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de Neuroanatomia
M. l.. Brandão
J. J. Lachat
N. C. Coimbra
II,
,
:1 '
j .
Seculum cetebri, por Silvia Helena Cardoso, Marcos Ribeiro de Souza. À esquerda, um
esquema anatômico traçadopor André Versálio em 1543. A direita, tomografia
computadorizada de uma seção craniana transversal. USP/RP.
.!
j
;
CONSIDERAÇÕES GERAIS
ASPECTOS ESTRUTURAIS
O SNC, constituído pelo encéfalo e pela medula espinhal, está coberto por três me-
ninges: dura-máter, aracnóide e pia-máter. Et~:Lestáorganiza_~o anatsmlCamente ao longo
doa.eíxos.rostrocaudel e dorsoventral. Se considerarmos um vertebradosímples, como
um anf..
fica "emíbio, por exe.
direção ao mnariz"10..' e.'(do
..p.... fácil en.tender
latim o. signi.ficado
rostrum), caudal querdestas p..~l.i.
dizer" mv
...•.....
raso
direçãoRostral Signi..-
à cauda"
(mesmo termo em latim), dorsal, "em direção ao(lQiSo"-rdo lati dorsumJL_e_vep.1:r_ªl
"errloÍreçao-aõ--ã6dome''-"(CIõTãflm-:VenFeT-C"omono homem~exIsie i'lima"fr;xâo do SNC
na junção do tronco cerebral e diencéfalü (na altura da base do c~â~io), para caracte-
rizar a localização de uma determinada estrutura é necessário prilmeiro situá-Ia em I
2 CAPITULO 1
relação a esta junção ou flexão, ou seja, se está acima ou abaixo dela. Se estiver aci-
ma, rostral quer dizer em direção ao nariz, caudal em direção à nuca, dorsal em dire-
ção ao topá da cabeça, e ventral em direção à mandíbula. Se a estrutura que queremos
localizar está abaixo da junção, as associações feitas são: rostral/pescoço, caudal/cóc-
cix, dorsal/costas e ventral/abdome. Observe que neste último caso os termos seguem
uma definição similar à que descrevemos para os vertebrados inferiores.
. A forma como o sistema nervoso se apresenta deve-se a uma organização particu-
. lar de suas células. Segundo a disposição dos corpos celulares (soma) e dos prolon-
gamentos (axônios) dos neurônios surgem as diversas estruturas neurais característi-
cãsdõ sistema nervoso central. Os corpos celulares podem constituir núcleos quando
formam aglomerados mais ou menos esféricos, como o núcleo rubro, ou alongados,
como o núcleo caudado; córtices ou pálios quando se reúnem em forma de lâminas,
casca (do latim cortex) ou manto (do latim pallius); substâncias, aglomerados maiores
que os núcleos, mas ainda bem delimitados em uma determinada região, como a subs-
tância cinzenta periaqueductal e a substância negra ou complexos, um conjunto de
núcleos, como o complexo amigdalóide.
As projeções axonais também se organizam de modo bastante peculiar, constitu-
indo os tratos quando se agruRª-IJJ-_em..-gra,p_d!L!;;tJíIDerQ.Ji.lL.ax.f>n!Q,~,
com ori~m e final
c..2!!!l!..m,
como o trato corticoespinhal anterior, com origem no giro pré-central e tér:
'.: mino no corno anterior da medula espinhaL Q~~i~.pro.j,e.ções-sã.Q-maiSJUo_d~~
t'!-sel.M.Ifrce.b.enLQJl,ome
..de.f.as.cíc.ulo(do latimfasciculus = diminutivo de feixe), como
.'. os fascículos grácil e cuneiforme. Um aglomerado de trat.o,LftJascJculos resulta em
- funículo (do latim funiculus = pequena corda). Às vezes, as projeções axônicasse
. orgãríizam de modo a se assemelharem a fitas [em latim lemniscuss, Como exemplo
de lemnísco citaremos o lemnisco medíal, conjunto de fibras arqueadas que ligam os
núcleos grácil e cuneiforme ao tálamo, levando informações conscientes, de tato epicrítico
e da sensibilidade vibratória para os centros superiores. Se as projeções axoniais, em
seu trajeto, percorrem um estreito espaço entre vários núcleos, sua disposição colunar
passa a adquirir um aspecto laminar, como a lâmina medular lateral localizada entre
o putâmen e o globo pálido. Se chegarem a envolver, mesmo que emiparte, um ou mais
núcleos este conjunto de fibras recebe o nome de cápsula, como ~ cápsula interna,
prensada entre o corpo estriado e o tálamo, formada por projeções i descendentes dos
tratos corticoespinhal e corticonuclear, vias motoras que conduzem impulsos aos
motoneurônios do corno ventral da medula espinhal e dos nervos craníanos do tron-
co encefálico, respectivamente. Sangramento ou trombose na cápsula interna consti-
tui uma das causas mais comuns de hemiplegia (paralisia da me~ade do corpo). A
cápsula. interna também contém fibras ascendentes que levam ínformações soma-
tossensoriais ao córtex, Se ao contornar um determinado núcleo fa~ um dobramento,
é denominado joelho, por exemplo o joelho do corpo caloso. Quando um aglomerado
de axônios projeta-se no lado oposto do neuroeixo, recebe o nome de comissura, como
a comissura anterior que conecta os lobos temporais. '
Os neurônios podem também constituir faixas quando se interpõem entre estrutu-
ras nucleares, como a zona (do latim zona = faixa)incerta e o claustro (do latim claustra
= clausura); colunas e cornos, como as colunas anteriores, posteriores e intermédio-
laterais e cornos dorsais e ventrais da medula espinhal. A Fig. 1.~ mostra um detalhe
do neuroeixo, com alguns exemplos , '.
da organização geral do siste!: a.I nervoso.
Como veremos no decorrer deste livro, apesar da complexid de aparente, enten-
der o significado dos termos usados para designar as diversas e , t~uturas do SNC. a
CAPíTULO 1 3
Fig. 1.1 - Fotografia de um corte transversal do mesencéfalo humano, passando pelos colfculos superiores, visto de
cima. 1 - giros e sulcos do córtex cerebe/ar; 2 - colfculos superiores; 3 - colículos inferiores; 4 - substância
cinzenta periaquedutal; 5 - núcleo rubro; 6 - substância negra; 7 - pedúnculo cerebral, com os tratos corticoespinhais
e corticonucleares.
CRITÉRIOS ANATÓMICOS
4 CAPíTULO 1
Telencéfalo
Cérebro -
Diencéfalo
Tronco Mesencéfalo
Encéialo ~ i--
encefálico Ponte
....
r--
Central r- Bulbo
Cerebelo
Medula
Espinhal
Sistema f-
Nervoso
i--~ ~
'- Periférico i---
Gânglios AutonOmicos
Sensitivos
CRITÉRIOS EMBRIOLÓGICOS
Fig. 1.3 - Superffcie medial da metedeesquerâe do encéfalo humano. Tomografia computadorizada à esquerda e
visão esquemática à direita. T =
telencéfalo, CB = cerebelo, MS =
mesencéfalo, PTE =
ponte, BU = bulbo, MED =
medula espinhal, TL = télemo.
CAPíTULO 1 5
diencéfalo. o mesencéfalo não sofre divisão. O rombencéfalo se subdivide em metencéfalo
(ponte e cerebelo, na divisão anatômica) e mielencéfalo (bulbo, na divisão anatômí-
cal. Estes nomes derivam das estruturas embriológicas das quais estas áreas se origi-
nam.
Vamos agora analisar mais detalhadamente estas estruturas do SNC a partir da
medula espinhal.
MEDULA ESPINHAL
fJ PROSENCÉFALO -c Telencéfalo
• Diencéfalo
- Hemisfé
--~
I
ios cerebrais
..t Hipotálamo
Tálamo
[] MESENCÉFALO,
Fig. 1.4 - Divisão do sistema nervoso, segundo critérios embriológicos e as principais estruturas que originam no
indivíduo adulto. i
6 .\
CAPfTULO 1
". ~. !
.' ,...•.....
Como dorsal
..... c-Ó
Fig. 1.5 - Anatomia da medula espinhal. As principais estruturas da medula espinhal estão indicadas. Ver texto para
detalhes. Modificado de Pinel, 1992.
as pernas e troncos mais lateralmente, a seguir os braços e ombros e, por fim, o pes-
coço. Em vista disso, diz-se que os receptores de todo o corpo possuem uma repre-
sentação somatotópica na medula espinhal. Os axônios que sobem pelo corno dorsal
da medula espinhal penetram no bulbo, que é a região mais caudal do tronco ce-
rebral.
CAPíTULO 1 7
.' ,
~1
, ,
CORPO CALOSO
ji )....\
. ( I
I ./
\CORPO
ESTRIADO
TÁLAMO
Fig. 1.6 - Representação da organização do sistema nervoso central do gato. A figura indica estruturas que se
destacam em um corte paralelo à linha média do cérebro. As linhas hachuradas indicando o corpo estriado denotam
que esta estrutura está imersa no hemisfério cerebral. MES = mesencéfa/o. C, = colfculo inferior. C. = collculo
superior. DIEN = diencéfa/o.
BULBO
Esta estrutura lembra a medula espinhal quanto à sua organiz ção morfológica.
. l
Contém núcleos e tratos que levam a informação sensorial para os centros superiores
do cérebro como núcleos e vias que deles trazem comandos motores para a medula
espinhal. i
As informações sensoriais que ascendem no corno dorsal da rhedula, ao chega-
rem no bulbo cruzam para o outro lado do cérebro e continuam a spbir para as áreas
cerebrais superiores pelo lemnisco medial, que é uma das vias mats importantes do
tronco encefálico no transporte de informações sensoriais do tronc~ e membros para
o tálamo, onde termina em seus aspectos ventroposteriores. Na sUja face anterior, o
bulbo apresenta um feixe de fibras que cruza obliquamente o pIara mediano. Este
cruzamento constitui a decussação das pirâmides, visto que denomi am-se pirâmides
as eminências longitudinais que ladeiam a fissura mediana do bulbo. As pirâmides são
formadas por fibras descendentes da principal via matara, o trato! piramidal ou via
corticoespinhal. No bulbo ventromedial ainda se localizam o núcleo magno da rafe,
os núcleos reticulares paragigantocelular e gigantocelular, cujas fibras projetam-se para
o corno dorsal da medula, onde atuam no controle descendente da informação dolo-
rosa que chega à medula. O canal medular termina e expõe suas margens na parte dorsal
do bulbo, constituindo os limites laterais do IV ventrículo.
i
PONTE I
I
A ponte é a porção do tronco encefálico situada ventralmente ad cerebelo, entre o
;i
·i
8 CAPíTULO 1
bulbo e o mesencéfalo. Visto de frente, o tronco encefálico apresenta a ponte como
sua estrutura mais proeminente. À primeira inspeção, apresenta-se como uma larga
fita de fibras nervosas que se compacta, de cada lado, formando um volumoso feixe
de fibras nervosas, o pedúnculo cerebelar médio, que mergulha no hemisfério cerebe-
lar correspondente (Fig. 1.7). A ponte funciona como estação para as informações
provenientes dos hemisférios éerebrais e que se dirIgem Eara o_~er_ebels>.: __~_TI'_ª:rfêi-
ça-oentre o bulbo ea poiiI8 está localizado o locus coeruleus, principal fonte de iner-
vação noradrenérgica do SNC, que possui importante papel no controle do comporta-
mento emocional e no ciclo sono-vigília~ -------- .....
--.------------.------
!
MESENCÉFALO
CAPíTULO 1 9
pescoço; inervação dos órgãos dos sentidos; inervação paras simpática dos gânglios
autonômicos que controlam importantes funções viscerais, tais como a respiração,
pressão arterial, freqüência cardíaca e deglutição. Eles são numerados na seqüência
rostrocaudal em que perfuram a dura-máter em direção a seus alvos. Alguns são ex-
clusivamente sensoriais como o I (nervo olfatório), o II (nervo óptico) e o VIII (nervo
vestibulococlear). Outros são puramente motores como o são o III (oculomotor), o IV
(troclear), o VI (abducente), o XI (nervo acessório) e o XII (hipoglosso). Os restantes
são mistos, isto é, fornecem inervação motor a e sensorial, como é o caso do V (trigêmeo),
do VII (facial), do IX (glossofaríngeo) e do X (nervo vago). Os locais de emergência
destes nervos podem ser visualizados na Fig. 1'.7.
CEREBELO
TÁLAMo E SUBTÁLAMO 11
O tálamo (em grego significa "câmara interior") processa e fund,i~na como relé das
informações sensoriais, que se dirigem para o córtex cerebral, provenientes das regiões
mais caudais do sistema nervoso. Os núcleos talâmicos estabelecem conexões com o
córtex cerebral através da cápsula interna, um feixe volumoso de :ifibras que leva e
traz a maioria das informações dos hemisférios cerebrais. Assím, ~ cápsula interna
contém a continuação rostraldas vias aferentes primárias, como t~~bémas vias des-
cendentes corticopontina, corticobulbar e cortícoespínhal, Uma termínologia comum,
mas bastante complexa, tem sido.utilizada pelos neuroanatomistasl para classificar os
vários núcleos talâmicos. Os núcleos anteriores são núcleos de, projeção específicos
que participam na regulação da emoção por transportarem informação do tálamo para
o giro do cíngulo (uma estrutura do sistema límbico). Os núcleos ventral anterior e
ventral intermédio são núcleos de projeção que recebem aferências f;0toras do globo
pálido e cerebelo, respectivamente, e se projetam para o córtex do lobo frontal. O núcleo
10 \ . CAPíTULO 1
. - t ~'_-.'" _
ventral póstero-lateral recebe as aferências sensoriais (dor, temperatura, pressão e tato)
dos lemniscos medial e espinhal, e envia projeções para o giro pós-central. O núcleo
ventral póstero-medial recebe fibras do lemnisco trigeminal. Portanto, ê um relê de
vias sensitivas, mas da sensibilidade da cabeça. Os núcleos dorsolaterais são núcleos
Fig.1.7 - Fotografia do tronco encefálico humano, em vista ventral, conectado ao dien céfa/o. É também mostrada
i
parte do telencéfalo. No bulbo, destacam-se as pirâmides (P) e o sulco bulbo-pontino (S). Na pontl3 destaca-se o
1
pedúnculo cerebelar médio (PCM). No mesenceiélo destacam-se os pedúnculos cerebrais (PC). No dienàételo estão
indicados o corpo geniculado lateral (CGL), o trato óptico (TOP), o quiasma óptico (QO) e os corpos mamilares
(CM). No telencéfa/o pode ser visto o trato olfatório (TO). Os 12 nervos cranianos, com exceção do nervo o/fatório
(I), estão também indicados nesta figura.
CAPíTULO 1 11
"r
Fig. 1.8 - Fotografia do tronco encefálico humano, em vista dorsk/, conectado ao diencéfalo. É também mostrada
parte do telencéfalo. De baixo para cima, estão indicados no tronco' encefá/ico, os tubérculos grácil (G) e cuneiforme
(G), o IV ventrículo (V), os pedúnculos cerebelares supetiorss (PS)' médios (PM) e inferiores (PI), o IV nervo crania-
no, os co/ículos inferiores (GI) e cotlculos superiores (CS). Estão: ainda indicados o tálamo (T), a cápsula interna
(Gi), e a cabeça do núcleo caudado (NC). '
12 CAPíTULO 1
medial e lateral estão situados na margem posterior do tálamo e medeiam, respectiva-
mente, informações auditivas, provenientes do colículo inferior, e visuais, proveni-
entes do colículo superior. A glândula pineal situa-se dorsal e caudalmente ao tálamo,
e secreta o hormônio melatonina. O subtálamo situa-se caudal ao tálamo, e lateral ao
hipotálamo. Como se localiza na transição com o mesencéfalo, algumas estruturas
mesencefálicas se estendem até o subtálamo, como o núcleo rubro, a substância negra
e a formação reticular. Esta última vai constituir a zona incerta do subtálamo. O prin-
cipal componente do subtálamo é o núcleo subtalâmico de Luys, envolvido na regula-
ção da postura e do movimento. Lesões desse núcleo resultam em uma síndrome tí-
pica denominada hemibalismo, caracterizada por movimentos anormais involuntários
das extremidades.
HIPOTÁLAMO E HIPÓFISE
bios endócrinos cursam com sintomas psiquiátricos e que muitos distúrbios psiqui-
átricos são acompanhados de perturbações endócrinas. !
CAPíTULO 1 13
·.t
-,:.. i . -Ó:
Fig. 1.9 - Fotografias do cérebro humano, apresentado pela face inferior (A), face súpero-Iateral (8) e face medial
(e). T = telencéfalo, P = ponte, 8 = bulbo, e= cerebelo, PO = pólo occipital, PF = pólo frontal, PT = pólo tem-
poral,ee = corpo celoso, O = diencéfalo, M = mesencéfa/o.
14 CAPíTULO 1
• <
TELENCÉFALO
CÓRTEX CEREBRAL
CAPíTULO 1 15
/.
Giro docíngulo
ml Lobo frontal
Corpo caloso ~ Lobo parietal
Cl Lobo occipital
liIm Lobo temporal
Sépto
pelúcído
:..- __ Fissura transversa
IVº Ventrículo
Cerebelo
Flg. 1.10 - Vista medial do encéfalo revelando as estruturas mais salientes. A relação espacial entre os lobos ce-
rebrais é mostrada no destaque da direita.
16 CAPITULO 1
degeneram localizando, assim, seu sítio de projeção. Com estas evidências, as áreas
23 a 35 na face medial do cérebro puderam ser classificadas como límbicas ou
paralímblcas. As áreas somestésicas 1, 2 e 3 projetam seus axônios para as áreas 4, 5
e MS (áreas motor as suplementares), onde terminam como fibras de associação, e também'
para a área 7. A área 7 (situada no lobo parietal) projeta-se no córtex pré-frontal e no
sulco temporal superior e no giro do cíngulo.
A lesão de áreas visuais (áreas 17, 18 e 19) permite a localização de seus axônios
de projeção nas áreas 46 e região posterior do sulco temporal superior (STS, uma área
polimodal). Esta última região pode funcionar como sítio de convergência para infor-
mações visuais provenientes do lobo occípítal e informações sensoriais táteis prove-
nientes da área somestésica, de forma que uma percepção integrada de um objeto, ao
mesmo tempo visto e sentido, seja feita. Da área sensorial primária do tato, a infor-
mação se difunde para a área 5 e, então, para a área 7, que traduz os influxos senso-
riais em padrões que especificam a forma e as características táteis das superfícies
dos objetos palpados e ainda os relaciona com a experiência visual dos mesmos. A
partir da área auditiva primária, os neurônios projetam-se para as partes superiores
do lobo temporal e também para o sulco temporal superior. As projeções terciárias
são para as áreas paralímbicas 25 e 33. As conexões das áreas ~e associação com o
sistema límbico conferem um colorido emocional à percepção consciente. Deve ser
\ mencionado ainda que também existem sistemas de transferência multisseusorial entre
i
! o tato e a visão, e outros associadas ao cheiro, paladar, fome, sede, medo, raiva, sexo,
prazer etc. '
. :
M6dulos Corticais
J
A análise da cito arquitetura do córtex, além de permitir a su~ divisão nas chama-
das áreas de Brodmann, também revela que ele é constituído delicolunas de células
\ ou módulos que são verticais à superfície cortical. Estas colunas! dispostas paralela-
l
mente e medindo, aproximadamente, 3mm, de comprimento (que é a espessura do
f neocórtex) por O, 1 a 0,5mm de diâmetro, formam entidades anatômicas e funcionais
.
r~ distintas, cujas células respondem de maneira similar aos impulsos aferentes, cons-
tituindo, portanto, unidades morfofuncionais com características próprias.
Segundo J. Szentágothai, o módulo seria a unidade básica do cérebro. De cima para
baixo, os módulos contêm seis laminas de células. As lâminas I e II recebem as aferências
provenientes das fibras de associação de outras regiões do córtexl As lâminas IH, IV;
V e VI recebem aferências específicas do complexo talâmíco, São compostas basica-
mente por neurônios íníbítóríos.e por células piramidais que constituem a via de saída
destes módulos, seja para os módulos circunvizinhos, seja para! as células efetoras
situadas em nível subcortical. ·1
Existem, aproximadamente, dois milhões de módulos cortíçais e cada módulo
contém cerca de 10.000 neurônios. O nível de atividade nos módulosvaría de uma
descarga de alta freqüência - sinalizando ativação cortical - até descargas de baixa
freqüência, características do córtex cerebral em repouso. O funcionamento de um módulo
pode ser equiparado ao de um complexo de circuitos em paralelo com os impulsos
excitatórios, sendo continuamente transmitidos aos outros módulos corticais. Esta
transmissão é efetuada pelos axônios das células piramidais. Estes axônios, além de
proverem a comunicação intermodular, vão constituir ~ alguns -; as fibras de asso-
CAPíTULO 1 17
ciação que se dirigem a regiões mais distantes, enquanto que outros vão formar as fibras
comissurais que atravessam o corpo caloso para áreas do outro hemisfério cerebral.
Ao mesmo tempo, os módulos estão também sob influência de conexões recíprocas
inibitórias, intermodulares, de forma que a sua atividade é o resultado da soma algé-
brica das influências excitatórias e inibitórias.
CORPO CALOSO
Com cerca de 200 milhões de fibras, o corpo caloso constitui o mais poderoso sis-
tema de ligação entre os dois hemisférios. Está situado no fundo da fissura longitu-
dinal do cérebro. Apresenta-se como uma larga lâmina branca, arqueada dorsalmente e
constituída por fibras mielínicas e amielínicas. Estende-se para o interior dos hemisfé-
rios, onde suas fibras se irradiam formando a radiação do corpo caloso. Em conexão
com a face côncava do corpo caloso estão o fórnice e o septo pelúcido. O fórnice cons-
titui-se de duas metades simétricas que se projetam do hipocampo para os corpos
mamilares no hipotálamo. O septo pelúcido é constituído por duas lâminas delgadas
de substância nervosa, uma de cada lado, estendida entre o corpo ~aloso e o fórnice.
SEPTO E HIPOCAMPO
!
Estas duas estruturas são aqui consideradas agrupadamente,1 primeiro porque
mantêm estreita conexão anatômica, e segundo porque compartilham u\mpapel de grande
importância nas funções cognitivas, particularmente na análise de! informação espa-
cial, na consolidação da memória e integração do comportamento emocional.
O hipocampo é constituído de duas massas neuronais, uma em cada hemisfério,
encurvadas e mergulhadas na intimidade do córtex temporal. Em ~uas trajetórias no
sentido ventral, elas se conectam na linha mediana através das comissuras hipocampais
e projetam-se na área septal, através do giro supracaloso. A área sep :al e o hipocampo,
em conjunto, quando olhados de frente, assemelham-se a uma ave nojmomento de alçar
vôo. Segundo Jeffrey Gray, da Oxford University, o septo e o hípocarhpo constituem-se
no substrato neural do sistema de inibição comportamental que é 4tivado pelas situ-
ações de estresse emocional ou 'ansiedade. Na escala filogenética, oilhipocampo surge
nos mamíferos mais primitivos, sendo, por isso, chamado arqulcõrtex.
!
BULBOS OLFATÓRIOS j
O prolongamento do telencéfalo, conhecido como bulbo olfatór~o, situa-se abaixo
da face orbital do lobo frontal, projetando-se através dos tratos olfa.órios até o córtex
olfatório do lobo temporal e área septal. A porção do córtex tempe ral que recebe as
informações olfativas é denominada rinencéfalo. Este córtex rinen~efálico é também
filogeneticamente antigo, embora mais recente que o arquicórtex, lendO por isto co-
nhecido como paleocórtex.
AMÍGDALA
18 CAPiTULO 1
caudado. No homem, a amígdala é um complexo de vários núcleos, cada qual com
estrutura interna, neurotransmissores e conexões distintas. A amígdala é constituída
de vários núcleos chamados, em conjunto, complexo amigdalóide. A grosso modo,
podemos dizer que ela é constituída de um grupo nuclear corticomedial, que co-
necta-se principalmente com o hipotálamo e tronco encefálico, e outro basolateral, que
conecta-se com o tálamo e partes do córtex cerebral. A amígdala dá origem a duas
importantes vias: a stria terminalis e a via amigdalofugal. A stria terminalis inerva o
núcleo do leito da stria termiiiclis, a área septal, o núcleo accumbens e, termina no
hipotálamo ventromedial. A via amigdalofugal fornece inervação ao hipotálamo, nú-
cleo dorsomedial do tálamo e giro do cíngulo. Em geral, a amígdala mantém conexões
recíprocas com as estruturas que inerva. Associada ao hipotálamo, hipocampo, giro
do cíngulo e a outras estruturas, constituem o sistema límbico, substrato anatômico
das emoções. Atualmente, vários autores concordam que a amígdala está envolvida na
aprendizagem e memória de informações condicionadas aversivas. Estimulação desta
estrutura em animais de laboratório produz um amplo espectro de reações autonômí-
cas e emocionais características do medo e lembram a ansiedade no homem.
NÚCLEOS DA BASE
,
!
São constituídos pelos núcleos caudado, putâmen e globo pálido. Estes núcleos
de matéria cinzenta estão imersos no seio dos hemisférios cerebrais e fazem a cone-
xão entre o córtex motor e outras regiões do córtex cerebral. Corno o núcleo caudado
e o putâmen desenvolveram-se a partir de uma mesma estrutural telencefálica, eles
apresentam tipos celulares muito parecidos e são fundidos anteriormente. Por isso,
são comumente referidos como estriado. Além disso, por serem filogeneticamente as
estruturas mais recentes dos núcleos da base, têm sido também! denominados, em
conjunto, neo-estriado. I
SISTEMA VENTRICULAR
CAPíTULO 1 19
com o terceiro ventrículo no diencéfalo através do forame interventricular ou de Monro.
O terceiro ventrículo comunica-se com o quarto ventrículo no bulbo através de um
estreito aqueduto (o aqueduto cerebral ou de Sylvius). Circula neste sistema ventricu-
lar o fluido encéfalo-espinhal (líquor), cuja composição química é a mesma do fluido
que banha as células do encéfalo.
O fluido encefaloespinhal é produzido pelo plexo coróide presente em cada ven-
trículo. Dado que o SNC é todo banhado pelo líquor, os ventrículos constituem-se numa
importante via de comunicação química entre as diferentes regiões encefálicas. Du-
rante o desenvolvimento embrionário, uma pequena quantidade de fluido ence-
faloespinhal produzido pelos ventrículos flui pela medula espinhal através do canal
central ou canal do epêndima (um epitélio cúbico simples que forra toda as cavida-
des citadas). Mais tarde, durante a vida fetal, o canal central estreita-se, e para que o
líquor alcance o espaço subaracnóide (abaixo das meninges) - e, por conseguinte, atinja
todas as partes do SNC -, atravessa dois orifícios localizados no teto do quarto
ventrículo, chamados forames de Luschka e Magendie. A pressão hidrostática dentro
do espaço subaracnóide é mantida baixa através da reabsorção passiva do líquor pe-
las vilosidades aracnóides localizadas no espaço ventricular, ao l~ngo dos seios ve-
nosos. Ocorre uma obstrução do aqueduto cerebral, o líquor produzido pelos plexos
coróides nos ventrículos não atinge o espaço subaracnóideo nem: os seios venosos,
ocorrendo, como conseqüência disto, um aumento da pressão ventricular e compres-
são dos hemisférios cerebrais. Este distúrbio é conhecido como lüdrocefclia.
Embora os hemisférios cerebrais pareçam similares do ponto de vista anatômico,
e ocorra uma integração das diversas funções neurais entre os hemisférios através do
corpo caloso, existe uma as simetria funcional- também conhecida Jcomo lateralização
de funções - em que uma determinada função de um hemisfério ~ão é compartilha-
da pelo outro. O hemisfério esquerdo está relacionado à análise li*ear do pensamen-
to lógico e matemático, e envolvido na realização de tarefas que envolvam símbolos
abstratos, como o pensamento verbal. O hemisfério direito está relacíonado à analise
holística (percepção de configurações e estruturas globais), com o Jpensamento intui-
tivo, a orientação espacial, e está envolvido com a expressão não-verbal, integrando
apenas a percepção de palavras isoladas, mas não sentenças semânticas.
20 CAPiTULO 1
logicamente. o sistema simpático medeia as respostas do organismo ao estresse, mobili-
zando os estoques de energia para as emergências, ao mesmo tempo em que prepara o
organismo para a ação, promove aumento da pressão arterial, freqüência cardíaca e respi-
·l ração. Por outro lado, o parassimpático atua no sentido da conservação da energia do
organismo e da restauração da homeostase, e prepara o organismo para o repouso.
O simpático (toracolombar) e o parassimpático (craniossacral) estão anatorníca-
_ .. mente dissociados.O primeiro origina-se de neurônios localizados na coluna
intermédio-lateral da medula toracolombar (entre T 1 e L2). Axônios destas células
•1····.-··.·
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emergem da medula espinhal pelas raízes ventrais e dírígem-se para os gânglios sim-
páticos paravertebrais e pré-vertebrais e para a medula adrenal, a qual é anatômica e
embriologicamente homóloga aos gânglios simpáticos. Os nervos cranianos do paras-
simpático são compreendidos pelos III, VII, IX e X pares de nervos cranianos que,
corno vimos, têm seus núcleos p.o tronco encefálico. O plexo parassimpático sacral e
pélvico tem sua origem na coluna Intermédio-lateral da medula espinhal, nos segmentos
sacrais de S2 a S4' O mais importante nervo parassimpático é o nervo vago, o X nervo
craniano. O vago origina-se no bulbo e distribui-se amplamente, levando fibras
parassimpáticas para as regiões do corpo, à exceção dos membros. I
O principal centro de controle do sistema nervoso autônomoéi o hipotálamo. Os
núcleos hipotalâmicos posteriores e laterais são simpáticos, e a s1a estimulação re-
sulta em uma descarga maciça do sistema simpático-adrenal. Os núcleos anteriores e
mediais são parassimpáticos. O córtex constitui-se em outro nível supra-segmentar
de integração das funções simpática e paras simpática, bem corno também é um local de
integração entre funções somáticas e vegetativas. I
IRRIGAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL I
1
I
CAPíTULO 1 21
Flg. 1.11 - Fotogratia da face interior do encétalo humano, mostrando os dois grandes sistemas de irrigação ence-
tálica, o vertebrobasilar e o carotídeo. CA = artéria cerebral anterior, CoA = artéria comunicante anterior, C =
artérias carótidas internas, CM = artéria cerebral média, CoP == artéria comunicante posterior, CP = artéria cere-
bral posterior, CrS = artéria cerebeter superior, AB = artéria basilar, P = artérias pontinas, L = artéria labiríntica, V
=
= artéria vertebral, CriA = artéria cerebalar inferior anterior, CrlP artéria cerebelar inferior posterior, EA = arté-
ria espinhal anterior. Estão também indicados os nervos cranianos, em algarismos romanos, e o trato olfatório (TO).
22 CAPiTULO 1
pinhal anterior e posterior, que se anastomosam entre si e com as veias radiculares, .
as quais confluem para as veias intervertebrais, para ande também drenam as plexos
venosos internas anterior e posterior.
IMAGEM CEREBRAL
TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA
00 CAPíTULO 1 23
atrofia cerebelar, reversão de assimetrias cerebrais normais e medidas da densidade
cerebral. Embora a TC esteja voltada primordialmente para a detecção de anormalida-
des cerebrais que ocorrem na esquizofrenia, alterações estruturais do cérebro têm também
sido observadas com relação a outros distúrbios psiquiátricos, incluindo alguns ca-
sos de distúrbios do humor e anorexia nervosa. .
A quantidade de sangue que flui para uma região do córtex está positivamente
correlacionada com a atividade metabólica daquela região. O xenônío 133 é um gás
inerte, emissor gama, que ao ser inalado por um indivíduo distribui-se para o sangue.
Os detectores de raios gama medem a eliminação da radiação de áreas cerebrais espe-
cíficas (a substância cinzenta a elimina lentamente, e a substância branca a elimina
de maneira mais rápida). O FSC possui a vantagem de expor o pacienlte a menos radi-
ação do que a TEP, além de ter um custo mais baixo. Em um indivíduo normal, o es-
tado de vigília se caracteriza por um débito sangüíneo maior no nível do córtex fron-
tal em relação ao restante do cérebro. Da mesma forma que na tomografía por emissão
positrônica, a estimulação de um· órgão sensorial particular promovelum aumento da
radioatividade ou do fluxo sangüíneo na região do cérebro que o representa, Por exemplo,
após apresentação de estímulos luminosos a um indivíduo, a área 17 d~ córtex occipital
torna-se mais visível com o uso destas técnicas. li
24 CAP[TULO 1
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melhor e maior aplicação potencial do que a Te e a TEP, sendo rm método excelente
para diferenciação entre substância ,branca e cinzenta, estudo d fluxo sangüíneo ce-
rebral e estimativa do tamanho dos 'ventrículos, O princípio bás co da IRNM está em
que certos núcleos atômicos apresentam ressonância e emitem sin is de radiofreqüência
quando situados em campos magnéticos. O hidrogênio da água está entre os princi-
pais átomos detectados pela IRNM, de forma que quanto maior o conteúdo em água
de um dado tecido cerebral melhor a sua imagem será configurada ela técnica de IRNM.
Ossos densos que não contêm água livre não produzem qualqu r imagem. Por outro
lado, edemas ou morte celular alteram a distribuição de. água m urna determinada
região do cérebro, e conseqüentemente a sua imagem.
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