre os
povos árabes – que são seus “irmãos” – e que estes devem curvar-se
à eles – gostem disso ou não - é o que deve ser feito! E a palavra
completa-se com uma “repetição” de Gênesis 12.3: “...malditos sejam
os que te amaldiçoarem, e benditos sejam os que te abençoarem”. A
palavra malditos – ou maldição – aqui é arar e significa "prender por
encantamento, cercar com obstáculos, deixar sem forças para
resistir”. Isso significa que todos os que amaldiçoam a Israel ou aos
judeus recebem como “prêmio” do Eterno a punição de serem presos
pelos encantamentos das trevas, além de serem cercados por vários
obstáculos e também serem deixados sem forças para resistir ao mal!
Isso tudo porque entram em conflito com aqueles que deveriam
abençoar - barak, pois quando isso acontece há uma reciprocidade no
reino do espírito e estas pessoas recebem poder para serem
prósperas, bem sucedidas e fecundas em todos os aspectos de sua
vida!

Foi justamente por isso que dissemos que esta bênção que foi dada a
Ia´aqov é uma das mais completas que existem nas Escrituras! Oxalá
todos nós possamos ter o real discernimento de que quando nos
posicionamos ao lado do Eterno abençoando a Israel e aos judeus, a
conseqüência é que somos liberados no mundo espiritual e
recebemos o poder que precisamos para triunfarmos! Quando nos
posicionamos do lado contrário, certamente estaremos muito
próximos de nossa derrota e da falência de nossos projetos, pois o
inferno terá livre acesso à nós através de nossa atitude para com
Israel!
Após Ia´aqov ter tomado a bênção de Esav, então acontece que
chega ao local em que está Iitshaq seu filho Esav e recebe a triste
notícia: “Então disse ele: Não é o seu nome justamente Jacó, tanto
que já duas vezes me enganou? A minha primogenitura me tomou, e
eis que agora me tomou a minha bênção. E perguntou: Não
reservaste, pois, para mim nenhuma bênção? Então respondeu
Iitshaq a Esaú dizendo: Eis que o tenho posto por senhor sobre ti, e
todos os seus irmãos lhe tenho dado por servos; e de trigo e de
mosto o tenho fortalecido; que te farei, pois, agora, meu filho? E disse
Esaú a seu pai: Tens uma só bênção, meu pai? Abençoa-me também
a mim, meu pai. E levantou Esaú a sua voz, e chorou. Então
respondeu Iitshaq, seu pai, e disse-lhe: Eis que a tua habitação será
nas gorduras da terra e no orvalho dos altos céus. E pela tua espada
viverás, e ao teu irmão servirás. Acontecerá, porém, que quando te
assenhoreares, então sacudirás o seu jugo do teu pescoço. E Esaú
odiou a Jacó por causa daquela bênção, com que seu pai o tinha
abençoado; e Esaú disse no seu coração: Chegar-se-ão os dias de luto
de meu pai; e matarei a Jacó meu irmão” (Gn 27:36-41).

Após o fato acima as relações entre Esav e Ia´aqov ficaram muito


abaladas, pois Esav agora queria somente a morte de Ia´aqov, pois
fora enganado pelo mesmo por duas vezes!

Sabendo disso Iitshaq envia Ia´aqov para Padã-Ara a fim de tomar


para si uma mulher de entre sua família! Itshaq não queria que Ia
´aqov seguisse os passos de Esav casando-se com uma mulher que
não conhecia ao Eterno. E quando ele envia a Ia´aqov suas palavras
novamente demonstram com quem estava a bênção do eterno: “E
Deus Todo-Poderoso te abençoe, e te faça frutificar, e te multiplique,
para que sejas uma multidão de povos; e te dê a bênção de Avraham,
a ti e à tua descendência contigo, para que em herança possuas a
terra de tuas peregrinações, que Deus deu a Avraham” (Gn 28:3-4). A
primeira coisa que Itshaq diz a Ia´aqov é que El-Shaday o faça
barak. Além disso ele chama sobre Ia´aqov a bênção da frutificação –
que em hebraico é parã – e significa "frutificar, ser fecundo,
ramificar". Isso nos dá a idéia de que através da descendência de Ia
´aqov, Israel se espalharia como ramos por toda a terra! Além disso o
Eterno os faria multiplicar onde quer que fossem “plantados”,
mantendo sempre o caráter de povo – "am" em hebraico. Esta
palavra é usada exclusivamente para designar o povo de Israel. Então
Israel se tornaria uma multidão de povos em todo o mundo! Isso
realmente cumpriu-se, pois hoje os judeus que voltam para Israel a
fim de comporem a nação provém de 127 diferentes nações do
mundo!

O restante da promessa nos fala que Israel possuiria a sua herança.


Eles receberiam as bênçãos de Avraham e também para que em
herança viessem a possuir a terra. A palavra "herança" é yarash e
significa "tomar posse de, desalojar, herdar, ocupar, apoderar-se".
Isso nos mostra que Israel receberia do Eterno a autoridade para
desalojar da terra todos aqueles que ali estavam, pois a mesma já
fora dada a Avraham como uma possessão eterna por Elohim – o
Criador dos céus e da terra!

Itshaq faz como lhe ordena seu pai e vai para Padã-Ara em busca de
uma esposa. Já Esav quando vê isso faz justamente o contrário:
“Vendo, pois, Esaú que Itshaq abençoara a Ia´aqov, e o enviara a
Padã-Arã, para tomar mulher dali para si, e que, abençoando-o, lhe
ordenara, dizendo: Não tomes mulher das filhas de Canaã; e que Jacó
obedecera a seu pai e a sua mãe, e se fora a Padã-Arã; vendo
também Esaú que as filhas de Canaã eram más aos olhos de Itshaq
seu pai, foi Esaú a Ismael, e tomou para si por mulher, além das suas
mulheres, a Maalate filha de Ismael, filho de Avraham, irmã de
Nebaiote” (Gn 28:6-9). Novamente fica explícito aqui que Jacó estava
honrando seus pais através da obediência. Já Esav fazia justamente o
contrário e certamente receberia o prêmio por tal atitude!

Que o D-us Eterno nos ajude a compreendermos que seus objetivos


jamais podem ser frustrados em tempo algum!

ayetse (Ele sai)

Tudo começa com a partida de Ia´aqov para uma nova localidade: “E


saiu Ia´aqov de Beer sheva, e se foi a Haran” (28.10). A Torah nos
informa que Ia´aqov saiu de Beer sheva – cujo significado em
hebraico é “poço dos sete” ou “poço do juramento”. É interessante
que o comentário feito sobre este verso nos diz o seguinte: O Midrash
(Yalkut § 117) objeta que as palavras - “E saiu Ia´aqov de Beer sheva,
e se foi a Haran” parecem supérfluas, já que Ia ´aqov se encontrava
até então em Beer sheva; bastava dizer “Ia´aqov foi a Haran”, e
explica: Quando um Tzadic (homem justo) sai da cidade, saem com
ele o brilho e a glória e o ornamento desta; por isso foi necessário
dizer: “E saiu Ia´aqov de Beer sheva”.

A aventura de Ia´aqov tem início com um sonho: ele pára a fim de


descansar e dormir em sua caminhada ao seu destino quando, de
repente, tem um sonho que muda a sua vida: “E sonhou: e eis uma
escada posta na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que os
mensageiros de Elohim subiam e desciam por ela; e eis que o IHVH
estava em cima dela, e disse: Eu sou o IHVH Elohim de Avraham teu
pai, e o Elohim de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei a ti
e à tua descendência; e a tua descendência será como o pó da terra,
e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em ti
e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra; e eis
que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei
tornar a esta terra; porque não te deixarei, até que haja cumprido o
que te tenho falado” (Gn 28:12-15).

Tudo começa com um sonho... É interessante notarmos que a


metodologia do Eterno é muitas vezes diferente da nossa em muitos
aspectos. Aqui Ele dá a Ia´aqov sua Palavra através de um sonho que
o acompanharia durante toda a sua vida dando-lhe a certeza de que o
Criador estaria sempre guiando seus passos por onde quer que ele
fosse! A palavra sonho é halam e significa sonhar. Sua raiz vem de
halam, que significa ser forte, saudável. Aqui aprendemos o quão
necessários são os sonhos! São eles que alimentam nossa vida
trazendo-nos a força e tornando-nos saudáveis! E os melhores sonhos
são justamente aqueles que nos são dados pelo Eterno! Quando isso
acontece, nós sonhamos os sonhos de D-us e isso torna nossa vida
plena de esperança, pois sabemos que estes sonhos realmente se
tornarão realidade!

Mas não é só isso: no sonho de Ia´aqov havia uma escada! A palavra


escada em hebraico é sullan. Ela vem da raiz salal que significa
"erguer, amontoar, exaltar". Ia´aqov no sonho vê os mensageiros de
D-us (malak Elohim - mensageiros do D-us Criador) subindo e
descendo por ela. Nós sabemos que os mensageiros são mensageiros
de D-us e tem a tarefa de nos trazerem os recados do Eterno a fim de
que possamos ser melhor guiados em nossa vida aqui na terra, além
de também nos guardarem de males que nos são invisíveis e de
perigos maiores que sozinhos não teríamos condições de enfrentar.

O Eterno através da escada fala a Ia´aqov sobre aquilo que Ele


mesmo fará com ele. A escada fala-nos sobre a exaltação, o
erguimento que viria à vida de Ia´aqov num futuro bem próximo! Isso
ocorreria no decorrer de vinte anos. Note que o próprio Criador está
no alto da escada (lugar de sua habitação) e que Ele mesmo fala com
Ia´aqov dizendo-lhe aquilo que muito em breve acontecerá em sua
vida. A presença dos mensageiros apenas anuncia que o IHVH está ali
(e também presente no dia-a-dia de Ia´aqov), além de enviar também
seus emissários a fim de cumprirem suas ordens na vida do próprio Ia
´aqov.

Agora, a palavra do IHVH para Ia´aqov é de identificação e de


promessa. Primeiro e Eterno diz ser IHVH – Eu me torno aquilo que me
torno – Ele se tornaria para Ia´aqov o socorro em cada uma de suas
necessidades. Ele ainda afirma que a terra - eretz - "terra, país" - na
qual ele se encontrava deitado, seria dada à sua semente zera -
"descendência física" - em possessão. O Eterno não promete a Ia
´aqov apenas um pequeno terreno ao redor de onde ele está, mas
sim um país inteiro, e esse seria o lugar onde os seus descendentes
viriam para ali habitar. O interessante é que esta palavra eretz na
Escritura seria futuramente usada para designar a terra de Israel! Isso
nos mostra que desde já o Eterno via em Ia´aqov e naquele lugar a
nação de Israel! O IHVH via aquilo que ainda não existia, mas que, no
decorrer dos anos seria manifesto na terra aquilo que já era uma
realidade no céu!

Agora vem o acréscimo, a promessa daquilo que o Eterno faria à


descendência de Ia´aqov: “E a tua descendência será como o pó da
terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e
em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da
terra” (Gn 28:14). O IHVH nos informa que a descendência de Ia´aqov
seria como o “pó da terra”. A palavra “pó” em hebraico é apar que
significa "poeira, terra chão, cinzas, argamassa". E a Escritura
completa dizendo que seriam pó da terra – eretz! Isso nos mostra
duas coisas: a primeira é que os descendentes de Ia´aqov formariam
a base da nação israelita, pois eles seriam como o “cimento” ou a
“argamassa” que uniria a nação como um todo. Ele usa o homem
como argamassa para juncá-lo à outros homens! Somente coisas
iguais podem ser unidas; homens que se juntam a outros homens
fazem um povo, que numa terra se tornam uma nação e que juntos
conquistam o mundo!

O Eterno já apontava para os descendentes de Ia´aqov e para as doze


tribos como o sustentáculo da nação que nasceria de seus próprios
filhos! Outra coisa é que eles seriam tão numerosos como a poeira!
Esta palavra nos fala do milagre que o Eterno faria a fim de
multiplicar seu povo como a poeira que se encontra no chão. Pense
em algo interessante: o Eterno já dizia que assim como a poeira o
povo judeu estaria em todo o lugar da terra! E isso hoje é uma
realidade!

O Eterno ainda diz a Ia´aqov que “...na tua descendência serão


benditas todas as famílias da terra”. Os descendentes físicos de Ia
´aqov zera trariam sobre a terra adamah - "solo, terra, homem", a
bênção do Eterno! Isto nos informa que através dos judeus o Eterno
estaria dando à cada homem – descendente de Adam, juntamente
com sua família, poder para ser próspero, bem sucedido e fecundo!
Este é o verdadeiro significado da palavra bênção – barak – em
hebraico!

O complemento do texto nos diz mais detalhadamente como seria


isso: “E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores,
e te farei tornar a esta terra; porque não te deixarei, até que haja
cumprido o que te tenho falado” (Gn 28:15). O IHVH estaria presente
na vida e nos caminhos de Ia´aqov para guardá-lo. A palavra aqui no
hebraico é shamar e significa "guardar, cuidar, observar, prestar
atenção". A idéia da raiz é “exercer grande poder sobre”. Isso nos fala
sobre a atitude do Eterno para com Ia´aqov que seria de acompanhá-
lo cuidadosamente em todos os seus caminhos, porém sempre
exercendo seu poder sobre sua vida, deixando assim claro àqueles
que estariam juntamente com ele que a presença e a aprovação do
Eterno estariam sempre presentes em sua vida. E isso seria tão claro
e óbvio que Ele ainda o faria voltar àquela terra onde o Eterno lhe
aparecera a fim de herdá-la perpetuamente! Ia´aqov tinha do Eterno
aquilo que todo o homem gostaria de receber: uma palavra certa e
segura de que Ele jamais o abandonaria! “...porque não te deixarei,
até que haja cumprido o que te tenho falado...”

Quando Ia´aqov acorda, ele percebe aquilo que lhe acontecera e faz
uma declaração tremenda: “E temeu, e disse: Quão terrível é este
lugar! Este não é outro lugar senão a casa de Elohim; e esta é a porta
dos céus” (Gn 28:17). Ia´aqov fala sobre o local como sendo “a casa
de D-us”. Em hebraico é beît "casa, lar, local, templo". Esta palavra é
usada no sentido de “habitação”. E o nome do Eterno aqui é Elohim –
o D-us Criador – que vem para reafirmar sua aliança com Ia´aqov.
Note que o lugar onde o Eterno se manifestou não era um templo
físico! O Eterno veio àquele lugar por causa de Ia´aqov! Não
importava o que ali havia, mas sim quem ali estava! O Eterno não se
importa com locais suntuosos e belos, mas sim com pessoas a quem
Ele precisa sensibilizar e trazer novamente a sua presença sobre elas
a fim de anunciar-lhes suas palavras!

Foi justamente por causa desta experiência que Ia´aqov deu o nome
de Betel àquele lugar. “E chamou o nome daquele lugar Betel; o
nome porém daquela cidade antes era Luz” (Gn 28:19). A palavra
Betel é um composto de beit + Elohim = bet El = Betel. Veja que os
prefixos das palavras foram usados a fim de formar-se uma nova
palavra com o mesmo significado: “Casa do D-us [Criador]”. Ele
completa dizendo: “e esta é a porta dos céus”. Aqui a palavra “porta”
vem do hebraico sha´ar e significa "porta (de uma cidade)". O sha´ar
era naturalmente o meio de acesso controlado a uma cidade murada.
Para Ia´aqov aquele lugar era a porta de acesso aos céus!

Aquele lugar onde Ia´aqov tivera seu encontro com o Eterno


chamava-se outrora Luz. A palavra luz em hebraico significa "apartar-
se, desviar-se". Ela vem de uma raiz lazut, que significa "afastamento,
desonestidade, tortuosidade". Isso condiz muito bem com a atual
condição de Ia´aqov, que era de suplantador, enganador. Em Luz, Ia
´aqov parece ter sua “parada” ideal, pois ali ele estaria se desviando
dos propósitos do Eterno – se não houvesse uma intervenção do
mesmo para mudar a situação. Isso nos mostra que quando
chegamos à Luz- o lugar onde provavelmente nos desviaríamos dos
propósitos do Eterno, Ele então intervém em nossas vidas para mudar
os rumos de nossa caminhada! Aqui já o Eterno mostrava a Ia´aqov
que muito em breve mudaria sua atual condição de “calcanhar do
IHVH” para um príncipe de D-us!

Agora, após esta série de acontecimentos na vida de Ia´aqov, ele faz


um voto ao Eterno dizendo: “E Ia´aqov fez um voto, dizendo: Se
Elohim for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der
pão para comer, e vestes para vestir; e eu em paz tornar à casa de
meu pai, o IHVH me será por Elohim; e esta pedra que tenho posto
por coluna será casa de Elohim; e de tudo quanto me deres,
certamente te darei o dízimo” (Gn 28:20-22). Notemos que aquilo que
Ia´aqov pede é justamente o básico para a vida quotidiana: ser
guardado pelo Eterno, ter o pão diário e o vestido com que se cobrir.
Agora um outro elemento é acrescentado: “em paz tornar à casa de
meu pai”. Esta palavra paz em hebraico é shalom e significa paz,
prosperidade, bem, saúde, inteireza e segurança. Se isso se
cumprisse em sua vida, então o IHVH seria e seu D-us (Elohim). Ia
´aqov pede ao Eterno que sua vida seja pautada justamente por estas
coisas: "paz, prosperidade, bem, saúde, inteireza, segurança e
saúde"! E ainda acrescenta: “...e de tudo quanto me deres,
certamente te darei o dízimo”. Veja que não há uma condição para Ia
´aqov dar o dízimo, mas sim um desejo de seu coração para que as
coisas assim sucedam! Ia´aqov já havia aprendido com seu pai que o
dízimo era uma atitude muito importante para que sua vida pudesse
ser bem sucedida! Quando desejamos shalom à alguém nós estamos
ministrando à essa pessoa paz, prosperidade, bem, saúde, inteireza e
segurança! Isso, não somente com o intuito de que essa pessoa tenha
aparentemente a prosperidade que é reconhecida pelos homens, mas
também que ela tenha dentro de si uma postura tal que quando o
Eterno cumprir isso em sua vida, seja em conseqüência de sua
obediência em todos os caminhos pelos quais esta pessoa andou!
Novamente queremos enfatizar que a prosperidade de Ia´aqov
somente foi possível por causa de sua obediência às instruções do
Eterno para sua vida! Sem obediência não há como alcançar o favor
do Eterno!

Agora, a Escritura nos informa que Ia´aqov chega ao seu destino, à


casa de Laban cujo nome significa branco, e que era seu tio. Quando
ele se depara com os servos de Laban e depois com Rahel, seu
coração exulta de alegria. “E aconteceu que, vendo Ia´aqov a Rahel,
filha de Laban, irmão de sua mãe, e as ovelhas de Laban, irmão de
sua mãe, chegou Ia´aqov, e revolveu a pedra de sobre a boca do
poço e deu de beber às ovelhas de Laban, irmão de sua mãe. E Ia
´aqov beijou a Rahel, e levantou a sua voz e chorou” (Gn 29:10-11).

Após este encontro, há ainda o encontro de Ia´aqov com Laban, que o


reconhece como parte de sua família: “E aconteceu que, ouvindo
Laban as novas de Ia´aqov, filho de sua irmã, correu-lhe ao encontro,
e abraçou-o, e beijou-o, e levou-o à sua casa; e ele contou a Laban
todas estas coisas. Então Laban disse-lhe: Verdadeiramente és tu o
meu osso e a minha carne. E ficou com ele um mês inteiro” (Gn
29:13-14). Isso causou uma grande alegria entre os familiares. Agora
eles tinham a oportunidade de conhecer a Ia´aqov. E ele ficou com
Laban e certamente foi se familiarizando com todas as coisas e já se
colocou à disposição para trabalhar com seu tio. Isso impressionou a
Laban que lhe diz o seguinte: “Depois disse Laban a Ia´aqov: Porque
tu és meu irmão, hás de servir-me de graça? Declara-me qual será o
teu salário” (Gn 29:15). Notemos que o Eterno dá a Ia´aqov a
oportunidade de estipular quais seriam seus ganhos a por quanto ele
trabalharia mensalmente. E isto só foi possível por causa da
obediência de Ia´aqov que moveu a mão do Eterno a fim de que Ele
pusesse na boca de Laban estas palavras!

Agora Ia´aqov diz aquilo que está em seu coração: “E Ia´aqov amava
a Rahel, e disse: Sete anos te servirei por Rahel, tua filha menor” (Gn
29:18). Ia´aqov mesmo estipula o tempo pelo qual ele trabalhará a
fim de casar-se com Rahel, sua prima. O nome Rahel significa
“ovelha”. Ele fala sobre sete anos, e isso nos mostra que ele haveria
de fechar um ciclo, completar um período para então poder possuir
aquilo que estava em seu coração: Rahel! Quando se cumpriram os
sete anos que Ia´aqov determinou, então veio o tempo do casamento
e o que aconteceu foi isso: “E disse Ia´aqov a Laban: Dá-me minha
mulher, porque meus dias são cumpridos, para que eu me case com
ela. Então reuniu Laban a todos os homens daquele lugar, e fez um
banquete. E aconteceu, à tarde, que tomou Leah, sua filha, e trouxe-a
a Ia´aqov que a possuiu. E Laban deu sua serva Zilpah a Leah, sua
filha, por serva. E aconteceu que pela manhã, viu que era Leah; pelo
que disse a Laban: Por que me fizeste isso? Não te tenho servido por
Rahel? Por que então me enganaste?” (Gn 29:21-25). Ia´aqov
trabalha por Rahel mas casa-se com Leah! Isso porque o costume
local era dar em casamento primeiro a filha mais velha e depois a
mais nova! Por não ter lhes perguntado sobre seus costumes, Ia´aqov
então recebe como esposa a Leah. E quando ele “acorda” de sua
noite de núpcias, o que pergunta a Laban? “...Não te tenho servido
por Rahel? Por que então me enganaste?” A palavra "enganar" em
hebraico é ramâh e significa "iludir, enganar, desorientar". Veja que Ia
´aqov fala sobre sua própria atitude no passado para com seu irmão
Esav! Ia´aqov, que nos passado enganara seu irmão por duas vezes,
aproveitando-se de suas fraquezas, agora recebe na mesma medida
de seu tio Laban! Novamente somos ensinados que “aquilo que
plantarmos, isso colheremos”. Essa é uma lei espiritual válida ainda
para os nossos dias!

Após as devidas explicações, Ia´aqov então se “conforma” com sua


situação e volta ao trabalho, a fim de “pagar” por Rahel! Ia´aqov
cumpre a semana de Leah e então recebe por mulher a Rahel, a
quem ama com todas as suas forças! O que acontece então é
tremendo: “E Ia´aqov fez assim, e cumpriu a semana de Leah; então
lhe deu por mulher Rahel sua filha. E Laban deu sua serva Bilah por
serva a Rahel, sua filha. E possuiu também a Rahel, e amou também
a Rahel mais do que a Leah e serviu com ele ainda outros sete anos.
Vendo, pois, o IHVH que Leah era desprezada, abriu a sua madre;
porém Rahel era estéril” (Gn 29:28-31).

O que estava acontecendo aqui? Ia´aqov amava tanto a Rahel que


passou a desprezar a Leah e isso não foi bom aos olhos do Eterno. Ia
´aqov recebera aquilo que lhe era de direito! Ele havia plantado e
agora recebera os frutos de suas atitudes anteriores. Por não agir
corretamente com Leah, o Eterno então faz com que Rahel seja
estéril. Aqui tem início uma grande luta de Ia´aqov com suas esposas
a fim de gerar seus filhos!

O primeiro nascimento ocorrido na família de Ia´aqov foi de seu filho


Rúben. “E concebeu Leah, e deu à luz um filho, e chamou-o Rúben;
pois disse: Porque o IHVH atendeu à minha aflição, por isso agora me
amará o meu marido” (Gn 29:32). A palavra conceber em hebraico é
harâh e significa conceber, ser progenitora. Isso nos dá a medida
daquilo que estava acontecendo entre as irmãs Leah e Rahel. Quando
Leah dá à luz à esta criança, seu nome reflete o seu momento e
também o seu desejo: Reuven significa “Eis um filho” ou também
“[IHVH] viu a minha aflição”. Novamente percebemos que havia uma
disputa “interna” na família de Ia´aqov para dar-lhe filhos. Isso ocorria
entre as duas irmãs que “disputavam” o amor de seu marido. A
palavra “atender” em hebraico é ra’a e seria melhor traduzida por
ver, olhar, inspecionar. Isso nos mostra que o Eterno olhou para Leah
e tornou-se para ela seu maior desejo: a concepção de um filho!

Primeiro aconteceu do Eterno olhar para Leah, agora outra coisa


acontece: “E concebeu outra vez, e deu à luz um filho, dizendo:
Porquanto o IHVH ouviu que eu era desprezada, e deu-me também
este. E chamou-o Simeão” (Gn 29:33). Novamente Leah engravida e
concebe, dando à Ia´aqov outro filho cujo nome destaca a situação
vivida por eles; ali está o reflexo daquilo que se passa entre eles:
Leah diz que IHVH ouviu-a. A palavra traduzida por “ouvir” é shama e
significa ouvir, escutar. Naturalmente a criança recebe o nome de
Shimeon, que significa ouvindo! Isso demonstra que o Eterno
continua ouvindo o clamor de Leah quanto à sua vida conjugal e que
a resposta do Eterno é um outro filho!

Mas as bênçãos de Leah não terminam aí: “E concebeu outra vez, e


deu à luz um filho, dizendo: Agora esta vez se unirá meu marido a
mim, porque três filhos lhe tenho dado. Por isso chamou-o Levi” (Gn
29:34). Agora a esperança de Leah é que Ia´aqov esteja
definitivamente junto à ela! Os filhos que Leah dá a Ia´aqov ainda não
conseguiram trazer o amor dele para ela! Ainda há no coração de Ia
´aqov a preferência por sua irmã Rahel! E isso fica claro pelos nomes
que Leah põe em seus filhos. O último, Levi, significa "junto",
refletindo sua esperança de ter seu marido junto de si.

Agora já há uma mudança na postura de Leah quanto à sua relação


com seu marido: “E concebeu outra vez e deu à luz um filho, dizendo:
Esta vez louvarei ao IHVH. Por isso chamou-o Judá; e cessou de dar à
luz” (Gn 29:35). Agora percebemos que na fala de Leah há algo de
diferente! Ela diz louvarei ao IHVH! A palavra "louvar" em hebraico é
yadâ e significa confessar, louvar, dar graças, agradecer. A palavra
enfatiza “reconhecimento” e a “declaração de um fato” seja ele bom
ou mau. Aqui Leah fala sobre seu reconhecimento de quem é o
Eterno! Ela confessa, louva, dá graças, agradece ao IHVH (IHVH –
Aquele que se torna aquilo que ela precisa) por mais este filho! O
nome que a criança recebe é também muito sugestivo: Iehuda que
significa louvor! Esta palavra vem da raiz yahad que significa tornar-
se judeu. Este filho prenuncia quem seria o povo escolhido do Eterno
e também o seu nome!Temos algo interessante neste ponto, pois
quando retiramos a letra dalet da palavra Iehuda, temos como
resultado o tetragrama (IHVH); já o nome “dalet” em hebraico
significa “porta”. Isso nos faz concluir que Iehuda é a porta de acesso
ao Eterno! É justamente por isso que a frente será dito que o
Mashiach virá da tribo de Iehuda, pois ele se tornará a porta de
acesso ao IHVH! Isso está claramente dito na Brit Hadasha na
seguinte passagem: “Tornou, pois, Ieshua a dizer-lhes: Em verdade,
em verdade vos digo que eu sou a porta das ovelhas. Todos quantos
vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não
os ouviram. Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e
entrará, e sairá, e achará pastagens” (Jo 10:7-9).

Agora tem início uma nova fase na vida da família de Ia´aqov: “Vendo
Rahel que não dava filhos a Ia´aqov, teve inveja de sua irmã, e disse
a Ia´aqov: Dá-me filhos, se não morro. Então se acendeu a ira de Ia
´aqov contra Rahel, e disse: Estou eu no lugar de Elohim, que te
impediu o fruto de teu ventre?” (Gn 30:1-2). Aqui fica claro que Rahel
pensa que o problema está na vontade de Ia´aqov em ter um filho
através dela! No hebraico temos a seguinte ordem: “... dá-me filhos,
ou senão estou morta eu”. A tradição judaica diz o seguinte sobre
isso: “Quatro pessoas consideram-se como mortas, nos disse o Rabi
Samuel Bar Nahamani: o cego, o leproso, quem não tem filhos e o
pobre. Os três primeiros vivem em constante sofrimento físico e
moral, e o quarto é realmente como se não existisse (Yalcut 127).

Ia´aqov lhe responde de maneira taxativa: “... Estou eu no lugar de


Elohim...” A palavra aqui é Elohim – O Criador. Ia´aqov sabia que
humanamente nada poderia ser feito por Rahel, e caso não houvesse
uma intervenção do Eterno sobre ela, seria impossível haver a
concepção e a geração de filhos!

Rahel então age de forma a tentar “ajudar” ao Eterno: ela dá a Ia


´aqov sua serva Bilah, cujo nome significa “problemática”; em sua
raiz temos balah que significa “problema” e também balahâ que
significa terror, destruição. Ela foi escolhida por Rahel para que
concebesse em seu lugar! “Assim lhe deu a Bilah, sua serva, por
mulher; e Ia´aqov a possuiu” (Gn 30:4). Bilah aqui ocupa o lugar de
Rahel na tenda deles como sua esposa! A criada tem o privilégio de
coabitar com seu IHVH e desta relação nasce um filho: “Então disse
Rahel: Julgou-me Elohim, e também ouviu a minha voz, e me deu um
filho; por isso chamou-lhe Dan” (Gn 30:6). Rahel reconhece que está
sendo “julgada” pelo Eterno com o nascimento deste filho, por isso
seu nome é Dan, que significa juiz.
E novamente Bilah faz as vezes de sua patroa e outra vez concebe.
Desta vez é sob outra perspectiva que Rachel enxerga isso: “Então
disse Rahel: Com lutas de Elohim tenho lutado com minha irmã;
também venci; e chamou-lhe Naftali” (Gn 30:8). Aqui a palavra D-us é
Elohim e demonstra que seu conflito com o Criador ainda não acabou!
E o nome da criança é Naftali que significa "lutando"!

Agora vemos a reação de Leah quanto à atitude de Rahel: ela


também dá à seu marido sua serva Zilpah, que significa "enganadora,
trapaceira", a fim de que ela também conceba. “Vendo, pois, Leah
que cessava de ter filhos, tomou também a Zilpah, sua serva, e deu-a
a Ia´aqov por mulher” (Gn 30:9). Novamente a serva da esposa de Ia
´aqov assume o papel de esposa a fim de gerar filhos para ele. O que
aconteceu foi que Zilpah engravida e dá à luz a um filho. “Então disse
Leah: Afortunada! e chamou-lhe Gade” (Gn 30:11). Leah vislumbra o
ocorrido e chama-a afortunada (sortuda) pois ela concebe
rapidamente à um filho. E o seu nome é Gad, que significa "fortuna
(sorte)". Novamente Zilpah concebe e dá a Ia´aqov outro filho:
“Depois deu Zilpah, serva de Leah, um segundo filho a Ia´aqov. Então
disse Leah: Para minha ventura; porque as filhas me terão por bem-
aventurada; e chamou-lhe Aser" (Gn 30:12-13). A alegria de Leah é
incontida, pois Zilpah dá outro filho a Ia´aqov e por isso seu nome é
Asher, que significa "feliz"!

Agora nasce outro filho a Leah. Ela diz o seguinte: “E ouviu Elohim a
Leah, e concebeu, e deu à luz um quinto filho” (Gn 30:17). A palavra
traduzida por ouvir é shama e significa ouvir, escutar. Novamente, o
nome de seu filho demonstra o que ele significa para ela. “Então
disse Leah: Elohim me tem dado o meu galardão, pois tenho dado
minha serva ao meu marido. E chamou-lhe Issacar” (Gn 30:18). Leah
considerava que Elohim – o D-us Criador – estava lhe recompensando
através de sua serva – que fazia também o papel de esposa de Ia
´aqov – e então chamou ao menino Issacar, que significa galardão. O
Eterno ainda continua a dar filhos a Leah. O próximo filho que ela tem
é Zevulun, e pode significar “honra”, pois em sua raiz temos a
palavra zaval que significa "exaltar, honrar". Essa criança mostra a
esperança que Leah tinha de que seu marido habitasse com ela! O
que havia no coração de Ia´aqov era justamente uma divisão de seu
amor para com suas esposas. Porém, Ia´aqov ainda amava Rahel
muito mais do que Leah...

Suas palavras são estas: “E disse Leah: Elohim me deu uma boa
dádiva; desta vez morará o meu marido comigo, porque lhe tenho
dado seis filhos. E chamou-lhe Zebulom” (Gn 30:20). E como
complemento teve também uma filha, à qual colocou o nome de
Dinah. “E depois teve uma filha, e chamou-lhe Dinah” (Gn 30:21). O
nome Dinah vem da raiz hebraica din que significa “julgar”. Dinah
significa “julgada”. Leah sabe que tudo o haveria de acontecer-lhe já
tinha ocorrido e os filhos que tivera serviam como marcos em sua
vida e em seu relacionamento com Ia´aqov. Ela bem sabia que
poderia dar à Ia´aqov todos os filhos que pudesse, porém ela nunca
iria conquistar de fato o seu coração como havia feito sua irmã Rahel.

Neste ponto, Ia´aqov já está com onze filhos. Parece um número até
exagerado, mas para os planos de D-us ainda falta algo. Este é o
momento em que o Eterno se lembra de Rahel e atende ao seu
clamor. “E lembrou-se Elohim de Rahel; e Elohim a ouviu, e abriu a
sua madre” (Gn 30:22). A palavra “lembrar-se” em hebraico é zakar e
significa "pensar, meditar, dar atenção a, recordar". A palavra aqui é
Elohim – o D-us Criador. Percebemos que o próprio Criador se
manifesta à Rahel abrindo-lhe a madre a fim de que ela pudesse
conceber. O Eterno interveio em sua vida e o resultado dessa
intervenção aparece de forma esplêndida: “E chamou-lhe José,
dizendo: O IHVH me acrescente outro filho” (Gn 30:24). O nome dado
à José é sugestivo, pois fala sobre sua ansiedade em ter outros filhos.
O nome Iosef significa "acrescentar, aumentar".

Neste ponto terminam os nascimentos dos filhos de Ia´aqov e tem


início o período de regresso da família para a terra que o Eterno havia
prometido dar à Ia´aqov e aos seus descendentes.

Ia´aqov pleiteia com Laban sua “liberdade” e também a de sua


família. “Dá-me as minhas mulheres, e os meus filhos, pelas quais te
tenho servido, e ir-me-ei; pois tu sabes o serviço que te tenho feito”
(Gn 30:26). Para Laban, esta palavra de Ia´aqov não é muito boa, pois
ele mesmo tem sido extremamente abençoado e tem enriquecido
muito por causa de Ia´aqov. Laban tentará defender seus interesses
pessoais à todo o custo a fim de não perder esta maravilhosa “fonte”
de bênçãos que tem em suas terras consigo!

Sua argumentação é a seguinte: “Então lhe disse Laban: Se agora


tenho achado graça em teus olhos, fica comigo. Tenho
experimentado que o IHVH me abençoou por amor de ti” (Gn 30:27).
As palavras de Laban refletem aquilo que ele tem experimentado. Ele
diz que o IHVH – IHVH – Aquele que se torna aquilo que ele precisa, o
tem abençoado – barak – que em hebraico significa, dar poder à
alguém para ser próspero, bem sucedido e fecundo. Laban tem a
perfeita consciência de que o Eterno tem lhe dado muitas riquezas
justamente por causa de Ia´aqov! Ele inclusive usa o nome do Eterno
que fala sobre tornar-se aquilo que o homem precisa a fim de ser
suprido, pois ele bem sabe o que ele tem feito a Ia´aqov e como,
mesmo assim, o Eterno lhe tem abençoado! O israelita tem
constituído um fator de progresso e de bênção onde vive. Ativo e
laborioso, destaca-se no comércio, nas ciências e na cultura. O sultão
Bajazet 11 da Turquia, recebendo os israelitas expulsos pela fanática
Espanha, em 1492, disse estas palavras: “Não considero o Rei
Fernando de Espanha um homem inteligente pois, enviando os
judeus, empobrece o seu país e enriquece o meu”.
Após uma conversa entre eles fica estabelecido o novo “salário” de Ia
´aqov para seu trabalho: “E disse mais: Determina-me o teu salário,
que to darei. Então lhe disse: Tu sabes como te tenho servido, e como
passou o teu gado comigo. Porque o pouco que tinhas antes de mim
tem aumentado em grande número; e o IHVH te tem abençoado por
meu trabalho. Agora, pois, quando hei de trabalhar também por
minha casa? E disse ele: Que te darei? Então disse Ia´aqov: Nada me
darás. Se me fizeres isto, tornarei a apascentar e a guardar o teu
rebanho; passarei hoje por todo o teu rebanho, separando dele todos
os salpicados e malhados, e todos os morenos entre os cordeiros, e
os malhados e salpicados entre as cabras; e isto será o meu salário.
Assim testificará por mim a minha justiça no dia de amanhã, quando
vieres e o meu salário estiver diante de tua face; tudo o que não for
salpicado e malhado entre as cabras e moreno entre os cordeiros,
ser-me-á por furto. Então disse Laban: Quem dera seja conforme a
tua palavra” (Gn 30:28-34). Então vejamos: o salário de Ia´aqov
seriam os animais salpicados, malhados e morenos (marrons)! Ia
´aqov então determina que este seria seu salário e tudo o que
nascesse com esta aparência de agora por diante lhe seria por
pagamento!

Após terem feito este acordo, então Ia´aqov sai para longe de Laban
e tem início a estratégia de D-us a fim de tornar Ia´aqov ainda mais
rico que Laban através deste rebanho.

A estratégia consistia no seguinte: “Então tomou Ia´aqov varas


verdes de álamo e de aveleira e de castanheiro, e descascou nelas
riscas brancas, descobrindo a brancura que nas varas havia, e pôs
estas varas, que tinha descascado, em frente aos rebanhos, nos
canos e nos bebedouros de água, aonde os rebanhos vinham beber,
para que concebessem quando vinham beber. E concebiam os
rebanhos diante das varas, e as ovelhas davam crias listradas,
salpicadas e malhadas. Então separou Ia´aqov os cordeiros, e pôs as
faces do rebanho para os listrados, e todo o moreno entre o rebanho
de Laban; e pôs o seu rebanho à parte, e não o pôs com o rebanho de
Laban” (Gn 30:37-40). Ia´aqov separou três tipos de varas às quais
descascou em listras a fim de fazer com que o rebanho concebesse
conforme via diante de si as varas listradas!

Vamos considerar duas coisas aqui: a palavra “vara” vem do hebraico


maqel e significa "vara, bastão, cetro". Em sua raiz temos:

Miqlat – refúgio, asilo. Este substantivo denota o local para onde uma
pessoa se refugiava do vingador de sangue.

Miqla´at – entalhe, escultura.

Qanah – obter, adquirir, criar; também com quinian, que significa


riquezas!
A palavra “verde” vem do hebraico lah que significa "úmido, fresco,
novo". Qual era a intenção do Eterno ao dar a Ia´aqov esta
estratégia? Não seria a de retira-lo do refúgio, do asilo da
“escravidão” em que vivia servindo a Laban? Por isso o Eterno estava
“entalhando”, “esculpindo” (moldando) a sua vida para que ele
tivesse agora condições de obter, adquirir riquezas! E isso seria algo
extremamente novo e inusitado para todos!

As varas são de três tipos diferentes de árvores: álamo, aveleira e


castanheira. Primeiro devemos considerar que Ia´aqov descobriu a
brancura das varas. No original está escrito que Ia´aqov expôs a
Laban – branco – das varas. Isso significa que no mundo espiritual
Laban estava sendo exposto diante do rebanho; retirou-se dele aquilo
que o ocultava. Assim sua personalidade ficou visível à todos os
animais do rebanho! Quando Ia´aqov fez isso, no reino espiritual ele
estava realmente deixando Laban enfraquecido por estar lhe tirando
sua cobertura em que confiava!

As varas representam aspectos da vida de Ia´aqov:

Álamo (em hebraico, libne) – tem um tronco alto e pode crescer até a
altura de aproximadamente 33 metros. Tem uma resina branca que
produz uma fragrância agradável na primavera. Na raiz desta palavra
temos o termo lebena, que significa “tijolo”. A maioria dos usos deste
termo ocorre em contextos que mostram a fatiga e a futilidade dos
esforços humanos!

Aveleira (ou amendoeira, em hebraico luz) – é uma planta de copa


grande e fechada e produz flores brancas e ricas em néctar. Produz
uma resina cheirosa e era usada para fazer o incenso. A raiz significa
também apartar-se, desviar-se.

Castanheira (em hebraico ermon) - é uma árvore alta e se apóia num


tronco largo – de aproximadamente 3 metros de diâmetro e possui
uma resina escamada. Pode ser encontrada nas florestas de altitude
do Monte Carmelo. Em sua raiz temos também o termo ´arom que
significa ter cuidado, acautelar-se, receber conselho astuto.

Estas árvores nos falam sobre aquilo que Ia´aqov estava profetizando
através de sua atitude. A isso chamamos de “ato profético”. Ia´aqov
queria que seu rebanho tivesse estes aspectos: fosse um rebanho que
produzisse um cheiro agradável através de sua grande quantidade.
Seria tão grande que todos o veriam, assim como o álamo que de tão
alto chama para si a atenção de todos os que estão nas redondezas.
Outro aspecto está associado à amendoeira, que é a primeira árvore
que desperta na primavera. Assim como acontecia com esta árvore,
que seu rebanho “despertasse” e procriasse de forma a multiplicar-se.
Seriam belos animais, que quando oferecidos ao Eterno seriam tidos
como um “cheiro suave”, assim como o incenso que era queimado e
produzia este aroma suave nas narinas do Eterno. Quanto à sua base,
que se apoiassem em algo largo e sólido, ou seja, que a saúde do
rebanho fosse tamanha, que nada doente ou defeituoso fosse
produzido por eles. Eles deveriam sempre estar nos lugares altos,
dominando, assim como a castanheira que nasce nos altos do Monte
Carmelo!

Isso tudo nos fala sobre a estratégia de Ia´aqov e seus resultados: as


varas produziam rebanhos conforme as características descritas
acima. Veja o que diz a Palavra: “E sucedia que cada vez que
concebiam as ovelhas fortes, punha Ia´aqov as varas nos canos,
diante dos olhos do rebanho, para que concebessem diante das
varas” (Gn 30:41).

A reação dos filhos de Laban não foi muito positiva à estratégia de Ia


´aqov, assim como também Laban já não tinha para com ele tão bons
olhos... “Então ouvia as palavras dos filhos de Laban, que diziam: Ia
´aqov tem tomado tudo o que era de nosso pai, e do que era de
nosso pai fez ele toda esta glória. Viu também Ia´aqov o rosto de
Laban, e eis que não era para com ele como anteriormente" (Gn 31:1-
2). Ia´aqov agora é acusado de roubo, pois os filhos de Laban dizem
que Ia´aqov fez sua fortuna “tomando” aquilo que pertencia à Laban.
Eles não se lembram – ou não reconhecem – o pacto que havia sido
feito entre seu pai e Ia´aqov!

Mediante esta situação, Ia´aqov recebe então uma palavra do IHVH


que define o caminho a ser seguido: “E disse o IHVH a Ia´aqov: Torna-
te à terra dos teus pais, e à tua parentela, e eu serei contigo” (Gn
31:3). A reação de Ia´aqov é ajuntar a sua família e explicar-lhes o
que deve ser feito para que possam então sair das terras de Laban e
retornarem às terras que o Eterno deu por possessão à Avraham e
seus descendentes. As próprias filhas de Laban concordam que assim
seja feito e eles então partem de volta à casa de Ia´aqov!

Quando Laban descobre o que aconteceu, ele e seus servos partem à


caça de Ia´aqov e sua família. “E no terceiro dia foi anunciado a
Laban que Ia´aqov tinha fugido” (Gn 31:22). Aqui a palavra traduzida
por fugir é barah e significa "fugir, escapar, sair depressa". Isso
demonstra que Ia´aqov e seus familiares saíram das terras de Laban
de forma sorrateira e sem avisar a ninguém!

Laban então recebe uma palavra do D-us de Ia´aqov a fim de nada


fazer-lhe de mal. Isso realmente salva a vida de Ia´aqov e de seus
familiares! “Veio, porém, Elohim a Laban, o arameu, em sonhos, de
noite, e disse-lhe: Guarda-te, que não fales com Ia´aqov nem bem
nem mal. Alcançou, pois, Laban a Ia´aqov, e armara Ia´aqov a sua
tenda naquela montanha; armou também Laban com os seus irmãos
a sua, na montanha de Gileade. Então disse Laban a Ia´aqov: Que
fizeste, que me lograste e levaste as minhas filhas como cativas pela
espada? Por que fugiste ocultamente, e lograste-me, e não me fizeste
saber, para que eu te enviasse com alegria, e com cânticos, e com
tamboril e com harpa? Também não me permitiste beijar os meus
filhos e as minhas filhas. Loucamente agiste, agora, fazendo assim.
Poder havia em minha mão para vos fazer mal, mas o Elohim de
vosso pai me falou ontem à noite, dizendo: Guarda-te, que não fales
com Ia´aqov nem bem nem mal” (Gn 31:24-29).

Após este encontro, Ia´aqov faz um pacto com Laban e eles seguem
sua caminhada até a terra de seu pai Isaque. Enquanto seguiam para
lá, Ia´aqov tem outro encontro que traz um grande impacto à sua
vida: “Ia´aqov também seguiu o seu caminho, e encontraram-no os
mensageiros de Elohim. E Ia´aqov disse, quando os viu: Este é o
exército de Elohim. E chamou aquele lugar Maanaim” (Gn 32:1-2). Ia
´aqov teve então a certeza de que os exércitos do D-us eterno
estavam-no acompanhando a fim de protegê-los e orientá-los quando
assim fosse necessário. Nota-se de certo modo uma semelhança nos
acontecimentos que ocorreram a Ia´aqov e com o povo israelita.

Ia´aqov volta à sua terra natal após passar grandes penúrias e dias
difíceis. Longos anos ele teve que trabalhar para construir seu lar.
Vezes e mais vezes o enganaram e o roubaram. Porém a tudo se
sobrepôs, e por fim teve de voltar a seu país. Este é o problema da
Diáspora em geral. Ia´aqov não conseguiu construir seu lar definitivo,
pois este, igual à Sucá, símbolo da morada do “Galut”, não pode
subsistir por longo prazo. Esta é a triste realidade, à qual não
devemos esquecer.

Novamente fica claro que a intenção do Eterno para com Ia´aqov e


seu família é de realmente abençoá-los, pois seus caminhos estão
sendo guardados e confirmados pelos mensageiros do Eterno!

Aprendamos pois que o Eterno tem planos bem definidos, e que,


mesmo quando estamos fora de nossos domínios originais, o eterno
nos fará vencedores, ainda que tenhamos como “patrão” a um Laban,
que tenta sempre novamente levar vantagem sobre nós! Atentemos
para o detalhe: Ia´aqov somente conseguiu tornar-se um homem rico
e poderoso porque ele obedeceu ao Eterno naquilo que lhe era dito.
Por isso, se queremos receber algo do IHVH a chave para isso é a
obediência incondicional à sua voz e à sua Palavra!

Que o Eterno nos ajude a cumprirmos aquilo que está em seu


coração!

Vayishlach (Ele envia)


Ia´aqov envia seus mensageiros que o precederiam para avisarem e
prepararem a Esav a fim de que eles não fossem tidos como
invasores e também para que o coração de seu irmão Esav fosse
“preparado” para sua chegada. “E enviou Ia´aqov mensageiros
adiante de si a Esav, seu irmão, à terra de Seir, território de Edom. E
ordenou-lhes, dizendo: Assim direis a meu senhor Esav: Assim diz Ia
´aqov, teu servo: Como peregrino morei com Laban, e me detive lá
até agora” (Gn 32:3-4).

Está escrito que Ia´aqov envia mensageiros a Esav. A palavra


“enviar” vem do termo hebraico shalah que significa "enviar, mandar
embora, deixar ir". Já a palavra “mensageiros” vem de um outro
termo hebraico que é malachim que significa "mensageiro,
representante, anjo". Certamente estas palavras são inadequadas
para descrever as tarefas desempenhadas pelo malaq na Tanach.

Levar uma mensagem;

Desincumbir-se de uma outra atividade específica;

Representar de modo oficial aquele que o enviara.

Percebemos então o que Ia´aqov havia feito: ele despachara, enviara


seus representantes oficiais a fim de que pudessem encontrar-se
antes com Esav dando-lhe notícias oficiais sobre si mesmo. Eles
funcionariam como uma “comitiva” que precede um rei que chega de
retorno à sua terra! É interessante notarmos que momentos antes ele
encontrara-se com anjos de D-us e agora ele parece “despacha-los”
para que o precedam em seu encontro com seu irmão!

São usados alguns termos interessantes por Ia´aqov, pois a Torah diz
que ele enviou os “mensageiros” à terra de Seir, onde a palavra terra
é eretz que significa "terra, cidade (estado), mundo". Já a palavra
Seir vem de uma raiz que significa "cabeludo, peludo". Ele ainda fala
sobre “território de Edom”. A palavra “território” vem do termo
hebraico sadeh que significa "campo, campina, chão, terras". Temos
ainda a palavra “Edom” que em hebraico significa “vermelho”.
Percebemos então que Ia´aqov enviara seus mensageiros à terra,
mundo – eretz – do “cabeludo” (Esav), aos domínios menores –
campo, campina, terra, chão daquele que recebera o apelido de
“vermelho”. Isso demonstra que Ia´aqov estava na realidade
enviando “anjos” para prepararem seu caminho, pois certamente ele
“reconquistaria” a terra que lhe pertencia por direito de herança, mas
que agora era chamada pelos nomes de seu irmão justamente por
causa desua longa ausência ali! Sempre que os judeus ficaram longos
períodos ausentes de sua terra os seus inimigos tentaram “desfigura-
la” dando-lhes outros nomes! Mas ela sempre retornou ao seu nome
original: Israel!
Ia´aqov ordena à seus servos que vão a Esav com uma mensagem
específica. A palavra "ordenar" é tsawâ e significa "ordenar,
incumbir". A raiz da palavra indica a instrução de um pai para seu
filho; de um rei para seus servos. Isso nos mostra que o
relacionamento de Ia´aqov para com seus servos era muito
agradável, porém firme. Não havia abuso de autoridade –
autoritarismo – e também não havia a desobediência –
insubordinação – mas havia um relacionamento em que os servos
procuravam obedecer e atender ao seu senhor para que todas as
coisas pudessem caminhar de forma agradável, sem maiores
problemas.

Após o encontro com Esav, os servos de Ia´aqov voltam com o relato


daquilo que aconteceu. “E os mensageiros voltaram a Ia´aqov,
dizendo: Fomos a teu irmão Esav; e também ele vem para encontrar-
te, e quatrocentos homens com ele” (Gn 32:6). Novamente aqui a
palavra “mensageiros” em hebraico é malak e significa "mensageiro,
representante, anjo". Eles retornam à Ia´aqov com um relato daquilo
que presenciaram: o próprio Esav os recebera e vinha até a eles com
um “exército” de quatrocentos homens! Mas, qual seria o motivo para
que Esav viesse com todo esse aparato para encontrá-lo? O que
estaria passando pela cabeça de Esav? Teria ele ainda grandes
ressentimentos pelo que Ia´aqov no passado havia feito à ele? Essas
e outras perguntas devem ter passado pela mente de Ia´aqov quando
recebe essa notícia.

O fato de Esav vir com 400 homens nos desperta algo: por que
deveriam ser justamente 400? Neste número temos o número 4 que
representa o mundo e isso parece apontar para uma “recepção” de
volta de todo o mundo para Ia´aqov! Isso realmente aconteceu
quando o eterno usou a ONU para fazer com que Israel retornasse à
sua terra! Também nos é apresentado o número 40 que é o número
da provação! Apesar da volta e da recepção, ele não deixaria de ser
novamente “provado” pelo Eterno em sua alma! A recepção de Esav
nos revela que mesmo os maiores inimigos receberiam Israel e
futuramente haveriam de se curvar à eles de forma espetacular, pois
a autoridade foi dada não a Evav, mas sim a Ia´aqov!

Mas, o primeiro sentimento que vem à tona em Ia´aqov nos é


revelado: “Então Ia´aqov temeu muito e angustiou-se; e repartiu o
povo que com ele estava, e as ovelhas, e as vacas, e os camelos, em
dois bandos” (Gn 32:7). A palavra “temer” em hebraico é yare, e
significa "temer, ter medo, reverenciar". Além disso, a Torah nos diz
que ele “angustiou-se”. Esta palavra vem do termo hebraico tsarar
que significa "aflição, dificuldades". Esta palavra refere-se a um
estado proveniente de circunstâncias exteriores que geram
inconstância na alma daquele que a sofre. Ia´aqov sabia que esse
momento seria de uma profunda expectativa e ansiedade, pois não
haveria como prever como seria o encontro entre ele e Esav!
Agora Ia´aqov faz aquilo que lhe era peculiar: ele ora à D-us! “Disse
mais Ia´aqov: Elohim de meu pai Abraão, e Elohim de meu pai
Isaque, o IHVH, que me disseste: Torna-te à tua terra, e a tua
parentela, e far-te-ei bem; menor sou eu que todas as beneficências,
e que toda a fidelidade que fizeste ao teu servo; porque com meu
cajado passei este Jordão, e agora me tornei em dois bandos. Livra-
me, peço-te, da mão de meu irmão, da mão de Esav; porque eu o
temo; porventura não venha, e me fira, e a mãe com os filhos. E tu o
disseste: Certamente te farei bem, e farei a tua descendência como a
areia do mar, que pela multidão não se pode contar” (Gn 32:9-12).
Aqui Ia´aqov trata de vários aspectos aos quais o Eterno já lhe
prometera cuidar. Ele somente “traz à lembrança” o que o Senhor lhe
havia dito.

Ele principia chamando lembrando que D-us foi o Elohim D-us Criador
– de Avraham e conseqüentemente dele também e que o seu nome é
– IHVH o que demonstra que o Eterno se tornaria aquilo que ele
precisasse! A petição de Ia´aqov é por livramento! A palavra “livrar”
em hebraico é natsal e significa "livrar, resgatar, salvar". Daí a idéia
de salvação ou de um livramento pessoal literal. Ia´aqov estava
“antecipando” o que poderia acontecer em seu encontro com Esav e
então já clamava ao Eterno para que o livrasse! Ele também lembra
ao Eterno que Ele mesmo lhe prometera fazer-lhe bem e que faria a
sua descendência como a areia do mar. A palavra “descendência” é
zerá e significa "descendência física"; seriam os filhos que nasceriam
a partir dele e então se tornariam numerosos em toda a terra. Mas
como seria isso possível se algum mal acontecesse a ele ou a
qualquer um de seus familiares? É justamente por isso que Ia´aqov
clama ao Eterno por esse tipo de livramento!

Ia´aqov agora lembra-se das estratégias que aprendeu e tenta


aplacar a ira de seu irmão enviando-lhe “presentes” que antecedem a
sua chegada. “E passou ali aquela noite; e tomou do que lhe veio à
sua mão, um presente para seu irmão Esav: duzentas cabras e vinte
bodes; duzentas ovelhas e vinte carneiros; trinta camelas de leite
com suas crias, quarenta vacas e dez novilhos; vinte jumentas e dez
jumentinhos; e deu-os na mão dos seus servos, cada rebanho à parte,
e disse a seus servos: Passai adiante de mim e ponde espaço entre
rebanho e rebanho. E ordenou ao primeiro, dizendo: Quando Esav,
meu irmão, te encontrar, e te perguntar, dizendo: De quem és, e para
onde vais, e de quem são estes diante de ti? Então dirás: São de teu
servo Ia´aqov, presente que envia a meu senhor, a Esav; e eis que ele
mesmo vem também atrás de nós. E ordenou também ao segundo, e
ao terceiro, e a todos os que vinham atrás dos rebanhos, dizendo:
Conforme a esta mesma palavra falareis a Esav, quando o achardes.
E direis também: Eis que o teu servo Ia´aqov vem atrás de nós.
Porque dizia: Eu o aplacarei com o presente, que vai adiante de mim,
e depois verei a sua face; porventura ele me aceitará. Assim, passou
o presente adiante dele; ele, porém, passou aquela noite no arraial”
(Gn 32:13-21). Ia´aqov envia três emissários adiante dele a fim de
presentearem a Esav com aquilo que ele mesmo escolhera. Ia´aqov
porém passa a noite naquele mesmo lugar, decerto pensando se sua
estratégia seria ou não bem sucedida! Em pouco tempo Ia´aqov
saberia qual seria enfim o seu destino e se as promessas do Eterno
haveriam de cumprir-se em sua vida!

Naquela noite acontece algo que definitivamente mudaria a vida de Ia


´aqov: ele encontra-se com o Criador e sua vida é mudada
radicalmente! “Ia´aqov, porém, ficou só; e lutou com ele um homem,
até que a alva subiu. E vendo este que não prevalecia contra ele,
tocou a juntura de sua coxa, e se deslocou a juntura da coxa de Ia
´aqov, lutando com ele. E disse: Deixa-me ir, porque já a alva subiu.
Porém ele disse: Não te deixarei ir, se não me abençoares. E disse-
lhe: Qual é o teu nome? E ele disse: Ia´aqov. Então disse: Não te
chamarás mais Ia´aqov, mas Israel; pois como príncipe lutaste com
Deus e com os homens, e prevaleceste. E Ia´aqov lhe perguntou, e
disse: Dá-me, peço-te, a saber o teu nome. E disse: Por que
perguntas pelo meu nome? E abençoou-o ali. E chamou Ia´aqov o
nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Elohim face a
face, e a minha alma foi salva” (Gn 32:24-30). Vejamos alguns pontos
interessantes do encontro entre Ia´aqov e o Eterno.

Ia´aqov fica só, em hebraico bad que significa "sozinho, por si


mesmo". O conceito fundamental é “ficar separado ou isolado”. Nós
percebemos que é necessário estar a sós com o Eterno a fim de que
Ele tenha plena liberdade em nossas vidas! O verdadeiro encontro
com o Eterno ocorre na solidão! É ali e somente ali que o Eterno pode
vir e apresentar-se a nós de maneira plena a completa. E quando o
encontramos, tem início uma “luta” onde queremos e precisamos que
o Eterno se compadeça de nós e nos toque até mesmo fisicamente! A
conversa entre Ia´aqov e o Eterno reflete bem sua intimidade: “...E
disse: Deixa-me ir, porque já a alva subiu. Porém ele disse: Não te
deixarei ir, se não me abençoares”. Aqui sabemos que o Eterno veio
por causa de Ia´aqov e necessitava que houvesse uma atitude por
parte deste a fim de que lhe fosse reivindicado aquilo que ele viera
trazer. É por isso que Ele diz: “Deixa-me ir, porque já a alva subiu”. D-
us não precisa pedir permissão para homem algum a fim de ir ou vir.
Mas aqui é diferente. Ele veio por causa de Ia´aqov e Ia´aqov precisa
agir e reivindicar aquilo que está em seu coração.

A resposta de Ia´aqov a esta pergunta é: “...Não te deixarei ir, se não


me abençoares”. A palavra abençoar é barak e significa “dar poder à
alguém para ser próspero, bem sucedido e fecundo”. Ia´aqov
precisava de uma confirmação quanto àquilo que já vinha ocorrendo
em sua vida! Era necessário que ainda mais se manifestasse na vida
de Ia´aqov esse poder para ser bem sucedido em tudo. Seu sucesso
precisava vir agora em relação à Esav e isso estaria garantido se Ia
´aqov pudesse receber do Eterno a certeza de que esse poder lhe
havia sido concedido!
Então acontece: o nome de Ia´aqov – Calcanhar do Senhor – é
mudado agora para Israel – aquele que luta com o Criador e prevalece
– pois Ia´aqov lutara com Elohim – O D-us Criador - e alcançara aquilo
que tanto precisava! É interessante que a Torah nos diz que ele
prevaleceu! Esta palavra “prevalecer” vem do termo hebraico iakol
que significa "ser capaz, prevalecer, dominar". Isto significa que Ia
´aqov foi capaz de suportar tudo até aquele momento em busca
daquilo que ele mais almejava: a confirmação da bênção do Criador
sobre sua vida! Então a escritura diz que o Eterno abençoou-o ali!
Aquele homem recebera a confirmação de que havia sobre ele poder
para ser próspero, bem sucedido e fecundo em tudo aquilo que
fizesse!

Por isso o nome do lugar chamou-se Peniel, pois ele viu à D-us face a
face. O nome do lugar é mudado em virtude deste acontecimento!
Agora seu nome – Peniel – é a combinação de duas palavras panim +
El. O termo panim está no plural e indica todas as características que
formam o rosto de alguém! Certamente neste acontecimento a face
do Eterno sorria para Ia´aqov! Já palavra “ver” em hebraico é ra’â e
significa "ver, olhar, inspecionar". O encontro entre eles fora tão
extraordinário que ele diz ter visto (e também foi visto) face a face
com e pelo Criador! Ia´aqov (agora Israel) tivera um encontro com
seu Criador e sua vida haveria de mudar, pois ele confessa que
“minha alma foi salva”. A palavra “salva” em hebraico é natsal e
significa "livrar, resgatar, salvar". A palavra tem o sentido de
“arrastar para fora ou então puxar para fora”. Isso nos fala sobre os
temores e traumas de Ia´aqov que, naquele encontro com o Eterno
foram-lhe arrancados e curados! Agora Ia´aqov certamente seria um
outro homem, curado e restaurado pelo Eterno!

Mas além da marca espiritual na alma de Ia´aqov houve também uma


marca física em seu corpo: “E chamou Ia´aqov o nome daquele lugar
Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma
foi salva. E saiu-lhe o sol, quando passou a Peniel; e manquejava da
sua coxa” (Gn 32:30-31). Isso nos mostra que muitas vezes nossos
“encontros” com o Eterno nos marcarão de forma inconfundível,
inclusive fisicamente, pois, quando olharmos para aquela “marca” nos
lembraremos de nosso encontro com o Senhor e também nos
lembraremos de suas promessas para nossa vida!

Na seqüência temos o tão esperado encontro entre Esav e Ia´aqov.


Vejamos o que ocorreu quando os dois irmãos, separados por
distâncias físicas e por anos de saudades, que agora certamente
deverão determinar a intensidade positiva ou negativa deste
encontro. Foi assim que tudo ocorreu: “E levantou Ia´aqov os seus
olhos, e olhou, e eis que vinha Esav, e quatrocentos homens com ele.
Então repartiu os filhos entre Lia, e Raquel, e as duas servas. E pôs as
servas e seus filhos na frente, e a Lia e seus filhos atrás; porém a
Raquel e José os derradeiros. E ele mesmo passou adiante deles e
inclinou-se à terra sete vezes, até que chegou a seu irmão. Então
Esav correu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu
pescoço, e beijou-o; e choraram” (Gn 33:1-4). A estratégia de Ia´aqov
foi dividir sua família em parte, ficando ele mesmo por último com
sua esposa e filhos amados!

A Escritura nos informa que Ia´aqov quando chegou à presença de


Esav inclinou-se à terra sete vezes. A palavra “inclinar-se” em
hebraico é shahah e significa "inclinar-se". Ela tem o significado de
“ser inferior”, “estar abatido”. Esta palavra descreve com muita
propriedade a condição de Ia´aqov naquele momento: ele sentia-se
inferior, estava abatido, pois não sabia o que lhes aconteceria então.
Ia´aqov humilhou-se totalmente (sete vezes) diante de seu irmão
Esav e esperava receber dele a devida misericórdia. A reação de Esav
foi a menos provável nos cálculos de Ia´aqov. Ele sai correndo ao
Encontro de Ia´aqov, lança-se sobre ele abraçando-o e chorou de
saudades! Creio eu que nem nas melhores expectativas de Ia´aqov
ele imaginou ser recebido assim por Esav! Foi o reencontro de dois
irmãos que foram separados por muitos anos, cresceram,
amadureceram, constituíram família e agora se reencontram debaixo
de um clima de amor e compreensão! O coração quebrantado de
Esav fora certamente preparado pelo Eterno para esse dia e também
a humildade de Ia´aqov, que ao reencontrar-se com seu irmão sabia
que tudo o que ele fizera com seu irmão tinha sido errado; mas agora
ele sente o perdão fluindo naquele reencontro!

Ia´aqov fala com seu irmão colocando–se a si mesmo numa posição


inferior. “Depois levantou os seus olhos, e viu as mulheres, e os
meninos, e disse: Quem são estes contigo? E ele disse: Os filhos que
Deus graciosamente tem dado a teu servo” (Gn 33:5). Quando Esav
pergunta ao irmão que pessoas são aquelas ao seu redor, Ia´aqov lhe
informa que são a família que o Eterno lhe houvera dado. Aqui ele
chama a “D-us” de Elohim D-us Criador – e a si mesmo de “servo”,
ebed em hebraico, que significa "escravo, servo". Este termo é
empregado como uma referência humilde e educada sobre si mesmo.
É isso que Ia´aqov faz: reconhece quem ele é – na atual condição – e
diz isso ao seu irmão a fim de garantir-lhe que houve realmente uma
mudança significativa em sua vida e conduta!

Esav pergunta a Ia´aqov sobre as pessoas que o precederam e sobre


os “presentes” que lhe foram oferecidos e Ia´aqov lhe explica que
estes foram a fim de “apresentarem-se” como dádivas de Ia´aqov a
Esav. Esav tenta não aceitar aquilo que lhe é oferecido pelo irmão,
mas Ia´aqov insiste em que ele aceite, pois assim ele estará de certa
forma, “pagando” à Esav pelos prejuízos causados e ele e acumulados
durante anos de ausência de Ia´aqov na família. Ele diz: “Toma, peço-
te, a minha bênção, que te foi trazida; porque Deus graciosamente
ma tem dado; e porque tenho de tudo. E instou com ele, até que a
tomou” (Gn 33:11). Ia´aqov “reparte” sua beraka benção – que
significa que Ia´aqov dá a seu irmão aquilo que ele tinha recebido
fisicamente. Ele dividia com Esav o poder de ser próspero, bem
sucedido e fecundo, só que isso está já manifesto de forma palpável,
em bens materiais! Ia´aqov não divide com Esav a herança espiritual,
mas somente a física!

Esav convida a Ia´aqov para ir com ele em caravana de volta ao seu


lar. Porém Ia´aqov argumenta com seu irmão que seus filhos são
novos demais para caminharem rapidamente para qualquer lugar e
também seu gado não poderia fatigar-se, pois caso isso acontecesse
o rebanho certamente morreria. Então foi Esav para seu caminho e Ia
´aqov toma outro rumo. “Assim voltou Esav aquele dia pelo seu
caminho a Seir. Ia´aqov, porém, partiu para Sucote e edificou para si
uma casa; e fez cabanas para o seu gado; por isso chamou aquele
lugar Sucote” (Gn 33:16-17). Esav volta pelo seu caminho a Seir. A
palavra “caminho” em hebraico é derek e significa "caminho,
estrada". Relaciona-se com darak, "pisar, pisotear e refere-se
também a um caminho gasto, batido de tanto andar-se nele". Esav
vai para Seir. Esse nome designa a região montanhosa a leste do
deserto de Arabá. A palavra em sua raiz também significa “ter muito
medo”. Esav, após seu encontro com Ia´aqov volta às suas atividades
normais e continua andando por seus caminhos costumeiros! Não
houve mudança na vida de Esav, pois ele ainda vive da mesma forma
e com os mesmos padrões antigos! Ele inclusive habita numa região e
num lugar que nos falam sobre sua condição espiritual: ele vive num
lugar que causa muito medo! Esse lugar é certamente a habitação
dos poderes das trevas, onde o domínio ali é exercido por seres cuja
procedência vem das regiões baixas da terra: o inferno! Já Ia´aqov
segue por um caminho diferente: ele vai para Sucote. A palavra
“Sucot” significa "tendas"; ela também vem de uma raiz que
significa em particular “cobrir” e num sentido figurado descreve a
proteção que D-us concede à todos os que nele vem buscar refúgio. Ia
´aqov também continua andando pelos mesmos caminhos que o
trouxeram de volta ao seu lar. Ele anda com o D-us Eterno e vai para
uma cidade que fala em seu nome sobre a proteção que o Eterno dá
aos seus filhos. Ia´aqov sente-se “coberto” pela presença do Eterno
em todos os seus caminhos! É justamente isso que aprendemos com
Ia´aqov: a andar diante do Eterno em seus caminhos – que não estão
“gastos” por andarmos neles diariamente – mas que se renovam e
trazem sempre coisas novas e belas para aqueles que neles andam
em obediência a Torah do Eterno!

Ia´aqov reconhece que foi o Eterno que o trouxe até ali e naquela
condição de saúde e vida! “E chegou Ia´aqov salvo à Salém, cidade
de Seqem, que está na terra de Canaã, quando vinha de Padã-Arã; e
armou a sua tenda diante da cidade” (Gn 33:18). É-nos dito que Ia
´aqov chega salvo à Salém. A palavra Salém significa "estar
completo, sadio". Ela descreve bem o estado no qual Ia´aqov chega à
sua casa: como alguém que foi embora, mas retorna vitorioso em
todos os sentidos de sua vida! Ele estava também na cidade de
Seqem e esta palavra significa "ombro, costas". A palavra vem da
raiz que significa também “levantar cedo”. Tem o sentido de começar
uma longa viagem; começar o dia com um ato de adoração e ir à
batalha! É muito interessante pois foi justamente isso que acontecera
com Ia´aqov: ele levantara-se começando uma nova etapa de sua
vida, e creio eu, que através de sua postura de um verdadeiro
adorador ele conquista as vitórias tão esperadas no campo de batalha
– tanto espiritual quanto físico -.

Seu último ato ao chegar à sua terra natal foi o de erigir um altar ao
seu D-us. “E levantou ali um altar, e chamou-lhe: Deus, o Deus de
Israel” (Gn 33:20). A palavra “altar” em hebraico é mizbeah e
significa "lugar de sacrifício". Agora Ia´aqov trazia diante do Eterno
um sacrifício como gratidão ao seu D-us por seus feitos em sua vida.
Ele também dá um nome ao altar: El, o D-us de Israel! Este nome de
D-us é usado em conjunto como prefixo na maioria dos designativos
com os quais o Eterno se apresenta nas Escrituras. E o mais
interessante é que ele chama El de seu D-us! Ele o chama de D-us de
Israel! O altar funcionaria como um marco naquele lugar e traria
lembranças a quem quer que o visse e compreendesse o motivo
porque ele estava ali! Lembremo-nos também que Israel é agora o
nome de Ia´aqov!

Este é Ia´aqov – agora Israel – que volta ao seu lar com uma nova
postura de vida e seu retorno propiciará a ele que viva uma nova
etapa em sua caminhada com o D-us Eterno de Israel! Ele assume
sua nova identidade: o príncipe que lutou com o Criador e prevaleceu
– conseguiu aquilo que tanto precisava – e agora tem início o
cumprimento através de Ia´aqov – Israel – da promessa feita a
Abraham e Itshaq, a qual nos fala sobre Israel habitar na sua terra e
ali eles cresceriam e se multiplicariam. Mas isso é só o começo!

Agora temos o relato sobre Dinah, que é deflorada, forçada por um


homem que não conhecia e nem obedecia aos princípios do D-us
Eterno. A história transcorreu assim: “E saiu Dinah, filha de Lia, que
esta dera a Ia´aqov, para ver as filhas da terra. E Seqem, filho de
Hamor, heveu, príncipe daquela terra, viu-a, e tomou-a, e deitou-se
com ela, e humilhou-a” (Gn 34:1-2). Dinah passeava pelos arredores
das propriedades de Ia´aqov, quando foi vista por Seqem, que sentiu-
se atraído por ela, e por ser um homem muito importante naquele
lugar julgou poder fazer dela o que bem entendesse. A escritura nos
informa que ele “humilhou-a”. Esta palavra em hebraico é anâ e
significa "afligir, oprimir, humilhar". O sentido básico da palavra é de
“forçar”, ou “tentar impor”; também “castigar” ou “causar dor em”.
Dinah foi forçada a manter relações sexuais com um homem
desconhecido, foi agredida em sua liberdade e teve sua virgindade
violada por alguém que simplesmente olhou para ela, e que, por
causa de sua posição social, ultrapassou os limites da ordem e da
decência sem pensar nas conseqüências de sua ato.

Mas a história vai muito além disso. “Quando Ia´aqov ouviu que
Dinah, sua filha, fora violada, estavam os seus filhos no campo com o
gado; e calou-se Ia´aqov até que viessem. E saiu Hamor, pai de
Seqem, a Ia´aqov, para falar com ele. E vieram os filhos de Ia´aqov
do campo, ouvindo isso, e entristeceram-se os homens, e iraram-se
muito, porquanto Seqem cometera uma insensatez em Israel,
deitando-se com a filha de Ia´aqov; o que não se devia fazer assim”
(Gn 34:5-7). Quando Ia´aqov e seus filhos ficaram sabendo do que
havia ocorrido com Dinah houve uma indignação muito grande por
parte deles. Eles sabiam que algo deveria ser feito para que este
grande mal pudesse ser reparado. Mas o que? Agora o próprio D-us
vai providenciar para eles uma estratégia a fim de poderem “vingar-
se” de Dinah.

Hemor (pai de Seqem) vem até Ia´aqov para pedir-lhe Dinah por
esposa à seu filho. “Então falou Hamor com eles, dizendo: A alma de
Seqem, meu filho, está enamorada da vossa filha; dai-lha, peço-vos,
por mulher; e aparentai-vos conosco, dai-nos as vossas filhas, e tomai
as nossas filhas para vós; e habitareis conosco; e a terra estará
diante de vós; habitai e negociai nela, e tomai possessão nela. E disse
Seqem ao pai dela, e aos irmãos dela: Ache eu graça em vossos
olhos, e darei o que me disserdes; aumentai muito sobre mim o dote
e a dádiva e darei o que me disserdes; dai-me somente a moça por
mulher” (Gn 34:8-12).

O que Hemor dissera reflete o padrão ensinado a Seqem: “a sua alma


está enamorada de sua filha”. A palavra “alma” vem do termo
hebraico nephesh e significa "vida, alma, criatura, mente". Reflete os
aspectos emocionais de uma pessoa. Modernamente diríamos que
este jovem apaixonou-se por Dinah e a estuprou, tentando depois
casar-se com ela a fim de “reparar” o erro.

Aparentemente, a proposta de Hemor era muito boa. Ele queria, de


certa forma, “reparar” o erro de seu filho tomando Dinah por sua
esposa e também pagando à família de Ia´aqov o dote que lhes fosse
pedido. Mas certamente isso não estava nos planos de Ia´aqov, pois
ele queria que sua filha e pudesse casar-se com alguém da mesma
linhagem e não com um homem desconhecido, de um povo que não
honrava nem conhecia ao D-us de Israel.

Entre os familiares, o comentário foi o seguinte: “Então responderam


os filhos de Ia´aqov a Seqem e a Hamor, seu pai, enganosamente, e
falaram, porquanto havia violado a Dinah, sua irmã” (Gn 34:13). A
palavra violar em hebraico é tame’ e significa "ser (ficar) impuro,
imundo". Dinah agora havia ficado impura justamente por ter sido
“atacada” por Seqem e por não terem sido respeitados os parâmetros
legais para que fosse realizado um casamento. Seqem simplesmente
a tomou, fez dela o que quis e depois pediu a seu pai que
intermediasse o casamento! Os irmãos de Dinah sabiam disso e agora
usaram de astúcia a fim de poderem fazer algo que os levasse a
“repararem” o erro que ocorrera com Dinah!
A proposta deles para Hamor, Seqem e os homens daquela
comunidade foi a seguinte: “E disseram-lhe: Não podemos fazer isso,
dar a nossa irmã a um homem não circuncidado; porque isso seria
uma vergonha para nós; nisso, porém, consentiremos a vós: se fordes
como nós; que se circuncide todo o homem entre vós; então dar-vos-
emos as nossas filhas, e tomaremos nós as vossas filhas, e
habitaremos convosco, e seremos um povo; mas se não nos ouvirdes,
e não vos circuncidardes, tomaremos a nossa filha e ir-nos-emos. E
suas palavras foram boas aos olhos de Hamor, e aos olhos de Seqem,
filho de Hamor. E não tardou o jovem em fazer isto; porque a filha de
Ia´aqov lhe contentava; e ele era o mais honrado de toda a casa de
seu pai. Veio, pois, Hamor e Seqem, seu filho, à porta da sua cidade,
e falaram aos homens da sua cidade, dizendo: Estes homens são
pacíficos conosco; portanto habitarão nesta terra, e negociarão nela;
eis que a terra é larga de espaço para eles; tomaremos nós as suas
filhas por mulheres, e lhes daremos as nossas filhas. Nisto, porém,
consentirão aqueles homens, em habitar conosco, para que sejamos
um povo, se todo o homem entre nós se circuncidar, como eles são
circuncidados. E seu gado, as suas possessões, e todos os seus
animais não serão nossos? Consintamos somente com eles e
habitarão conosco. E deram ouvidos a Hamor e a Seqem, seu filho,
todos os que saíam da porta da cidade; e foi circuncidado todo o
homem, de todos os que saíam pela porta da sua cidade” (Gn 34:14-
24). A proposta dos israelitas consistia justamente na circuncisão dos
homens da localidade a fim de se “igualarem” aos israelitas em suas
tradições e costumes. Eles ponderaram e concluíram que esta seria
uma coisa muito boa para ambos os povos, pois a terra poderia
comportar a ambos e também eles poderiam unificar-se a fim de
formarem um povo ainda mais forte! Mas eles não pensaram que a
circuncisão para qualquer homem depois do 8° dia causa uma dor
muito grande, principalmente em adultos! Essa seria a estratégia dos
israelitas, que, ao proporem aqueles homens que se circuncidassem
estariam também debilitando-os espiritual e fisicamente!

O resultado desta estratégia foi terrível: a paixão de Seqem trouxe a


ele e aos seus subordinados a morte! Percebemos o quão perigosa é
a paixão humana descontrolada! Da mesma forma que,
repentinamente, o sentimento apareceu, ele pode, também
repentinamente, desaparecer! Os servos de Hamor (pai de Seqem),
juntamente com seu senhor, pagaram com a própria vida pelo abuso
apaixonado deste homem! “E aconteceu que, ao terceiro dia, quando
estavam com a mais violenta dor, os dois filhos de Ia´aqov, Simeão e
Levi, irmãos de Dinah, tomaram cada um a sua espada, e entraram
afoitamente na cidade, e mataram todos os homens. Mataram
também ao fio da espada a Hamor, e a seu filho Seqem; e tomaram a
Dinah da casa de Seqem, e saíram. Vieram os filhos de Ia´aqov aos
mortos e saquearam a cidade; porquanto violaram a sua irmã. As
suas ovelhas, e as suas vacas, e os seus jumentos, e o que havia na
cidade e no campo, tomaram. E todos os seus bens, e todos os seus
meninos, e as suas mulheres, levaram presos, e saquearam tudo o
que havia em casa. Então disse Ia´aqov a Simeão e a Levi: Tendes-
me turbado, fazendo-me cheirar mal entre os moradores desta terra,
entre os cananeus e perizeus; tendo eu pouco povo em número, eles
ajuntar-se-ão, e serei destruído, eu e minha casa. E eles disseram:
Devia ele tratar a nossa irmã como a uma prostituta?” (Gn 34:25-31).
Quando Ia´aqov fica sabendo do “estrago” promovido por Simeão e
Levi ele fica muito preocupado com o fato, porém a justificativa deles
é no mínimo plausível: Dinah não deveria ser tratada como uma
prostituta! A palavra “prostituta” em hebraico é zanâ e significa
"cometer fornicação, praticar prostituição"; a idéia básica é “ter
relação sexual ilícita”. Os irmãos de Dinah sabiam da gravidade
daquilo que ocorrera, mas também sabiam que aquilo que haviam
feito certamente estava errado, pois eles haviam enganado
astutamente aos moradores daquela terra a fim de darem cabo de
suas vidas!

Agora, Ia´aqov é novamente chamado pelo Eterno a um concerto


juntamente com toda a sua família! “Depois disse Deus a Ia´aqov:
Levanta-te, sobe a Betel, e habita ali; e faze ali um altar ao Deus que
te apareceu, quando fugiste da face de Esav teu irmão. Então disse Ia
´aqov à sua família, e a todos os que com ele estavam: Tirai os
deuses estranhos, que há no meio de vós, e purificai-vos, e mudai as
vossas vestes” (Gn 35:1-2). Aqui o eterno apresenta-se como Elohim
o D-us Criador - a Ia´aqov e ordena-lhe erigir um altar, que é um lugar
de sacrifício, onde ele certamente deveria apresentar ao Senhor os
sacrifícios que lhes permitiriam ter os pecados “cobertos”
(perdoados) e poderiam então continuar em sua caminhada diante do
Senhor. O Senhor diz a Ia´aqov que fizesse o altar “ao Deus que te
apareceu”. No hebraico está a expressão El-ra’ah, que significa o El
(Criador) que vê, atenta, presta atenção. Literalmente seria traduzida
por “ao El que te viu”. Isso demonstra-nos que o Eterno tem um
cuidado extremo para com seus filhos, pois Ele está cuidando de
todos nós atentamente, com seus olhos fixos sobre cada passo e
atitude de nossas vidas! A determinação do eterno é que Ia´aqov e os
seus mudem de vida, retirando do meio deles tudo aquilo que ocupa
o lugar de D-us em suas vidas! Eles deveriam dar prioridade máxima
ao Senhor e isso exigiria abrirem mão de outros objetos e até mesmo
de outros valores que julgavam ser bons para sua vida a fim de
servirem ao Senhor!

A conseqüência de seu ato de obediência foi a seguinte: “E


levantemo-nos, e subamos a Betel; e ali farei um altar ao Deus que
me respondeu no dia da minha angústia, e que foi comigo no
caminho que tenho andado. Então deram a Ia´aqov todos os deuses
estranhos, que tinham em suas mãos, e as arrecadas que estavam
em suas orelhas; e Ia´aqov os escondeu debaixo do carvalho que
está junto a Seqem. E partiram; e o terror de Deus foi sobre as
cidades que estavam ao redor deles, e não seguiram após os filhos
de Ia´aqov” (Gn 35:3-5). A primeira coisa que Ia´aqov e seus
familiares fazem é “subir a Betel”. Para que haja um concerto é
necessário que todos os familiares dele vão juntos à casa de El. Ali
eles teriam atitudes e posturas que confirmariam seu arrependimento
e seu desejo de concertarem-se e refazerem sua aliança com o
Senhor.

Pelo texto nós percebemos que não houve resistência da parte dos
que estavam com Ia´aqov. Eles liberalmente se desfizeram das coisas
que, de alguma forma, impediam seu relacionamento com o D-us
Eterno. A primeira coisa de que se livraram foram os “deuses
estranhos”. Em hebraico temos nekar eloahi que significa literalmente
deuses estrangeiros! Estava tendo início uma “limpeza” das
“heranças” adquiridas na casa da Lavan! Para que Ia´aqov se
estabelecesse em sua terra, sua casa precisaria de uma total
purificação!

Quando eles fizeram isso, o resultado foi que o Senhor trouxesse


sobre os habitantes em derredor o seu terror! Aqui a palavra “terror”
é hittâ e significa "pavor, medo". A palavra vem de uma raiz que
significa (estar) quebrantado, aniquilado, com medo, aterrorizado.
Isso demonstra que a obediência de Ia´aqov e dos seus impôs o reino
do Criador (Elohim) sobre o local e os arredores em que eles
habitavam! Quando eles obedeceram à ordem de retirar os “deuses”
estranhos do meio deles, foi “disparado” um processo no qual o reino
espiritual trouxe à Ia´aqov e aos seus a presença do Eterno de tal
forma que instalou-se um terror nas localidades ao seu redor! D-us
causou isso a fim de preservar Ia´aqov e os seus com sua presença!

Um outro evento agora marca a vida de Ia´aqov e de sua família: a


morte de Debrah, ama de Rebeca. Quando isso acontece, Ia´aqov e o
Eterno encontram-se novamente e o resultado deste encontro é
maravilhoso! “E apareceu Deus outra vez a Ia´aqov, vindo de Padã-
Arã, e abençoou-o. E disse-lhe Deus: O teu nome é Ia´aqov; não te
chamarás mais Ia´aqov, mas Israel será o teu nome. E chamou-lhe
Israel” (Gn 35:9-10). Novamente o Eterno – Elohim aparece a Ia´aqov
e o abençoa. Ia´aqov recebe novamente poder para ser próspero
(mais ainda), bem sucedido e fecundo em tudo aquilo que ele faz! É
também o momento da ratificação (confirmação) de seu novo nome,
pois aqui o Senhor novamente diz-lhe que seu nome é Israel. A
própria boca do Eterno assim o chamou! Ia´aqov não imaginava que
ele estava dando origem à nação de Israel, ao povo que o Eterno
escolheu para amá-lo e para dar-lhe suas leis e mandamentos, a fim
de que todo o mundo viesse a conhecer – e reconhecer – o D-us de
Israel!

Mas isso não foi bastante para o Senhor, que dá ainda mais ao seu
servo Israel! “Disse-lhe mais Deus: Eu sou o Deus Todo-Poderoso;
frutifica e multiplica-te; uma nação, sim, uma multidão de nações
sairá de ti, e reis procederão dos teus lombos; e te darei a ti a terra
que tenho dado a Abraão e a Isaque, e à tua descendência depois de
ti darei a terra. E Deus subiu dele, do lugar onde falara com ele. E Ia
´aqov pôs uma coluna no lugar onde falara com ele, uma coluna de
pedra; e derramou sobre ela uma libação, e deitou sobre ela azeite”
(Gn 35:11-14). Agora o Senhor libera uma palavra que certamente
transformaria a vida de Ia´aqov e novamente Ele ratifica suas
promessas a Israel.

O Eterno se identifica como El Shadai ue significa "El todo-


poderoso". Alguns crêem que shadai é a formado por she que
significa “que”, “quem” e da palavra dai, que significa "bastante,
suficiente". Quando O Eterno se apresenta desta forma Ele
certamente está dizendo a Ia´aqov: “Eu sou o D-us suficiente para
sua vida! Em mim tudo há que você precisa; demonstrarei a você que
tenho o bastante para ti!”

O Senhor diz a ele que “frutifique”. Essa palavra em hebraico é parâ


e significa "frutificar, ser frutífero, ser fecundo, ramificar". Aqui já vem
explícita a ordem do Eterno para que Israel (os judeus) se espalhem,
dando muitos frutos por onde quer que eles passem! Além disso, o
Senhor ainda lhes diz que se “multipliquem”, que em hebraico é
rabâ, que significa "aumentar, multiplicar, ser grande e numeroso"!
Às vezes nos parece que o Eterno é um tanto quanto repetitivo, mas
isso não é verdade. Aqui o Senhor ordena a Israel que eles tornem-se
uma nação numerosa! Mas que tipo de “nação numerosa” seria o
povo de Israel? O Eterno informa que uma “multidão de nações”
procederiam dele. A palavra “nações” em hebraico é goi e significa
"nação gentílica"! Isso significa que já em Ia´aqov (Israel) o Senhor
apontava para o futuro mostrando as dispersões pelas quais
passariam os judeus e também a sua “mistura” com os povos de todo
o mundo fazendo com que os alguns judeus perdessem suas raízes e
viessem a integrar os povos chamados “gentílicos”. Muitos destes
judeus ainda hoje nem sabem que realmente são judeus! O seu
afastamento das raízes judaicas foi tão grande que veio a
comprometer sua própria identidade e a sua forma de viver como
judeu! Já palavra “multidão” em hebraico é qahal e significa
"assembléia, grupo, congregação". O verbo transmite a idéia de
reunir um grupo de pessoas, qualquer que seja o propósito da ação.
Na Brit Hadasha a palavra é traduzida por sinagoga! Aqui temos
então, desde Ia´aqov a idéia de que o Eterno reuniria seu povo – os
judeus e alguns gentios – numa congregação que se reuniria a fim de
adorarem ao Eterno D-us de Israel! Isso aconteceria num futuro muito
distante – esse tempo se chama hoje – e reuniria aqueles que são os
descendentes físicos de Ia´aqov – Israel – a fim de formarem uma
grande família de adoradores ao D-us Eterno!

Basta somente olharmos para a Palavra do Senhor para entendermos


que a Igreja hoje é tão somente uma extensão do povo de Israel
antigo e atual! Nós agora compreendemos o porque de D-us estar
restaurando sua Igreja a fim de colocá-la em harmonia não somente
com Sua Palavra mas também com o povo de Israel que está sobre a
terra! Isso é como juntar duas coisas iguais e somente “ajeitar” os
detalhes a fim de colocá-las em paralelo como duas partes de um
todo! Assim D-us está fazendo com a Igreja a com Israel, pois um
deve olhar para o outro como parte de si mesmo e a Igreja – que foi
enxertada em Israel – deve ser restaurada a fim de poder encaixar-se
perfeitamente em Israel e formar definitivamente um só povo!

O Senhor agora termina o processo de composição das doze tribos


trazendo à existência a último filho de Ia´aqov. “E partiram de Betel;
e havia ainda um pequeno espaço de terra para chegar a Efrata, e
deu à luz Raquel, e ela teve trabalho em seu parto. E aconteceu que,
tendo ela trabalho em seu parto, lhe disse a parteira: Não temas,
porque também este filho terás. E aconteceu que, saindo-se-lhe a
alma (porque morreu), chamou-lhe Benoni; mas seu pai chamou-lhe
Ben iamim” (Gn 35:16-18). Nasce finalmente Ben iamim, que
significa “filho da destra [mão direita]”. Antes deles chegarem a
Efratah Rahel entra em trabalho de parto!

Com isso a amada de Ia´aqov – Rahel - morre ao dar à luz a Bin iamim
e é sepultada em Beit Lechem. Termina aqui o ciclo dos nascimentos
dos filhos de Ia´aqov e também a composição das doze tribos de
Israel.

Novamente somos informados que Esav continua andando por seus


caminhos e dá aos seus filhos por esposas e maridos dos filhos de
outros povos que não conhecem ao Senhor. Isso nos mostra que Esav
tinha um coração que nunca se curvou definitivamente diante do
Eterno, pois Esav teimava em fazer as coisas como bem entendia.

Já em Ia´aqov – Israel – temos o símbolo do homem temente e


obediente ao Senhor e que sabia que o resultado de sua obediência
seria uma vida tranqüila e segura diante do D-us de seus pais. Isso
significa que ao obediente o Eterno reserva o poder de serem
prósperos, bem sucedidos e fecundos, além de dar-lhes o privilégio de
conhecerem os seus segredos!

Aprendamos com Israel e sermos obedientes ao Senhor, ainda que


em circunstâncias adversas, pois sabemos que quando obedecemos
liberamos o poder do Eterno para agir em nossas vidas dando-nos
tudo aquilo que precisamos!

Que o Eterno nos abençoe em nome de Ieshua!


Vayeshev (Ele habita)

A Escritura começa nos informando que Ia´aqov já estava tomando


posse da terra que fora prometida a ele e também à seus pais. É ali
que os fatos que estudaremos tem início na vida de Iosef. “E Ia´aqov
habitou na terra das peregrinações de seu pai, na terra de Canaã”
(Gn 37:1). Ia´aqov toma posse da promessa – que agora se torna para
ele um fato – e assim tem início uma nova etapa de vida com o
Eterno, depois de muitos sofrimentos nas mãos de seu sogro Lavan.
Ia´aqov deixou de buscar aquilo que o Eterno lhe prometera, pois
agora ele se apossara definitivamente daquilo que o D-us de seus
pais havia lhe prometido. Ia´aqov entrou no descanso de suas
peregrinações, e agora Canaã para ele é o lugar onde ele deve
repousar e colher aquilo que ele plantou e também receber de forma
mais clara as bênçãos do Eterno, pois não existe mais “sociedade”
entre ele e outra pessoa. Tudo o que o Eterno lhe prometeu, agora lhe
dará da forma como sempre esteve no coração do Senhor fazer. Aqui
temos a palavra “habitar” que vem do termo hebraico iashab que
significa "sentar-se, permanecer, habitar". Esta palavra traz consigo o
conceito de “sentar-se” e também de ascensão ao trono. Isto significa
que para Ia´aqov seu tempo de peregrinação havia terminado, agora
veremos ele e sua família já na terra, “sentando-se” no trono –
tomando posse do seu “reino” – que é a terra prometidas à eles por
D-us.

Novamente temos aqui a ocorrência da palavra eretz que significa


"terra, cidade, estado, mundo". Já sabemos que esta palavra refere-se
à terra – nação – de Israel. Portanto a terra que o Eterno havia
prometido aos patriarcas – Israel – agora já estava definitivamente em
seu poder! A nação Israel agora passara a existir de fato na porção de
terra que receberia também este nome.

As coisas transcorriam assim: “Estas são as gerações de Ia´aqov.


Sendo Iosef de dezessete anos, apascentava as ovelhas com seus
irmãos; sendo ainda jovem, andava com os filhos de Bila, e com os
filhos de Zilpa, mulheres de seu pai; e Iosef trazia más notícias deles
a seu pai. E Israel amava a Iosef mais do que a todos os seus filhos,
porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica de várias cores”
(Gn 37:2-3). A palavra nos fala sobre as gerações de Ia´aqov. A
palavra “gerações” em hebraico é toledot, e significa "gerações,
nascimentos". A palavra refere-se àquilo que é produzido ou levado a
existir por alguém ou aquilo que procede de tal pessoa. É interessante
notarmos que a palavra fala de gerações, nascimentos, mas somente
um dos filhos de Israel é citado: Iosef!

Iosef era certamente o filho “querido” de Ia ´aqov, porém sua atitude


para com seus irmão era extremamente negativa. A Escritura nos diz
que “Iosef trazia más notícias deles a seu pai”. A palavra “notícias”
vem do termo hebraico dibâ e significa "difamação, relato negativo,
infâmia, calúnia". Este tipo de comentários feitos por Iosef de forma a
“denegrir” seus irmãos. Esta palavra em hebraico tem uma conotação
forte, demonstrando que havia uma intenção por trás daquilo que
fora feito. Parece que esta atitude de Iosef gerou em seus irmãos um
“desconforto” muito grande levando-os a terem uma atitude de
repulsa pelo jovem. Chamamos a isso de “fofoca”. Isto explica o
tratamento que lhe darão a seguir no texto.

No contexto, fica claro que Israel amava mais a Iosef do que os seus
outros filhos! A palavra “amar” em hebraico é ‘ahab e significa
"amor". Porém esta palavra descreve freqüentemente o amor entre
seres humanos. A Escritura nos esclarece que este amor maior de
Israel por Iosef é pelo fato de ele ser o filho de sua velhice, mas aí há
algo mais. Iosef é filho de Rahel, a sua amada esposa e Israel parece
aqui “transferir” este amor que ele sentia por Rahel e devotá-lo a
Iosef! Creio que a cada atitude no relacionamento entre Israel e Iosef
algo transparecia em seu favor e fazia Israel lembrar-se de Rahel!
Justamente por isso Iosef recebe de seu pai uma túnica de várias
cores. A palavra “túnica” em hebraico é kuttonet com o mesmo
significado; era uma vestimenta parecida com um camisão bastante
longo e era feita geralmente de linho. Isso – aliado ao fato de Iosef já
ser declaradamente o filho preferido de Israel – causou um certo mal-
estar entre os demais irmãos de Iosef!

Isso trouxe ainda mais problemas para Iosef no relacionamento com


seus irmãos! “Vendo, pois, seus irmãos que seu pai o amava mais do
que a todos eles, odiaram-no, e não podiam falar com ele
pacificamente. Teve Iosef um sonho, que contou a seus irmãos; por
isso o odiaram ainda mais” (Gn 37:4-5). Aqui temos, de forma
explícita, a postura dos irmãos de Iosef quanto à sua pessoa. Eles
odiavam-no. Esta palavra “odiar” vem do termo hebraico sane que
significa “odiar, ser odioso”. Esta palavra exprime uma atitude
emocional diante de pessoas e coisas que são combatidas,
detestadas, desprezadas e com as quais não se deseja ter nenhum
contato ou relacionamento.

Eles também já não falavam com ele pacificamente. A palavra “falar”


em hebraico é dabar e significa “falar, declarar, conversar”.
Entendemos que já não havia mais um diálogo entre os irmãos e
Iosef. Existe uma preposição de negação em hebraico que é aqui
colocada: lo, que significa não. A palavra “pacificamente” é shalom e
significa “paz, prosperidade, bem, saúde, inteireza, segurança”. Isso
nos mostra o nível de palavras que estavam sendo ministradas pelos
irmãos a Iosef! Suas palavras não eram de paz, prosperidade, bem,
saúde, inteireza e segurança. Eles certamente falavam ocultamente
sobre como proceder caso houvesse uma oportunidade de “livrarem-
se” do incômodo irmão! E ainda haviam outros fatores que
complicavam mais o relacionamento familiar entre Iosef e seus
irmãos.

Por outro lado Iosef, sonhava e tinha com revelações que o Eterno lhe
transmitia e inocentemente as contava à seus irmãos! Isso causava
um profundo desagrado a todos os irmãos de Iosef! O interessante é
que a palavra “sonho” em hebraico é halam com o mesmo
significado; porém a palavra vem de uma raiz que significa “ser
forte”. Há aqui uma revelação imensa para nossas vidas: assim como
Iosef sonhava e se fortalecia a cada dia mais, seus irmãos
caminhavam justamente na direção contrária; quando percebemos
isso aprendemos que devemos também proceder da mesma forma!
Os sonhos não são somente projeções da alma humana, mas são
também os veículos de comunicação que o Eterno D-us usa a fim de
nos trazer à mente as realidades futuras que estão ainda em seu
coração para nossas vidas. Certamente Iosef sonhava e
continuamente “repassava” seus sonhos diante de si, vendo aquilo
que ainda não existia; contemplando aquilo que era – até aquele
momento - somente um sonho, mas que ele sabia poderia tornar-se
parte integrante de sua vida! Iosef nunca deixou de sonhar e
fortalecer assim seus laços com o Eterno e com sua alma, dizendo a
si mesmo que Aquele que implantara tal sonho em seu coração era
poderoso para fazer com que se cumprisse aquilo da forma e no
tempo que lhe aprouvesse!
O sonho de Iosef viria a tornar-se realidade – profecia que se
transforma em história – e seria tido como a Palavra de D-us! A
Escritura nos diz que devemos ter fé. Mas o que é fé? A palavra fé
vem do termo hebraico aman que significa "confirmar, sustentar,
estabelecer-se, ser fiel, crer em". Os sonhos de Iosef foram
confirmados como Palavra de D-us, que quando é confirmada,
demonstra automaticamente que a fé não passa de obediência ao
Eterno que, por ter dito algo anteriormente, através dos tempos e das
circunstâncias, materializa – realiza no tempo e no espaço – aquilo
que fora dito por seu intermédio.

Os sonhos de Iosef apontavam para o futuro e mostravam-no como


alguém que estaria numa posição de liderança e também mostrava
que muitos lhe estariam sujeitos neste tempo. Porém sua família não
conseguia entender isso e revoltavam-se com ele por isso. “Teve Iosef
um sonho, que contou a seus irmãos; por isso o odiaram ainda mais.
E disse-lhes: Ouvi, peço-vos, este sonho, que tenho sonhado: eis que
estávamos atando molhos no meio do campo, e eis que o meu molho
se levantava, e também ficava em pé, e eis que os vossos molhos o
rodeavam, e se inclinavam ao meu molho. Então lhe disseram seus
irmãos: Tu, pois, deveras reinarás sobre nós? Tu deveras terás
domínio sobre nós? Por isso ainda mais o odiavam por seus sonhos e
por suas palavras” (Gn 37:5-8). Novamente aqui ocorre a expressão
“lo shalom”, literalmente “não paz”. Como dissemos acima temos
aqui um fato que demonstra que a disposição de coração dos irmãos
de Iosef era totalmente contrária a ele e aquilo que era por ele dito.
Seus irmãos entenderam o significa de seu sonho e revoltaram-se,
pois julgavam ser Iosef um menino prepotente e mimado, e que no
futuro esperava ter algum nível de autoridade sobre eles. Este sonho
parece dizer respeito à colheita do trigo, que é atado em feixes e
levado aos celeiros para depois ser processado a fim de transformar-
se em farinha. Aqui temos trigo se curvando diante de trigo! O nome
Iosef significa “O Senhor acrescenta, aumenta” aponta para o Messias
que foi “dado, acrescentado” à humanidade como um presente que
veio do alto! Assim como Iosef, sendo um tipo do Messias salvou o
mundo conhecido da época, Ieshua através de sua vida também
salvou o mundo dando-se como o perfeito sacrifício para redenção do
homem.

Justamente por essas razões os irmãos de Iosef tinham ciúmes dele.


“Seus irmãos, pois, o invejavam; seu pai porém guardava este
negócio no seu coração” (Gn 37:11). A palavra “inveja” aqui é qana e
significa “ter ciúme, ter inveja”. Esse verbo indica uma emoção muito
forte em que o sujeito deseja alguma qualidade ou posse do objeto.
Percebemos aqui que a atitude dos irmãos de Iosef era muito forte
para com ele, pois eles realmente desejavam ser como ele!
Certamente eles não tinham a simplicidade e a coragem de Iosef em
ser ele mesmo, e isso lhes causava uma forte indignação que era
manifesta através do ciúme, pois eles desejavam ter as qualidades de
Iosef e certamente desejavam ser fortes – sonhadores - como ele
demonstrava ser em sua postura diária, porém não conseguiam!

Os irmãos de Iosef continuavam sua vida cotidiana e foram


apascentar os rebanhos de seu pai em localidades próximas de onde
se encontravam. Israel então envia Iosef para ir ter com eles a fim de
trazer-lhe notícias sobre os filhos. “E seus irmãos foram apascentar o
rebanho de seu pai, junto de Siquém. Disse, pois, Israel a Iosef: Não
apascentam os teus irmãos junto de Siquém? Vem, e enviar-te-ei a
eles. E ele respondeu: Eis-me aqui. E ele lhe disse: Ora vai, vê como
estão teus irmãos, e como está o rebanho, e traze-me resposta.
Assim o enviou do vale de Hebrom, e foi a Siquém. E achou-o um
homem, porque eis que andava errante pelo campo, e perguntou-lhe
o homem, dizendo: Que procuras? E ele disse: Procuro meus irmãos;
dize-me, peço-te, onde eles apascentam. E disse aquele homem:
Foram-se daqui; porque ouvi-os dizer: Vamos a Dotã. Iosef, pois,
seguiu atrás de seus irmãos, e achou-os em Dotã” (Gn 37:12-17).
Notemos a progressão dos fatos: os irmãos de Iosef estavam em
Hebron e depois foram a Seqem. A palavra Hebron significa
“confederação, associação, liga”. Vem da raiz habar que significa “ser
ajuntado, reunido, ter comunhão com”. Isso parece demonstrar que
os irmãos de Iosef estavam coesos e “fechados” – ajuntados, reunidos
- em seu grupo, no qual deveriam certamente ter seus planos e
finalidades. Tudo isso em unidade perfeita, pois tinham comunhão
entre si. Depois disso vão até Seqem, que em hebraico significa
“ombro, costas”. Novamente, parecem estar dando as costas para
algo ou alguém! Percebemos que Iosef não estava entre eles e isso
certamente isso reflete sua atitude para com ele e seus sonhos!

Iosef então é achado por um homem! Há um outro detalhe aqui: este


homem dirige-se a Iosef de tal forma como se o conhecesse a muito
tempo! Ele também parecia conhecer os irmão de Iosef, pois dá ao
mesmo a informação exata do paradeiro deles! Ele inclusive diz tê-los
ouvido dizer que estariam a caminho de Dotan. Esta palavra significa
“dois poços”. Certamente foram para ali por causa da água que
saciaria plenamente os seus rebanhos!

Quando finalmente Iosef encontra seus irmãos, encontra também um


clima muito “pesado”, “carregado” quanto à sua presença ali. Mal
sabia ele que seus irmãos já haviam delineado um plano a fim de “dar
cabo” de sua vida! “E viram-no de longe e, antes que chegasse a
eles, conspiraram contra ele para o matarem. E disseram um ao
outro: Eis lá vem o sonhador-mor! Vinde, pois, agora, e matemo-lo, e
lancemo-lo numa destas covas, e diremos: Uma fera o comeu; e
veremos que será dos seus sonhos. E ouvindo-o Rúben, livrou-o das
suas mãos, e disse: Não lhe tiremos a vida. Também lhes disse
Rúben: Não derrameis sangue; lançai-o nesta cova, que está no
deserto, e não lanceis mãos nele; isto disse para livrá-lo das mãos
deles e para torná-lo a seu pai. E aconteceu que, chegando Iosef a
seus irmãos, tiraram de Iosef a sua túnica, a túnica de várias cores,
que trazia. E tomaram-no, e lançaram-no na cova; porém a cova
estava vazia, não havia água nela” (Gênesis 37:18-24). Mal sabia
Iosef que aqui iria ter início uma nova etapa em seu relacionamento
com o Eterno e consigo mesmo! Seus irmãos o tratam como se ele
nem humano fosse! Eles jogaram-no num poço qualquer à espera de
uma decisão sobre o que fazer com este moço, que somente por um
mero acaso era irmão deles! Percebemos que Reuben parte para
defender seu irmão. Mas, por que justamente ele? Talvez a explicação
esteja em seu próprio nome: A palavra Reuben em hebraico significa
“Eis um filho”. É uma forma abreviada de ra´û be´anyî, “O Eterno viu
a minha aflição”. Este homem deveria conhecer bem o que significava
a palavra “aflição” e certamente não queria acrescentar à sua vida
mais aflições...

A Torah nos diz que eles “conspiravam” contra a vida de Iosef. Esta
palavra vem do termo hebraico nakal e significa “ser ardiloso, ser
enganoso, agir sem escrúpulos”. Esta palavra demonstra que a
atitude deles em relação ao irmão não seria baseada no amor ou em
qualquer outra premissa de valores familiares! Eles estavam
pensando e conversando sobre o destino de Iosef e certamente iriam
atacá-lo sem que esperasse! Isso nos faz lembrar a atitude de nosso
arquiinimigo: há Satan, que age da mesma forma – planeja e ataca
como se pudesse decidir acerca da vida e da morte de cada ser
humano; parece querer bancar “D-us”!

Mas uma coisa inesperada aconteceu: eles viram uma tropa de


mercadores que se aproximava! “Depois assentaram-se a comer pão;
e levantaram os seus olhos, e olharam, e eis que uma companhia de
ismaelitas vinha de Gileade; e seus camelos traziam especiarias e
bálsamo e mirra, e iam levá-los ao Egito” (Gn 37:25). É incrível, mas
eles sentaram-se para comer calmamente enquanto Iosef estava num
buraco – certamente gritando e clamando por misericórdia –
enquanto eles comiam e bebiam calmamente...

Então eles vêem uma caravana se aproximando. Nesta companhia de


ismaelitas – árabes - estava a esperança dos irmãos de Iosef em
darem um fim ao irmão sonhador!

Quantas dores deve ter sentido o garoto sendo já jogado num poço
como um animal sem qualquer valor; quanto mais agora que está
para ser vendido como uma mercadoria qualquer num
estabelecimento comercial! Estes fatos marcaram profundamente a
alma de Iosef que certamente deve ter sofrido muito ao ver seus
irmãos fazerem aquilo consigo. Mas o pior ainda estava por vir.
“Passando, pois, os mercadores midianitas, tiraram e alçaram a Iosef
da cova, e venderam Iosef por vinte moedas de prata, aos ismaelitas,
os quais levaram Iosef ao Egito” (Gn 37:28). Agora, definitivamente,
Iosef é vendido como um objeto e vai para o Egito para ali novamente
ser negociado e ser comprado por alguém! A cena que deve ter
ficado gravada na mente de Iosef e certamente levou muito tempo
para ser, pelo menos, amenizada em suas lembranças. Enquanto era
vendido e depois levado pelos ismaelitas ele certamente deve ter
implorado aos seus irmãos que não fizessem aquilo com ele. E eles
não o escutaram; certamente até mesmo fingiram não saber que ele
era seu irmão!

Após a venda de Iosef, os seus irmãos deveriam então preparar algo a


fim de “enganar” Israel quanto a Iosef. “Então tomaram a túnica de
Iosef, e mataram um cabrito, e tingiram a túnica no sangue. E
enviaram a túnica de várias cores, mandando levá-la a seu pai, e
disseram: Temos achado esta túnica; conhece agora se esta será ou
não a túnica de teu filho. E conheceu-a, e disse: É a túnica de meu
filho; uma fera o comeu; certamente Iosef foi despedaçado. Então Ia
´aqov rasgou as suas vestes, pôs saco sobre os seus lombos e
lamentou a seu filho muitos dias. E levantaram-se todos os seus filhos
e todas as suas filhas, para o consolarem; recusou porém ser
consolado, e disse: Porquanto com choro hei de descer ao meu filho
até à sepultura. Assim o chorou seu pai” (Gn 37:31-35). Os irmãos de
Iosef fizeram algo terrível: enviaram a túnica do rapaz e pediram à
seu pai que a reconhecesse, se realmente era a túnica do filho dele –
Ia´aqov! Perceba que o texto não diz que eles foram levando a túnica;
mas após a notícia ter sido recebida os filhos eles então “levantam-
se” a fim de consola-lo! A palavra “levantar-se” vem do termo
hebraico qum que significa “erguer, levantar-se, ficar de pé”. Na raiz
desta palavra temos também qama que significa "cereal no pé". Este
substantivo é usado para designar uma plantação de cereal que já
pode ser colhida e moída para preparar uma refeição. Há também a
palavra qim, que significa “adversário”. Mas, quais são as relações
existentes entre estas palavras? Vejamos então:

1. Somente depois de cumpridos seus propósitos, os irmãos de Iosef


então “levantam-se” a fim de “consolarem” seu pai; até então parece
ter havido um “peso” sobre eles que não os deixou contemplarem
aquilo que fora feito de seu pai;

2. Agora a situação já “estava madura” e pronta para seu desfecho –


a aceitação da morte de Iosef.

3. Finalmente eles haviam cumprido seu propósito como


“adversários” que se tornaram do rapaz! Sua atitude deixa bem claro
que agir assim produz, além da culpa, também um sentimento de
“vitória momentânea”. Tudo parecia estar resolvido... Parecia!

A estratégia usada por eles foi simples: tomaram um “cabrito”, em


hebraico ‘ez, que significa bode, cabra, cabrito, que forneceu o
sangue para que a túnica de Iosef fosse “tingida”! A palavra “sangue”
em hebraico é dam e significa sangue; vermelho. Ali havia um sinal
de que a vida cessara! Foi por isso que Ia ´aqov tirou a conclusão que
seu filho morrera.
A túnica que Israel dera a Iosef como uma “marca” de distinção
familiar agora retorna para ele recoberta de sangue! Israel toma um
choque e num ímpeto rasga suas vestes, sentindo a dor da perda de
seu filho querido!

É interessante notarmos alguns detalhes nesta história:

1. os irmãos de Iosef trazem de volta uma capa ensangüentada; não


há um corpo que comprove a morte;

2. eles não explicam onde e como acharam a “prova” da morte de


Iosef;

3. Israel deduz que seu fora “despedaçado”! Mas nem mesmo os


ossos restaram?

O desfecho deste acontecimento é no mínimo estranho, pois Israel


não pede outras explicações aos filhos sobre a morte do irmão; há
somente um grande sofrimento pela perda de seu filho predileto!

Enquanto isso acontece, do outro lado, a história continua tomando


rumos inesperados e Iosef passa para um novo estágio em sua
“aventura” com o Eterno!

Já na vida cotidiana da família de Israel, outras coisas continuam a


acontecer e seus filhos continuam a dar-lhe motivos para que ele se
preocupe! A narrativa bíblica nos informa sobre a postura de Iehuda.
“E aconteceu no mesmo tempo que Iehuda desceu de entre seus
irmãos e entrou na casa de um homem de Adulão, cujo nome era
Hira, e viu Iehuda ali a filha de um homem cananeu, cujo nome era
Sua; e tomou-a por mulher, e a possuiu. E ela concebeu e deu à luz
um filho, e chamou-lhe Er. E tornou a conceber e deu à luz um filho, e
chamou-lhe Onan” (Gn 38:1-4). A primeira coisa que devemos
perceber é que Iehuda vai à casa de um homem chamado Hira e ali
vê uma mulher cananita. A palavra “ver” em hebraico é ra’ah e
significa "ver, olhar, prestar atenção". Iehuda certamente gastou
tempo em contemplar aquela mulher e logo a toma por mulher. O
nome do pai dela é significativo; ele se chama Shua. A palavra
“Shua” em hebraico significa “clamor”. Parece que Iehuda teria
grandes problemas por se casar com uma mulher cananita. Porém
isso certamente estava ocorrendo por causa do “clamor” de seu pai
por um varão justo que a desposasse! A escritura não nos informa se
seu pai – Israel – teve conhecimento e consentiu nessa união. O fato
dele - Iehuda - casar-se com uma mulher cananita já é muito sério! A
palavra “cananita” em hebraico é kena’ani e significa "cananita,
mercador, comerciante".

Da união nascem-lhe dois filhos: o primeiro chamou-se Er, que em


hebraico significa "vigia". O segundo chamou-se Onan que em
hebraico significa "forte". Parece que Iehuda tenta imprimir à
personalidade de seus filhos um caráter profético – assim como fizera
seu pai com ele e com seus irmãos – mas isso parece não dar
resultado, pois há um profundo desagrado no coração do Eterno
quanto aos filhos de Iehuda com essa mulher. “Er, porém, o
primogênito de Iehuda, era mau aos olhos do Senhor, por isso o
Senhor o matou” (Gn 38:7). Esta é uma porção muito forte da
Escritura, onde nos é dito que Er era mau e a palavra “mau” aqui é
ra’a e significa "ser ruim, ser mau". A palavra traz a idéia de
infortúnio, calamidade e também de perversidade. Isso demonstra o
quanto o Eterno se desagradava desse homem, pois sua conduta em
nada poderia ser aprovada pelo Senhor, pois ele traz consigo em seus
atos uma carga de infortúnio, calamidade e perversidade! Justamente
o primogênito de Iehuda tinha de portar-se assim! Isso pareceu tão
sério aos olhos do Senhor que ele o matou! A palavra aqui é o
tetragrama – IHVH – o que significa que o Eterno tornou-se aquilo que
ele necessitava: juízo, que lhe trouxe a morte! Somente quem possui
em suas mãos a vida pode tira-la quando e como quer! Este é o
Eterno, que chamamos de Senhor!

Já seu outro filho, Onan, agora deveria cumprir a lei do levirato,


suscitando descendência masculina ao seu irmão. Mas não foi bem
assim que as coisas aconteceram! “Então disse Iehuda a Onan: Toma
a mulher do teu irmão, e casa-te com ela, e suscita descendência a
teu irmão. Onan, porém, soube que esta descendência não havia de
ser para ele; e aconteceu que, quando possuía a mulher de seu
irmão, derramava o sêmen na terra, para não dar descendência a seu
irmão. E o que fazia era mau aos olhos do Senhor, pelo que também o
matou” (Gn 38:8-10). Onan aqui recebe uma ordem: suscita
descendência ao teu irmão. A palavra “suscitar” é yabam e significa
"cumprir o dever de cunhado". O sentido básico desta palavra é
“assumir” a responsabilidade de casar-se com a cunhada viúva a fim
de suscitar um herdeiro homem para o irmão falecido. Isso não foi
feito por Onan, que quando mantinha relações sexuais com sua
cunhada, no momento da ejaculação fazia com que essa acontecesse
fora da mulher. A isso chama-se de “coito interrompido”. E era feito
assim justamente para evitar que houvesse a concepção e a geração
de uma nova vida, o que certamente traria um descendente homem a
uma descendência para Er que havia morrido. O fato certamente foi
relatado a Iehuda, e não somente ele e sua família tomaram
conhecimento do que acontecia na intimidade daquele casal, mas
também o Eterno, que ao ver a atitude de desobediência para com
seus preceitos e também algo mais na atitude de Onan, que
provavelmente era um reflexo de seu relacionamento com seu irmão
já morto, pois a sua recusa em suscitar descendência ao seu irmão
demonstra que as coisas não deveriam andar muito bem entre eles e
somente agora isso vem à tona, com sua morte e também com a
obrigação de Onan em dar-lhe um descendente!

Isso foi tão mau – tanto aos olhos humanos quanto aos de D-us - que
o Eterno toma então providências radicais. Novamente a palavra aqui
é o - IHVH – o tetragrama, que demonstra que o Eterno tornou-se
aquilo que ele necessitava. Onan então é morto pelo Senhor. Parece
algo muito duro de ser dito, mas a desobediência de Onan e a sua
postura de coração para com os fatos apresentados certamente
atraíram sobre ele o juízo do Senhor. A palavra “matar” em hebraico é
mot e significa "matar, assassinar, mandar matar". Isso nos mostra
que o próprio D-us pode tê-lo matado ou então enviou um emissário
seu para executar esta tarefa!

Após tal fato ter acontecido, Iehuda pede à sua nora que espere até o
tempo em que seu filho Shela – em hebraico, "Elevação" – atinja a
maturidade e possa casar-se, para que então ele assuma-a como
esposa, a fim de dar-lhe um filho. Mais uma vez as coisas não
ocorreram como fora combinado entre eles! “Então disse Iehuda a
Tamar sua nora: Fica-te viúva na casa de teu pai, até que Selá, meu
filho, seja grande. Porquanto disse: Para que porventura não morra
também este, como seus irmãos. Assim se foi Tamar e ficou na casa
de seu pai. Passando-se pois muitos dias, morreu a filha de Sua,
mulher de Iehuda; e depois de consolado Iehuda subiu aos
tosquiadores das suas ovelhas em Timna, ele e Hira, seu amigo, o
adulamita. E deram aviso a Tamar, dizendo: Eis que o teu sogro sobe
a Timna, a tosquiar as suas ovelhas. Então ela tirou de sobre si os
vestidos da sua viuvez e cobriu-se com o véu, e envolveu-se, e
assentou-se à entrada das duas fontes que estão no caminho de
Timna, porque via que Selá já era grande, e ela não lhe fora dada por
mulher” (Gn 38:11-14) grifo nosso. Aqui é que Tamar, cujo nome
significa “tamareira”, tem uma idéia ousada, mas que irá realmente
mostrar à Iehuda que sua postura não foi correta para com ela. Ela
sentou-se disfarçada de prostituta e Iehuda vendo-a não a reconhece
e entra a ela a fim de possuí-la! “E vendo-a Iehuda, teve-a por uma
prostituta, porque ela tinha coberto o seu rosto. E dirigiu-se a ela no
caminho, e disse: Vem, peço-te, deixa-me possuir-te. Porquanto não
sabia que era sua nora. E ela disse: Que darás, para que possuas a
mim? E ele disse: Eu te enviarei um cabrito do rebanho. E ela disse:
Dar-me-ás penhor até que o envies?” (Gn 38:15-17).

Tamar usa de um artifício a fim de fazer com que fosse reconhecido o


homem que estivera consigo acaso ela concebesse nesta relação
sexual. Ela toma como penhor de Iehuda os objetos que eram
particulares e que certamente identificavam o seu proprietário!
“Então ele disse: Que penhor é que te darei? E ela disse: O teu selo, e
o teu cordão, e o cajado que está em tua mão. O que ele lhe deu, e
possuiu-a, e ela concebeu dele” (Gn 38:18). Tamar pede de Iehuda
justamente seu “selo”, que em hebraico é hotam e significa "selo,
sinete". Era usado para autenticar um documento. Também pegou
dele o seu “cordão”. Esta palavra em hebraico é patil e significa
"corda, fio, linha". Por fim ela pega também o seu cajado. A palavra
“cajado” em hebraico é mateh e significa "vara, bordão, bastão,
haste, tribo". O seu poder (autoridade) estava no cajado! Tamar pede
de Iehuda como penhor os objetos que o identificavam e que
atestavam quem ele era e também a sua autoridade! Agora tudo isso
estava em suas mãos e Iehuda fora “despojado” daquilo que lhe era
mais precioso e que de forma nenhuma deveria ser dado à ninguém!
Mas Iehuda, no ímpeto de possuir aquela mulher cede à
concupiscência de sua carne e lhe entrega aquilo que o Eterno lhe
concedera como um presente! Iehuda, de certa forma, desprezou-as
quando as deu a Tamar!

O fato dela ter coberto seu rosto com o véu é um destaque, pois as
mulheres judias não cobriam o rosto, mas sim a cabeça! Quando o
rosto é coberto há uma necessidade de ocultar-se a identidade de
alguém; já quando se cobre a cabeça a intenção é dizer que se está
debaixo de autoridade do Eterno! A palavra “véu” vem do termo
hebraico tsaip que significa "roupão, xale, véu". Isso implica dizer
também que o véu não era pequeno, mas servia também como um
xale para cobrir a parte superior do corpo de quem o estivesse
usando.

Após o fato ocorrido, passaram-se três meses e então apareceu o


resultado deste encontro: Tamar estava realmente grávida! Mas isso
produziu uma situação muito desagradável entre eles, pois Tamar era
viúva e agora aparecera grávida! Agora a Torah deveria ser aplicada
ao seu caso, que era de fornicação e a punição seria a morte. “E
aconteceu que, quase três meses depois, deram aviso a Iehuda,
dizendo: Tamar, tua nora, adulterou, e eis que está grávida do
adultério. Então disse Iehuda: Tirai-a fora para que seja queimada. E
tirando-a fora, ela mandou dizer a seu sogro: Do homem de quem são
estas coisas eu concebi. E ela disse mais: Conhece, peço-te, de quem
é este selo, e este cordão, e este cajado. E conheceu-os Iehuda e
disse: Mais justa é ela do que eu, porquanto não a tenho dado a Selá
meu filho. E nunca mais a conheceu” (Gn 38:24-26). Quando foi dado
o aviso a Iehuda sobre Tamar, disseram-lhe que Tamar havia
“adulterado”. A palavra usada aqui em hebraico é zana e significa
"cometer fornicação, praticar prostituição". Isso equivale a dizer que
ela havia deixado para trás qualquer ordenança e determinação e
buscado uma solução por si só e fora da Torah! Mas o que realmente
acontecera fora que Tamar buscara uma solução para uma promessa
não-cumprida de suscitar a seu marido a descendência que lhe era de
direito. Então ela, usando de um artifício, fizera que seu sogro lhe
desse aquilo que os seus filhos não puderam dar-lhe: um filho!
Quando Iehuda reconhece seus objetos, então ele cai em si e lembra-
se da promessa não cumprida, e com isso ele também reconhece que
havia agido injustamente para com Tamar e agora precisava
“consertar” esta situação.

Ela agora não deveria ser condenada à pena de morte, mas sim
honrada como uma mulher justa! Aprendemos que os filhos
resultantes desta união foram Perets que significa “brecha” e Zerah
que significa "aurora, brilho". Da descendência de Perets vieram
aqueles que entrariam na rota para trazerem à existência Ieshua, o
Messias! Que caminhos tem o Eterno para demonstrar sua justiça e
sua vontade! Foi justamente através dessa mulher – nora de Iehuda -
que vieram filhos justos e que agradaram ao coração do Eterno e
assim entraram na linha de descendência do Mashiach.

Agora a Escritura retorna ao nosso personagem: Iosef! “E Iosef foi


levado ao Egito, e Potifar, oficial de Faraó, capitão da guarda, homem
egípcio, comprou-o da mão dos ismaelitas que o tinham levado lá”
(Gn 39:1). A palavra “levado” em hebraico é yarad e significa
"descer, ir para baixo, baixar". Sempre que encontramos a palavra
Egito na Escritura há uma associação com o verbo “descer”. Isso nos
mostra que o Egito é um lugar onde as pessoas então numa condição
inferior àquelas que estão em outras posições. Sabemos que o Egito é
um símbolo do mundo e que as pessoas que ainda estão “no mundo”
certamente estão numa posição inferior, se comparadas com aquelas
que são filhos de D-us e também obedientes à sua palavra. O mais
interessante nesta situação é que Iosef precisou descer ao Egito! Não
era possível prová-lo em sua própria terra, na casa de seus familiares.
O Eterno precisou fazê-lo descer a fim de poder prepará-lo para o seu
verdadeiro chamado! Muitas vezes somos levados pelo Eterno a
descer ao Egito. Isso nos fala de momentos nos quais nós perdemos
momentaneamente nossas posições, bens, amigos, irmãos e tudo o
que nos liga à nosso passado e família! É ali e então que o Eterno
inicia um processo de profundo tratamento com aqueles a quem Ele
escolhe para cumprirem um chamado especial: o de serem servos tão
bons, que por fim se transformarão em grandes líderes e até senhores
em terras alheias! Iosef vai para a casa de um homem chamado
Potifar que significa “possuído pelo sol”. Ali Iosef terá boas e más
experiências enquanto “cidadão” no Egito.

A seguir a Escritura nos mostra como Iosef era temente ao Eterno e


as conseqüências disso no Egito. “E o IHVH estava com Iosef, e foi
homem próspero; e estava na casa de seu Senhor egípcio” (Gn 39:2).
A primeira coisa interessante que notamos aqui é que a palavra aqui
em hebraico é o tetragrama (IHVH)! Isso novamente nos fala que Ele
tornou-se aquilo que Iosef precisava! Neste caso Ele trouxe a Iosef
sucesso naquilo que ele fazia! A palavra “próspero” em hebraico é
tsalah e significa "vencer, ter sucesso, ser útil, dar bom resultado,
experimentar abundância". Nós percebemos que o sucesso de Iosef
estava atrelado à sua relação de intimidade com o Eterno. Isso fez
com que seu trabalho produzisse resultados extraordinários, muito
além da expectativa de seu senhor egípcio. Ele trouxe para seu
senhor a experiência da abundância e a razão para isso acontecer foi
por que o Eterno – IHVH – estava com ele de tal forma que suas
necessidades eram supridas de forma imediata.

Mas isso aconteceu porque Iosef era fiel ao Eterno e mantinha uma
profunda comunhão com o D-us de Israel, seu pai! Isso fez com que
Iosef obtivesse um profundo respeito e confiança de seu senhor
egípcio! Nós deveríamos aprender com Iosef a termos uma postura
tal diante dos nossos “senhores egípcios” que eles mesmos
pudessem verificar que, através de nossa fidelidade e comunhão com
o Eterno tudo o que fosse colocado em nossas mãos geraria os
melhores resultados! Esse é o verdadeiro significado de tsalah pois aí
há a combinação de trabalho com a presença do Eterno, que
transforma esse trabalho em grande abundância! “Vendo, pois, o seu
senhor que o IHV Hestava com ele, e tudo o que fazia o IHVH
prosperava em sua mão, Iosef achou graça em seus olhos, e servia-o;
e ele o pôs sobre a sua casa, e entregou na sua mão tudo o que
tinha” (Gn 39:3-4). Iosef recebeu uma posição ou cargo de confiança
baseado em dois aspectos fundamentais para o sucesso:
competência e a aprovação do Eterno! Essas duas coisas fizeram de
Iosef o segundo – ou vice-diretor, gerente – da casa de seu senhor!
Iosef conseguiu “mesclar” o temor do Senhor com seu trabalho e o
resultado disso foi “vencer, ter sucesso, ser útil, dar bom resultado,
experimentar abundância”.

Mas o sucesso às vezes atrai também os olhos de pessoas que estão


muito mal intencionadas e querem nos derrubar e acabar com nosso
relacionamento com o Eterno. Iosef era um homem “vistoso”
fisicamente e isso fez com que houvesse olhares maliciosos sobre ele!
“E deixou tudo o que tinha na mão de Iosef, de maneira que nada
sabia do que estava com ele, a não ser do pão que comia. E Iosef era
formoso de porte, e de semblante” (Gn 39:6). Aqui a palavra
“formoso” é iapeh e significa "belo, lindo". A palavra denota “beleza
no sentido de aparência exterior”. O inimigo tenta então de várias
maneiras nos “seduzir” a fim de que abdiquemos de nosso
relacionamento com o Eterno e possuamos aquilo que nos é oferecido
de forma muito fácil. Daí surge o pecado da corrupção, da cobiça que
nos fazem decair de nossa posição de justiça diante de D-us e que
também dá direito legal ao inimigo para operar em nossas vidas. Isso
foi o que tentou o inimigo fazer com Iosef. Só que Iosef não cedeu a
estas tentações e permaneceu firme em sua posição.

As várias tentativas vieram de uma pessoa muito próxima dele: sua


senhora (esposa de seu senhor egípcio). Não conseguindo fazer com
que Iosef pecasse, ela então usou do recurso da mentira a fim de
derrubar Iosef. E assim foi feito. “E aconteceu depois destas coisas
que a mulher do seu senhor pôs os seus olhos em Iosef, e disse:
Deita-te comigo. Porém ele recusou, e disse à mulher do seu Senhor:
Eis que o meu senhor não sabe do que há em casa comigo, e
entregou em minha mão tudo o que tem; ninguém há maior do que
eu nesta casa, e nenhuma coisa me vedou, senão a ti, porquanto tu
és sua mulher; como pois faria eu tamanha maldade, e pecaria contra
Deus? E aconteceu que, falando ela cada dia a Iosef, e não lhe dando
ele ouvidos, para deitar-se com ela, e estar com ela, sucedeu num
certo dia que ele veio à casa para fazer seu serviço; e nenhum dos da
casa estava ali; e ela lhe pegou pela sua roupa, dizendo: Deita-te
comigo. E ele deixou a sua roupa na mão dela, e fugiu, e saiu para
fora. E aconteceu que, vendo ela que deixara a sua roupa em sua
mão, e fugira para fora, chamou aos homens de sua casa, e falou-
lhes, dizendo: Vede, meu marido trouxe-nos um homem hebreu para
escarnecer de nós; veio a mim para deitar-se comigo, e eu gritei com
grande voz; e aconteceu que, ouvindo ele que eu levantava a minha
voz e gritava, deixou a sua roupa comigo, e fugiu, e saiu para fora. E
ela pôs a sua roupa perto de si, até que o seu Senhor voltou à sua
casa. Então falou-lhe conforme as mesmas palavras, dizendo: Veio a
mim o servo hebreu, que nos trouxeste, para escarnecer de mim, e
aconteceu que, levantando eu a minha voz e gritando, ele deixou a
sua roupa comigo, e fugiu para fora” (Gn 39:7-18).

Após os fatos terem decorrido, vem então a resposta de seu senhor,


Potifar quanto ao fato que havia sucedido: “E aconteceu que, ouvindo
o seu senhor as palavras de sua mulher, que lhe falava, dizendo:
Conforme a estas mesmas palavras me fez teu servo, a sua ira se
acendeu” (Gn 39:19). A mulher de Potifar fala sobre Iosef como “teu”
(de seu marido) “servo”, que em hebraico é ebed, e significa "servo,
escravo". Esta fala incita-lhe a ira. A palavra “ira” em hebraico é ‘ap e
significa "narina, face, ira". A palavra dá ênfase específica ao aspecto
emocional da ira e do furor. A Escritura nos fala aqui sobre a reação
visível de Potifar quando soube o que havia acontecido! Houve uma
transformação em seu semblante e ficou claro que ele recebera essa
notícia de uma forma muito negativa!

Mas, apesar do quadro tão confuso e de certa forma “negro” que se


apresenta na vida de Iosef, o Eterno continuava a cuidar de seu
servo! “O IHVH, porém, estava com Iosef, e estendeu sobre ele a sua
benignidade, e deu-lhe graça aos olhos do carcereiro-mor” (Gn
39:21). Aqui temos o nome do é IHVH – aquele que se torna aquilo
que a pessoa precisa – e Ele agora traz sobre Iosef a “benignidade”.
Esta palavra em hebraico é hesed, e significa "bondade, bondade
amorosa, misericórdia". Tal coisa foi dada ao carcereiro-mor a fim de
que tratasse Iosef com a devida dignidade, pois apesar de estar preso
continuava sendo um homem justo! Iosef estava na prisão não por ter
cometido algum crime, mas sim por ter se recusado a dar lugar a
propostas que iam contra seus princípios éticos e morais – sem dizer
dos religiosos – e por isso, por recusar-se a dobrar-se ante às
propostas mundanas ele recebe como prêmio a cadeia! No entanto,
ali o Eterno estava tratando de Iosef e dando-lhe a oportunidade de
levar a outros o conhecimento do D-us de seu pai Israel! E até mesmo
na cadeia Iosef conservava sua conduta de justiça e isso fazia com
que ele prosperasse em tudo o que recebia para fazer. “E o
carcereiro-mor não teve cuidado de nenhuma coisa que estava na
mão dele, porquanto o Senhor estava com ele, e tudo o que fazia o
Senhor prosperava” (Gn 39:23). Novamente aqui temos duas palavras
chave para o sucesso de Iosef: IHVH (o tetragrama) e também tsalac
que significa "vencer, ter sucesso, ser útil, dar bom resultado,
experimentar abundância". Isso trouxe a Iosef – mesmo preso – o
sucesso e os bons resultados em seus afazeres diários.
Agora Iosef demonstra uma outra habilidade que até então era
desconhecida: a habilidade de interpretar sonhos! Iosef ouve os
sonhos de dois de seus companheiros – presos – e os interpreta: “E
eles lhe disseram: Tivemos um sonho, e ninguém há que o interprete.
E Iosef disse-lhes: Não são de Deus as interpretações? Contai-mo,
peço-vos. Então contou o copeiro-mor o seu sonho a Iosef, e disse-
lhe: Eis que em meu sonho havia uma vide diante da minha face. E
na vide três sarmentos, e brotando ela, a sua flor saía, e os seus
cachos amadureciam em uvas; e o copo de Faraó estava na minha
mão, e eu tomava as uvas, e as espremia no copo de Faraó, e dava o
copo na mão de Faraó. Então disse-lhe Iosef: Esta é a sua
interpretação: Os três sarmentos são três dias; dentro ainda de três
dias Faraó levantará a tua cabeça, e te restaurará ao teu estado, e
darás o copo de Faraó na sua mão, conforme o costume antigo,
quando eras seu copeiro” (Gn 40:8-13). Na interpretação do primeiro
sonho Iosef dá ao copeiro a esperança de que ele seria restaurado ao
seu cargo original. Isso certamente alegrou muito ao coração daquele
homem! Mas já no segundo caso, a notícia não seria tão agradável:
“Vendo então o padeiro-mor que tinha interpretado bem, disse a
Iosef: Eu também sonhei, e eis que três cestos brancos estavam
sobre a minha cabeça; e no cesto mais alto havia de todos os
manjares de Faraó, obra de padeiro; e as aves o comiam do cesto, de
sobre a minha cabeça. Então respondeu Iosef, e disse: Esta é a sua
interpretação: Os três cestos são três dias; dentro ainda de três dias
Faraó tirará a tua cabeça e te pendurará num pau, e as aves comerão
a tua carne de sobre ti” (Gn 40:16-19). A um deles veio a notícia de
que seria restaurado, já ao outro veio então a notícia de sua morte! E
assim como Iosef havia interpretado os sonhos o Eterno faz então
cumprir!

O resultado foi o seguinte: “E aconteceu ao terceiro dia, o dia do


nascimento de Faraó, que fez um banquete a todos os seus servos; e
levantou a cabeça do copeiro-mor, e a cabeça do padeiro-mor, no
meio dos seus servos. E fez tornar o copeiro-mor ao seu ofício de
copeiro, e este deu o copo na mão de Faraó, mas ao padeiro-mor
enforcou, como Iosef havia interpretado. O copeiro-mor, porém, não
se lembrou de Iosef, antes se esqueceu dele” (Gn 40:23) Iosef
demonstra ter uma comunhão tremenda com o Altíssimo, pois o
resultado agora torna-se visível. Tudo o que ele dissera aconteceu!
Mas, para seu desespero, ele havia sido “esquecido” pelo homem a
quem profetizara sua soltura! Mesmo assim Iosef continua a manter
sua postura e sua conduta e isso faria com que o Eterno o levasse a
uma posição muito mais exaltada do que ele sequer sonhara!

Percebemos que somente dois hebreus envolveram-se na


oniromancia – Iosef e Daniel, e isso aconteceu enquanto faziam parte
da corte de reis pagãos. Os hebreus não precisavam de intérpretes
para explicar seus sonhos, ao passo que indivíduos hebreus podiam
interpretar sonhos de estrangeiros. E mesmo quando fizeram as
Escrituras enfatizam que nenhum foi capaz de solucionar o sonho
mediante sua própria sabedoria. Foi D-us quem lhes revelou a
interpretação.

Aprendemos com Iosef a não desistirmos de nossos sonhos, ainda que


todas as coisas pareçam estar “presas” e nada estar acontecendo!
Mesmo assim nós temos a plena certeza de que o Eterno está
trabalhando nos bastidores por nós e preparando o momento certo
para que surjamos e então tomemos posse daquilo que nos foi
preparado por Ele.

Que nossas vidas sejam plenas em justiça e comunhão com o Eterno


em todos os nossos dias!

Mikketz (No fim)


Nosso relato começa com o Faraó tendo um sonho que lhe deixa
aterrorizado: “E aconteceu que, ao fim de dois anos inteiros, Faraó
sonhou, e eis que estava em pé junto ao rio. E eis que subiam do rio
sete vacas, formosas à vista e gordas de carne, e pastavam no prado.
E eis que subiam do rio após elas outras sete vacas, feias à vista e
magras de carne; e paravam junto às outras vacas na praia do rio. E
as vacas feias à vista e magras de carne, comiam as sete vacas
formosas à vista e gordas. Então acordou Faraó. Depois dormiu e
sonhou outra vez, e eis que brotavam de um mesmo pé sete espigas
cheias e boas. E eis que sete espigas miúdas, e queimadas do vento
oriental, brotavam após elas. E as espigas miúdas devoravam as sete
espigas grandes e cheias. Então acordou Faraó, e eis que era um
sonho. E aconteceu que pela manhã o seu espírito perturbou-se, e
enviou e chamou todos os adivinhadores do Egito, e todos os seus
sábios; e Faraó contou-lhes os seus sonhos, mas ninguém havia que
lhos interpretasse” (Gn 41:1-8). A seqüência dos fatos é
impressionante: as vacas e espigas demonstram a forma e o tempo
exato daquilo que seria feito pelo Eterno e que assolaria todo o
mundo conhecido de então! A reação de Faraó é aquela que
chamaríamos de “previsível”: chamem aos meus sábios para
desvendar esse negócio (sonho)! A Escritura nos afirma no verso 8
que o espírito de Faraó perturbou-se! A palavra “espírito” em hebraico
é ruach e significa "vento, espírito, sopro". A perturbação de Faraó
vem do mais íntimo de seu ser! O que acontecia com aquele homem
era que a sua parte espiritual estava profundamente aterrorizada com
o sonho que ele havia tido! Isso não era algo simples ou tudo como
“normal”, pois o Faraó chegou ao ponto de perturbar-se
profundamente somente por causa de um sonho! D-us estava nisso
fazendo com que o Faraó fosse profundamente atingido em seu
espírito a fim de exaltar seu próprio nome e também para dar a Iosef
aquilo que lhe era de direito – conforme promessa feita à ele pelo
próprio D-us – e isso em breve aconteceria! Então Faraó envia e
manda chamar seus adivinhadores para que pudessem interpretar
seus sonhos. A palavra “enviar” em hebraico é pa’am e significa
"empurrar, impelir". Outra coisa é que a palavra “adivinhadores” em
hebraico é hartem e significa "mago, adivinho, escriba". Ela descreve
algum tipo de ocultista. Sua função seria a de interpretar os sonhos
de Faraó. A palavra “interpretar” é patar e esta palavra é empregada
somente para a interpretação de sonhos! Isso significa que as ordens
de Faraó foram veementes, pois ele ordena que seus servos tragam
imediatamente seus ocultistas a fim de interpretarem seus sonhos!
Notamos, pelos termos aqui utilizados, que Faraó estava realmente
muito perturbado com a noite anterior que ele havia passado!
Somente um problema havia: ninguém conseguiu interpretar esses
sonhos de Faraó!

Como a origem destes sonhos era de D-us, somente Ele poderia dar a
interpretação destes sonhos! E os ocultistas de Faraó não conheciam
o D-us dos hebreus e por isso não poderiam receber o privilégio de os
interpretarem!

Ao ver e ouvir o que acontecia, um homem lembra-se de seu


passado: “Então falou o copeiro-mor a Faraó, dizendo: Das minhas
ofensas me lembro hoje: estando Faraó muito indignado contra os
seus servos, e pondo-me sob prisão na casa do capitão da guarda, a
mim e ao padeiro-mor, então tivemos um sonho na mesma noite, eu
e ele; sonhamos, cada um conforme a interpretação do seu sonho. E
estava ali conosco um jovem hebreu, servo do capitão da guarda, e
contamos-lhe os nossos sonhos e ele no-los interpretou, a cada um
conforme o seu sonho” (Gn 41:9-12). O relato de suas lembranças é
muito preciso: ele lembrou-se de um homem que era hebreu. A
palavra “hebreu” em hebraico é ibri e significa "hebreu". Esta palavra
era usada para não israelitas e sua conotação pode ser também para
designar “alguém que não é livre em solo livre”, por não ser natural
da terra. Iosef encontrava-se no Egito, não sendo porém natural do
Egito! Ele era hebreu, ou seja, “alguém que vem dalém”, “alguém
que vem do outro lado”. E havia um outro detalhe: a sua condição era
de um escravo – servo – do capitão da guarda. A palavra usada para
designar a condição de Iosef em hebraico é ebed e significa "escravo,
servo". A palavra vem da mesma raiz que abad, que significa
"trabalhar, servir", e tem o sentido de “adorar (obedecer) à D-us
através do trabalho”. Isso demonstra-nos que a condição de Iosef
naquela prisão tinha um propósito de adoração – em obediência – às
determinações do Eterno! Parece muito difícil de acreditar que isso
possa acontecer, mas é um fato: Iosef estava preso e à serviço de
pessoas ímpias com o objetivo de glorificar e obedecer ao Eterno!
Isso fez com que Iosef agora fosse lembrado, pois certamente
naquele homem havia algo de especial para que lhe fossem dadas as
interpretações dos sonhos daqueles homens!

Quando Faraó escuta este relato de seu copeiro, sua reação é


imediata: ele quer conhecer Iosef, o homem em quem há algo de tão
extraordinário! “Então mandou Faraó chamar a Iosef, e o fizeram sair
logo do cárcere; e barbeou-se e mudou as suas roupas e apresentou-
se a Faraó” (Gn 41:14). Faraó mandou chamar Iosef. A palavra
“mandar” em hebraico é shalah e significa "enviar, mandar embora,
ir". Novamente fica clara aqui a urgência de Faraó em resolver esta
questão! A Iosef é dada a oportunidade de apresentar-se diante de
Faraó a fim de que ele pelo menos tente interpretar os sonhos de
Faraó! Quando eles se avistam – Faraó e Iosef – o D-us Eterno honra à
Iosef e lhe dá o coração de Faraó, pois Iosef falou com sabedoria e
prudência, em obediência àquilo que o Eterno estava lhe dando
naquele momento! “E Faraó disse a Iosef: Eu tive um sonho, e
ninguém há que o interprete; mas de ti ouvi dizer que quando ouves
um sonho o interpretas. E respondeu Iosef a Faraó, dizendo: Isso não
está em mim; Elohim dará resposta de paz a Faraó” (Gn 41:15-16). A
palavra de Iosef impacta a Faraó imediatamente: a palavra
“responder” em hebraico é ‘anâ e significa responder, corresponder,
testemunhar, falar. Aquilo que Iosef estaria comunicando a Faraó
seria algo que primeiro lhe seria ministrado pelo Altíssimo! E isso no
seu devido tempo. Iosef tinha uma profunda convicção de que o
Eterno haveria de responder-lhe de forma precisa e imediata naquilo
que lhe era tão importante! Iosef disse-lhe que a resposta de D-us lhe
seria de paz. A palavra usada aqui é Elohim e esta é a designação
para o D-us Criador; a palavra “paz” aqui é shalom e significa "paz,
prosperidade, bem, saúde, inteireza, segurança. Iosef diz a Faraó que
o próprio Criador do Universo lhe daria a resposta e que esta resposta
seria-lhe algo que acrescentaria à ele paz, prosperidade, segurança",
etc... Iosef bem conhecia ao D-us que ele servia, por isso ele foi tão
seguro em sua afirmação!

Após o relato de Faraó à Iosef sobre seu sonho, vem então a


interpretação de Iosef: “Então disse Iosef a Faraó: O sonho de Faraó é
um só; o que Elohim há de fazer, mostrou-o a Faraó. As sete vacas
formosas são sete anos, as sete espigas formosas também são sete
anos, o sonho é um só. E as sete vacas feias à vista e magras, que
subiam depois delas, são sete anos, e as sete espigas miúdas e
queimadas do vento oriental, serão sete anos de fome. Esta é a
palavra que tenho dito a Faraó; o que Elohim há de fazer, mostrou-o a
Faraó” (Gn 41:25-28). Iosef afirma a Faraó que seu sonho é um só. Em
hebraico, é echad que significa "único, uma só unidade". Iosef diz a
Faraó que Elohim – o Criador – haveria de fazer. A palavra “fazer” em
hebraico é asâ, que significa "fazer, fabricar, realizar". Faraó saberia
agora quais seriam as realizações do Eterno e que atingiriam a terra
do Egito e consequentemente também o seu povo!
A palavra dita a Faraó por Iosef foi tão densa e equilibrada que
impressionou grandemente à Faraó e aos seus servos. Iosef além de
interpretar os sonhos de Faraó ainda dá à eles uma possível solução
para o problema que adviria após os “tempos de fartura”. A Iosef é
dada, de forma completa e plena, toda a solução para o grave
problema e também ser-lhe-ia dado o privilégio de executar o plano
de D-us para si mesmo e para o povo do Egito! O Eterno coloca um
servo seu à serviço – e como o “braço direito”- do Faraó a fim de
realizar seus projetos naquela terra estranha e no meio de um povo
que não O conhecia!

“E disse Faraó a seus servos: Acharíamos um homem como este em


quem haja o espírito de Elohim?” (Gn 41:38). As palavras de Faraó
ecoam pelo seu palácio e praticamente selam o destino de Iosef!
Faraó pergunta à seus servos - em hebraico ebed e significa
"escravo, servo". A palavra vem da mesma raiz que abad, que
significa "trabalhar, servir", e tem o sentido de “adorar (obedecer) à
D-us através do trabalho” – quem eles poderiam achar que tivesse
em si mesmo o espírito de D-us? Quando ele faz esta declaração ele
está falando sobre ruach Elohim – o Espírito do Criador. É
interessante notarmos que o próprio rei do Egito reconhece que em
Iosef – e não em seus adivinhos ou magos – está o Espírito do D-us
Criador e consequentemente somente ele é teria sido capaz de dar-
lhes a solução para aquilo que estavam procurando!

Agora Faraó dá seu veredicto final: “Tu estarás sobre a minha casa, e
por tua boca se governará todo o meu povo, somente no trono eu
serei maior que tu. Disse mais Faraó a Iosef: Vês aqui te tenho posto
sobre toda a terra do Egito. E tirou Faraó o anel da sua mão, e o pôs
na mão de Iosef, e o fez vestir de roupas de linho fino, e pôs um colar
de ouro no seu pescoço. E o fez subir no segundo carro que tinha, e
clamavam diante dele: Ajoelhai. Assim o pôs sobre toda a terra do
Egito. E disse Faraó a Iosef: Eu sou Faraó; porém sem ti ninguém
levantará a sua mão ou o seu pé em toda a terra do Egito. E Faraó
chamou a Iosef de Zafenate-Panéia, e deu-lhe por mulher a Azenate,
filha de Potífera, sacerdote de Om; e saiu Iosef por toda a terra do
Egito” (Gn 41:40-45). Agora Faraó dirige-se à Iosef não como a um
escravo ou um bandido qualquer, mas com todo o respeito que o
Eterno, em poucos minutos creditou à Iosef por sua obediência em
todo o seu proceder. Faraó percebeu que ele estava diante de um
homem diferente; ali estava um servo do D-us Eterno em quem ele
certamente poderia confiar!

Como, em tão pouco tempo, D-us havia mudado a situação de Iosef!


A pouco ele era um presidiário; agora já era vice-rei do Egito! A vida
de Iosef estava tendo uma tremenda reviravolta, e isso aconteceu só
por um motivo: ele foi obediente ao Eterno e nunca duvidou das
promessas que lhe tinham, sido feitas por D-us! Faraó dá à Iosef a
autoridade sobre a terra do Egito para que ele proceda conforme lhe
aprouver. Não nos esqueçamos de que essa autoridade já havia sido
conferida à Iosef na eternidade. Agora chegara o momento dessa
autoridade alcançar a Iosef e manifestar-se em sua vida! O D-us de
Iosef ainda vivia! E agora chegara o tempo de seus caminhos
manifestarem-se à toda a humanidade através de Iosef! Quantas
vezes nós somos levados à situações que nos oprimem e até nos
constrangem. Isso acontece porque o Eterno precisa provar nossos
corações a fim de ter certeza de que nós continuaremos a servi-lo
independente daquilo que aconteça conosco ou ao nosso redor!
Independente de qualquer coisa que aconteça, nós continuaremos a
crer nas promessas do Eterno e jamais deixaremos de sonhar os seus
sonhos e de abrigar em nossos corações a fé de que Ele intervirá na
história – não só na nossa, mas também na história da humanidade –
e manifestar-se-à no momento exato a fim de cumprir os Seus
desejos e propósitos em e através de nossas vidas!

Outra coisa que deveremos considerar é que a confiança de Faraó foi


tão grande para com Iosef que ele até mudou-lhe o nome: de agora
em diante ele se chamaria Zafenate-Panéia, que significa “Salvador
do mundo”! Faraó vê a dimensão daquilo que seria feito por Iosef e
ele mesmo profetiza que Iosef seria grande no Egito! Tudo isso
aconteceu quando Iosef era ainda jovem: ele tinha apenas trinta
anos! É interessante notarmos que aos trinta anos o homem judeu é
considerado maduro e pronto para exercer seu ministério! Foi
justamente nesta época que Iosef foi elevado ao posto de vice-rei do
Egito! Agora ele estava pronto para cumprir o seu chamado; havia em
seu corpo físico, na sua alma e em seu espírito o equilíbrio e a
maturidade necessários para que o Eterno pudesse utilizar-se de sua
vida a fim de mudar os rumos da história da humanidade!

Calcule a alegria e satisfação de Iosef pela chegada deste momento


em sua vida! Ele certamente sonhara com isso – será? – e por isso
esperara por tanto tempo que quando isso acontece ele quase não
acredita! E o inferno deve ter trabalhado muito para que Iosef não
acreditasse na veracidade das promessas do Altíssimo para ele! Ele
certamente teria sido levado à pensar em muitos momentos que o D-
us de seus pais o havia abandonado! De que lhe adiantaria tamanha
fidelidade e temor, se nada de mais estava acontecendo? Os anos se
passaram e nada acontecia, mas num dado momento, finalmente o
Eterno se manifesta e diz: “Meu filho, chegou a sua hora!” Agora,
nem mesmo os demônios mais poderosos do inferno poderiam mudar
a ordem que havia sido dada no céu! Iosef receberia o que lhe fora
prometido!

Através da administração de Iosef houveram grandes colheitas no


Egito, além de fartura, que logo se transformaria em prosperidade
para Faraó. “E nos sete anos de fartura a terra produziu
abundantemente. E ele ajuntou todo o mantimento dos sete anos,
que houve na terra do Egito; e guardou o mantimento nas cidades,
pondo nas mesmas o mantimento do campo que estava ao redor de
cada cidade. Assim ajuntou Iosef muitíssimo trigo, como a areia do
mar, até que cessou de contar; porquanto não havia numeração” (Gn
41:47-49). Ficou evidente para Faraó e os seus súditos que a decisão
tomada por Faraó foi a mais correta possível: tudo o que Iosef fizera –
até agora – tinha produzido resultados extraordinários! Eram as mãos
de D-us guiando as mãos de Iosef a fim de levá-lo ao sucesso!

Foi justamente no Egito que aconteceu com Iosef aquilo que ele
certamente muito desejara: o nascimento de seus filhos! O Eterno dá
a Iosef dois filhos que refletem o seu estado interior. “E nasceram a
Iosef dois filhos (antes que viesse um ano de fome), que lhe deu
Azenate, filha de Potífera, sacerdote de Om. E chamou Iosef ao
primogênito Manassés, porque disse: Elohim me fez esquecer de todo
o meu trabalho, e de toda a casa de meu pai. E ao segundo chamou
Efraim; porque disse: Elohim me fez crescer na terra da minha
aflição” (Gn 41:50-52). Através do nascimento destas duas crianças
algo fica muito claro: Iosef estava passando por um processo de cura
de sua alma e também de consolidação de sua fé no D-us de seus
pais! O primeiro filho recebe o nome de Manassés, que em hebraico
significa “que me faz esquecer”. Todas as lembranças e recordações
são plenamente “esquecíveis” até o momento em que nós
precisemos que elas sejam curadas. Em Manassés Iosef acreditava
estar “esquecendo” das coisas que lhe haviam ocorrido no passado!
Logo adiante veremos que isso não era tão verídico quanto Iosef
imaginava ao dar esse nome ao menino. Outro aspecto é que Iosef
havia vencido em terra estranha! Isso seria motivo de grande orgulho
para qualquer homem e Iosef externa esse fato chamando seu outro
filho de “Efraim”, que em hebraico significa “duplamente frutífero”.
Certamente Iosef quis dizer que ele havia recebido uma “porção
dobrada” das bênçãos do Eterno sobre sua vida! No final deste verso
Iosef fala que o Eterno o fez crescer na terra de sua aflição. A palavra
“aflição” em hebraico é oni, e significa "aflição, pobreza". Essa
palavra indica o estado de sofrimento ou castigo resultante da aflição.

Iosef nos ensina que a nossa vitória virá justamente na terra onde
somos afligidos! É justamente ali que o Eterno quer nos dar a plena
afirmação e a vitória total para que aqueles que compartilharam
nosso sofrimento e pesar venham a ver e a crer que o Eterno é
poderoso para reverter qualquer situação, por mais terrível e
desesperadora que pareça! O fato de Iosef Ter tido filhos na terra do
Egito simboliza a nação de Israel tendo seus filhos em terras
estranhas e eles ali frutificando e sendo como um padrão para os
demais: “Tu, pois, ó filho do homem, toma um pedaço de madeira, e
escreve nele: Por Iehuda e pelos filhos de Israel, seus companheiros.
E toma outro pedaço de madeira, e escreve nele: Por Iosef, vara de
Efraim, e por toda a casa de Israel, seus companheiros” (Ez 37:16).

O Eterno colocou Iosef numa posição tão elevada que o mundo


conhecido de então tinha de vir até Iosef para comprar dele os
víveres necessários para a produção de pão, e consequentemente
aquilo que garantiria a sua existência até que o período de fome
acabasse!

A notícia sobre a fartura no Egito chegou até Canaã – terra onde


moravam os irmãos e o pai de Iosef – e são justamente eles que
novamente aparecem na vida de Iosef! Novamente o Eterno fará com
que os sonhos de Iosef se realizem; o sonho torna-se realidade na
vida de Iosef! “Vendo então Ia´aqov que havia mantimento no Egito,
disse a seus filhos: Por que estais olhando uns para os outros? Disse
mais: Eis que tenho ouvido que há mantimentos no Egito; descei para
lá, e comprai-nos dali, para que vivamos e não morramos. Então
desceram os dez irmãos de Iosef, para comprarem trigo no Egito. A
Benjamim, porém, irmão de Iosef, não enviou Ia´aqov com os seus
irmãos, porque dizia: Para que lhe não suceda, porventura, algum
desastre. Assim, entre os que iam lá foram os filhos de Israel para
comprar, porque havia fome na terra de Canaã” (Gn 42:1-5). Agora os
irmãos de Iosef irão se defrontar com seu irmão Iosef – agora
conhecido como Zafenate Panéia e neste encontro irá acontecer algo
extraordinário: seus irmãos irão inclinar-se diante dele – conforme ele
havia sonhado à muitos anos atrás! “Iosef, pois, era o governador
daquela terra; ele vendia a todo o povo da terra; e os irmãos de Iosef
chegaram e inclinaram-se a ele, com o rosto em terra” (Gn 42:6). A
Escritura nos informa que Iosef era o shallit, que significa
"dominador, autoridade". A forma árabe da palavra deu origem ao
título “sultão”. Os irmãos de Iosef fizeram então algo inesperado: eles
inclinaram-se. A palavra “inclinar-se” em hebraico é shahah e tem o
sentido de “ser abatido”, “ser humilhado” e “ter a arrogância extraída
à força”. Eles nada sabiam sobre aquele homem à quem se
inclinavam e agora o Eterno estava realmente extraindo sua
arrogância à força! Como são belos os caminhos que o Eterno usa
para fazer cumprir sua Palavra! Os arrogantes irmãos de Iosef que o
desprezaram tanto a ponto de venderem-no à um bando de
mercadores, agora se inclinam diante do homem a quem
desprezaram! Certamente faziam isso de forma involuntária, não
sabendo que Zafenate Panéia era o mesmo Iosef a quem venderam
aos mercadores árabes!

Quando Iosef os vê, algo acontece dentro dele. “E Iosef, vendo os


seus irmãos, conheceu-os; porém mostrou-se estranho para com eles,
e falou-lhes asperamente, e disse-lhes: De onde vindes? E eles
disseram: Da terra de Canaã, para comprarmos mantimento” (Gn
42:7). A palavra “conhecer” em hebraico é nakar e significa
"reconhecer, estar familiarizado, conhecer, discernir". É incrível como
a memória de Iosef pode ser preservada a tal ponto que quando ele
olha para seus irmãos imediatamente os reconhece! Houve nele o
discernimento sobre aqueles homens e a familiaridade foi tamanha
que o reconhecimento foi realmente imediato! Mas Iosef agora os
trata de forma a não dar-se a conhecer à eles. Certamente eles não
haviam mudado tanto e por isso foram reconhecidos por Iosef; já com
Iosef as coisas tinham sido diferentes e ele havia sido transformado
num príncipe do Egito, o que fez com que seus irmãos não o
reconhecessem!

Na mente de Iosef foram repassados em poucos instantes os fatos


que o relacionavam àqueles homens. “Então Iosef lembrou-se dos
sonhos que havia tido deles e disse-lhes: Vós sois espias, e viestes
para ver a nudez da terra” (Gn 42:9). A palavra “lembrar-se” em
hebraico é zakar e significa pensar, meditar, dar atenção, lembrar,
relembrar, recordar. Certamente Iosef agora se lembra não somente
dos fatos mas também das promessas que o Eterno lhe havia feito
através de seus sonhos. Ele constata que o que havia sonhado há
anos passados agora torna-se a sua realidade diante de seus olhos. O
Eterno fê-lo recordar-se de tudo! Agora não existe mais o sonho, há
somente a visão da realidade diante de si e deforma inacreditável!
Iosef continua fazendo seu papel a fim de não ser reconhecido pelos
irmãos e ele lhes diz que são espiões para certamente “medir” a sua
reação ante a acusação.

“E eles lhe disseram: Não, senhor meu; mas teus servos vieram
comprar mantimento. Todos nós somos filhos de um mesmo homem;
somos homens de retidão; os teus servos não são espias. E ele lhes
disse: Não; antes viestes para ver a nudez da terra. E eles disseram:
Nós, teus servos, somos doze irmãos, filhos de um homem na terra
de Canaã; e eis que o mais novo está com nosso pai hoje; mas um já
não existe. Então lhes disse Iosef: Isso é o que vos tenho dito, sois
espias; nisto sereis provados; pela vida de Faraó, não saireis daqui
senão quando vosso irmão mais novo vier aqui. Enviai um dentre vós,
que traga vosso irmão, mas vós ficareis presos, e vossas palavras
sejam provadas, se há verdade convosco; e se não, pela vida de
Faraó, vós sois espias. E pô-los juntos, em prisão, três dias” (Gn
42:10-17). Aqui temos um diálogo entre Iosef e seus irmãos: de um
lado a acusação de serem espiões; de outro a defesa sendo elaborada
através da história da família. Eles dizem a Iosef que são de uma
família de doze irmãos – eles estão em dez no Egito – e que o irmão
mais novo está com seu pai e um deles já não existe! Mal sabem eles
que este que eles dizem que não existe mais está diante deles! A
reação de Iosef é mandar prendê-los como espiões! Ficaram presos
por três dias para que Iosef pudesse pensar naquilo que fria com eles.

No terceiro dia eles foram soltos e Iosef faz-lhes uma proposta: “E ao


terceiro dia disse-lhes Iosef: Fazei isso, e vivereis; porque eu temo a
Elohim. Se sois homens de retidão, que fique um de vossos irmãos
preso na casa de vossa prisão; e vós ide, levai mantimento para a
fome de vossa casa, e trazei-me o vosso irmão mais novo, e serão
verificadas vossas palavras, e não morrereis. E eles assim fizeram.
Então disseram uns aos outros: Na verdade, somos culpados acerca
de nosso irmão, pois vimos a angústia da sua alma, quando nos
rogava; nós porém não ouvimos, por isso vem sobre nós esta
angústia” (Gn 42:18-21). Iosef diz-lhes temer à D-us. Aqui ele usa a
palavra yare’ que significa "temer, reverenciar, honrar", respeitar em
conexão com outra palavra hebraica que é Elohim! Mas parece que
seus irmãos não entenderam aquilo que ele dissera e nem mesmo
acharam isso estranho! Quando um egípcio diria que reverencia,
honra, respeita ao Criador dos Céus e da Terra? Nunca! Mas isso
passou desapercebido por eles, vindo então sobre todos eles um
sentimento de culpa por aquilo que tinham feito com Iosef! Em sua
proposta Iosef ficaria com um deles até que o irmão mais novo
voltasse com eles a fim de ser comprovada a veracidade daquilo que
diziam! Quando eles se declararam “culpados” queriam realmente
dizer que eram asham que em hebraico significa "ficar desolado, ser
culpado, reconhecer a ofensa, transgredir". Eles agora reconhecem o
peso daquilo que, anos atrás haviam feito contra Iosef; dizem ainda
que viram a angústia de sua alma. A palavra “alma” em hebraico é
nephesh e significa "alma, vida, pessoa". A palavra nos fala sobre
aquilo que está ligado à alma, os sentimentos de alguém.

Agora, quando os irmãos de Iosef estão em dificuldades eles então


lembram-se de suas transgressões e tem a consciência de que esta é
a retribuição do Eterno por seus pecados contra seu irmão, pois no
momento em que a angústia veio sobre a alma de Iosef, ferindo
profundamente seus sentimentos e marcando para sempre sua vida,
eles nem sequer atentaram para o que estava acontecendo. Muitas
vezes nós somos participantes de determinados acontecimentos que
nos marcam profundamente em nossos sentimentos, alterando até
mesmo nossos hábitos e costumes de tão profundas são as marcas! A
reação de Iosef, após tantos anos de ausência foi tremenda, pois ele
poderia ter tido um “acesso de ira” e naquele momento poderia ter se
vingado de seus irmãos, mas não foi isso que ele fez! Após ouvir
aquilo que fora dito por seus irmãos acerca dele, sua reação é
imediata: “E retirou-se deles e chorou. Depois tornou a eles, e falou-
lhes, e tomou a Simeão dentre eles, e amarrou-o perante os seus
olhos” (Gn 42:24). Iosef sai da presença de seus irmãos para chorar. A
palavra usada aqui no hebraico é baká e significa "chorar, lamentar,
derramar lágrimas". Tem o sentido de “chorar por motivo de alegria
ou tristeza, o que inclui remorso, lamento, queixa e arrependimento”.
Iosef chora por não poder – ainda – revelar-se à seus irmãos e
também por causa de suas lembranças que o assolavam e
certamente pressionavam sua alma a fim de que ele tomasse alguma
atitude!

Agora, os irmãos de Iosef retornam para Canaã e no caminho tem


uma surpresa: dentro dos sacos que continham o trigo que haviam
comprado estava junto o dinheiro com o qual eles pagaram o trigo!
Quando eles fazem esta descoberta, temem muito e se perguntam: o
Que o Criador nos está preparando?

Quando chegam à sua casa eles imediatamente reúnem-se com seu


pai a fim de explicar-lhe o que ocorrera no Egito. Ia´aqov fica muito
triste com as novas trazidas por seus filhos e quando lhe é dito que
eles precisam levar a Benjamim para que Simeão seja liberto, então
Ia´aqov entra em pânico! “Ele porém disse: Não descerá meu filho
convosco; porquanto o seu irmão é morto, e só ele ficou. Se lhe
suceder algum desastre no caminho por onde fordes, fareis descer
minhas cãs com tristeza à sepultura” (Gn 42:38). A reação de Ia´aqov
já era esperada: ele nega-se a enviar seu filho mais novo com os
outros, pois dizia que eles o fariam descer à sepultura em sua velhice
com tristeza. A palavra traduzida por “cãs” é sêbâ e significa
"velhice". Quando Ia´aqov fala sobre a “tristeza” a palavra usada aqui
é yagon e significa "lamento, tristeza, aflição". O sentido básico da
palavra é o de uma aflição mental resultante do sofrimento. Ia´aqov
temia que acontecesse algo com Benjamim e isso viesse a lhe
acrescentar um tipo de sofrimento que não seria esquecido jamais e
assim ele terminaria seus dias indo para o sheol, que em hebraico é
a designação para “mundo dos mortos”.

Novamente, o Eterno faz com que a situação do momento obrigue o


homem a caminhar em direção aos seus propósitos: a fome agora
obriga aos irmãos de Iosef a retornarem ao Egito! “E a fome era
gravíssima na terra” (Gn 43:1). A palavra gravíssima em hebraico é
kabad e significa "ser pesado, duro, pesaroso, glorioso, grande". O
que estava acontecendo com a terra era simplesmente o
cumprimento dos sonhos de Faraó. A fome era pesada – insuportável
– dura, trazendo pesar à todos a quem atingia, pois ela estava
mostrando-lhes a sua “glória”!

Ia´aqov então ordena aos seus filhos que desçam ao Egito e comprem
mais mantimentos para todos. Porém Iehuda interpela o pai e lhe
explica que não é possível voltarem ao Egito sem a companhia de seu
irmão mais novo – Benjamim – pois se assim o fizerem certamente
haverão de morrer, pois eles haviam dito a Iosef que o levariam a fim
de provarem a sua inocência e também para libertarem Simeão!

Finalmente Ia´aqov concorda com a viagem e então envia para Iosef


alguns “presentes”: “Então disse-lhes Israel, seu pai: Pois que assim
é, fazei isso; tomai do mais precioso desta terra em vossos vasos, e
levai ao homem um presente: um pouco do bálsamo e um pouco de
mel, especiarias e mirra, terebinto e amêndoas” (Gn 43:11). Ia´aqov
pensou que, enviando estes presentes para Iosef eles seriam melhor
recebidos por ele e poderiam desta vez Ter sucesso em sua longa mas
necessária viagem ao Egito!

Cada um dos presentes que Ia´aqov envia para Iosef tem um


significado profético:

tsari – bálsamo – ele nos fala sobre cura, sobre restauração e sobre
uma unção que preparava para a morte.

debash – mel – o mel fala sobre a força e a doçura. Certamente Ia


´aqov esperava que o coração de Iosef estivesse repleto de força e
doçura ao encontrar com seus filhos!
nekot – aromas, especiarias. Estes elementos serviam para o
embelezamento externo da pele e para a confecção de perfumes.

hot – mirra. A mirra nos fala sobre o sofrimento. Agora a atitude de Ia


´aqov queria que houvesse um fim em seu sofrimento quanto aos
seus filhos. Ele envia mirra para Iosef sem saber que, para o próprio
Iosef chegaria brevemente o fim de seu sofrimento quanto à sua
família!

botnin – pistácea – Esta planta era resinosa e estava sempre verde,


mantendo-se “viva” mesmo fora de seu tronco. Isso falava muito
sobre a vida de Iosef, que, mesmo sendo arrancado do “tronco”
familiar continuava verde e abençoando muitas vidas que dele se
aproximavam.

shaqued – amêndoas. A palavra está ligada com o verbo “vigiar”,


“guardar”. A idéia básica é “estar alerta”. Certamente estes eram
aspectos que estavam sempre presentes na vida de Iosef, mas muito
mais agora, quando sua vida iria realmente tomar um rumo
totalmente diferente! Isso nos fala também da vigilância que o Eterno
tem sobre sua Palavra a fim de cumprí-la! Iosef ainda não sabia o
quanto a Palavra que o Eterno lhe havia dito se cumpriria de forma
cabal em sua vida!

Quando Ia´aqov despede seus filhos, ele os abençoa assim: “E El


Todo-Poderoso vos dê misericórdia diante do homem, para que deixe
vir convosco vosso outro irmão, e Benjamim; e eu, se for desfilhado,
desfilhado ficarei” (Gn 43:14). Percebemos que há uma certeza mas
também uma resignação muito grande nas palavras de Ia´aqov. Ele
certamente sabe que os caminhos do Eterno não podem ser deixados
de lado!

Então, após terem feito a viagem, eles apresentam-se diante da face


de Iosef e novamente o que acontece é extraordinário: “E os homens
tomaram aquele presente, e dinheiro em dobro em suas mãos, e a
Benjamim; e levantaram-se, e desceram ao Egito, e apresentaram-se
diante de Iosef. Vendo, pois, Iosef a Benjamim com eles, disse ao que
estava sobre a sua casa: Leva estes homens à casa, e mata reses, e
prepara tudo; porque estes homens comerão comigo ao meio-dia. E o
homem fez como Iosef dissera, e levou-os à casa de Iosef. Então
temeram aqueles homens, porquanto foram levados à casa de Iosef,
e diziam: Por causa do dinheiro que dantes voltou nos nossos sacos,
fomos trazidos aqui, para nos incriminar e cair sobre nós, para que
nos tome por servos, e a nossos jumentos. Por isso chegaram-se ao
homem que estava sobre a casa de Iosef, e falaram com ele à porta
da casa, E disseram: Ai! senhor meu, certamente descemos dantes a
comprar mantimento; e aconteceu que, chegando à estalagem, e
abrindo os nossos sacos, eis que o dinheiro de cada um estava na
boca do seu saco, nosso dinheiro por seu peso; e tornamos a trazê-lo
em nossas mãos; também trouxemos outro dinheiro em nossas mãos,
para comprar mantimento; não sabemos quem tenha posto o nosso
dinheiro nos nossos sacos. E ele disse: Paz seja convosco, não temais;
o vosso Elohim, e o Elohim de vosso pai, vos tem dado um tesouro
nos vossos sacos; o vosso dinheiro me chegou a mim. E trouxe-lhes
fora a Simeão” (Gn 43:15-23). Os filhos de Ia´aqov agora sentem-se
angustiados por não saberem o que está acontecendo, nem o que
lhes acontecerá, pois os fatos narrados acima não dão certeza
alguma de seu futuro. Eles ainda tentam explicar ao administrador da
casa de Iosef os fatos, mas isso não é importante para ele, pois a
única coisa que ele diz é que sintam-se em paz. A palavra que ele usa
aqui (paz) é shalom, que significa "paz, prosperidade, bem, inteireza,
saúde, segurança". Eles deveriam sentir-se assim pois Elohim – o D-us
Criador - lhes havia dado um tesouro e eles o deveriam recebe-lo!

Agora chega o momento mais importante: Iosef chega à sua casa


para almoçar com os irmãos! “Vindo, pois, Iosef à casa, trouxeram-
lhe ali o presente que tinham em suas mãos; e inclinaram-se a ele
até à terra. E ele lhes perguntou como estavam, e disse: Vosso pai, o
ancião de quem falastes, está bem? Ainda vive? E eles disseram: Bem
está o teu servo, nosso pai vive ainda. E abaixaram a cabeça, e
inclinaram-se” (Gn 43:26-28). Agora os irmãos de Iosef, novamente
diante dele, procedem da mesma forma como o “sonhador” havia
sonhado muitos anos atrás: eles inclinam-se diante dele duas vezes!
Iosef conversa com eles de forma amigável e pergunta sobre o
restante da família – ele pergunta sobre Ia´aqov – e após a resposta
eles novamente inclinam-se! Os sonhos não abandonados
transformam-se em grandes e belas realidades diante de nossos
olhos quando menos esperamos! Nós – assim como Iosef – nunca
devemos desistir ou sequer abrirmos mão daquilo que nos foi
prometido pelo Eterno D-us de Israel! Se Ele prometeu certamente o
fará cumprir! Por isso, sonhemos os sonhos do Eterno e vejamos seu
cumprimento diante de nossos olhos e o resultado disso será, além de
tudo a cura de nossas almas!

Agora chega o momento que Iosef vê a Benjamim e o abençoa: “E ele


levantou os seus olhos, e viu a Benjamim, seu irmão, filho de sua
mãe, e disse: Este é vosso irmão mais novo de quem falastes? Depois
ele disse: Elohim te dê a sua graça, meu filho. E Iosef apressou-se,
porque as suas entranhas comoveram-se por causa do seu irmão, e
procurou onde chorar; e entrou na câmara, e chorou ali” (Gn 43:29-
30). Certamente este egípcio não era um homem comum, pois ele
tem uma forma diferente de tratar as pessoas e aqui isso é
demonstrado quando ele se dirige à Benjamim dizendo: “Elohim te dê
a sua graça, meu filho”. Em hebraico Iosef diz que Elohim – o D-us
Criador – dê a Benjamim sua hanan, que significa "ser gracioso,
compadecer-se". A raiz desta palavra vem de hen, que significa
"favor, graça". Ora, Iosef ministra a Benjamim algo que ninguém
havia feito para ele ou para seus filhos! Ele o trata como se fosse um
de seus próprios filhos aos olhos de seus irmãos que devem ter ficado
muito surpresos com isso!
Inclusive, quando eles se assentam para almoçarem como Iosef, a
porção servida à Benjamim é muito maior do que a dos outros! É tão
grande que causa espanto! “E assentaram-se diante dele, o
primogênito segundo a sua primogenitura, e o menor segundo a sua
menoridade; do que os homens se maravilhavam entre si. E
apresentou-lhes as porções que estavam diante dele; porém a porção
de Benjamim era cinco vezes maior do que as porções deles todos. E
eles beberam, e se regalaram com ele” (Gn 43:33-34). Quando os
irmãos de Iosef foram convidados a assentarem-se à mesa eles foram
colocados em cada lugar segundo a sua idade! Isso deve novamente
Ter-lhes parecido muito estranho, pois parecia que eles eram
intimamente conhecidos e não conseguiam entender o que lhes
sucedia! Porém, com Benjamim, tudo era diferente e sua porção
muito maior do que a dos outros!

Agora, os irmãos de Iosef precisam ir embora para Canaã e Iosef


ordena que lhe sejam preparados os mantimentos para irem embora
e levarem novamente o dinheiro. Somente que agora algo mais é
feito com o saco de Benjamim: a taça do próprio Iosef é colocada ali
para incriminá-lo e fazê-lo ficar no Egito!

O texto nos diz o seguinte: “E deu ordem ao que estava sobre a sua
casa, dizendo: Enche de mantimento os sacos destes homens, quanto
puderem levar, e põe o dinheiro de cada um na boca do seu saco. E o
meu copo, o copo de prata, porás na boca do saco do mais novo, com
o dinheiro do seu trigo. E fez conforme a palavra que Iosef tinha dito.
Vinda a luz da manhã, despediram-se estes homens, eles com os
seus jumentos. Saindo eles da cidade, e não se havendo ainda
distanciado, disse Iosef ao que estava sobre a sua casa: Levanta-te, e
persegue aqueles homens; e, alcançando-os, lhes dirás: Por que
pagastes mal por bem? Não é este o copo em que bebe meu senhor e
pelo qual bem adivinha? Procedestes mal no que fizestes. E alcançou-
os, e falou-lhes as mesmas palavras. E eles disseram-lhe: Por que diz
meu senhor tais palavras? Longe estejam teus servos de fazerem
semelhante coisa. Eis que o dinheiro, que temos achado nas bocas
dos nossos sacos, te tornamos a trazer desde a terra de Canaã;
como, pois, furtaríamos da casa do teu senhor prata ou ouro? Aquele,
com quem de teus servos for achado, morra; e ainda nós seremos
escravos do meu senhor. E ele disse: Ora seja também assim
conforme as vossas palavras; aquele com quem se achar será meu
escravo, porém vós sereis desculpados. E eles apressaram-se e cada
um pôs em terra o seu saco, e cada um abriu o seu saco. E buscou,
começando do maior, e acabando no mais novo; e achou-se o copo no
saco de Benjamim. Então rasgaram as suas vestes, e carregou cada
um o seu jumento, e tornaram à cidade” (Gn 44:1-13).

Agora, após uma bem-sucedida visita ao Egito juntamente com uma


bela recepção do próprio vice-rei, acontece algo terrível: Benjamim é
apontado como um ladrão que roubara o próprio Iosef! Quando eles
retornam à casa de Iosef, agora já não como “convidados” mas sim
como ladrões, algo acontece com eles: “E veio Iehuda com os seus
irmãos à casa de Iosef, porque ele ainda estava ali; e prostraram-se
diante dele em terra. E disse-lhes Iosef: Que é isto que fizestes? Não
sabeis vós que um homem como eu pode, muito bem, adivinhar?”
(Gn 44:14-15). Agora toda a família de Ia´aqov prostra-se novamente
diante de Iosef! A palavra “prostrar-se” em hebraico é napal e
significa "cair, prostrar-se, ser lançado fora, fracassar". Certamente
estes foram os sentimentos que perpassaram a alma de cada um
deles naquele momento! Nada seria mais terrível do que ser acusado
injustamente! E isso era tão sério que as palavras seguintes de Iosef
devem ter-lhes soado como um pesadelo! “E disse-lhes Iosef: Que é
isto que fizestes? Não sabeis vós que um homem como eu pode,
muito bem, adivinhar?” A palavra “adivinhar” em hebraico é nahash
e significa "aprender por experiência, observar com diligência,
adivinhar, praticar adivinhação, ler a sorte, tomar como presságio". É
lógico que Iosef dissera esta palavra não em seu sentido literal, pois
ele conhecia ao D-us Eterno e não necessitava “adivinhar” qualquer
coisa! Tudo havia sido tramado por ele a fim de descobrir o que
estava realmente no coração de seus irmãos!

Agora, já no fim de sua viagem, eles têm um dilema em suas mãos,


pois não podem voltar à sua terra sem Benjamim; de outro lado Iosef
lhes propõe que a pessoa que foi pega com seu copo lhe seja dada
como servo! Eles agora passam por um momento de terrível angústia
de sua alma, pois quando se é acusado injustamente o sofrimento
que sobrevem é muito grande e os pensamentos que percorrem
nossa mente são geralmente de abandono! É como se eles
estivessem pensando o seguinte: “Teria o D-us de nosso pai nos
abandonado à nossa própria sorte justamente aqui no Egito? Nós
nada fizemos que pudesse nos incriminar, porém aqui estamos nós
como cativos, sendo acusados por algo que não fizemos!”

Novamente suas lembranças devem Ter vindo à tona e eles


certamente devem ter se lembrado de Iosef em sua angústia!

O desfecho deste grande momento de D-us para a vida de seus


servos será visto em nossa próxima Parasha.

Que o D-us Eterno nos ajude a nunca desistirmos de nos


relacionarmos com Ele aconteça o que acontecer! Não devemos
nunca nos esquecer que somente o Eterno é capaz de fazer cumprir
cada um dos sonhos que Ele mesmo plantou em nossos corações!

Então que Ele os faça cumprir à seu tempo determinado!


Vayiggash (Ele avança)

Escrito por Mário Moreno Dom, 25 de Dezembro de 2011 09:02

Neste ponto da narrativa temos um impasse: Iosef (até agora


“desconhecido” para seus irmãos), usou de astúcia para reter seu
irmão Benjamim ao seu lado. Porém, o que acontece a seguir é
maravilhoso: “Então Iehuda se chegou a ele, e disse: Ai! senhor meu,
deixa, peço-te, o teu servo dizer uma palavra aos ouvidos de meu
senhor, e não se acenda a tua ira contra o teu servo; porque tu és
como Faraó” (Gn44.18). Iehuda se aproxima de Iosef e suplica-lhe
humildemente a sua compreensão e seu favor! O nome Iehûdâ é
proveniente do verbo yadâ e tem o sentido de “dar graças, elogiar,
louvar”. Iehûdâ é mais velho do que Iosef, porém ele o chama de
“senhor”. Esta palavra em hebraico é adon e significa "senhor,
mestre, Senhor". O termo ugarítico ´adn significa “senhor e pai” e o
acadiano adannu tem o sentido de “poderoso” e esta palavra refere-
se normalmente à homens. Ela vem da raiz ´dn de onde provém
´eden que significa “pedestal”. Agora, Iehûdâ, aquele que é ouvido,
obedecido, elogiado por seus irmãos chama a um egípcio de adon!
Desta palavra provém um dos títulos do Eterno: Adonai! Naquele
instante é como se Iosef fosse para Iehûdâ como o próprio D-us,
retendo em suas mãos o poder da vida e da morte! Iehûdâ diz-lhe
ainda: “...deixa teu servo dizer uma palavra...” A palavra usada aqui
por Iehûdâ para designar-se servo em hebraico é ebed e significa
“escravo, servo”. Este termo indica também o trabalho no sentido de
adoração ao Criador, pois de sua raiz vem a palavra ´abad que
significa “trabalhar, servir”. A posição de Iehûdâ aqui é de muita
humilhação diante da situação em que ele e seus irmãos se
encontram!

Em seu diálogo com Iosef ele relembra-lhe: “Meu senhor perguntou a


seus servos, dizendo: Tendes vós pai, ou irmão? E dissemos a meu
senhor: Temos um velho pai, e um filho da sua velhice, o mais novo,
cujo irmão é morto; e só ele ficou de sua mãe, e seu pai o ama. Então
tu disseste a teus servos: Trazei-mo a mim, e porei os meus olhos
sobre ele. E nós dissemos a meu senhor: Aquele moço não poderá
deixar a seu pai; se deixar a seu pai, este morrerá. Então tu disseste
a teus servos: Se vosso irmão mais novo não descer convosco, nunca
mais vereis a minha face. E aconteceu que, subindo nós a teu servo
meu pai, e contando-lhe as palavras de meu senhor, disse nosso pai:
Voltai, comprai-nos um pouco de mantimento. E nós dissemos: Não
poderemos descer; mas, se nosso irmão menor for conosco,
desceremos; pois não poderemos ver a face do homem se este nosso
irmão menor não estiver conosco. Então disse-nos teu servo, meu
pai: Vós sabeis que minha mulher me deu dois filhos; e um ausentou-
se de mim, e eu disse: Certamente foi despedaçado, e não o tenho
visto. até agora” (Gn 44.19-28).

Após esta explanação de Iehûdâ à Iosef ele ainda informa ao mesmo


que o que acontecerá com seu pai (Ia´aqov) se eles retornarem sem
Benjamim: “Se agora também tirardes a este da minha face, e lhe
acontecer algum desastre, fareis descer as minhas cãs com aflição à
sepultura” (Gn 44.29). Iehûdâ diz a Iosef que seu pai haveria de
morrer em sua velhice muito desgostoso! A palavra “cãs” em
hebraico é seba e significa “velhice”. Esta palavra vem da raiz sib
que significa “ser grisalho” – fato este que dá início à idade avançada
e posteriormente à velhice – e ele ainda diz que isso aconteceria de
forma à leva-lo à sepultura, que em hebraico é sheol. Este termo
significa “inferno, sepultura, cova”. Ele é tido como o mundo
subterrâneo dos mortos.

É claramente compreensível que a ausência – ou até mesmo a


separação seja por morte ou outro motivo qualquer – causa sempre
uma grande dor nos pais e nos filhos. Mas aqui acontece algo muito
diferente, pois Iehûdâ tenta explicar a Iosef que Benjamim ficou como
“substituto” dele (Iosef) na família! Ele diz ainda: “Agora, pois, indo
eu a teu servo, meu pai, e o moço não indo conosco, como a sua
alma está ligada com a alma dele” (Gn 44.30). Iehûdâ usa de uma
terminologia muito forte para explicar a intensidade da relação entre
Benjamim e Ia´aqov. O que ele afirma é que os dois estão ligados
alma à alma. No hebraico a palavra “ligado” é qashar e significa
“amarrar”, pois vem da raiz qsht de onde provém a palavra
qishshurim (cinto). Para designar alma ele usa a palavra nepesh que
significa “vida, alma, criatura, pessoa, mente”. Ou seja, o que Iehûdâ
quer dizer é que há uma relação afetiva tão forte entre pai e filho que
todo o ser emocional de Ia´aqov está envolvido nesta relação! Iehûdâ
sabe que uma forte alteração neste estado de alma de seu pai seria
refletido imediatamente em seu corpo, podendo até mesmo causar-
lhe a morte!

Iehûdâ chega mesmo a afirmar isso de forma bem categórica quando


diz: “Acontecerá que, vendo ele que o moço ali não está, morrerá; e
teus servos farão descer as cãs de teu servo, nosso pai, com tristeza
à sepultura” (Gn 44.31). A palavra “morrer” em hebraico é mut e
significa “morrer, matar, mandar executar”. Iehûdâ tem a plena
convicção que a ausência de Benjamim e o posterior relato sobre o
que aconteceu trará sobre a família uma tragédia muito grande,
ocasionando a morte de seu pai! Ele termina dizendo: “Porque teu
servo se deu por fiador por este moço para com meu pai, dizendo: Se
eu o não tornar para ti, serei culpado para com meu pai por todos os
dias. Agora, pois, fique teu servo em lugar deste moço por escravo de
meu senhor, e que suba o moço com os seus irmãos. Porque, como
subirei eu a meu pai, se o moço não for comigo? para que não veja
eu o mal que sobrevirá a meu pai" (Gn 44.32-34).
A situação com Iosef torna-se tão carregada de emoção que ele
mesmo não resiste a este momento! “Então Iosef não se podia conter
diante de todos os que estavam com ele; e clamou: Fazei sair daqui a
todo o homem; e ninguém ficou com ele, quando Iosef se deu a
conhecer a seus irmãos” (Gn 45.1). Lembremo-nos de algumas
coisas. Primeiro, Iosef era o vice-rei do Egito. Certamente ele teria
uma equipe de seguranças e pessoas que estariam com ele durante
todo o tempo a fim de ajuda-lo e protege-lo. Uma outra coisa é que
Iosef falava através de um intérprete. Iosef falava com os seus servos
em todo o tempo se utilizando da língua egípcia. Sua aparência
também havia mudado muito, pois os egípcios não usam barba; suas
vestes também diferem muito da dos israelitas e seus costumes no
uso dos cosméticos – inclusive os homens – colaborou para que Iosef
não fosse reconhecido por seus irmãos. Então acontece algo
inusitado: Iosef ordena que todos os homens que ali estão saiam do
recinto! Ele certamente deu esta ordem na língua egípcia, pois os
demais – seus irmãos – não deveriam entender aquilo que ele dizia. A
escritura nos diz que Iosef dá-se a conhecer à seus irmãos. A palavra
“conhecer” em hebraico é yada, que significa “conhecer, saber”. Já a
palavra “irmão” é ´ah e significa “irmão, parente, companheiro do
mesmo local, amigo”.

O que acontece então é que há um suspense – e também um


sentimento de confusão por parte dos filhos de Ia´aqov quanto ao
que está acontecendo. Então finalmente Iosef revela-se aos seus
irmãos: “E levantou a sua voz com choro, de maneira que os egípcios
o ouviam, e a casa de Faraó o ouviu. E disse Iosef a seus irmãos: Eu
sou Iosef; vive ainda meu pai? E seus irmãos não lhe puderam
responder, porque estavam pasmados diante da sua face. E disse
Iosef a seus irmãos: Peço-vos, chegai-vos a mim. E chegaram-se;
então disse ele: Eu sou Iosef vosso irmão, a quem vendestes para o
Egito. Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos pese aos vossos
olhos por me haverdes vendido para cá; porque para conservação da
vida, Deus me enviou adiante de vós” (Gn 45:2-5).

Imaginemos a cena: os filhos de Ia´aqov sozinhos na sala com Iosef e


de repente este homem desaba em prantos! Certamente ninguém
estava entendendo o que estava acontecendo ali. Mais surpreendente
ainda é quando aquele egípcio fala com eles em hebraico e lhes diz:
“...eu sou Iosef; vive ainda meu pai?...” Realmente o pasmo
apoderou-se daqueles homens e certamente eles ficaram petrificados
ante a revelação que ouviam... A declaração seguinte de Iosef é ainda
mais impressionante: ele diz "Agora, pois, não vos entristeçais, nem
vos pese aos vossos olhos por me haverdes vendido para cá; porque
para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós”. Iosef
demonstra aqui que sua alma certamente já estava totalmente
restaurada quanto ao perdão que ele devia à seus irmãos! Não havia
mágoa alguma da parte daquele homem quanto ao passado. Ele
certamente entendeu que quando fora vendido por seus irmãos aos
mercadores ismaelitas o Eterno já estava preparando Faraó para
recebe-lo! Ele também compreendeu o propósito do Eterno em envia-
lo ao Egito. Ele declara que D-us, aqui no original Elohim – o D-us
Criador – o havia enviado para ali. A palavra “enviar” em hebraico é
shalah e significa “enviar, mandar embora, deixar”. Iosef declarara
com seus lábios que foi justamente por causa do que seus irmãos
fizeram é que ele teve a oportunidade de, através da manutenção de
sua fé no Eterno e de sua obediência à Ele, chegar ao posto de vice-
rei do Egito para, inclusive, manter seus familiares com vida naquele
momento de fome sobre toda a terra!

Então Iosef completa seu raciocínio dizendo: “Pelo que Deus me


enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra, e
para guardar-vos em vida por um grande livramento” (Gn 45.7). Ele
novamente se utiliza das palavras Elohim e shalah para afirmar que o
Criador de todas as coisas o mandara para aquele lugar a fim de
conservar a sucessão da família na terra. A palavra “sucessão” em
hebraico é sheerit e significa “restante, remanescente”. A palavra
transmite a idéia básica daquele que sobreviveram a um processo de
eliminação em uma catástrofe! E a palavra “terra” em hebraico é
erets que significa a “terra” (uma alusão à terra de Israel, prometida
pelo Eterno como uma possessão eterna aos israelitas). O Eterno
envia Iosef para o Egito para preservar o que havia sobrado da família
de Iosef de uma catástrofe que certamente poderia ceifar a vida de
muitos caso não houvesse comida suficiente para eles na terra que
lhes havia sido prometida pelo eterno! O Eterno queria preservar-lhes
a vida; e a palavra “vida” em hebraico é hayâ e significa “viver, ter
vida, permanecer vivo, sustentar a vida; viver prosperamente”. E isso
ocorreria, segundo nossas traduções, através de um grande
livramento. A palavra “livramento” em hebraico é peleta e significa
“fuga, sobrevivência”. O quadro se forma quando entendemos que foi
através dessa “fuga para a sobrevivência” que os filhos de Ia´aqov – e
depois o próprio Ia´aqov – mantém-se vivos para assistirem ao
cumprimento das promessas do Eterno em suas vidas!

Agora Iosef, o filho perdido e quase esquecido transmite aos irmãos


uma nova perspectiva de vida: “Apressai-vos, e subi a meu pai, e
dizei-lhe: Assim tem dito o teu filho Iosef: Elohim me tem posto por
senhor em toda a terra do Egito; desce a mim, e não te demores; e
habitarás na terra de Gósen, e estarás perto de mim, tu e os teus
filhos, e os filhos dos teus filhos, e as tuas ovelhas, e as tuas vacas, e
tudo o que tens. E ali te sustentarei, porque ainda haverá cinco anos
de fome, para que não pereças de pobreza, tu e tua casa, e tudo o
que tens” (Gn 45:9-11). Iosef lhes informa que eles teriam a partir de
agora como lar Gósen, uma terra boa e fértil e nesta terra eles seriam
sustentados por Iosef! Devemos entender que mesmo estando
temporariamente no Egito, ali sempre haverá uma Gósen – terra boa
– onde o Eterno nos sustentará até que chegue o momento em que
sejamos levados à Canaã!
Os irmãos de Iosef ficam deveras impressionados com todos estes
fatos e o próprio Faraó quando é comunicado sobre a existência dos
irmãos de Iosef dá ao mesmo liberdade para dar-lhes tudo o que for
necessário para sua sobrevivência. “E disse Faraó a Iosef: Dize a teus
irmãos: Fazei isto: carregai os vossos animais e parti, tornai à terra
de Canaã. E tornai a vosso pai, e às vossas famílias, e vinde a mim; e
eu vos darei o melhor da terra do Egito, e comereis da fartura da
terra. A ti, pois, é ordenado: Fazei isto: tomai vós da terra do Egito
carros para vossos meninos, para vossas mulheres, e para vosso pai,
e vinde. E não vos pese coisa alguma dos vossos utensílios; porque o
melhor de toda a terra do Egito será vosso. E os filhos de Israel
fizeram assim. E Iosef deu-lhes carros, conforme o mandado de
Faraó; também lhes deu comida para o caminho” (Gn 45:17-21).

Então, os irmãos de Iosef partem para darem as boas novas ao seu


pai Ia´aqov. A reação de Ia´aqov certamente já era esperada por seus
filhos: “E subiram do Egito, e vieram à terra de Canaã, a Ia´aqov seu
pai. Então lhe anunciaram, dizendo: Iosef ainda vive, e ele também é
regente em toda a terra do Egito. E o seu coração desmaiou, porque
não os acreditava. Porém, havendo-lhe eles contado todas as
palavras de Iosef, que ele lhes falara, e vendo ele os carros que Iosef
enviara para levá-lo, reviveu o espírito de Ia´aqov seu pai. E disse
Israel: Basta; ainda vive meu filho Iosef; eu irei e o verei antes que
morra” (Gn 45:25-28). Ia´aqov quando recebe seus filhos de volta da
viagem ao Egito recebe também a notícia acerca de Iosef! A Escritura
declara que seu coração desmaiou ante aquilo que ouvira! A palavra
“coração” em hebraico é leb e significa “coração, entendimento,
mente”. Já a palavra “desmaiar” em hebraico é pag e significa “estar
exausto, desfalecer”. O que significa isso? Significa que quando Ia
´aqov recebeu a notícia seu entendimento, sua mente ficou
totalmente confusa e perplexa ante os fatos apresentados! É como se
seus pensamentos retornassem e repassassem os fatos passados
exaustivamente até se cansar e perceber então que não poderia ser
verdade tudo isso! Somente quando Ia´aqov ouve atentamente ao
relato das palavras de Iosef e vê os carros, mantimentos, homens e
tudo o que lhe fora enviado com o consentimento de Faraó ele então
acredita! Isso lhe traz algo completamente novo e seu espírito revive!
A palavra “reviver” em hebraico é hayâ e significa “viver, ter vida,
permanecer vivo, sustentar a vida; viver prosperamente”. Já a palavra
“espírito” é ruach e significa “vento, espírito”. Convém lembrar que
esta é a mesma palavra usada para relatar o Espírito Santo. A notícia
e os fatos sobre Iosef fizeram com que a vida fosse novamente
inflada – ou soprada – sopre Ia´aqov, que sentiu como se ele
estivesse recuperando algo perdido à muito e que agora ele teria
oportunidade de ver e tocar e isso já estava lhe fazendo muito bem!
Sua postura de levantar-se para ir imediatamente e ver seu filho
demonstra o quanto Iosef era especial para Ia´aqov e o quanto ele
ansiava por um milagre, que agora finalmente acontece!
Agora temos a viagem de Ia´aqov e toa sua família para o Egito. É
neste instante que o Eterno novamente irá comunicar-se com Ia´aqov
a fim de dizer-lhe o propósito de tudo isso acontecer. “E falou Elohim
a Israel em visões de noite, e disse: Ia´aqov, Ia´aqov! E ele disse: Eis-
me aqui. E disse: Eu sou El, o Elohim de teu pai; não temas descer ao
Egito, porque eu te farei ali uma grande nação. E descerei contigo ao
Egito, e certamente te farei tornar a subir, e Iosef porá a sua mão
sobre os teus olhos. Então levantou-se Ia´aqov de Berseba; e os filhos
de Israel levaram a seu pai Ia´aqov, e seus meninos, e as suas
mulheres, nos carros que Faraó enviara para o levar” (Gn 46:2-5).

Quando o Eterno falou com Ia´aqov ele o fez desta vez em visões de
noite. A palavra “falou” em hebraico é amar e significa “ordenar,
dizer, falar”. Já a palavra aqui é Elohim, o D-us Criador. A palavra
“visões” em hebraico é mar´â e significa “visão”. Um dos significados
desta palavra em sua raiz (dependendo do contexto) é de “visão
profética”. Mas o que temos então aqui? O D-us Criador aparece a Ia
´aqov e lhe ordena algo através e uma visão profética! Uma visão
profética é algo que ainda não aconteceu, mas que mesmo assim é
mostrado (ou dito) pelo Eterno aos seus servos a fim de mantê-los
com sua fé e esperança firmes n´Ele!

O eterno diz a Ia´aqov: “E disse: Eu sou Deus, o Deus de teu pai; não
temas descer ao Egito, porque eu te farei ali uma grande nação”.
Literalmente este verso diz: “...Me tornei El (D-us), o Elohim (D-us
Criador) de teu pai...” O Eterno ainda lhe promete que ele se tornaria
uma grande nação no Egito. A palavra “grande” em hebraico é gadol
com o mesmo significado. Já a palavra “nação” é goi e significa
“gentio, pagão, povo, nação”. Isso nos mostra que o Eterno já
apontava para o futuro ao mencionar este fato para Ia´aqov, assim
como havia feito com Abraão e dizendo-lhe que sua descendência se
transformaria numa grande nação – ou multidão de povos – como fora
dito a Abraão! Mas, na história, quando isso aconteceu? Nunca! Se
não entendermos o que o Eterno está dizendo aqui, jamais
perceberemos o alcance esta palavra! Ele já nos fala aqui que seu
povo Israel seria disperso por todo o mundo – não uma vez, mas duas
vezes – e esse fato resultaria na “mescla” do povo de Israel, na perda
de sua identidade e no seu maravilhoso crescimento. Isso tudo
contribuiria para que Israel hoje se tornasse a maior nação do mundo,
pois existem milhões de judeus – descendentes – que não conhecem
sua própria identidade! E isso fez com que esta promessa fosse
cumprida plenamente pelo Eterno, pois eles deveriam ir para o Egito
para dali serem chamados a fim de se tornarem um povo único na
terra para servirem ao Eterno!

Ia´aqov e sua família desceram ao Egito com tudo o que possuíam


para ali se acomodarem e depois multiplicarem-se como um grande
povo. Tudo começou com poucas pessoas que deram origem ao
grande povo de D-us! “E os filhos de Iosef, que lhe nasceram no
Egito, eram duas almas. Todas as almas da casa de Ia´aqov, que
vieram ao Egito, eram setenta” (Gn 46:27).

Agora acontece o memorável encontro entre Ia´aqov e Iosef! “E Ia


´aqov enviou Iehuda adiante de si a Iosef, para o encaminhar a
Gósen; e chegaram à terra de Gósen. Então Iosef aprontou o seu
carro, e subiu ao encontro de Israel, seu pai, a Gósen. E,
apresentando-se-lhe, lançou-se ao seu pescoço, e chorou sobre o seu
pescoço longo tempo. E Israel disse a Iosef: Morra eu agora, pois já
tenho visto o teu rosto, que ainda vives. Depois disse Iosef a seus
irmãos, e à casa de seu pai: Eu subirei e anunciarei a Faraó, e lhe
direi: Meus irmãos e a casa de meu pai, que estavam na terra de
Canaã, vieram a mim! E os homens são pastores de ovelhas, porque
são homens de gado, e trouxeram consigo as suas ovelhas, e as suas
vacas, e tudo o que têm. Quando, pois, acontecer que Faraó vos
chamar, e disser: Qual é o vosso negócio? Então direis: Teus servos
foram homens de gado desde a nossa mocidade até agora, tanto nós
como os nossos pais; para que habiteis na terra de Gósen, porque
todo o pastor de ovelhas é abominação aos egípcios” (Gn 46:28-34).
Quando pai e filho encontram-se, após anos a fio de separação eles
abraçam-se demoradamente e choram; choram a ausência dos anos
separados, choram o sentimento de perda que tiveram quando se
separaram, choram a dor da solidão e a sensação de vazio que agora
é plenamente preenchida pela companhia um do outro. Após o
demorado abraço de reencontro, Iosef explica a seu pai e a seus
irmãos como devem apresentar-se e falarem com Faraó. Ele explica
que aquilo que os israelitas faziam – pastorear ovelhas – é uma
abominação aos olhos dos egípcios.

Iosef vai então à presença de Faraó para anunciar-lhe a chegada de


sua família. Interessante é que primeiro os irmãos de Iosef falam com
Faraó, somente depois Ia´aqov se aproxima dele e conversa com o rei
do Egito.

Devemos entender que Iosef usou de estratégia quando instruiu seus


irmãos para falarem com Faraó da forma como falaram, pois a cidade
de Gósen ficava às margens do Nilo (no delta do rio) e numa região
muito boa e fértil. A conversa entre eles foi assim: “Então veio Iosef e
anunciou a Faraó, e disse: Meu pai e os meus irmãos e as suas
ovelhas, e as suas vacas, com tudo o que têm, são vindos da terra de
Canaã, e eis que estão na terra de Gósen. E tomou uma parte de seus
irmãos, a saber, cinco homens, e os pôs diante de Faraó. Então disse
Faraó a seus irmãos: Qual é o vosso negócio? E eles disseram a
Faraó: Teus servos são pastores de ovelhas, tanto nós como nossos
pais. Disseram mais a Faraó: Viemos para peregrinar nesta terra;
porque não há pasto para as ovelhas de teus servos, porquanto a
fome é grave na terra de Canaã; agora, pois, rogamos-te que teus
servos habitem na terra de Gósen” (Gn 47.1-4). A palavra dos irmãos
de Iosef a Faraó é muito simples, porém muito forte para dizerem o
que estavam passando em Canaã, quando dizem não haver pasto na
terra, pois a fome ali é grande. A palavra “pasto” em hebraico é mir
´eh e significa “pastagem, pasto”. Já a palavra "fome" em hebraico é
ra´ab e significa “fome”. O interessante é que estas duas palavras
provém da mesma raiz! Isto significa que quando não há pasto,
sobrevém a fome! É preciso sempre levar as ovelhas para os lugares
onde há pasto e conseqüentemente comida em abundância para que
elas não sintam fome e então procurem algo para comer e saciar sua
fome – ainda que aquilo que achem não seja bom para elas,
certamente o comerão, pois estão procurando sem o pastor! A
palavra “ovelhas” em hebraico é tso´n e significa “rebanho de gado
miúdo, ovelhas”. Certamente que no rebanho dos israelitas não havia
somente ovelhas, mas também bodes e cabras, o que demonstra que
eles possuíam somente animais pequenos e de fácil transporte, pois
não estavam estabelecidos na terra definitivamente e precisavam
mover-se constantemente, por isso ainda não criavam animais de
porte maior como o boi e a vaca.

Agora temos o encontro de Ia´aqov com Faraó. Este encontro nos traz
uma particularidade excepcional! “E trouxe Iosef a Ia´aqov, seu pai, e
o apresentou a Faraó; e Ia´aqov abençoou a Faraó. E Faraó disse a Ia
´aqov: Quantos são os dias dos anos da tua vida? E Ia´aqov disse a
Faraó: Os dias dos anos das minhas peregrinações são cento e trinta
anos, poucos e maus foram os dias dos anos da minha vida, e não
chegaram aos dias dos anos da vida de meus pais nos dias das suas
peregrinações. E Ia´aqov abençoou a Faraó, e saiu da sua presença”
(Gn 47:7-10). Ia´aqov em seu encontro com Faraó, além de conversar
com ele, Ia´aqov por duas vezes abençoa a Faraó! A palavra
“abençoar” usada aqui em hebraico é barak que significa “dar poder
a alguém para ser próspero, bem sucedido e fecundo”! Mas,
precisaria Faraó ser abençoado por Ia´aqov? Quem era o maior entre
eles naquela ocasião? Faraó era o senhor absoluto de todo o Egito e
de grande parte do mundo conhecido de então, e isso nos pareceria
um grande sinal de prosperidade, sucesso e fecundidade! Ledo
engano! Isso era somente a visão exterior das conquistas de Faraó
através de Iosef! Naquele instante certamente Ia´aqov ao abençoar a
Faraó ministrava-lhe a prosperidade, o sucesso e a fecundidade
espirituais, coisas que tem início no espírito, dando-nos um novo nível
de relacionamento com o Eterno, e isso causará um impacto imenso
na alma humana que será restaurada pela palavra viva do Senhor o
que finalmente resultará na cura física das enfermidades! Isso sim é
ser abençoado! Ali o maior era Ia´aqov que, por duas vezes, ministra
sobre Faraó a bênção do Eterno, confirmando aquilo que está escrito:
“Ora, sem contradição alguma, o menor é abençoado pelo maior” (Hb
7:7). Faraó não conhecia ao D-us Eterno e não poderia sequer
transmitir qualquer tipo de palavra que causasse impacto positivo na
vida de Ia´aqov. Já o contrário não era verdade, pois quando Ia´aqov
liberou estas palavras abençoando a Faraó, no mundo espiritual
certamente algo aconteceu!
Ia´aqov e seus filhos habitaram em Gosém, onde receberam um local
para viverem. “E Iosef fez habitar a seu pai e seus irmãos e deu-lhes
possessão na terra do Egito, no melhor da terra, na terra de
Ramessés, como Faraó ordenara” (Gn 47:11). Aqui há algo
interessante. Quando está dito que Iosef deu-lhes possessão na terá
do Egito, a palavra “possessão” em hebraico é ahuzzâ e significa
“possessão, propriedade”. Esta palavra vem da raiz ´ahaz que
significa “agarrar, pegar, apoderar-se”. Isso nos mostra que quando
somos obedientes ao Eterno, Ele mesmo se encarrega de dar-nos o
melhor do Egito como possessão! Aquilo que pertencia ao incrédulo é
transferido para seu povo como sua propriedade, da qual ele se
apossa, pega, agarra, mas não com sua própria força ou por seu
próprio esforço, mas sim como um presente do Eterno para seus
filhos obedientes!

O melhor disso é o que vem a seguir: “E Iosef sustentou de pão a seu


pai, seus irmãos e toda a casa de seu pai, segundo as suas famílias”
(Gn 47:12). Iosef – que é um tipo de Ieshua – sustenta toda a sua
família com pão diariamente, nada deixando-lhes faltar! Certamente,
ainda que estejamos no Egito, nosso querido Ieshua jamais deixará
faltar-nos o pão década dia e nos alimentará com aquilo que há de
melhor na terra!

Agora vejamos imediatamente o resultado da bênção de Ia´aqov


sobre Faraó e os seus. “E não havia pão em toda a terra, porque a
fome era muito grave; de modo que a terra do Egito e a terra de
Canaã desfaleciam por causa da fome. Então Iosef recolheu todo o
dinheiro que se achou na terra do Egito, e na terra de Canaã, pelo
trigo que compravam; e Iosef trouxe o dinheiro à casa de Faraó.
Acabando-se, pois, o dinheiro da terra do Egito, e da terra de Canaã,
vieram todos os egípcios a Iosef, dizendo: Dá-nos pão; por que
morreremos em tua presença? porquanto o dinheiro nos falta. E Iosef
disse: Dai o vosso gado, e eu vo-lo darei por vosso gado, se falta o
dinheiro. Então trouxeram o seu gado a Iosef; e Iosef deu-lhes pão
em troca de cavalos, e das ovelhas, e das vacas e dos jumentos; e os
sustentou de pão aquele ano por todo o seu gado. E acabado aquele
ano, vieram a ele no segundo ano e disseram-lhe: Não ocultaremos
ao meu senhor que o dinheiro acabou; e meu senhor possui os
animais, e nenhuma outra coisa nos ficou diante de meu senhor,
senão o nosso corpo e a nossa terra; por que morreremos diante dos
teus olhos, tanto nós como a nossa terra? Compra-nos a nós e a
nossa terra por pão, e nós e a nossa terra seremos servos de Faraó; e
dá-nos semente, para que vivamos, e não morramos, e a terra não se
desole. Assim Iosef comprou toda a terra do Egito para Faraó, porque
os egípcios venderam cada um o seu campo, porquanto a fome
prevaleceu sobre eles; e a terra ficou sendo de Faraó. E, quanto ao
povo, fê-lo passar às cidades, desde uma extremidade da terra do
Egito até a outra extremidade. Somente a terra dos sacerdotes não a
comprou, porquanto os sacerdotes tinham porção de Faraó, e eles
comiam a sua porção que Faraó lhes tinha dado; por isso não
venderam a sua terra. Então disse Iosef ao povo: Eis que hoje tenho
comprado a vós e a vossa terra para Faraó; eis aí tendes semente
para vós, para que semeeis a terra. Há de ser, porém, que das
colheitas dareis o quinto a Faraó, e as quatro partes serão vossas,
para semente do campo, e para o vosso mantimento, e dos que estão
nas vossas casas, e para que comam vossos filhos. E disseram: A vida
nos tens dado; achemos graça aos olhos de meu senhor, e seremos
servos de Faraó. Iosef, pois, estabeleceu isto por estatuto, até ao dia
de hoje, sobre a terra do Egito, que Faraó tirasse o quinto; só a terra
dos sacerdotes não ficou sendo de Faraó” (Gn 47:13-26).

Neste relato percebemos que através de Iosef, Faraó torna-se dono de


todo o Egito e de muitas posses em outros lugares, pois as pessoas
trocavam suas posses por comida e chegaram até mesmo a trocarem
sua liberdade por sua vida! Já os filhos de Ia´aqov tinham o melhor do
Egito à sua disposição! Certamente eles deveriam contemplar esta
situação e lembrar-se do bem que o Eterno lhes fizera através de
Iosef!

Alguns pensam que o Egito para nada serviu na vida dos israelenses!
Engano! A aventura deles termina com o seguinte relato: “Assim
habitou Israel na terra do Egito, na terra de Gósen, e nela tomaram
possessão, e frutificaram, e multiplicaram-se muito” (Gn 47:27). Duas
coisas devem ser observadas aqui: o Eterno se utilizou do Egito para
fazer com que os filhos de Israel pudessem frutificar e multiplicar. A
palavra “frutificar” em hebraico é parâ e significa “frutificar, ser
fecundo, ser frutífero, ramificar”. Este conceito é muito interessante
pois é no Egito que o Eterno manifestou nos israelitas o fato de serem
pessoas fecundas, frutíferas e que lançassem seus ramos por todos
os lados, como uma árvore que cresce livremente entre outras!
Também foi dito que eles se multiplicaram e esta palavra em hebraico
é rabâ e significa “ser numeroso, tornar-se numeroso”. Nós sabemos
pela história que os israelitas desceram para o Egito com setenta
pessoas e saíram de lá com aproximadamente dois milhões e meio de
pessoas! Isso certamente demonstra que a palavra do Eterno
cumpriu-se na vida daquelas pessoas de tal forma que
transformaram-se numa multidão. A palavra dita pelo eterno aos seus
servos agora começa a cumprir-se e o povo de Israel – tão pequenino
e desprezado – começa a tornar-se uma potência e a ser respeitado e
temido por todos!

Que o Eterno faça cumprir em nossas vidas sua Palavra!

Vayechi (Ele viveu)


Nesta porção temos o momento crucial da vida de Israel e de seus
filhos: “E Ia´aqov viveu na terra do Egito dezessete anos, de sorte
que os dias de Ia´aqov, os anos da sua vida, foram cento e quarenta
e sete anos” (Gn 47:28). A escritura nos informa que Ia´aqov (Israel)
viveu na terra do Egito dezessete anos! A palavra “viveu” em
hebraico é hayâ e significa “viver, ter vida, permanecer vivo”. O fato
de Israel estar no Egito foi certamente um ato providencial do Eterno
e mesmo Israel estando no Egito a vida do Eterno permaneceu nele
sustentando-o em pé. Mas, com todos os seres humanos, chegou o
tempo da morte de Israel. Neste tempo assim aconteceu: “Chegando-
se, pois, o tempo da morte de Israel, chamou a Iosef, seu filho, e
disse-lhe: Se agora tenho achado graça em teus olhos, rogo-te que
ponhas a tua mão debaixo da minha coxa, e usa comigo de
beneficência e verdade; rogo-te que não me enterres no Egito” (Gn
47:29). Israel agora chama Iosef – o filho querido que fora-lhe
devolvido – e pede-lhe algo que certamente seria tido como incomum
por nós: que ele ponha a mão “debaixo de sua coxa” e jure-lhe que
não o enterrasse no Egito! Mas, porque Israel teria feito isso? Primeiro
temos que entender a consciência que Israel tinha sobre o Egito e sua
terra natal – Canaã – o lugar que lhes fora prometido desde Avraham!
Certamente Israel sabia que ser enterrado no Egito significaria correr
o risco de nunca mais retornar a Canaã e ele certamente não queria
correr tal risco! É justamente por isso que ele pede a Iosef que faça
algo incomum! Em nossas traduções está escrito que Israel pediu-lhe
que pusesse a mão “debaixo de sua coxa”. Em hebraico está assim:
“...tahat yarek...” que significa: tahat em hebraico é “debaixo de,
em lugar de, abaixo”; já a palavra yarek significa “coxa, lombo,
partes íntimas”. A “coxa” simboliza a parte firme do homem e a fonte
da vida! Mas, por que Israel lhe pediria para fazer isso? Devemos
entender que Israel solicitou algo a Iosef que lhe era tão importante
que ele pede a Iosef que jure pela origem de sua própria vida que
cumprirá aquilo que prometeu!
Em sua argumentação Israel explica-lhe o motivo e espera uma
reação de seu filho Iosef: “Mas que eu jaza com os meus pais; por
isso me levarás do Egito e me enterrarás na sepultura deles. E ele
disse: Farei conforme a tua palavra. Então, lhe disse Ia´aqov: Jura-
me. E ele jurou-lhe; e Israel se inclinou sobre a cabeceira da cama”
(Gn 47:30-31).
Os fatos narrados acima aconteceram quando Israel sentiu a
proximidade da morte, porém nada havia que lhe comprometesse
fisicamente a saúde e lhe dissesse que a hora chegara! Ele sentia que
o tempo se aproximava, mas não ainda sua hora!
Agora, acontece aquilo que já era esperado: a hora de Israel chega!
“E aconteceu, depois destas coisas, que alguém disse a Iosef: Eis que
teu pai está enfermo. Então tomou consigo os seus dois filhos,
Manassés e Efraim. E alguém participou a Ia´aqov, e disse: Eis que
Iosef teu filho vem a ti. E esforçou-se Israel, e assentou-se sobre a
cama” (Gn 48:1-2). Agora Iosef encaminha-se à casa de seu pai
juntamente com seus dois filhos para poderem ver à seu pai Israel e
enquanto eles se encaminhavam para ali, Israel é avisado disso e
esforça-se para sentar-se em sua cama! Isso nos demonstra que o
estado de saúde de Israel neste momento já estava muito debilitado,
o que inclusive tornava difícil qualquer movimento diferente do que o
“estar deitado”, posição mais freqüente em que Israel se encontrava
ultimamente.
Ia´aqov agora inicia suas declarações proféticas dizendo: “E Ia´aqov
disse a Iosef: O El Todo-Poderoso me apareceu em Luz, na terra de
Canaã, e me abençoou. E me disse: Eis que te farei frutificar e
multiplicar, e tornar-te-ei uma multidão de povos e darei esta terra à
tua descendência depois de ti, em possessão perpétua” (Gn 48.3-4).
Israel inicia dizendo que El, prefixo que significa D-us e Shadday,
palavra composta de she que significa “que, quem” e da palavra day
“bastante, suficiente”; daí she-day “aquele que é (auto) suficiente”.
Israel tinha pleno conhecimento e certeza de que Aquele que lhe
havia aparecido não era um deus qualquer, mas o único que é
suficiente para suprir tudo aquilo que precisarmos! Ele continua
dizendo que o Eterno apareceu-lhe em Luz. Esta palavra “Luz” em
hebraico significa “apartar-se, desviar-se”. Isso nos fala que o Eterno
interveio na vida de Ia´aqov – Israel – num momento crucial de sua
vida, certamente quando ele estava prestes a desviar-se dos
propósitos do Senhor, e ali o Senhor transforma o “desvio” – Luz – em
“casa de D-us” – Betel -. Naquele lugar – agora Betel – Ia´aqov foi
abençoado. A palavra “abençoar” em hebraico é barak e significa
“dar poder para alguém ser próspero, bem sucedido e fecundo”. O
encontro entre Ia´aqov e o Eterno resultara numa extraordinária
mudança de vida para ele! Ele ainda declara ter recebido algo mais
do Eterno através daquilo que lhe fora dito: o Eterno dissera-lhe que
ele haveria de frutificar e multiplicar-se. A palavra “frutificar” em
hebraico é parâ e significa “frutificar, ser fecundo, ser frutífero,
ramificar”. Já a palavra “multiplicar-se” em hebraico é rabâ e
significa “ser numeroso, tornar-se numeroso”. A continuidade do
versículo diz que ele se tornaria uma “multidão de povos”. A palavra
“povos” em hebraico é `am e significa “povo” (particularmente o
povo de Israel) e que a terra onde Ia´aqov se encontrava na ocasião
seria dada à sua descendência. Esta palavra “descendência” em
hebraico é zerá e significa “semente, descendência física”.
Analisando tudo o que foi dito a Israel concluímos que o Eterno
haveria de multiplicar o povo de Israel em toda a terra e que a terra
lhe seria dada perpetuamente e não somente à eles mas também aos
seus descendentes físicos que teriam direito à promessa que lhe fora
feita ali!
Israel diz agora a Iosef que oficialmente ele “toma-lhe” os filhos como
sua descendência! Israel com isso assume-os como se fossem seus e
informa a Iosef que os próximos descendentes ele haverão de ser
chamados em sua herança! “Mas a tua geração, que gerarás depois
deles, será tua; segundo o nome de seus irmãos serão chamados na
sua herança” (Gn 48:6). A palavra “herança” aqui em hebraico é
nahalâ e significa “herança, legado, possessão”. Aquilo que é ou
pode ser passado adiante como herança. Certamente
compreendemos que Israel aqui fala sobre aquilo que o próprio Iosef
dará como legado aos seus próximos filhos, legado este que poderá
ser físico como possessões, educação, padrões, etc... pois estes dois
filhos seus estariam recebendo tudo isso através da bênção que será
proferida pelos lábios de Israel, já que ele não teve tempo de estar
com eles pessoalmente.
A bênção sobre os filhos de Iosef certamente foi determinante no
futuro daqueles jovens. Assim aconteceu: “E tomou Iosef a ambos, a
Efraim na sua mão direita, à esquerda de Israel, e Manassés na sua
mão esquerda, à direita de Israel, e fê-los chegar a ele. Mas Israel
estendeu a sua mão direita e a pôs sobre a cabeça de Efraim, que era
o menor, e a sua esquerda sobre a cabeça de Manassés, dirigindo as
suas mãos propositadamente, não obstante Manassés ser o
primogênito” (Gn 48:14). Iosef faz seus filhos chegarem diante de seu
pai, e conforme o costume, ele coloca Manasses para receber a
bênção da destra de Israel! Este receberia a porção maior, pois ele
era o primogênito de Iosef. Apesar de Iosef tomar suas precauções
quanto à ordem correta dos rapazes, Israel tem o discernimento de
que para o Eterno as coisas não são bem assim. Então ele inverte a
ordem, dando a Efraim proeminência sobre seu irmão mais velho
Manasses.
Agora Israel profere as memoráveis palavras dizendo: “E abençoou a
Iosef, e disse: O Elohim, em cuja presença andaram os meus pais
Avraham e Itshaq, o Elohim que me sustentou, desde que eu nasci
até este dia; O mensageiro que me livrou de todo o mal, abençoe
estes rapazes, e seja chamado neles o meu nome, e o nome de meus
pais Avraham e Itshaq, e multipliquem-se como peixes, em multidão,
no meio da terra” (Gn 48:15-16). Israel primeiro abençoa a seus netos
através de seu filho Iosef lembrando-lhe que o D-us de seus pais era
ainda com eles. Quando Israel abençoa os meninos através de Iosef
ele usa a palavra barak, que significa “dar poder à alguém para ser
próspero, bem sucedido e fecundo”. Em nossa tradução está escrito
que D-us “sustentou” à Israel desde seu nascimento até aquele dia. A
palavra aqui em hebraico é Elohim, e significa o “D-us Criador”.
Assim também, a palavra “sustentar” em hebraico é ra´a e significa
“ver, olhar, inspecionar”. O que Israel quis dizer aqui é que o D-us
que o havia criado e o guardara presenciando cada ato e palavra em
todo o seu caminho haveria de abençoar os rapazes dando-lhes poder
para serem prósperos, bem sucedidos e fecundo em tudo aquilo que
fizessem!
Israel fala sobre “o mensageiro que livrou-o de todo o mal”. A palavra
“mensageiro” em hebraico é malak com o mesmo significado; já o
termo “livrar” em hebraico é ga´al e significa “redimir, vingar,
resgatar, livrar, cumprir o papel de resgatador”. Só que quando nos
reportamos à Escritura que fala sobre este “encontro” entre Ia´aqov e
o ser celestial, descobrimos que ele encontrou-se com o próprio D-us!
Certamente o que Israel queria dizer com isso era que, assim como
em seu encontro com seu Criador sua vida mudara (e também o seu
nome), que o mesmo pudesse acontecer com os rapazes, pois na luta
de Ia´aqov com o Eterno ele não permitiu que o Senhor fosse antes
de abençoa-lo! A palavra usada ali é o mesmo termo barak que
significa “dar poder a alguém para ser próspero, bem sucedido e
fecundo” em tudo o que viessem a fazer. Mas há ainda algo mais que
lhes é dito por Israel: “e multipliquem-se como peixes, em multidão,
no meio da terra”. Nesta frase há algo muito belo, pois ele profetiza a
multiplicação em proporção geométrica para seus netos! Quando ele
fala sobre multiplicar-se, ele usa a palavra hebraica dagâ que
significa “multiplicar, aumentar”. Já a palavra “peixe” em hebraico é
dag. Ou seja, o que ele diz é que assim como se multiplicam os
peixes – colocando milhares de ovas duma só vez – assim se
multipliquem as descendências daqueles garotos!
Iosef agora tenta interferir, pois percebe que a mão direita de Israel
está sobre Efraim – o mais novo – e não sobre Manasses – o filho
primogênito. Israel explica a Iosef que assim deve ser feito e profere
então a bênção que mudaria a vida de Efraim e nos atingiria até a
presente data: “Vendo, pois, Iosef que seu pai punha a sua mão
direita sobre a cabeça de Efraim, foi mau aos seus olhos; e tomou a
mão de seu pai, para a transpor de sobre a cabeça de Efraim à
cabeça de Manassés. E Iosef disse a seu pai: Não assim, meu pai,
porque este é o primogênito; põe a tua mão direita sobre a sua
cabeça. Mas seu pai recusou, e disse: Eu o sei, meu filho, eu o sei;
também ele será um povo, e também ele será grande; contudo o seu
irmão menor será maior que ele, e a sua descendência será uma
multidão de nações” (Gn 48:17-19). Israel profetizara que Efraim
seriam maior que Manasses, ele usa a palavra hebraica gadal que
significa “crescer, tornar-se grande ou importante, promover, tornar-
se poderoso”. E continua dizendo que sua “descendência”, em
hebraico zera, que significa “semeadura, semente, descendência
física”, haveria de tornar-se uma grande nação, e para a palavra
nação me hebraico ele usa o termo goi que significa “nação, povo,
gentio, pagão”. Será que percebemos o que o Eterno colocou nos
lábios de Israel e que nos diz respeito? A profecia liberada sobre
Efraim nos fala que ele – Efraim – através de seus descendentes
físicos tornar-se-ia grande, poderoso, importante e que eles
formariam – ou seriam a base – das nações gentílicas! E nos últimos
tempos nós cremos que o Efraim do Eterno está retornando para suas
raízes! Hoje, os crentes em Ieshua são o Efraim do Eterno. Estes são
aqueles cujas memórias e o passado foram quase que “apagados”
para que não se lembrassem de suas origens e não pudessem ser
ligados à sua verdadeira identidade! Mas algo restou em seus nomes
que denuncia: eles são descendentes de Efraim, tendo em suas veias
o sangue dos israelitas!
O relato bíblico completa o quadro dizendo: “Assim os abençoou
naquele dia, dizendo: Em ti abençoará Israel, dizendo: Elohim te faça
como a Efraim e como a Manassés. E pôs a Efraim diante de
Manasses” (Gn 48.20). Quando a Escritura nos informa que Israel
assim os abençoou, isso significa que além das palavras proféticas
que foram-lhes ministradas, eles também receberam poder de Israel
para serem prósperos, bem sucedidos e fecundos em todos os seus
caminhos! E isso é extensivo à todos os seus descendentes! A bênção
completa-se com o dito: “Elohim te faça como a Efraim e como a
Manasses” e quando Israel diz isso ele chama D-us de Elohim – o D-us
Criador! Ou seja, que o Criador te (nos) faça como Efraim e Manassés!
Após este encontro de Israel com seu filho Iosef e seus netos, então
Israel agora ajunta todos seus filhos para dizer-lhes aquilo que está no
coração do Eterno para suas vidas naquele instante e também no
futuro. Assim foi dito: “Depois chamou Ia´aqov a seus filhos, e disse:
Ajuntai-vos, e anunciar-vos-ei o que vos há de acontecer nos dias vin-
douros; ajuntai-vos, e ouvi, filhos de Ia´aqov; e ouvi a Israel vosso
pai” (Gn 49:1-2). Neste momento cada um dos filhos de (Ia´aqov)
Israel recebe uma palavra profética sobre sua vida. A ministração tem
início com a palavra sobre Rubem: “Rúben, tu és meu primogênito,
minha força e o princípio de meu vigor, o mais excelente em alteza e
o mais excelente em poder. Impetuoso como a água, não serás o
mais excelente, porquanto subiste ao leito de teu pai. Então o
contaminaste; subiu à minha cama” (Gn 49:4). A palavra Ruben em
hebraico significa “Eis um filho”. É uma forma abreviada de ra´û be
´anyî, “O Eterno viu a minha aflição” [Leah]. Já a palavra
“primogênito” vem de re´shit que significa “primeiro, princípio,
melhor”. Ele declara ser Ruben “mais excelente em poder”. A palavra
“excelente” em hebraico é seet e significa “exaltação, dignidade”. Já
a palavra “poder” vem de ´az que significa “forte, poderoso,
impetuoso”. Isto determina aos filhos de Rúben que eles realmente
seriam tão impetuosos quanto a água – teriam o poder de entrar e
destruir o que tocassem -, pois quando a água “invade” um lugar
nada pode detê-la! Certamente esta seria sua característica mais
marcante entre as tribos de Israel.
Agora temos a palavra sobre Simeão e Levi: “Simeão e Levi são
irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência. No seu
secreto conselho não entre minha alma, com a sua congregação
minha glória não se ajunte; porque no seu furor mataram homens, e
na sua teima arrebataram bois. Maldito seja o seu furor, pois era
forte, e a sua ira, pois era dura; eu os dividirei em Ia´aqov, e os
espalharei em Israel” (Gn 49:5-7). A estes dois irmãos – Simeão e Levi
o Eterno reserva outras características. O primeiro – Simeão – tem o
seu nome com o significado de “Ouvindo”. É uma referência aos
contínuos clamores de Leah que foram “ouvidos” pelo Eterno que lhe
deu um outro filho! Já o nome Levi significa “junto”. Certamente Leah
tinha a esperança de poder ter Ia´aqov junto a si por causa deste
filho! Ela certamente mantinha relações físicas e familiares com Ia
´aqov, mas parece que sua mente e seu coração estavam distantes
dela... Édito sobre eles que “suas espadas são instrumentos de
violência”. A palavra “espadas” em hebraico é mekera com o mesmo
significado. Já a palavra “violência” vem do termo hebraico hamas
que significa “violência, mal, injustiça”. Nós bem sabemos que o
Eterno “reclama” para si o direito de vingar-se de quem quer que
seja! Aqueles que nos fazem qualquer tipo de mal não devem receber
o “troco” através de nossas próprias mãos, mas sim através das mãos
de nosso Protetor e Guarda que é o Senhor! É dito ainda sobre eles
“Maldito seja o seu furor, pois era forte, e a sua ira, pois era dura; eu
os dividirei em Ia´aqov, e os espalharei em Israel”. A palavra "dividir"
em hebraico é halaf e significa repartir, dividir, dar como porção. Já a
palavra “espalhar” é pûts e significa “ser disperso, espalhar”. Simeão
e Levi, na época da divisão do reino, foram dispersos por duas vezes:
a primeira foi no momento da cisão da nação em dois reinos: norte e
sul. Já a segunda foi quando os assírios invadiram Israel e levaram as
10 tribos cativas. Deste cativeiro voltaram somente uns poucos
remanescentes! A profecia cumpriu-se fielmente!
Já em relação a Judá, as palavras de Israel são as seguintes: “Judá, a
ti te louvarão os teus irmãos; a tua mão será sobre o pescoço de teus
inimigos; os filhos de teu pai a ti se inclinarão. Judá é um leãozinho,
da presa subiste, filho meu; encurva-se, e deita-se como um leão, e
como um leão velho; quem o despertará? O cetro não se arredará de
Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló; e a ele se
congregarão os povos. Ele amarrará o seu jumentinho à vide, e o filho
da sua jumenta à cepa mais excelente; ele lavará a sua roupa no
vinho, e a sua capa em sangue de uvas. Os olhos serão vermelhos de
vinho, e os dentes brancos de leite” (Gênesis 49:8-12). A palavra
Iehuda significa “louvor”, pois quando ele nasceu houve um intenso
louvor no coração de Lia! É dito sobre ele que seus irmãos o
“louvarão”. A palavra aqui me hebraico é yadâ e significa “confessar,
louvar, dar graças, agradecer”. O restante do versículo nos esclarece
o porque esta palavra foi ali colocada: “a tua mão será sobre o
pescoço de teus inimigos; os filhos de teu pai a ti se inclinarão”. Mas
quando isso aconteceu? A mão sobre o pescoço indica que os
inimigos foram por ele vencidos; já os filhos do pai a ele se inclinando
demonstram, no mínimo, um respeito muito grande! Quando
vasculhamos a história vamos ver que esta profecia já falava sobre O
descendente da tribo de Iehuda que venceria seu inimigo mortal e por
causa desta vitória os seus irmãos a Ele se inclinariam! É ainda dito
que Iehuda seria leão. A palavra “leão” em hebraico é arieh, com o
mesmo significado. Durante a história de Israel nenhum homem foi
comparado ao leão, exceto Ieshua! Sobre Ele é dito: Eu sou o Leão da
Tribo de Iehuda! Isso encaixa-se com a profecia proferida por Israel e
também o fat ode que Ieshua é da tribo de Iehuda! A palavra ainda
nos informa que “O cetro não se arredará de Judá, nem o legislador
dentre seus pés, até que venha Siló; e a ele se congregarão os
povos”. A palavra “cetro” em hebraico é shebet e significa “vara,
bordão, cetro, tribo”. Esta vara ou bordão que identificava a tribo à
qual seu possuidor pertencia simboliza autoridade conferida à seu
proprietário e Israel profetizou que ela não se afastaria de Iehuda até
que viesse Silo. O nome “Silo” em hebraico é shilôh e vem da raiz
shay que significa “um presente dado em sinal de respeito”. Silo é a
figura profética que viria a fim de trazer um presente ao povo de
Israel: salvação! Édito ainda que “a ele se congregarão os povos”. A
palavra “congregar” em hebraico é yiqhâ que significa “obediência”.
Já a palavra “povos” em hebraico é ´am e significa “povo, nação”.
Esta palavra é usada exclusivamente para o povo de Israel. Estava
sendo profetizado que Silo atrairia a si o seu povo e eles o
obedeceriam! Isso já teve início com a morte e ressurreição de Ieshua
e continua até os nossos dias! Ele cumpriu a profecia de Israel, pois
“Ele amarrará o seu jumentinho à vide, e o filho da sua jumenta à
cepa mais excelente; ele lavará a sua roupa no vinho, e a sua capa
em sangue de uvas. Os olhos serão vermelhos de vinho, e os dentes
brancos de leite”. Certamente nós bem nos lembramos de como esta
profecia cumpriu-se plenamente em Ieshua!
Agora Israel fala a Zebulon – cujo nome significa “morada”, dizendo-
lhe: “Zebulom habitará no porto dos mares, e será como porto dos
navios, e o seu termo será para Sidom” (Gn 49:13).Na antiguidade
esta profecia nunca cumpriu-se, pois os termos delineados nesta
palavra na realidade pertenciam a Aser. Atualmente, não sabemos em
que locais encontram-se as tribos em Israel e portanto não podemos
afirmar que a profecia cumpriu-se ou não.
Israel agora dirige-se a Issacar. “Issacar é jumento de fortes ossos,
deitado entre dois fardos. E viu ele que o descanso era bom, e que a
terra era deliciosa e abaixou seu ombro para acarretar, e serviu
debaixo de tributo” (Gn 49:14-15). A palavra Issacar significa
“galardão”. Quanto à esta tribo, percebemos que a profecia cumpriu-
se literal-mente, pois eles habitaram entre Aser e Manassés e ali
“descansou” de sua labuta. A terra onde habitaram era
extremamente fértil – ao norte de Israel – e com um clima muito
agradável para viver.
Já sobre Dan é dito o seguinte: “Dan julgará o seu povo, como uma
das tribos de Israel. Dan será serpente junto ao caminho, uma víbora
junto à vereda, que morde os calcanhares do cavalo, e faz cair o seu
cavaleiro por detrás. A tua salvação espero, ó IHVH!” (Gn 49:16-18). A
palavra Dan em hebraico significa juiz. Aqui Israel faz uma
sobreposição quando diz que Dan fará din ao seu ´am! Dan – juiz –
julgará ao povo de Israel, como um de suas tribos! Aqui a palavra
“tribo” em hebraico é shebet e significa “vara, bordão, cetro, tribo”.
Percebamos que alguns versículos acima esta mesma palavra foi
traduzida por “cetro”, mas aqui toma um outro sentido! Ou seja, a
Dan seria dada “autoridade” para julgar ao povo de Israel com a sua
própria “vara” ou símbolo de autoridade que lhe fora concedido! Ou
seja, o juízo exercido por Dan não viria de leis ou conceitos estranhos
ao seu povo, mas sim da própria Palavra do Eterno que seria utilizada
por eles para exercerem o juízo entre o seu povo. E o melhor é que
sobre Dan diz que “A tua salvação espero, ó IHVH”. Eles seriam os
juízes que estariam esperando o Ieshua de IHVH! O tetragrama
significa: “Eu me torno aquilo que me torno”. Ou seja, o próprio D-us
de Israel se tornaria para eles em seu Messias e o seu nome seria
Ieshua!
Agora vem a palavra a Gade, Aser e Naftali: “Quanto a Gade, uma
tropa o acometerá; mas ele a acometerá por fim. De Aser, o seu pão
será gordo, e ele dará delícias reais. Naftali é uma gazela solta; ele dá
palavras formosas” (Gn 49:19-21). A palavra Gade em hebraico
significa sorte, fortuna. Sobre ele é profetizado que seria atacado,
mas que num contra-ataque Gade venceria seus inimigos! Já sobre
Aser, que em hebraico é ´asher e significa “feliz” e quanto à ele foi-
lhe dito que ele teria pão gordo (fartura) e Aser daria à Israel delícias
reais! Já Naftali significa “lutando” e sobre ele foi dito que Naftali é
como uma gazela solta, ou seja, ele cavalga as alturas. Isso cumpriu-
se já em sua localização geográfica, pois a tribo de Naftali ficava
situada ao norte de Israel e próximo a várias montanhas!
Agora teremos a ministração sobre Iosef. Assim foi dito sobre ele:
“Iosef é um ramo frutífero, ramo frutífero junto à fonte; seus ramos
correm sobre o muro. Os flecheiros lhe deram amargura, e o
flecharam e odiaram. O seu arco, porém, susteve-se no forte, e os
braços de suas mãos foram fortalecidos pelas mãos do Valente de Ia
´aqov (de onde é o pastor e a pedra de Israel). Pelo Elohim de teu
pai, o qual te ajudará, e pelo Todo-Poderoso, o qual te abençoará com
bênçãos dos altos céus, com bênçãos do abismo que está embaixo,
com bênçãos dos seios e da madre. As bênçãos de teu pai excederão
as bênçãos de meus pais, até à extremidade dos outeiros eternos;
elas estarão sobre a cabeça de Iosef, e sobre o alto da cabeça do que
foi separado de seus irmãos” (Gn 49:22-26). Em primeiro lugar
devemos entender que a palavra Iosef em hebraico significa
“acrescentar, aumentar”. Israel diz ser ele um “ramo frutífero”. A
palavra “ramo” em hebraico é ben e significa filho! A tradução literal
do versículo seria: “Iosef é um filho frutífero, filho frutífero junto à
fonte” (destaque nosso). Já a palavra “frutífero” em hebraico é parâ
que significa “frutificar, ser frutífero, ser fecundo, ramificar”. O Eterno
tencionava que Iosef pudesse certamente espalhar-se muito – assim
como uma planta lança de si seus galhos – e então ocupar um espaço
muito extenso no mundo. Ele continua dizendo que “... suas mãos
foram fortalecidos pelas mãos do Valente de Ia´aqov (de onde é o
pastor e a pedra de Israel)”. A palavra “valente” em hebraico é abîr e
significa “forte, poderoso, O poderoso”. Já a palavra traduzida por
“pastor” em hebraico é ro´e e significa “pastor, pastorear”. A palavra
“pedra” vem do vocábulo ´eben com o mesmo significado. O que
Israel dizia era que Aquele que vê tudo em todo o tempo estaria
“guardando” a vida deles e também seria o seu sustentáculo, além de
ferir seus inimigos! Iosef – e seus descendentes – receberiam isso:
“Pelo Elohim de teu pai, o qual te ajudará, e pelo Todo-Poderoso, o
qual te abençoará com bênçãos dos altos céus, com bênçãos do
abismo que está embaixo, com bênçãos dos seios e da madre. As
bênçãos de teu pai excederão as bênçãos de meus pais, até à
extremidade dos outeiros eternos; elas estarão sobre a cabeça de
Iosef, e sobre o alto da cabeça do que foi separado de seus irmãos”.
Israel pronuncia uma bênção que consideramos como “completa”
sobre Iosef, pois ela abrange os céus, o abismo e os seios da madre.
Esta bênção seria maior do que a bênção que o próprio Israel
recebera de seu pai e permaneceria sobre a cabeça de Iosef sempre.
Lembremo-nos que quando ocorre a palavra abençoar, benção, o
vocábulo usado no hebraico é barak (ou um de seus
desdobramentos), significando sempre “dar poder a alguém para ser
próspero, bem sucedido e fecundo”.
E finalmente por último vem Benjamim. A palavra Benjamim significa
“filho da mão direita”. A sua ministra-ção foi assim: “Benjamim é lobo
que despedaça; pela manhã comerá a presa, e à tarde repartirá o
despojo” (Gn 49:27). A palavra profética sobre Benjamim fala de sua
força física e de sua impetuosidade, pois ele é como lobo que
despedaça sua presa e a come! Não importa o tamanho da presa,
mas sim a desejo de satisfação de suas necessidades! Ele primeiro
mata sua presa e depois a reparte entre seus irmãos!
Agora temos o momento em que Israel morre e é recolhido pelo
Eterno às suas moradas!
“Acabando, pois, Ia´aqov de dar instruções a seus filhos, encolheu os
pés na cama, e expirou, e foi congregado ao seu povo” (Gn 49:33). A
palavra “instruções” em hebraico é tsawa e significa “ordenar,
incumbir”. Após Israel ter dado ordens e incumbido seus filhso
daquilo que o Eterno tinha para eles, então ele encolhe-se na cama e
é congregado ao seu povo. A palavra “povo” em hebraico é ´am e
significa “povo” (particularmente o povo de Israel). Israel agora
reúne-se aos hebreus – israelitas – mortos desde a fundação do
mundo e agora descansa definitivamente nos braços do D-us de
Israel!
O texto a seguir nos informa quais foram as reações quanto à morte
de Israel e os procedimentos para seu funeral: “Então Iosef se lançou
sobre o rosto de seu pai e chorou sobre ele, e o beijou. E Iosef
ordenou aos seus servos, os médicos, que embalsamassem a seu pai;
e os médicos embalsamaram a Israel. E cumpriram-se-lhe quarenta
dias; porque assim se cumprem os dias daqueles que se
embalsamam; e os egípcios o choraram setenta dias. Passados, pois,
os dias de seu choro, falou Iosef à casa de Faraó, dizendo: Se agora
tenho achado graça aos vossos olhos, rogo-vos que faleis aos ouvidos
de Faraó, dizendo: Meu pai me fez jurar, dizendo: Eis que eu morro;
em meu sepulcro, que cavei para mim na terra de Canaã, ali me
sepultarás. Agora, pois, te peço, que eu suba, para que sepulte a meu
pai; então voltarei. E Faraó disse: Sobe, e sepulta a teu pai como ele
te fez jurar. E Iosef subiu para sepultar a seu pai; e subiram com ele
todos os servos de Faraó, os anciãos da sua casa, e todos os anciãos
da terra do Egito. Como também toda a casa de Iosef, e seus irmãos,
e a casa de seu pai; somente deixaram na terra de Gósen os seus
meninos, e as suas ovelhas e as suas vacas. E subiram também com
ele, tanto carros como gente a cavalo; e o cortejo foi grandíssimo.
Chegando eles, pois, à eira de Atade, que está além do Jordão,
fizeram um grande e dolorido pranto; e fez a seu pai uma grande
lamentação por sete dias. E vendo os moradores da terra, os
cananeus, o luto na eira de Atade, disseram: É este o pranto grande
dos egípcios. Por isso chamou-se-lhe Abel-Mizraim, que está além do
Jordão. E fizeram-lhe os seus filhos assim como ele lhes ordenara.
Pois os seus filhos o levaram à terra de Canaã, e o sepultaram na
cova do campo de Macpela, que Avraham tinha comprado com o
campo, por herança de sepultura de Efrom, o heteu, em frente de
Manre” (Gn 50:1-13). O interessante a ser percebido aqui é que Iosef
e uma grande comitiva saíram do Egito e foram até Canaã somente
para efetuarem o sepultamento de Israel! O caminho percorrido foi
muito grande e atualmente a sepultura de Israel está em Macpela que
vem da raiz kepel e significa “dobro”. Talvez seja “caverna dupla”.
Após a morte de Israel, a situação dos irmãos de Iosef é de
“suspense”, pois eles não sabem ao certo o que ocorrerá com eles e
com seus familiares. “Depois de haver sepultado seu pai, voltou Iosef
para o Egito, ele e seus irmãos, e todos os que com ele subiram a
sepultar seu pai. Vendo então os irmãos de Iosef que seu pai já
estava morto, disseram: Porventura nos odiará Iosef e certamente
nos retribuirá todo o mal que lhe fizemos. Portanto mandaram dizer a
Iosef: Teu pai ordenou, antes da sua morte, dizendo: Assim direis a
Iosef: Perdoa, rogo-te, a transgressão de teus irmãos, e o seu pecado,
porque te fizeram mal; agora, pois, rogamos-te que perdoes a
transgressão dos servos do Elohim de teu pai. E Iosef chorou quando
eles lhe falavam” (Gn 50:14-17). O apelo dos irmãos de Iosef é
comovente, e, inclusive, tão forte que o próprio Iosef é “atingido” pela
palavra dita pelos irmãos. Quando é dito: “Assim direis a Iosef:
Perdoa, rogo-te, a transgressão de teus irmãos, e o seu pecado,
porque te fizeram mal; agora, pois, rogamos-te que perdoes a
transgressão dos servos do Elohim de teu pai. E Iosef chorou quando
eles lhe falavam”, falta uma palavra que é interposta entre o nome de
Iosef e o verbo perdoar. Esta palavra é anna que significa “Ah! Eu
agora te imploro”. Já a palavra “transgressão” usada aqui em
hebraico é pasha´ e significa “rebelar-se, transgredir, revoltar-se”. No
coração dos irmãos de Iosef há uma profunda humildade, pois seu
pedido transmite isso, e eles em seus corações sabem que o que
fizeram à ele no passado foi o mesmo que Há Satan fez com o
Criador: rebelião! Além da transgressão – rebelião, revolta – houve
também o pecado. A palavra “pecado” em hebraico é hata e
significa “errar, sair do caminho, pecar, tornar-se culpado, perder”.
Este termo retrata de uma forma muito exata aquilo que é o pecado,
pois nos fala sobre sair do caminho – certamente, o de D-us -,
também sobre tornar-se culpado, perder. O pecado nada mais é do
que um “desvio” do caminho que nos fora proposto pelo Criador e nós
– inclusive como humanidade – resolvemos tomar o atalho e então
pecamos!
O interessante é que a reação de Iosef é simplesmente chorar! A
palavra “chorar” em hebraico é bakâ e significa “chorar, lamentar,
derramar lágrimas”. Este termo nos dá a dimensão do estado de
espírito no qual Iosef entrou ouvindo aquilo que seus irmãos diziam,
pois para ele tudo o que acontecera já fora perdoado! Iosef era um
homem cuja alam já havia sido liberta deste pesado fardo da “falta de
perdão”. Já seus irmãos ainda precisavam da libertação na alma da
“culpa”. Eles ainda não haviam se perdoado pelo que fizeram, mesmo
sabendo que seu irmão Iosef já os havia perdoado, eles ainda assim
mantinham a culpa sobre si daquilo que acontecera. Em meio ao
choro compulsivo de Iosef, seus irmãos então prostram-se diante
dele! “Depois vieram também seus irmãos, e prostraram-se diante
dele, e disseram: Eis-nos aqui por teus servos” (Gn 50:18). A palavra
“prostrar-se” em hebraico é napal e significa “cair, prostrar-se, ser
lançado fora, fracassar”. O sentimento no coração daqueles homens
era justamente esse: o de serem lançados fora da presença de Iosef e
terminarem seus dias como escravos! Eles ainda não criam no perdão
que haviam recebido!
A palavra de Iosef quanto ao ato de seus irmãos demonstra-nos tudo
o que dissemos acima: “E Iosef lhes disse: Não temais; porventura
estou eu em lugar de Elohim? Vós bem intentastes mal contra mim;
porém Elohim o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia,
para conservar muita gente com vida. Agora, pois, não temais; eu vos
sustentarei a vós e a vossos filhos. Assim os consolou, e falou
segundo o coração deles” (Gn 50:19-21). Iosef diz-lhes que não
temam! A palavra “temer” em hebraico é yare e significa “temer, ter
medo, reverenciar”. Iosef lhes informa que este sentimento de temor
não deve tomar conta de seus corações, pois afinal de contas ele –
Iosef – não está no lugar de D-us! A palavra usada aqui para designar
o Eterno é Elohim, que significa O D-us Criador! Ou seja, Iosef sabe
que sua função não é a de julgar alguém – quem quer que seja – mas
sim na de atuar como aquele que salvará a tantos quantos for
possível! As palavras de Iosef trazem consolo e alento ao coração de
seus irmãos!
A história do livro termina com um fato interessante: “Iosef, pois,
habitou no Egito, ele e a casa de seu pai; e viveu Iosef cento e dez
anos. E viu Iosef os filhos de Efraim, da terceira geração; também os
filhos de Maquir, filho de Manassés, nasceram sobre os joelhos de
Iosef. E disse Iosef a seus irmãos: Eu morro; mas Elohim certamente
vos visitará, e vos fará subir desta terra à terra que jurou a Avraham,
a Itshaq e a Ia´aqov. E Iosef fez jurar os filhos de Israel, dizendo:
Certamente vos visitará Elohim, e fareis transportar os meus ossos
daqui. E morreu Iosef da idade de cento e dez anos, e o
embalsamaram e o puseram num caixão no Egito” (Gn 50:22-26).
Devemos destacar que Iosef diz a seus irmãos que ele certamente
morreria, mas que um dia O D-us Criador (Elohim) os visitaria. A
palavra “visitar” em hebraico é paqad e significa “computar,
calcular, visitar, castigar, nomear”. Neste contexto percebemos que o
que o Criador faria seria computar o tempo em que o povo ficaria no
Egito e depois os “visitaria” com a finalidade de redimi-los e retira-los
daquele lugar. Assim como seu pai, Iosef pede-lhes que seus ossos
sejam levados e enterrados na terra de seus pais!
O livro termina dizendo que Iosef foi embalsamado e posto num
caixão na terra do Egito. A palavra “embal-samar” em hebraico é
hanutim com o mesmo significado. Já a palavra “caixão” em hebraico
é aron e significa “arca, caixão, baú”. O termo Egito é Mitsrayim. O
livro de Gênesis termina com Iosef sendo embalsamado – segundo
toda a pompa e tradição egípcias – e seu corpo é colocado num
caixão na terra do Egito. Assim cumpriu-se o ministério e o tempo de
Iosef, sendo usado pelo Eterno para que o mundo e sua família – seu
povo - fossem salvos por ele e para que a história da humanidade
tomasse um rumo totalmente diferente por causa de sua fé e de sua
persistência!
Que o Eterno faça-nos assim com fez com Iosef!

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