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BOURDIER, Pierre e Champagne, Patrick. Os excluídos do interior. Paris. n.

91,
92 março de 1992, p. 71 a 72.

FERREIRA, Ricardo Franklin. Afro-Descendente: Identidade em construção. Rio


de Janeiro/São Paulo: Pallas, 2000.

CAVALLEIRO, Eliane dos Santos. Educação, racismo e anti-racismo. Publicação


do programa A cor da Bahia. nº 4. Salvador: Novos Toques, 2000.

NASCIMENTO, Antônio Dias, HETKOWSKI, Tânia Maria. Memória e formação de


professores. Salvador: ED. UFBA, 2007.

QUEIROZ, Delcele Mascarenhas. Raça, Gênero e Educação Superior. Revista da


FAEBBA/Universidade do Estado da Bahia, nº 18, 2002.

Resenhado por Iara Silva Freitas, cursista do curso de Pós-Graduação em História e


Cultura Afro-Brasileira da Faculdade de João Calvino.

Hordienamente fala-se muito nas perspectivas de inclusão do estudo de


história e cultura afro-brasileira e indígena nos estabelecimentos de ensino e os
autores supracitados baseiam-se em seu amplo conhecimento em pesquisas e
estudos para expor de forma concisa as relações étnicas raciais presentes
principalmente no contexto escolar. No texto, os excluídos do interior, é possível
perceber uma linha evolutiva ao apresentar os anos 50 como palco de
transformações iniciais que afetaram o sistema de ensino com a entrada de
categorias sociais que até então eram excluídas da Escola. Com efeito, os novos
beneficiários, compreendem que não bastava ter êxito no ensino secundário para ter
acesso às posições sociais, descobre o papel conservador da escola e não o
libertador como era pregado. Assim, a instituição escolar torna-se um engodo, fonte
de imensa decepção coletiva ao promover uma educação igualitária, mas reforça a
divisão e permanência de classes. Bourdieu reforça essa ideia ao apontar as altas
instituições escolares como transmissora do capital cultural ao continuar sendo
excludente como foram no passado, fazendo com o sistema de ensino, amplamente
aberto a todos, no entanto, seja estritamente reservado a alguns.
Ao abordar a temática diversidade Étnico-Cultural, não podemos esquecer
que fazemos uso de palavras articuladas, surgindo com isso a necessidade da
autora Ana Célia Silva, em seu artigo, Branqueamento e Branquitude: conceitos
básicos na formação para a alteridade, a apresentar definições destes conceito e
elucidar sobre a branquitude hegemônica presente nos livros de língua portuguesa
no ciclo I e II. No texto é colocado, o termo ou expressão “representação coletiva”,
localizando o pensar social sobre o individual, sendo Durkheim o seu percussor.
Segundo Moscovici (1978, p. 63), as representações se constituem para tornar o
estranho, o ausente em nós, familiar, pois na vida social há situações em que cada
pessoa é uma representação de uma pessoa. O autor nos coloca ainda que quando
se trata de um individuo ou grupo estranho, eles são julgados por se próprio, mas
pela etnia, raça, classe social ou nação.
Sobre hegemonia, segundo Gramsci, esta pressupõe a existência de
alguma coisa que é verdadeiramente total; o termo branqueamento por sua vez,
construída por ideológicos, devido a presença de uma maioria populacional
negro/mestiça, sendo essa ideologia defendida por homens, como Joaquim Nabuco,
Rui Barbosa e Euclides da Cunha. A ideologia de branqueamento além de causar
inferiorização, internaliza nas pessoas de pele clara uma imagem negativa do negro.
No que se refere ao termo branquitude, presente no texto em estudo é possível
marcar uma nova direção nos estudos étnico-raciais nomeando branquitude como
traço de identidade racial do branco brasileiro a partir das ideias sobre
branqueamento (Bento). O branqueamento, portanto, é considerado como “racismo
do negro” e para Bento o papel do branco nas desigualdades sociais não é refletido.
O artigo apresenta considerações sobre a investigação do livro didático de Língua
Portuguesa que descreve o branco de forma homogênea, ilustrados e descritos com
maioria. Nos textos recebem nomes próprios, adjetivos positivos e praticaram ações
positivas, fortalecendo-o como verdade absoluta a sua representação na
humanidade.
O terceiro texto tem como os discursos e práticas racistas na educação
infantil: a produção da submissão social e fracasso escola, a pesquisadora Eliane
dos Santos Cavalleiro apresenta o quanto as práticas racistas estão enraizadas nos
anos iniciais de estudo. A ideia de igualdade entre os homens defronta-se muito
cedo com uma hierarquia social (racismo cientifico), ficando visível nos textos
analisados, a necessidade nas instituições escolares de uma ação pedagógica de
combate ao racismo e aos seus desdobramentos que ocorrem através de distorções
de conteúdos curriculares por meio dos livros didáticos e pelos próprios professores.
A autora pontua também que a pesquisa realizada por Godoy (1996) com
crianças de cinco a seis anos aponta como não perceptível a ocorrência de
descriminações entre essas crianças, no entanto, a partir de observações direta do
convívio escolar e de relatos das crianças e próprios educadores, fica visível o
desencontro entre a teoria e a pratica. Sabendo que o novo membro da sociedade
inteireza um mundo já posto e que a socialização torna possível à criança a
compreensão do mundo, por meio de experiências vividas, numa sociedade como a
nossa, na qual predomina uma visão preconceituosa, historicamente construída, a
identidade das crianças terá por base a precariedade de modelos satisfatórios e a
abundância de esteriótipos negativos sobre o negro.
Como espaço da escola em que ocorrem situações de preconceito entre
as crianças, é citado o parque, é nele que as crianças escolhem seus parceiros e
distante dos professores, elas podem dizer o que bem entenderem. Quanto a
tratamento recebido pelas crianças dos professores, há diferença marcante, sendo
fato percebido pelas crianças descriminadas que buscam o silencio, ameaçando a
auto-estima e convivência de crianças em pleno processo de socialização, bem
como, justificando o branco como modelo e o negro como sem identidade.
Como quarto texto para análise, foi explorado o artigo Raça, gênero e
Educação Superior, onde a autora Delcele Mascarenhas Queiroz aborda as
desigualdades sociais entre os segmentos raciais e de gênero no sistema
educacional superior, tendo como espaço empírico a Universidade Federal da Bahia.
Segundo a pesquisa, o sistema educacional é um dos espaços da reprodução de
uma estrutura desigual, determinando que a condução racial do estudante defina o
seu destino escolar. Esse processo que atinge, sobretudo, os negros, atua de forma
“branda”, “contínua”; um processo de violência simbólica.
Fica comprovado ainda, que apesar de expressiva presença feminina no
sistema de ensino, os espaços mais valorizados do ensino superior segundo
Bourdieu relevam a tradicional divisão de trabalho entre os sexos, mostrando o
quanto o gênero, assim como a raça, são elementos marcantes para a distinção no
mundo social. Outro fator apresentado como excludente neste âmbito é que sendo a
UFBA uma universidade de funcionamento diurno, já exclui uma parcela
considerável de estudantes que não poderão abrir mão do trabalho durante a
realização do curso.
A análise evidenciou que a UFBA é um espaço de inserção de brancos e
morenos, em contrapartida, indica a crescente participação de mulatos e pretos em
cursos de baixa valorização, resultando-os no ingresso no mercado de trabalho em
espaços com salário pouco, renovando assim o ciclo da reprodução de desigualdade
na UFBA que se expressa também de modo significativo entre homens e mulheres,
porém, as maiores desvantagens atingem às mulheres mulatas e pretas.
Objetivando contribuir de maneira significativa para a construção da
identidade afro-descendente, o quinto texto apresentado por Ricardo Franklin
Ferreira nos coloca a grande ironia nacional, apresentar os afro-descendentes
discriminados com “minoria” quando constituem mais da metade da população
brasileira. Também aborda de maneira didática, o mito da democracia racial, ao
encobrir o preconceito racial, tornando mais difícil o combate efetivo da injustiça para
indivíduos e grupos étnico-raciais.
Quanto a construção e desenvolvimento da identidade do brasileiro, esta
se encontra condicionada a participação dos africanos na vida brasileira e sua
sabedoria esta presente nas manifestações culturais. É importante ressaltar que
identidade é um constructo que reflete um processo em constante transformação,
cujas mudanças são determinadas pela participação do individuo, tenso a
“negritude” e “africanidade” como aspectos constituídos dessa construção simbólica.
Vale apresentar aqui, alguns conceitos necessários que são discutidas questões
sobre identidade afro-descendente. Para Frota-Pessoa (1996) “raça são populações
que diferem significamente nas frequências de seus genes”. Distinta desta, a etnia
refere-se aqui como para Casas (1984), a uma “classificação de indivíduos, em
termos grupais, que compartilham uma única herança social e cultural (costumes,
idiomas...) transmitidas de geração em geração” (p.787). Racismo é a categoria
usada na visão de Pereira (1996), como pratica discriminatória institucionalizada, o
preconceito por sua vez para Florestan Fernandes (1978) é uma categoria histórico-
sociológica construída pelos “brancos” e compartilhada pelos não-brancos,
comportando padrões como o eurocentrismo, apresentando o europeu como
superior aos asiáticos, africanos e americanos.
O trabalho de Cross (1991) e os trabalhos de Helms (1993) sugerem
quatro estágios com ênfase nos mecanismos psicológicos envolvidos no
desenvolvimento da identidade. O primeiro estágio, denominado de submissão é a
absorção às crenças e valores da cultura branca, a partir da escola e intermediada
pelos livros didáticos. Estagio de impacto é a modelação da identidade referenciada
a partir do momento em que o individuo está submetido em experiências com a
família de origem. Após o período de conflito, inicia-se o Estágio de militância,
processo de metamorfose pessoal, em que vai demolindo velhas perspectivas e
desenvolvendo uma nova estrutura pessoal; como quarto estágio, é colocado o de
articulação, onde a pessoa desenvolve perspectiva afrocentrada, valorizando
qualidades referentes à negritude, mãos aberta e menos defensiva.
Sem dúvida, trata-se de textos relevantes para a reconstrução de um
ensino pautado na diversidade Étnico-cultural, bem como, na inclusão do estudo
indígena nos estabelecimentos educacionais, sendo este um importante avanço
para a igualdade social, direitos de todos brasileiros, independente de raça ou cor.
Apresentando em linguagem concisa e de embasamento teórico e prático, como
podemos perceber em toda sua leitura e exploração, os textos sob diferentes temas
abordados instigara a todos aqueles que pretendem manejar com sapiência uma
educação voltada para as relações étnico-raciais, sejam professores, enfim, todos
aqueles que percebam a importância da afirmação das matrizes africanas e
necessidade de um maior enraizamento na cultura negra para reconstrução da
identidade.

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