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Documentos inéditos
(http://conteudo.imguol.com.br/c/especiais/noticias/2018/ai-
5/direitaXesquerda.pdf), guardados há meio século nos arquivos do Superior
Tribunal Militar (STM), jogam luzes no cenário que levou ao recrudescimento da
ditadura militar no Brasil, com a edição do AI-5 (Ato Institucional número 5), em
dezembro de 1968.
Leia também:
Formado por 14 policiais da antiga Força Pública (como era chamada à época a
Polícia Militar de São Paulo), todos seguidores fanáticos de Aladino Félix, o grupo
executou 14 atentados a bomba, furtou dinamites de pedreiras e armas da própria
corporação, além de praticar pelo menos um assalto a banco, plenamente
esclarecido. Foram os pioneiros do terrorismo, e os responsáveis pela maioria das
ações terroristas registradas no período -- um total de 17 das 32 contabilizadas
pelos órgãos policiais.
A evidência de que foi a direita quem tomou a frente nas ações que serviram de
pretexto para o fechamento do regime aparece pela primeira vez em um relatório do
delegado Sidney Benedito de Alcântara, assistente do Departamento de Ordem
Política e Social (Dops), sobre o inquérito em que a polícia esclarece os crimes, a
partir de prisões ocorridas em meados de agosto de 1968.
(http://conteudo.imguol.com.br/c/especiais/noticias/2018/ai-
5/direitaXesquerda.pdf#page=10), cujo quartel ainda funcionava na rua
Conselheiro Crispiniano, o prédio do Dops
(http://conteudo.imguol.com.br/c/especiais/noticias/2018/ai-
5/direitaXesquerda.pdf#page=11), instalado então no Largo General Osório, e o
QG da Força Pública
(http://conteudo.imguol.com.br/c/especiais/noticias/2018/ai-
5/direitaXesquerda.pdf#page=13), na praça Júlio Prestes, todos na região central.
Maconheiros e malandros
O delegado Ruy Prado de Francischi, lotado no 40º DP, em Vila Santa Maria, na
zona norte de São Paulo, rastreando os passos de "maconheiros e malandros",
conforme consta no relatório do Dops, recolheu informes sobre a quadrilha que
roubou o BMI.
O delegado descobriu que os assaltantes, com os rostos cobertos por lenços (estilo
copiado dos filmes de faroeste, então a coqueluche de Hollywood), haviam rendido
o vigia e funcionários da agência com armas furtadas do QG da Força Pública, em
16 de janeiro, de onde haviam sido levados uma metralhadora INA, três pistolas
Walther e 13 revólveres Taurus.
Detido um dia depois de Jessé, em 22 de agosto, Aladino Félix foi levado para o
Deic. Lá, também torturado, conforme atestaria um laudo pericial da própria polícia,
mas longe da influência das autoridades federais, descreveu em detalhes, em um
manuscrito de 25 páginas em folhas de caderno espiral, todos os atos praticados
por seu grupo nos oito meses que antecederam sua prisão. Aladino Félix,
abandonado pelo governo, que perdeu o controle sobre sua prisão, passou a contar
por que organizou o grupo.
De acordo com ele, a motivação básica das ações era levar o regime a assumir
medidas ditatoriais agudas. Em um dos trechos do manuscrito, Aladino Félix
afirma que recebia ordens da Casa Militar
(http://conteudo.imguol.com.br/c/especiais/noticias/2018/ai-
5/direitaXesquerda.pdf#page=2) do Palácio do Planalto, chefiada à época pelo
general Jayme Portella, e de fontes do Ministério da Justiça por meio da Polícia
Federal.
Poderia ser apenas bravata, mas um dos papéis apreendidos em seu escritório, no
21º andar do edifício Martinelli, não deixa dúvida sobre as relações de Aladino
Félix/Dinotos com o escritório central da Polícia Federal (PF), em Brasília:
Recebi sua carta e desde já aceite meus agradecimentos pelas informações nela
contidas.
Encaminhei imediatamente cópia das informações ao meu Diretor, tendo ele ficado
também impressionado e levará o assunto às autoridades superiores.
Esperando contar com a valiosa cooperação que o senhor vem prestando, aguardo
novas notícias."
A carta (http://conteudo.imguol.com.br/c/especiais/noticias/2018/ai-
5/direitaXesquerda.pdf#page=16), datilografada em uma folha com o brasão da
República e timbres do Ministério da Justiça e Polícia Federal, é assinada pelo
inspetor Firmiano Pacheco, com data de 8 de maio de 1968, portanto, três meses
antes de Aladino Félix e seu grupo serem presos.
"Brasília queria que nossas ações continuassem até dezembro de 1968 ou janeiro
de 1969", escreve no manuscrito
(http://conteudo.imguol.com.br/c/especiais/noticias/2018/ai-
5/direitaXesquerda.pdf#page=17), entregue à polícia em 27 de setembro de 1968.
Todos os integrantes de seu grupo, ouvidos em inquéritos civis e militares,
reafirmariam que a motivação era levar o regime a editar medidas de exceção.
Segundo Félix, "o terrorismo foi então como uma saída de emergência para o
governo federal, pois não podia agir contra tantos implicados na trama e nem lhes
convinha dar-lhes a liberdade para reassumir as rédeas que lhes foram arrancadas
pela revolução de março de 1964".
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