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21/11/11 - Tarde

Caminhada e de repente precisamente - stop.


Só os homens caminham – stop.
Só as mulheres caminham – stop.

Após o sinal una-se a pessoa que está a sua direita e ande em dupla, com o ritmo
da dupla. Pode mudar de dupla quando quiser, mas não pode andar sozinho (isso força
as pessoas a estarem atentas ao que os outros estão fazendo, pois dependem do
outro para fazer aquilo que querem)

Andar em trio, trocando rapidamente. (Manter o mesmo princípio na hora da


troca, só que agora você é obrigado a trocar e não há sinal externo, o coletivo
precisa se organizar, desenvolver um grau de concentração e escuta que possibilite
a continuidade do exercício sem esbarrões e é proibido falar)

Parar, situar-se no espaço e encontrar uma dupla. Guiar o parceiro. Aquele que é
guiado apoia a mão no ombro do guia e fecha os olhos. (Deve executar os movimentos
a partir das sensações musculares que sente o movimento do corpo do outro
reverbera no seu corpo e assim constroem um diálogo.)

Na sequência, cria-se um som e é necessário executá-lo. O guiado deve mover-


se apenas em função desse som elaborado pelo guia. (A relação torna-se mais sutil,
mas o nível de proximidade e escuta entre a dupla está mais desenvolvido e
possibilita que um pequeno ruído, dentro de uma sala com quarenta pessoas,
fazendo barulhos distintos, seja ouvido. Eu escolhi um som bem baixo e contínuo,
quando a Eve avisou que teríamos que pronuncia-lo para conduzir, eu fiquei com
receio que a moça que estava comigo tivesse dificuldade para ouvir, mas nós
realmente criamos um vínculo interessante e não tivemos dificuldade.)

Depois, tivemos que nos separar. De um lado da sala aqueles que guiaram, do
outro lado os que foram conduzidos. Os guias precisavam executar o som da dupla na
mesma intensidade proposta durante o exercício e o guiado deveria encontrar a sua
dupla. (Não tivemos problemas, quando os meus olhos estavam fechados, eu fiquei
um tempo ouvindo aquele caos de sons, dava para perceber que entre todas as
diferenças, havia uma unidade de todo. Concentrei-me para encontrar o meu
impulso sonoro e lá estava ele, baixo e arrebatador, foi uma experiência muito
interessante e me me senti “relativamente” preparada para ela, pois já havia feito
dinâmica semelhante nas aulas de expressão corporal.)

Outro exercício, agora com pandeiros. Formamos uma roda e executamos um


movimento que fornecia um ritmo. Este ritmo variava de acordo com cada jogo no centro
da roda. (A manutenção do ritmo coletivo dá a ideia de ritual) Dois jogadores, cada um
com um pandeiro. O objetivo era bater no pandeiro do outro, mas não podia esconder o
seu pandeiro e ficar atacando, era preciso apresentar o pandeiro para o outro jogador,
manter o contato visual. (O mais importante era sentir a energia do outro e encontrar
maneiras ágeis dentro do jogo para conquistar o objetivo. Eu procurei manter-me o
menos ansiosa possível, apresentava o pandeiro e olhava profundamente nos olhos
da outra jogadora. Ela, ao contrário, mal olhava nos meus olhos e escondia muito o
pandeiro, estava fechada para o jogo, queria apenas acertar o pandeiro. No fim, eu
acabei conseguindo, porque a ansiedade dela a deixava vulnerável, então, estipulei
o ritmo do jogo e as cadências, fiz ela repetir duas vezes a mesma sequência e,
quando percebi que ela estava conduzida, ataquei. Eu fiquei impressionada com a
minha capacidade de percepção, mas acho que a diferença foi justamente eu me
manter aberta para o jogo, encontrar nela as respostas. Nessa proposição percebi
semelhanças com o exercício de expressão corporal de pegar o colega em câmera
lenta, não é preciso fugir ou atacar. Se a conexão ocorre, em determinado
momento, é quase como prever a ação do outro, só que não há esforço, tudo
simplesmente acontece.)

“Hup” este som produzido a partir do movimento do diafragma. Todos emitindo-o


no mesmo ritmo. Formamos duplas e tínhamos que atravessar a diagonal da sala com a
nossa dupla em saltos, seguindo o ritmo do “hup”, porém era preciso que a dupla entrasse
em acordo. Caso contrário, a Eve interrompia e fazia a dupla repetir até efetivamente
cada pessoa acompanhar o seu parceiro. Ela até propôs, para aqueles que estavam com
mais dificuldade, que esperassem para ouvir não só o som, como também o outro e, em
comum acordo, iniciar a travessia. (Eu fiz essa dinâmica com o Maurício Vogue, só
fiquei sabendo que era ele, no fim do dia. Eu achei ele muito preocupado em
acertar. Acho que por eu estar na faculdade, eu me coloco de uma forma diferente.
Não tenho esse compromisso com o acertar. Deixo-me disponível para o que for
acontecer e se for o erro, também é ótimo, na verdade, é melhor. Porque, com o
erro, a Eve sempre explica algo muito incrível. Sem essa obrigação, eu me coloco
aberta ao aprendizado. Voltando ao Maurício... ele ficava tentando me direcionar,
“faz assim”, “faz assado”, para não correr o risco de errar, eu não me senti
“ofendida” com a conduta dele, entretanto, acho que ela desvirtua os objetivos do
exercício.)

O último exercício do dia foi o coro/corifeu. Um grupo de quatro pessoas, uma


delas assume a posição de corifeu. O corifeu irá conduzir o grupo, o conjunto é de sua
responsabilidade. Ele não pode se desligar das pessoas que o acompanham. Deve
executar movimentos que todos possam reproduzir, por isso precisa desenhá-los, eles
têm que ser precisos, para que não haja dúvidas entre os integrantes do coro. É
responsabilidade do corifeu criar imagens potentes que o mobilizem de verdade, pois
essas elas trarão o estado e esse estado precisa estar claro para o público e para os
membros do coro, por isso precisa ser um estado forte e real. O corifeu deve responder
as seguintes perguntas: onde estou, quem sou eu e qual é o meu estado, antes de iniciar
a cena e deve informar essas respostas para o grupo. Tudo isso antes de abrir a cortina.
Quando a cortina abre, a Eve toca uma música e ela pode mudar tudo. É necessário que
o corifeu escute a música e se deixe envolver por ela. Porém não é para dançá-la,
reproduzir corporalmente seus estímulos. O corifeu deve adotá-la como ritmo interno,
norteador da ação. A música deve ser um elemento enriquecedor do estado previamente
definido. O estado pode mudar no decorrer da ação, mas isso acontece no jogo. Não
pode ser uma imposição do corifeu. Também não é recomendado que o corifeu queira
“lucrar” com algo que surge, ele deve trabalhar com aquilo de acordo com as intensidades
requisitadas no jogo.
Para o coro, a visão periférica é fundamental e o quanto mais próximo estiver do
corifeu é melhor, pois a transmissão energética é facilitada. O estado do corifeu é o norte,
porém cada integrante do coro tem as suas necessidades, o coro é composto por um
conjunto de individualidades que se apresentam coletivamente, mas isso não quer dizer
que os membros do coro devem sobressair-se, eles devem ter como meta seguir o
corifeu. Nesse exercício é mais importante sentir, deixar os pensamentos de lado, pois
eles realmente atrapalham. (Vale a máxima: o ator pensa fazendo) (Este exercício do
coro foi feito até o último dia da oficina, apesar da evolução, não houve um
crescimento significativo, cada vez novos erros eram levantados pelo Serge e pela
Eve, no fim eles já repetiam-se. Eu tentei me colocar nesse lugar de disponibilidade.
O coro do primeiro dia era mais simples, não tinha todos esses elementos citados
acima, começamos com um coro mais voltado para a dinâmica de movimento e
quando o corifeu saía do foco, outro corifeu assumia. Essas posições eram
maleáveis. O que me remeteu ao siga o mestre que fizemos durante o processo do
breve elogio, porém com muito mais regras e exigências. Também o trabalho da
visão periférica foi algo que trabalhamos na disciplina de interpretação, todos
esses diálogos que pude estabelecer foram bastante ricos. Desde o primeiro dia, a
quantidade de informações novas era muito grande e eu ficava alguns instantes
com a mente esvaziada, a impressão que eu tinha é que o caos de pensamento era
tão intenso, que tudo se apagava e ao mesmo tempo continuava em atividade. Por
isso os meus escritos sobre a oficina, em um primeiro momento, foram meramente
descritivos, para após um processo de digestão, eu ter a capacidade de refletir
sobre a experiência. Saí bem feliz do primeiro dia!)

22/11/11 – Manhã

O período da manhã foi ministrado pelo músico do Soleil, eu que sou muito
descoordenada tive muita dificuldade nos exercício propostos por ele. Preciso melhorar
urgentemente nesse quesito, eu demoro um tempo muito maior para absorver esse tipo
de atividade, é uma grande limitação que possuo.

Sentados marcamos o ritmo nos joelhos (esquerda/direita) enquanto nos


apresentávamos, nome e profissão. Eu conseguia fazer na medida em que não
raciocinava, mas quando queria perceber o que estava fazendo, me confundia e me
perdia do grupo.
Lemétre nos avisou que quando reproduzimos um som coletivamente temos a
tendência a acelerar, pois tornamos o movimento mecânico e deixamos de escutar o que
estamos produzindo.

Depois ele comentou sobre a nossa tendência corporal e social de fazermos tudo
de forma simétrica, nossas contagens, ritmos, tudo tem predileção simétrica e por isso ele
nos propôs uma caminhada de 5 tempos, assimétrica.
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Depois de um tempo, tínhamos transformado a caminhada de 5 tempos em algo
simétrico e ele nos advertiu. Na hora de transferir o peso para dar o segundo passo
fazíamos um contratempo que deixava a caminhada binária. (É interessante esse
exercício porque precisamos parar, respirar e depois andar, porque necessitamos
desse tempo de adaptação, realmente não é algo que estamos acostumados a fazer
e parece bem simples. Na verdade não é difícil, mas inicialmente nós complicamos
o que podia ser fácil.)

Caminhada de 7 tempos. Todo o andar deveria começar com a perna esquerda.


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Pediu que andássemos em grupo na caminhada de 7 tempos, deveríamos ser


precisos, sem precipitações. Depois fizemos uma linha reta e andamos nos 7 tempos
junto com ele.

Lemétre percebeu que não caminhávamos reto. Então, propôs um exercício de


conscientização da questão do alinhamento na caminhada. Dividiu-nos em duplas. Uma
pessoa posiciona os braços na altura dos cotovelos daquele que irá se locomover e assim
permanece. Este, por sua vez, dá três passos e retorna de costas. O correto era retornar
exatamente dentro do espaço delimitado pelo outro, mas, na grande maioria das vezes,
há um desvio o batemos em um dos braços da pessoa que está imóvel. (Na minha
experiência os meus desvios não foram tão evidentes e em três vezes consegui
encaixar-me no espaço entre os braços da minha parceira.)

Depois ele pediu que executássemos uma sequência de ações, um por vez. Achei
que todos iriam fazer e, como estava receosa, fiquei aguardando. No fim das contas, só
algumas pessoas fizeram a dinâmica e eu fiquei decepcionada comigo mesma, deveria
ter sido mais corajosa. Estou na oficina para aprender, tenho que fazer, fazer e fazer. A
sequência era a seguinte: abre a cortina, dá um passo, vai em direção ao público, olha
para o público da esquerda para a direita e diz: bom dia, meu nome é …. Sai de cena.
(Por mais simples que pareça cada vez que uma pessoa executava essas
instruções, Lemétre encontrava um monte de equívocos que tinham cometido. As
críticas dele não eram relacionadas ao modo de agir no quesito interpretação, mas
o que dissonava na música dos movimentos. Foi incrível, ele é muito detalhista e
fazia observações incríveis. Fiquei brava comigo por não ter participado.)

Ele nos ensinou uma composição com as mãos que serviria de base para todas
as evoluções que faríamos. Mãos nos joelhos – esquerda; direita; esquerda. (Quando
solicitava que aumentássemos a velocidade, nós aumentávamos a força para bater
nos joelhos, ele disse que isso não nada a ver com virtuosismo e é para manter os
braços soltos.)

Depois pediu que relaxássemos os braços enquanto ele nos manipulava nessa
sequência de batidas, daí ele nos perguntava qual era a mão que estava encostando nos
joelhos. Na grande maioria dos casos, quando a gente respondia, contraíamos a
musculatura do braço. Apenas uma moça conseguiu dizer e manter-se relaxada. É uma
questão de treinamento, não estamos habituados a isso.

No último exercício, ele dividiu-nos em grupos grandes e deveríamos apresentar


um concerto, com um monte de condições explicitadas no início. Tínhamos um tempo
para elaborar, era uma improvisação. (O problema é que nós precisávamos tocar os
instrumentos e eu não sou muito conhecedora, então, eu nunca sabia fazer a
mímica de uma forma convincente, pois eu não sabia como lidar com o instrumento
que eu nunca tinha me aproximado na vida real e era justamente esse tipo de coisa
que ele reparava, não gostei.)

22/11/11 – Tarde

Caminhada :
1 – para
2 – olha para a pessoa à esquerda
3 – senta
4 – equilibra-se
5 – pega no pé da pessoa mais próxima
(Esse tipo de exercício trabalha a prontidão, serve para aquecimento do corpo e da
mente, desenvolvendo, inclusive, coordenação motora.)

Formaram-se dois grandes coros com seus respectivos corifeus. O contexto: nós
éramos povos que queriam invadir a terra do inimigo, estávamos em uma guerra. Nós
tínhamos movimentos e sons definidos pelo corifeu, assim como o estado, mas a energia
despendida nesse jogo de atacar/recuar era imensa.
Nos dividimos em 4 grupos de coro. Um por vez saía pela cortina. Cada grupo era
um animal que ia queixar-se com o rei do outro grupo porque este havia roubado a sua
comida, tendo em mente todos os princípios do exercício.

Depois, teve um exercício que envolvia somente os homens, eram príncipes e


deviam conquistar a princesa e a rainha.

 olhar/respirar/ver/verdade interior

Estava muito cansada e o exercício dos príncipes durou muito tempo, queria
que a oficina terminasse logo. Ainda fizemos mais um exercício, porém, mais uma
vez, eu não participei, estou muito indignada comigo mesma. Definitivamente esse
não foi o meu dia.

O “hup” dessa vez era individual (fico acuada quando o exercício é individual,
por isso não fiz DE NOVO), o caminho a percorrer era um floresta. Cada pessoa que
atravessasse o percurso tinha que imaginar, criar imagens e desenhá-las para que
ficassem claras para o público. O hup servia como ritmo interno. A Eve reclamou muito da
ansiedade das pessoas ao realizar a travessia e muitos não criavam ações concretas e
assim não dava para entender o contexto.

23/11/11 – Manhã

Lemétre trabalhou com muitos exercícios de coordenação motora, eu fiquei quase


louca.
A sequência base foi enriquecida. Durante a oficina eu não consegui acertar, só
depois quando fui para a Fap que respirei fundo e executei os movimentos da forma como
queria.
Ele também propôs a dinâmica de desenhar no ar simultaneamente um triângulo
e um retângulo.
Trabalhamos com as notas que, a meu ver, foi o mais interessante. Sempre
que eles passam um exercício fico pensando formas de trazê-lo para o meu espaço
de criação, como posso utilizá-lo nos processos nos quais estou envolvida. O das
notas que ele passou hoje de transformar uma frase em lala, mantendo a nota, eu
achei importante porque a musicalidade de cada frase fica evidente. Isso permite,
por exemplo, a conscientização de uma cadência rítmica nas falas de um texto e
pode ser uma forma de descobrir novas maneiras de entoná-lo. Como eu tenho a
tendência a manter o mesmo registro vocal, acredito que o utilizarei mais vezes
para escapar dessa péssima tendência que possuo.

23/11/11 - Tarde

Aquecimento: bater os pés no chão, mexendo os braços. Solta a cabeça e o


rosto.
Continuamos com o coro/corifeu. Eles insistiram na necessidade de detalhar tudo
o que é feito e na verdade. Crer é o segredo do teatro. E tudo deve ser muito preciso.

24/11/11 – Manhã e Tarde

Caminhada. Fechar os olhos, andar de costas, correr no mesmo lugar.


Montamos equipes com 5 pessoas, alternamos os corifeus. Era para executar
uma coreografia. Após todos integrantes do grupo terem assumido a liderança, os grupos
se reuniram e escolheram um movimento marcante de cada um dos membros.
Apresentaram essa sequência. Então, uma pessoa de cada equipe retornou ao espaço
cênico e repetiu a mesma coreografia inúmeras vezes com velocidades, reduções de
tamanho, uma parte do corpo, um movimento grande e o resto pequeno, enfim, inúmeras
possibilidades foram solicitadas.
Depois do almoço, aqueles que não puderam participar dessa dinâmica (eu era
uma delas, embora eu quisesse, as pessoas que estavam na minha equipe não
permitiram que eu participasse antes do almoço) executaram a mesma sequencia
várias vezes, todavia, agora, nós tínhamos um guia que nos orientava a partir dos
cotovelos. Era necessário estabelecer comunicação entre manipulado e manipulador por
meio da respiração. O manipulador devia manter a atenção expandida tanto para o
espaço quanto para o manipulado, enquanto este precisava ser afetado por tudo o que
acontece no espaço, bem como pela música, para que esses elementos possibilitassem o
surgimento do estado. O estado altera-se conforme o momento. É importante ouvir a
música, ela é a voz interior, a energia. (Esse exercício foi muito complicado para mim,
eu estava com muita vontade de fazê-lo antes do intervalo, pois achei a proposta de
estudar inúmeras possibilidades dentro de uma mesma coreografia algo muito
interessante, mas na hora de fazer, eu tive que ser guiada e sinto que o excesso de
informações novas: eu procurava me concentrar para recordar a coreografia e cada
segundo um novo direcionamento era requisitado. Eu tinha que respirar para tentar
me conectar ao meu guia, eu tinha que ser guiada, mas eu tinha vontade própria,
não podia ficar mole, eu tinha que executar os movimentos e além de tudo isso, eu
tinha que ser afetada pela música e pelo ambiente. Diante de tantas obrigações, eu
me fechei. Procurei ficar o mais concentrada possível no que estava fazendo e o
mundo exterior deixou de existir, inclusive, o meu guia. Era como se eu não
conseguisse fazer tudo aquilo ao mesmo tempo. Foi frustrante, eu comecei e
terminei com o mesmo estado, o estado que é meu quando estou concentrada.
Serge comentou que a minha face estava com um expressão fechada, que é a que
eu costumo fazer em momentos de seriedade. Eu queria muito tentar de novo, mas
não tivemos a oportunidade, pretendo fazer isso mais vezes.)

Teve uma dica que o Serge deu que eu achei incrível. Não sei se terei
competência para usá-la algum dia. Em um processo de construção de personagem,
podemos criar uma coreografia que depois de experimentada saibamos quais estados ela
proporciona. Então, caso estejamos perdidos em cena, podemos acioná-la para recuperar
um estado, podemos fazê-la quase internamente, mas a mobilização corporal necessária
para executá-la em pequenas dimensões, ativa a memória corporal e retoma o estado. É
claro que ele nunca será idêntico, mas é um recurso interessante para o ator quando não
está nos seus dias mais inspirados. (Enquanto reescrevia essa anotação, agora no
computador, recordei o compasso ternário. Nele, nós iniciávamos o movimento em
grandes dimensões e, aos poucos, íamos reduzindo-o ao ponto dele tornar-se
imperceptível externamente, contudo, ele ainda existia e era a causa da
permanência pulsante do estado, ou seja, em pequenas proporções já pude
experimentar o comentário que o Serge fez.)

O exercício de manipulador/manipulado era uma prévia para o que viria na


sequência. Passamos a fazer exercícios de marionete. Inicialmente, tínhamos que
entender o corpo da marionete, por isso fizemos exercícios individuais. Os dedos das
mãos apontados para frente, a cabeça presa por um fio que puxa em direção ao teto, o
abdômen contraído, os ombros relaxados, os joelhos flexionados (para aumentar a
mobilidade) e a manutenção do tônus muscular, o corpo não deve ficar mole, nem rígido
demais e sim maleável na medida certa. A respiração serve de impulso para o movimento,
a cada inspiração um impulso para um novo movimento que deve ser executado durante
a expiração. Todos os movimentos devem ter começo e fim, precisam ser bem acabados,
desenhados, porém concretos e simples. É indicado que as ações sejam pontuais. Como
uma marionete não é um ser humano, não devemos nos ater ao realismo, os movimentos
precisam ser visíveis ao público, tudo que a marionete faz é em função do público, ou
seja, uma marionete olhando outra marionete em cena, não deve ser algo realista, elas
precisam estar posicionadas a uma certa distância com determinado ângulo. A máscara
facial de uma marionete deve priorizar a neutralidade, pois o corpo como um todo irá
comunicar. Quanto ao guia, deve manter bases firmes para não desequilibrar a marionete.
Em uma cena, ele é o diretor da cena, mas a marionete tem a liberdade de propor
movimentos. (Consegui resumir as informações de forma sucinta e simples, mas na
hora de executar, percebemos que não se trata de algo tão fácil. Como guia tive
dificuldade em indicar com clareza para a marionete qual movimento eu queria que
ela fizesse, devia manipulá-la com uma mão no cotovelo e a outra segurando as
calças no meio da lombar, pois era mais fácil para dar os impulsos. Quando
desejava sugerir um movimento de cabeça, podia segurar a base da cabeça a partir
dos ossos que ligam à cabeça ao pescoço. Serge me ajudou muito, guiou minha
marionete e deixou que eu o guiasse para poder me dar dicas de proceder de forma
mais clara. Alertava sobre a intensidade dos impulsos e da necessidade de
sintonizar as respirações entre guia e marionete. Eu, como marionete, tive que me
policiar em relação ao abdômen que, com frequência, relaxava, também em manter
a cabeça relaxada e maleável e simultaneamente não esquecer do fio para cima,
relaxar ombros que insistiam em contrair e permitir a contaminação pelo espaço
com tantas ações novas para serem feitas, dificuldade que tive no último exercício.
Acho que dessa vez me saí melhor.)

25/11/11 – Manhã e Tarde

Estava muito cansada. No período da manhã, trabalhamos novamente com


coro/corifeu e as indicações já começam a ser repetitivas, pois insistimos nos mesmos
erros.
Durante a tarde, fizemos alguns exercícios de marionete e depois eles
selecionaram duas duplas de guias e marionetes para fazer uma improvisação. A
atividade se estendeu por toda a tarde. Os que não foram escolhidos ficaram assistindo.
Foi muito interessante ver, mas eu estava exausta, meu corpo doía, então, eu e a Ana
decidimos ir embora mais cedo.
Para realizar esse exercício as duplas vestiram-se e colocaram máscaras, foi
muito bonito, pena que eu não estava nos meus melhores dias.

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