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ÊXODO

A Aliança e o Povo de Deus


3. MOISÉS E A LIBERTAÇÃO DO POVO DE ISRAEL

O marco inicial do cumprimento da missão libertadora de Moisés é o seu


encontro com Aarão, que o procurava também a mando de Deus, a quem
tudo esclarece para juntos procurarem os anciãos e o povo, que só se
convenceram a vista dos sinais:

"Disse o Senhor a Aarão: Vai ao deserto, ao encontro de Moisés. E


ele foi e, encontrando-o no monte de Deus, o beijou. E relatou
Moisés a Arão todas as palavras com que o Senhor o enviara e
todos os sinais que lhe mandara. Então foram Moisés e Aarão e
ajuntaram todos os anciãos dos filhos de Israel; e Aarão falou
todas as palavras que o Senhor havia dito a Moisés e fez os sinais
perante os olhos do povo. E o povo creu; e quando ouviram que
o Senhor havia visitado os filhos de Israel e que tinha visto a sua
aflição, inclinaram-se, e adoraram" (Ex 4,27-31).

Em seguida deveriam ir ao Faraó, em nome de Deus, não reconhecido por


ele, que recusou-se a deixar sair o Povo para "oferecer-Lhe sacrifícios" ou
"celebrar-Lhe uma festa no deserto" (Ex 5,1.3):

"Depois foram Moisés e Aarão e disseram a Faraó: Assim diz o


Senhor, o Deus de Israel: Deixa ir o meu povo, para que me
celebre uma festa no deserto. Mas Faraó respondeu: Quem é o
Senhor, para que eu ouça a sua voz para deixar ir Israel?
Não conheço o Senhor, nem tampouco deixarei ir Israel" (Ex
5,1-2).

"Não conheço o Senhor, nem tampouco deixarei ir Israel" (Ex 5,2). O Faraó,
desconhecendo Deus, não se curvou, pelo contrário, vendo Sua presença
arraigada no coração daquele povo, e vendo também a predileção
generalizada por Ele, enciumado "endureceu-se-lhe" orgulhosamente o seu
"coração" (Ex 3,19; 4,21; 7,3.13.22; 8,11.15; 9,7.12.34s; 10,1.20.27; 11,10;
14,4.8.17). Deus não "endurece o coração" de ninguém a não ser como
efeito do próprio orgulho, opondo-se ou virando-se contra Ele (Ex 3,19), não
O aceitando nos sinais de Sua manifestação. Por isso a multiforme
expressão usada de "endurecer o coração", tendo por autor ora o próprio
Deus (Ex 4,21; 7,3; 9,12; 10,1.20.27; 11,10; 14,4.8.17), ora o próprio
coração (Ex 7,13.22; 8,15; 9,7.35), ora o Faraó (Ex 8,11.28; 9,34), tal como
Moisés fora alertado pelo próprio Iahweh (Ex 3,19). Além disso, para
combater e sabotar o pedido, o Faraó dá ordens para seus capatazes mais
ainda oprimirem os israelitas (Ex 5,6-19), o que causou revolta contra
Moisés e Aarão, fazendo com que Deus fosse invocado (Ex 5,20-23) e
novamente se referisse ao modo como seria vencida aquela obstinação:

"Então disse o Senhor a Moisés: Agora verás o que hei de fazer a


Faraó; pois por uma poderosa mão os deixará ir, sim, por uma
poderosa mão os expulsará de sua terra" (Ex 6,1).

Neste ponto há uma segunda narrativa da vocação de Moisés e da sua


genealogia, bem como uma explicação do nome de Deus, que será objeto
de análise posterior, anteriormente conhecido pelos Patriarcas como El-
Shaddai, agora recebendo por intermédio de Moisés o nome de Iahweh (Ex
6,2-3), que com esse nome ratifica a Aliança, toda a obra decorrente e a
confirma:

"Ademais, tenho ouvido o gemer dos filhos de Israel, que os


egípcios escravizam; e lembrei-me da minha Aliança. Portanto dize
aos filhos de Israel: Eu sou Iahweh; eu vos tirarei de debaixo das
cargas dos egípcios, livrar-vos-ei da sua servidão, e vos resgatarei
com braço estendido e com grandes juízos. Tomar-vos-ei por meu
povo e serei vosso Deus; e vós sabereis que eu sou Iahweh vosso
Deus, que vos tiro de debaixo das cargas dos egípcios. Introduzir-
vos-ei na terra que jurei dar a Abraão, a Isaac e a Jacó; e vo-la
darei por herança. Eu sou Iahweh" (Ex 6,5-8).

"Tomar-vos-ei por meu povo e serei vosso Deus; e vós sabereis que eu sou
Iahweh vosso Deus" - Deus ratifica a formação de Seu Povo e confirma
toda a esperança que alimentaram de serem "introduzidos na terra que jurei
dar a Abraão, a Isaac e a Jacó; e vo-la darei por herança. Eu sou Iahweh",
condição que irá impregnar a Obra da Redenção:

"Mas Faraó não vos ouvirá; e eu porei minha mão sobre o Egito, e
tirarei os meus exércitos, o meu povo, os filhos de Israel, da terra
do Egito, com grandes juízos. E os egípcios saberão que eu sou o
Senhor, quando estender a minha mão sobre o Egito, e tirar os
filhos de Israel do meio deles" (Ex 7,4-5).

"E os egípcios saberão que eu sou o Senhor", essa a finalidade de todos os


"grandes juízos" ou prodígios que faria: - convencê-los de que Iahweh é o
verdadeiro Deus. Deus quer não só libertar e convencer os israelitas (Ex
4,30-31 / Ex 10,2), mas também levar os egípcios a se converterem (Sb
11,15s.23), em virtude do poder que demonstrava com os seus prodígios
"para que saibais que não há ninguém como Iahweh" (Ex 8,6; 9,14). Assim,
os israelitas (Ex 10,2) e os egípcios foram alvos da mesma demonstração,
uma vez que "Deus não faz acepção de pessoas" (Dt 10,17; At. 10,34; Rm
2,11). Assim como adoravam vários répteis, crocodilos, serpentes, lagartos,
rãs, até o escaravelho, Deus lhes demonstra o seu grande poder capaz de
superar e até mesmo destruir os deuses deles, "para levá-los ao
arrependimento" (Sb 11,15; 12,23-24). Os primeiros prodígios foram
repetidos pelos magos do Egito (Ex 7,11.22; 8,3), mas de certo ponto em
diante não mais o conseguem (Ex 8,14; 10,11) e até mesmo admitem:

"... Então disseram os magos a Faraó: Isto é o dedo de (um)


Deus... " (Ex 8,15).

Reconheceram assim, os magos, a presença de Iahweh, enquanto o Faraó


mais se obstinava. Porém, a partir desse reconhecimento vai se
enfraquecendo, principalmente quando Iahweh lhe mostra "que distingue
entre o meu povo e o teu povo" (Ex 8,19), excluindo dos efeitos dos
prodígios o Povo de Israel (Ex 8,18-20). Se antes até mais oprimia os
israelitas agora muda de atitude e passa a querer permitir os sacrifícios,
porém mantendo-os sob pleno controle e observação, eis que temia que
fugissem, "deixassem de os servir" (Ex 14,5) e, logicamente, não lhe
agradava ver animais que adorava se tornarem vítimas em oferenda a
Iahweh. Mas, Moisés quer afastar por um espaço de três dias, lembrando-
lhe do antagonismo entre as duas formas de culto sacrificial, pelo que
corriam o risco de serem lapidados pelos egípcios:

"Então chamou Faraó a Moisés e a Aarão, e disse: Ide, e oferecei


sacrifícios ao vosso Deus nesta terra. Respondeu Moisés: Não
convém que assim se faça, porque é abominação aos egípcios o
que havemos de oferecer ao Senhor nosso Deus. Sacrificando nós
a abominação dos egípcios perante os seus olhos, não nos
apedrejarão eles? Havemos de ir caminho de três dias ao
deserto, para que ofereçamos sacrifícios ao Senhor nosso Deus,
como ele nos ordenar" (Ex 8,21-23).

Prosseguem os prodígios cada vez mais sérios e graves, fazendo com que
o Faraó fosse se enfraquecendo, mas ao sinal de que os israelitas
deixariam o país, novamente endurecia o coração e voltava atrás, até que
os seus próprios servos o advertiram, levando-o a tentar outra alternativa,
sem nada conseguir:

"Então disse Faraó: Eu vos deixarei ir, para que ofereçais


sacrifícios ao Senhor vosso Deus no deserto; somente não ireis
muito longe; e orai por mim" (Ex 8,24).

"...e orai por mim" - esta frase do Faraó, em conjunto com as várias
maneiras de se referir ao "endurecimento de seu coração", chama a
atenção e requer uma explicação para uma incoerência assim tão clara.
Ainda mais quando se percebe que não existe uma só referência a um dos
deuses do Egito, tão combatidos, mesmo quando da praga das rãs, tendo
no seu panteão uma "deusa - rã". Nesta luta de Iahweh contra os deuses, o
nome deles não é mencionado, sabendo-se do escrúpulo israelita a esse
respeito, não os mencionando nem mesmo pronunciando o nome deles.
Mas a presença dos magos leva a concluir que estavam sempre
influenciando o Faraó, mesmo quando ele começava a ceder aos hebreus.
Mais se parece com séria dificuldade por que passavam ele, os magos e os
seus oficiais ou servos (Ex 8,4.14.15.24; 9,11.20.30; 10,7.11.16.20.24.27
etc.), debatendo-se entre a crença supersticiosa em seus deuses e no Deus
do Povo dos Filhos de Israel, comprovadamente mais poderoso pelas obras
que realizava. E as concessões que fizeram não passaram de tentativas
para impedir a saída do Egito, já convencidos da sua superioridade de fé.
Em uma das últimas oportunidades, após uma manifestação de medo e
desespero (Ex 10,7), buscaram até mesmo que oferecessem o sacrifício
sem a imolação de animais, alguns sagrados para eles, quando o Faraó
tenta ainda uma forma de conseguir que não saíssem do país, pretendendo
que somente os homens fossem ao sacrifício (Ex 10,7-11). Finalmente,
Iahweh vem, de uma vez por todas, por fim à luta:

"Disse o Senhor a Moisés: Ainda mais uma praga trarei sobre


Faraó, e sobre o Egito; depois ele vos deixará ir daqui; e, deixando
vos ir a todos, com efeito vos expulsará daqui. (...) À meia-noite
eu sairei pelo meio do Egito; e todos os primogênitos na terra do
Egito morrerão, desde o primogênito do Faraó, que se assenta
sobre o seu trono, até o primogênito da serva que está detrás da
mó, e todos os primogênitos dos animais. Pelo que haverá grande
clamor em toda a terra do Egito, como nunca houve nem haverá
jamais. Mas contra os filhos de Israel desde os homens até os
animais nem mesmo um cão ganirá, para que saibais que o
Senhor faz distinção entre os egípcios e os filhos de Israel" (Ex 11,1-
7).

"... todos os primogênitos na terra do Egito morrerão, desde o


primogênito de Faraó, que se assenta sobre o seu trono, até o
primogênito da serva que está detrás da mó, e todos os primogênitos
dos animais" - "todos os primogênitos dos egípcios morrerão" - Por quê os
primogênitos? O resultado seria menos assustador, ou menos devastador,
fossem mortos outros filhos que não os primogênitos? Se Deus houvera
anunciado a morte da totalidade de uma determinada criatura, de um tipo
só e em todo o Egito, seria também assustador o acontecimento. E o
resultado seria o mesmo tal como previsto, até mesmo com a mesma
obstinação seguida ao reconhecimento, condição já se tornando por demais
presente, mas agora com uma esperança de solução derradeira e definitiva:

"Disse o Senhor a Moisés: Ainda mais uma praga trarei sobre


Faraó, e sobre o Egito; depois ele vos deixará ir daqui; e,
deixando vos ir a todos, com efeito vos expulsará daqui (...)
Então todos estes teus servos descerão a mim, e se inclinarão
diante de mim, dizendo: Sai tu, e todo o povo que te segue as
pisadas. Depois disso eu sairei. E Moisés saiu da presença de Faraó
ardendo em ira. Pois o Senhor dissera a Moisés: Faraó não vos
ouvirá, para que as minhas maravilhas se multipliquem na terra do
Egito. E Moisés e Aarão fizeram todas estas maravilhas diante de
Faraó; mas o Senhor endureceu o coração de Faraó, que não
deixou ir da sua terra os filhos de Israel" (Ex 11,1.8-10).

Não se submeteu o Faraó, apesar da ameaça da eliminação dos


primogênitos, já anunciada e prevista por Deus, bem antes de iniciada a
missão de Moisés. As palavras seguintes teriam sido ditas por Deus no
início do ministério de Moisés, quando ainda estava no exílio em Madiã, e já
lhe resumira tudo o que aconteceria e até mesmo praticamente já lhe
anunciara a "última praga": a morte dos primogênitos:

"Disse ainda o Senhor a Moisés: Quando voltares ao Egito, vê que


faças diante de Faraó todas as maravilhas que tenho posto na tua
mão; mas eu endurecerei o seu coração, e ele não deixará ir o
povo. Então dirás a Faraó: Assim diz o Senhor: Israel é meu filho,
meu primogênito; e eu te tenho dito: Deixa partir meu filho para
que me sirva; mas tu recusaste deixá-lo ir; eis que eu matarei o
teu filho, o teu primogênito" (Ex 4,21-23).

Ora, Deus não comunica nada à toa nem sem sentido ou que não seja
compreendido pelo seu "eleito", que sempre pede esclarecimentos quando
não O entende. Então Moisés compreendeu o que Deus quisera dizer com
a eliminação dos primogênitos. O que já se viu a respeito dessa instituição
é que o primogênito se destinava à chefia da tribo ou clã, enquanto
nômades. Mesmo que entre os egípcios isso se aplicasse, já que não o
eram e lhes nutriam antipatia (Gn 46,34c), o único primogênito que a ela
destinar-se-ia seria filho do Faraó. Mas, foram incluídos "todos os
primogênitos na terra do Egito..., desde o primogênito de Faraó, que se
assenta sobre o seu trono, até o primogênito da serva que está detrás da
mó, e todos os primogênitos dos animais", numa ampla generalização.
Alguma outra qualidade existe que tanto valorizava essa instituição,
principalmente fazendo coincidir com a Instituição da Páscoa uma
eliminação em massa dos primogênitos de todo o Egito, tanto de homens
como de animais, e ainda com essa mesma denominação qualificar Israel:

"...Assim diz o Senhor: Israel é meu filho, meu primogênito..." (Ex


4,22)

Mesmo que alguns se insurjam contra as pragas do Egito, julgando-as mais


fruto da lenda popular ou do nacionalismo extremado israelita, bem como
de fatos naturais que ocorrem normalmente na região, muitos dados
existem que comprovam a ocorrência de algo extraordinário levando os
israelitas a conseguirem se libertar. De imediato se destacam dois fatos
sobremaneira estranhos: a aceitação do nome Iahweh como o nome de
Deus pelos Israelitas e a aceitação de Moisés como líder, apesar da tácita
recusa inicial de sua liderança pela exclusão da tribo de Levi da
Primogenitura:

"A este Moisés que eles haviam repelido, dizendo: Quem te


constituiu senhor e juiz? a este enviou Deus como senhor e
libertador, pela mão do anjo que lhe aparecera na sarça. Foi este
que os conduziu para fora, fazendo prodígios e sinais na terra do
Egito, e no Mar Vermelho, e no deserto por quarenta anos" (At 7,35-
36).

"Foi este que os conduziu para fora, fazendo prodígios e sinais na terra do Egito...",
mesmo que fossem fenômenos naturais como alguns querem, sua ocorrência súbita
e o seu término em momentos determinados por Moisés, mostraram uma origem
bem diferente da de um acontecimento da natureza. Era Iahweh que comandava os
fenômenos tornando-os seus instrumentos, pelo que se impôs como Deus ao Faraó,
que a pouco e pouco, não O reconhecendo de início (Ex 5,2) e respondendo com um
agravamento da opressão (Ex 5,6-19), vai reconhecê-lo ao final com um pedido de
bênção (Ex 12,32). Também aos próprios israelitas, que inicialmente não aceitaram
Moisés e terminaram por se lhe submeter aceitando todas as suas instruções e
liderança durante o cativeiro, para a partida e após a libertação. Por isso é
dispensável discutir quanto a ocorrência ou não dos fenômenos pois um só é o fato
histórico ocorrido "milagrosamente" - a Libertação INCONDICIONAL do Povo de
Deus.

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