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ARTIGO ARTICLE 131

Percepção de risco e excesso de velocidade

Risk perception and speeding

Iara Picchioni Thielen 1


Ricardo Carlos Hartmann 1
Diogo Picchioni Soares 1

Abstract Contextualização: ambiente urbano e


trânsito
1 Núcleo de Psicologia do
This paper discusses risk perception comparing
Trânsito, Universidade
Federal do Paraná, Curitiba, drivers with and without fines for speeding. The As estatísticas apresentadas pela Comissão Mun-
Brasil. research aimed to show the interaction between dial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
speeding laws and speeding behavior. Speeders’ em 1987 1, indicavam o crescimento acelerado
Correspondência
I. P. Thielen explanations for their behavior revealed impor- das cidades, que deveriam aumentar a capacida-
Núcleo de Psicologia do tant factors in the determination of risk percep- de de produção de infra-estrutura, serviços e ha-
Trânsito, Universidade
tion: control (driver-centered), risk minimiza- bitação, em torno de 65%, nos países em desen-
Federal do Paraná.
Av. Visconde de Guarapuava tion (drivers claimed there was no risk involved volvimento, num prazo de 15 anos. Atualmente, a
1535, apto. 43, Curitiba, PR in the way they speeded), self-confidence (they qualidade de vida oferecida por uma cidade pode
80060-060, Brasil.
considered themselves good drivers and believed ser avaliada através de um dos aspectos mais sig-
iara.thielen@gmail.com
thielen@ufpr.br they were able to define what constitutes speed- nificativos da vida urbana: o trânsito, que, com
ing), and lack of credibility in the institutions sua influência na vida e na morte do cidadão, re-
that manage traffic risks. Speeders display a laciona-se diretamente com a saúde e se expres-
cognitive construct of personal invulnerability sa por meio dos índices de morbi-mortalidade,
combined with unrealistic optimism and over- os quais indicam que dois terços dos acidentes
rated self-perception, along with an exagger- de trânsito acontecem em áreas urbanas 2.
ated perception of their control over the traffic O trânsito – definido como o conjunto dos
setting, centered on their self-purported driving deslocamentos realizados por pessoas e veículos
skills. No difference was found in risk perception nas vias públicas, segundo um sistema de nor-
between drivers in the two groups. There was no mas convencionadas, que tem como objetivo
relationship between objective and perceived assegurar a segurança dos usuários 3 – torna-se
risks, since drivers from the two groups showed uma forma de controle demográfico ardilosa,
a generic perception of objective risks, but out- constituindo-se na segunda maior causa de mor-
of-context in relation to the inherent potential talidade no país (grupo das causas externas). “No
for accidents at different speeds. Brasil o coeficiente de mortalidade por acidentes
de trânsito, em 1994, era de 18,9 (por cem mil ha-
Traffic Accidents; Risk-Taking; Motor Vehicles bitantes), sendo superior ao dos Estados Unidos
(18,4), da França (16,5), da Argentina (9,1), entre
outros” 2 (p. 9). Dados do Departamento Nacio-
nal de Trânsito, referentes a 2001, indicam um

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total de 9.704 mortes até junho, sendo que esses óricos permitindo construir um tipo de análise
dados não incluem registros completos de al- que incorpora os estudos sobre percepção de
guns estados. “No Brasil, cerca de dois terços dos riscos como um dos insumos que influenciam o
leitos hospitalares dos setores de ortopedia e trau- comportamento de dirigir.
matologia são ocupados por vítimas de aciden- Em relação aos riscos, duas vertentes de aná-
tes de trânsito” (Pires et al., 1997, apud Marín & lise podem ser identificadas: de um lado, a avalia-
Queiroz 2, p. 8), revelando uma escala gigantesca ção de risco, desenvolvida pelas ciências naturais
de mutilações evitáveis. com utilização de instrumentos e modelos de de-
Essas constatações transformam o trânsito terminação de riscos objetivos; de outro lado, a
em uma questão de Saúde Pública 2 e em um dos percepção de risco, estudada pelas ciências hu-
principais problemas dos ambientes urbanos. manas 5,15,16,17,18,19.
Estudos apontam para o excesso de velocidade A avaliação de riscos foi considerada uma
como uma das maiores causas dos acidentes de atividade objetiva com enfoque predominante-
trânsito e dos índices de morbi-mortalidade de mente quantitativo, focalizando as causas dos fe-
pedestres 4, ao lado da ingestão de álcool. nômenos 16. As análises técnicas e quantitativas
na temática dos riscos desconsideram que tanto
causas como conseqüências dos danos são me-
Perspectiva de análise diadas por experiências e interações sociais 20.
Nessa abordagem, o risco é definido: “como
Este estudo aborda o excesso de velocidade no evento adverso, uma atividade, um atributo fí-
trânsito a partir do referencial da percepção dos sico, com determinadas probabilidades objetivas
riscos estudada pela Psicologia, mas destacar de provocar danos, e pode ser estimado através de
alguns marcos da teoria social sobre riscos é im- cálculos de níveis de aceitabilidade que permitem
portante. Segundo Guivant 5, é com Giddens 6 e estabelecer standards, através de diversos méto-
Beck 7 que essa temática emerge no centro da dos (predições estatísticas, estimação probabilís-
teoria social. Para esses sociólogos, a sociedade tica do risco, comparações risco/benefício, análi-
industrializada enfrenta riscos ambientais e tec- ses psicométricas). O conceito de ‘risco aceitável’,
nológicos que são centrais e constitutivos des- decisivo nesta abordagem técnica, foi inicialmen-
sa sociedade, promovendo ameaça constante e te formulado em 1969 por Starr” 5 (p. 3).
sendo fonte potencial de autodestruição. Por- Uma outra vertente se contrapõe a essa su-
tanto, a confiança nos peritos, na tecnologia, no posta objetividade e compreende que a estima-
progresso, na racionalidade do homem moderno tiva de riscos se dá num contexto de incertezas
e em sua capacidade de gerenciar as ameaças foi e ambigüidades. Constata-se a própria subje-
abalada. O medo, a desconfiança e a incerteza fa- tividade dos peritos, já que diferentes sistemas
zem parte do cotidiano na contemporaneidade. e referenciais são utilizados para avaliar riscos
Os riscos são inerentes à modernidade. A análise e, portanto, há divergências no que se refere a
da trajetória das análises de risco abordada por métodos de estimativa de riscos, de determi-
Guivant 5 indica a extensão, a multiplicidade de nação de níveis de tolerância e aceitação de
enfoques e a complexidade do tema. Embora riscos, além da comunicação e administração
reconhecendo a importância dos estudos sobre de riscos. Isso corrói a idéia de objetividade, en-
riscos na vertente sociológica e as contribuições fatizando a necessidade de se incluir outros ní-
pioneiras de Douglas 8 e Wildavsky 9, não será veis de análise 15, já que a percepção dos leigos
esse o referencial privilegiado neste estudo para foi vista em oposição à avaliação de riscos feita
a análise do comportamento dos motoristas em pelos técnicos, e que ambas estão permeadas
relação ao excesso de velocidade. de pressupostos morais e sociais advindos das
Este estudo compartilha a idéia de que ou- experiências de cada um e que respondem a ra-
tras teorias podem ser úteis na compreensão do cionalidades diferentes 21.
comportamento humano no trânsito 10,11, co- Embora a perspectiva cognitiva (conheci-
mo é o caso da Teoria Geral dos de Sistemas 12, mento e controle) esteja presente no conceito de
cujo alcance, já há muito, extrapola a vertente risco percebido, Lima 16 (p. 16) destaca “os esfor-
biológica na qual foi concebida. O trânsito pode ços individuais de gestão da ameaça, que levam
ser analisado como um sistema composto por freqüentemente a estratégias de minimização do
três subsistemas: a via, o veículo e o homem. São risco” e afirma que “a percepção de riscos tem
identificados diferentes níveis de complexidade muito mais a ver com medo do que com uma es-
13, e alguns autores 12,14 salientam a existência de timativa correta de probabilidades”. A percepção
propriedades emergentes não acessíveis aos pro- dos leigos estudada pela Psicologia cognitiva teve
cessos analíticos. Dessa forma, a Psicologia pode grande influência a partir dos estudos conduzi-
apropriar-se desse conjunto de pressupostos te- dos por Fischhoff et al. 22.

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Teorias específicas da Psicologia enfatizam jogo de interações a partir de variáveis cogniti-


o comportamento humano no trânsito conside- vas, afetivas e dos possíveis resultados das ações
rando a motivação como elemento chave, como que podem ser empreendidas, o indivíduo opta
a Teoria do Risco Zero 23 e a Teoria da Homeos- por tomar a decisão que resulta em determinado
tase do Risco 24. A Teoria do Risco Zero postu- curso de ação. No caso em estudo, sintetiza-se o
la que a percepção do risco (de acidente ou de produto do comportamento em exceder ou não
sanção) é igual a zero na maior parte do tempo a velocidade.
(risco subjetivo nulo), e que os acidentes seriam A percepção de riscos envolvidos no trânsito
motivados pela diferença entre o risco objeti- é um fator importante que é mediado pelo con-
vo (real) e o subjetivo. O modelo proposto por texto, e os acidentes de trânsito decorrem dos
Wilde 24 indica que as pessoas aceitam um certo riscos que o ser humano aceita 25, e a aceitação
grau de risco subjetivamente estimado para sua de riscos aumenta na mesma proporção em que
saúde e segurança que deriva de três fontes: as aumenta a implementação de dispositivos de se-
experiências passadas, a estimativa do potencial gurança 24. Na relação do indivíduo em trânsito,
de acidente da situação e o grau de confiança os riscos são permanentes. A Figura 1 indica que
na habilidade de tomar decisões e controlar o os riscos precisam ser detectados, decodificados,
veículo para enfrentar a situação. Em ambas as além de significativos, para que o indivíduo tome
teorias, o conceito de risco percebido assume decisões no trânsito compatíveis com a situação
um papel central. de risco em questão. Se o risco não é percebido
Por percepção de risco entende-se a forma como tal, as decisões e comportamentos não se-
como os leigos pensam sobre o risco e inclui um rão compatíveis com a segurança que a situação
conjunto de crenças e valores que dão signifi- exige. “As pessoas reagem aos riscos que percebem.
cado a um acontecimento ameaçador 16,17. Ao E se suas percepções forem equivocadas, esforços
considerar o comportamento como um sistema, de proteção nos âmbitos pessoal, público e am-
é possível classificar fatores externos (do meio biental podem ser mal orientados” 18 (p. 463 – tra-
ambiente) e internos (do próprio indivíduo) que dução do autor).
contribuem para a organização das percepções Silcock et al. 26 indicam que 85% dos moto-
frente aos riscos e que orientarão o comporta- ristas excedem os limites de velocidade ocasio-
mento de prevenção de acidentes. nalmente, embora percebam o excesso de veloci-
A Teoria Geral dos Sistemas 12 permite a dade como uma infração; além disso, o limite de
análise do comportamento humano no trânsi- velocidade percebido subjetivamente está acima
to como um sistema que resulta em excesso de
velocidade, bem como auxilia na identificação
de fatores que influenciam o comportamento do
motorista. A Figura 1 ilustra alguns dos insumos Figura 1
do sistema que são processados para que a de-
cisão final resulte em comportamentos de risco Ilustração de um sistema de comportamento que resulta em excesso de velocidade.

ou comportamentos seguros. Entre os insumos,


destaca-se a percepção de riscos.
Embora os insumos arrolados detalhem fa-
tores internos e externos, é importante enfati-
zar que não se trata de fatores isolados, mas em
interação. Da mesma forma, o processo repre-
sentado destaca algumas ações encadeadas que
fundamentam a tomada de decisão: detecção
das variáveis envolvidas – sejam estímulos do
ambiente, sejam informações, como aquelas de-
correntes da legislação; decodificação dos dados
com base em variáveis individuais, grupais, cul-
turais ou ideológicas; seleção de estímulos aos
quais vai responder ou ignorar; análise das variá-
veis envolvidas seja em relação às conseqüências
das opções de ação, seja em relação ao jogo de
forças presente na situação; compreensão das
variáveis, dos estímulos e da relação entre eles
no contexto; significado atribuído a cada um dos
elementos presentes na situação e à interação
entre eles. Após as ponderações sobre todo esse

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do estabelecido pela norma, e os motoristas ar- da listagem contendo 441 motoristas, foi possível
gumentam que exceder moderadamente o limite localizar, fazer as triagens e entrevistar 20 deles.
de velocidade não representa perigo. A ausência Caracterização dos motoristas: são 20 moto-
de razão aparente para a determinação de limites ristas multados, sendo 3 mulheres e 17 homens,
de velocidade é um fator que leva à infração 26. todos com idade acima de 30 anos; 11 com curso
superior, 8 com o ensino médio e 1 completou o
ensino fundamental. Dos 16 motoristas não mul-
Objetivo e procedimentos tados: 2 com mestrado, 6 com curso superior, 3
com o curso médio, 3 com o ensino fundamental
Este artigo identifica e analisa os fatores envol- e 2 não completaram o ensino fundamental. A
vidos na percepção de risco dos motoristas em maioria dos motoristas dirige a maior parte do
relação ao excesso de velocidade. tempo só, em ambos os grupos.
O roteiro de entrevista continha 25 questões
Participantes abordando: conceituação de excesso de veloci-
dade, significado, riscos, sentimentos, fatores
Foram entrevistados 20 motoristas com mais responsáveis pelo comportamento de exceder
de nove multas por excesso de velocidade e 16 a velocidade, impacto das multas em relação à
motoristas sem multas, da cidade de Curitiba, prevenção (somente para multados), mudança
Paraná, Brasil. O primeiro contato foi telefônico, de comportamento (idem), fiscalização eletrô-
com a apresentação da pesquisadora, dos objeti- nica, conhecimento de distâncias de frenagem
vos e da forma de obtenção dos dados pessoais e percepção do comportamento do outro grupo
sobre as multas, quando então era solicitada a pesquisado.
informação sobre a autoria das infrações, con- A análise qualitativa indicou as convergên-
dição para integrar o grupo de multados a ser cias e divergências entre os dois grupos de entre-
pesquisado. Foi solicitado o consentimento para vistados, com base nos fatores que afetam a per-
participação na pesquisa, bem como foi assumi- cepção de risco, tais como: controle; confiança;
do o compromisso de sigilo de todas as informa- consciência do risco; confronto entre risco obje-
ções que pudessem identificar os participantes. tivo e risco percebido; grau de familiaridade com
As entrevistas foram realizadas na residência ou o risco; gravidade do risco; extensão dos danos; e
local de trabalho dos participantes, conforme responsabilidade pela prevenção 15,16,27,28,29,30. A
sua escolha. Para os motoristas não multados, o partir das respostas dos motoristas, foi possível
procedimento foi semelhante. construir agrupamentos que se consolidaram em
Os motoristas multados entrevistados foram categorias, cuja base se encontra nos fatores que
identificados por sexo e idade, e as mesmas va- afetam a percepção de riscos.
riáveis foram consideradas para selecionar e en-
trevistar motoristas sem infrações, significando
que essa amostra foi dirigida a partir de listagem Análise dos depoimentos
específica emitida pelo DETRAN-PR (Departa-
mento de Trânsito do Paraná). No entanto, a co- Para ilustrar a análise, alguns depoimentos foram
leta de dados restringiu-se a 16 motoristas, em transcritos em itálico, com indicação de multado
função da impossibilidade de manter contato ou (M) ou não multado (N).
de se efetivar as entrevistas. Quando os motoristas responderam “o que é
Composição da amostra: para localizar os excesso de velocidade?”, permitiram identificar
motoristas infratores, foi analisada uma listagem três categorias de respostas: (1) definições que
fornecida pelo DETRAN-PR, emitida em 29 de ja- fazem referência à via; (2) definições que fazem
neiro de 2001, que identifica 441 motoristas com referência à lei ou à via, mas apresentam distor-
nove ou mais multas por excesso de velocidade. ções pessoais; e (3) definições pessoais.
No entanto, ainda não era possível afirmar que A primeira categoria inclui definições de ex-
esses motoristas multados fossem os responsá- cesso de velocidade que fazem referência à via
veis pelas infrações. Desse total de 441 motoris- como determinante do limite de velocidade. É
tas, foram excluídos 406 [sem possibilidade de exemplo a seguinte resposta: “Existe um ideal de
localização (217), telefone incorreto ou desligado velocidade para cada lugar, cada região, em fun-
(54), várias tentativas de contato (80), recado sem ção da estrutura. As velocidades estão fixadas ade-
retorno (14), participaram de reciclagem (10), de- quadamente. Existem normas técnicas que esta-
clararam-se não autores das infrações (30), não belecem isso. Acho-me incapaz de julgar se as ruas
quis participar (1)], e 35 motoristas declararam- estão com velocidades adequadas ou não” (M).
se autores das infrações, sendo que, com 15 de- A segunda categoria inclui definições de ex-
les, não foi possível realizar as entrevistas. Enfim, cesso de velocidade que fazem referência à lei ou

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à via, mas apresentam ambivalências demons- local. A placa é só um referencial” (M). “Velocida-
trando uma visão particularizada que distorce o de superior à velocidade necessária para ter ple-
que a lei prevê. Ou seja, sempre há uma ponde- no controle do veículo” (M). “É transitar numa
ração que perverte o sentido expresso em lei e velocidade não compatível com as condições de
que particulariza o excesso. Na percepção desses segurança da pista. Com carros em bom estado,
motoristas, a velocidade na qual eles transitam o limite deve ser pelo menos de 80/90, nas vias rá-
não deve ser considerada como excesso. Essa pidas. O ideal seria deixar por conta do motorista
distorção a partir de uma análise estritamente (a definição de excesso)” (M). “Dirigir o veículo de
pessoal confirma a idéia de reinterpretação do uma forma que não tenha controle. Tem que ter
conhecimento perito pelos leigos, ou seja, os mo- bom senso, além das velocidades liberadas, tem
toristas levam em consideração o fator indicado que sentir” (M). “Não ter controle numa emergên-
na própria lei (tipo de via), porém com caracte- cia em desviar ou parar o veículo” (M). “Conceitos
rísticas pessoais. Para compreender alguns de- de velocidade mudam tanto com o tempo. Não
poimentos, é importante registrar que, em Curi- me senti multado por excesso de velocidade” (M).
tiba, a população denomina incorretamente de “Ultrapassar o limite seu, do carro. Não é neces-
“via rápida” algumas vias, e nelas a velocidade sariamente a velocidade da placa. Concepção de
máxima determinada pelos órgãos oficiais é de alta velocidade tem várias” (M). “É aquela que
60km/h. foge do controle, de domínio do veículo. Na chuva
“Acho que depende das vias. Numa via rápi- pode ser 60, 70. Numa estrada ir a 120, 130, num
da, excesso é acima de 80” (M). “Ultrapassar os belo dum carro não é excesso” (M). “Além do que a
limites, conforme a sinalização. Eu estava a 62, pessoa sente seguro dirigir. Não é só o radar” (N).
70, quando fui multado. Qual a diferença entre “Não conseguir mais controlar o veículo. Na
60 e 70? É muito pouco. Antigamente era 80 na periferia 80 já não é tanto” (N). “Mais de 70, 80
estrada, hoje é 110. Isto prova que nem sempre a na cidade” (N). “É estar acima da velocidade da
sinalização está correta” (M). “Ultrapassar os li- maioria dos carros. O meio ambiente dita a regra
mites de cada um. Cada um define. Mas tem que de como tem que agir” (N). “Exceder o limite segu-
ter as normas. [E após reflexão.] Ultrapassar os li- ro de trânsito numa via” (N).
mites estabelecidos pelo código/órgão competente. É importante destacar, em cada uma dessas
As minhas multas são entre 67, 69, 72 e 75, nada definições de excesso de velocidade, as variáveis
de 80, 90, 100” (M). “É a velocidade incompatível presentes: a sinalização, o controle alocado no
com o local. Andar a 70/80 na via rápida não é próprio motorista, o controle exercido sobre o
excesso” (M). “É andar acima da placa. Se está li- motorista e a confiança.
vre, pode passar, sem abusar muito” (N). “Se é na Os motoristas infratores pesquisados igno-
cidade, se está acima de 100 já é um excessozinho. ram a indicação das placas de sinalização de velo-
Na estrada nunca ando mais de 120. Até 80 não cidade por diversas razões. Uma delas é a falta de
é excesso. Se bem que depende onde está, depen- credibilidade das instâncias responsáveis pela de-
de das placas. Depende da velocidade permitida. terminação da velocidade máxima permitida 26,
Procuro obedecer o que o local permite” (N). “Isto bem como o desconhecimento dos parâmetros
é muito relativo. Legal é infringir, exceder o que é que norteiam essa determinação, expressa por
previsto para cada via. Mas entendo também que um motorista ao afirmar que “antigamente era
tem a ver com a condição do veículo. Se as pessoas 80 na estrada, hoje é 110, isto prova que nem sem-
tivessem noção dos tipos de vias controlariam me- pre a sinalização está correta” (M). Isso atesta
lhor essas informações” (N). que a confiança nos órgãos que devem definir
A terceira categoria, a mais preponderante, as velocidades foi abalada, e, em decorrência,
inclui definições de excesso de velocidade com a percepção dos riscos fica comprometida por
caráter pessoal, que contrariam o texto da lei. esse descrédito fazendo com que o motorista se
Essas definições propiciam a identificação dos balize por critérios internos, pessoais, sem levar
fatores internos que são levados em conta pelo em conta parâmetros técnicos ou legais como
motorista quando ele adota uma determinada norteadores de seu comportamento.
velocidade. Dentre esses fatores, destacam-se o Um motorista infrator afirmou que “menos
controle e a confiança, alocados principalmente de 60 não é excesso no perímetro urbano” (M).
no próprio motorista ou mesmo no carro, como Na percepção desse motorista, há uma confiança
relevantes na definição do que é excesso de velo- no limite de velocidade de 60km/h no perímetro
cidade. Os depoimentos, a seguir, ilustram essa urbano que imprime certas garantias ou imu-
terceira categoria. niza contra riscos. Nesse caso, identificam-se o
“É ultrapassar o limite em local onde não há controle, a minimização do risco, a confiança e
possibilidade do uso do veículo no seu potencial. a baixa credibilidade nas instâncias que devem
Não é dito por uma placa. É um momento e um gerenciar as ameaças 16 como alguns dos fatores

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que determinaram a percepção de risco desse Motoristas multados e não multados


motorista.
Outro fator identificado refere-se à crença Os motoristas que fazem referência à lei e à sina-
dos motoristas infratores em poder estabelecer lização como os balizadores do excesso de velo-
os limites de velocidade aceitáveis, partindo de cidade são poucos. As definições pessoais ou as
parâmetros diversos daqueles preconizados tec- distorções pessoais em relação à lei predominam
nicamente e, quase sempre, auto-referenciados no discurso dos motoristas, infratores ou não.
(“não me sinto multado por excesso de velocida- Ou seja, não importa se um motorista foi ou não
de”). Quando o motorista afirma que excesso de multado, a percepção que ele tem do parâmetro
velocidade é “dirigir de uma forma que não tenha que norteia o excesso de velocidade é a mesma:
controle”, identifica-se que é ele próprio o baliza- o centro do qual emanam as regulamentações
dor desse limite. Também, dispensa-se qualquer é ele próprio, significando que a velocidade no
determinação externa, além do equívoco de que trânsito se converte num fenômeno individual
se ele tiver controle não há risco. para o qual a maioria tem uma receita própria.
Entretanto, segundo os motoristas infratores, Somente dois motoristas (um de cada grupo) re-
a responsabilidade pelo cometimento da infra- feriram-se à lei como parâmetro regulador da
ção nunca é deles próprios: ou o equipamento velocidade permitida.
não está aferido (“acho que a medição não está As pesquisas de Lima 15,16 indicam que ao
correta, ou meu velocímetro não está correto”), ou maior risco objetivo corresponde uma maior
o equipamento foi colocado propositadamente consciência da ameaça, mas, em contrapartida,
para multar, ou a velocidade fixada não é ade- há uma percepção de que esse risco é mais con-
quada, ou a pista não é adequada, ou a sincro- trolável (risco subjetivo). No caso do trânsito, a
nização dos semáforos induz a uma velocidade proximidade e convivência diárias com os riscos
acima daquela permitida (“para pegar todos os provocam uma negação, na medida em que os
semáforos abertos, eu preciso ir numa velocidade riscos são identificados, mas se referem a velo-
um pouco acima de 60”). Ou seja, desloca-se a cidades diferentes daquela na qual o motorista
responsabilidade para fatores externos, de modo transita. A negação do risco pode ser caracteri-
que o motorista deixa de perceber que só ele é zada como uma estratégia defensiva, pois níveis
capaz de executar os movimentos básicos dentro elevados de ameaça engendram estratégias cog-
do veículo – acelerar ou frear –, determinando a nitivas de minimização do risco 16. Embora, no
velocidade na qual o veículo vai se deslocar. Al- trânsito, a ameaça seja constante, não há uma
guns motoristas alegaram que o radar foi coloca- correspondência entre riscos objetivos e riscos
do “justamente numa descida”, e, portanto, para percebidos, já que os motoristas percebem os
“pegar o motorista”, sugerindo que não é o mo- riscos de maneira genérica, descontextualizados
torista que define a velocidade do veículo, mas a do risco potencial embutido em diferentes ve-
força da gravidade; ou, ainda, alegaram que a to- locidades. A partir da percepção distorcida do
pografia da via determinou a velocidade: “é uma motorista acerca do seu controle, de sua perícia
baixada ali, automaticamente já está a mais de e habilidade, não é a “sua” velocidade que ofe-
60”. Esse deslocamento de responsabilidade pela rece riscos.
infração para fatores externos se contrapõe à alo- Ao associarem os riscos decorrentes do ex-
cação interna de controle pela determinação da cesso de velocidade a velocidades diferentes
velocidade máxima permitida. daquelas estabelecidas pela legislação, os moto-
Ao confrontar as idéias de “suposto” controle ristas infratores revelam construções cognitivas
por parte dos motoristas infratores, verifica-se de invulnerabilidade pessoal relacionada a um
que eles não têm noções fundamentais de pro- otimismo irrealista de que não há riscos, asso-
cessos de frenagem e a influência do tempo de ciadas a uma autopercepção superavaliada de
reação nesses processos. Ainda que os reflexos que o problema são os outros e também uma
sejam mantidos, velocidades diferentes signifi- exagerada percepção de controle sobre o am-
cam riscos potenciais diferentes. Nesse caso, a biente 15,28,29,31.
percepção do risco está distorcida pelo desco- A Figura 2 destaca o papel da fiscalização ele-
nhecimento de aspectos técnicos do processo de trônica no processo de tomada de decisão que
frenagem, associado à autopercepção do “equi- resulta em “ser ou não multado”. A Figura 2 sin-
líbrio psicológico”, da “boa coordenação moto- tetiza a intermediação feita pela fiscalização ele-
ra” e do “não envolvimento em acidentes”, como trônica que passa a exercer um papel importante
justificativas para a minimização e controle dos no processamento das informações e na tomada
riscos envolvidos em exceder a velocidade. É co- de decisão, ou seja, não é o insumo “placa com
mo se esses fatores imunizassem o motorista em limite de velocidade” que orienta o comporta-
relação aos riscos do excesso de velocidade. mento do motorista, mas a existência ou não da

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fiscalização eletrônica. O insumo “placa com li- Figura 2


mite de velocidade” se desloca para “presença de
Ilustração da influência da fiscalização no processo de tomada de decisão.
fiscalização eletrônica”. E é a aceitação ou rejei-
ção da fiscalização que atuam no processo deci-
sório, resultando em comportamento de ser ou
não multado. Porque exceder a velocidade todos
eles admitiram, explícita ou veladamente.

Considerações finais

Os motoristas de ambos os grupos pretendem


reinterpretar a lei, identificando velocidades
máximas diferentes daquelas definidas na legis-
lação, cujos parâmetros estão acima dos limites
legais estabelecidos 32. Não há diferença de per-
cepção de riscos do excesso de velocidade para
motoristas infratores e não multados.
As definições pessoais predominam no dis-
curso dos motoristas, infratores ou não. A pers-
pectiva a partir da qual avaliam as regulamen- nas instituições responsáveis pela definição dos
tações é a do próprio motorista, indicando que limites de velocidade.
o trânsito, um fenômeno público por excelên- Os motoristas infratores, ao se colocarem
cia, transforma-se num fenômeno individual, como sujeitos da infração, indicam diversos
pessoal, privado. Os parâmetros individuais são mecanismos para analisar a sinalização e a fis-
sustentados pela percepção de que o controle da calização, que são contraditórios e que revelam
atividade de dirigir está centralizado na perícia tanto uma negação do seu comportamento de
do motorista e não numa articulação entre os di- risco e a desqualificação da fiscalização quan-
versos fatores envolvidos e regulados pela legis- to a insistência na responsabilidade de instân-
lação que organiza a convivência harmônica dos cias externas para prover uma fiscalização mais
integrantes do trânsito. adequada. Ao mesmo tempo em que negam sua
Os motoristas infratores, além de definirem responsabilidade, vêem-se obrigados a sucum-
parâmetros próprios de excesso de velocidade, bir à evidência das multas aplicadas. Ao mesmo
pretendem definir quem, onde e que instrumen- tempo em que individualizam o controle da ati-
to é ou não adequado para mensurar a infração. vidade de dirigir e de definir o que é excesso de
As informações incorretas sobre processos de velocidade, os motoristas deslocam esse contro-
frenagem confirmam que, embora os motoristas le para elementos externos quando se trata de
pretendam estabelecer as regras para a deter- otimizar o comportamento no trânsito.
minação de velocidades máximas permitidas, Os motoristas não multados foram questio-
desconhecem mecanismos básicos para suas nados quanto a exceder ou não a velocidade má-
definições. xima permitida e quanto à fiscalização eletrôni-
Quando os motoristas de ambos os grupos ca. Os motoristas são ambíguos, pois admitem
identificam os riscos decorrentes do excesso de que excedem a velocidade ocasionalmente, mas,
velocidade, focalizam os mesmos riscos genéri- ao mesmo tempo, manifestam uma concordân-
cos presentes no trânsito sempre que uma infra- cia com a fiscalização eletrônica, alguns deles
ção ou um acidente ocorrem, tais como: danos chegando a sugerir que ela deve ser ainda mais
materiais, financeiros e humanos, que podem intensiva. O grupo de motoristas não multados
ocasionar desde conseqüências leves até morte. indica motivos de aceitação dos limites e da fis-
Entretanto, os motoristas deslocam os riscos do calização imposta.
contexto no qual foram identificados e que ser- Essa diferença atribuída pelos motoristas
viu de base para sua inclusão no contexto legal ao papel da fiscalização eletrônica, bem como
(velocidade máxima permitida em lei) e fazem as diferenças de hetero-percepção salientadas
associação com velocidades diferentes. Portan- pelos motoristas não multados sugerem que a
to, não se trata dos mesmos riscos. O risco de aceitação da fiscalização e a atribuição de um
atropelamento ou morte no trânsito é diferente significado que se volta para o interesse público
em diferentes velocidades. Essa reinterpretação podem ser mecanismos significativos que resul-
da lei, identificando velocidades máximas dife- tam em comportamentos diferentes. Ao perceber
rentes, patenteia a desconfiança dos motoristas o mecanismo de fiscalização como uma decor-

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rência do sentido público expresso no trânsito e multado”. A fiscalização faz a mediação entre a
não como contestação a liberdades individuais, norma e o comportamento, na medida em que
é possível adotar comportamentos compatíveis sua presença sinaliza a potencialidade de riscos
com as normas. e o benefício público advindo da submissão a
A partir deste estudo, constata-se que o pa- ela. A partir dos depoimentos dos motoristas
pel da fiscalização eletrônica como instrumen- infratores, essa mediação foi identificada atra-
to para coibir o excesso de velocidade se mos- vés da preocupação voltada para a presença
trou útil: (a) nas percepções dos motoristas in- dos mecanismos de fiscalização eletrônica da
fratores, por imposição; (b) nas percepções dos velocidade e não para a velocidade, indicando
motoristas não multados, por aceitação de um que o estímulo discriminativo para obediência
mecanismo regulador que orienta o trânsito; (c) à norma se deslocou da sinalização para a fis-
na análise técnica dos órgãos responsáveis pelo calização.
gerenciamento da fiscalização, pela constata- Em suma, este estudo sobre o excesso de ve-
ção da redução de acidentes e da velocidade. locidade evidencia a percepção individualista de
Dessa forma, o insumo “placas de sinali- um fenômeno que é coletivo (trânsito), anali-
zação e de excesso de velocidade” é mediado sando alguns fatores que contribuem para essa
pela fiscalização. E sua aceitação ou rejeição distorção de percepção dos riscos identificada
modifica o processamento das informações, tanto entre motoristas infratores como entre
resultando em comportamentos “ser ou não motoristas sem multas.

Resumo Colaboradores

Este trabalho discute percepção de riscos no trânsito, I. P. Thielen desenvolveu a pesquisa e elaborou o ma-
comparando um grupo de motoristas infratores a um nuscrito. R. C. Hartmann participou da criação, redação
grupo de motoristas sem multas por excesso de veloci- e revisão final do texto para publicação. D. P. Soares par-
dade. O objetivo da pesquisa foi explicitar a interação ticipou das etapas de seleção de conteúdos e criação do
entre a norma de velocidade e o comportamento de texto, além da redação de explicações complementares
excesso de velocidade. Nas justificativas para o exces- às Figuras 1 e 2 e conteúdos específicos da Teoria Geral
so de velocidade, foram identificados importantes fa- dos Sistemas.
tores na determinação da percepção de risco: controle
(centralizado no motorista), minimização do risco (a
velocidade na qual eles transitam não oferece riscos), Agredecimentos
confiança (eles se julgam hábeis motoristas e podem
definir o que é excesso de velocidade) e falta de credibi- A Coodenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
lidade nas instâncias que devem gerenciar as ameaças. Superior (CAPES) pelo financiamento da pesquisa.
Os infratores revelam uma construção cognitiva de in-
vulnerabilidade pessoal, associada a um otimismo ir-
realista e autopercepção superavaliada, aliadas a uma
exagerada percepção de controle sobre o ambiente,
centralizado em sua perícia e habilidade. Não há di-
ferença de percepção de riscos entre os motoristas dos
dois grupos. Não há correspondência entre riscos ob-
jetivos e riscos percebidos, pois os motoristas dos dois
grupos percebem riscos objetivos genericamente consi-
derados, porém descontextualizados da potencialida-
de para acidentes embutida em diferentes velocidades.

Acidentes de Trânsito; Assunção de Riscos; Veículos Au-


tomotores

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Recebido em 10/Nov/2006
Versão final reapresentada em 24/Mai/2007
Aprovado em 05/Jun/2007

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