You are on page 1of 6

DECISÃO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM


AGRAVO. PREVIDENCIÁRIO. EFICÁCIA
DE EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO
INDIVIDUAL – EPI: SÚMULA N. 279 DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
CÔMPUTO DO TEMPO DE SERVIÇO
EXERCIDO EM CONDIÇÕES ESPECIAIS:
AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
AGRAVO AO QUAL SE NEGA
SEGUIMENTO.

Relatório

1. Agravo nos autos principais contra inadmissão de recurso


extraordinário interposto com base no art. 102, inc. III, al. a, da
Constituição da República contra o seguinte julgado da Turma Recursal
dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Rio Grande do Sul:

“Trata-se de recurso inominado interposto pelo INSS contra


sentença que julgou procedente pedido de reconhecimento de tempo de
serviço especial, rural e a concessão de benefício de aposentadoria por
tempo de contribuição.
Quanto ao tempo rural de 12/01/1975 a 31/10/1984, tenho que a
documentação juntada aos autos, conjugada à prova testemunhal,
autorizam o reconhecimento do labor rural em regime de economia
familiar.
Com efeito, certidões de casamento, nascimento e óbito, quando
acompanhadas de outros documentos relacionados ao exercício de
atividades rurais, prestam-se a fazer prova da condição de produtor
rural como segurado especial, especialmente quando corroborados por
depoimentos testemunhais. E, no caso, além do documento da terra, a
parte autora também juntou aos autos prova de que estudou em escola
rural, o que, tratando-se de período remoto e supostamente laborado a
partir dos 12 anos, em regime de economia familiar, atende à exigência
de início razoável de prova material consubstanciada no artigo 55, §
3º, da Lei nº 8.213/91.
Quanto ao tempo especial de 06/03/1997 a 30/08/2000, verifico
a exposição aos agentes ruído de 85 a 86,9dB(A), frio (10Cº a -10Cº) e
umidade. Suas atividades consistiam em colocar produtos em
estaleiros e levar para os fumeiros, salgar peças de toucinho e
transportar produtos até a câmara fria.
Quanto à exposição ao agente nocivo ruído, esta Turma
Recursal adota o entendimento esposado em recente julgado do STJ,
no qual se passou a considerar, na vigência do Decreto nº 2.172/97, o
limite de 90 decibéis para que a atividade seja enquadrada como
especial. Leia-se:
(...)
Em razão da decisão acima, a TNU cancelou a Súmula n. 32 em
09/10/13.
Assim, com o cancelamento da Súmula 32 da TNU e segundo
entendimento do STJ, os níveis de ruído ficaram assim estabelecidos:
- superior a 80 decibéis na vigência do Decreto n. 53.831/64
- superior a 90 decibéis na vigência do Decreto n. 2.172/97
- superior a 85 decibéis na vigência do Decreto n. 4.882/03
Nesse caso, portanto, inviável o reconhecimento de tempo
especial, posto que os níveis de ruído eram inferiores a 90dB(A).
Quanto à umidade, deixou de ser considerada agente nocivo
para fins previdenciários a partir de 05/03/97.
Por fim, quanto ao frio, o laudo pericial informa sujeição a
temperaturas entre 10Cº e -10Cº, de modo intermitente.
E, nesse caso, está presente a sujeição a agentes nocivos, pois o
Quadro Anexo do Decreto nº 53.831/64, Código 1.1.2, e o Anexo I do
Decreto nº 83.080/79, Código 1.1.2, definem como especiais as
atividades desenvolvidas em câmaras frigoríficas com temperaturas
inferiores a 12º centígrados, provenientes de fontes artificiais.
Ademais, no tocante à exposição ao agente nocivo físico frio,
neste sentido é a orientação da jurisprudência:
(...)
Na hipótese, a decisão atacada está amparada em prova técnica,
corroborada por prova testemunhal, as quais dão conta que o
demandante, em razão do labor desempenhado junto à câmara fria,
esteve exposto a temperaturas que oscilavam entre 10º e - 10º,
advindas de fonte artificial.
Ainda que o autor também desempenhasse outras atividades
como a salga do toucinho, noticiada no formulário descritivo emitido
pela empregadora, tenho que a intermitência da exposição não tem o
condão de afastar a especialidade do labor. Nesse sentido:
(...)
Quanto ao período de 25/09/2006 a 01/08/2009, o PPP (Evento
15, PROCADM5. fl. 15) informa o cargo de auxiliar de granja no
setor de Matrizeiros. Suas atividades consistiam em atender o parto,
limpeza geral do setor, tratar animais, inclusive aplicando vacinas e
medicações, castrar leitões, descarregar ração e carregar leitões, sujeito
a ruído, umidade e risco biológico, de forma intermitente.
Em relação a atividades expostas a agentes biológicos, mesmo na
vigência da Lei nº 9.032/95, não se exige exposição durante a
integralidade da jornada de trabalho, bastando, à satisfação dos
conceitos de habitualidade e permanência, que o risco de contaminação
seja permanente, consideradas as particularidades do labor
desempenhado (IUJEF nº 5000394-45.2012.404.7115, Relator
p/Acórdão Ana Cristina Monteiro de Andrade Silva, D.E.
26/04/2012).
Por fim, quanto ao uso de EPI: a) em relação ao ruído: 'O uso de
Equipamento de Proteção Individual (EPI), ainda que elimine a
insalubridade, no caso de exposição a ruído, não descaracteriza o
tempo de serviço especial prestado.' (Súmula nº 09 da TNU, D.E. de
05/11/2003); b) em relação aos demais agentes nocivos: 'A utilização
de equipamento de proteção individual - EPI ou de proteção coletiva -
EPC somente descaracteriza a especialidade do tempo de serviço se
comprovado, por laudo técnico, a sua real efetividade, bem como a
intensidade da proteção propiciada ao trabalhador.' (IUJEF nº
2007.72.95.001463-2/SC, D.E. De 17/09/2008).
Diante desses conceitos, a sentença não merece reparos” (doc.
56).
Os embargos de declaração opostos foram rejeitados (doc. 70).

2. No recurso extraordinário, o Agravante afirma ter a Turma


Recursal contrariado os arts. 1º, inc. IV, 2º, 5º, caput e incs. LIV e LV, 37,
caput, 93, inc. IX, 195, § 5º, e 201, caput e § 1º, da Constituição da
República.

Sustenta
“não se questiona[r] o fato de a parte autora estar submetida a
trabalho em condições especiais. Contudo, também não questiona
nenhuma das partes, nem mesmo o acórdão recorrido, que havia o
fornecimento de equipamento de proteção individual eficaz em face do
agente nocivo ruído, não havendo que se falar em reexame de prova,
eis que esse é um fato incontroverso. Ocorre que a decisão recorrida
considerou que o uso de EPI eficaz não afasta a especialidade do labor
para fins previdenciários” (fl. 16, doc. 63).
3. O recurso extraordinário foi inadmitido ao fundamento de que
“não há indicação no formulário (PPP) de fornecimento de EPI eficaz ou há
apenas a recomendação de uso do EPI” (doc. 87).

No agravo, salienta-se que, “diferentemente do afirmado pelo órgão


prolator da decisão recorrida, existe sim o registro de fornecimento de EPI eficaz
no formulário PPP que foi juntado aos autos no Evento 15, documento
PROCADM5, fl. 15” (fl. 3, doc. 94).

Examinados os elementos havidos no processo, DECIDO.

4. No art. 544 do Código de Processo Civil, com as alterações da Lei


n. 12.322/2010, estabeleceu-se que o agravo contra inadmissão de recurso
extraordinário processa-se nos autos do recurso, ou seja, sem a
necessidade de formação de instrumento, sendo este o caso.

Analisam-se, portanto, os argumentos postos no agravo, de cuja


decisão se terá, na sequência, se for o caso, exame do recurso
extraordinário.

5. Razão jurídica não assiste ao Agravante.

6. A alegação de nulidade do acórdão por contrariedade ao art. 93,


inc. IX, da Constituição da República não pode prosperar. Embora em
sentido contrário à pretensão do Agravante, o acórdão recorrido
apresentou suficiente fundamentação. Firmou-se na jurisprudência deste
Supremo Tribunal:
“O que a Constituição exige, no art. 93, IX, é que a decisão
judicial seja fundamentada; não, que a fundamentação seja correta, na
solução das questões de fato ou de direito da lide: declinadas no
julgado as premissas, corretamente assentadas ou não, mas coerentes
com o dispositivo do acórdão, está satisfeita a exigência
constitucional” (RE 140.370, Relator o Ministro Sepúlveda
Pertence, Primeira Turma, DJ 21.5.1993).

7. No julgamento do Recurso Extraordinário com Agravo n. 664.335,


com repercussão geral reconhecida (Tema n. 555), este Supremo Tribunal
fixou as seguintes teses:
‘a) ‘o direito à aposentadoria especial pressupõe a efetiva
exposição do trabalhador a agente nocivo a sua saúde, de modo que se
o Equipamento de Proteção Individual (EPI) for realmente capaz de
neutralizar a nocividade, não haverá respaldo à concessão
constitucional de aposentadoria especial’; b) ‘na hipótese de exposição
do trabalhador a ruído acima dos limites legais de tolerância, a
declaração do empregador no âmbito do Perfil Profissiográfico
Previdenciário (PPP), no sentido da eficácia do Equipamento de
Proteção Individual (EPI), não descaracteriza o tempo de serviço
especial para a aposentadoria’.

8. Na espécie, a Turma Recursal não reconheceu a eficácia do


Equipamento de Proteção Individual – EPI fornecido ao Agravado
durante os períodos pleiteados de atividade especial.

A apreciação do pleito recursal sobre a eficácia do Equipamento de


Proteção Individual – EPI posto à disposição do Agravado exigiria análise
do conjunto probatório constante dos autos, procedimento incabível em
recurso extraordinário, conforme disposto na Súmula n. 279 do Supremo
Tribunal Federal:
“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PREVIDENCIÁRIO.
APOSENTADORIA ESPECIAL. USO DE EQUIPAMENTO DE
PROTEÇÃO INDIVIDUAL – EPI. SÚMULA N. 279 DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. EXPOSIÇÃO A RUÍDO
ACIMA DOS LIMITES LEGAIS. PRECEDENTES. AGRAVO
REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO” (ARE
843.328-AgR, de minha relatoria, Segunda Turma, DJe
18.12.2014).

“CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO.
APOSENTADORIA ESPECIAL. USO DE EQUIPAMENTO DE
PROTEÇÃO INDIVIDUAL E AUSÊNCIA DE
DEMONSTRAÇÃO DA EFICÁCIA. ÔNUS DA PROVA.
MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. REEXAME DE FATOS E
DE PROVAS. SÚMULA 279/STF. AGRAVO DESPROVIDO. 1.
Segundo a jurisprudência do STF, o reexame da distribuição do ônus
da prova é matéria infraconstitucional. Sendo assim, o recurso
extraordinário não é o meio processual adequado para o exame dos
pressupostos fáticos para a definição do ônus da prova da eficácia do
equipamento de proteção individual, a teor do óbice da Súmula
279/STF (‘Para simples reexame de prova não cabe recurso
extraordinário’). 2. Agravo regimental a que se nega provimento” (RE
783.235-AgR, Relator o Ministro Teori Zavascki, Segunda
Turma, DJe 19.8.2014).

9. No Agravo de Instrumento n. 841.047, este Supremo Tribunal


assentou inexistir repercussão geral na controvérsia sobre a conversão de
tempo de serviço especial em comum para aposentadoria:

“Agravo de instrumento convertido em Extraordinário.


Inadmissibilidade deste. Aposentadoria. Tempo de serviço. Condições
especiais. Cômputo. Tema infraconstitucional. Precedentes. Ausência
de repercussão geral. Recurso extraordinário não conhecido. Não
apresenta repercussão geral recurso extraordinário que, tendo por
objeto o cômputo, para efeito de aposentadoria, do tempo de serviço
exercido em condições especiais, versa sobre tema infraconstitucional”
(DJe 1.9.2011).

Declarada a ausência de repercussão geral, os recursos


extraordinários e agravos nos quais suscitada a mesma questão
constitucional devem ter o seguimento negado pelos respectivos
relatores, conforme o art. 327, § 1º, do Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal.

Nada há a prover quanto às alegações do Agravante.

10. Pelo exposto, nego seguimento ao agravo (art. 544, § 4º, inc. II, al.
a, do Código de Processo Civil e art. 21, § 1º, do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal).

Publique-se.

Brasília, 29 de setembro de 2015.

Ministra CÁRMEN LÚCIA


Relatora

You might also like