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TEXTO 6
AVALIAÇÃO DO SOMATÓTIPO
A análise do somatótipo constitui-se em um recurso extremamente útil
direcionado à detecção e ao acompanhamento das repercussões associadas à variação da
forma corporal que podem surgir em razão dos processos de crescimento físico e de
maturação biológica e na monitoração das adaptações de cunho morfológico
provenientes de intervenções dietéticas e de programas de exercícios físicos.
Em linhas gerais, o somatótipo caracteriza-se como técnica derivada da área
biotipológica voltada à descrição e à interpretação da configuração morfológica exterior
ou da complexão física apresentada pelo avaliado na classificação de seu tipo físico.
Correntes biotipológicas
O interesse e a necessidade em classificar o tipo físico de acordo com a forma
corporal vêm desde dos tempos da Grécia Antiga. A primeira proposta de classificação
do tipo físico de que se tem conhecimento parece ter sido apresentada por Hipócrates
(460 - 370 a.C.) sob duas denominações básicas: habitus ptisicus (sujeito magro, com
predominância do eixo longitudinal, de cor pálida e com tendência à introversão) e
habitus apopleticus (sujeito com formas de predomínio do eixo transversal, tronco em
proporções iguais ou maiores que os membros, musculoso, de cor avermelhada e com
comportamento ativo e extrovertido. As classificações dos tipos físicos eram alicerçadas
em observações e conceitos baseados em pressupostos filosóficos em que predominava
o empirismo típico da época).
Desde então, a preocupação em classificar biotipologicamente o corpo humano
tem despertado enorme atenção dos estudiosos da área. Contudo, somente no início do
século XX surgiram as primeiras definições científicas voltadas à distinção dos
diferentes tipos físicos. Nessa época, de acordo com os indicadores utilizados na
classificação do tipo físico (anatômico, somático, psíquico ou somático-psíquico)
podem-se identificar diferentes correntes de classificação biotipológica. Em razão da
nacionalidade de seus idealizadores, estas correntes biotipológicas também são
denominadas por escola francesa, escola italiana e escola alemã.
A corrente biotipológica com base em elementos anatômicos foi desenvolvida
por volta de 1910 pelo francês Sigaud e procura descrever quatro tipos básicos,
determinados pelo predomínio das regiões cefálica, torácica ou abdominal é a escola
francesa:
Tipo respiratório: tórax dominando o abdome, com predominância da
porção média da face;
Tipo digestivo: abdome dominando o tórax e maior projeção da
porção inferior da face;
Tipo muscular: tronco e face proporcionalmente desenvolvidos; e
Tipo cerebral: predomínio dos membros, da caixa craniana e da
porção superior da face.
Com base em adaptações nos métodos propostos por Viola, Nicola Pende, outro
estudioso italiano, criou novo método antropométrico de classificação do tipo físico. Por
este método, admite-se que a forma corporal é resultado de componentes genéticos
(herança morfológica, fisiológica e psicológica) associados ao ambiente, dos quais
surgem quatro grupos de tipos físicos fundamentais:
Longilíneo estênico: estatura e peso corporal discretamente inferiores à
média, magro, esqueleto e musculatura
desenvolvida, predomínio das dimensões do tronco
sobre as dos membros, crânio mesocéfalo ou
braquicéfalo;
Longilíneo astênico: estatura superior ou inferior à média, peso corporal
deficiente, músculos e esqueleto frágeis,
predomínio das dimensões dos membros
(sobretudo dos membros inferiores, sobre as do
tronco), tórax e abdome achatados;
Brevilíneo estênico: estatura inferior à média, peso corporal elevado,
esqueleto e musculatura desenvolvidos, tronco
largo e maciço, membros inferiores curtos; e
Brevilíneo astênico: estatura superior ou inferior à média, peso corporal
elevado, menores dimensões dos membros
inferiores, tronco curto, abdome grande, tecido
adiposo abundante, flácido, atônico.
3
Estatura (cm)
Peso corporal (kg)
Espessuras de dobras cutâneas (mm)
Tricipital
Subescapular
Supra-ilíaca
Perna medial
6
Diâmetros ósseos
Biepicondilar do úmero
Biepicondilar do fêmur
Perímetros
Braço flexionado e tenso
Perna medial
170,18
Xc = ∑dc (-------------)
Estatura
em que:
Xc : somatório das espessuras de dobras cutâneas corrigido pela estatura do
avaliado;
∑dc : somatório das espessuras de dobras cutâneas medidas nas regiões
tricipital, subescapular e supra-ilíaca (mm);
Estatura : medida de estatura do avaliado (cm); e
170,18 : constante correspondente à estatura do modelo teórico de referência
Phantom.
D
Meso = (------) + 4
8
em que D representa a soma algébrica dos desvios positivos ou negativos que cada uma
das medidas de diâmetro ósseo (biepicondilar de úmero e fêmur) e de perímetro
ajustado (braço flexionado e tenso e perna medial) apresenta em relação à medida
equivalente à estatura do avaliado, de acordo com disposição apresentada na tabela de
Z.Q%_&J
T=V
R`W.Q/PCT=J;aNb?Q/PJSR@I c d"ef%g&dihj kSljnmnd-o=dqprsptSducYd-e.f/g0d
vwd
s`xyf%tz0tSd?s@tSfqtz âmetros
ósseos e de perímetros localizadas acima da linha projetada à direita equivalente à
medida de estatura correspondem aos desvios positivos. Em contrapartida, as medidas
de diâmetros ósseos e de perímetros localizadas abaixo da linha projetada à direita,
equivalente à medida de estatura do avaliado, correspondem aos desvios negativos.
Na eventualidade de recorrer ao uso da equação de regressão para o cálculo do
componente de mesomorfia, aplica-se o modelo:
em que:
U: diâmetro biepicondilar do úmero (cm);
F: diâmetro biepicondilar do fêmur (cm);
PBTajustado: perímetro ajustado de braço flexionado e tenso (cm);
PPMajustado: perímetro ajustado de perna medial (cm); e
Estatura: estatura (cm).
Dimensão do componente de
Índice ponderal ectomorfia
< 39,65 0,5
39,66 - 40,74 1,0
40,75 - 41,43 1,5
41,44 - 42,13 2,0
42,14 - 42,82 2,5
42,83 - 43,48 3,0
43,49 - 44,18 3,5
44,19 - 44,84 4,0
44,85 - 45,53 4,5
45,54 - 46,23 5,0
46,24 - 46,92 5,5
46,93 - 47,58 6,0
47,59 - 48,25 6,5
48,26 - 48,94 7,0
48,95 - 49,63 7,5
49,64 - 50,33 8,0
50,34 - 50,99 8,5
51,00 - 51,68 9,0
Categorias do somatótipo
Com base nos valores calculados para cada um dos componentes e de acordo
com a ordem de distribuição quanto às magnitudes encontradas, torna-se possível
classificar o somatótipo do avaliado em diferentes categorias. Em teoria, torna-se
possível estabelecer combinações entre os três componentes, o que resulta na definição
de 13 categorias do somatótipo mutuamente exclusivas. De maneira descritiva, as
categorias do somatótipo são caracterizadas pelas seguintes combinações de distribuição
dos componentes:
X = III – I
Y = 2II – (III + I)
em que:
I: valor equivalente ao componente de endomorfia;
II: valor equivalente ao componente de mesomorfia; e
III: valor equivalente ao componente de ectomorfia.
Somatótipo 3-5-3:
X = III – I Y = 2II – (III + I)
=3–3 = 2(5) – (3 + 3)
=0 = 10 – 6
=4
16
Somatótipo 4-6-4:
X = III – I Y = 2II – (III + I)
=4–4 = 2(6) – (4 + 4)
=0 = 12 – 8
=4
em que
X1 e Y1: coordenadas de localização no somatotipograma de um dos somatótipos
a ser comparado;
X2 e Y2: coordenadas de localização no somatotipograma do outro somatótipo a
ser comparado; e
√ 3: constante que transforma as unidades da coordenada X em unidades da
coordenada Y.
∑ DDS
IDS = ------------
n
∑ DES
IDES = ------------
n
Estatura: 175,0cm
Peso corporal: 76,7kg
Espessuras de dobras cutâneas
Tricipital: 10,3mm
Subescapular: 8,5mm
Supra-ilíaca 18,9mm
Perna medial: 7,4mm
Diâmetros ósseos
Biepicondilar do úmero: 6,1cm
Biepicondilar do fêmur: 9,0cm
Perímetros
Braço flexionado e tenso: 29,6cm
Perna medial: 34,8cm
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170,18
Xc = ∑dc (-------------)
Estatura
170,18
= 37,7 (------------)
175,0
= 37,7 (0,9725)
Xc = 36,66mm
175,0
= ------------
3
√ 76,7
175,0
= ------------
4,25
= 41,18cm/kg
Com base no método tabular, uma consulta à tabela 6.31 mostra que o valor do
índice ponderal (41,18cm/kg) está situado no intervalo 40,75 – 41,43, o que corresponde
a uma ectomorfia de 1,5. A figura 6.72 ilustra o cálculo dos componentes do somatótipo
mediante o método tabular com a proposta de Heath e Carter.
Ao verificar que, em ambos os casos, a DES (16 anos = 2,44; 17 anos = 2,09) foi
superior aos respectivos IDES (16 anos = 2,02; 17 anos = 1,98), conclui-se que, nas
duas idades consideradas, o somatótipo apresentado pelo avaliado se diferencia do
somatótipo de referência.
Pela análise individual dos componentes constata-se que o avaliado apresenta
componente de endomorfia superior (1,18 aos 16 anos e 0,83 aos 17 anos), o que sugere
tipo físico associado à maior proporção de gordura corporal relativa em comparação
com a referência. Na seqüência, observam-se menores valores equivalentes à
mesomorfia (-0,52 aos 16 anos e –0,68 aos 17 anos), o que traduz déficit no
desenvolvimento músculo-esquelético. De maneira especulativa, provavelmente em
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conseqüência do maior peso corporal resultante dos valores mais elevados observados
no componente de endomorfia, as dimensões equivalentes à ectomorfia do avaliado nos
dois momentos apresentaram-se menores (-2,07 aos 16 anos e -1,79 aos 17 anos) que a
proposta de referência.
A figura 6.73 procura ilustrar a disposição dos somatótipos do avaliado e dos
somatótipos de referência em ambas as idades consideradas.
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