Professional Documents
Culture Documents
"Não conheço o Senhor, nem tampouco deixarei ir Israel" (Ex 5,2). O Faraó,
desconhecendo Deus, não se curvou, pelo contrário, vendo Sua presença
arraigada no coração daquele povo, e vendo também a predileção
generalizada por Ele, enciumado "endureceu-se-lhe" orgulhosamente o seu
"coração" (Ex 3,19; 4,21; 7,3.13.22; 8,11.15; 9,7.12.34s; 10,1.20.27; 11,10;
14,4.8.17). Deus não "endurece o coração" de ninguém a não ser como
efeito do próprio orgulho, opondo-se ou virando-se contra Ele (Ex 3,19), não
O aceitando nos sinais de Sua manifestação. Por isso a multiforme
expressão usada de "endurecer o coração", tendo por autor ora o próprio
Deus (Ex 4,21; 7,3; 9,12; 10,1.20.27; 11,10; 14,4.8.17), ora o próprio
coração (Ex 7,13.22; 8,15; 9,7.35), ora o Faraó (Ex 8,11.28; 9,34), tal como
Moisés fora alertado pelo próprio Iahweh (Ex 3,19). Além disso, para
combater e sabotar o pedido, o Faraó dá ordens para seus capatazes mais
ainda oprimirem os israelitas (Ex 5,6-19), o que causou revolta contra
Moisés e Aarão, fazendo com que Deus fosse invocado (Ex 5,20-23) e
novamente se referisse ao modo como seria vencida aquela obstinação:
"Tomar-vos-ei por meu povo e serei vosso Deus; e vós sabereis que eu sou
Iahweh vosso Deus" - Deus ratifica a formação de Seu Povo e confirma
toda a esperança que alimentaram de serem "introduzidos na terra que jurei
dar a Abraão, a Isaac e a Jacó; e vo-la darei por herança. Eu sou Iahweh",
condição que irá impregnar a Obra da Redenção:
"Mas Faraó não vos ouvirá; e eu porei minha mão sobre o Egito, e
tirarei os meus exércitos, o meu povo, os filhos de Israel, da terra
do Egito, com grandes juízos. E os egípcios saberão que eu sou o
Senhor, quando estender a minha mão sobre o Egito, e tirar os
filhos de Israel do meio deles" (Ex 7,4-5).
Prosseguem os prodígios cada vez mais sérios e graves, fazendo com que
o Faraó fosse se enfraquecendo, mas ao sinal de que os israelitas
deixariam o país, novamente endurecia o coração e voltava atrás, até que
os seus próprios servos o advertiram, levando-o a tentar outra alternativa,
sem nada conseguir:
"...e orai por mim" - esta frase do Faraó, em conjunto com as várias
maneiras de se referir ao "endurecimento de seu coração", chama a
atenção e requer uma explicação para uma incoerência assim tão clara.
Ainda mais quando se percebe que não existe uma só referência a um dos
deuses do Egito, tão combatidos, mesmo quando da praga das rãs, tendo
no seu panteão uma "deusa - rã". Nesta luta de Iahweh contra os deuses, o
nome deles não é mencionado, sabendo-se do escrúpulo israelita a esse
respeito, não os mencionando nem mesmo pronunciando o nome deles.
Mas a presença dos magos leva a concluir que estavam sempre
influenciando o Faraó, mesmo quando ele começava a ceder aos hebreus.
Mais se parece com séria dificuldade por que passavam ele, os magos e os
seus oficiais ou servos (Ex 8,4.14.15.24; 9,11.20.30; 10,7.11.16.20.24.27
etc.), debatendo-se entre a crença supersticiosa em seus deuses e no Deus
do Povo dos Filhos de Israel, comprovadamente mais poderoso pelas obras
que realizava. E as concessões que fizeram não passaram de tentativas
para impedir a saída do Egito, já convencidos da sua superioridade de fé.
Em uma das últimas oportunidades, após uma manifestação de medo e
desespero (Ex 10,7), buscaram até mesmo que oferecessem o sacrifício
sem a imolação de animais, alguns sagrados para eles, quando o Faraó
tenta ainda uma forma de conseguir que não saíssem do país, pretendendo
que somente os homens fossem ao sacrifício (Ex 10,7-11). Finalmente,
Iahweh vem, de uma vez por todas, por fim à luta:
Ora, Deus não comunica nada à toa nem sem sentido ou que não seja
compreendido pelo seu "eleito", que sempre pede esclarecimentos quando
não O entende. Então Moisés compreendeu o que Deus quisera dizer com
a eliminação dos primogênitos. O que já se viu a respeito dessa instituição
é que o primogênito se destinava à chefia da tribo ou clã, enquanto
nômades. Mesmo que entre os egípcios isso se aplicasse, já que não o
eram e lhes nutriam antipatia (Gn 46,34c), o único primogênito que a ela
destinar-se-ia seria filho do Faraó. Mas, foram incluídos "todos os
primogênitos na terra do Egito..., desde o primogênito de Faraó, que se
assenta sobre o seu trono, até o primogênito da serva que está detrás da
mó, e todos os primogênitos dos animais", numa ampla generalização.
Alguma outra qualidade existe que tanto valorizava essa instituição,
principalmente fazendo coincidir com a Instituição da Páscoa uma
eliminação em massa dos primogênitos de todo o Egito, tanto de homens
como de animais, e ainda com essa mesma denominação qualificar Israel:
"Foi este que os conduziu para fora, fazendo prodígios e sinais na terra do Egito...",
mesmo que fossem fenômenos naturais como alguns querem, sua ocorrência súbita
e o seu término em momentos determinados por Moisés, mostraram uma origem
bem diferente da de um acontecimento da natureza. Era Iahweh que comandava os
fenômenos tornando-os seus instrumentos, pelo que se impôs como Deus ao Faraó,
que a pouco e pouco, não O reconhecendo de início (Ex 5,2) e respondendo com um
agravamento da opressão (Ex 5,6-19), vai reconhecê-lo ao final com um pedido de
bênção (Ex 12,32). Também aos próprios israelitas, que inicialmente não aceitaram
Moisés e terminaram por se lhe submeter aceitando todas as suas instruções e
liderança durante o cativeiro, para a partida e após a libertação. Por isso é
dispensável discutir quanto a ocorrência ou não dos fenômenos pois um só é o fato
histórico ocorrido "milagrosamente" - a Libertação INCONDICIONAL do Povo de
Deus.