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Brasília, 16 a 20 de setembro de 1996 -

Nº 45
Data (páginas internas): 25 de setembro de
1996

Este Informativo, elaborado pela


Assessoria da Presidência do STF a partir de
notas tomadas nas sessões de julgamento das
Turmas e do Plenário, contém resumos não
oficiais de decisões proferidas na semana pelo
Tribunal. A fidelidade de tais resumos ao
conteúdo efetivo das decisões, embora seja
uma das metas perseguidas neste trabalho,
somente poderá ser aferida após a sua
publicação no Diário da Justiça.

ÍNDICE DE ASSUNTOS
Atualização de Precatório
Cabimento de ADIn
Cabimento de Agravo Regimental
Competência para Conceder Indulto
CPMF
Desvio de Verbas Federais por Prefeito
Habeas Corpus: Impetração por Fax
ICMS e Serviços de Transporte
Imunidade Tributária e ICMS - I e II
Interrogatório
Investidura Originária em Cargo Público
Irredutibilidade de Vencimentos
Lei de Tóxicos: Republicação
Serventia Judicial
Validade da Citação-Edital

PLENÁRIO
ICMS e Serviços de Transporte
Indeferida a suspensão de eficácia de Convênio
firmado pelos Estados nos termos da LC 24/75, que
concede redução da base de cálculo do ICMS incidente
sobre prestação de serviços de transporte, mas veda,
em contrapartida, ao contribuinte que optar pelo
benefício a utilização de créditos fiscais relativos a
entradas tributadas. O Tribunal entendeu que as teses
sustentadas pela autora da ação, Confederação
Nacional dos Transportes ofensa aos princípios da
igualdade tributária e da não-cumulatividade (CF, arts.
150, II, e 155, § 2º, I) e à norma que prevê a realização
de convênios entre os Estados para a concessão de
incentivos e benefícios fiscais (CF, art. 155, § 2º, XII,
g) , não possuiriam a plausibilidade necessária para
ensejar o deferimento da medida cautelar. Considerou-
se, por outro lado, que a suspensão apenas do
dispositivo que veda a utilização de créditos, como
pretendido, alteraria a finalidade visada pelo
convênio, transformando o STF em legislador positivo.
ADIn 1.502-DF, rel. Min. Ilmar Galvão, 12.09.96. *

Serventia Judicial
Deferida a liminar em ação direta movida pelo
Procurador-Geral da República contra lei do Estado do
Rio Grande do Sul que admite “a reversão do sistema
estatizado para o privatizado de custas em Cartórios
Judiciais, a critério do Conselho da Magistratura, por
conveniência da Administração”, vedando ao escrivão
que optar pelo regime privatizado o retorno ao sistema
oficializado de remuneração (Lei 10.544/95). O
Tribunal considerou relevante a argüição de
inconstitucionalidade suscitada com fundamento no
art. 31 do ADCT da CF/88 (“Serão estatizadas as
serventias do foro judicial, assim definidas em lei,
respeitados os direitos dos atuais titulares.”). ADIn
1.498-RS, rel. Min. Ilmar Galvão, 12.09.96. *

Cabimento de ADIn
Não se conheceu de ação direta ajuizada pela
Associação Brasileira dos Jornais do Interior -
ABRAJORI, contra a Lei Complementar 70/91, que
instituiu a contribuição para financiamento da
Seguridade Social (COFINS). Examinando o estatuto
social da autora, o Tribunal verificou que ela não
congrega as empresas jornalísticas em geral, mas
somente os jornais do interior, não sendo enquadrável
no conceito de “entidade de classe de âmbito
nacional”, para o fim previsto no art. 103, IX, da CF.
Precedentes citados: ADIn 846-MS (RTJ 150/719);
ADIn 1295-DF (DJ de 15.09.95); ADIn 1297-DF (DJ
de 04.10.95). Entendeu-se ainda que, ao impugnar a
incidência da mencionada contribuição sobre o
faturamento das empresas jornalísticas, sob o
argumento de que tal incidência ofenderia o disposto
no art. 150, VI, d, da CF (proibição de instituir
impostos sobre “livros, jornais, periódicos e o papel
destinado a sua impressão”), a autora da ação não
estava atacando a norma legal em si, mas sua aplicação
a situações concretas, finalidade à qual não se presta a
ação direta de inconstitucionalidade. ADIn 1.486-DF,
rel. Min. Moreira Alves, 16.09.96.

Cabimento de Agravo Regimental


Por maioria de votos, o Tribunal não conheceu
de agravo regimental interposto contra despacho de
relator que, em ação direta de inconstitucionalidade,
pedira informações ao Presidente da República, antes
de submeter ao Plenário o pedido de cautelar
formulado pelo autor da ação. Vencidos os Ministros
Marco Aurélio e Sepúlveda Pertence que, rejeitando a
natureza meramente ordinatória da decisão impugnada
argumento acolhido pela maioria , conheciam do
recurso, mas lhe negavam provimento. ADIn 1.496-DF
(AgRg), rel. Min. Moreira Alves, 18.09.96.

CPMF
Iniciado o julgamento de ações diretas movidas
pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da
Saúde - CNTS e pela Confederação Nacional de
Dirigentes Lojistas, contra a Emenda Constitucional
12/96, que acrescentou ao ADCT da CF/88 artigo
autorizando a União Federal “instituir contribuição
provisória sobre movimentação ou transmissão de
valores e de créditos e direitos de natureza
financeira”. Após o voto do Min. Marco Aurélio,
relator reconhecendo a plausibilidade da tese
sustentada pelas confederações autoras (ofensa ao art.
60, § 4º, c/c os arts. 195, § 4º, e 154, I, da CF ) e
deferindo, em conseqüência, a cautelar , o julgamento
foi suspenso por pedido de vista do Min. Carlos
Velloso. ADIn 1.497-DF e ADIn 1.501-DF, rel. Min.
Marco Aurélio, 18.09.96.

PRIMEIRA TURMA
Competência para Conceder Indulto
Compete ao juiz da vara de execuções penais
decidir sobre a concessão de indulto a réu condenado
por decisão sujeita a recurso interposto somente pela
defesa. Com esse entendimento, a Turma deferiu
habeas corpus impetrado contra decisão do Tribunal
de Justiça de São Paulo que julgara ser do juiz da
causa a competência para esse exame, tendo em vista
que a condenação ainda não havia transitado em
julgado. Precedente citado: HC 71691-RJ (RTJ
156/152). HC 73.079-SP, rel. Min. Sydney Sanches,
10.09.96. *

Lei de Tóxicos: Republicação


A redação do art. 18, IV, da Lei de Tóxicos
“As penas dos crimes definidos nesta Lei serão
aumentadas de 1/3 a 2/3: IV - se qualquer dos atos de
preparação, execução ou consumação ocorrer nas
imediações ou no interior..., de locais de trabalho
coletivo de estabelecimentos penais,...” , foi corrigida
na republicação da lei ocorrida no DOU de 29.11.76,
incluindo-se uma vírgula entre as expressões “de
locais de trabalho coletivo” e “de estabelecimentos
penais”. É de ter-se, pois, como configurada a referida
causa de aumento de pena tanto se os crimes forem
cometidos nas imediações ou no interior de locais de
trabalho coletivo, como se o forem nas imediações ou
no interior de estabelecimentos penais. Precedente: HC
70979-SP (DJ de 10.03.95). HC 74.184-SP, rel. Min.
Octavio Gallotti, 10.09.96. *

Habeas Corpus: Impetração por Fax


O STF admite a impetração de habeas corpus
mediante fax, mas condiciona o seu conhecimento a
que seja ele ratificado pelo impetrante no prazo
concedido pelo relator. Precedente citado: HC 71084-
RS (DJ de 10.06.94). HC 74.221-AL, rel. Min. Ilmar
Galvão, 17.09.96.

Investidura Originária em Cargo Público


Conhecido e provido recurso extraordinário
interposto pelo Estado de Santa Catarina contra
acórdão do Tribunal de Justiça local que, fundado em
norma do Estatuto do Magistério (Lei estadual
6844/86, art. 37, I), reconhecera a professor ocupante
de cargo de classe final de determinada categoria
funcional o direito de ser investido por acesso
(independentemente de concurso público) em cargo da
classe inicial de outra categoria funcional. Entendendo
que a investidura, na espécie, seria originária e não
derivada, a Turma acolheu a alegação de contrariedade
ao art. 37, II, da CF (“a investidura em cargo ou
emprego público depende de aprovação prévia em
concurso público de provas ou de provas e títulos,...”).
Precedentes citados: ADIn 231-RJ RTJ 144/24); ADIn
245-RJ (RTJ 143/391); RE 172531-SC (DJ de
29.09.95). RE 169.226-SC, Rel. Min. Ilmar Galvão,
17.09.96.

Irredutibilidade de Vencimentos
O princípio da irredutibilidade de vencimentos
(CF, art. 37, XV) impede a diminuição do quantum
percebido pelo servidor, não, todavia, a redução de
percentual de gratificação incidente sobre o
vencimento base. Com esse entendimento, a Turma
reformou decisão do Tribunal de Justiça do Paraná
que, aplicando incorretamente o referido princípio
constitucional, afastara a incidência de lei local que
reduzira percentual de gratificação percebida por
policiais militares daquele Estado, sem afetar o
montante de sua remuneração. RE 183.700-PR, rel.
Min. Ilmar Galvão, 17.09.96.

SEGUNDA TURMA

Validade da Citação-Edital
A falta do endereço do réu no edital de citação
não constitui “omissão de formalidade que constitua
elemento essencial do ato” (CPP, art. 564, IV), não
ensejando, por via de conseqüência, a sua nulidade.
Precedente citado: RHC 59327-RJ (RTJ 99/656). HC
73.826-SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio; rel. p/
acórdão Min. Maurício Corrêa, 10.09.96. *

Interrogatório
Julgando o mesmo habeas corpus, a Turma
entendeu que a falta do interrogatório do réu preso no
curso do processo acarreta nulidade relativa, a qual se
considera sanada se não argüida no momento oportuno
(CPP, art. 564, III). Precedente citado: RHC 53195-GB
(DJ de 02.06.75). *

Desvio de Verbas Federais por Prefeito


Na vigência da CF de 69, a competência para o
julgamento de prefeito acusado de desvio de recursos
repassados pela União mediante convênio era da
justiça estadual e não da justiça federal, tendo em
vista o entendimento de que tais recursos, uma vez
transferidos, incorporar-se-iam ao patrimônio do
município. Precedentes citados: RECr 77893-GO (DJ
de 24.05.74); RECr 78125-RN (DJ de 11.06.76). HC
74.157-MS, rel. Min. Néri da Silveira, 10.09.96. *

Imunidade Tributária e ICMS - I


As operações relativas à circulação de
mercadorias realizadas por instituições de educação e
de assistência social, sem fins lucrativos, estão
cobertas pela imunidade prevista no art. 150, VI, c, da
CF. Com base nesse entendimento, a Turma não
conheceu de recurso extraordinário interposto pelo
Estado do Espírito Santo contra acórdão que deferira
segurança impetrada por instituição de ensino, visando
ao não pagamento do ICMS na entrada de mercadorias
importadas do exterior, destinadas a integrar o seu
ativo fixo. RE 203.755-ES, rel. Min. Carlos Velloso,
17.09.96.

Imunidade Tributária e ICMS - II


O mesmo entendimento prevaleceu no
julgamento de dois outros recursos derivados de
mandados de segurança impetrados por entidades de
assistência social contra a incidência do ICMS nas
operações de venda de pães e calçados por elas
realizadas com a finalidade de obter receita para suas
atividades filantrópicas. RREE 186.175-SP e 193.969-
SP, rel. Min. Carlos Velloso, 17.09.96.

Atualização de Precatório
Tratando-se de execução contra a Fazenda
Pública, não havendo lei que determine a atualização
do débito na data do efetivo pagamento como faz o
art. 57, § 3º, da Constituição do Estado de São Paulo,
julgado constitucional pelo STF (ADIn 446-SP, Pleno
24.06.94; RE 189942-SP, DJ de 24.11.95) , esta deve
ser feita somente em 1º de julho, nos termos do art.
100, § 1º, da CF, expedindo-se novo precatório para
pagamento do resíduo inflacionário. RE 195.818-PR,
rel. Min. Néri da Silveira, 17.09.96.

* Estes julgamentos deveriam ter sido noticiados no


Informativo anterior.

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos

Pleno 18.09.96 ------- 8


1ª Turma 17.09.96 ------- 275
2ª Turma 17.09.96 ------- 98

C L I P P I N G DO D J
20 de setembro de 1996

ADIn N. 1329-7
RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO
EMENTA: (...)
A transferência de servidores públicos para outros cargos,
inclusive para aqueles situados na ambiência de outros Poderes do
Estado, desde que não precedida de aprovação em concurso público
de provas, ou de provas e títulos, importa em modalidade
inconstitucional de provimento no serviço público, pois, em última
análise, viabiliza a investidura do agente estatal em cargo diverso
daquele para o qual foi originariamente admitido. Precedente:
RTJ 136/528.

ADIn N. 1389-1
RELATOR: MIN. MAURICIO CORREA
EMENTA: (...)
1. Afastam-se do parâmetro federal obrigatório as normas
estaduais que não reservam ao Governador a iniciativa da livre
escolha de Conselheiro do Tribunal de Contas, submetendo-o a
nomear quem indicado pela Assembléia Legislativa ou quem já
ocupa cargo de auditor do mesmo Tribunal.
2. Contrariam a Carta Magna as normas estaduais que
subtraem do Chefe do Executivo Estadual prerrogativa que lhe está
constitucionalmente conferida de indicar e nomear Conselheiros do
Tribunal de Contas nos dez primeiros anos de criação do Estado.
3. Inconstitucionalidade dos §§ 3º e 4º e dos incisos I e II do
art. 113 da Constituição do Estado do Amapá, bem como do inciso
III do art. 10 e do parágrafo único do art. 100, da Lei Complementar
Estadual nº 010/95, em face do art. 73, § 2º, incisos I e II, c/c os arts.
75 e 235 e seu inciso III, da Constituição Federal.
4. Pedido de medida liminar deferido.

ADIn N. 1458-7
RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO
EMENTA: (...)
- O desrespeito à Constituição tanto pode ocorrer mediante
ação estatal quanto mediante inércia governamental. (...)
- A cláusula constitucional inscrita no art. 7º, IV, da Carta
Política - para além da proclamação da garantia social do salário
mínimo - consubstancia verdadeira imposição legiferante, que,
dirigida ao Poder Público, tem por finalidade vinculá-lo à efetivação
de uma prestação positiva destinada (a) a satisfazer as
necessidades essenciais do trabalhador e de sua família e (b) a
preservar, mediante reajustes periódicos, o valor intrínseco dessa
remuneração básica, conservando-lhe o poder aquisitivo. (...)
- A insuficiência do valor correspondente ao salário
mínimo, definido em importância que se revele incapaz de atender
as necessidades vitais básicas do trabalhador e dos membros de sua
família, configura um claro descumprimento, ainda que parcial,
da Constituição da República, pois o legislador, em tal hipótese,
longe de atuar como o sujeito concretizante do postulado
constitucional que garante à classe trabalhadora um piso geral de
remuneração (CF, art. 7º, IV), estará realizando, de modo
imperfeito, o programa social assumido pelo Estado na ordem
jurídica. (...)
- A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se
no sentido de proclamar incabível a medida liminar nos casos de
ação direta de inconstitucionalidade por omissão (RTJ 133/569,
Rel. Min. MARCO AURÉLIO; ADIn 267-DF, Rel. Min. CELSO
DE MELLO), eis que não se pode pretender que mero provimento
cautelar antecipe efeitos positivos inalcançáveis pela própria
decisão final emanada do STF.
- A procedência da ação direta de inconstitucionalidade
por omissão, importando em reconhecimento judicial do estado de
inércia do Poder Público, confere ao Supremo Tribunal Federal,
unicamente, o poder de cientificar o legislador inadimplente, para
que este adote as medidas necessárias à concretização do texto
constitucional.
- Não assiste ao Supremo Tribunal Federal, contudo, em
face dos próprios limites fixados pela Carta Política em tema de
inconstitucionalidade por omissão (CF, art. 103, § 2º), a prerrogativa
de expedir provimentos normativos com o objetivo de suprir a
inatividade do órgão legislativo inadimplente.

SS N. 780-7 (AgRg)
RELATOR: MINISTRO PRESIDENTE
EMENTA: Suspensão de liminar em mandado de
segurança: eficácia no tempo.
O posterior deferimento da segurança, por si só, não afeta a
continuidade dos efeitos da suspensão de liminar, que se determinou
- na forma de entendimento do STF (Recl. 429, Gallotti, 13.10.93) -
até o trânsito em julgado do deferimento da segurança ou o
julgamento de eventual recurso extraordinário.

EXTRADICAO N. 675-4
RELATOR: MIN. OCTAVIO GALLOTTI
EMENTA: Extradição. Pedido corretamente formalizado.
Constitucionalidade do § 1º do art. 85 da Lei nº 6.815-60,
em cujos limites de defesa permitida não se compreendem alegações
como a de legítima defesa ou de falta de elemento subjetivo sujeitos
a prova e discussão perante a Justiça do Estado requerente.
Enquadramento da imputação em crimes subsidiários, mas
sem indícios de que se venha a pretender condenação cumulativa, e,
sim, alternativa, ao cabo da instrução penal.
Pedido deferido.

HC N. 73044-2
RELATOR: MIN. MAURICIO CORREA
EMENTA: (...)
1- A Constituição proibe a prisão civil por dívida, mas não a
do depositário que se furta à entrega de bem sobre o qual tem a
posse imediata, seja o depósito voluntário ou legal (art. 5º, LXVII).
2- Os arts. 1º (art. 66 da Lei nº 4.728/65) e 4º do Decreto-lei
nº 911/69, definem o devedor alienante fiduciário como depositário,
porque o domínio e a posse direta do bem continuam em poder do
proprietário fiduciário ou credor, em face da natureza do contrato.
3- A prisão de quem foi declarado, por decisão judicial,
como depositário infiel é constitucional, seja quanto ao depósito
regulamentado no Código Civil como no caso de alienação protegida
pela cláusula fiduciária.
4- Os compromissos assumidos pelo Brasil em tratado
internacional de que seja parte (§ 2º do art. 5º da Constituição) não
minimizam o conceito de soberania do Estado-povo na elaboração
da sua Constituição; por esta razão, o art. 7º, nº 7, do Pacto de São
José da Costa Rica, ("ninguém deve ser detido por dívida": "este
princípio não limita os mandados de autoridade judiciária
competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação
alimentar") deve ser interpretado com as limitações impostas pelo
art. 5º, LXVII, da Constituição.
5- "Habeas-corpus" conhecido em parte e, nesta parte,
indeferido.

HC N. 73620-3
RELATOR: MIN. MAURICIO CORREA
EMENTA: “HABEAS-CORPUS”. COMPETÊNCIA:
AUTORIDADE COATORA.
1. As matérias argüidas na impetração não foram
submetidas ao Tribunal de Alçada Criminal, nem por ele apreciadas,
fato que torna o Supremo Tribunal Federal incompetente para
processar e julgar o pedido.
2. Quanto às questões não submetidas ao Tribunal “a quo”
continua coator o Juiz de Direito que prolatou a sentença
condenatória e, em conseqüência, a competência para o “habeas-
corpus” continua sendo desse Tribunal.
3. “Habeas-corpus” não conhecido e determinada a remessa
dos autos ao Tribunal de Alçada Criminal.

HC N. 73913-0
RELATOR: MIN. MAURICIO CORREA
EMENTA: (...)
1. A precariedade das condições dos estabelecimentos
penais não legitima a liberação dos que neles se encontram presos,
nem o não recebimento dos que vierem a ser condenados ou
recolhidos provisoriamente.
2. Em sede de habeas corpus é inviável dirimir incidente de
execução, cabendo ao Juiz das Execuções adotar as providências
previstas no art. 66, VII e VIII da Lei nº 7.210/84.
3. Sem que para tanto seja designado, o promotor de justiça
não detém legitimidade para oficiar junto aos tribunais, exceto junto
ao tribunal do júri ou apenas para requerer correição parcial ou
impetrar habeas corpus e mandado de segurança (Lei nº 8.625/93,
art. 32, I).
4. Habeas corpus conhecido mas indeferido.

HC N. 73959-8
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
PENA - REGIME DE CUMPRIMENTO - PROGRESSÃO.
No exame da matéria, o órgão julgador há de atuar jungido aos
requisitos previstos em lei. Descabe adentrar na análise da
gravidade, em si, do delito, sob pena de ter-se verdadeiro bis in
idem. O tipo, no que prevista a gradação da pena, já a encerra -
precedente: habeas-corpus nº 70.784-RJ, relatado pelo Ministro
Sepúlveda Pertence perante a Primeira Turma, cujo acórdão foi
publicado no Diário da Justiça de 16 de setembro de 1994, à página
nº 24.267.
PENA - REGIME DE CUMPRIMENTO - LAUDO -
PERICULOSIDADE - SILÊNCIO. Uma vez constatado o silêncio
do perito quanto à periculosidade do condenado, impõe-se a
diligência visando à complementação do laudo. Exsurge
extravagante empolgar a omissão para efeito de indeferir-se o pleito
formulado.

HC N. 74019-7
RELATOR: MIN. ILMAR GALVÃO
EMENTA: (...)
O interrogatório do surdo-mudo que sabe ler e escrever
pode ser feito por escrito e por escrito dará ele as respostas, não
sendo necessária a nomeação de intérprete, na forma do art. 192, inc.
III, do Código de Processo Penal.
Quanto à alegada discrepância entre o regime
penal a que está submetido o paciente e o determinado na sentença
condenatória, por se tratar de coação atribuível ao Juízo das
Execuções Penais, não se insere na competência do Supremo
Tribunal Federal.
Habeas corpus parcialmente conhecido e nessa
parte indeferido.

HC N. 74023-5
RELATOR: MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: - Habeas corpus.
- Ocorrência, na fixação da pena, de “bis in idem”, pois o
mesmo antecedente criminal serviu para aumentá-la por ser
considerado, de início, como circunstância judicial desfavorável e,
depois, como agravante de reincidência.
- Não se conhece de habeas corpus com relação à pena de
multa, por inexistência, em face da Lei 9.268/96, que deu nova
redação ao artigo 51 do Código Penal, de ameaça à liberdade do
paciente.
Habeas corpus conhecido em parte, e nela deferido.

HC N. 74041-3
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
(...)
LEGITIMIDADE - AÇÃO PENAL PÚBLICA
CONDICIONADA - POBREZA. A conclusão sobre a pobreza da
vítima e dos responsáveis pode decorrer das peculiaridades da
hipótese, considerada atividade profissional desenvolvida e,
também, da presunção de veracidade de que cogita o artigo 4º da Lei
nº 1.060/50. (...)

HC N. 74051-1
RELATOR: MIN. MARCO AURÉLIO
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS -
ESTRANGEIROS - A teor do disposto na cabeça do artigo 5º da
Constituição Federal, os estrangeiros residentes no País têm jus aos
direitos e garantias fundamentais.
PRISÃO PREVENTIVA - EXCESSO DE PRAZO - Uma
vez configurado o excesso de prazo, cumpre, em prol da
intangibilidade da ordem jurídica constitucional, afastar a custódia
preventiva. Idas e vindas do processo, mediante declarações de
nulidade, não justificam a manutenção da custódia do Estado. O
mesmo acontece se o acusado é estrangeiro. Evasão do território
nacional corre à conta do poder de polícia, presumindo-se esteja o
Estado aparelhado para coibi-la.
PRISÃO - RECURSO DA DEFESA - INVIABILIDADE -
Exsurge conflitante com a proibição legal de chegar-se à reforma
prejudicial ao recorrente decretar-se prisão, na oportunidade do
julgamento do recurso da defesa, ainda que isso ocorra via
provimento judicial no sentido da nulidade do processo no qual
imposta, inicialmente, a custódia - Precedente: habeas-corpus nº
70.308-ES, relatado pelo Ministro Sepúlveda Pertence perante a
Primeira Turma, cujo acórdão restou publicado na Revista Trimestral
de Jurisprudência nº 152/170.

HC N. 74154-1
RELATOR: MIN. ILMAR GALVÃO
EMENTA:
Não anula o julgamento o fato de o defensor dativo não
haver apresentado razões de apelação, apesar de intimado a fazê-lo,
se não ficar demonstrado que resultou em prejuízo para o réu.
Incensurável a exacerbação da pena que se assenta nos
péssimos antecedentes do paciente.
Habeas corpus indeferido.

HC N. 74162-2
RELATOR: MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: Habeas corpus.
- No caso, não foi a defesa intimada para oferecer contra-
razões à apelação do assistente de acusação, o que é causa de
nulidade do julgamento desse recurso, máxime quando é manifesto o
prejuízo, uma vez que a condenação do paciente adveio dele,
absolvido que fora pela sentença de primeiro grau.
Habeas corpus deferido.

HC N. 74174-6
RELATOR: MIN. ILMAR GALVÃO
EMENTA: (...)
A jurisprudência desta Corte tem admitido que a motivação
da aplicação da pena, embora não esteja contida no capítulo a ela
dedicado, com suficiente precisão, pode ser buscada nas
circunstâncias do fato delituoso.
No que toca à redução da pena na fração de um terço, pela
tentativa, levou em conta a sentença as circunstâncias da própria
tentativa, considerando que os elementos existentes permitem inferir
que esse percentual foi adotado em razão do caminho percorrido
pelo paciente.
Habeas corpus indeferido.

MS N. 22468-1
RELATOR: MIN. MAURICIO CORREA
EMENTA: (...)
1. As entidades de classe representativas da defesa de seus
associados credenciam-se para figurarem no pólo ativo da relação
processual, legitimando-se para a utilização da via mandamental
coletiva, se os seus atos constitutivos revestem-se das formalidades
legais (CF, artigo 5º, inciso LXX, letra b, da CF).
2. Não dispondo a Carta Política de 1988 de preceito que
imponha ao Presidente da República a obrigatoriedade do envio de
mensagem relativamente à proposição de aumento ou à de revisão
de vencimentos, soldos e pensões dos servidores públicos, civis e
militares, dos ativos e inativos, da União Federal e de seus órgãos
diretos e indiretos, pela sua gênese, em si mesma, não é o mandado
de segurança instrumento processual apropriado ou destinado a
fazer detonar o processo de elaboração legislativa.
- É da essência estrutural e nuclear do writ que se obtenha
de seu deferimento uma ordem, um enunciado mandamental, para
que o ato impugnado se faça ou não se faça, não podendo por isso
mesmo produzir efeito de conteúdo meramente declaratório, sobre se
prevalece ou não determinada lei, sem que desse ato estatal do Juiz
não se retire um ordenamento.
3. O Plenário desta Corte, ao apreciar a questão da data-
base prevista no artigo 1º da Lei nº 7.706, de 21 de dezembro de
1988 (MS nº 22.439, julgado em 15.05.96), para a revisão de
vencimentos dos servidores públicos, assentou que a norma contida
no artigo 37, inciso X, da Constituição Federal, não é por aquela lei
regulamentada, senão que expressa que esses reajustes não podem
ser discriminatórios, aplicando a todos indistintamente, na mesma
data.
4. O preceito do § 2º do artigo 39, da CF, ao estender ao
servidor público parte dos direitos sociais dos trabalhadores, não
autoriza se extraia a compulsória obrigação de reajuste de seus
vencimentos, quando haja revisão do salário mínimo nacional.
- Esta Corte já assentou que os servidores públicos não têm
direito à negociação e ao dissídio coletivos inerentes aos
trabalhadores regidos pela CLT (ADI nº 492 - RTJ 145/68-100).
5. A lei que instituiu a data-base (Lei nº 7.706/88) e as
outras que a repetem, não são normas auto-aplicáveis no sentido de
que obriguem o Chefe do Poder Executivo Federal a expedir
proposta legislativa de revisão de vencimentos, face ao princípio
constitucional que lhe reserva a privatividade da iniciativa (CF,
artigo 61, § 1º, II, a).
- Depende a iniciativa da vontade política do Presidente da
República e das conveniências subjetivas de sua avaliação.
6. Inexistindo dispositivo constitucional que determine que
a data-base se transforme em instrumento normativo auto-aplicável,
obrigando o Presidente da República a fazer o reajuste nos moldes
previstos na lei, é de se indeferir a ordem.
Mandado de Segurança conhecido, mas indeferido.

RE N. 120952-6
RELATOR: MIN. MOREIRA ALVES
EMENTA: Desapropriação. Juros moratórios e
compensatórios entre a data da conta em liquidação da sentença e a
do efetivo pagamento. Pagamento devido segundo a jurisprudência
da Corte que se formou sob o império da Emenda Constitucional n°
1/69, e pela qual até o trânsito em julgado da sentença prolatada em
ação de desapropriação somente fluem juros compensatórios, sendo
que, a partir de então e até o efetivo pagamento, se acumulam juros
compensatórios e moratórios.
- O pagamento de juros devidos por desapropriação decorre
do princípio constitucional do justo preço (artigo 153, § 22, da
Emenda Constitucional n° 1). Precedente do S.T.F.
Recurso extraordinário conhecido e provido.

RE N. 175401-0
RELATOR: MIN. ILMAR GALVÃO
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO
IMPETRADO POR SINDICATO, OBJETIVANDO A
EXONERAÇÃO DAS EMPRESAS POR ELE AGREGADAS, DE
CONTRIBUÍREM PARA O PIS (DDLL 2.445 E 2.449/88).
LEGITIMAÇÃO ATIVA. ART. 5º, LXX, B, DA CONSTITUIÇÃO.
Legitimidade para a postulação em tela, porquanto
evidenciado que se está diante de direito subjetivo, não apenas
comum aos integrantes da categoria, mas também inerente a esta,
concorrendo, de outra parte, uma manifesta relação de pertinência
entre o interesse nele subjacente e os objetivos institucionais da
entidade impetrante.
Irrelevância da circunstância de não se tratar, no caso, de
exigência fiscal referida, com exclusividade, à categoria sob
enfoque.
Recurso extraordinário provido.

RE N. 193382-8
RELATOR: MIN. CARLOS VELLOSO
EMENTA: CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL.
MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO. SUBSTITUIÇÃO
PROCESSUAL. AUTORIZAÇÃO EXPRESSA. OBJETO A SER
PROTEGIDO PELA SEGURANÇA COLETIVA. C.F., art. 5º, LXX,
“b”.
I. - A legitimação das organizações sindicais, entidades de
classe ou associações, para a segurança coletiva, é extraordinária,
ocorrendo, em tal caso, substituição processual. C.F., art. 5º, LXX.
II. - Não se exige, tratando-se de segurança coletiva, a
autorização expressa aludida no inciso XXI do art. 5º da
Constituição, que contempla hipótese de representação.
III. - O objeto do mandado de segurança coletivo será um
direito dos associados, independentemente de guardar vínculo com
os fins próprios da entidade impetrante do writ, exigindo-se,
entretanto, que o direito esteja compreendido na titularidade dos
associados e que exista ele em razão das atividades exercidas pelos
associados, mas não se exigindo que o direito seja peculiar, próprio,
da classe.
IV. - R.E. conhecido e provido.

RE N. 197550-4
RELATOR: MIN. ILMAR GALVÃO
EMENTA: (...)
A igualdade de atribuições funcionais entre os cargos de
professor e de técnico em educação, necessária à efetivação da
isonomia de vencimentos, não cabe ser examinada na via recursal
extraordinária por exigir que se adentre em elementos probatórios
dos autos.
A concretização da isonomia salarial depende de ato
legislativo específico, na forma do § 1º, do art. 39 da
Constituição.
A Súmula 339 não permite ao Judiciário aumentar
vencimentos sob fundamento em isonomia.
Recurso extraordinário não conhecido.

RHC N. 74044-8
RELATOR: MIN. MAURICIO CORREA
EMENTA:
1. Interposição de recurso em sentido estrito, quando cabia
recurso ordinário em habeas-corpus; pedido de reconsideração,
quando cabia agravo regimental.
2. O CPP positiva o princípio da fungibilidade dos recursos
(art. 579), fazendo restrição expressa à hipótese de má-fé do
recorrente; há, também, restrição relativa ao prazo, pois a
transformação do recurso erroneamente interposto fica sujeita à
observância do prazo previsto para o recurso correto.
3. Superadas estas duas restrições, e mesmo considerando
que os erros cometidos são incomuns, é de rigor a aplicação da
norma que determina o aproveitamento dos recursos
equivocadamente interpostos.
4. Recurso conhecido e provido, determinando-se que o
recurso em sentido estrito interposto seja processado como recurso
ordinário em habeas-corpus.

Acórdãos publicados: 141

T R A N S C R I Ç Õ E
S

Com a finalidade de proporcionar aos leitores


do INFORMATIVO STF uma compreensão mais
aprofundada do pensamento do Tribunal,
divulgamos neste espaço trechos de decisões que
tenham despertado ou possam despertar de modo
especial o interesse da comunidade jurídica.

Direito à Nomeação
RE 192.568-PI *

Ministro Marco Aurélio (relator)

Relatório: O Superior Tribunal de Justiça negou acolhida ao pedido


formulado em recurso ordinário em mandado de segurança,
sufragando tese assim sintetizada na ementa do acórdão de folhas
152 a 165:

"ADMINISTRATIVO. MANDADO DE
SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. PRAZO DE VALIDADE.
CANDIDATOS. APROVAÇÃO. NOMEAÇÃO. EXPECTATIVA
DE DIREITO.
Consoante iterativa jurisprudência deste colendo STJ, o
candidato aprovado em concurso público não tem direito adquirido a
ser nomeado, gerando a sua aprovação, durante o prazo de validade
do certâme, mera expectativa de direito à nomeação.
Recurso desprovido, por maioria." (folha 165)

No extraordinário, questiona-se a constitucionalidade de ato


do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí que, após publicar edital
para concurso, em que revelado o objetivo de preencher as vagas
existentes, apenas convocou um certo número de candidatos
aprovados e, com isso, deu ensejo ao escoamento do prazo de
validade do concurso sem nomeação dos demais. [...]
É o relatório.

Voto: [...] São fatos incontroversos:


a) os Recorrentes, em número de treze, inscreveram-se no
concurso para o preenchimento do cargo de Juiz de Direito Adjunto,
o hoje Juiz de Direito Substituto. Atenderam a edital, publicado em
26 de agosto de 1988, em que prevista, de forma específica, a
destinação do certame: "o preenchimento das vagas atualmente
existentes e para as que ocorrerem no prazo de validade do
mencionado concurso.";
b) lograram aprovação e classificação para as vagas
previamente anunciadas;
c) o Tribunal de Justiça houve por bem proceder a
nomeação parcial, deixando assim sem preenchimento um bom
número de vagas, ao todo, dezoito;
d) a passagem do tempo e a previsão de validade do
concurso, considerado o biênio, levaram os Recorrentes a
requererem, ainda na vigência do prazo inicialmente assinado, a
prorrogação.
Todos nós sabemos as dificuldades enfrentadas quando da
feitura de qualquer concurso, a exacerbarem-se quanto maior for a
escolaridade exigida. Os candidatos, almejando a melhoria quer sob
o ângulo profissional, quer sob o ângulo econômico, quase sempre
dedicam-se com exclusividade aos estudos, especialmente quando
em jogo cargos de difícil acesso como são os compreendidos no
âmbito da magistratura, do Ministério Público e das Procuradorias
Estaduais. Desligam-se das atividades que viabilizam o próprio
sustento, passando a depender dos familiares, cuja convivência,
ainda que de forma momentânea, sacrificam, em face da eleição de
um objetivo maior. Por outro lado, conforme ressaltado na inicial de
folhas 2 a 21, confiam nos parâmetros constantes das normas
regedoras do concurso, procedimento que é antecedido da análise
das chances havidas.
Na hipótese vertente, a Administração Pública veiculou
edital revelador de que o certame teria como objetivo "o
preenchimento das vagas atualmente existentes e para as que
ocorrerem no prazo de validade do mencionado concurso". Ao assim
proceder, sem nenhum condicionamento no tocante a possível
gradação a ser observada no ato de nomear, obrigou-se,
estabelecendo relação jurídica com tantos quantos acorreram ao
edital. Em um Estado Democrático de Direito, exsurge a constância
na manutenção da dignidade do homem, exigindo-se, por isso
mesmo, postura exemplar. O caso dos autos é típico, no que o
Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, o Poder Judiciário desse
Estado, acabou por tripudiar, colocando em plano secundário
condições divulgadas. Em área onde notada a carência de órgãos,
reclamando-se a todo momento da ausência de valores, proclamou a
realização de concurso para o preenchimento de vagas não só já
existentes à época da abertura, como também de outras que, nos dois
anos de validade, viessem a ser abertas. Aprovados os candidatos em
número suficiente a se ter as vagas por preenchidas, deliberou
convocar - já aqui, sim, no campo não da livre discrição, mas do
arbítrio - apenas trinta e três candidatos. A um só tempo, acabou por
introduzir discriminação contrária aos termos do edital, fazendo-o
quando já conhecidos os aprovados e a classificação de cada qual.
Não parou por aí. É de praxe, no âmbito da administração, acionar-
se o disposto na Carta Política da República no que viabiliza a
prorrogação dos prazos dos concursos. Assim o é tendo em conta
que à administração pública somente interessa a arregimentação de
candidatos. Tantas e quantas vezes o concurso é prorrogado sem que
haja, sequer, na oportunidade, vagas, isso objetivando a economia,
bem como evitar reiterado desgaste para aqueles que se habilitam ao
cargo.
Pois bem, em que pese a previsão explícita constante do
edital, o Recorrido não procedeu à nomeação de candidatos para as
vagas existentes. Partiu para o desprezo à impessoalidade,
considerados candidatos na mesma situação, porque aprovados e
classificados tendo em vista as vagas existentes, convocando alguns
e deixando outros em situação de absoluta insegurança.
Avizinhando-se o término da valia do concurso, ou seja, dos dois
anos, esses últimos, perplexos, até mesmo pela atitude do Recorrido
em não convocá-los, em que pese - repito - a existência das vagas,
requereram fosse acionado, ao menos, o disposto no artigo 37, inciso
III, da Carta Política da República, não logrando sensibilizar o
Recorrido, muito embora afeito à implementação da almejada
justiça. Indeferido o requerimento, deixou escoar o prazo de
validade do concurso. Indaga-se: O que se pode depreender dessa
atitude? A desnecessidade do preenchimento das vagas? A resposta é
desenganadamente negativa. A uma, tendo em vista que a deficiência
do número de órgãos do Judiciário é proclamada diariamente. A
duas, porquanto o próprio edital de concurso sinalizou não apenas
para o preenchimento das vagas existentes, como também das que
surgissem no prazo de validade e aproveitamento dos candidatos.
[...] O Recorrido, diante de listagem de candidatos que,
consoante a previsão do edital, estavam habilitados ao
preenchimento das vagas previamente anunciadas, deliberou, já
conhecidos os nomes, nomear apenas alguns, fazendo-o,
considerado o número máximo - cinqüenta -, em relação a trinta e
três. Indaga-se mais uma vez: por que trinta e três, diante das
necessidades maiores do Judiciário? Por que indeferiu a prorrogação
do concurso, tão adotada em geral, quando verificada listagem de
remanescentes aprovados? [...] O artigo 37 da Carta de 1988 é
categórico ao revelar que a administração pública observará os
princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade.
No caso dos autos, o da legalidade foi menosprezado, já que
olvidados os parâmetros do edital de concurso e o resultado deste
último; o da impessoalidade, no que, conhecidos os aprovados e
classificados para as vagas, resolveu-se partir para a nomeação
parcial, colocando-se em plano secundário, até mesmo, as
necessidades existentes; o da moralidade, no que, espezinhado o
primeiro, deixou-se de proceder, até mesmo, à prorrogação do
concurso, abrindo-se margem à convocação de outro tão logo
esgotado o prazo de dois anos; por último, o da publicidade, no que
as regras insculpidas no edital serviram de estímulo à inscrição de
candidatos, restando ignoradas.
A persistir o quadro até aqui delineado, ter-se-á verdadeiro
incentivo ao arbítrio, procedendo a administração pública de
maneira condenável e com isto perdendo o respeito dos cidadãos.
Esvaziado far-se-á o disposto no inciso IV do artigo 37 em comento,
segundo o qual durante o prazo improrrogável previsto no edital de
convocação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de
provas e títulos será convocado com prioridade, sobre novos
concursados, para assumir cargo ou emprego na carreira. Manobra
aparentemente legal da administração pública poderá implicar o
afastamento do preceito. Para tanto, bastará que deixe escoar o prazo
estabelecido no edital do concurso, desconhecendo não só a
exitência de vagas, mas também de classificados, para, a seguir,
realizar novo concurso.
A interpretação de dispositivo legal ou constitucional há de
fazer-se de modo sistemático e teleológico, métodos aos quais não se
sobrepõe o alusivo à interpretação verbal. Se a Carta assegura, no
prazo de validade do concurso, a convocação de candidatos nele
aprovados com prioridade sobre novos concursados, ou seja,
candidatos aprovados em concurso posterior, é de concluir-se que a
inércia, intencional, ou não, da administração pública, deixando de
preencher cargos existentes, leva à convicção sobre a titularidade do
direito subjetivo de ser nomeado. No campo da atuação
administrativa, não se pode admitir atos que consubstanciem
tergiversação, verdadeiro drible a normas imperativas como são as
constantes da Carta de 1988. Em boa hora os Impetrantes trouxeram
à balha lição do inigualável Celso Antônio Bandeira de Mello ao
comentar o teor do inciso IV do artigo 37 referido:
"Como o texto correlacionou tal prioridade ao mero
fato de estar em vigor o prazo de validade, segue-se que, a partir da
Constituição, em qualquer concurso os candidatos estarão
disputando tanto as vagas existentes quando de sua abertura quanto
as que venham a ocorrer ao longo do seu período de validade, pois,
durante essa dilação, novos concursados não poderiam ocupá-las
com postergação dos aprovados em concurso anterior. Além disso,
como o inciso IV tem o objetivo manifesto de resguardar
precedências na seqüência dos concursos, segue-se que a
administração não poderá, sem burlar o dispositivo e sem incorrer
em desvio de poder, deixar escoar deliberadamente o período de
validade de concurso anterior para nomear os aprovados em
certames subseqüentes. Fora isto possível e o inciso IV tornar-se-ia
letra morta, constituindo-se na mais rúptil das garantias." (Regime
Constitucional dos Servidores da Administração Direta e Indireta,
página 56)

Repita-se: o edital de concurso revelou que estaria em jogo


o preenchimento das vagas existentes e das que surgissem no prazo
assinado. Os Recorrentes, tais como os colegas já aproveitados,
foram classificados para essas vagas. O Recorrido recusou-se, em
área tão sensível e deficiente como é a da magistratura e considerada
a existência de candidatos aprovados e classificados, a prorrogar o
biênio, sequer justificando a decisão, exceto no que articulado o
envolvimento de faculdade e a ausência de obrigação de nomear,
porque jungida a conveniência e oportunidade.
A hipótese vertente não pode ficar na vala comum da
jurisprudência engessada na máxima de que os concursados têm
simples expectativa e não o direito à nomeação. As singularidades
que acabo de ressaltar, fazendo-o até mesmo com tintas um pouco
fortes, porquanto presente o sentido pedagógico, conduzem a
postura diversa, restabelecendo-se a confiança dos Recorrentes, no
que resolveram abraçar carreira em que tal predicado exsurge, com
insuplantável valia. Ressalto que a presunção de que estaria havendo
uma manobra visando à realização de novo concurso restou
confirmada pela publicação nos Diários de 29 de janeiro, 13 de
março e 15 de março de 1996, de avisos alterando o edital publicado
em 25 de novembro de 1993 e a ele conferindo as conseqüências
próprias - folhas 208 a 225.
[...]
Por tudo, conheço deste extraordinário, por violência ao
artigo 37, caput, e aos incisos III, IV, da Constituição Federal de
1988, a Carta Cidadã, para, reformando o acórdão prolatado pela
Corte de origem, conceder a segurança nos termos em que
pleiteados, assegurando, assim, aos Recorrentes, a nomeação para o
cargo de Juiz de Direito Substituto.
É como voto na espécie dos autos.

DECISÃO: Por maioria, a Turma conheceu do recurso


extraordinário e lhe deu provimento, para assegurar aos recorrentes a
imediata nomeação pelo Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, para
os cargos de Juiz de Direito Adjunto, vencidos, em parte, o Senhor
Ministro Carlos Velloso que conhecia do recurso extraordinário e lhe
dava provimento para garantir aos recorrentes o direito de
preferência à nomeação, e, integralmente, o Presidente que não
conhecia do recurso. 2ª Turma, 23.04.96.

* Acórdão publicado no DJ de 13.09.96. No próximo número do


Informativo, publicaremos trechos do voto proferido pelo Min. Néri
da Silveira (vencido).

Assessor responsável pelo Informativo


Miguel Francisco Urbano Nagib
nagib@stf.gov.br

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