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Resumo
Abstract
Since the middle of the last Century, the services sector has expanded
because several changes in the capitalism system. Among these servic-
es, there are the public services, which appear as an instrument of the
State to institute its authority on the public domain. They had its bigger
expansion in the developed countries, at same time it is experiencing
a privatization process, even in the developing countries. The change
of the State logic for the enterprise one, without the needed care, may
increase the risks of social exclusion.
1 Introdução
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Offe (1994), o trabalho no setor de serviços está localizado entre duas racio-
nalidades: “[...] a racionalidade da ‘economia industrial’ baseada no emprego
contratual, que impõe a especificação detalhada dos meios e fins, e o controle
vertical direto sobre a atividade laboral, o pequeno campo de manobra e os
altos níveis de estandartização” (OFFE, 1994, p. 138); e “[...] a racionalidade
da ‘mediação e conciliação’ típica das atividades de serviços, que requerem
espaço de manobra justamente com o objetivo de responder como
serviços a atividades específicas” (OFFE, 1994, p. 138). Esta característica
do setor seria parte de uma das explicações que o autor separa da seguinte
forma: (QUADRO 1).
QUADRO 1
Representação esquemática das principais explicações
do desenvolvimento do setor de serviços
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possíveis conflitos através do emprego:
[...] nas sociedades capitalistas industriais desenvolvidas existe um exce-
dente estrutural, embora latente, de mão-de-obra, porque o aumento da
produção apresenta-se defasado em relação ao aumento a produtividade.
Uma vez que os vendedores da força de trabalho, desprovidos de pro-
priedade, não podem voltar ao setor primário nem entrar no mundo dos
economicamente autônomos, essa força de trabalho é continuamente
transferida para o setor terciário. Dessa forma, o setor de serviços con-
tribui ao nível da integração do sistema, principalmente através de suas
funções latentes, e não manifestas. Essas funções latentes consistem na
distribuição de tarefas para a força de trabalho excedente sob o pretexto,
por assim dizer, de que existe uma necessidade à qual este trabalho re-
sponde. (OFFE, 1994, p. 147).
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A quarta e última explicação destacada por Offe (1994) refere-se à
pressão no lado da oferta, decorrente dos interesses dos trabalhadores. Estes
prefeririam trabalhar no setor de serviços, pois, nesta esfera, as condições
objetivas e subjetivas de trabalho [em tese, menos penoso e alienante, por
exemplo] seriam melhores que nos outros setores. Com isso, os trabalhadores
buscariam desenvolverem cada vez mais alternativas individuais e coletivas
para se inserir e tirar proveito neste setor. Contra esta explicação, haveria os
seguintes problemas: aumentos de produtividade nos serviços provocariam
uma redução na oferta de emprego, mesmo com uma maior demanda; ex-
istência de limites financeiros [principalmente no setor público] à absorção
da mão-de-obra, e possibilidade de saturação na demanda por serviços ou
aumento da satisfação através de outras formas de realização dos serviços,
como a ajuda mútua (OFFE, 1994, p. 164).
Essas argumentações, se analisadas de forma individual, não são sufici-
entes para explicar o crescimento dos serviços, mas destacam a importância
do setor na integração social e do sistema. Dentro desta lógica de integração,
os serviços públicos possuem papel relevante no apaziguamento de conflitos
sociais latentes, através do atendimento a certas necessidades básicas e utiliza-
ção como política pública estabilizadora do sistema. Isso só pode acontecer
se os serviços estiverem sendo fornecidos pelo Estado; caso contrário, serão
utilizadas políticas sociais e econômicas diversas para preencher o vazio insti-
tucional [ou desequilíbrio macroeconômico] provocado por possíveis prob-
lemas decorrentes da passagem dos serviços públicos do setor público para o
setor privado.
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economia. Nessas críticas incluem-se os serviços públicos fornecidos pelo
Estado.
As interpretações pró-intervenção e marxistas discordam de algumas (ou
todas) essas assertivas, deslocando o motivo da crise para outros aspectos não
destacados pelos liberais. A explicação marxista enfatiza a crise do sistema
capitalista como um todo devido as suas contradições internas que resultam
na baixa tendencial da taxa de lucro (CASTELLS, 1983). A crise do Welfare
é apenas parte desta crise maior, cuja solução apontada não passaria de uma
tentativa de deslocar o fornecimento dos serviços públicos com perspectivas
de lucro positivo para o setor privado. A produção de bens de consumo cuja
taxa de lucro fosse reduzida ou nula e seu fornecimento se apresentasse ne-
cessário à reprodução da força de trabalho continuaria sendo atribuição do
Estado (CASTELLS, 1983).
Independente das causas da crise que se abateu sob o Estado de Bem-
Estar (ou sob o capitalismo), o que se observou a partir dos anos 80 foi o au-
mento da participação da iniciativa privada nos serviços públicos. De acordo
com Fadul (1997), as causas para esta expansão foram as seguintes:
[...] - aumento das despesas públicas que passaram a ser contesta-
das pelos contribuintes;
- interferência de objetivos sociais com os objetivos econômicos, resul-
tando em baixa produtividade do setor público;
- pressão das empresas sobre os mercados públicos em decorrência
da suas estratégias de crescimento;
- novações tecnológicas favorecendo uma mudança de valores coletivos;
- surgimento de novas forma de gestão. (FADUL, 1997, p. 62).
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Apesar da onda de privatizações no Brasil, na década de 90, ainda há
várias grandes empresas prestadoras de serviços públicos sob a propriedade
estatal. No Quadro 2, está a lista das 20 maiores empresas de serviços públi-
cos por vendas no Brasil.
QUADRO 2
As 20 maiores empresas de serviços públicos por vendas no Brasil - 2003
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4 Da lógica empresarial ao risco de aumento da exclusão
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cobrar um preço mais alto pelo serviço oferecido, conquistar uma par-
ticipação de mercado acima do que seria considerado natural, e/ou obter
uma margem de lucro maior que a de seus concorrentes. (ALBRECHT
1992, p. 13).
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Contudo, com a crise dos Estados nacionais, as políticas sociais também
devem se adequar à dura realidade da falta de recursos ante o aumento das
demandas sociais. Assim, os programas sociais passam a ser planejados não
só para redistribuir os recursos, mas para redistribuí-los de forma eficiente
(LAVINAS, 2000):
[...] o debate acerca do melhor regime de transferências sociais, cujo
fundamento é o princípio da justiça, dá centralidade a outro princípio
balizador ou valor, desta vez ligado a lógica do mercado. Em lugar de
ater-se tão-somente a idéia de redistribuição, tentando minimizar seus
trade-offs com o bem-estar, torna-se imperioso repensar este enfoque
sob a ótica da eficiência – redistribuição eficiente – de modo a forjar um
novo paradigma capaz de enfrentar os desafios colocados pela raridade
de recursos em sociedades capitalistas. (LAVINAS, 2000, p. 527).
TABELA 1
Domicílios particulares permanentes urbanos com saneamento adequado, Taxa de mortalidade infantil,
Taxa de analfabetismo para pessoas com 15 anos ou mais de idade - 2002
País/Regiões Saneamento adequado Mortalidade infantil* Analfabetismo (%)
(%)
Brasil 63,5 27,8 11,8
Sudeste 85,4 20,2 7,2
São Paulo 91,0 17,4 5,9
Sul 59,6 17,9 6,7
Norte 11,0 27,7 9,8
Nordeste 38,7 41,4 23,4
Bahia 56,0 38,7 21,7
Centro-Oeste 39,3 20,4 9,6
Fonte: IBGE (2004)/PNAD 2002
Notas: * Óbitos de menores de 1 ano por 1000 nascidos vivos
A busca por uma maior eficiência nos gastos, segundo a perspectiva neo-
liberal, está ancorada em três “teses”: descentralização, focalização e privati-
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zação. A descentralização dos programas aproximaria os responsáveis pela
gestão dos problemas em questão; a focalização permitiria o direcionamento
dos gastos sociais apenas aos grupos mais necessitados; e a privatização deslo-
caria o fornecimento de bens e serviços do setor público para o setor privado,
melhorando a situação fiscal do Estado (DRAIBE, 1993, p. 16). Essas “teses”
não são exclusivas do pensamento neoliberal, como a descentralização e a
focalização (DRAIBE, 1993, p. 18), mas podem entrar em conflito com a
idéia de direitos sociais, como no caso da focalização.
Diante da advogada necessidade de privatização ou delegação dos ser-
viços à iniciativa privada, o debate em torno da regulação ganha força. Ini-
cialmente, necessária nas estruturas de mercado monopolistas, nos quais a
concorrência não é possível ou é limitada em decorrência da própria car-
acterística do mercado [como no saneamento básico e na distribuição de
energia], as agências passaram ser cada vez mais uma forma de o Estado
intervir indiretamente nos serviços públicos antes controlados totalmente ou
parcialmente por ele.
A regulação dos serviços públicos é feita mediante a existência de
três elementos principais (FADUL, 1997, p. 66): o regulador, que cabe
primeiramente ao Estado e estabelece o arcabouço de produção e seu lugar
neste sistema; os mecanismos de regulação, que são “[...] instrumentos ju-
rídicos capazes de controlar possíveis abusos das empresas privadas”; e a auto-
regulação, constituídos de “[...] princípios internos que auto-limitam a força
das empresas e do setor público na manutenção da estabilidade do mercado”
(FADUL, 1997, p. 66): No Brasil, a regulação não é realizada somente com
o objetivo de proporcionar a concorrência nos mercados onde isso é pos-
sível e regulamentar a ação das empresas atuantes em mercados monopolistas,
mas é feita, também, como uma forma de atender os princípios originários
do serviço público, ou seja, expandir o acesso aos serviços públicos para as
camadas de mais baixa renda.
O problema desta opção é tentar compatibilizar a lógica empresarial de
busca do lucro a maior demanda da população pelos serviços. De um lado
está a iniciativa privada que exige um retorno compatível ao investimento
feito e previsto para atender as exigências do governo, do outro, está parte
da população que não tem acesso aos serviços e demanda a expansão deste.
A alternativa utilizada pelo governo brasileiro foi à inclusão nos contratos de
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privatização e concessão de cláusulas que incluíam a ampliação dos serviços
públicos, com um certo nível de qualidade, e, em paralelo, cláusulas que
indexavam a correção das tarifas de forma a assegurar a rentabilidade dos
investimentos. Isso não evitou a exclusão dos consumidores ou a redução
do consumo aos serviços devido ao encarecimento das tarifas, e criou um
problema adicional na gestão macroeconômica, pois os reajustes das tarifas
passaram a ser responsáveis por uma parte significativa da inflação.
5 Considerações finais
Notas
Referências
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