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APRESENTAÇÃO . .................................................................................................................. 7
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Fora destas áreas podem‑se considerar, e a experiência internacional estudada por nós
valida esta apreciação, aspectos relacionados com a responsabilidade social das empresas de
grande porte e traduzidas, sobretudo, em acções de natureza social junto das comunidades
civis dos aglomerados populacionais onde a actividade das empresas estrangeiras mais incide.
Ainda que existam visões críticas sobre a efectiva "vontade" de inserção social das grandes
empresas – como em Economia não há almoços grátis e também pelo facto de o objectivo
das entidades empresariais ser o da obtenção do máximo lucro, a repercussão, imediata ou
mediata, sobre os preços dos bens e utilidades tem sido a forma encontrada de evitar montan‑
tes menores de lucros – o que é facto é que, em maior ou menor extensão, a responsabilidade
social das empresas parece ser hoje uma realidade visível. Não foram encontrados relatos espe‑
cíficos da relação entre responsabilidade social das empresas e diversificação da economia.
Nos seus estudos, o CEIC verificou diferentes situações em alguns países. Naqueles onde
as economias ainda se encontravam‑por‑fazer, mas com vontade política determinada para se
abraçar um processo desta envergadura, foram adoptadas Agendas para a Diversificação e,
em alguns casos, criadas agências nacionais com a responsabilidade de dinamizarem e coor‑
denarem o processo de alterações estruturais, sempre na acepção doutrinária da primazia da
liberdade económica e da prevalência do sector privado. Noutras experiências, a condução
do processo foi deixada a duas ou três instituições públicas relacionadas com as actividades
envolvidas na diversificação e com as políticas macroeconómicas. São casos de economias de
mercado já em fase de consolidação de estruturas produtivas e institucionais, onde as institui‑
ções existem e funcionam no seu sentido sociológico e político. Em Angola, como se sabe, ainda
não foram completamente dirimidas as fronteiras, os equívocos e as sobreposições entre os
Ministérios do Planeamento e Ordenamento Territorial, da Economia e da Indústria no concer‑
nente à responsabilidade de condução do processo de diversificação da economia. Estes Minis‑
térios, aos quais se junta o da Agricultura e Desenvolvimento Rural, são os pivôs da estratégia
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Alves da Rocha
Francisco Paulo
Desde 2009 que o CEIC se tem preocupado com as questões relacionadas com a diversifica‑
ção da economia nacional e com os processos e estratégias mais adequadas, tendo em conta
as experiências conhecidas de sucesso. No seu Relatório Económico de 2008 foi, pela primeira
vez, reservado um parágrafo para este tema. A importância e relevância da diversificação deram
origem a um projecto de pesquisa que se desenvolve desde 2010 e que em 2011 teve o envol‑
vimento do Christian Michelsen Institute de Bergen (Noruega) através da constituição duma
equipa conjunta de investigadores angolanos e noruegueses. A abordagem deste capítulo no
Relatório Económico de 2012 é parte do resultado dessa investigação.
A pesquisa que o CEIC tem em mãos sobre a diversificação da economia angolana – com
uma importante colaboração do CMI nas pessoas dos Professores Ivar Kolstad e Arne Wiig –
tem como um dos seus aspectos de maior relevância o estudo sobre as políticas e as estratégias
económicas anunciadas e implementadas, antes e depois da independência.
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Naturalmente que é muito melhor os países possuírem recursos naturais, renováveis e não reno‑
váveis, do que não detê‑los. A amplitude de alternativas de crescimento e desenvolvimento econó‑
mico que tal circunstância permite é enorme. A questão está no modelo de utilização das receitas
provenientes da sua exploração, em particular daqueles que são exportados. As evidências empí‑
ricas demonstram que as elites políticas as usam em proveito próprio e sem aplicações economi‑
camente rentáveis. A desigual repartição do rendimento e a excessiva concentração da riqueza em
Angola são um caso flagrante da influência perversa das receitas petrolíferas e diamantíferas. Por‑
tanto, este é que é o problema e não o facto de se ter recursos naturais. A diversificação só será uma
estratégia correcta se os mecanismos de reprodução das desigualdades sectoriais e pessoais se não
transferirem para o cerne do processo de se tornar a estrutura económica mais abrangente, em ter‑
mos de actividades, regiões e pessoas. Se assim não for, então a diversificação – financiada com recur‑
sos financeiros originários dos sectores de enclave – acabará por ampliar as assimetrias causadas
pelo “resources curse”. Os instrumentos anunciados pelo Governo para promover a diversificação da
economia nacional pecam, justamente, por trazerem em seu bojo os mecanismos corruptos duma
reprodução de recursos típica da maldição dos recursos naturais. Os pólos industriais/regionais,
as zonas económicas especiais – formas típicas de intervenção aprendidas da Teoria dos Pólos de
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mica e produtiva dos países tem como propósito contrariar os efeitos da doença holandesa
identificados em muitos estudos e países. Consiste, como se sabe, em distorções ao nível
dos preços internos de alguns factores de produção e produtos e do crowding‑out sobre o
sector da indústria transformadora. Os elevados desníveis entre os valores da produtividade
bruta aparente do trabalho das actividades de rent‑seeking (voltadas para o exterior) e as que
trabalham para um mercado interno sem grande capacidade de endogeneização e poder de
compra são uma das piores consequências, fazendo com que o crescimento económico se
torne desequilibrado.
Estudos recentes têm vindo a enfatizar a influência dos mecanismos políticos perversos
(tráfico de influências e corrupção) sobre as causas e as incidências da maldição dos recursos
naturais.
O padrão de diversificação duma economia pode ser analisado em diferentes níveis da cadeia
de valor (leia‑se valor agregado interno): substituição de importações (pela via de eficiência
e não por mecanismos administrativos de protecção, que só geram burocracia e corrupção)2,
a produção de produtos intermédios, a valorização dos recursos humanos nacionais (redução
da dependência de expatriados), a inovação tecnológica (no mínimo uma “cópia criativa” à boa
maneira japonesa e chinesa), o aproveitamento das matérias‑primas nacionais e o destino das
exportações.
Desenvolvimento Regional de François Perroux – e outro tipo de intervenções são correctas e só não
desencadeiam os efeitos que a ciência económica lhes reconhece quando forem poluídos e inquina‑
dos pela intervenção política perversa.
2
A protecção aduaneira da indústria nascente está amplamente estudada na Economia Internacional
e os casos em que tal procedimento é aceite estão perfeitamente tipificados e analisados. Nesta Teo‑
ria não se aborda a protecção aduaneira ou administrativa da indústria infante duma forma generali‑
zada, como a melhor forma de se promover este vector da diversificação da economia.
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Para as duas situações existem indicadores estatístico‑económicos para as medir. No capítulo 4.5 é
feita essa medição para Angola.
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a uma forte componente externa (exportação) nos casos de dimensão doméstica do mercado
fraca e pouco geradora de economias de escala. Esta componente externa do processo é apela‑
tiva de elevada produtividade e competitividade, donde a sua capacidade de empregabilidade
ser reduzida. Então, talvez o modelo mais ajustado seja o denominado “ambidextro”4: dum
lado, estimula‑se a inovação, o progresso tecnológico, a qualificação do novo capital humano e
melhora‑se na escala de valor e, do outro, apoia‑se a competitividade pelos custos – baseada em
baixos salários – nos segmentos que podem absorver os recursos humanos menos qualificados,
protegendo‑se, assim, o emprego.
4
Vítor Bento, O Nó Cego da Economia: Como Resolver o Principal Bloqueio do Crescimento Económico,
Editora Bnomics, 2.a Edição, Novembro de 2010.
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O trade‑off entre curto prazo e longo prazo em Angola coloca‑se do modo seguinte:
• No curto prazo, terão de ser estritamente mantidos os equilíbrios financeiros conseguidos,
ainda que dependentes em excesso do petróleo, e ganhar‑se competitividade pelos preços,
sendo para isso fundamental reduzir os custos de contexto acima enunciados. Esta abor‑
dagem pode permitir a manutenção de ritmos de crescimento do PIB em redor de 7‑8% ao
ano, com efeitos interessantes sobre a capacidade de geração de emprego e renda.
• No longo prazo, a rota é a do aumento sustentado da produtividade e da negociação dum
contrato social sustentável de partilha justa dos ganhos da diversificação entre trabalho,
capital e tecnologia. A sustentabilidade exige, simultaneamente, eficiência e crescimento
económico, sem o qual não haverá novos recursos para distribuir.
• Os ganhos de eficiência podem, no entanto, ser exigentes em flexibilidade salarial e mobili‑
dade laboral, premissas algo incompatíveis com um contrato social de pendor fortemente
redistributivo. De resto, a elasticidade dos despedimentos é, adicionalmente, reclamada
pela equidade inter‑geracional, que pode pôr em causa o direito ao emprego permanente.
Outra matéria de enorme relevância relaciona‑se com os termos de troca entre o sector
transaccionável e o sector não‑transaccionável da economia. A concorrência internacional
exerce‑se, como se sabe, sobre os bens transaccionáveis e como a diversificação da economia
tem de ter um forte vector de internacionalização, fica evidente a necessidade de a alteração
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estrutural do tecido económico se alicerçar neste sector de actividade. Acresce que a com‑
petitividade geral depende da relação de troca entre estes dois tipos de bens. A economia
angolana está actualmente baseada num forte sector de transaccionáveis que é o petróleo
em bruto. É um sector que obedece aos standards internacionais de competitividade. Com
efeito, o preço de referência da actividade do petróleo é o preço internacional e não nenhum
preçário nacional. Como se sabe, em termos de Economia Internacional, o preço competi‑
tivo é o preço internacional, porque se assimila o mercado internacional a um mercado de
concorrência perfeita, onde, portanto, os seus preços são os de eficiência. Mas se se retirar
o sector petrolífero, a economia angolana fica órfã de um sector de transaccionáveis, no
sentido competitivo do termo. É isso que a diversificação da economia tem de criar. Mas,
atenção: a diversificação – o seu processo e as políticas e estratégias adequadas – não devem
promover um sector não‑petrolífero transaccionável baseado numa excessiva protecção (em
tese baseado em qualquer protecção), porquanto isso equivale a falsearem‑se as regras de
concorrência internacional.
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A correlação pode ser circular, isto é, o aumento da importância relativa da indústria na actividade
económica global, pelos efeitos multiplicadores sobre a renda e o emprego, conduz o rendimento per
capita para cima. Mas se o incremento do PIB por habitante for conduzido por outros sectores – por
exemplo, os de natureza mineral – o mercado assim criado constitui‑se numa oportunidade (sobre‑
tudo pelo lado da procura) para o lançamento e desenvolvimento de actividades manufactureiras,
aumentando o seu peso relativo no PIB. Portanto, e deste estrito ponto de vista, pode dizer‑se que
a variação do rendimento médio é um dos factores de crescente industrialização dos países. Clara‑
mente foi este o percurso da economia colonial angolana até 1975.
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o PIB por habitante). Perkins et al. (2001) sinaliza as condições para um arranque sustentado
da indústria, afirmando o factor população/poder de compra nacional como essencial para
o crescimento da indústria “nations with larger markets are able to develop a wider range of
industries sooner in their development because they can take advantage of scale economies in
the domestic market. Hence, we expect large countries to industrialize faster than small ones”.
Este limite à industrialização não se fez sentir, em toda a sua extensão, na economia colonial
de Angola, devido ao mercado alargado estabelecido entre Portugal e as restantes colónias,
em especial o triângulo Portugal/Angola/Moçambique. No entanto, mesmo no âmbito das leis
protectoras do mercado interno (como as derivadas da Lei do Condicionamento Industrial),
pressentia‑se que uma população total de cerca de 5 milhões de habitantes e um poder de
compra médio de 300 dólares (a preços e câmbios de 1974) seria insuficiente para alavancar
uma industrialização sustentada.
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Perkins, Dwight et al. (2001), Economics of Development, Fifth Edition, Norton & Company.
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Export diversification is a very important topic that interests not only policy makers, but
also researchers and academics. Several papers and case studies (Heiko, 2008; Misztal, 2011;
Carrère, Cadot, Strauss‑Khan, 2011) have shown the importance of export diversification for
the economic growth in some countries around the world, finding a positive relationship
between export diversification and GDP per capita, showing that a decrease of the level of
export concentration (increase in the level of export diversification) leads to an increase of
GDP per capita.
In a volatile and uncertain world, countries with higher levels of export concentration are
very sensible to any change in the international market affecting severely the economic situation
of those countries regarding growth, revenues, employment, and poverty. Data from United
Nations Conference on Trade and Development shows clearly that developing countries are the
ones with higher export concentration levels and in turn with more volatile economic growth
throughout the years due to the less export diversification, whereas developed countries have
a more stable economic growth as result of having higher export diversification.
According to the UNCTAD database, Angola is one of developing countries with the highest
export concentration in Africa, with the index of 0,971 in 2011 (measured by Herfindahl index).
This index illustrates well how concentrated Angolan exports are! In fact, data from Angola
Customs shows that oil represents more than 96% of the total export and if combined with dia‑
monds the percentage goes up to 99%. Angolan exports depend entirely on oil and diamonds,
with more emphasis on oil, which is not good for the economy. The price of oil, which is set in the
international market, “command” the economic prospects of the country; if the price is high in
a certain year, the economic growth is higher in that year, as occurred between 2004 and 2008,
and lower if the price is low, fact that happened in 2009 and 2010.
The body of literature on export diversification actually uses indicators from income
‑distribution literature, that measure income concentration, to compute measures of export
diversification. In fact, what is calculated by these indicators is export concentration and by
extension is applied to measure export diversification taking into account that if the level of
export of a given country is concentrated, it means that is not diversified; and inversely if the
export level is less concentrated, it implies export diversification. In this regard, the most com‑
monly used export concentration indexes in the literature are Herfindahl, Theil and Gini.
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This concentration index is the one used by the UNCTAD and is computed according to the
following formula7:
where: X – stands for total value of export; η – number of products (SITC Revision 3 at 3‑digit
group level).
Herfindahl index is normalized to range between zero and one. A value close to zero implies
fully export diversification, whereas values close to one mean highly export concentration.
where:
Carrère, Cadot and Strauss‑Khan (2011) argued that Theil’s index is of particular interest
because: “it can be calculated for groups of individuals (export lines) and decomposed additi‑
vely into within‑groups and between‑groups components (i.e., the within‑ and between‑groups
components add up to the overall index)”8.
7
This formula was taken from http://unctadstat.unctad.org/TableViewer/summary.aspx.
8
Cadot and Strauss‑Khan (2011), p. 2.
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Therefore, Theil’s index is usually decomposed into two subindex, the within‑ and between‑
-groups. This decomposition helps to compute the concentration level that may exist within a
specific export line (which is made up of different products of the same category) or the con‑
centration level that may well exist between export lines.
Between groups:
Within groups:
where: T j – Theil’s subindex for group j (j = 0,1); nj – the number of export lines in group j;
μj – group j’s average export value.
To better understand the evolution of export diversification and how it occurs in general, the
literature make distinction between what is called the intensive and extensive margins of exports.
The intense margin, according to Hummels and Klenow (2005), is to export larger quantities of each
existing good included in the current number of export line; in this case a country exports more
volume of the products or goods that has been trading. In extensive margin, however, a wider set of
goods, different from the existing goods, are exported; here, an economy produce and export new
goods, increasing the number of export lines. Whereas in intensive margin, the number of export
lines remains the same since what is being exported is the same product but in higher volume.
These two authors presented an effective way to measure the Intensive and Extensive mar‑
gins of exports on their paper about “The Variety and Quality of a Nation’s Exports”, published in
2005. On this paper they came out with formulas to compute both the intensive and extensive
margin. The formulas we are using on this session is in fact a version from Cadot et al. (2012),
since on his paper the formulas are presented in more understandable way according to our
purpose. Then, the formulas are the following.
Intensive Margin:
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Extensive Margin:
where: a – is a subscript standing for a given country; xak – the value of country a’s export of good
k; xwk – the world’s export of good k; Ga1 – stands for the group of country a’s active export lines;
m – total number of goods exported worldwide.
As regards intensive margin, the formula help us to know how much of the world’s export
of a given good does a country export, that is, the share of this good in the world’s export of
that good. The extensive margin, according to Hummels and Klenow, “can be thought of as a
weighted count of country a’s active export lines relative to the world’s”9. Essentially this margin
tells us “how much of the goods which country a exports counts in world trade”10.
If facts if we want to compute the country’s share in world trade, one can just multiply both
margins, that is ( – Country’s share in world’s total exports).
Gini index is wildly used in different fields of economics and other sciences. To measure
export concentration using this index, it is just a matter of ordering the exports by increasing
size and computing the cumulative export shares.
This index ranges from zero to one; where a value close to one implies very high export
concentration, consequently, very low export diversification. And value close to zero denotes
export diversification.
Of all export concentration measures presented above, we are going to use the Herfindahl
index in our study, as calculated by the United Nations Conference on Trade and Development
(UNCTAD), for the reason that availability of data concerning the other measures. UNCTAD com‑
pute this index since 1995 and is available for countries and group of countries.
9
Hummels and Klenow (2005), The American Economic Review, p. 710, June 2005.
10
Cadot et al., Survey Diversification, p. 6, 2012.
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After presenting the main indicators used to measure export diversification, now is the time
to review what the literature says about the possible drivers of diversification according to seve
ral empirical studies done on this topic.
Agosin, Alvarez and Ortega (2012) on their working paper about Determinants of Export Diver‑
sification around the World, found out the following factor as drivers of export diversification:
Human capital accumulation: according to their regression human capital, measured by years
of schooling, contributes positively to diversify exports. This positive relationship is explained
by the fact that the increase in the level of education tends to increase the levels of entrepre‑
neurship and productivities of the workers, enabling a country to change its production pattern
and in its turn the exports, “going from primary exports to manufactured goods and high‑value
services. In these latter two categories, the scope for diversification is likely to be higher”11.
Terms‑of‑trade: about this factor they found that improvement in terms of trade is more
likely to concentrate export, but this concentration is lower for the countries with higher years
of schooling. Hence, countries with higher education levels can take advantages of term of trade
improvement to expand export lines by producing new products or goods and services that can
result from the entrepreneurship spirit that levels of education generate.
Another empirical research done by Parteka and Tamberi (2008) on Determinants of Export
Diversification12 using a panel dataset (from 1985‑2004) for 60 countries around the world, pre
sents additional factors that drives manufacturing exports diversification at least in the countries
included in the dataset; those factor are:
Country size (measured either by GDP or Population): their research revealed that, in gene‑
ral, holding other factors constant, “an increase in country size by 1% can be associated with an
increase in the degree of exports diversification by approximately 0,2%”. These results actually
confirm that the bigger the population of a country is, greater is the likelihood of producing
different goods due to the bigger internal market and diversity of tastes among the population;
this also hold for the GDP since the richer a country is the higher is the possibility of producing
and exporting different goods and services.
Easy access to main world markets: an economy that wants to export a diversity of products
has to find mechanisms that easily enable it to get entrance to the markets; taking into account
the trade is done in a world full of barriers of different types, it is crucial to explore mechanisms
such as Unilateral, Preferential and Regional Trade Agreements in order to overcome trade barriers
11
Agosin, Alvarez and Ortega (2012), Determinants of Export Diversification around the World, 1962
‑2000, p. 16.
12
Parteka and Tamberi (2008), Determinants of Export Diversification: An Empirical Investigation, p. 20.
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that do not allow an easy access to markets. In this regard, Parteka and Tamberi (2008) found
that increasing the distance to main markets can decrease the level of export diversification by
approximately 0,2‑0,3%, showing that minimizing the distance definitely boost export diversity.
Quality of Institutions: on his own a producer cannot export products directly without an
assistance from both public and private institutions constituted to promote and facilitate the
exports, such as: the governmental ministers related to the products subject to export, the
customs, the customs brokers, the chambers of commerce, the export and import banks and
so on. If these institutions do work in effective way (by reducing to the minimum the level of
bureaucracy, being quick in the approval of the processes, being interested in and committed to
the economic policies aiming at export diversification and supporting the export of new goods
or products either from existing producers or from new ones), they are fine instrument to drive
export diversity. Clearly the good quality of institutions has a positive impact on diversification,
being capable of reducing the level of export concentration.
Unilateral trade liberalization: it is often said that liberalizing unilaterally the trade can cause
harm to the economy since this will increase the imported goods within the economy provoking
a deficit in the balance of trade. Remarkably Cadot et al. study revealed that the unilateral trade
liberalization combine with the years of schooling increase export diversification. This occurs
through the impact that the imported goods can have on the total factor productivity at the firm
level, since firms with skilled and educated workers tend to learn from imported goods unders
tanding how this products are made and what can be done differently. Consequently, “import
liberalization can be taken as a positive shock on TFP, which should raise the number of industries
13
Cadot et al. (2011), Trade Diversification: Drivers and Impact, p. 267.
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with an upper tail of firms capable of exporting – and thus raise overall export diversification”14.
Therefore if a country wants to diversify its exports should fear the short side effect of unilate
ral trade liberalization, considering that if the country has high levels of education among the
population can benefit from imported goods which has a positive effect on TFP and in its turn
contributes to export diversification.
John Page (2008) points out another important aspect or factor that plays a crucial role in
the process of diversifying the exports through the expansion of the extensive margin, which
is, creating new export lines by promoting the production and exports of new goods. He calls
this factor:
An African popular proverb says “it is important and necessary not to sow only one type of
crop, because if it fails the entire village will severely be affected and suffer”. This proverb helps
us to see how important and crucial it is for a country not to rely only on one export product
or to concentrate its export on few goods in these uncertain and turbulent times that we are
living today, although the classical theory of David Ricardo (1817) pointed out that every coun‑
try should specialize and concentrate on producing and exporting the goods where it has the
comparative advantages in comparison to its trade partners15.
The theory of international trade started by Adam Smith (1775) in his classic book The Wealth
of Nations and developed in details by Ricardo (1817) on his book The Principles of Political
Economy and Taxation, (where he formulated the law of comparative advantages and gave the
classical example of Portugal and England about the production and export of wine and cloth
by the two countries and argued that since Portugal has comparative advantages in producing
wine over England it should focus on this product and England on other hand on the production
of clothes since it had comparative advantages over Portugal), and extended in modern times
14
Cadot et al. (2011), Trade Diversification: Drivers and Impact, p. 269.
15
Of course Ricardo develops his model in a static environment.
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by the Heckscher‑Ohlin‑Samuelson theory, urges the nations to focus their efforts on producing
and exporting goods and services in where they have comparative advantages over their trade
partners.
However, the international trade theory does not imply that the nations should not differen
tiate exports by producing and exporting diversified sets of goods and services. The lack of
comparative advantage should not hold back a country to produce and export different products
taking into account one can learn to improve the efficiency in production by not holding back but
yes, by producing. Besides, there are sound and valid reasons why a country should endeavour
to make an effort to diversify its export and not to concentrate it on few products.
The literature on export diversification presents several reasons and some stylized facts
why a country should strive to diversify its exports, among them: first of all the positive effect
export diversification has on GDP per capita; second the role of export diversification as a hedge
against sectoral fluctuation or volatility; third, the impact of export diversification on natural
resources curse or Dutch Disease; and finally the effect of export diversification on democracy
improvement.
We will now examine each of the above mentioned reasons to see how important export
diversification is and why countries should set economic policies aiming at it.
First reason: export diversification has a positive effect on GDP per capita
In theory, a country which diversifies exports produces more different goods and services
with the same number of workers and thereby or in doing so, it increases the gross domestic
production per capita. In fact this does not occur in a linear way, since according to Imbs and
Wackziarg (2003) the relationship between export concentration (measured by Gini Index) and
GDP per capita plotted graphically has a U‑shaped curve. They argued that decreasing export
concentration (which implies the increasing export diversification) leads to an increase in the
level of GDP per capita up to certain amount (a threshold that they computed ranging between
9 to 11 thousand USD) from which a country starts to specialize in exporting some goods and
services which will lead to concentrate the export again.
Also Hesse (2008) in his working paper found out an empirical evidence of a positive effect of
export diversification (concentration) on GDP per capita growth. According to him the “effect is
potentially nonlinear with developing countries benefiting from diversifying their exports in con‑
trast to the most advanced countries that perform better with export specialization”16.
A more recent empirical research done by Misztal (2011) concerning export diversification
and economic growth in European Union member states concluded that “during the years 1995
16
Hesse, H., 2008, Export Diversification and Economic Growth: Commission on Growth and Develop‑
ment, Working Paper N.o 21, page V.
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to 2009 export diversification (concentration) was one of the most important factors that deter‑
mined the level of GDP per capita in the EU” 17. He found that the impact of export concentration
on changes in GDP per capita was about 0,33 and that more than 30% of the variability of income
per capita in the EU was due to the changes in the index of export concentration. It is important
to highlight that in the particular case of the EU countries, he did not find a U‑shaped curve,
as Imbs and Wickziarg did in 2003, but yes, a W‑shaped curve, which meant according to him,
during 1995 to 2009 that “the exports diversification increased in countries of EU with relatively
low GDP per capita, while the exports concentration increased in countries with relatively high
GDP per capita”18. Regarding the income per capita threshold beyond which the countries of
the EU he studied increased their level of export concentration was 6000 USD for the poorest
countries and about 20 000 USD for the richest countries of the EU.
Thus, it’s crucial to diversify exports (reduce export concentration index) in order to have a
higher level of GDP per capita growth and to generate more income for the populations in the
economy.
Second reason: export diversification can serve as a hedge against economic growth volatility
The world statistics on economic growth show us clearly that the growth rates, throughout
the past century, of poor countries around the world are more volatile and unstable vis‑à‑vis
to those of the rich and more developed countries. Why is this so? Why do poor countries face
greater fluctuation and instability of growth than the rich countries? The answer to this ques‑
tions helps to see how important diversification is.
Koren and Tenreyro (2007) on their paper on volatility and development19 did a volatility
accounting analysis in order to find out the source of the growth volatility in poor countries. They
presented three main reasons, one of them being that the less developed countries concentrate
their production in fewer and more volatile sectors and very often the sectors where they specia
lize in are affected by aggregate shocks either internal (due to country specific risk such as political
instability or even macroeconomic policy) or external (coming from the international markets).
They concluded that almost 50% of volatility that poor countries experience is for the reason
that they concentrate or specialize in fewer and more volatile sectors. This does not occur with
rich countries since they have a more diversified economic structure which allows them to have
a more diversified export structure.
So, Koren and Tenreyro (2007) showed that by having a diversified economic structure
(which in its turn leads to a diversified export structure) developed countries are able to shield
17
Misztal (2011), Export Diversification and Economic Growth in European Union Member States,
Oeconomia 10 (2) 2011, p. 63.
18
Ibid.
19
This paper was published in the Quarterly Journal of Economics, pp. 243‑287, February 2007.
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themselves against economic growth volatility and sustain their economic development. Less
developed countries, if they want to protect themselves from the growth instability that they
have being facing throughout the years, should strive to diversify their production structure by
producing and exporting new products and not relying only on their fewer and volatile existing
production sectors which are the main source of their income.
The international financial and economic crisis that affected and is still affecting the world
in current days was a wakeup call for all countries and particularly for the poor ones to diversify
their economies and exports if they do not want to pass through the same experience again in
the years to come. Countries with a more diversified economic structure were less affected by
this crisis, revealing clearly that diversifying the export structure is indeed a protection or shield
against economic volatility and poor countries are urged to do so if they want to have a less
volatile and sustainable economic growth and development.
Third reason: the positive impact that export diversification might have on the fight against natural
resources curse and Dutch disease
It is well documented in the economic literature, through statistic data and empirical
researches, how most of resource‑rich countries all over the world20, especially in South Ame
rica and in Africa, have tended to fail to grow fast and steadily despite the natural resource
abundance that they have. This phenomenon is called natural resources curse due to fact that
the resources in this countries, instead of boosting a sustainable economic growth, are actually
viewed as detrimental to the growth. Sachs and Warner (1995), in their working paper entitled
Natural Resources Abundance and Economic Growth, documented what they called a statically
significant evidence of the negative relationship between natural resource intensity or concen‑
tration and subsequent economic growth, consequently confirming empirically the theory of
natural resources curse.
Other phenomenon linked to natural resources curse is the Dutch disease that for some is
viewed as one of the causes of the natural resources curse since this so called disease is the
crowding out of the non‑natural resources sectors of the economy, such as the manufacturing
industry, caused by the increase of the real exchange rate and wages driven by the increase of
the revenues from natural resource exports, damaging in this way the other productive sectors
of the economy. However, Frankel (2010) argued that viewing the Dutch disease like this we are
in effect referring to natural resources curse.
20
Of course with exception of countries such as Australia, Botswana, Chile, Canada and Norway, that
although riches in natural resources, were able to be “growth winners” by taking full advantages of
their resources to diversify their economy and maintain in this way a steady and sustainable eco‑
nomic growth with striking contrast with other countries such as Angola, Bolivia, Democratic Repu
blic of the Congo, Nigeria, Zambia, Saudi Arabia and Venezuela. Mehlum et al. (2006), Institutions and
the Resources Curse, in the Economic Journal, 116 (January), pp. 1‑20.
26 |
In view of the damaging effect that natural resources curse and Dutch disease have on the
economic growth, what role can a diversification of the economic structure have in counterac
ting this effect? Well, Matsuyama (1992), in his paper where he formalized a model of endo
genous growth that demonstrated the relation between agricultural productivity and growth,
gives the intuition that the manufacturing industry is characterized by learning by doing and
this implies that a diversification out of extractive industry (of natural resource endowment)
into other economic sectors such as services and manufacturing industries could help boost a
sustainable economic growth.
For this reason, export diversification if taken seriously can be used as a valid reason to set
economic policies aiming to promote export differentiation through the targeting of economic
structure diversification by using the revenues from the natural resource exports to strengthen
and support the no‑commodities sectors of the economy. A well or fairly diversified economy,
and consequently export structure, can be viewed as a shield against the tendency of allowing
the revenues coming from the extraction of natural resources to hinder and crowd out the other
sectors of the economy. Policymakers in this case are forced to carefully ponder over the advan‑
tages and disadvantages, not only in the short term, but also in the long‑run for the economy
as a whole of allowing the existence or presence of this harmful phenomenon in the economy.
That’s why we argue that promoting export diversification can have a positive effect on the ruling
out of resources curse and Dutch disease phenomenon’s in the economy.
The transition from oligarchic (or dictatorship) institutions to democratic ones during the
centuries was accomplished in some cases with the emergence of middle classes and their
consequential economic empowerment from gradual participation in the ownership structure
of existing economic activities and in new ones. Acecmoglu (2008) argued that the high levels
of income distribution that may be obtained in democratic institutions are one of the attractive
features of the democracy. According to him, democratic societies “may be better able to take
advantage of new technologies”21 making it possible to start new businesses faster than in dic‑
tatorship societies.
The extent to which diversification can lead to better democratic institutions needs to be
carefully analysed in view of the fact that not all forms of diversification lead to better institu‑
tions; this warning comes from Wiig and Kolstad22 (2011). These two Norwegian researchers
argued that it is the pattern of industrial activity, in which an economy is centred on, which
affects institutions like democracy rather than diversification per se, and where diversification
21
Acecmoglu (2008), Oligarchic versus Democratic Societies, Journal of the European Economic Asso‑
ciation, March 2008 6(1), p. 1.
22
Arne Wiig and Ivar Kolstad are both economists and senior researchers at Christian Michelsen Ins‑
titute (CMI) of Norway.
| 27
has a positive impact on institutions, in some cases diversification might be hard to accomplish
when it intimidates the power of the ruling party or elite.
Although not all forms of diversification lead to enhanced democratic institutions, it is a fact
that diversification increases the income per capita and if well distributed this will improve the
economic capacity of the citizens which in its turn will more likely allow them to earn higher
incomes and give them more power to demand or require changes in institutions that can bene‑
fit all in the economy and not only the ruling elite. So, it is good to promote export diversification
in view of its effect on the quality of institutions and economic democracy or liberalism.
Conforme se referiu, muitos estudos foram e estão a ser elaborados sobre a diversificação
económica no mundo, utilizando diferentes instrumentos estatísticos e económicos de enqua‑
dramento e análise. Os casos que a seguir são reportados têm como variável de análise as
exportações.
Uma visão geral da diversificação em alguns países da África Subsariana, ao longo dos últimos
25 anos, revela que:
• O nível de concentração das suas exportações aumentou entre 1995 e 2009. Neste mo‑
mento, a África Subsariana é menos diversificada do que os países em desenvolvimento,
em geral.
• Os principais exportadores de petróleo na África Subsariana, como Angola, Nigéria, Sudão,
Guiné‑Equatorial, Congo e Gabão, são os países que se apresentam com valores mais ele‑
vados do índice de concentração das exportações.
• Também alguns exportadores de outros minerais, como a Zâmbia, denotam o mesmo de‑
feito.
• Países sem acesso a grandes reservas de petróleo, tais como África do Sul, Quénia e Mo‑
çambique têm uma estrutura económica com uma base mais diversificada.
Estes padrões podem ser reconhecidos na figura seguinte, onde a concentração de expor‑
tação é dada no eixo vertical. Como a figura seguinte revela, Angola é o país menos diversifi‑
cado (mais concentrado) da amostra, seguido de perto por vários outros países produtores de
petróleo23.
23
Estas conclusões são confirmadas mais adiante (capítulo 4) pelos indicadores específicos da diver‑
sificação da estrutura económica interna.
28 |
Figura 1 – Concentration of merchandise exports and democracy Sub‑Saharan Africa (SSA), 2009
| 29
Nota‑se que a Malásia e a Indonésia se situam já numa fase pós‑petróleo, em que a manufac‑
tura tem um peso determinante na criação de valor, emprego e rendimento. O México e o Brasil
encontram‑se, igualmente, numa fase de industrialização forte das suas economias.
Algumas das razões para as diferenças entre os países representados nas figuras anteriores
são devidas à maior desregulamentação das actividades económicas (que não significa ausência
de intervenções correctoras sobre as falhas de mercado), à aplicação de programas de promoção
da indústria, ao desenvolvimento de competências (educação, investigação e desenvolvimento,
formação, etc.), bem como à existência de regimes fiscais e sistemas de incentivos financeiros
amigos da diversificação e estimulantes do investimento privado.
Para que isto se verifique, torna‑se indispensável uma boa organização institucional do
Estado, transparente nos processos de outorga dos incentivos, célere na resolução dos pro‑
blemas burocráticos, equidistante na aplicação da lei e dos critérios de acesso a determinados
benefícios e competente no seu funcionamento24.
24
Quantas vezes o poder político reconheceu estes aspectos e inscreveu‑os nos seus programas de
governação? A questão central está na sua aplicação, dificultada pelo emaranhado de interesses eco‑
nómicos dos detentores de cargos públicos, que levou o Presidente da República a apelar por uma
completa separação entre negócios e exercício de funções de governação pública.
30 |
O gráfico abaixo mostra as pontuações KEI (Knowledge Economic Index, ou seja, as pontua‑
ções no conhecimento necessário para o desenvolvimento económico, na base da diversificação)
para alguns países produtores de petróleo, bem como para oito economias da região da SADC,
normalizados com o “resto do mundo”.
Figura 4 – Knowledge Economy Index Comparison Group: All Countries, 2009 versus 2000
| 31
A figura anterior indica que no último período de 10 anos (2000 a 2009), em que Angola
experimentou um surto significativo de crescimento económico e de modernização de algumas
estruturas materiais e imateriais, impulsionado pelo sector do petróleo, houve poucos efeitos
sobre o nível geral de conhecimento e de escolaridade, medida pela metodologia KAM.
Alguns argumentos teóricos sugerem que a diversificação da economia pode não melhorar,
acto contínuo, as oportunidades de democracia. O efeito diversificação/democracia depende
dos sectores envolvidos no processo de desconcentração da estrutura produtiva, sectorial e
regionalmente. Uma importante dimensão deste processo é o grau de intensidade capital/
tecnologia das indústrias, e outras actividades que estão a ser parte do processo de diversi‑
ficação.
Os países cujo PIB tem uma percentagem elevada de rendimentos oriundos da exploração
de recursos naturais, como o petróleo, a diversificação tem sido analisada nas perspectivas
seguintes:
• A diversificação em sectores onde os factores sejam mais rígidos, como a terra (portanto,
na agricultura), cuja propriedade ou usufruto está restrita a uma faixa pequena da popula‑
ção, pode dificultar a democratização, ao exigir uma maior dinâmica na sua utilização para
o processo produtivo25.
25
No caso de Angola têm sido referenciados casos de reserva de grandes extensões de terra sem uti‑
lidade económica imediata. O sector agrícola é um dos de maior peso num processo de diversificação
económica e se ocorrem, sistematicamente, casos de imobilidade do factor de produção básico, então
muitos estrangulamentos se oporão à sua dinâmica.
32 |
As elites dos países em transição para a diversificação económica enfrentam um claro trade
‑off para decidir se devem ou não prosseguir uma estratégia para introduzir novas actividades
e promover novos sectores e novas regiões de desenvolvimento económico. É evidente que
este processo poderia ajudá‑las a aceder a novas fontes de renda, mas correm o risco de essas
novas actividades poderem enfraquecer o seu poder político e, consequentemente, as vias de
obtenção de novos rendimentos.
| 33
Alves da Rocha
Francisco Paulo
Regina Santos
Apesar das abordagens que enfatizam a entrada de alguns países numa sociedade de lazer
e de serviços, conhecida também por sociedade pós‑industrial, a indústria continua a ser fonte
de poder económico e a desempenhar um papel fundamental na organização dos territórios,
na dinâmica das transformações dos sistemas produtivos e na criação de valor. Por isso, todos
os países, independentemente do seu estádio de desenvolvimento, inscrevem nas suas agendas
de desenvolvimento a industrialização.
A geografia industrial mundial tem mudado muito desde 1980, mas com uma acentuação
depois de 1990. Em 20 anos, portanto entre 1990 e 2010, ocorreram transformações profun‑
das na hierarquia económica mundial. Alguns dos países emergentes são os responsáveis por
estas fantásticas mudanças. O peso industrial da Europa (União Europeia, Islândia, Noruega e
Suíça) diminuiu consideravelmente durante aquele lapso de tempo: de 36% passou para 24,5%,
estando‑se perante um processo acentuado de desindustrialização (ainda que relativa) induzida
pela deslocalização das indústrias dos centros desenvolvidos para as periferias em desenvolvi‑
mento. Em 2011, a China tornou‑se na primeira potência industrial do mundo, acabando com
34 |
dois séculos de hegemonia dos Estados Unidos da América. O Brasil, actualmente a sexta eco‑
nomia mundial (segundo a classificação do Banco Mundial)26, ultrapassou a França na produção
industrial, de acordo com o IHS Global Insight27. A Coreia do Sul está à frente do Reino Unido
na capacidade de produção industrial e a Índia apressa‑se a ultrapassar a sua antiga potência
colonial e imperial.
A estratégia que alguns países emergentes estão a seguir, no quadro da sua crescente
afirmação na geografia industrial mundial passa por negociações profundas e duras com as
26
World Bank, World Development Indicators, 2012.
27
World Manufacturing Production 2010, www.ihs.com.
28
Entre 1990 e 2010, os lucros dos 220 maiores grupos europeus obtidos nos países emergentes pas‑
saram de 15% para 24%. Ver Laurent Carroué, A Indústria, Alicerce de Poder, Le Monde Diplomatique,
Angola, Abril de 2012.
29
A crise de rendimentos e o empobrecimento na Europa são uma oportunidade para os produtos
de média e baixa gama provenientes da China e da Índia, o que explica a enorme procura em pratica‑
mente todos os países da Zona Euro. No entanto, estes dois países estão, do mesmo modo, a competir
em produtos de alta gama, nos domínios das telecomunicações, indústria espacial, aeronáutica, com‑
boio de alta‑velocidade, nuclear, indústria naval, etc.
30
Guillochon, Bernard; Kawecki, Annie; Peltrault, Frédéric; Venet, Baptiste, Économie Internationale,
Dunod, Sixiéme Édition, 2009, e também Appleyard/Field/Cobb, International Economics, Fifth Edi‑
tion, McGraw‑Hill International Edition, 2006: “the Linder theory postulates that tastes of consumers
are conditioned by their income levels; the per capita income level of a country will yield a particular
pattern of tastes”.
| 35
A geografia mundial da inovação está, igualmente, a mudar, prevendo‑se que a China possa
dispor, até 2025, de 30% dos investigadores mundiais. Os chineses apresentaram, em 2010,
um orçamento para a investigação que coloca a China na segunda posição em termos mun‑
diais, ainda longe dos Estados Unidos, mas à frente do Japão. Em 2011, a China tornou‑se o
primeiro depositante mundial de patentes – o que a coloca numa posição invejável em matéria
de desenvolvimento tecnológico – pretendendo passar do “made in China” para o “designed
in China”32.
Em dois anos, 2007 e 2009, a crise europeia destruiu 20% do valor da produção industrial33,
com recuos diferenciados consoante os países: 15% na Europa Central e Oriental, ⅓ na Estónia,
¼ na Letónia. Nos grandes países europeus as quebras igualmente se pautaram por registos
impressionantes: 20% na Alemanha, 25% em França e mais de 21% na Itália, na Finlândia e na
Suécia. Dir‑se‑ia que os países das grandes revoluções industriais estão afectados pela globali‑
zação do comércio, pela incapacidade de competir com os mais aguerridos países emergentes e
por desequilíbrios internos que consequencializam margens de crescimento cada vez mais redu‑
zidas. Naturalmente que esta intensidade de desindustrialização se reflecte no desemprego – um
dos segmentos mais importantes da constituição de procuras internas sólidas, representativas
e estimulantes do investimento. Desde o início da última crise financeira e económica – Outono
de 2008 – e o final de 2010, a União Europeia assistiu à destruição de mais de 4 milhões de
empregos industriais (11% dos efectivos totais empregados). E o cenário para 2012‑2014 pode
ser ainda pior devido aos fortes impactos negativos dos programas de austeridade orçamental
que a maior parte dos países da Zona Euro está a implementar com a finalidade de se tornarem
sustentáveis as respectivas dívidas soberanas.
31
Já por algumas vezes escrevi e me pronunciei publicamente sobre a contradição inerente à opção
doutrinária do MPLA e do Governo de se criar uma burguesia nacional endinheirada como forma
de oposição a uma penetração exageradamente “violenta” das empresas e dos capitais estrangeiros.
O mais importante era ter‑se dotado o país de uma mão‑de‑obra, a todos os níveis, com elevadas qua‑
lificações e excelência de procedimentos, trabalho e produtividade. O retorno para o Orçamento de
Estado seria muito maior, pois a maior parte desta burguesia nacional é improdutiva.
32
Um dos grandes propósitos da Estratégia de Lisboa para a União Europeia tinha sido a consagra‑
ção de pelo menos 3% do PIB de cada país à Investigação & Desenvolvimento e à inovação, de modo
a caminhar‑se para a criação duma economia europeia do conhecimento. Esta decisão nunca foi cum‑
prida.
33
A queda no valor bruto da produção industrial em Angola entre 1991 e 2000 foi de 21,6%.
36 |
34
O PIB industrial, em média dos últimos 40 anos, tem um peso de 12% no PIB e o emprego de 11%
no total da força de trabalho francesa.
35
Os ganhos de produtividade proporcionados pela natureza tecnológica das actividades industriais
foi também uma das razões para esta desindustrialização do emprego. O desemprego industrial tem
incidido mais sobre a mão‑de‑obra menos qualificada.
36
A provar que a Teoria Clássica do Comércio Internacional ainda fornece indicações relevantes para
a especialização produtiva e a divisão internacional do trabalho.
37
Trata‑se, afinal e também, duma questão de definição do sector industrial, havendo algumas que
incluem os serviços industriais num conceito mais abrangente de indústria. Algumas tarefas de con‑
cepção, manutenção ou mesmo de secretariado passaram a ser registadas como serviços, quando
anteriormente o eram na actividade industrial.
38
No entanto, a Alemanha tem outros argumentos em termos de competitividade estrutural que tem
aguentado a sobrevalorização da moeda única europeia: qualidade da formação, qualidade da infra
‑estrutura, qualidade da organização do trabalho, importância da investigação e da inovação, etc.
39
Custo horário do trabalho na indústria francesa foi, em 2008, de 33,16 euros (33,37 euros na Alema‑
nha) e a produtividade média por trabalhador é 21% superior à média europeia e 15% superior à da
Alemanha. Por isso é que a estratégia sistemática de diminuição contínua do custo do trabalho se revela
inadequada. Onde a França perde para a Alemanha é em atributos relacionados com a qualidade da
força de trabalho, a capacidade de organização, inovação, pesquisa e investigação.
| 37
40
Ver‑se‑á mais adiante que alguns destes factores também ajudam a compreender a desindustriali‑
zação de Angola, embora neste caso existam explicações específicas e talvez próprias para se enten‑
der a tremenda redução do peso industrial na economia nacional. Os equívocos do sistema socialista
de produção – implantado numa altura em que os sinais da sua desagregação mundial eram por
demais evidentes, tendo faltado aos dirigentes angolanos a necessária presciência política para o
abandonar – foram uma das causas mais fortes da dramática redução do VAB industrial na economia.
38 |
Este regresso das indústrias43 é visto como uma das formas de fazer descer o desemprego, de
abrandar o declínio relativo das economias mais desenvolvidas (em relação às economias emer‑
gentes) e de evitar o desequilíbrio do comércio externo. E reveste‑se, igualmente, de particular
acuidade no actual contexto das dívidas soberanas, uma vez que as agências internacionais de
rating sancionam severamente os desequilíbrios externos e os défices fiscais.
41
O sistema financeiro tem sido o responsável pelas diferentes crises financeiras e económicas mun‑
diais e um factor de desigualdades no mundo.
42
Remarks by the President on Insourcing American Jobs, Casa Branca, 11 de Janeiro de 2012
(www.whitehouse.gov).
43
Em França designa‑se este movimento por “relocalização”.
44
A situação parece reverter‑se nos últimos anos, sendo o indicador mais citado a recuperação da
indústria automóvel americana.
| 39
Esta convergência entre os custos de trabalho tem sido reconhecida pelo Presidente Barack
Obama em relação à China, onde os custos salariais horários têm subido a um ritmo de 13% ao
ano, a preços constantes. A revalorização do yuan também está em causa, tendo a sua relação
com o dólar americano aumentado mais de 30% entre 2005 e 2012. Nos Estados Unidos está
a ocorrer um ajustamento para baixo nos custos do trabalho, o que tem sido aproveitado por
algumas empresas americanas a repatriarem as suas actividades (insourcing).
Na Alemanha esta pressão sobre os custos salariais do trabalho (remunerações mais contri‑
buições sociais) está também a verificar‑se46. A redução tem sido particularmente forte e con‑
centrada nos salários mais baixos, que não pararam de aumentar, na sua percentagem relativa,
desde o final dos anos 90. As contribuições sociais foram drasticamente reduzidas.
O Estado do bem‑estar social – que foi a maior experiência de solidariedade jamais inven‑
tada e que propiciou que da sua intervenção se disciplinasse e democratizasse a distribuição
45
Bhagwati, Jagdish; Panagarya, Arvind and Srinivasan, T. N., Lectures on International Trade, Second
Edition, Massachusetts Institute of Technology, 1998: “according to this theorem, an increase in the
relative price of the labor intensive good leads to a rise in the relative as well as the real return of labor
of labor and a decline in the relative and real return to capital”.
46
De resto, é a receita que a troika FMI/Banco Central Europeu/Comissão Europeia está a aplicar nos
programas de ajustamento fiscal e redução das dívidas soberanas na Europa.
40 |
do rendimento nacional – está a chegar ao fim e os sistemas económicos estão cada vez mais
a ser dominados pelos sistemas financeiros, havendo quem veja nesta característica – que se
tornou marcante a partir da década de 80 – uma das razões do falhanço do actual modelo de
desenvolvimento económico. O sector industrial, que tradicionalmente era um manancial de
criação de emprego, tem adoptado processos tecnológicos fortemente poupadores de mão
‑de‑obra, assistindo‑se mesmo em muitos países a despedimentos em massa ocasionados pela
natureza da tecnologia e pelas fusões de empresas (uma das formas de melhor se resistir à
concorrência).
A análise dos Valores Agregados por sectores e por países é o ponto de partida para o estudo
das transformações estruturais na África Subsariana (ASS), amostra definida.
| 41
| 43
continuação
47
BP Statistical Review of World Energy, June 2012.
48
Ibid.
44 |
Um sector com uma influência central nos processos de transformação estrutural das eco‑
nomias é a indústria transformadora. Os estudos, via de regra, baseiam‑se na repartição do VAB
da manufactura por 5 sectores de actividade: alimentação, bebidas e tabaco, têxteis e vestuário,
máquinas e equipamento de transporte, indústria química e outras transformadoras.
Não foi possível obter informação relevante e transversal para cada um dos países da amos‑
tra, pelo que não se consegue visualizar o sentido e a intensidade de alteração das estruturas
industriais dos países africanos da amostra.
O gráfico da página seguinte mostra que em Angola50, Tanzânia e Maurícias pode ter sido
registado um processo de ajustamentos sectoriais com alguma relevância.
49
O coeficiente geral de transformação da estrutura económica é dado pela média aritmética da
soma, em módulo, das diferenças entre as participações sectoriais no PIB no ano base e no ano limite.
50
As informações para Angola são originárias de algumas instituições públicas e de estimativas do
CEIC. Logo, podem não ser, necessariamente, comparáveis com os registos dos restantes países.
| 45
A análise do emprego seria de enorme valia para a compreensão dos movimentos de trans‑
formação estrutural, até este momento medidos pela estrutura do PIB e pela produtividade do
capital. Contudo, as publicações do Banco Mundial – que estão a ser utilizadas para esta pesquisa
– não contemplam estatísticas do emprego para a maior parte dos países africanos, em particu‑
lar para os integrantes da amostra. Seguramente que esta falha se deve aos países: ou porque
inexistem, ou são lacunares as estatísticas nacionais de emprego, ou porque, politicamente, não
é conveniente a sua divulgação internacional (e mesmo nacional). Assim, na falta de uma base
comum de análise, a variável emprego foi retirada do estudo das transformações estruturais.
Deixa, por conseguinte, de ser possível o cálculo das taxas de transferência de força de trabalho
entre os sectores das economias em estudo.
As exportações são outra variável que também absorve as transformações estruturais dos
tecidos produtivos.
46 |
2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010
África do Sul 8 9 3 2 10 10 11 33 54 47
Nigéria 0 3 0 2 100 87 0 1 0 7
Angola 99 97 2 1 1
Quénia 59 48 9 11 8 4 3 2 21 35
Camarões 15 24 9 15 67 50 6 3 3 8
Costa do Marfim 51 50 14 10 21 24 0 0 14 16
Tanzânia 66 32 13 7 0 3 1 34 20 24
Botswana 3 5 0 0 0 0 7 15 90 80
Zâmbia 9 6 4 1 1 1 74 86 11 6
Gabão 1 1 12 9 83 83 2 3 2 4
RDC
Namíbia 29 23 1 0 2 0 11 31 56 45
Maurícias 18 37 1 1 0 0 0 0 81 62
Congo
Chade
Ruanda 57 52 3 3 0 0 37 37 3 8
Moçambique 42 16 11 4 21 20 17 54 7 2
Entre os 17 países da amostra, África do Sul, Nigéria e Angola (nestes dois casos com elevada
participação do petróleo) são as economias que mais exportam na África Subsariana e represen‑
taram, em 2010, 75,3% do total das suas exportações totais.
| 47
Figura 6 – As economias que mais exportam na África Subsariana (mil milhões de USD)
Nigéria, Angola e Gabão têm as suas exportações concentradas num único produto não
transformado – o petróleo. Daí que os respectivos coeficientes de transformação estrutural
sejam baixos.
48 |
Tabela 4 – Os países que melhor diversificaram as suas exportações (% nas exportações totais)
| 49
continuação
2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010
RDC
Namíbia 17 14 1 1 3 14 1 1 78 70
Maurícias 14 21 2 2 12 19 1 1 70 56
Congo
Chade
Ruanda 21 13 3 2 14 8 2 1 60 76
Moçambique 14 12 1 1 13 20 1 1 68 50
Os dois grandes grupos de produtos onde se concentram as importações destes países sub‑
sarianos são os produtos manufacturados – com uma incidência nas máquinas, equipamentos
industriais e agrícolas, e material de transporte, mostrando‑se, assim, as ainda grandes fragi‑
lidades das economias africanas na fabricação de bens de alta tecnologia – e os derivados do
petróleo.
Zâmbia, Ruanda, Maurícias e Moçambique aparecem como os que mais ajustamentos estru‑
turais introduziram nas suas economias, com uma transferência das importações de produtos
alimentares e matérias‑primas para produtos acabados.
50 |
O grau de exposição das economias da amostra – medido pelo peso das exportações no PIB
– é, em média, aceitável, com um valor em 2010 de 34%.
Os países mais expostos aos choques externos e mais dependentes dum número reduzido
de produtos exportáveis são Angola, Gabão e Congo, todos produtores de petróleo.
Curiosa e surpreendentemente a Nigéria não consta deste grupo de países de maiores riscos
de exposição ao exterior, o que é consistente com a diminuição do peso do petróleo nas suas
exportações (de 100% em 2000, para 87% em 2010, expresso na tabela da estrutura das expor‑
tações), com os indicadores de diversificação da sua economia que constam de muitos estudos
e com o coeficiente de transformação da sua estrutura económica (igual a 6).
| 51
continuação
Do grupo dos países mais dependentes da exportação de petróleo, Angola é o que reduz de
uma forma mais substancial o seu grau de exposição ao exterior, o que também está em linha
com as transformações estruturais da sua economia que têm vindo a ser assinaladas.
África do Sul, Namíbia, Camarões, Quénia e Ruanda são exemplos de grande estabilidade na
sua exposição ao exterior, explicada, aparentemente, por um aumento na dimensão dos respec‑
tivos mercados internos, num processo de substituição do mercado externo, enquanto factor de
crescimento económico. As Maurícias destacam‑se por ser a economia com o maior valor rela‑
tivo do Mercado interno: o consumo interno aparente foi estimado em 122% do PIB em 2010.
52 |
Francisco Paulo
Angola tem o desafio de diversificar a sua economia que actualmente depende de um único
produto de exportação, o petróleo. Em 2012, cerca de 96% das exportações totais de Angola
foram de produtos relacionados com petróleo. A posição dominante deste produto na economia
é um sinal claro de falta de diversificação da estrutura económica do país.
No processo da diversificação da economia nacional, Angola pode aprender das experiên‑
cias de outros países que tiveram resultados positivos na diversificação das suas economias via
industrialização e promoção das exportações.
Segundo Westphal, “em 1960, a economia sul‑coreana era dominada pela agricultura e
mineração. Com poucas excepções, o sector industrial fornecia apenas produtos simples de con‑
sumo”51. Desde 1980, a economia é dominada pelo sector de indústria e manufactura, e em
2010, o peso do sector industrial no PIB foi de 39,4%. As principais indústrias estabelecidas
desde 1960 vão desde indústrias de produtos químicos e electrónicos para automóveis e equi‑
pamentos eléctricos pesados.
De acordo com Alice Amsden52, para a Coreia alcançar notáveis taxas de crescimento econó‑
mico e uma forte diversificação da sua economia, o país usou de um modo eficiente e racional
as seguintes instituições:
• Um Estado intervencionista moderado.
• Grandes grupos empresariais diversificados, que actuavam em vários negócios53.
51
Larry, Westphal, Industrial Policy in an Export‑Propelled Economy: Lessons from South Korea’s Expe‑
rience, Journal of Economic Perspective, p. 43, 1990.
52
Amsden, Alice, Asia’s Next Giant: South Korea and Late Industrialization, New York: Oxford Univer‑
sity Press, 1989, XVI, p. 38.
53
Os grandes grupos empresariais coreanos surgem de uma forma impressionante. De acordo com
Alice, “as grandes empresas consolidaram o seu poder em resposta a incentivos do Governo com base no
bom desempenho das empresas. Empresas que tinham desempenho impressionantes nas áreas de expor‑
| 53
O que ocorreu na Coreia mostra que, em alguns casos, para se alcançar a expansão da acti‑
vidade económica, a intervenção do Estado é necessária, pois esta pode direccionar mais inves‑
timentos para a actividade económica. Por exemplo, o Governo coreano interveio para proteger
a indústria têxtil de algodão local da competição japonesa; a intervenção ocorreu sob a forma de
tarifas, quotas, subsídios à exportação, crédito subsidiado, e assim por diante. Esta intervenção
foi necessária, uma vez que as forças de mercado por si só não podiam desenvolver a economia
e a diversificação da sua estrutura.
A protecção concedida às empresas por parte do Estado não era arbitrária e aleatória, visto
que as empresas tinham que alcançar uma série de objectivos previamente estabelecidos no
que dizia respeito ao volume de exportação que tinham que alcançar, à performance da sua
actividade empresarial e ao nível de transparência da gestão.
Segundo Alice, na Coreia do Sul no início do processo da diversificação, “não havia espe‑
cialistas no sector industrial tendo em conta os padrões mundiais”54; logo, os engenheiros de
produção que eram os guardiões de transferência de tecnologia vieram das escolas. Para isso, o
Estado teve que investir fortemente na qualificação da força de trabalho, desde o nível primário
até ao superior.
O Governo assegurou que engenheiros suficientes fossem formados para garantir que um
número deles seguisse a carreira pretendida pela sua formação. Um grande número de enge‑
nheiros fez com que houvesse competição entre eles para obter os melhores empregos e pro‑
moções mais rápidas, aumentando assim a produtividade e diminuindo o seu custo para as
empresas, pois havia uma oferta relativamente grande de engenheiros qualificados.
O sucesso da Coreia em diversificar a sua economia em parte deveu‑se ao esforço que se fez
em investir na formação da sua população em geral e na qualificação da sua força de trabalho
em particular, fazendo com que houvesse uma força de trabalho qualificada e bem treinada,
pois havia muitas escolas no país.
tação, I & D, ou introdução de novos produtos, eram recompensadas com mais licenças para expandir os
seus negócios, ampliando assim a escala das grandes empresas em geral. Em troca de entrarem em indús‑
trias especialmente arriscadas, o Governo recompensava‑as com outras licenças industriais em sectores
mais lucrativos”, promovendo assim o desenvolvimento de grupos empresariais com negócios diver‑
sificados. Empresas com fraco desempenho eram penalizadas ao ponto de lhes retirarem as licenças.
54
Amsden, Alice, Asia’s Next Giant: South Korea and Late Industrialization, New York: Oxford Univer‑
sity Press, 1989, XVI, p. 215.
54 |
Desde o início dos anos 1960, a política industrial sul‑coreana teve dois objectivos principais
e interligados: incentivar as exportações e promover as indústrias nascentes. As exportações das
indústrias bem estabelecidas têm sido incentivadas com uso de políticas neutras, isto é, políticas
que não afectam negativamente as relações comerciais com os países parceiros55; políticas não
‑neutras56 foram usadas para a promoção de indústrias nascentes.
Para apoiar as empresas com falta de recursos para financiar as exportações, o Governo
garantiu a disponibilidade de financiamento adequado, permitindo aos exportadores obterem
empréstimos na proporção da sua actividade de exportação.
A fim de encorajar as empresas a exportar cada vez mais, Westphal observa que “o Governo
anunciava publicamente as metas trimestrais de exportação dos commodities, dos mercados e
das empresas”. O progresso em direcção às metas e a situação do comércio externo eram revistos
regularmente em uma Conferência Mensal de Promoção Comercial, presidida pelo Presidente da
República e com a presença de ministros, banqueiros, e os exportadores de maior sucesso, grandes
e pequenos. A relação entre os exportadores e os funcionários do Governo era tão próxima que
“uma grande equipa mantinha contacto quase diário com os principais exportadores”58.
55
O Governo coreano concedia às empresas exportadoras créditos com taxas de juros bonificados,
redução de impostos, subsídios e outras facilidades a fim de promover as exportações.
56
Estas políticas incluíam o estabelecimento de quotas de importação em alguns produtos produ‑
zidos pelas industriais nascentes ou o agravamento das taxas aduaneiras destes mesmos produtos.
Mas estas medidas tinham um horizonte temporal perfeitamente definido e acordado, para não dei‑
xar que as empresas se acomodassem.
57
Esta abordagem de concessão de incentivos às empresas revelou‑se melhor do que a desvaloriza‑
ção da taxa de câmbio, evitando reacções de países terceiros que se sentissem prejudicados com o
aumento dos preços dos seus produtos no mercado coreano.
58
Larry, Westphal, Industrial Policy in an Export‑Propelled Economy: Lessons from South Korea’s Expe‑
rience, Journal of Economic Perspective, p. 45, 1990.
| 55
Um outro factor‑chave que ajudou a Coreia a diversificar a sua economia foi o compromisso
pessoal do líder político da Nação.
Definir prioridades em relação ao tipo de indústrias que o país necessita que irão garantir um
processo seguro rumo a uma contínua industrialização e diversificação da economia. Sem um
sector industrial forte e representativo não haverá nem industrialização sustentável, nem Angola
tem que definir prioridades em relação ao tipo de indústrias que o país realmente precisa.
Indústrias leves, como processamento de alimentos, bebidas, têxtil e outros são importantes.
No entanto, a indústria pesada também deve ser levada em conta. O censo industrial realizado
59
Ibid.
60
Journal of Economic Perspective, Volume 4, N.o 3, p. 58, 1990.
56 |
pelo Ministério da Indústria entre Outubro de 2013 a Outubro de 2014 constitui uma grande
oportunidade para se conhecer efectivamente o tipo de indústria existente e para determinar o
tipo de indústria que o país precisa desenvolver a fim de sustentar o processo da diversificação
da economia nacional61.
A participação do sector manufactureiro no PIB angolano é ainda muito baixo, tendo sido de
cerca de 4%, em média anual, entre 2002 e 2012. Tal como se sublinhou no início deste capítulo,
esta percentagem configura mais uma situação de desindustrialização do que de diversificação
da economia. A experiência coreana prova, na verdade, a existência duma forte correlação entre
industrialização e diversificação.
Muito esforço deve ser feito a fim de incentivar as empresas nacionais a produzirem não
só para o mercado interno, que é relativamente pequeno, nem tão pouco para a substituição
de importações (daí o CEIC, em diferentes estudos, reflexões e intervenções públicas, duvidar
que uma política de substituição de importações seja exitosa e difunda ganhos substanciais
para a economia e a sociedade. Segundo a Teoria Económica, a substituição de importações
pela protecção tarifária aumenta substancialmente o excedente do produtor em detrimento do
excedente do consumidor, podendo o efeito final ser negativo sobre o bem‑estar nacional), mas
principalmente para a exportação.
Produzir para exportar vai ajudar as empresas nacionais a aprender com os seus concorren‑
tes internacionais e aumentar a sua capacidade de produzir com qualidade e praticar preços
competitivos, como ocorreu com as empresas sul‑coreanas.
Como no caso da Coreia do Sul, o Governo angolano deve assegurar a disponibilidade de finan‑
ciamento adequado que permita aos exportadores obterem empréstimos de capital de giro ou
fundo de maneio na proporção da importância da sua actividade de exportação. E, de facto, esse
apoio é realmente necessário tendo em conta que o país precisa fomentar as exportações do sec‑
tor não‑mineral e a maioria das empresas do sector não‑mineral não têm tanto dinheiro quanto as
empresas que operam no sector mineral (petróleo e diamantes) para financiarem as exportações.
61
O censo industrial deveria terminar em Outubro de 2014, mas até ao momento da edição deste
livro os resultados não são conhecidos.
| 57
as suas reais necessidades e ajudá‑los a superar os desafios que enfrentam para exportarem
maiores quantidades e para mais mercados.
Investir na formação
A Estratégia Nacional de Recursos Humanos62 estima que entre 2010-2020 Angola irá neces‑
sitar entre 31 500 a 39 000 engenheiros (civis, mecânicos, ambientais, químicos, etc.). Para
satisfazer essas necessidades muito esforço deve ser feito, uma vez que a oferta interna prevista
no mesmo período é de apenas 15 100 a 19 500 engenheiros.
Em Angola há muitos estrangeiros que trabalham para diferentes tipos de empresas, o que
é compreensível, já que o país não tem mão‑de‑obra qualificada o suficiente. Mas a questão
que se levanta é: estão os trabalhadores angolanos a aprender com eles? Como o processo de
transmissão do conhecimento está a ocorrer? As empresas que contratam trabalhadores estran‑
geiros qualificados devem ser persuadidas a terem “programas de aprendizagem no trabalho”
que facilitem os trabalhadores nacionais a aprenderem com os trabalhadores estrangeiros mais
qualificados.
Política monetária
62
Governo da República de Angola, Estratégia Nacional de Formação de Quadros, Casa Civil da Presi‑
dência da República.
58 |
que a maior parte dos bens consumidos (quase 70%) são importados e qualquer variação da
taxa de câmbio afecta o nível de preços.
Neste caso, qualquer depreciação da moeda angolana vai afectar dramaticamente os preços
internos, influenciando, assim, o nível de inflação. Se tivéssemos uma parte significativa das
exportações não‑minerais, a desvalorização da moeda teria, até um certo ponto, impulsionado
essas exportações uma vez que os preços relativos ao importador teriam sido relativamente mais
baixos devido à depreciação da taxa de câmbio.
A principal função do Banco Nacional de Angola, como indicado na sua declaração de missão,
“é assegurar a preservação do valor da moeda nacional”63. Esta política é geralmente chamada de
política do “kwanza forte”, que evita a todo o custo a depreciação da moeda. Mas é importante res‑
saltar que a sobrevalorização da taxa de câmbio afecta negativamente a competitividade das expor‑
tações angolanas, especialmente as não‑minerais em que os preços são definidos internamente.
O Banco Central poderia conduzir a política monetária para promover as exportações não
‑minerais. Juntamente com o Governo, o Banco Nacional poderia compensar (como fez a Coreia
do Sul) as empresas exportadoras afectadas pela sobrevalorização da moeda, concedendo‑lhes
incentivos, tais como taxas de juro preferenciais, redução de impostos, acesso privilegiado
directo aos certificados de importação para compensar a sobrevalorização da moeda.
63
http://www.bna.ao/Conteudos/Artigos/detalhe_artigo.aspx?idc=139&idsc=169&idl=1.
64
Jomo K. S.; Rock, Michael (1998), Economic Diversification and Primary Commodity Processing the
Second‑Tier South‑East Asian Newly Industrializing Countries, p. 6, 1998.
| 59
não permitirem o desenvolvimento de indústrias locais visto que as colónias eram consideradas
uma fonte e fornecedores de matérias‑primas e importadores de bens manufacturados. No
entanto, em 2011, a Malásia já era a 29.a maior economia do mundo, com o sector industrial
responsável por cerca de 25% do PIB e 74% do total das exportações, o que ilustra o tremendo
esforço que foi feito para industrializar o país.
Hoje a Malásia é o segundo maior produtor de petróleo e gás natural no sudeste da Ásia e o
segundo maior exportador de gás natural liquefeito no mundo65. Apesar de ser um país produtor
de petróleo, a Malásia tem hoje uma economia bem diversificada com o sector mineral pesando
cerca de 9% do PIB. Diferentemente de Angola, a Malásia não depende apenas do petróleo,
da produção de gás natural e da exploração de estanho.
A Malásia usou bem as consideráveis receitas de exportação e essas receitas garantiram que
não sofresse de escassez de poupança ou de divisas, contribuindo para o investimento, crescimento
e mudança estrutural da economia. Estes ganhos financiaram parte do processo de diversificação,
explorando novas actividades económicas e produzindo novos produtos agrícolas e industriais.
2.3.2.1 Diversificando o sector agrícola
Segundo Jomo e Rock (1998), no início de 1970 foram intensificados os esforços para diver‑
sificar as exportações agrícolas. A Malásia nos tempos coloniais foi mundialmente hegemónica
no comércio de borracha, estanho e pimenta. Mas em 1980 apostou na produção de óleo de
palma, madeiras tropicais e cacau, ou seja, diversificou a produção do sector primário. Óleo
de palma e produção de cacau, por exemplo, foram encorajados com incentivos para culturas
específicas, o que fez com que a Malásia se tornasse o maior exportador do mundo de ambos
os produtos agrícolas em 1980.
O Governo percebeu que era também necessário olhar para o desenvolvimento rural pós
‑colonial e “várias reformas foram introduzidas para promover cooperativas rurais e para limitar
os juros cobrados sobre os empréstimos de crédito”66. Desde o início de 1980, no entanto, mais
importância tem sido dada ao desenvolvimento da agricultura comercial para a exportação.
As receitas provenientes do petróleo, gás natural, estanho, madeira e outros produtos agrí‑
colas têm sido “alocadas de modo a promover investimentos em novas actividades produtivas,
que aceleraram a diversificação da economia a partir de sua herança colonial. Grande parte
destes investimentos têm sido canalizados para a diversificação, especialmente a industriali‑
zação, inicialmente com base na substituição de importações, em seguida, a promoção das
exportações”67, bem como o fomento da indústria pesada.
65
http://www.eia.gov/countries/country‑data.cfm?fips=my. E de acordo com esta fonte, a Malásia
produz cerca de 513 mil barris de petróleo bruto por dia.
66
Jomo K. S.; Rock, Michael, Economic Diversification and Primary Commodity Processing the Second
‑tier South‑East Asian Newly Industrializing Countries, p. 6, 1998.
67
Ibid, p. 9.
60 |
Mas de acordo com Okamoto (1994), em meados de 1980, o Governo da Malásia decidiu
“reduzir gradualmente a taxa de protecção”, porque percebeu‑se que as indústrias de substitui‑
ção de importações não estavam a funcionar conforme o esperado e “uma série de indústrias
nascentes nunca cresceu, apesar de terem sido protegidas por mais de dez anos, o que impediu
a indústria de exportação de reforçar a sua competitividade no mercado internacional”68.
Um dos mecanismos utilizados pelo Governo para promover as exportações dos produtos
manufacturados foi o de “admitir 100% de propriedade de capital estrangeiro para as empresas
que exportavam mais de 50% de seus produtos”69, o que possibilitou a entrada no país de empre‑
sas estrangeiras orientadas para a exportação que eram mais produtivas e competitivas no mer‑
cado internacional do que as empresas locais. As empresas locais beneficiaram das empresas
estrangeiras voltadas para a exportação, pois foram induzidas a melhorar a sua produção e
gestão de tecnologia sob a crescente pressão da concorrência.
Em resumo, o Governo da Malásia, nos primeiros anos após a independência, viu a neces‑
sidade de desenvolver e diversificar a estrutura económica do país. Foram feitos esforços no
sector da agricultura para a produção de outras culturas, além de borracha, diversificando desta
forma este sector; o Governo criou também um plano para o desenvolvimento da área rural que
permitiu que os camponeses se tornassem pequenos agricultores orientados para o mercado e
mais ênfase foi dada para o desenvolvimento da agricultura comercial – envolvendo agricultores
de grande escala.
68
Okamoto, Yumiko, Impact of Trade and FDI Liberalization Policies on the Malaysian Economy, p. 463,
1994.
69
Ibid, p. 464.
| 61
Angola pode aprender da experiência da Malásia, olhando mais atentamente para o padrão
de diversificação económica feito por este país e seguir os bons exemplos que se adaptam ao
contexto angolano.
A Malásia começou por diversificar o sector agrícola, investindo na produção de outras cul‑
turas, além de borracha, tais como óleo‑de‑palma, cacau e outros. O interessante é a atitude de
orientação para o mercado que foi incutida entre os agricultores, a produção não foi apenas para
o mercado interno, mas essencialmente para a exportação. Esta atitude ajudou a desenvolver
os agricultores comerciais de grande porte que produzem para exportar.
O sector industrial foi outra prioridade da Malásia. Em 1967, o Governo da Malásia estabeleceu a
The Malaysian Industrial Authority, que agora é conhecida como The Malaysian Investment Develop
ment Authority (MIDA), que tem a missão especial de promover e apoiar o investimento no sector
industrial e de serviços. Na sede desta instituição altos representantes de agências governamentais
‑chave estão presentes para aconselhar os investidores sobre as políticas e procedimentos do Governo.
62 |
Angola, para diversificar a sua economia, tem de investir no desenvolvimento de boas infra
‑estruturas que permitirão que as indústrias funcionem sem sobressaltos ou problemas. É ver‑
dade que um grande esforço vem sendo feito pelo Governo para reconstruir as infra‑estruturas,
mas os esforços também devem ser feitos para garantir a qualidade e durabilidade destas infra
‑estruturas.
Até ao momento há somente uma zona económica em Angola, que é conhecida como Zona
Económica Especial Luanda‑Bengo. Esta zona económica foi criada em 2009 pelo Decreto Presi‑
dencial n.o 50/09, de 11 de Setembro, e um dos seus principais objectivos é diversificar a estru‑
tura económica, reduzir o nível de importações e promover as exportações. A zona económica
Luanda‑Bengo cobre uma área de 8300 hectares e tem a capacidade de albergar 73 fábricas,
mas actualmente apenas 22 fábricas estão efectivamente em funcionamento.
Olhando para o exemplo da Malásia, parece que a criação de zonas económicas em todo o
país é uma boa política para promover a industrialização e diversificação da economia.
A África do Sul é uma das maiores e a mais diversificada70 economia no continente, tem
uma base de produção bem estabelecida, que foi desenvolvida logo no início do século XX e
está fortemente ligada aos sectores tradicionais como a agricultura, a indústria transformadora
e as minas. Pode‑se afirmar que esta base de produção é o principal motor do crescimento
económico e da diversificação da actividade económica do país. E isto é ilustrado pela forte
presença de indústrias químicas (produção de plástico e borracha, produtos farmacêuticos),
de processamento de produtos agrícolas, de metais e couro, de construção civil e engenharia
especificamente voltada para o sector mineiro, de projectos geológicos e de serviços financeiros
que se especializam frequentemente em determinados sectores da economia do país.
70
Como um índice de concentração de exportações de apenas 0,172 em 2013 (enquanto que em
Angola é de 0,968), a África do Sul é o país africano com o maior Competitive Industrial Performance
Index (0,08), estando classificado em 41.o lugar num total de 133 países
| 63
Nos últimos anos, novos sectores surgiram como a indústria automobilística, desde a década
de 90, em especial com o fim do apartheid, com forte apoio do Governo através do Motor
Industry Development Programme (MIDP) – que é o plano director da política industrial do sec‑
tor automobilístico. Hoje este sector representa pelo menos 6% do PIB e 12% das exportações
industriais sul‑africanas, emprega directamente mais de 65 mil trabalhadores e indirectamente
mais de 200 mil71.
O Turismo é outro sector que nasceu e é visto como um componente importante de desenvolvi‑
mento económico do país, por causa de suas repercussões no desenvolvimento de infra‑estruturas
(estradas e aeroportos, especialmente), construção de hotéis e outras instalações, e da criação de
emprego. O peso médio deste sector no PIB é de cerca de 7% e o Governo sul‑africano, em conju‑
gação com os agentes económicos privados, tem feito muitos esforços em promover o turismo e
atrair turistas quer nacionais como internacionais nas diversas regiões do país.
A África do Sul não alcançaria o actual nível de diversificação da sua economia se não apos‑
tasse na construção de infra‑estruturas que facilitassem a produção, distribuição e comercia‑
lização de bens e serviços quer a nível nacional como internacional. As estradas, os portos,
aeroportos, caminhos‑de‑ferro estão em constante manutenção e expansão, o que permite uma
livre e eficiente circulação de bens e serviços dentro e fora do país. Esforços estão a ser feitos
para melhorar a oferta de electricidade, pois há ainda falhas neste sector. De acordo com o bole‑
tim trimestral publicado pelo Statistics South Africa, só em 2013 as empresas que operaram na
indústria de produção de electricidade, gás e fornecimento de água fizeram investimentos, em
termos de despesas de capital, avaliados em 53 852 milhões de Rands73, ou seja, mais de 4,65 mil
milhões de dólares americanos. E a taxa de crescimento anual deste sector tem rondado entre
3,8% a 5% nos últimos anos74, pois quer o Governo como as empresas do sector estão cônscios
da importância do mesmo para a economia.
71
http://www.southafrica.info/business/economy/sectors/automotive‑overview.htm#.VKubSGd3uM9.
72
https://www.jse.co.za/about/history‑company‑overview.
73
Quarterly Financial Statistics (QFS), December 2013, p. 14, Statistics South Africa, December 2013.
74
Quarterly Bulletin, December 2013, p. 6, South Africa Reserve Bank.
64 |
FONTE: Statistics South Africa (Quarterly Gross Domestic Product by Industry File).
O sector da agricultura, floresta e pescas pesa 2,3% no PIB, enquanto o sector mineiro 8,3%,
o que quer dizer que o sector primário tem um peso relativo na economia sul‑africana de 10,6%.
O sector da construção civil, indústria transformadora, electricidade, gás e água, em conjunto,
pesam 17,2%. Os serviços financeiros, em conjunto com a actividade imobiliária, representam
19,3% da produção nacional, enquanto os serviços de comércio a grosso e retalho e alojamento
têm um peso de 14,3%, os serviços públicos gerais (fornecidos pelo Governo) têm 14,9% e os
serviços pessoais particulares têm 5,3%.
Vê‑se claramente que a África do Sul é um país com uma estrutura económica diversificada.
Mas resta saber que estratégias e políticas o Governo sul‑africano tem vindo a adoptar que
permitiram a diversificação da economia, qual tem sido o papel do sector privado e como o
processo de diversificação foi e está sendo financiado.
| 65
Como de resto é sabido, a diversificação económica é um processo que leva tempo e que
precisa ser criteriosamente bem estudado e planificado, garantindo que os sectores‑chave sejam
identificados, os recursos necessários estejam à disposição, as políticas e os programas sejam
coerentes e consistentes entre si, com o pensamento económico geral e com a vontade política
de diversificar a economia em prol do bem da Nação.
Assim, em 1940 foi criada a Industrial Development Corporation (IDC), uma instituição
financeira que promove o crescimento económico ao apoiar iniciativas que resultam em negó‑
cios com potencial em contribuírem para o desenvolvimento industrial da economia sul‑africana
e do continente em geral. Até hoje esta instituição pública existe e está sob a supervisão do
Ministério do Desenvolvimento Económico do Governo sul‑africano (Economic Development
Department) e tem como missão: “to contribute to the creation of balanced, sustainable econo‑
mic growth in South Africa and on the rest of the continente”75.
75
http://www.idc.co.za/about‑the‑idc.html.
76
http://www.foskor.co.za/ob_history.php.
77
http://www.sasol.com/about‑sasol/company‑profile/historical‑milestones.
66 |
A África do Sul estabeleceu uma série de instituições e organismos com o objectivo de pro‑
mover e apoiar o processo da diversificação da economia, que por sua vez conduziria ao cresci‑
mento económico sustentado e diversificado. Mesmo com a mudança do regime do apartheid,
o novo Governo de 1994 manteve as instituições que promoviam a diversificação e criaram‑se
novas instituições complementares.
The Council for Scientific and Industrial Research (CSIR), uma das principais organizações
de pesquisa científica e tecnológica em África, foi constituída por uma lei do Parlamento em
1945 como um conselho de ciência; este conselho “faz investigação multidisciplinar, promove
a inovação tecnológica, bem como o desenvolvimento industrial e está empenhada em apoiar a
inovação na África do Sul para melhorar a competitividade da economia nacional na economia
global”78.
O NIPF reconhece que “the industrial policy is not the domain of a single government depart‑
ment but requires intensive coordination across a range of government departments. It can only
be implemented successfully if it is aligned with four associated and supporting sets of policies.
First, a stable and supportive macroeconomic and regulatory environment. Second, appropriate
skills development and educational systems which are increasingly integrated with the needs
of the industrial economy. Third, sufficient, reliable and competitively priced traditional and
modern infrastructure. Fourth, adequate support for various forms of technological effort within
the economy”80.
78
http://www.csir.co.za/about_us.html.
79
National Industry Policy Framework, Department of Trade and Industry of SA, p. 2.
80
National Industry Policy Framework, Department of Trade and Industry of SA, p. 3.
| 67
Assim, nota‑se que a política industrial sul‑africana tem sido inclusiva, procurando envolver
pelo menos quatro aspectos importantes que garantam a sustentabilidade do crescimento eco‑
nómico, nomeadamente, um ambiente macroeconómico favorável; um sistema educacional
que satisfaça as necessidades da economia e que estimule o desenvolvimento tecnológico em
função das exigências do mercado; infra‑estruturas modernas, adequadas e funcionais que sir‑
vam duma forma eficiente os interesses dos agentes económicos e apoio ao desenvolvimento
tecnológico.
2. Cluster dos Sectores Económicos e Emprego (Economic Sectors and Employment Cluster):
agrega os ministérios do Desenvolvimento Rural e Reforma da Terra, Ciência e Tecnologia,
Agricultura, Recursos Florestais e Pescas, Desenvolvimento Económico, Finanças, Ensino
Superior, Recursos Minerais, Empresas Públicas, Telecomunicações, Turismo, Emprego,
Comércio e Indústria.
81
http://www.gov.za/about‑government/government‑system/structure‑and‑functions‑south‑african
‑government#gov_cluster.
68 |
7. Cluster da Justiça, Prevenção do Crime e Segurança (Justice, Crime Prevention and Security
Cluster): agrupa os ministérios da Justiça e Desenvolvimento Constitucional, Serviços Cor‑
reccionais e Prisionais, Interior, Defesa e Veteranos de Guerra, Segurança do Estado.
Esta forma de organização do Governo faz com que todas as políticas e estratégias que são
elaboradas e executadas estejam integradas horizontal e verticalmente, facilitando a conver‑
gência dos objectivos, e o processo da diversificação económica floresce mais rapidamente num
ambiente assim. Desta forma, pode‑se entender porque a África do Sul é o país com a economia
mais diversificada no Continente.
E que dizer do sector privado, que papel tem tido neste processo? “The South African private
sector is heavily involved in most of the key areas of the economy. Due to its size, complexity and
links to major global corporations, it has played a major role in enabling South Africa to become
an emerging economic powerhouse”82. De facto o sector empresarial privado sul‑africano é
muito forte e está presente nas diversas áreas da economia do país, procurando mais oportu‑
nidades de negócio dentro e fora do país. Os privados com um forte espírito empreendedor
sempre estiveram cônscios que deveriam fazer parte do processo da diversificação económica
por procurar abrir negócios em sectores de actividade não tradicionais, explorando assim novas
áreas. Por sua vez, o próprio Governo sabe que sozinho não consegue diversificar a economia,
precisa da classe empresarial privada para conseguir este objectivo, por isso todos os planos
económicos são sempre feitos em articulação com o sector privado.
Durante o regime do apartheid, o sector privado era composto maioritariamente por empre‑
sários brancos, os quais tinham acesso à maior parte das oportunidades de negócio que o país
oferecia devido à política de segregação racial levada a cabo na altura. Depois de 1994, o novo
Governo viu a necessidade de fazer com que a classe empresarial se alargasse e incluísse homens
82
OECD/United Nations, Economic Diversification in Africa: A Review of Selected Countries, p. 32,
OECD, 2011, Publishing: http://dx.doi.org/10.1787/9789264038059‑en.
| 69
de negócios de outras raças, em especial a maioria negra. Assim, em 2001 foi criado o programa
Black Economic Empowerment que visava favorecer o surgimento duma nova classe empresa‑
rial que fosse abrangente em termos de raça. Mas devido a algumas falhas neste programa83,
em 2007 foi revisado e introduzido o Broad‑Based Black Economic Empowerment (B‑BBEE)
Programme que pretende ser mais inclusivo e abrangente. Desta forma, hoje a classe empresa‑
rial sul‑africana é mais heterogénea em termos de raça e mais competitiva e empreendedora,
procurando afirmar‑se no mercado interno e internacional. Sabe aproveitar as oportunidades
que o Governo oferece mas não espera que o mesmo faça tudo por eles.
A Diversificação é um processo oneroso que requer muitos fundos não somente públicos,
mas também privados. Ao Estado espera‑se o financiamento integral das infra‑estruturas bási‑
cas necessárias para o desenvolvimento das diversas actividades económicas e o apoio à classe
empresarial empreendedora com poucos recursos para que esta obtenha perante o sistema
financeiro (banca comercial e de investimento) crédito a taxas de juro competitivas que lhes
permite expandir os seus negócios e explorar novas áreas. Em termos gerais, o financiamento
do processo da diversificação económica advém de pelo menos quatro fontes principais:
• Estado, por meio dos bancos de desenvolvimento e outros programas que são criados
com o intuito de fornecer créditos, com taxas de juro competitivas, aos agentes económi‑
cos que actuam em determinados sectores.
• Bancos Comerciais que concedem empréstimos para o investimento a operadores econó‑
micos com propostas credíveis e viáveis.
• Bolsa de valores que possibilita às empresas cotadas a emissão de títulos (acções ou obri‑
gações) transaccionáveis que lhes permite obter fundos para expandirem os seus negócios
ou investirem em novos; a Bolsa de Johannesburg tem um impacto muito significativo na
economia sul‑africana84, pois ela permite às empresas acederem a financiamento pela
emissão de títulos financeiros que podem ser adquiridos por investidores quer nacionais
e estrangeiros.
• Investidores Estrangeiros que por meio do investimento directo estrangeiro realizam in‑
vestimentos por adquirirem parte de negócios locais ou por directamente abrirem novos
negócios em áreas do seu interesse em função das “orientações” indirectas dos Governos
locais por meio de incentivos e outros mecanismos.
83
O BEE foi severamente criticado por ter favorecido o enriquecimento apenas duma pequena franja
da classe negra e, por isso, foi substituído pelo B‑BBEE, que é em princípio mais abrangente, desde
2007 tem estado em vigor na África do Sul.
84
Hassan, S., South African Capital Markets: An Overview, South African Reserve Bank, Working Paper
Series WP/13/04.
70 |
A experiência da África do Sul mostra que essas quatro fontes foram usadas e continuam a
ser usadas para o financiamento da diversificação da economia. Mas o que chama mais a aten‑
ção é o nível de investimento directo estrangeiro que tem afluído ao país. Como se pode obser‑
var no gráfico abaixo, em especial desde 1994, o IDE tem vindo a aumentar significativamente.
Figura 12 – Fluxo líquido do investimento directo estrangeiro na África do Sul (milhões de USD)
Em 1997, segundo os dados do Banco Mundial, o IDE realizado na África do Sul foi de USD
3,8 mil milhões, em 2001 de 7,2 mil milhões, em 2008, o ano com o maior fluxo líquido, foi
de 9,8 mil milhões e em 2013 de 8,1 mil milhões de dólares americanos. Estes investimentos
contribuíram muito para a intensificação e diversificação da actividade económica no país, pois
foram realizados não só apenas nos sectores tradicionais, mas também em novos sectores como
a indústria automóvel, serviços financeiros, hotelaria e turismo, entre outros.
Há muitos factores que fazem com que a África do Sul seja um destino favorável de investimen‑
tos estrangeiros, entre eles destacam‑se o bom ambiente macroeconómico, a qualidade das infra
‑estruturas, a dimensão do mercado e a possibilidade de expandi‑lo aos demais países da região,
e a existência da bolsa de valores, pois por meio dela atraem‑se muitos investidores estrangeiros.
O sector bancário sul‑africano está muito avançado e sofisticado, oferecendo serviços e pro‑
dutos financeiros em função do sector de actividade económica, possibilitando em especial às
empresas não cotadas na bolsa obterem empréstimos de longo prazo para o financiamento dos
seus negócios. Por sua vez, o Governo garante financiamento por meio de diversos organismos
públicos tais como a Industrial Development Corporation que financia projectos em sectores
industriais ou de prestação de serviços com grandes impactos e que sejam intensivos em mão
‑de‑obra. Deste modo, a África do Sul tem financiado a diversificação da sua economia por meio
de combinação de capitais públicos e privados, e atracção de investimentos estrangeiros.
| 71
A experiência da África do Sul mostra que para que o processo da diversificação da economia
angolana seja bem‑sucedido e sustentado é necessário pelo menos ter‑se em conta os seguintes
factores:
• O Governo deve conduzir o processo de uma forma bem pensada, estruturada e continua‑
da, fazendo com que todos os organismos, públicos e privados, participem activamente;
a diversificação precisa de estar no pensamento geral do Executivo e no centro dos seus
planos. Na África do Sul, mesmo com a mudança do regime em 1994, o novo Governo con‑
tinuou com o processo da diversificação iniciado pelo anterior. Angola está com o mesmo
Governo desde 1975, nota‑se durante todo este período que não tem havido um pensa‑
mento geral e planos bem‑estruturados, dentro do Governo, para a diversificação da eco‑
nomia nacional. A diversificação não é feita da noite para o dia, muito menos em tempo
de crise, ela é realizada continuamente, aproveitando‑se os anos em que há excedentes
para se investir mais em novos sectores.
• Deve‑se criar ou designar instituições próprias, que em articulação com o Governo, acom‑
panharão o processo da diversificação, apoiando projectos de investimentos em áreas ou
sectores de actividades previamente bem definidas que são capazes de serem intensivos
em mão‑de‑obra. Na África do Sul uma das instituições que realiza este papel é a Indus‑
trial Development Corporation (IDC) que fornece financiamento a projectos de desen‑
volvimento industrial em sectores tidos como prioritários85. Como se fez com a Reforma
Tributária, em que se criou um organismo próprio que está a conduzir a reforma, devia‑se
também criar uma entidade que fosse responsável por conduzir o processo da diversifica‑
ção com planos bem definidos e resultados bem especificados, que se devem atingir num
determinado período de tempo.
• Investir seriamente nas infra‑estruturas e garantir que elas sejam bem‑feitas e tenham
a devida manutenção para que durem o suficiente e gerem o devido retorno económico
e social esperado. Os dados mostram que desde 2002 até 2013 se investiu cerca de USD
80 mil milhões em infra‑estruturas, mas a qualidade de muitas delas é muito baixa de
tal modo que duram pouco. Por outro lado, apostar na formação do capital humano em
função das necessidades já identificadas na Estratégia Nacional de Formação de Quadros,
articulando com as instituições de ensino e de formação profissional no sentido de capa‑
citarem a mão‑de‑obra nacional de acordo com as exigências actuais do mercado e da
diversificação da economia.
85
Os sectores e as áreas que a IDC financia e apoia são as seguintes: agro‑processamento e novas
indústrias – agro‑indústrias; indústrias verdes; projetos de alto impacto estratégico; capital de risco.
Indústrias mineira e transformadora – produtos químicos e indústrias afins; produtos florestais e de
madeira; metais, de transporte, de produção de maquinaria; mineração; têxtil e vestuário. Indústrias
de serviços – tecnologias de informação; saúde; media e comunicação; turismo.
72 |
• Mobilizar o sistema financeiro nacional (em especial a banca comercial) para que atenda às
necessidades de financiamento da diversificação da actividade económica, incentivando
‑o a conceder empréstimos de longo prazo, e com taxas de juro competitivas, a empresas
com projectos de investimentos que de facto contribuirão para a diversificação da base
produtiva nacional; por sua vez permitir uma política monetária que possibilite que a ban‑
ca comercial consiga conceder tais financiamentos.
• Atrair mais investimento directo estrangeiro melhorando o ambiente de fazer negócios no
país para que os investidores se sintam seguros quanto à possibilidade de realizarem os
seus negócios sem terem que se preocupar com a corrupção e a burocracia que em muito
dificulta a prática de qualquer actividade económica. O facto de o investidor poder criar
postos de trabalho e pagar impostos é já por si um grande ganho para o país, as práticas
corruptas impendem isso e restringem a entrada de capitais estrangeiros para financiar a
economia nacional.
• Tornar conhecidas todas as possibilidades de financiamento que os agentes económicos
têm à disposição, no âmbito do processo da diversificação, para que eles analisem as
que mais se adequam ao seu negócio e ao sector de actividade em que operam. Para
isso é importante acabar com o nepotismo, clientelismo, parcialidade e o partidarismo
em conceder apoios financeiros aos reais empreendedores. Os empresários, por sua
vez, precisam ser mais determinados e responsáveis na forma como aplicam os fundos
que lhes são concedidos, garantido que sejam aplicados para o propósito como foram
solicitados.
Em África a agricultura continua a ser um grande sector em muitas economias, o que repre‑
senta cerca de 20% do PIB regional (em comparação com uma quota de 6% a nível mundial)
e cerca de 65% de emprego (BAD, OCDE e PNUD, 2014). A mineração é uma importante indústria
em muitos países da África Subsariana, tanto como empregadora, como fonte de receitas de
exportação.
| 73
Na 1.a fase o foco estava mais directamente relacionado em criar empresas do que em cons‑
truir capacidades para dinamizar a indústria e desenvolver sectores exportadores competitivos.
No entanto em países como as Maurícias e o Zimbabwe, a protecção do mercado interno per‑
mitiu que determinadas empresas acumulassem recursos para investimento em capacidades
que lhes permitissem exportar.
Na 2.a fase ficou implícito que os países que adoptaram o ajustamento estrutural tiveram que
fazer reformas e estabelecer políticas de desvalorização da moeda, de liberalização do comércio
e de eliminação dos subsídios do Governo, entre outras. Mas o principal objectivo era sobretudo
atenuar a presença do Estado e dar espaço ao mercado. Os críticos do ajustamento estrutural
argumentam que o mesmo “colocou África num caminho de baixo crescimento, destruiu inicia‑
tivas de diversificação económica e levou a uma erosão da base industrial na região”.
A 3.a fase ligada ao alívio da dívida e redução da pobreza teve consequências no desenvolvi‑
mento industrial uma vez que houve que transferir recursos para o sector social.
África tem vindo a desindustrializar‑se nas últimas duas décadas, como evidenciado pelo
facto da participação da manufactura no valor acrescentado total ter caído de 13 por cento
em 1990 para 12 por cento em 2000 e para 10 por cento em 2011 (ECA 2014). A escassez
de infra‑estruturas como energia, transportes, tecnologias de informação e comunicação (TIC)
e recursos hídricos representam uma barreira enorme para a actividade económica na África
Subsariana. Assim, os países africanos devem perseverar na industrialização dos seus países
como a melhor oportunidade para um crescimento sustentado e a diminuição da pobreza. Mas
o desempenho da manufactura varia entre os países africanos e a transformação estrutural tem
sido lenta ao longo dos anos.
São identificadas algumas razões para tal: falta de capacidades técnicas e tecnológicas, falta
de recursos financeiros, vantagens comparativas na produção e exportação de recursos primá‑
rios dada a abundância natural. As estratégias passadas de industrializações em África, muitas
delas baseadas na substituição de importações, apelam para novas políticas.
74 |
Uma nova abordagem sobre as políticas industriais reconhece que estas devem ser imple‑
mentadas através de acções coordenadas, como por exemplo:
• Políticas de promoção do empreendedorismo – os empreendedores desempenham um
papel importante no processo de desenvolvimento.
• Políticas tecnológicas e de inovação – os países bem‑sucedidos no sector da manufactura
foram aqueles que investiram no conhecimento e nas capacidades.
• Políticas de educação e de formação profissional – o tipo de educação e de formação
implementada pelos Governos são determinantes e têm efeitos no desenvolvimento in‑
dustrial.
• Políticas de suporte financeiro – nomeadamente no acesso ao crédito para as pequenas
e médias empresas.
• Políticas comerciais – focadas não só nas exportações mas reconhecendo também oportu‑
nidades na substituição de importações.
| 75
Pesquisas recentes sugerem que para a maioria dos países de baixa renda, o crescimento a
longo prazo, a criação de emprego e a redução da pobreza dependem de uma estrutura de pro‑
dução e exportação industrial competitiva e cada vez mais diversificada e sofisticada. Assim, se a
transformação estrutural e a diversificação são o objectivo, um conjunto de políticas industriais
têm de ser estabelecidas. A nível nacional, muitos países têm feito das transformações econó‑
micas um ponto essencial da sua agenda de desenvolvimento a médio e longo prazo.
Muitos países têm Planos e Estratégias como a Etiópia, o Uganda, a Costa do Marfim, o
Lesoto, o Ruanda, mas o horizonte temporal é variável. Normalmente, estes Planos enquadram
‑se num objectivo mais amplo de transformações económicas e sociais.
Acelerar a transformação
Uganda Visão 2040
socioeconómica
Costa do Marfim Estratégia de Emergência Económica Economia industrial em 2020
Lugar de destaque ao
Lesoto Visão 2020
desenvolvimento industrial
Ruanda Visão 2020 Economia diversificada em 2020
Transformar a estrutura da economia
Egipto, Quénia, África do Sul, Serra
Planos e Estratégias em desenvolvimento industrial e
Leoa, Ruanda e Zimbabwe
agro‑industrial
76 |
Costa do Marfim
Zimbabwe
Camarões
Botswana
Maurícias
Marrocos
Senegal
Uganda
Ruanda
Quénia
Nigéria
Ghana
Facilidade de crédito
X X X X X
(manufactura não‑tradicional)
Promoção de pequenas e médias empresas
X X X X X X
(manufactura não‑tradicional)
Regulação da concorrência X
FONTE: Harabi (2008), Marti and Ssenkubuge (2009), Soludo et al. (2004), várias propostas nacionais, documentos e declarações, citado
em ECA Policy Research, paper n.o 2.
| 77
Várias iniciativas no continente foram propostas a nível regional e sub‑regional. ECA 2012
descreve alguns casos de sucessos industriais em África: Maurícias, Tunísia, Botswana, África do
Sul, Lesoto, Quénia, Ghana, Cabo Verde e Moçambique.
A Tunísia é um país classificado como de rendimento médio, que tem uma série de vantagens
comparativas que permitiram diversificar a sua economia, destacando‑se entre elas a sua loca‑
lização próxima da Europa, o seu clima de negócios, as infra‑estruturas e os recursos humanos.
Dada a sua proximidade geográfica e cultural com a Europa, a Tunísia tem progressivamente
fortificado as suas relações com a UE, seu principal parceiro industrial e principal comprador.
O acordo de associação assinado em 1995 estabeleceu, ao longo do tempo, uma zona de livre
‑comércio entre os dois países. Desde Janeiro de 2008, as relações económicas com a UE entra‑
ram numa nova fase com a entrada do acordo de livre comércio, UE‑Tunísia, o primeiro acordo
a ser implementado com um país MED. O acordo levanta todas as restrições às importações de
produtos industriais da UE.
Do ponto de vista económico, este acordo abre a via para os investimentos europeus
e contribuirá para o aumento da competitividade dos sectores produtivos tunisinos. A par
disso, a Tunísia está a realizar um Programa de Modernização que visa tornar as empresas
do sector privado globalmente competitivas, que inclui formação e modernização de infra
‑estruturas. A modernização do aparelho produtivo tunisino permitirá à sua economia uma
mais fácil inserção internacional. A perspectiva do comércio livre entre a UE e a Tunísia num
prazo de doze anos requer, em primeiro lugar, a melhoria da indústria tunisina, de modo a
colocá‑la ao mesmo nível da europeia, preservando simultaneamente o bem‑estar social
da população, desafio para cuja realização a UE está disposta a dar o seu contributo. Dos
sectores tradicionais dos têxteis evoluiu‑se mais recentemente para as indústrias electróni‑
cas, eléctricas e de engenharia, com o desenvolvimento da indústria dos componentes de
automóveis e aeronáuticos. Com base numa análise de tendências de mercado, o Ministro da
Indústria, Energia e das PME publicou uma estratégia em 2008 designada “Estratégia Indus‑
trial Nacional 2016” que visa transformar a Tunísia num centro inovador de competitividade
euro‑mediterrânico. Em 2010, a Tunísia começou a preparar uma estratégia de integração
da Tunísia na cadeia de abastecimento da UE a fim de torná‑la um hub de comércio e de
serviços no Mediterrâneo.
78 |
A Tunísia identificou quatro sectores industriais como prioridades e cada um deles constituiu
‑se como um exportador: componentes aeronáuticos e automotivos; TIC; têxtil, couro e calçados;
e processamento de alimentos. Estes sectores estão rapidamente a evoluir e a constituírem‑se
em motores de um maior crescimento diversificado.
As políticas de comércio da Tunísia também a têm ajudado a tornar‑se mais competitiva nos
mercados internacionais, assim como os programas e políticas governamentais têm desempe‑
nhado um papel importante no desenvolvimento económico da Tunísia.
Rodrik (2004) defende que seja decisivo e importante entender a contribuição da estrutura
produtiva ao processo de crescimento, em que consiste essa estrutura e o que significa para a
formulação de políticas, tanto macroeconómicas como microeconómicas.
Rodrik (2004) identifica dez Princípios que devem ser observados na formulação de políticas
de diversificação:
7. Adopção de medidas para garantir que estas instituições sejam supervisionadas por um
director com claro interesse nos resultados e que tenha autoridade política do mais alto
nível.
8. Adopção de medidas para garantir que as instituições que aplicam as políticas mantenham
canais de comunicação com o sector privado.
10. Apoio a actividades de fomento capazes de evoluir para que o ciclo de inovação seja
constante.
| 79
O Chefe de Estado angolano ao falar de diversificação defendeu que os objectivos passam por
produtos de boa qualidade e a preços mais baixos, mas também ter boas vias de comunicação,
provimento de água e energia, telecomunicações e força de trabalho qualificada, sustentando
também uma boa política fiscal e cambial.
Desde logo são importantes transformações estruturais que permitam no médio/longo prazo
a emergência de sectores de actividade fora do petróleo. Os desafios passam por diversificar a
estrutura produtiva, alargar a base de tributação, reduzir a dependência do petróleo, aumen‑
tar os níveis de emprego, melhorar a balança de transacções correntes e garantir o equilíbrio
orçamental.
Os sectores que têm vindo a ter algum dinamismo na economia angolana são o comércio,
os transportes, a agro‑indústria e os serviços. Este impulso resulta dos investimentos públicos e
da tendência de diversificação económica promovida pelas autoridades angolanas para reduzir
a dependência em relação ao petróleo.
Angola dispõe de recursos e de um potencial natural que lhe possibilitam assentar uma
estratégia de desenvolvimento fora do sector do petróleo. No sector industrial, mas também
no sector primário, com recurso dos minérios, da agricultura, da pesca e do sector florestal.
A política de criação de pólos industriais tem sido a aposta do Executivo, que tem investido
na industrialização do país somas consideráveis e agido numa política de reforço do sector pri‑
vado nacional, especialmente nas micro, pequenas e médias empresas. Novas estruturas estão
a ser constituídas com vista a fortalecer o sector privado conjuntamente com a promulgação de
legislação nesse sentido. No entanto, as restrições institucionais com as quais os investidores se
têm de confrontar continuam a existir (BAD 2012).
80 |
No sector financeiro foram lançadas reformas sobre o regime cambial dos petróleos, a “des‑
dolarização” da economia, a aplicação de limites à exposição cambial e ao crédito em moeda
estrangeira, a diferenciação dos coeficientes de reserva entre moeda nacional e moeda estran‑
geira com efeitos esperados no aumento do investimento privado e também no consumo.
Em Angola o sector petrolífero gera riqueza sem criar emprego e os jovens carecem de
emprego. Considerando o potencial de crescimento (taxa de fecundidade de 3,2%) e de compo‑
sição etária (60% da população tem menos de 21 anos), esta realidade constituirá a longo prazo
uma enorme aposta para o Executivo.
Assim, identificados que foram os sectores prioritários para o investimento privado (Lei do
Investimento Privado) podem‑se estendê‑los aos objectivos da diversificação da economia nas
áreas reconhecidas como de interesse económico como a agricultura tanto industrial como
familiar, a pesca artesanal e industrial e o turismo. Deste modo são apontadas políticas voltadas
para proteger a indústria nacional, adequar a entrada do capital estrangeiro, impelir a forma‑
ção de joint‑ventures e obter condições favoráveis para a transferência de tecnologia. Angola
poderia traçar estratégias de forma a ligar projectos económicos com os sistemas de transporte
que estão a ser construídos por empresas chinesas. O caminho‑de‑ferro com a consolidação de
três eixos ferroviários apresenta‑se como um factor de desenvolvimento económico, de coesão
territorial e de diminuição das assimetrias regionais. A dinâmica ligada à actividade de trans‑
porte de mercadorias, de mobilidade de pessoas e de serviços pode conferir maior integração
ao mercado interno e daí ao desenvolvimento da agricultura. O modelo institucional para o
sector ferroviário abre o sector à iniciativa privada. Assim é legalmente assegurado o acesso dos
privados à actividade transportadora ferroviária.
| 81
Luís Bonfim
Alves da Rocha
Arne Wiig
Ivar Kolstad
Luís Bonfim
A estrutura económica de Angola até ao final da década de 1950 reflectia o desígnio a que
o território estava votado como colónia e integrado no chamado espaço comum português:
fornecedor de produtos primários, economia de exploração e mercado privilegiado da indústria
transformadora e de vinhos portugueses. Não existiam, praticamente, infra‑estruturas indus‑
triais, os investimentos eram desencorajados e a penetração de capitais estrangeiros igualmente
desencorajados por via de uma forte regulamentação.
82 |
Importação Exportação
Classes pautais
Contos % Contos %
I – Animais vivos 2397,00 0,08 419,00 0,01
II – Matérias‑primas 419 041,00 14,35 1 032 855,00 32,38
III – Fios, tecidos, feltros e respectivas obras 456 656,00 15,63 317,00 0,01
IV – Substâncias alimentícias 546 371,00 18,70 2 140 050,00 67,09
V – Aparelhos, instrumentos, máquinas (…),
926 019,00 31,70 3817,00 0,12
embarcações e veículos
VI – Manufacturas diversas 570 548,00 19,53 12 142,00 0,38
Total 2 921 032,00 100,00 3 189 600,00 100,00
FONTE: Estrutura do Comércio Externo de Angola, Junta de Investigações do Ultramar, Centro de Estudos Políticos e Sociais, n.o 28, 1959.
Importação Exportação
Classes de bens
Contos % Contos %
Bens de produção 817 381 38,67 889 621 28,89
Energia 157 993 7,47 — —
Matérias‑primas 123 842 5,86 889 621 28,89
Equipamento 535 546 25,34 — —
Bens de consumo 1 296 412 61,33 2 189 868 71,11
Alimentos 454 460 21,50 2 189 868 71,11
Outros bens de consumo 841 952 39,83 — —
Bens de produção e de consumo 2 113 793 100,00 3 079 489 100,00
FONTE: Estrutura do Comércio Externo de Angola, Junta de Investigações do Ultramar, Centro de Estudos Políticos e Sociais, n.o 28, 1959.
| 83
Constata‑se:
• Um predomínio dos bens de consumo sobre os bens de produção tanto na importação
como na exportação, sendo este predomínio mais acentuado no caso das exportações e
que a participação dos bens de consumo nos totais da importação e da exportação traduz
‑se, respectivamente, em 61% e 71%.
• Com relação à importação, o grupo principal, que atinge cerca de 40%, é o de bens de con‑
sumo não‑alimentares, e que, apesar de terem sido incluídos catorze produtos neste gru‑
po, só aos tecidos de algodão cabem 14,4% do valor da amostra considerada. Nos grupos
seguintes, o da energia é constituído, na sua maior parte, por combustíveis líquidos (86%
do valor do grupo), e o das matérias‑primas que inclui três produtos semi‑manufacturados,
isto é, matérias‑primas em sentido amplo: ferro fundido, aço em bruto e cimentos86.
• Relativamente à composição das exportações, a observação da respectiva amostra permi‑
te constatar que os alimentos com 71% e as matérias‑primas com 29% constituem quase
a totalidade da exportação. Segundo Ferreira dos Santos & Gaspar Rabaça, não obstante
no grupo dos alimentos estarem incluídos onze produtos, só o café representa 50% do
valor da amostra considerada para a exportação. Observa‑se ainda que alguns produtos
incluídos por esse grupo não são bens alimentares acabados, mas matérias‑primas para
determinadas indústrias alimentares. Incluem‑se neste grupo as ramas do açúcar, do
amendoim, do milho e, de certa medida, do café. Fica também patente que os alimentos
exportados são, em grande parte, constituídos por produtos semiacabados, ao invés do
que acontece com os alimentos importados, que, à excepção da farinha de trigo, são, na
maior parte dos casos, produtos acabados.
Matérias‑primas
Origem Alimentos Para indústrias Para outras Total
alimentares indústrias
Agricultura, silvicultura e pecuária 50,9 9,6 14,1 74,6
Pesca 10,6 0 1,3 11,9
Subsolo 0 0 13,5 13,5
Total 61,5 535 546 28,9 100
FONTE: Estrutura do Comércio Externo de Angola, Junta de Investigações do Ultramar, Centro de Estudos Políticos e Sociais, n.o 28, 1959.
86
Santos, F. & Gaspar, R., Estudos de Ciências Sociais e Políticas, 28, Estrutura do Comércio Externo de
Angola, 1959.
84 |
Da análise verifica‑se:
• Que perto de 75% da exportação tem origem na agricultura, silvicultura e pecuária e que
o contributo deste sector é constituído em grande parte por alimentos, 50,9% do valor
da exportação, uma vez que o café foi incluído nesta categoria e não na categoria de
matérias‑primas.
• Que a exportação originária da agricultura, além de incluir produtos que são exportados
sem qualquer transformação – como o milho, coconote, feijão e amendoim – inclui igual‑
mente produtos sujeitos a pequenas transformações como café, sisal, ramas de açúcar,
óleo de palma, arroz, madeira serrada e outros.
• Que a exportação originária das indústrias extractivas ronda os 13,5%, e a proveniente da
actividade piscatória – 11,9% – é constituída na totalidade por produtos desta actividade
resultantes de transformação local (conservas, farinhas e óleo de peixe).
• Igualmente se verifica que as exportações provêm quase exclusivamente do sector primá‑
rio e que a participação de produtos resultantes da laboração de indústrias transformado‑
ras é reduzida ou inexistente.
Por outro lado, constata‑se que, em última analise, a especialização interna da produção se
operou sob a influência de um forte predomínio do factor produtivo terra ou natureza, relativa‑
mente aos restantes factores de produção.
Com relação ao factor capital, dada a exiguidade do mercado interno, determinada por um
baixo rendimento per capita e pelas reduzidas necessidades da maior parte da população, alia‑
das a incipientes infra‑estruturas, os capitais privados dirigiram‑se preferencialmente para o
sector exportador, ou seja, para aquele em que existe um mercado já formado, ficando a cargo
do principal exportador de capitais – a Metrópole – a missão de satisfazer uma importante par‑
cela da procura interna de bens industriais87.
87
Santos, F. & Gaspar, R., Estudos de Ciências Sociais e Políticas, 28, Estrutura do Comércio Externo de
Angola, 1959.
88
Torres, A., Análise Social, Vol. XIX (77‑78‑79) – 3.o, 4.o, 5.o, 1101‑1119, 1983.
| 85
poderem suportar com certa margem de manobra económica e também política a concorrência
da chamada nova ordem económica internacional, as autoridades portuguesas propõem alterar
algumas coordenadas do espaço económico metropolitano‑colonial, que consistia numa res‑
truturação simultânea da economia da metrópole e da colónia, e passava pela deslocação das
indústrias no interior do chamado espaço económico português. Por outro lado, a alteração da
correlação de forças na arena internacional devido à entrada dos recém‑independentes países
africanos veio exercer uma pressão externa considerável sobre a política colonial em África e
na estratégia de reestruturação, situação que foi agravada e complementada, em 1961, com
o início das lutas armadas de libertação dos Povos das Colónias Portuguesas.
No campo social as reformas que permitiram um maior acesso dos angolanos ao sistema de
ensino e aos postos intermédios da Administração Pública, as relações de trabalho mais justas
e o maior apoio à agricultura camponesa.
O território foi aberto aos investimentos nacionais (portugueses) e estrangeiros e aos Planos
de Fomento, com particular destaque para o III e IV planos, a consagrarem parte dos investimen‑
tos previstos em infra‑estruturas.
89
Ferreira, M. E., Nacionalização e Confisco do Capital Português na Indústria Transformadora de
Angola (1975‑1990), 2002, Análise Social, Vol. XXXVII (162), 40‑70.
86 |
Apesar de não haver consenso, entre os estudiosos da economia angolana, sobre quando
é que verdadeiramente a industrialização começou, todos são unânimes em reconhecer, e os
registos estatísticos evidenciam, que ocorreu em Angola, não obstante o contexto político de
contestação da presença portuguesa, um espectacular crescimento económico no período de
1961‑1973, em particular no sector industrial, com uma taxa anual de crescimento VBP de 19% e
de 22% no período de 1965‑1973, depois de publicada a nova legislação sobre o condicionamento
industrial90. De realçar que este processo de crescimento dos sectores económicos se realiza com
sanidade das finanças públicas, transparência da gestão macroeconómica e, ainda de acordo com
Costa Oliveira, é o resultado do grande propósito estratégico que foi a industrialização da colónia,
a mais representativa do “Império Colonial Português” pela quantidade, diversidade e riqueza dos
seus recursos naturais. Esse propósito estratégico teve dois períodos temporais de implementa‑
ção: o primeiro, de 1961 até 1969, consagrado ao lançamento das bases para a grande arrancada
industrial, e o segundo, de 1969 a 1973, dedicado às políticas de crescimento económico e de
industrialização. Pertencem ao primeiro período a publicação do primeiro manual sobre o sector
mineiro (4 volumes), o estudo sobre o aproveitamento dos excedentes de energia pelo sector
industrial, o estudo aprofundado sobre o desenvolvimento regional de Angola, o outro virado para
a industrialização do território e dois extraordinários trabalhos sobre o desenvolvimento econó‑
mico de Angola, ainda hoje referências incontornáveis para a História Económica de Angola91. No
segundo período e até 1973, a nível institucional, ocorreram reformas e ajustamentos como a
criação da Secretaria Provincial de Planeamento e Fianças (tentativa de união do curto e a pers‑
pectiva de estratégica de longo prazo) e a elaboração da Estratégia de Desenvolvimento Industrial.
90
Prefácio do Dr. Costa Oliveira, in Industrialização de Angola: Reflexões sobre a Experiência da Admi‑
nistração Portuguesa, 1961-1975, Ana Maria Neto, Escher, 1991.
91
Marques, W., Problemas do Desenvolvimento Económico de Angola 1965‑1966, 600 páginas, Imprensa
Nacional de Angola.
| 87
No sector secundário, conforme ilustra a tabela abaixo, foi a indústria transformadora que
mais cresceu, com uma taxa média de variação anual de 19,3% (com dinâmicas interessantes
das indústrias alimentares, têxtil, bebidas, tabaco, papel e pasta de papel, produtos minerais
não‑metálicos e química).
92
In obra anteriormente citada.
88 |
Porém, as estatísticas revelam que nem tudo correu como seria de esperar e desejar, de
acordo com os objectivos políticos e as potencialidades de recursos. A estrutura industrial trans‑
formadora não mostrou excepcional habilidade de deixar de estar assente em indústrias ligeiras,
de processamento tecnológico simples. Conforme ilustra a tabela seguinte, a maior parte das
actividades de transformação regrediram na sua participação relativa no tecido industrial, em
especial as químicas e os derivados do petróleo. Como referências de destaque, em termos de
acrescento de valor agregado relativo, surgem as indústrias dos produtos metálicos, dos artigos
de borracha e da pasta de papel e derivados.
93
Estas taxas de variação média anual referem-se à participação relativa de cada atividade referida
na tabela e medem, afinal, a capacidade de modificação estrutural de cada uma delas no seu posicio‑
namento relativo face às demais. Não são taxas de crescimento de produção ou valor dessas activida‑
des de transformação.
| 89
continuação
Capital/ Trabalhador/
Ano Estabelecimento Empregados Capital
Trabalhador Estabelecimento
1956 1960 41 834 1692 40,45 21,3
1960 2725 55 068 2429 44,11 20,2
1965 3886 67 991 3894 57,27 17,5
1970 5587 58 736 6289 107,07 10,5
Tipos de bens 1955 1960 1965 1968 1971 1973 Tx. cresc.
Veículos auto e acessórios 261 332 560 878 1332 1243 9,1%
Aço, ferro fundido e macio 216 210 370 864 996 1111 9,5%
Material para caminho‑de‑ferro 59 147 176 192 58 171 6,1%
Tractores 50 83 149 149 290 212 8,4%
Máquinas e aparelhos industriais 133 237 167 439 721 1245 13,2%
Máquinas e aparelhos agrícolas 35 35 28 39 89 85 5,1%
Ferramentas 18 35 49 78 171 195 14,2%
Motociclo, velocípedes e acessórios 9 16 51 49 61 70 12,1%
Fios e cabos eléctricos 20 21 16 47 48 65 6,8%
Produtos químicos diversos 11 24 28 33 58 85 12,0%
Adubos 32 34 38 48 139 202 10,8%
% nas importações totais 25 31 26 32 32 34 1,7%
90 |
94
Faziam também parte da pauta de exportação: o tabaco, a pasta de papel, o cimento, os derivados
de petróleo, a cera (em bruto ou preparada), os óleos essenciais para perfumaria, os couros e as peles.
| 91
92 |
• A necessidade de mão‑de‑obra qualificada. Não deixou de ser uma das mais importantes
questões para o processo de industrialização em curso, uma vez que nenhum programa
de desenvolvimento industrial pode ser cumprido sem que haja disponível para o efei‑
to um quantitativo suficiente de mão‑de‑obra qualificada, tanto nas áreas da produção,
quanto nas de pendor administrativo. A falta de produtividade das indústrias da altura
era imputada, em larga percentagem, à fraca qualificação e experiência da mão‑de‑obra,
o que originava autênticas disputas entre as empresas pela sua contratação, provocando
a elevação dos salários no mercado de emprego, no entanto, sem contrapartida no au‑
mento da produtividade. Ainda em relação à mão‑de‑obra para a indústria colocava‑se, na
época, o ingente problema da pouca assiduidade do trabalhador, ou seja, o absentismo.
Considerava‑se este fenómeno relacionado com problemas culturais (escassez de necessi‑
dades materiais e espirituais, inexistência de uma mentalidade de inovação e progresso) e
educacionais (relativos à sua reduzida educação de base).
• A mentalidade industrial. A falta de capacidade dos empresários da época permitia apenas
descobrir oportunidades de investimento óbvias e baseadas em recursos evidentes, em
tecnologia pouco refinada e numa procura facilmente detectável. Exigia‑se mais para a
industrialização de Angola. As razões para a existência duma mentalidade industrial retró‑
grada residiam:
– na origem dos empresários – grande parte era oriunda do sector comercial, com uma
visão essencialmente de curto prazo e de ganho fácil e rápido, alguma era proveniente
de antigos operários que conseguiram criar o seu próprio negócio;
– na aversão ao risco;
– na tendência para produzir bens cujo mercado fosse conhecido e bem delimitado, para a
concentração de funções (capitalista, empresário e gestor confundiam‑se numa só pes‑
soa), para criar empresas de dimensão diminuta e de pequeníssimo capital social;
– na fraca capacidade de trabalho e na reduzida visão estratégica da actividade industrial
e do desenvolvimento económico do país e do mundo e na incerteza quanto ao desen‑
volvimento da situação política e militar do território.
• A gestão e organização empresarial. Na estrutura económica, em geral, e na industrial, em
particular, predominavam pequenas empresas, poucas médias empresas e a direcção, nos
aspectos técnicos e administrativos, confinava-se a uma única pessoa, frequentemente
o dono da empresa. A concentração e centralização de funções num número reduzido
de pessoas e a falta de planeamento estratégico reduzem a rendibilidade, ancilosam a
actividade fabril e comercial e provocam, amiudas vezes, a obtenção de produtos de baixa
qualidade.
• Os mercados e a comercialização. Era difícil a penetração no mercado mundial dos pro‑
dutos da indústria transformadora angolana da época, devido à natureza do parque
| 93
–o
baixo valor da poupança e a reduzida propensão a poupar, explicados pelos diminutos
níveis de rendimento da população e por razões culturais que colocam no consumo pre‑
sente a maior parte das opções de aplicação de ganhos;
Este facto acrescido de uma actuação pouco dinâmica e incisiva do Estado no sentido da
supressão das muitas lacunas, insuficiências e imperfeições do sistema financeiro, deixa‑
ram, por consequência, a indústria privada de um dos mais importantes pilares para o seu
crescimento.
94 |
O crescimento económico de Angola desde 1962 até às portas da independência foi notá‑
vel. Ennes Ferreira destaca o número crescente de unidades industriais que se foram estabele‑
cendo ano após ano e a sua diversificação, tendente a aproveitar/criar um mercado de consumo
interno que se ia alargando com o crescimento da população, a melhoria dos seus rendimentos e
respectivo poder de compra e com a crescente imigração portuguesa. Notaram‑se afloramentos
de diversificação industrial a par das indústrias tradicionalmente exportadoras.
Internacionalizar uma economia pela via da conquista de mercados externos é complexo,
leva tempo e é apelativa de políticas inteligentes.
A tabela seguinte (Angola – Portugal: Do Espaço Económico Português às Relações Pós‑Coloniais,
Manuel Ennes Ferreira, Escher, 1990, páginas 143/148, 167/178) traduz a mesma situação da reve‑
lada anteriormente quanto ao processo de industrialização de Angola antes da independência.
Ano VBP PIB Tx. câmbio VBP (USD) PIB (USD) IT/PIB (%)
1962 2269 17 245 22,5 100 844,4 766 444,4 13,2
1963 2450 18 641 23,0 106 521,7 810 478,3 13,1
1964 2767 20 318 23,5 117 744,7 864 595,7 13,6
1965 3024 22 512 24,0 126 000,0 938 000,0 13,4
1966 3653 25 103 24,5 149 102,0 1 024 612,2 14,6
1967 3937 27 141 25,0 157 480,0 1 085 640,0 14,5
1968 4918 29 482 25,5 192 862,7 1 156 156,9 16,7
1969 6425 33 529 26,1 246 168,6 1 284 636,0 19,2
1970 8240 39 277 26,9 306 319,7 1 460 111,5 21,0
1971 9540 43 794 27,5 346 909,1 1 592 509,1 21,8
1972 11 359 49 049 28,1 404 234,9 1 745 516,0 23,2
1973 14 539 55 180 29,0 501 344,8 1 902 758,6 26,3
Tx. cres. nom. 18,4 11,2 2,3 15,7 8,6 6,5
Tx. cres. real 12,1 4,7
NOTA: A conversão em dólares é dos autores, bem como a hipótese da taxa de câmbio.
FONTE: Estatísticas Industriais de Angola 1961‑1973.
| 95
Aspectos a destacar:
• Em termos reais, a taxa média anual de variação da produção industrial de transforma‑
ção foi tripla da do PIB, sendo prova do intenso ritmo de industrialização que se viveu na
época, provavelmente acelerado como resposta à luta de libertação nacional e à criação
dum mercado interno de maior rendimento e poder de compra, particularmente devido à
emigração e aos efectivos militares portugueses.
• Presume‑se, na medida em que o quadro de Ennes Ferreira o não clarifica, que esta indus‑
trialização deve ter acelerado o ritmo de subida dos preços.
• Os valores do PIB necessitam de ser confrontados com os de outras fontes mais adiante refe‑
ridas, nomeadamente os da Missão de Estudos do Rendimento Nacional, de Vasco Fortuna.
• A industrialização do território também pode ser confirmada pelo rácio VBP transforma‑
dora/PIB.
• Apesar dum índice de industrialização sempre crescente, no entanto o seu ritmo de varia‑
ção média é inferior ao do PIB, significando que outros factores de crescimento de Ango‑
la no período foram igualmente relevantes, como as exportações de produtos primários
agrícolas e minerais.
Os resultados anteriores são ainda mais significativos devido à incipiente base de partida nos
anos 50 e às incidências castradoras da legislação industrial (lei do condicionamento industrial),
mas, apesar disso, tinham de ser ainda maiores para satisfazer as crescentes necessidades do
crescimento económico da colónia.
96 |
A economia angolana, do ponto de vista do seu processo de industrialização, era uma econo‑
mia de importação, com um coeficiente de dependência muito alto e com os riscos associados
conhecidos.
| 97
• Ennes Ferreira defende que a quebra registada entre 1971 e 1972 no valor do coeficiente
de importação se deveu à aplicação do Decreto‑Lei n.o 478/71.
• Devido à Lei do Condicionamento Industrial, o mercado de importação de Angola esteve
fechado a outros países, conforme se deduz pelos valores do respectivo coeficiente de
importação da tabela anterior.
• O mercado angolano funcionou como uma reserva da economia portuguesa nos seus seg‑
mentos menos eficientes e competitivos (os de maior capacidade concorrencial dirigiam
‑se para a Europa, em especial para a EFTA, e para os Estados Unidos, para as comunidades
portuguesas aí residentes).
• Devem ter sido substanciais as distorções na produção e no consumo em Angola, não por
força da imposição de barreiras aduaneiras à entrada, mas por ter de comprar e consumir
bens a um preço muito mais alto do que o preço de eficiência internacional.
A tabela seguinte, construída na base das informações de Ennes Ferreira, arruma as importa‑
ções de bens industriais de origem portuguesa pela classificação internacional vigente na época.
Produtos alimentares 65 35 62 38 20 80
Bebidas 94 6 85 15 83 17
Têxteis, vestuário, calçado 69 31 74 26 67 33
Madeiras e mobiliário diverso 73 27 84 16 91 9
Papel e pasta de papel 64 36 47 53 41 59
Produtos químicos diversos 40 60 33 67 30 70
Borracha e matérias plásticas 70 30 34 66 25 75
Vidro e produtos não‑metálicos 55 65 48 52 46 54
98 |
Portugal foi perdendo posição entre 1962 e 1973 enquanto fornecedor de bens industriais
transformados a Angola, a favor do resto do mundo (outras ex‑colónias, Macau, Estados Unidos
e alguns países da EFTA). Ou seja, ocorreram indícios de uma deslocação do comércio importa‑
dor de Angola.
95
Portugal começava a estar internacionalmente isolado do ponto de vista político devido às incidên‑
cias das lutas africanas pela independência e era dada prioridade aos produtos tipicamente portu‑
gueses nas exportações do espaço económico português.
| 99
Por isso, o coeficiente de exportações industriais situou-se sempre na vizinhança dos 10%
entre 1962 e 1973. A economia angolana apresentava estrangulamentos concretos na sua estru‑
tura industrial, representados pela baixa qualidade da força de trabalho, dos empresários e da
organização económica geral.
100 |
• Uma razão que pode ajudar a compreender esta tendência liga‑se ao aumento das neces‑
sidades internas com o aumento da população, a sua urbanização e a crescente moneta‑
rização da economia rural.
• Outra justificação pode ser dada pelos processos semelhantes de substituição de impor‑
tações dos países/territórios para onde se dirigiam as exportações angolanas de bens ali‑
mentares.
• A indústria da pasta de papel e do papel – de compleição tecnológica razoável – é a segun‑
da maior exportadora industrial do país no período considerado, admitindo‑se que, graças
à disponibilidade de florestas de qualidade e ao elevado grau de organização das fábricas
que laboravam os produtos, os preços angolanos aproximavam‑se aos de eficiência inter‑
nacional.
Entre 1976 e 1985 foram vários os factores que actuaram sobre a economia angolana, depois
de as novas autoridades terem decretado o socialismo, a planificação centralizada e o regime de
partido único como as pedras basilares da construção do novo Estado. Enumeram‑se:
• Adesão de Angola à Convenção de Lomé (1986), acarretando o cumprimento de regras de
mercado no funcionamento da economia.
• Influência do enquadramento económico externo, nomeadamente a conjuntura do petró‑
leo (segundo choque petrolífero em 1979-1980).
• Novas orientações da política económica, com uma assinalável vertente administrativa na
sua gestão: definição de sectores prioritários de acordo com as opções socialistas, arranjo
duma nova política comercial, escolha de novos parceiros comerciais estratégicos (Cuba,
RDA, União Soviética).
• Influência da situação militar interna sobre a actividade económica.
96
As despesas militares emergiram, então, como as grandes consumidoras das receitas fiscais do
Estado.
| 101
Na verdade, a taxa média real de crescimento do PIB entre 1978 e 1985 – com ajustamentos
feitos por nós para os anos 1983, 1984 e 1985, foi de ‑4,3%, em concordância com valores de
algumas publicações internacionais como o FMI (World Economic Outlook) e do Banco Mundial
(World Economic Prospects). A pressão militar começava a ser elevada em termos de reafecta‑
ção de factores e recursos de produção e as despesas com a defesa passaram a canibalizar o
orçamento de Estado.
Tabela 13 – Alguns dados macroeconómicos de Angola entre 1978 e 1985
102 |
| 103
Tabela 15 – Exportações, importações, abertura e PIB (valores em milhões de kwanzas e grau de abertura em %)
FONTE: BNA.
Energia/
Ano Agricultura Petróleo Diamantes Transforma. Construção Comércio Serviços
Águas
1989 10,8 54,7 3,5 0,25 2,2 4,6 0
1990 10,3 55,7 3,2 0,22 2,2 4,4 0
1991 12,0 46,7 1,4 3,7 0,16 3,7 10,3 8,4
1992 13,7 37,7 2,8 4,1 0,1 5,2 16,2 16,7
1993 11,1 42,6 0,5 5,2 0,1 4,3 19,4 13,8
1994 6,2 58,1 1,2 6,7 0 3,2 17,1 6,2
1995 7,8 56,0 1,1 7,2 0 3,4 16,6 6,9
1996 7,5 59,3 0,6 6,8 0 3,2 14,8 7,1
1997 9,5 48,3 3,8 4,4 0 4,1 16,2 11,3
1998 12,3 32,9 7,3 5,7 0,1 5,5 20,7 13,9
1999 6,7 55,7 7,5 3,6 0 3,7 13,1 7,8
2000 5,3 61,7 7,9 2,9 0 3,0 10,6 6,3
Média 9,4 50,8 3,4 4,7 0,1 3,6 13,7 8,2
NOTA: As somas horizontais não igualam 100 porque não se consideraram outros sectores de actividade.
FONTES: Missão do Fundo Monetário Internacional, Fevereiro de 1994; Angola‑Recent Economic Developments, IMF, September 1997;
Concluding Statement of the IMF Mission to Angola, May 1999.
104 |
Uma outra economia de enclave que se prepara para assumir algum protagonismo é a
diamantífera e que aparentemente está em processo de ultrapassar o período de acentuadas
oscilações em que viveu até 1998. Claro que pesa sobre esta actividade uma enorme imponde‑
rabilidade emprestada pela instabilidade militar e pelo processo internacional de sanções contra
o tráfico ilegal de diamantes.
Verifica‑se que em 2000, 70% da actividade económica interna se orientava para as expor‑
tações, tornando‑se Angola numa das economias mais abertas ao exterior, do mundo. Res‑
tam 30% de actividade económica interna para gerar emprego para uma população em idade
activa da ordem dos 6 milhões de habitantes (os dois sectores de enclave não devem empregar
sequer 0,5%: em declarações à TIME de Outubro de 2000, o Ministro Angolano da Geologia e
Minas referia que o sector diamantífero empregava cerca de 22 000 trabalhadores nacionais,
que representavam cerca de 90% de toda a mão‑de‑obra em actividade no sector mineiro,
incluindo o petróleo).
As actividades agrícolas, como pecuária e florestas, e das pescas, não chegam a comparti‑
cipar com 10% no processo de geração da riqueza anual. Com excepção do ramo das pescas,
as outras mostram‑se sensíveis a factores extra‑económicos, como a instabilidade militar e as
calamidades naturais, como as secas e as cheias.
| 105
Mas a performance da economia real pode ainda ser apreciada pelas dinâmicas de cresci‑
mento que constam na tabela seguinte.
Energia/
Ano Agricultura Petróleo Diamantes Transform. Construção Comércio Serviços PIBpm
Águas
1989 ‑0,7 0,1 0,0 27,2 5,2 0,2 5,0 0,0 1,8
1990 ‑2,6 4,1 0,0 ‑5,2 ‑12,2 1,0 ‑2,0 0,0 2,8
1991 ‑14,9 7,3 22,9 ‑10,8 3,9 3,0 3,5 ‑3,5 1,0
1992 ‑27,3 10,5 45,7 ‑16,3 20,0 5,1 9,0 ‑6,9 ‑0,8
1993 ‑46,2 ‑8,4 ‑88,2 ‑15,4 0,0 ‑45,1 55,9 ‑30,1 ‑21,0
1994 8,5 9,2 89,1 6,6 4,8 21,8 6,0 ‑8,5 ‑20,0
1995 37,6 12,0 ‑3,2 17,5 10,5 15,0 7,2 1,5 12,0
1996 9,0 11,1 ‑11,1 8,0 10,6 7,0 3,8 0,5 7,3
1997 9,7 3,2 58,7 9,3 9,4 13,0 9,4 5,5 6,6
1998 5,0 3,5 88,5 4,9 14,3 10,0 5,0 0,0 5,0
1999 ‑10,1 3,5 ‑20,0 4,0 ‑6,9 10,0 4,7 ‑7,5 ‑0,1
2000 3,0 1,6 5,0 5,6 5,0 6,0 5,0 5,6 3,5
Média ‑4,7 4,7 ‑1,2 2,2 5,0 2,3 8,6 ‑4,1 ‑0,7
FONTES: Missão do Fundo Monetário Internacional, Fevereiro de 1994; Angola‑Recent Economic Developments, IMF, September 1997;
Concluding Statement of the IMF Mission to Angola, May 1999.
106 |
O valor médio da produtividade bruta por trabalhador registado entre 1989 e 2000 foi de
apenas 1582 dólares dos Estados Unidos, de resto, compatível com as cifras relativas ao Produto
Interno Bruto por habitante, cuja média durante a década de 90 foi tão‑somente de 586 dólares
americanos. Aquela quantia é ainda mais irrisória por se referir a toda a economia, onde actua
um sector de tecnologia de ponta que é o dos petróleos e dos refinados.
Ano PIB PIBpc (USD) VARANUA Taxa Empreg. VARANUA Produtividade Ganhos prod.
1989 8587 881,7 85 2161,1
1990 8547 852,8 ‑ 3,3 85 0 1927,2 ‑10,8
1991 8797 847,5 ‑0,6 83 ‑2,4 1975,4 2,5
1992 7989 743,2 ‑12,3 80 ‑3,6 1809,4 ‑8,4
1993 5819 522,7 ‑29,7 75 ‑6,3 1415,9 ‑21,7
1994 4292 372,2 ‑28,8 70 ‑6,7 1085,2 ‑23,4
1995 5365 423,8 13,8 64 ‑8,6 1282,8 18,2
1996 6535 502,3 18,5 64 0 1516,4 18,2
1997 7645 571,5 13,8 63 ‑1,6 1748,7 15,3
1998 6449 468,5 ‑18,0 60 ‑4,8 1502,9 ‑14,1
1999 5669 399,9 ‑14,6 58 ‑3,3 1325,6 ‑11,8
2000 6556 448,9 12,3 58 0 1486,4 12,1
TMV90/00 ‑2,4 ‑5,7 ‑3,4 ‑2,3
MÉDIAS 6854,2 586,3 ‑4,4 70,4 ‑3,4 1603,1 ‑2,2
TVLOGAR ‑3,0 ‑7,2 ‑4,2 ‑3,1
NOTAS: O PIB está expresso em milhares de dólares americanos e os respectivos valores foram retirados dos relatórios sobre a economia
angolana do FMI; a produtividade está valorizada em dólares e refere‑se a cada trabalhador activo; os ganhos de produtividade estão dados
em percentagens anuais; a taxa de emprego é expressa em percentagem da população economicamente activa; as taxas médias de variação
foram calculadas segundo três modelos: o exponencial, o da regressão logarítmica e o da média das variações anuais.
| 107
• A taxa de crescimento demográfico situou‑se em torno dos 3,9% de acordo com os cálcu‑
los baseados nas estimativas populacionais da Unidade Técnica da População do Ministé‑
rio do Planeamento, valor muito alto.
• O Produto Interno Bruto decresceu a um ritmo médio anual entre 2,4% e 3,0%.
A produtividade bruta média comportou‑se negativamente a uma taxa entre 2,6% e 3,1%,
tendo provavelmente sido de 1486 dólares americanos em 2000.
NOTAS: PRINTRAN – Produtividade na indústria transformadora em dólares americanos; Empindus – Emprego industrial; Índindustr – Índice
de industrialização base 100 em 1974; Índvabit – Índice do valor acrescentado bruto industrial; Índempind – Índice de emprego industrial.
FONTES: Ministério da Indústria, Plano Director de Reindustrialização de Angola, 1995; IV Plano de Fomento; Ministério do Planeamento,
Contas Nacionais; Cálculos baseados em metodologias específicas.
108 |
Quanto à produtividade bruta industrial, o valor médio registado durante a década de 90 foi
de 3363 dólares americanos, com uma taxa média negativa de variação de praticamente 2,1%.
A produção em Angola tem estado rodeada de uma série variada de constrangimentos desde
a independência.
| 109
• Qualificação média dos trabalhadores muito baixa, sendo o melhor retrato desta deficiên‑
cia a taxa de analfabetismo dos adultos que em 1998 apresentava o valor de 58%. Mas
também o são as reduzidas taxas de escolarização nos Ensinos Primário e Secundário e as
altas taxas de reprovação e abandono em todos os níveis de ensino.
• Falta de tradição industrial explicada por razões históricas (modelo colonial) e ideológicas
(modelo socialista). Os empresários angolanos têm sido feitos à pressa e quase sempre
oriundos do poder político (ou da sua periferia) e das empresas estatais. Esta origem em‑
presarial é perigosa porque no primeiro caso a acumulação primitiva tem resultado dum
processo de transferência gratuita de recursos financeiros do Estado (dinheiro sem custo,
nem trabalho), enquanto no segundo a posição quase sempre monopolista das empresas
estatais (no limite posicionamentos oligopolistas) fez com que os gestores públicos estives‑
sem desculpados de atitudes e comportamentos gerenciais de eficiência e competitividade
e de pressões para a redução e minimização dos custos de produção (o OGE cobria tudo
com os subsídios). O processo de aquisição do estatuto de capitão de indústria (empresário
schumpeteriano) é longo, tem vectores sociológicos e económicos e assenta na capacidade
de a própria sociedade gerar o espírito inovador enquanto valor cultural profundo. O em‑
presário tem de ter qualidades excepcionais, não apenas de inteligência e capacitação, mas
principalmente de vontade, persistência, golpe de vista e inovação.
• Ausência de políticas microeconómicas vocacionadas e direccionadas para as empresas
e tendentes a reverter as causas das suas baixas produtividades. Não existem, nem nun‑
ca existiram políticas integradas de incentivos empresariais – de tipo semelhante às que
muitos países europeus praticaram recentemente após a adesão ao espaço económico
comunitário. A política económica angolana durante a década de transição para a eco‑
nomia de mercado foi sempre de tipo macro ou no máximo meso, mas nunca desceu ao
nível das empresas.
• Ausência de sistemas integrados e eficientes de incentivo às empresas: o que predomina é
a multiplicação de fundos, a atomicidade de isenções fiscais e aduaneiras – um sinal muito
expressivo de reversão desta imponderabilidade foi dado durante o mês de Maio deste
ano com a aprovação de legislação que elimina as isenções aduaneiras para os agentes
institucionais, com destaque para as importações para a defesa – o tráfico de influências
na obtenção de crédito, etc.
• Permanência de outras dificuldades, como o sistema fiscal, a burocracia do Estado, a cor‑
rupção, as infra‑estruturas de transportes.
110 |
Continua em execução – ainda que com ajustamentos determinados pela alteração de algu‑
mas circunstâncias de partida – o programa de fomento da indústria em Angola, dirigido pelo
Ministério da Geologia e Minas e da Indústria.
97
Segundo as mais recentes informações do Ministério do Interior (Maio de 2012), a comunidade
estrangeira residente em Angola, legalmente, era: 239 000 chineses, 140 000 portugueses, 30 000
brasileiros e 60 000 de outras nacionalidades.
98
Mais adiante são feitas algumas observações sobre a redundância da expressão “substituição com‑
petitiva das importações”. De resto, esta perspectiva de abordar o crescimento do sector industrial
enferma de outras insuficiências que podem desvirtuar um verdadeiro processo de construção duma
competitividade estrutural do país.
99
A competitividade tem de ganhar no terreno das transformações estruturais e em confronto directo
com economias que produzem com qualidade e a preços concorrenciais. Pode não ser correcto e ter
efeitos nocivos a médio prazo insistir em políticas de protecção artificial das actividades industriais,
pelos vícios que criam e pelas disfunções no bem‑estar que provocam.
| 111
Ainda que em certa medida – dada pela evolução temporal da representatividade média do
PIB da manufactura no PIB nacional – Angola tenha deixado de estar envolvida num processo
de desindustrialização, o que é facto é que a economia nacional permanece num estado desin‑
dustrializado, qualquer que seja o indicador de avaliação e de apreciação.
No entanto, esta dependência já foi mais elevada, notando‑se, por conseguinte, uma maior capaci‑
100
112 |
madora), 72% na indústria transformadora103 (em 1984 existiam apenas 241 empre‑
sas na indústria transformadora que empregavam 85 000 trabalhadores), 85% nos
diamantes, 20% no petróleo (só em 1976 a produção de 144 000 barris diários de
1973 foi retomada, depois do regresso das petrolíferas norte americanas), etc. En‑
tre 1975 e 1985 estima‑se que o crescimento do PIB tenha sido de apenas 1% ao ano
(o African Development Indicators 2006 aponta um crescimento médio anual do PIB por
habitante entre 1980 e 2004 de -0,311%)104 e em 1986 o PIB em dólares correntes dimi‑
nuiu 11%.
• A continuação da guerra, tendo a partir de 1993 afectado entre 60% e 70% de todo o
território nacional. Esta persistência do conflito militar ampliou as distorções económicas
e provocou:
– acentuação da corrupção.
103
Só entre 1975 e 1976 a produção industrial caiu 30%.
104
World Bank, African Development Indicators 2006, Washington, 2006.
| 113
• As falhas do sistema comercial traduzidas nos monopólios estatais do comércio (externo
e interno), no corte com o sistema agrário camponês, no licenciamento das importações,
no sistema de preços fixados e na distribuição administrativa dos bens (ausência de con‑
corrência).
• A persistente inflação desde a independência. Apesar de só a partir de 1991 ter sido pos‑
sível a medição estatística da variação dos preços no consumidor, é possível, no entanto, e
através da equação de Fischer, afirmar que a taxa de variação anual dos preços no consu‑
midor entre 1980 e 1985 terá sido, em média, de 20%.
• O elevado índice de pobreza da população, pressentido nos baixos salários e no não aces‑
so às lojas especiais oficiais e medido em 1995 (cerca de 55%)106 e 2000 (em redor de
68,2%)107.
• O baixo peso dos investimentos públicos no nível geral da actividade económica que, até
2002, patenteou, sempre, níveis muito reduzidos. Este indicador mede o comprometi‑
mento/demissão do Estado para com a actividade económica, em particular a industrial.
105
Ministério da Indústria, Plano Director de Reindustrialização de Angola, Cadernos Económicos
Portugal‑Angola, Câmara de Comércio e Indústria Portugal‑Angola, 1995, 180 páginas.
106
UNICEF, Dimensões Sociais do Ajustamento em Angola: Um Relatório Preparado pelo Grupo de Estu‑
dos sobre Alimentação da Universidade de Oxford, 30 de Junho de 1989.
107
INE, Inquérito às Despesas e Receitas Familiares, 1998‑1999.
114 |
Em termos rigorosos talvez só se deva falar de política económica em Angola depois de 1991,
após terem sido firmados os Acordos de Bicesse e registado um fugaz episódio de paz no país.
Seguramente que em situações de elevada instabilidade militar – em que a guerra se estendia
a todo o território nacional, inviabilizando toda a espécie de comunicações e trocas comerciais
internas – não era possível falar‑se de política económica. Porventura, apenas duma política
económica possível, em que o urgente e o imediato tiraram lugar ao importante e ao estru‑
turante. Durante todo o período de guerra civil, devido à subordinação do sector económico
ao sector militar, a política económica não teve margem de afirmação enquanto tal. Mais do
que o petróleo, o conflito militar foi o grande condicionante da política económica em Angola.
Por exemplo, entre 1975 e 1980, apesar do comportamento amplamente positivo do preço do
petróleo, a taxa média de crescimento do PIB foi de -4,8% ao ano108.
108
Jorge, Manuel, Para Compreender Angola, D. Quixote, 1998.
| 115
Acresce, ainda, que o quadro de referência da política económica não era normal até àquela
data. Dum lado, uma economia socialista, em que o planeamento imperativo, administrativo
e centralizado comandava o funcionamento da economia, tirando, por conseguinte, qualquer
espaço à economia privada de mercado, para onde a política económica é, normalmente, diri‑
gida. A edificação do socialismo não era compatível com o mercado e a iniciativa privada, pelo
que todas as orientações provindas do MPLA iam no sentido do reforço da centralização e da
acentuação do carácter administrativo da intervenção do Estado na economia, feita na base de
planos e programas onde tudo o que se tinha de produzir, exportar e importar estava previsto.
Do outro lado, uma economia petrolífera de enclave sobranceira a qualquer medida de polí‑
tica económica que tentasse enquadrar o seu funcionamento. As relações entre o Estado e a
economia petrolífera eram feitas, quase exclusivamente, pela via das receitas fiscais que as
petrolíferas canalizavam para o Orçamento Geral de Estado. Os privilégios outorgados às com‑
panhias petrolíferas estrangeiras – importações livres (sem pagamento de direitos aduaneiros)
de bens de consumo corrente, bens de capital e serviços diversos, exportação total das receitas
de exportação do petróleo, contratação de expatriados, etc., revelaram‑se como engulhos à
estruturação dum sistema financeiro interno forte e abrangente. Só em 2011 o regime cambial
petrolífero especial foi abolido.
Até 1991, o foco da política governamental foi variando, consoante a intensidade da guerra
e as dificuldades económicas internas derivadas da variação do preço do barril de petróleo e da
escassez dos financiamentos externos. Nuns anos era a defesa a merecer a prioridade máxima na
afectação das receitas fiscais do Estado (1986-1990), enquanto entre 1978 e 1985 a atenção do
Governo contemplou, também, a tentativa de recuperação dos índices de produção registados
em 1973-1974.
116 |
Por isso, entre 1991 e 2000, o ritmo médio anual de crescimento económico não foi além de
1,3% (IMF, 2009). Se for contabilizada a taxa de crescimento da população, cifrada em cerca de
2,9% ao ano, conclui‑se que o défice das condições de vida foi de ‑1,55% ao ano. Ou seja, em
10 anos, o nível de vida da população deteriorou‑se em 14,5%. Não espanta, portanto, que a
pobreza começasse a ser uma condição natural da maioria da população, devido:
• Ao fraco desempenho económico geral.
• À natureza das políticas económicas implementadas, de vertente administrativa, a des‑
peito de algumas tímidas reformas, como a primeira desvalorização da moeda em Março
de 1991.
• À falta de recursos financeiros para apoio à melhoria das condições de vida da popu‑
lação.
• À fraca capacidade de criação de emprego.
• À degradação do poder de compra em cerca de 17,7% ao ano, devido às elevadas taxas
de inflação (entre 1991 e 1998 a inflação média anual foi de 1140%) e à dificuldade em se
proceder a ajustamentos salariais.
| 117
Um estudo realizado pela UNICEF, em 1989109, sobre as implicações sociais da adopção dum
Programa de Ajustamento Estrutural com o FMI, avançou com a primeira estimativa conhecida
da taxa de pobreza (cerca de 55%), o que chamou a atenção do Governo para passar a incluir
esta variável nas suas políticas económicas e a dedicar mais recursos fiscais à melhoria das con‑
dições de vida da população.
Os problemas da economia angolana estavam, na altura, relacionados com o que se deno‑
mina “restrições domésticas ao crescimento económico”, tais como a falta de recursos humanos
qualificados e a escassez de poupança interna, uma vez que o esforço de guerra sobrecarregava
o OGE e inferiorizava qualquer outro investimento considerado adiável.
Outra dificuldade era do foro da ineficiência da gestão como um fenómeno ubíquo na eco‑
nomia angolana. Ao contrário da experiência de outros países, em que o esforço de guerra
levou a uma utilização mais criteriosa dos recursos escassos, em Angola o clima de guerra foi
desastroso para as práticas gerenciais – na medida em que conspirou contra qualquer tentativa
de imposição de seriedade na definição de prioridades da sociedade civil – e para a economia
não‑petrolífera. A guerra exerceu um efeito desmoralizador sobre as práticas de orçamentação,
planeamento e controlo financeiro110.
O 2.o Congresso do MPLA/Partido do Trabalho (PT) constatou a necessidade de o Governo
estimular mais e controlar duma forma mais expedita as actividades económicas. Foi, igual‑
mente, reconhecido que as dificuldades económicas tinham sido causadas não apenas pela
guerra, mas igualmente por políticas económicas iníquas e ineficazes. O reconhecimento do
importante papel do sector privado no processo de reconstrução económica, da necessidade de
melhoria da coordenação económica entre planeamento, gestão orçamental e afectação de divi‑
sas, da urgência em se diminuir a excessiva centralização – que provocou má administração, cor‑
rupção e indisciplina – e da reformulação dos instrumentos de controlo e gestão da economia,
conduziram à elaboração do programa de Saneamento Económico e Financeiro (SEF). Até esta
altura, o Governo não tinha sido capaz de produzir um plano económico com horizonte superior
a um ano. A guerra tendeu, naturalmente, a dar prioridade a todas as actividades directamente
relacionadas com a defesa e segurança, em prejuízo duma visão estratégica de longo prazo.
As medidas de estabilização e reformas incluíam:
• A redução do défice do sector público e a definição de uma fórmula não inflacionista para
o seu financiamento.
109
UNICEF, Implicações Sociais do Ajustamento Estrutural em Angola, 1989.
110
Uma das origens da corrupção parece estar justamente nesta incapacidade ou despropósito
de se gerirem bem os fundos públicos. Ver Subsídios para o Estudo da Corrupção em Angola, Alves da
Rocha e NDI (Instituto Democrático para as Relações Internacionais), 1999.
118 |
• A revisão dos preços controlados, incluindo a taxa de câmbio, cujos valores não sofriam
alterações desde meados da década de 70.
Na prática, o SEF, além de ter sido um meio de articular os instrumentos de política de curto
prazo não implementados desde a independência, foi, também, uma forma de tornar possível
um projecto nacional e dar às autoridades de planeamento algum espaço para o exame de
opções envolvendo decisões estratégicas, ao invés de concentrar a atenção exclusivamente em
assuntos relativos ao orçamento e à respectiva implementação. O SEF era um programa ambi‑
cioso de reformas económicas e sociais, para além dum programa específico de fortalecimento
da posição financeira do Estado angolano.
Após ter sido submetido ao 2.o Congresso do MPLA/PT pelo Presidente José Eduardo dos San‑
tos em 1985 e se ter tornado política oficial do Governo, o SEF passou a ser visto como um passo
importante da realização dum projecto nacional de desenvolvimento económico e social. No
entanto, o essencial do SEF, da sua filosofia e da sua visão estratégica, ficou permanentemente
adiado pelas mobilizações da guerra, incompreensões metodológicas e resistências ideológicas.
Refira‑se, a propósito das discrepâncias ideológico/doutrinárias, as diferenças políticas entre o
Partido e a Assembleia Nacional Popular quanto à natureza e ao ritmo das reformas económicas,
tendo, muito provavelmente, sido um elemento importante de bloqueio do SEF, uma vez que em
1988, três anos depois da sua aprovação e lançamento, a sua implementação estava bastante
longe do desejado.
• A lei orçamental que determinou que o Governo não cobriria os prejuízos das empresas
estatais, criou tributação adicional e determinou que as despesas nominais do Governo se
manteriam constantes relativamente a 1987.
• Nova legislação sobre as actividades económicas, que tornou explícita a protecção e ga‑
rantia da propriedade privada em Angola.
| 119
A desvalorização do kwanza foi o assunto económico mais polémico até Março de 1991
e tornou, na altura, explícitas as dificuldades de liberalização da economia. Em 1988 a taxa de
câmbio paralela do dólar era de 1800 kwanzas, enquanto a oficial se mantinha nos 30 kwanzas
(uma diferença de 60 vezes). As autoridades argumentavam que uma desvalorização superior a
50% teria consequências inflacionárias, devido ao ajustamento nos salários.
Pouco foi feito para se ajustar os preços oficiais dos produtos ou para reduzir a importância
dos direitos de compra a preços oficiais na determinação dos rendimentos reais da população
empregada no sector formal (a chamada monetarização dos salários). A existência de mercados
duplos de produtos e câmbios continuou, neste período, a ser o facto mais surpreendente da
vida económica de Angola.
É depois de 2000 – a viragem do conflito militar interno a favor do Governo tornava‑se cada
vez mais iminente, a nova equipa económica, empossada em Fevereiro de 1999111, tomando
esse facto em consideração, inicia um processo de reformas profundas em direcção ao esta‑
belecimento da economia de mercado e o ambiente internacional melhora a favor de Angola
– que o crescimento económico se torna permanente. O restabelecimento dos macroecono‑
mic fundamentals foi evidente e traduziu‑se na desinflação da economia, estabilidade cambial
e recuperação da confiança na moeda nacional. No entanto:
• Não se registaram alterações estruturais de vulto e sustentáveis, continuando os sectores
petrolífero (52%) e diamantífero (3,5%) a dominarem o processo de geração anual de ri‑
queza.
• A desindustrialização (que ganhou substância com o abandono das empresas, as restrições
cambiais e a política cambial de sobrevalorização do kwanza, a gestão macroeconómica ad‑
ministrativa e a condenação da iniciativa privada nos alvores da independência) manteve‑se,
111
Aguinaldo Jaime como Governador do Banco Nacional de Angola, Ana Dias Lourenço como Minis‑
tra do Planeamento e Joaquim David como Ministro das Finanças.
120 |
Entre 2000 e 2008, o preço do barril de petróleo proporcionou as mais elevadas receitas
fiscais de que há memória no país, o que permitiu reforçar a estabilização macroeconómica e
iniciar um importante processo de reconstrução nacional baseado na reabilitação/construção
de inúmeras infra‑estruturas económicas e sociais que poderão alavancar, em bases mais sus‑
tentáveis, o processo de crescimento futuro.
Não obstante, o crescimento não deu lugar ao desenvolvimento e, por isso, os efeitos sobre
outras variáveis – tais como a pobreza, a distribuição do rendimento, a exclusão social – não se
fizeram sentir de modo efectivo e sustentável. Isto quer dizer que têm existido filtros que redu‑
zem a passagem para o sector real da economia e para a sociedade da totalidade dos efeitos
positivos da estabilização macroeconómica e do crescimento económico. Uns são de natureza
institucional – tais como a corrupção, o tráfico de influências, a circunstância de as iniciativas
empresariais portadoras de alterações estruturais estarem circunscritas a uma muito reduzida e
recorrente classe de promotores, a não total transparência nas decisões de crédito ao sector pri‑
vado – enquanto outras são mesmo do domínio real da economia: carência de infra‑estruturas
físicas, falta de estratégias empresariais, baixa produtividade, baixa qualificação da generalidade
da força de trabalho, etc.
| 121
O que primeiro aconteceu em Angola, logo após a Revolução de 25 de Abril em Portugal, foi a
generalizada descapitalização das empresas – os proprietários deixaram de injectar capitais devido
à instabilidade da situação política na metrópole – seguida, quando se tornou claro que a inde‑
pendência de Angola seria uma das consequências naturais do fecho do ciclo fascista em Portugal,
duma transferência fraudulenta e fuga maciça de todo o tipo de recursos (financeiros e materiais)
para o exterior, o que obrigou a uma intervenção na Banca, mesmo antes da independência112.
A fuga dos proprietários, quadros e gestores, provocada pelo agravar da situação militar e da
instabilidade social por todo o país, deu o golpe de misericórdia sobre as empresas industriais e
agrícolas, inviabilizando o seu funcionamento, reflectindo‑se o fecho, a paralisação ou a redução
drástica da sua actividade no início da maior crise económica e social jamais acontecida em Angola.
O MPLA não dispunha de capacidade técnica para substituir os quadros e gestores fugidos, nem a que
ficou no país era suficiente para cobrir as necessidades das empresas. O descalabro foi inevitável113.
122 |
114
Grandes porções de terra foram adquiridas por pessoal militar de alta patente, políticos e outros
funcionários do Estado, Relatório sobre a Desigualdade Social em Angola, Fundação Open Society,
2010.
115
Jornal de Angola, 18 de Setembro de 1998.
116
Lei 74/01, de 12 de Outubro.
| 123
sectores produtivos poderia ser incentivada por esta via. Ainda permanece duvidoso o efectivo
impacto económico das privatizações117 – aumento do emprego, incremento das receitas patri‑
moniais do Estado, diversificação do tecido produtivo, etc. – embora seja claro que este processo
foi o início da criação da classe rica em Angola.
Os objectivos das reformas económicas de Angola, entre 1988 e 1992, foram, essencial‑
mente:
• Reduzir o grau de centralização do planeamento e gestão económica e permitir que os
sinais de mercado fossem a principal orientação da actividade económica.
• Fortalecer os controlos orçamentais e reduzir o défice fiscal.
• Resolver os problemas da dívida externa do país.
• Dar maior autonomia às empresas estatais.
• Controlar o crescimento da oferta monetária.
• Melhorar a conta corrente da balança de pagamentos.
As reformas tentadas em 1990 foram acompanhadas da definição dum regime de preços que
estabelecia três categorias diferentes de produtos: os de preço fixo (só actualizáveis de tempos
a tempos e que integrava os bens de primeira necessidade), os de margem de comercialização
(a maior parte) e os livres (nomeadamente bens de luxo). Admitia‑se que durante 1991 os pre‑
ços do segundo cabaz de produtos poderiam ser, gradualmente, liberados, dando‑se prioridade
117
Na sua primeira fase foram privatizadas 100 empresas do Estado que terão rendido aos seus
cofres apenas 100 milhões de dólares.
124 |
imediata aos que na altura se designavam de “bens monetários” (cerveja, refrigerantes, cigar‑
ros, etc.). Afirmava‑se que “a liberalização dos preços destes bens deverá ser total e inequívoca,
de modo a evitar desconfianças ou retracções da parte dos comerciantes, pretendendo‑se com esta
medida eliminar, em definitivo, a possibilidade de transferência de renda que se gera ao comprar
‑se a preços oficiais e vender‑se a preços do paralelo para agentes económicos não legalizados”.
É, no entanto, com o Programa de 1992 que se assumiu, duma forma clara, uma política de
preços e rendimentos (infelizmente, adiada devido à continuação do conflito armado):
• Secagem do mercado paralelo de divisas, não devendo o diferencial entre as taxas oficial
e paralela situar‑se acima dos 50%.
• Melhoria significativa dos abastecimentos e da produção interna, o que apelaria a uma
selectividade rígida para as importações de bens de consumo.
• Restrição da massa monetária em circulação e, por arrastamento, do défice orçamental.
• Alteração dos hábitos alimentares e de consumo, fortemente dominados, em particular
nos centros urbanos, pelas importações.
• Recuperação da agricultura empresarial, como forma de reduzir a componente importada
de matérias‑primas para a indústria.
• Controlo dos salários nominais.
É, também, com este programa que as reformas económicas de mercado aparecem como
um dos aspectos essenciais da política económica. Cinco grandes áreas estavam contempladas:
desburocratização geral da vida económica, descentralização das decisões económicas (licen‑
ciamento e aprovação de projectos de investimento de pequena dimensão, autonomia dos
Governos provinciais em matéria de decisão de afectação de verbas relativas a rubricas especí‑
ficas do OGE e do Orçamento Cambial), descentralização e desconcentração das operações de
licenciamento comercial e das operações bancárias internacionais, revisão de algumas leis (Lei
da Planificação, Lei do Investimento Estrangeiro, Lei das Empresas Estatais, Lei das Actividades
Económicas e Lei do Trabalho), reforma do sistema de administração fiscal e melhoria dos dados
estatísticos.
Em Setembro de 1989, Angola tornou‑se membro efectivo das instituições de Bretton Woods
e começou a receber assistência técnica em várias áreas, como a reorganização institucional e
a criação do sistema estatístico nacional.
A indústria transformadora foi dos sectores económicos que mais se definhou no período em
análise, tendo a sua taxa anual média de variação sido da ordem dos ‑19,8%, com consequên‑
cias evidentes no respectivo índice de participação no PIB, que chegou aos 2,5%. Zenha Rela118
118
Rela, José Manuel Zenha, Angola: O Futuro Já Começou, Editoral Nzila, 2005.
| 125
fala dos efeitos perniciosos para a industrialização do país do autoconsumo industrial, ou seja, o
direito que os operários tinham de receber uma parte do seu salário em produtos industriais que
eles próprios tinham produzido119. Este comportamento foi duramente combatido entre 1976
e 1978, mas depois passou a fazer parte da prática do mercado socialista, dada a sua evidente
incapacidade de prover todos os bens de consumo final das famílias. Esta atipicidade – aliada à
insuficiência de recursos em divisas para a importação de bens de consumo devido ao peso das
despesas militares120 – contribuiu para o aparecimento e desenvolvimento dos mercados paralelos
no país. Em muitas actividades – produtoras de bens de elevada procura como o tabaco, a cerveja,
os refrigerantes e a roupa – esta prática tornou‑se na mais importante fonte de rendimento dos
trabalhadores que ou os trocavam por outros bens ou os vendiam no mercado negro. Como já se
referiu, as reclamações por esta situação de iniquidade económica e injustiça social só se ouviram
dos trabalhadores dos sectores de serviços, que nada tinham para trocar ou vender121.
Um dos factores explicativos dos fracassos económicos foi a ausência de condições míni‑
mas de laboração das empresas, entre as quais a grande dependência do exterior em termos
de matérias‑primas, peças sobressalentes, acessórios e produtos intermédios. Incluem‑se nes‑
tas condições mínimas de funcionamento a crónica falta de energia eléctrica e água para usos
industriais e o peso da planificação administrativa da economia, verdadeiramente castradora de
iniciativas privadas e da vontade de resolver os problemas burocráticos123.
119
A desregulação da economia angolana chegou até este ponto, ou seja, a fuga à moeda nacional –
provocada pela hiperinflação – tendo os rendimentos refugiado-se num conjunto de bens cujos pre‑
ços oficiais permitiam algum resguardo do poder de compra médio da população.
120
Segundo o UNICEF, nos piores anos do conflito militar, a defesa chegou a consumir cerca de 60%
do total das receitas fiscais (Dimensões Sociais do Ajustamento em Angola, relatório elaborado por
Richard Pearce, da Universidade de Oxford, para o UNICEF, 1989).
121
Lembro‑me, quando regressei ao país (1989), duma afirmação do Professor Silva Lopes, durante
um encontro com quadros angolanos e consultores do sistema das Nações Unidas a trabalhar em
Angola (cito de memória): “De toda a minha experiência como consultor internacional, Angola é o
único país onde com uma grade de cerveja se dá a volta ao mundo de avião”.
122
À falta de cultura industrial juntou‑se a ausência duma consciência de manutenção e conservação
industrial, essenciais ao processo industrial.
123
A importação duma peça ou dum pequeno equipamento industrial (100 dólares ou 1000 dólares)
não podia ser feita sem a autorização administrativa do Estado – demora de seis a sete meses –, por
vezes mais complicada do que a aprovação dum novo investimento.
126 |
Com a Lei 17/77 estabeleceu‑se a autoridade estatal sobre as empresas e foi criado o grande
império das Unidades Económicas Estatais (UEE), o instrumento fundamental para o desenvol‑
vimento económico defendido pela economia socialista angolana.
Contudo, a sua aplicação prática foi demorada, de tal maneira que em 1980 – ano em que
foi efectuado o primeiro recenseamento do património empresarial do Estado – apenas 41
empresas nacionalizadas ou confiscadas haviam sido transformadas em UEE, dum total de 1990
empresas registadas. Em 1984 e devido a falências, liquidações, fusões e consolidações, o uni‑
verso empresarial em Angola havia‑se reduzido para apenas 687 empresas, com uma repartição
sectorial onde a indústria transformadora detinha a maior percentagem (35,1%), seguindo‑se o
comércio interno com 14,4%, os transportes com 12,5%, a agricultura com 11,5%, a construção
com 5,8% e as pescas com 5,4%. De todo este universo empresarial, as empresas privadas repre‑
sentavam apenas 38%, com predomínio da pequena actividade de sobrevivência na indústria
e no comércio124.
As empresas estatais eram de porte médio e grande e desfrutavam dum quadro macroeco‑
nómico de funcionamento em que não faltavam os subsídios orçamentais, o acesso facilitado
às divisas e aos financiamentos dos bancos estatais e um tratamento preferencial pela política
económica. No entanto, os seus índices de desempenho e eficiência foram sempre muito baixos,
porque foram quase sempre utilizadas como instrumentos do tráfico de influências entre políti‑
cos, directores de empresas e, mesmo, entre os trabalhadores. A dimensão média das empresas
estatais era de 480,8 trabalhadores, atestando a função social reservada pelo modelo socialista
pela via do sobredimensionamento.
A população economicamente activa total em Angola foi avaliada em 2 109 083 em 1985 –
para uma população total de 8 754 000 habitantes – e o emprego total em 2 037 868125, a que
correspondia uma taxa global de desemprego de 3,4%126.
Entre 1975 e 1985 estima‑se que o PIB tenha registado uma taxa média anual de crescimento
de apenas 1%, enquanto o IV Plano de Fomento havia projectado 6,7% para o período entre
1974 e 1976 e 7,3% para os anos compreendidos entre 1977 e 1979.
124
Ministério da Indústria, Registo Geral de Empresas, Abril de 1984, citado em Angola – Análise Eco‑
nómica Introdutória, PNUD, 1989.
125
O sector produtivo (indústria, construção, agricultura e pecuária, silvicultura, transportes, comu‑
nicações, comércio e outros) empregava 1 552 912 trabalhadores e o sector não-produtivo (serviços
comunitários, educação e ciência, cultura e artes, saúde e assistência social, financiamento e seguros,
administração e outros) dava trabalho a 484 956 pessoas (PNUD, 1989).
126
PNUD, Análise Económica Introdutória, 1989.
| 127
A sistemática sobrevalorização do kwanza – cuja taxa de câmbio permaneceu fixa entre 1975
e 1991 – poderia ter propiciado a aquisição de matérias‑primas, produtos intermédios e bens de
equipamento ao exterior a preços baixos, o que não se verificou, pois as importações estavam
concentradas em bens de consumo não duradouros e equipamento militar.
Durante os anos 80, o PIB real cresceu a uma taxa média anual de apenas 5%, principalmente
devido ao desempenho do sector petrolífero, cuja produção passou de 132 000 baris por dia em
1982 para 550 000 barris por dia em 1992. Tem‑se, assim, entre 1982 e 1992 uma taxa média de
crescimento anual do sector petrolífero de 15,3%. Atendendo à estrutura económica sectorial, o
PIB do resto da economia apresentou um comportamento de retracção correspondente a uma
taxa média anual de -5,3%, o que dá bem ideia da degradação do sistema económico interno e
da profundidade da crise económica.
O Banco Mundial127 refere que o PIB não‑petrolífero se degradou, entre 1982 e 1992, cerca de
21% (a que corresponde uma cadência anual de ‑2,3% muito provavelmente subavaliado). Três
razões principais para este declínio: êxodo dos colonos portugueses depois da independência
– virtualmente o único segmento da população com capacidade técnica e de gestão –, conflito
militar interno associado a imensas perdas humanas, materiais e financeiras (êxodo rural para
as cidades, destruição dos sistemas de transportes, degradação dos serviços públicos) e gestão
socialista, centralizada e planificada da economia, que impôs uma séria variada de distorções
e ocasionou uma deficiente alocação dos recursos e factores de produção. Na medida em que
os incentivos de mercado falharam, as infra‑estruturas degradaram-se e a segurança nas áreas
rurais deteriorou-se, as exportações agrícolas – que floresceram durante a década de 60 e os pri‑
meiros anos de 70 – praticamente desapareceram e a produção alimentar decaiu rapidamente.
A despeito das suas reservas minerais, bom clima e solos relativamente férteis, Angola
teve pouco a mostrar em relação à sua performance económica durante o período em estudo.
Durante os anos 80, as crescentes receitas petrolíferas não foram investidas em actividades que
pudessem sustentar a geração de rendimentos para o futuro, tendo sido, ao contrário, consu‑
midas nas despesas com a guerra, com subsídios às empresas estatais ineficientes e subsídios
a preços. O investimento privado (em média 7% do PIB), sobretudo estrangeiro, foi durante os
127
Banco Mundial, Angola: Public Expenditure Issue and Priorities during Transition to a Market Eco‑
nomy, 1993.
128 |
anos 80 e início dos 90, orientado exclusivamente para a extracção de petróleo, enquanto o
investimento público (em média 2% do PIB) foi dirigido para actividades de retorno económico
muito baixo.
As finanças públicas foram caracterizadas, no período 1982‑1992, por uma exagerada depen‑
dência das receitas fiscais petrolíferas (cerca de 70% em média das receitas públicas eram de ori‑
gem petrolífera), um declínio notório da base fiscal não‑petrolífera (reflexo da crise económica,
do crescimento do sector informal, do aumento da inflação e da deficiente organização e capa‑
cidade fiscal do Estado), um peso acentuado das despesas militares (entre 20% do PIB nos anos
de maior incidência e uma média de 15% do PIB durante o período), um manifesto excesso de
despesas com os funcionários públicos (sobrestimados face à quantidade e qualidade do serviço
prestado) e um pesado serviço da dívida pública. Os défices fiscais aumentaram muito a partir de
meados dos anos 80 para cerca de 25% do PIB e foram sempre financiados com acumulação de
dívida externa e expansão monetária128. A acumulação de atrasados (3,4 mil milhões de dólares
no final de 1992) e a alta inflação (175% em 1991 e 500% em 1992) foram as consequências.
Entre Março de 1991 e Abril de 1992 ocorreram diversas desvalorizações do kwanza face
ao dólar, porém, insuficientes em relação ao valor real do kwanza (em Março de 1993 a taxa
de câmbio do paralelo era cinco vezes mais do que a oficial). A marcha das desvalorizações foi:
primeira desvalorização em Março de 1991 em 100%, seguida de outras em Novembro de 1991
de 50%, em Dezembro de 1991 de 100% e em Abril de 1992 de 206%. As taxas nominais de
juros permaneceram constantes, entre 1978 e Novembro de 1991, a um nível de 10% ao ano.
Um primeiro ajustamento aconteceu em 1992 para um nível de 20%, mas a taxa real de juro
permaneceu fortemente negativa.
128
Uma das razões para este aumento foi o crescente financiamento público das ineficientes empre‑
sas públicas, quer em despesas de funcionamento, quer em despesas de capital.
| 129
No entanto, durante este período, a instabilidade militar, decorrente da rejeição dos resulta‑
dos eleitorais de Setembro de 1992, provocou a mais profunda retracção da actividade econó‑
mica no país, de que é expressão a taxa de crescimento do PIB: ‑0,8% em 1992, ‑21% em 1993 e
‑20% em 1994. Apesar de nos anos subsequentes o preço do petróleo ter apresentado registos
positivos no seu comportamento, entre 1996 e 1998, as significativas quebras mergulharam o
país numa crise financeira interna e de pagamentos internacionais. A Estratégia Global de Saída
da Crise (1999-2000) foi a resposta encontrada pelo Governo para se fazer face à queda da activi‑
dade económica, conformar as despesas com a defesa e criar incentivos ao investimento privado.
Depois da opção pela economia de mercado, a política económica desenvolveu‑se por uma
série de ciclos interrompidos que afectaram a sua efectividade prática. Estes ciclos incompletos
e inacabados traduziram‑se em diferentes programas de duração efémera. Entre 1989 e 2000
doze programas foram elaborados, essencialmente virados para a abordagem dos problemas
de estabilização macroeconómica – a visão estratégica de longo prazo continuava toldada pela
situação de conflito militar. As médias de 1,2 programas por ano e de 10,6 meses por programa
são bem a expressão da incidência das situações de instabilidade política e militar, bem assim do
modo como a transição para a economia de mercado foi equacionada. Neste particular, faltou
um modelo adequado às condições peculiares do país nesse período129.
Este ciclo da política económica em Angola pode ser melhor apreciado relacionando‑se as
taxas mensais de inflação – ou a sua variação – com o início e o abandono dos programas de
política económica. O gráfico seguinte dá conta deste fenómeno e permite, justamente, concluir
que a instabilidade institucional do Estado foi um factor importante de desconfiança dos agentes
económicos na política económica do Governo.
129
Rocha, Manuel José Alves da, Os Limites do Crescimento Económico: As Fronteiras entre o Possível e
o Desejável, 2.a Edição, Editorial Nzila, 2009.
130 |
Mas não foi apenas a instabilidade institucional a “roubar” efectividade à política económica.
A falta de vontade política em se materializarem as medidas de política é outra das facetas
explicativas dos insucessos no combate sustentado contra a inflação. Nota‑se, na verdade, uma
extraordinária repetição dos conteúdos das diferentes políticas macroeconómicas desde 1986,
tradução, evidente, da não implementação das respectivas medidas130.
Um dos propósitos fundamentais dos programas de política económica deste período foi o
da convergência cambial, politicamente assumido em 1996 e 1997 e sistematizado nos seus fun‑
damentos no Programa de Estabilização e Recuperação Económica de Médio Prazo 1998‑2000.
Neste último programa, a política cambial foi estruturada de acordo com o seguinte raciocí‑
nio básico: “A comprovação estatística anterior sugere que a aproximação do valor da taxa de
câmbio paralela à taxa de câmbio oficial e o controlo da inflação exigem meios de pagamento
num montante compatível com a taxa de câmbio oficial. O mecanismo mais imediato para enxu‑
gar o excesso de liquidez na economia é o da venda de divisas no mercado por parte do Banco
Central. Qualquer venda de divisas pelo BNA implica retirar dinheiro da economia, enquanto
a compra de dólares implica entregar kwanzas. Porém, mais importante que o enxugamento
inicial do excesso de kwanzas no mercado é a manutenção do montante atingido, que é vital
para o controlo da taxa de câmbio paralela e da inflação. Se não existir um controlo adequado
130
Rocha, Manuel José Alves da, Os Limites do Crescimento Económico: As Fronteiras entre o Possível e
o Desejável, 2.a Edição, Editorial Nzila, 2009.
| 131
O mecanismo para atingir a unificação das taxas de câmbio, para estabelecer a liberaliza‑
ção do mercado cambial e para assegurar a sustentabilidade de todo o processo passou pela
instauração dum regime de compra e venda livre de divisas entre o Banco Central e as diversas
instituições do sistema bancário. A taxa de câmbio seria a resultante da actuação das forças do
mercado, “sem prejuízo da intervenção eventual do BNA na compra e venda para assegurar uma
variação controlada”132.
Nem sempre a eficácia desta política macroeconómica foi conseguida. A instabilidade regis‑
tada ao longo do tempo decorreu da circunstância de a política cambial ter sido um instrumento
que favoreceu uma repartição injusta dos rendimentos e, como tal, espaço de disputa dos inte‑
resses de certas faixas da população, que procuraram adiar, o mais possível, o funcionamento
normal do mercado cambial. A prová‑lo estão os diferenciais entre as taxas de câmbio oficial e do
paralelo que denotam, também, a grande instabilidade desta política de estabilização (6946,9%
em 1990, 710% em 1993 e 65,3% em 1998).
A efectividade da política cambial começa a verificar‑se apenas a partir de 1999 (com a nova
equipa económica do Governo, empossada em Fevereiro) e acentua‑se em 2000. Os diferenciais
cambiais são a prova (13,1% e 6%, respectivamente).
Outro aspecto marcante dos programas de política económica a partir de 1999 foi o da ten‑
tativa de revisão dos regimes cambiais especiais dos sectores dos diamantes e dos petróleos,
situação que introduziria uma maior equidade entre as actividades económicas internas e as de
enclave, com reforço do sector financeiro nacional.
O programa de 1993 retomou o essencial do programa de 1992, mas com algumas particu‑
laridades que vale a pena ressaltar:
• Tendo em conta que os preços vigentes no mercado já estavam alinhados à taxa de câm‑
bio do mercado paralelo, deveria prosseguir‑se com a política de liberalização dos preços
(com excepção dos que constavam do regime de preços fixados, para os quais o que era
preconizado era uma simples actualização de subsídios).
• A liberalização dos preços deveria ser clara e inequívoca, com a suspensão de qualquer
repressão sobre margens consideradas especulativas (os preços deveriam reflectir, com
transparência, a pressão da procura sobre a oferta existente, não só para dar estímulos
correctos aos produtores, distribuidores e comerciantes, como, também, para tornar mais
visível o ritmo necessário da política cambial.
131
Governo de Angola, Programa de Estabilização e Recuperação Económica de Médio Prazo, 1998.
132
Ibid.
132 |
• A liberalização dos preços visaria, também, a redução da renda obtida pelos detentores de
divisas, dos trabalhadores que se abasteciam em regime especial (petrolíferas e outras),
que passaria, total ou parcialmente, para os comerciantes.
• Finalmente, nos casos que se mostrassem necessários, os subsídios a preços seriam feitos
ao consumidor e já não aos produtores.
A política económica do Programa Económico e Social de 1994 estava centrada nas reformas
estruturais de mercado, com realce para a liberalização dos preços, afirmando‑se que o controlo
da inflação não seria possível por intermédio de medidas repressivas no âmbito da formação dos
preços, mas, sim, através da transparência no funcionamento das regras de mercado. É neste
contexto que são seleccionadas como medidas a desburocratização do processo jurídico de
constituição de empresas, a revisão do sistema de licenciamento das importações, a eliminação
das barreiras administrativas à livre circulação das mercadorias pelo país e a incentivação das
pequenas empresas no domínio dos serviços. O programa defendia, à semelhança dos anterio‑
res, a necessidade de ajustamento nos preços dos combustíveis, das rendas e das tarifas de água
e electricidade, como uma das formas mais imediatas de eliminação dos subsídios às empresas
estatais prestadoras desses serviços e admitia a possibilidade de praticar novos subsídios sobre
os preços de bens considerados de consumo popular.
As Linhas de Força do Programa de Acção do Governo para o II semestre de 1996 representa‑
ram um retrocesso na política de liberalização dos preços – pedra de toque da transição para a eco‑
nomia de mercado – ao determinarem, na sua componente de rendimentos e preços, o seguinte:
• “Reformular e adequar os regimes de preços, transferindo uma parte significativa dos bens
actualmente sujeitos ao regime de preços livres para os de margem de comercialização.
• Aplicar o regime de margens de comercialização aos produtos essenciais.
• Estabelecer uma política salarial que se ajuste progressivamente à elevação do custo de
vida, devidamente complementada por uma política de assistência social.”
Nestes aspectos, bem como noutros, este programa de política económica representou um
claro recuo perante os avanços que os programas anteriores tinham registado. A contenção
da inflação foi incorrectamente interpretada como sendo possível através da administração
duma variável que é tradicionalmente de mercado e que se rege por intermédio do compor‑
tamento dos agentes económicos. No mesmo sentido se colocou a repressão económica junto
dos agentes privados, com o propósito de fiscalizar o cumprimento das regras das margens de
comercialização e dos preços fixados. Comentava‑se, então, que o país necessitava duma política
económica e não duma polícia económica133.
133
Assistiu‑se, progressivamente, nos anos subsequentes, a um agravamento das acções de repressão
da Inspecção das Actividades Económicas, particularmente com propósitos de obtenção duma renda
adicional aos salários dos agentes do Estado. Os empresários sempre manifestaram reservas sobre a
eficácia destes controlos administrativos.
| 133
Nos programas seguintes até 2000 a filosofia básica da política económica manteve‑se,
devendo, no entanto, assinalar‑se que nem os preços dos combustíveis, nem os da água e da
electricidade foram sistematicamente ajustados.
Por força das circunstâncias, o processo de liberalização económica foi suspenso com o pro‑
grama de emergência do Governo a partir de Abril de 1993 e só foi retomado no Programa Eco‑
nómico e Social de 1994. Um capítulo especial estava aqui reservado às políticas de liberalização
e de transição para a economia de mercado e de apoio ao desenvolvimento do empresariado
nacional. Pontificavam nestas políticas as medidas seguintes:
• Redimensionamento empresarial, com destaque para a modificação das relações entre o
Estado e as empresas públicas e a autonomia da sua gestão.
134 |
• Reposição do papel dos preços, reforma que visava devolver aos mecanismos de mercado
a sua função de equilibradores entre a oferta e a procura e de sinalizadores das decisões
de alocação de recursos.
• Reforço do sistema de intermediação financeira.
• Liberalização do mercado de trabalho.
• Garantia dos direitos de propriedade.
• Apoio à constituição de núcleos de empresários de elevado potencial.
As Linhas de Força do Governo para o II semestre de 1996 são omissas quanto às reformas
estruturais de mercado e aos processos de liberalização. Apresentava, apenas, uma nota sobre
a reanimação do sector produtivo, baseada, no entanto, em medidas proteccionistas directas,
como a penalização das importações de bens menos prioritários, definição de quotas de impor‑
tação em relação a bens e equipamentos menos prioritários, etc.
| 135
caminho, quanto mais não seja por carência absoluta de modelo alternativo. Quando se recorda
do que era a economia angolana até 1990 – orfandade ideológica, queda do sistema socialista
mundial, afirmação do capitalismo como sistema planetário, transições dolorosas para a demo‑
cracia política e económica – e se olha para o que é hoje, é inquestionável que progressos remar‑
cáveis foram feitos. É impossível hoje com o valor dum cacho de bananas ou de uma grade de
cerveja dar‑se a volta ao mundo em avião. Mas este facto, que parece hoje mais do que vulgar,
era useiro e vezeiro em 1990. O que expressa bem a dimensão dos desequilíbrios macroeconó‑
micos. Mas atesta, também, o nível de mentalidade e cultura económica da época, em que falar
‑se de inflação, de desvalorização cambial, de liberalização da economia e de desregulamentação
dos mercados era não só incompreensível, mas uma autêntica heresia económica. Nem mesmo
o SEF, com as suas propostas reformistas, devidamente justificadas, foi suficiente para introduzir
alterações culturais determinantes da mudança e da modernização no terreno económico134.
Por outro lado, há que reconhecer que, a partir de 1998, o país entrou numa rota mais
condizente e de maior convergência com a estabilização macroeconómica e com as reformas
de mercado. Lentamente, mas prosseguindo um caminho indispensável: o da organização, da
disciplina e da transparência. Muita pedra teve de ser partida e creio que o Programa Económico
e Social de 1994 e o Programa de Estabilização e Recuperação Económica de Médio Prazo 1998-
‑2000 foram duas peças centrais de toda a manobra de reajustamento institucional e económico.
Os anos de 2005, 2006, 2007 e 2008 foram os melhores depois da independência, sendo os
responsáveis pela alteração significativa do declive da recta de tendência a 28 anos (1980-2008).
Estas taxas de crescimento da economia acabaram por ser influenciadas pelas reformas
económicas de mercado levadas a cabo nos períodos anteriores e, particularmente, às imple‑
mentadas a partir de 1999, com a nova equipa económica do Governo. É a partir deste ano
134
Facilmente são imagináveis as dificuldades que os economistas e juristas do SEF devem ter expe‑
rimentado na apresentação das suas visões modernizadoras da economia nacional. Devem ter sido
inúmeros os fantasmas levantados contra a mudança e a adaptação aos novos tempos. Como estaria
hoje a economia nacional se o SEF tivesse vingado no tempo em que foi arquitectado? Teria o país de
estar sujeito à disciplina e ao modelo do Fundo Monetário Internacional? Estaria o país tão endivi‑
dado face ao exterior? Porque razão o SEF não vingou?
136 |
que a desinflação da economia se tornou efectiva, a redução dos défices fiscais tornaram-se
consistentes e ocorreram os mais elevados excedentes da balança de transacções correntes do
país. Evidentemente que a excelente situação económica mundial contribuiu para as extraor‑
dinárias performances conseguidas no domínio financeiro e económico interno e permitiu que
as reformas de mercado se aprofundassem, como, por exemplo, a estruturação dum sistema
bancário forte e moderno.
FONTES: Relatório Económico de Angola de 2008, CEIC‑UCAN, Relatórios de Execução dos Programas do Governo 2002,
2003, 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008, African Development Indicators, Banco Mundial.
Os investimentos privados foram, igualmente, decisivos para esta fase de crescimento eco‑
nómico. O investimento petrolífero foi, evidentemente, o mais importante, tendo representado,
em média no período, cerca de 85% do investimento total. No entanto, o investimento privado
não‑petrolífero também se acentuou, como resultado do clima de euforia, confiança e credi‑
bilidade que a política económica do Governo transmitiu aos agentes económicos, nacionais e
estrangeiros. Em 2008, o investimento privado não‑petrolífero foi de cerca de 1,8 mil milhões
de dólares correntes, enquanto em 2003 não foi além de 600 milhões de dólares.
| 137
A redução da inflação contribuiu para que se garantisse uma relativa preservação do poder
de compra dos rendimentos das classes mais pobres da população, já que durante o período,
na Função Pública ocorreram ajustamentos salariais de sinal e amplitude iguais aos da inflação.
Esta política foi seguida pelo sector privado.
A política económica do Governo durante o período em análise foi aplicada através de pro‑
gramas bienais, com início em 2003. Assim, o Governo implementou os Programas Gerais do
Governo de 2003-2004, 2005-2006 e 2007-2008.
135
Programas Gerais do Governo de 2003-2004, 2005-2006 e 2007-2008.
138 |
Habitação
Educação Saúde Segurança Social Total
Ano comunitária
% PIB % Total % PIB % Total % PIB % Total % PIB % Total % PIB % Total
2004 2,8 7,3 1,8 4,8 1,0 2,7 0,9 2,3 6,5 17,1
2005 2,2 6,3 1,5 4,3 5,2 14,8 1,0 2,9 9,9 28,3
2006 2,4 6,0 2,0 4,9 5,0 12,3 2,2 5,3 11,6 28,6
2007 2,9 8,4 1,8 5,3 5,5 15,9 1,8 5,3 12,3 35,6
2008 2,7 7,0 1,8 4,7 3,6 9,3 1,1 2,9 10,8 28,0
Porém, assistiu‑se, em 2008, a uma redução geral das despesas de incidência social e que
podem contribuir para a criação de um ambiente propício à redução sustentável da pobreza.
Em termos gerais, os gastos públicos com a melhoria das condições de vida da população dimi‑
nuíram o seu peso no PIB, tendo passado de 12,3% em 2007, para 10,8% em 2008. Apesar da
despesa pública social média ter passado de 420 dólares por habitante em 2007, para 506
dólares por cada cidadão em 2008, o seu montante é insuficiente face à imensa procura social
por bens colectivos de primeira necessidade e às incidências da crise económica mundial136.
A variação nominal de 20,5% foi inferior ao aumento, a preços correntes de mercado, do PIB
(cerca de 28,6%).
136
As prestações sociais aumentaram, de acordo com o Relatório de Execução Orçamental de 2008,
50,5% em termos nominais. Porém, o seu peso no PIB manteve‑se em 1,5%.
| 139
140 |
137
PNUD, Relatório do Desenvolvimento Humano de Angola, 1997.
138
Banco Mundial, Memorando Económico do País, 2006.
139
Programa Geral do Governo para o Biénio 2007-2008.
140
World Bank, Global Economic Prospects, 2009.
141
Ibid.
| 141
acentuaram a vertente do aumento das despesas públicas (de investimento, subsídios, transfe‑
rências, redução de impostos para se estimular a recuperação da produção, etc.). O indicador
mais claro dos efeitos da crise económica mundial foi o da redução do ritmo de crescimento do
PIB em 2009, tendo passado de 13,6% em 2008, para 2% em 2009142.
FONTES: Ministério do Planeamento, Relatórios de Balanço dos Programas do Governo. CEIC, Relatórios Económicos.
142
Segundo outras fontes, o PIB angolano terá regredido ‑0,4% (FMI), ‑1,9% (Economic Intelligence
Unit) ou crescido apenas 0,1% (Business Monitor Internacional).
142 |
| 143
A grande questão – de resto, comum a qualquer economia – reside no modo como este
rendimento é repartido pelas funções capital e trabalho e pela população, desempenhando,
neste caso, o Estado um papel primordial na correcção da distribuição da renda feita pelos
mecanismos de mercado. Não só pela via da tributação, directa e indirecta, mas, igualmente,
pelo montante e natureza das transferências que o Governo entrega à sociedade.
Ainda que não tivessem sido objecto de divulgação pública, os documentos Estratégia de
Desenvolvimento de Longo Prazo 2000‑2025143 e o Plano Nacional de Médio Prazo 2009‑2013
constituem peças centrais das políticas económicas do Governo e também da diversificação da
economia.
143
Referida pelo Presidente da República no seu discurso sobre o estado da Nação em 18 de Outu‑
bro de 2011.
144 |
• Taxas médias de investimento global, em relação ao PIB, em níveis também elevados, de‑
sejavelmente acima de 30%.
• Redução da participação do sector do petróleo no PIB para níveis médios próximos a 42%,
como resultado natural da diversificação da economia.
Para atingir estes objectivos serão utilizados todos os instrumentos consagrados de interven‑
ção do Estado na economia, usualmente incluídos nas denominadas políticas macroeconómicas,
a saber: política monetária, de crédito e de taxas de juros, fiscal e orçamental, de rendimentos e
preços, cambial, comercial e de balança de pagamentos, de investimentos públicos e de estímulo
aos investimentos privados, nomeadamente nos sectores prioritários, assim como as regulações
da actividade económica a cargo do Estado. A utilização adequada e atempada desses instru‑
mentos irão constar das decisões e dos documentos de gestão das políticas macroeconómicas
do Governo ao longo do período deste Plano de Médio Prazo”144.
144
Plano Nacional de Médio Prazo 2009‑2013.
145
República de Angola, Governo de Angola – Plano Nacional 2009, Outubro de 2008.
| 145
146
Ministério do Planeamento, Projecto de Plano 2010‑2011, Outubro de 2010.
146 |
147
O estado da Nação, Discurso do Presidente José Eduardo dos Santos.
| 147
• “… o destaque, neste momento, vai para a refinação de mais petróleo bruto no país e para
a produção de combustíveis, lubrificantes, tintas e solventes, etc.;
• … de 2008 a 2011 o sector de geologia e minas registou um crescimento médio anual de
11,8%, consubstanciado numa taxa anual média de produção de diamantes na ordem dos
2,5% e no aumento da produção de quartzo e de materiais de construção de origem minei‑
ra, como areia, burgau e brita;
• … no subsector dos diamantes estão em curso acções que visam, além da extracção, a
valorização de todas as fases da cadeia desta indústria, desde a comercialização dos dia‑
mantes brutos, à sua transformação, incluindo a joalharia;
• … foi retomada a exploração do ferro e do manganês, com um projecto integrado que
inclui a indústria metalúrgica e a siderúrgica e que prevê a criação de mais de três mil
empregos na Huíla;
• … exploração, no norte do país, dos fosfatos e do potássio para a produção de adubos para
o desenvolvimento da agricultura;
• … em curso iniciativas para a produção de ouro e cobre e para aumentar a produção de
rochas ornamentais e outras matérias‑primas necessárias para a indústria dos materiais
de construção;
• … espera‑se que a partir de 2013 o sector da geologia e minas contribua de modo significa‑
tivo para o aumento das receitas do Estado e para a diversificação da economia nacional
e o aumento do emprego”.
O sector da energia (produção e distribuição) é um dos que tem um papel determinante nos
processos e estratégias de diversificação da economia, ao propiciar a prática de preços competi‑
tivos e facilitar a produção industrial e agrícola. A este propósito, o Chefe de Estado pontualizou:
“… de forma a superar o desafio de reduzir a zero o défice de energia eléctrica no país, está em
curso a reabilitação das barragens do Gove, Mabubas, Lomaum e Cambambe I, a ser concluída
em 2012. Estes empreendimentos serão responsáveis por adicionar 295,6 megawatts ao sistema
energético;
serão também instaladas em 2011 e 2012 centrais térmicas de geração de energia
em Cabinda, Luanda, Dundo, Lubango, Namibe, Menongue, Ondjiva, Huambo e Benguela”.
Sobre a indústria transformadora, o Presidente da República referiu que:
• “… de 2008 a 2011, o sector da indústria transformadora registou um crescimento mé‑
dio anual na ordem dos 8%; foram criadas e entraram em funcionamento 750 empresas
privadas, em quase todos os subsectores, com destaque para a indústria alimentar e de
bebidas; o número de postos de trabalho directos cifrou‑se em 25 120 e o valor dos inves‑
timentos privados atingiu cerca de 4 mil milhões de dólares;
• … o sector dos têxteis, vestuário e calçado começa agora a dar os primeiros passos, com
o relançamento da cultura e da fileira do algodão e a reabilitação e desenvolvimento da
produção têxtil, de modo a gerar emprego e a substituir as importações;
148 |
• … para o próximo ano deverão entrar em funcionamento três fábricas de tecidos, nomea‑
damente a Textang II em Luanda, a África Têxtil em Benguela e a SATEC no Cuanza‑Norte
e Dondo;
• … prevê‑se que de 2012 a 2017 o sector da indústria transformadora vá registar um cresci‑
mento médio anual na ordem dos 10% e que o número médio anual de postos de trabalho
a criar seja de 7400 directos e 7580 indirectos, estando o valor dos investimentos a realizar
estimados em 8 mil e 500 milhões de dólares, inscritos na carteira dos Ministérios da In‑
dústria e da Geologia e Minas”.
Não se encontraram referências aos mega‑clusters, nem aos pólos de desenvolvimento regio‑
nal e à Zona Económica Especial.
148
O estado da Nação, Discurso do Presidente José Eduardo dos Santos.
149
Por exemplo, através da celebração de contratos‑programa entre o Estado e os capitães de algu‑
mas indústrias eleitas para o leque de indústrias nascentes, nos quais são claras as responsabilidades
de cada uma das partes envolvidas (tipo e montante de investimentos a realizar para se maximizar a
capacidade interna de produção, formação de empresários e trabalhadores, gastos de Investigação &
Desenvolvimento, modelos de organização da produção industrial, quotas de substituição das impor‑
tações e metas temporais para a sua obtenção). Muitos países do sudeste asiático, hoje industrializa‑
dos, praticaram estes contratos‑programa e muitas empresas foram excluídas do acesso às isenções
aduaneiras por incumprimento de metas e responsabilidades. A protecção aduaneira não deve ser
geral, mas adoptar uma descriminação positiva face a certas indústrias e certos industriais (os que
comprovadamente são portadores de futuro e duma capacidade de gestão estratégica valorizadora,
do ponto de vista social, dos custos de oportunidade relacionados com a abdicação de cobranças dos
direitos alfandegários).
| 149
Um outro elemento é a inflação. Um breve relance sobre a inflação permite concluir que
Angola não é competitiva com nenhum dos espaços tomados como base de referência, decor‑
rendo, portanto, dificuldades em disputá‑los pela via dos preços, caso existisse alguma produção
exportável de bens transaccionáveis, com excepção do petróleo e dos diamantes.
No Relatório de 2012, Angola caiu uma posição, passando de 171.o lugar para 172.o, entre 183
economias. Como mostra a tabela da página seguinte, este declínio coincidiu com a melhoria
significativa de alguns indicadores parcelares, como o registo de propriedade.
150
O que é facto, é que não existem outros, nomeadamente de iniciativa interna. Por outro lado, os
investidores privados, mesmo os nacionais, dão enorme importância a estes indicadores e levam‑nos
em consideração nas suas decisões de investimento.
150 |
Deve ser dada prioridade à criação de um ambiente de negócios saudável para os investido‑
res privados, implementando reformas estruturais, continuando com a reabilitação das infra
‑estruturas físicas (mas aumentando a sua qualidade e os níveis de fiscalização sobre a corrupção
existente), melhorando a gestão da despesa pública e descentralizando o investimento público
para níveis de decisão e implementação mais desconcentrados.
Até ao momento, os esforços neste sentido têm sido insuficientes e fazer negócios em Angola
continua a ser difícil. Um dos elementos de mais difícil compreensão da parte dos investidores
estrangeiros é o de como se adaptarem a regras não escritas quando pretendem lançar uma
actividade nova e se defrontam com uma série de obstáculos não existentes na lei e derivados
do modo como os agentes do Governo interpretam como o processo se deve desenrolar151.
Estes padrões também influenciam a eficiência das organizações que devem promover o
desenvolvimento nacional, com base na educação, igualdade, participação na vida activa e
ampla participação na construção do futuro de Angola.
A despeito duma evolução francamente favorável desde 2000, com particular destaque para
2006, 2007 e 2008, a produtividade apresenta, ainda, índices muito baixos, particularmente
quando inseridos em contextos internacionais. Em 2008, o valor médio da produtividade bruta
aparente do trabalho foi de cerca de 12 500 dólares por trabalhador, o mais alto do intervalo
temporal 2000‑2010. Nesse ano, a taxa de crescimento do PIB foi de 13,6% e do emprego de 4,9%.
151
Estes aspectos limitam a extensão e profundidade da aplicação do local content.
| 151
Em 2011, o valor deste indicador foi de 13 500 dólares por trabalhador, uma forte recupe‑
ração face aos 9200 dólares registados em 2009152. Uma taxa de crescimento do PIB acima de
3% e uma menor intensidade no incremento do emprego – a par, espera‑se, de uma melhor
organização das empresas e de uma maior formação dos seus quadros e trabalhadores – podem
justificar o essencial deste registo.
152
Não se pode perder de vista a circunstância de ser a produção de petróleo o sector onde este
indicador atinge valores verdadeiramente galácticos, influenciando, assim, a média nacional. As dis‑
paridades sectoriais são, portanto, muito fortes e a diferença para o sector petrolífero ainda não fun‑
cionou como factor de disseminação, apreensão e domínio das boas práticas de gestão empresarial
corrente e estratégica, apanágio destas indústrias de ponta.
152 |
Resta, porém, uma distância significativa para alguns países da SADC – a norma de referência
de Angola – como a África do Sul (onde o seu valor rondou os 55 000 dólares por trabalhador
empregado em 2011) e as Maurícias e Botswana com médias brutas aparentes na vizinhança
dos 42 000 dólares e para União Europeia, onde a produtividade bruta aparente do trabalho se
situou em mais de 192 000 dólares.
| 153
As condições gerais para a reindustrialização com diversificação económica são várias, mas
exigentes em rigor, disciplina, organização, pensamento e planeamento estratégico, capital
humano, capital cultural (cultura empresarial/industrial, cultura da informação) e capital social
(instituições públicas e privadas).
154 |
• Controlo da inflação em limites que a teoria económica consagra como os adequados para
se promover o crescimento económico em bases sólidas e irreversíveis, o que na prática
significa o exercício duma gestão macroeconómica de mercado e uma acentuação do pa‑
pel orientador do Estado.
• Regulação monetária permanente enquanto instrumento do exercício da política econó‑
mica em economias abertas e que passa por itens como o controlo da emissão monetária
(as variações na massa monetária em circulação deverão passar a ser exclusivamente en‑
dógenas, ou seja, induzidas apenas pela necessidade de crescimento da economia e da
produção, o que liminarmente afasta qualquer hipótese de financiamento do défice fiscal
por esta via) e o fomento do crédito à economia no respeito dos limites da programação
monetária153.
• Redução sustentada do défice fiscal e mobilização de fontes reprodutivas para o seu finan‑
ciamento. Quer isto dizer que face ao enorme esforço que se coloca em matéria de recons‑
trução económica, com particular destaque para as infra‑estruturas físicas, os equipamen‑
tos sociais e o capital humano, o Estado não poderá fugir inteiramente à ocorrência dum
certo desequilíbrio orçamental154. O importante é que o seu financiamento se socorra de
fontes economicamente reprodutivas, como o mercado de capitais – cuja criação se justi‑
fica também pelo volume das receitas de exportação e pelo peso na economia nacional de
algumas empresas estrangeiras – e as receitas da privatização do património empresarial
do Estado. Além disso, a redução sustentada do défice é tributária duma radical alteração
do perfil das despesas públicas – por exemplo, aligeirando‑se substancialmente o peso dos
subsídios de utilidade económica marginal e mesmo duvidosa e aumentando‑se a partici‑
pação percentual da massa salarial – e duma reforma fiscal profunda que tem no tempo
e na modificação dos métodos de tributação e de cobrança dos impostos um factor im‑
153
Será que se podem obter maiores níveis de procura agregada de forma permanente – e consequen‑
temente de emprego – através da intervenção do Banco Nacional de Angola ao nível da política mone‑
tária ou do Governo através da política orçamental?
154
A evidência empírica do que se verificou entre finais da década de 60 e meados dos anos 80 – parte
final do que na Ciência Económica ficou conhecido como os “30 gloriosos” – com um crescimento
acentuado da dívida pública (em percentagem do PIB), com elevadas taxas de inflação e significativos
desequilíbrios nas contas externas na maioria dos países, incluindo os da OCDE, revelou que a condu‑
ção da política orçamental sem a consideração expressa da restrição fiscal não é muito saudável para
o funcionamento normal da economia. Não se trata de tomar à letra a afirmação de Thomas Sargent,
segundo a qual “inflation is always and elsewhere a fiscal phenomenon”, mas sim de aceitar como bas‑
tante lógico que dentro de determinadas condições os aumentos do défice fiscal devem desencadear
pressões inflacionistas. Facilmente se demonstra que os défices fiscais que não levem a um aumento
significativo e sustentável da taxa de crescimento do produto serão tendencialmente geradores de
inflação. Também com relativa facilidade se prova que se o défice – ainda que seja em parte – for
financiado junto do Banco Central, as tensões inflacionistas estarão presentes, para além da ocorrên‑
cia do crowding‑out. Todas estas considerações sugerem que as despesas públicas têm de ser muito
bem seleccionadas em cada ano fiscal e que os investimentos públicos devem ser objecto duma ava‑
liação rigorosa quanto à sua eficácia sobre o crescimento económico permanente.
| 155
portante de sucesso. Esta alteração do perfil das despesas públicas é igualmente reclama‑
da em favor dos investimentos públicos em infra‑estruturas económicas, equipamentos
sociais e constituição do capital humano nacional. Os investimentos públicos – enquanto
instrumento destacado da mobilização do investimento privado – devem passar a reger‑se
por critérios e normas estritamente económicas, porque em última instância é por seu in‑
termédio que se valida a utilidade social duma parte importante dos recursos financeiros
que a Nação deposita nas mãos do Estado e do Governo.
Mas acresce mais um aspecto e relativamente ao qual se deve, também, obter o necessário
consenso político. Trata‑se do défice externo (saldo da balança de transacções correntes) e do
correspondente contrapeso, a dívida externa. O problema de fundo é, afinal, o do financiamento
da economia. Não haverá consolidação da estabilização macroeconómica, nem muito menos
recuperação e crescimento da produção, sem recursos financeiros abundantes. A redução sus‑
tentada do desequilíbrio das contas externas vai ter de passar, a médio prazo, por uma diver‑
sificação acentuada das exportações155, uma radical transformação do perfil das importações
(valendo sublinhar a importância duma política selectiva de importações que preserve os índices
de eficácia económica interna e de competitividade externa, ou seja, e por outras palavras, o
chamado modelo de substituição de importações só deve ser praticado enquanto instrumento
de fomento do crescimento económico, se os preços internos a praticar forem, no mínimo, iguais
aos preços das importações que se pretendem substituir), uma mobilização do investimento
estrangeiro e pela renegociação da dívida externa. A questão da renegociação da dívida externa
do país é, não só, um factor de credibilidade internacional de Angola e do seu Governo, como
um meio indispensável de descompressão do constrangimento financeiro da economia, impor‑
tante numa óptica de médio prazo. Subjacentemente emerge a discussão do envolvimento com
o Fundo Monetário Internacional como o parceiro exclusivo de facilitação do reescalonamento
das contas com o exterior.
Em segundo lugar sobressai, do contexto das linhas de força para um programa de médio
prazo, a natureza do Estado. A actuação das instituições do Estado em matéria de política eco‑
nómica é caracterizada por uma série de desfasamentos: entre a decisão e a execução – o que,
possibilitando a ocorrência de novos factos que podem tornar ultrapassadas decisões tomadas,
em última instância significa uma quase permanente desactualização das medidas de política –
entre a identificação dos problemas e a sua consciencialização, e entre a tomada de consciência
e a decisão de se actuar. Em particular é fundamental reforçar o elo entre o decidir executar e
controlar os resultados (avaliação contínua da política económica). Estes desfasamentos contri‑
buem para um esvaziamento crescente das funções do Estado e para uma certa desvalorização
155
Uma diversificação real só pode ser encontrada na indústria e na agro‑indústria. É um erro
considerar‑se que o incremento da produção e exportação de diamantes, ferro, rochas ornamentais e
outros produtos brutos da economia mineral veicula uma diversificação das exportações. A diversifi‑
cação das exportações está indelevelmente relacionada com a obtenção de maior valor acrescentado
interno, associado à constituição duma competitividade estrutural.
156 |
da sua presença na economia, onde as suas tarefas são enormes para a reconstrução económica
e a formação da economia de mercado.
Outro vector relevante é o de quem deve executar as decisões, o que nos transporta para
o domínio da capacidade técnica da máquina do Estado. Esta falta de capacidade faz‑se, parti‑
cularmente, sentir ao nível dos escalões intermédios – o chamado middle management – que
são quem afinal tem a importante missão de cumprir, fazer cumprir e fiscalizar as medidas de
política económica. Nestas condições, as probabilidades de sucesso efectivo das políticas eco‑
nómicas são reduzidas, podendo‑se, portanto, referir que sem uma reestruturação do Estado
e a reforma da sua Administração – donde se destacam o management capacity building e
as remunerações salariais – os resultados das políticas económicas poderão situar-se sempre
aquém do esperado.
A terceira linha de força situa‑se no domínio das reformas estruturais. É por seu intermédio
que a ligação estabilização‑recuperação‑crescimento económico se estabelece. Sem reformas
estruturais não haverá condições para o crescimento económico, ainda que se consigam níveis
sustentados de inflação baixa, nem para a constituição dum mercado interno no qual se afirme
a classe empresarial nacional. Vale também acrescentar que as reformas estruturais são a pedra
de toque da economia de mercado. Reformas estruturais, quer no referente às políticas estru‑
turais de mercado (desregulamentação dos mercados e liberalização dos preços, defesa da con‑
corrência, redução do peso do Estado na economia produtiva, compensação de externalidades
e produção de bens públicos), quer em relação às políticas de desenvolvimento (infra‑estruturas
físicas, equipamentos sociais, educação, saúde, capital humano, capital ambiental e transforma‑
ção tecnológica). Aspecto importante é revertível ao padrão a seguir na sequência das reformas,
o mesmo é dizer no estabelecimento dum calendário de prioridades sequenciais para a execução
das reformas, no pressuposto evidente de que algumas reformas serão vazias se outras prévias
se não efectivarem. Novamente a necessidade de consenso político a fazer‑se sentir, uma vez
que o que está em causa em matéria de reformas estruturais envolve sacrifícios e perda de pri‑
vilégios, compensáveis, apenas, no médio prazo. Naturalmente que o estabelecimento de seme‑
lhante cronologia vai depender dos resultados do programa de política económica do Governo
para 2003‑2004, assim como de constrangimentos específicos da transição e das alterações que
se introduzirem no funcionamento da Administração do Estado, devendo, por isso, serem evita‑
das reformas particularmente arriscadas: não vale a pena tentar organizar‑se o sistema bancário
e financeiro enquanto as finanças públicas e o respectivo Ministério não estiverem organizados
eficientemente e não se concederem meios e autonomia ao Banco Nacional de Angola.
| 157
• Nível global de abordagem, com relevo para uma política global de redução do desem‑
prego centrada na formação e reciclagem da força de trabalho (redução do desemprego
estrutural ou de longa duração que levou a uma desactualização de conhecimentos tec‑
nológicos e de experiência profissional), na manutenção dos salários reais e da produti‑
vidade em níveis incentivadores para o investimento privado, na desregulamentação do
mercado de trabalho com salvaguarda da utilidade social do subsídio de desemprego e do
salário mínimo, na promoção da mobilidade espacial da força de trabalho (tributária da
consolidação da paz e da livre circulação em condições de segurança), na incentivação de
certas actividades geradoras de emprego no sector dos serviços, na difusão do microcré‑
dito por todo o país, na redução do horário de trabalho156 sem prejuízo do crescimento da
produtividade, na antecipação da idade da reforma, etc. São questões que só um quadro
global de referência, como um plano de médio prazo, e o tempo permitem equacionar e
resolver duma maneira sustentada.
A quinta linha de força do programa de médio prazo é a pobreza. A taxa de pobreza no país,
segundo os resultados do Inquérito às Despesas e Receitas Familiares do INE (2000-2001), situa
‑se nos 62,2% para os agregados familiares e 68,2% para os indivíduos, o que significa que quase
⅔ da população tem rendimentos diários inferiores a 1,5 dólares americanos, traduzido em
exclusões variadas: não têm acesso a serviços de saneamento básico e de saúde fundamental,
não têm os requisitos de alfabetização mínimos, não acedem aos serviços básicos de educação,
não têm condições de disputar as oportunidades de emprego que o mercado pode oferecer (as
156
É evidentemente uma questão controversa, mas que, no mínimo, não deve deixar de ser equacio‑
nada enquanto parte duma solução não estruturalizada – e por isso passageira – do problema das
altas taxas de desemprego.
158 |
A sexta, e última, linha de força situa‑se no reforço técnico, gerencial e económico do empre‑
sariado nacional, o qual deve operar‑se por iniciativa e determinação próprias. Ao Estado e à
política económica ficam reservados neste domínio particular a criação de todas as condições
necessárias para tal desiderato e donde avultam a estabilidade dos preços, a desregulamentação
dos mercados, a defesa da concorrência, a desburocratização da Administração, a disponibili‑
zação de meios de financiamento, a oferta de infra‑estruturas de transportes e comunicações
operativas e modernas e a estabilidade política. Se o reforço tecnológico e económico do empre‑
sariado angolano não se fizer rapidamente, a estabilização macroeconómica e a sua consolida‑
ção no futuro, ao criarem as condições propícias para o investimento económico, acabarão por
beneficiar, sobretudo, o empresariado estrangeiro. Claro que o investimento privado estrangeiro
é importante e mesmo necessário para a modernização do tecido produtivo do país e o aumento
da sua capacidade tecnológica, mas não deve prejudicar o desenvolvimento das forças produti‑
vas internas, nem pôr em causa o controlo da economia nacional. Um aspecto importante desta
matéria tem a ver com a confiança do sector privado que é absolutamente fundamental para o
sucesso da política de estabilização. Num ambiente de crise de relacionamento a confiança do
sector privado enfraquece, o que pode reduzir a efectividade das políticas de ajuste, levando,
em decorrência, a menos investimento e produção. Por outro lado, o controlo e a disciplina orça‑
mental devem conduzir ao aumento do investimento privado, já que a redução da procura de
crédito do sector público acarreta um abaixamento das taxas de juro de mercado e um aumento
da oferta do volume de crédito.
Um outro aspecto relevante prende‑se com a base de acumulação financeira interna sem a
qual não se estruturará a classe empresarial nacional. É uma temática a ser equacionada numa
óptica de desenvolvimento e só resolúvel a médio prazo.
| 159
3.5.1 A
posição estratégica do sector da energia e águas para a reindustrialização e diversificação da
economia nacional
• Subdimensionamento da infra‑estrutura:
– Significativas restrições no acesso à electricidade, estimando‑se em cerca de 30% da
população com electricidade doméstica158.
– Fortes limitações na capacidade de produção de energia eléctrica, com uma taxa média
de satisfação da procura de 50% (a diferença é suprida pela auto‑geração).
157
Política e Estratégia de Segurança Energética Nacional, Decreto Presidencial n.o 256/11, de 29 de
Setembro, Diário da República, I.a Série, n.o 188, 29 de Setembro de 2011.
158
Os benchmarks situam‑se entre 50% e 100% na Nigéria, África do Sul e Brasil.
160 |
• Elevada inoperacionalidade dos activos, calculada entre 40% a 50% da infra‑estrutura exis‑
tente ao longo de toda a cadeia de valor, motivada pela intensidade de exploração, idade
avançada dos equipamentos, falta de manutenção regular e insuficiência dos trabalhos de
reabilitação.
• Custos elevados de fornecimento (220 dólares por MWh, cerca de 60% superiores aos de
referência), justificados por perdas técnicas substanciais (15% do produzido, quando não
deveria ultrapassar os 10%).
• Elevada subsidiação, com manutenção duma tarifa média de 42 dólares por MWh, supor‑
tando o Estado 80% do custo total do sistema. Este desequilíbrio é agravado pelas perdas
comerciais ocasionadas pelas ligações clandestinas e ilegais, não pagamento e deficiências
no ciclo comercial das cobranças. Com estes desperdícios, o valor efectivo da tarifa cobra‑
da é de 26 dólares por MWh distribuído, gerando‑se sucessivos défices financeiros anuais
(800 milhões de dólares em 2008)159.
• Défices financeiros estruturais das empresas públicas do subsector dos quais resulta uma
situação patrimonial insustentável, inviabilizadora do recurso ao crédito bancário privado
e sobrevalorizadora dos apoios do Estado a fundo perdido.
Para se poder fazer face ao esperado aumento da procura de electricidade até 2025 (estima
‑se que a mesma passe de 5 TWh para 30 a 354 TWh) a Estratégia de Segurança Energética
define duas fases: a primeira, de curto prazo até 2012, para se aumentar a capacidade de oferta
do sistema de produção de electricidade de 1 GW para 2 GW, para se satisfazer o aumento de
procura esperado. Os investimentos previstos rondam os 4 mil milhões de dólares.
Para a segunda, de longo prazo, prevê‑se que o sistema garanta o aumento da capacidade
de oferta de 2 GW para 9 GW em 2025, para o que será necessário um investimento acumulado
de 13 mil milhões de dólares.
159
Esta situação pode ser considerada como uma das heranças do sistema socialista, onde tudo deve‑
ria ser o Estado a fornecer e a prover. Continua instalada uma cultura paternalista, muito penaliza‑
dora da economia e da sociedade.
160
Ver a página 32, Considerações sobre o Knowledge Economy Index (KEI) do Banco Mundial e a
importância que a qualificação dos recursos humanos tem para o crescimento e a diversificação das
economias.
| 161
Its potentially benign effects notwithstanding, diversification has been given little explicit
attention in official Angolan policy up until quite recently. A thorough examination of official
policy documents and economic plans has revealed that diversification was at best indirectly
addressed up until the last 2000s. The National Medium Term Plan 2009‑2013, however, explici
tly sees diversification as an objective, arguing for the importance of diversification at sectoral
and provincial levels with priority to development of sectors related to natural resources, water,
food, “habitat”, transport and logistics. Diversification was further discussed in the National
Plan 2009, indirectly in the National Plan 2010‑2011, and some attention to the development
of sectors outside of oil has been given in a subsequent presidential address on the state of the
nation to the National Assembly.
161
World Bank, Doing Business, vários anos.
162
“In terms of employment the Luanda area accounts for some 75% of the nation’s industry work places,
75% within trade, 92% in finance and 90% in the university sector”, in IRIS/University of Stavanger –
Pilot Study on Scientific Knowledge Enhancement in Angola, Jan Erik Karslen and Christian Quale, 2011.
163
Definidas como a redução dos custos resultantes da proximidade física de empresas do mesmo
ramo ou de actividades complementares. As economias de aglomeração constituem, de certa forma,
um caso particular de economias externas.
162 |
The limited attention given to diversification in Angola raises questions of how to approach
the issue of industrial policy in the country. There are a number of conventional constraints to
diversification, such as a lack of human capital, weak infrastructure, high costs of doing business,
and high currency rates. Angola suffers from a number of these, as reflected in indicators of its
business environment. Each of the constraints can in principle be addressed through general
or more sector specific interventions. For instance, interventions can focus on human capital,
infrastructure or regulatory requirements of specific industries, or on more general improve‑
ments in education, infrastructure and regulation that would benefit a number of industries.
Sector specific interventions can also aim for a more or less radical departure from the current
industrial structure; local content policies related to the petroleum industry represent a more
narrow approach than for instance policies related to agriculture or manufacturing.
Our analysis indicates that diversification may have desirable effects on key challenges facing
resource‑rich countries. However, it also suggests that diversifying resource‑rich economies
through conventional means is not straightforward. While diversification improves chances of
democracy in a country, it also undermines the power of the elite. Reforming domestic industrial
policy to the detriment of the elite is likely to be difficult, and measures to increase diversifica‑
tion may be resisted, undermined, perverted, or captured by elites in these countries. In addition
to the conventional constraints, there are also political constraints to diversification. Designing
policies for diversification without analyzing the political constraints to diversification may lead
to the wrong policy prescriptions.
The distinction between more or less narrow specific and general industrial policies high‑
lights an important dilemma or trade‑off in this respect. Policies that aim to more substantially
broaden the economic base will also undermine the elite’s hold on more power, and hence be
less likely to be implemented. An elite is likely to favour local content policies which are related
to the development of a sector under their control, over improvements in conditions for other
industries, or in the general business climate. The contrast between the relatively passive role
played by the Angolan government in developing industries outside of petroleum and its active
emphasis on local content fits this political economy observation.
| 163
After becoming independent from Portugal in 1975, Angola faced an intense civil war that
destroyed most of the economic infrastructure which led to the paralysation of most economic
activities (agriculture and the industry) except the production of oil and diamond that were used
mainly to finance the war. In 2002 the war ceased and eventually the country gained peace. With
the peace Angola increased the production of oil and diamonds and started to invest in agricul‑
ture and industry and other sectors of the economy such as services which led to the boom of
GDP growth as we can see in the table below.
Annual GDP Growth (%) 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
GDP 3,4 11,7 20,6 18,6 23,3 13,8 2,4 3,4 3,4 5,2
Oil GDP ‑1 13,9 26,0 13,1 20,4 12,3 ‑5,1 ‑3 5,6 4,3
Non‑Oil GDP 6,8 9,1 14,1 25,7 25,7 20,5 8,31 7,8 9,1 5,6
A year after the cease of the war, Angola recorded a growth rate of 5,31%164 and from there
on the average growth rate was about 17,01% from 2004 up to 2008. The peace allowed Angola
to have a tremendous growth mainly due to the increase of oil production that was stimulated
by the increase of the demand and price of oil in the international market. This period of high
growth that Angola had from 2002 to 2008 is considered to be the mini golden age of the Ango‑
lan economy165 given that Angola never in its history has had such remarkable growth.
164
According to Alves da Rocha this growth rate was due to the break in the growth production of oil
in 2003 compared to the preceding year which led to a decrease of the overall rate of GDP since oil
production represented at that time 54,9% of the GDP – Economic Growth in Angola to 2017 the Main
Challenges, Angola Brief, December 2012, Volume 2, N.o 4.
165
Alves da Rocha was the one that named this period as the mini golden age.
164 |
These growth rates reveal how concentrated the Angolan economy is. As we can see in
table 1, in every year that the oil sector had a negative growth (2003, 2009, 2010, 2011) the
overall GDP growth rate is less and lower although the non‑oil sector had a positive growth rate.
The financial and economic international crisis was a wakeup call to the Angolan authorities
since this led them to realize, after experiencing the bad consequences of relying only on the
oil production, that it is crucial and necessary to diversify the economy as Jensen and Paulo
(2011) argued.
The several projects of reconstruction that were implemented after the peace stirred most
of the growth of the non‑oil sector during the golden age period. Data from the Ministry of
Planning show that during this period the sector of construction (public works and civil cons
truction) had an average growth of about 30% whereas the agriculture was about 15%, and the
manufacturing industry was about 25%. These higher rates of growth of the non‑oil sector need
to be interpreted carefully taking into account that after the end of the war the non‑oil sector
started, so to speak, nearly from the scratch thus having a very low base from where the growth
started to be counted.
The current Gross Domestic production of Angola today is almost 8 times greater than what it
was after the end of the war in 2002. In 2011 the GDP was estimated to be 104 thousand millions
of USD whereas in 2003 it was about 12 thousand millions as the table 2 shows.
Table 2 – Population, GDP per capita and unemployment rates (after the war)
Indicator Name 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
GDP (current USD millions) 12 463,59 18 954,40 30 619,44 43 784,51 61 796,53 79 620,70 65 161,07 80 856,69 104 331,61 112 700,00
Population, total (millions) 15,42 15,96 16,49 17,01 17,53 18,04 18,56 19,08 19,62 20,61
GDP per capita 808,28 1187,81 1856,96 2573,99 3526,12 4414,06 3511,76 4237,35 5318,04 5468,41
Unemployment rate (%) 42,31 40,35 34,54 32,33 25,33 23,90 26,63 24,70 24,81 26,50
SOURCES: Unemployment rates from Economic Report of CEIC/UCAN; Population from World Bank database; GDP from WB database and
the Ministry of Planning of Angola.
Since 2003 the Angolan total population has been growing on average at the rate of nearly
3% a year this is lower than the rate at which the GDP has been growing (an average of 10,5%
from 2003 to 2012). This fact allowed a GDP per capita increase from USD 808,28 in 2003 to
USD 5318,04 in 2011 contributing to the improvement of the Human Development Index that
increased from 0,375 in 2000 to 0,508 in 2012, corresponding to an average annual increase of
2,6%166. Still in 2012 Angola was ranked at 148 out of the 187 countries, with a low human develo-
pment index. The life expectancy at birth increased by 6,3 years between 2000 and 2012 while
in 2000 was 45,2 years, in 2012 was 51,5 years. The mean years of schooling has not increased
so much since in 2000 this was 4,4 and in 2012 was still 4,7.
166
Human Development Report 2013, Explanatory note on 2013 HDR composite indexes, Angola.
| 165
The unemployment rate is still very high according to the estimates of the research centre for
scientific studies of Catholic University of Angola (CEIC/UCAN) although it has been decreasing
from 2003 to 2011. Almost 24,81% of the labour force in Angola is unemployed, making life
difficult for the majority of the households since without income they cannot feed their families
thus contributing to the increase of the poverty rate among the population.
The high unemployment can be explained on the one hand due to the lower years of schoo
ling of the labour force (most of the companies import a lot of workers from abroad arguing
that is due to the lack of skilled local workers) and on the other hand due to concentration of
the economy on oil production which is highly capital intensive requires fewer workers in com‑
parison to the non‑oil sector such as agriculture, manufacturing industry and services. Thus,
endeavouring to diversify the economy will for sure help to increase the employment rate and
decrease the unemployment among the labour force in Angola and consequently decrease the
high poverty rate that still plaguing the Angolan population and improve their life conditions.
This can be one of the most important channels for diversification to improve welfare.
With the end of the war the Angolan government managed to set economic policies that
allowed the country to achieve macroeconomic stability regarding the main macroeconomic
variables such as the inflation rate, the exchange rate and the net international reserves. Having
those variables stabilized was fundamental and it still is today, to ease the business climate and
to inspire trust and confidence to the investors and entrepreneurs, making them to feel com‑
fortable to invest in the economy.
Others macroeconomic variables 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Inflation Rate (%) 76,56 31,02 18,53 12,21 11,78 13,17 13,99 15,31 11,38 9,02
Exchange Rate (AOA/USD) (average) 78,79 85,63 80,78 80,08 74,83 74,85 89,40 92,64 95,28 95,83
Net Intern. Reserves (USD millions) 623,3 527,5 3194,5 8193,2 11 235,6 17 876,9 13 679,1 18 796,8 26 320,6 30 828,1
As table 3 shows the inflation rate was very high in 2003, in the first year of peace, it
was 76,56% and four years later, in 2007, the inflation rate was 11,78%. This tremendous
reduction was due to the good monetary policy and instruments used by the Central Bank
(Banco Nacional de Angola) to reduce and stabilize the inflation rate and they managed to
do so. In order to inspire trust to the investors in the economy, because of the high inflation,
at that time the Central Bank allowed the use of the United States Dollars as currency along
with the local currency kwanza (AOA) in the economy. Everyone could use dollars in almost
every transaction even to pay salaries and ask loans from the commercial banks and this was
particularly convenient and good to the importers and exporters given that they used dollar
in their international trade.
166 |
The Central Bank used the exchange rate (kwanza (AOA)/dollar) as an anchor to keep the
inflation rate (measured by the consumer price index) under control and reducing in this way the
prices of goods and services in the economy167. As we can see on the table 3, the reduction of
inflation was related with the reduction of the exchange rate from 2003 to 2007. In order to have
the exchange rate lower and under control the Central Bank used the net international reserves.
In this period of the golden age168 the export of oil was excellent and this allowed the Central Bank
to have the dollars needed to stabilize the exchange rate and controlling in this way the inflation
rate. Nevertheless, at the end of 2008 with the start of the international crisis the export of oil
dropped dramatically affecting negatively the inflow of the international reserve in the economy.
This fact put the Central Bank in an awkward and difficult situation since they could no longer
count on the international reserve to control the exchange rate and the inflation rate. That is
why we saw an increase of the inflation rate from 2008 to 2010. But in 2011 and 2012 with an
increase in the price of oil in the international market, things slightly improved, as it was possible
to keep the inflation under 10% in 2012, with the international reserves reaching the value of 29
thousand millions of dollars, almost 27% of GDP and representing more than 7 months of imports.
But the problem of inflation in Angola is not only a monetary one; other factors also play a
big role such as the quality of the infrastructures and of the institutions (the port, the Customs,
the customs brokers, the high level of bureaucracy in these institutions); the lack of the national
production of most of the consumable goods that leads the country to import more than 60%
of this type of goods and importing in this way also a part of the inflation; and the lack of law
enforcement with regard price speculations, etc.
Regarding the bureaucracy in the institutions, most of the companies that respond to the quar‑
terly169 survey done by the CEIC/UCAN to measure the climate of doing business in Luanda complain
about the efficiency of the instructions related with the international trade and the quality of infra‑
structures (such as electricity, water, telecommunications, roads and other facilities) since these
factors, according to them, make the cost of doing business too high. This fact is not surprising since
the report of the World Bank on doing business ranks Angola in the group of countries where doing
business is not easy and is highly costly. The Report of 2013 ranks Angola in the position 172170 out
of 185 worldwide and among the factors that contributes to this are the length of time needed to
167
The Consumer Price Index used to measure the inflation rate by the National Bureau of Statistic
(INE) refers only to prices of the capital of the country (Luanda) and not of all the country (the 18
provinces). According to INE this is so due to the lack of infrastructures and staff to cover all the coun‑
try. Then the inflation rate presented are only of Luanda and it is important to highlight that more the
70% of the economic activities are concentrated in Luanda as Alves da Rocha documented in his book
on regional unbalances and inequalities in Angola (2010).
168
As Alves da Rocha calls it.
This quarterly survey is called Barómetro de Conjuntura Económica (Barometer of the Economic
169
Conjuncture) and surveys more than 150 companies to get their perception if the climate of doing
business in the prior quarter was favourable to them or not.
170
Doing Business Report 2013, pp. 4 and 5, World Bank.
| 167
start a business, the difficulties to get property registration, construction permits, credit and loans
and the difficulties to trade across the borders. Then if Angola really wants to diversify its economy
and consequently its exports it is imperative to improve and ease the climate to do business.
In summary the macroeconomic variables presented in the table 3 also help us to see how
important and fundamental it is to diversify the Angolan exports in order to achieve a more
sustainable macroeconomic stability and to ease the environment to do business. The coun‑
try needs urgently to have other main products of exports besides oil, in order to diversify its
source of international reserves. The Angolan authorities and policymakers should take to heart
the wakeup call that the international crisis aroused and commit themselves to diversify the
economy and its exports. The depreciation of the kwanza in relation to the US dollar would have
been a great opportunity to export more products if Angola exported more of other products
rather than oil, in view of the fact that with the depreciation of the local currency the exports
become cheaper to the international buyers.
The Angolan Gross Domestic Production is made of or comes from several economic activi
ties such as agriculture, fishing, diamonds and other minerals, oil, manufacturing industry,
construction, energy and water, merchant services and other services (banking, insurance, tele‑
communications and so on). But as for the sake of national accounts and statistics, the GDP is
divided or grouped in two main categories of production: oil and non‑oil. The oil GDP refers to
all production related with the extraction of crude oil and its derivatives and refinery, whereas
the non‑oil GDP is the production of all other goods and services without including the oil sector.
The figure 1 shows the structure of the Angolan GDP according to the classification stated above.
Figure 1 – Structure of GDP
168 |
As we can see from the figure 1, from 2003 up to 2008, during the mini golden age, more
than half of the all Angolan Gross Domestic Production was oil related production, showing how
concentrated the Angolan GDP was, the whole economy depended solely on one commodity.
The non‑oil sector production all combined (agriculture, fishing, diamond and other minerals,
manufacturing industry, construction, energy and water, merchant services) was less than 45%
of GDP on average.
From 2009 to 2011, the years of the international crisis that affected deeply the price of oil,
the non‑oil GDP was able to overcome the weight of the oil sector in the economy, weighting
more than 53% of the total GDP. In our understanding this was possible for the most part due
to the two factors:
• Firstly due to the accumulative decrease of oil production in this period of 13,7% (on ave‑
rage ‑4,57 of decrease per year) compared to period of 2004 to 2008 where we had po‑
sitive growth rate of the oil sector; doing a simple empirical calculations171 we see that
during this period the decrease of oil production led to the accumulative destruction of
the growth of the overall GDP of about ‑6,33%, on average about ‑2,1% year.
• Secondly owing to the positive modest growth of the non‑oil sector that on average was
8,2% year. If was not for this positive growth of the non‑oil sector, Angola could have faced
a big recession. During this period this sector was able to have an accumulative contribu‑
tion to the overall growth of GDP of about 13,26%, on average 4,42 per year.
Before presenting the composition and structure of the Angolan exports let us first have a
quick view of its position in the international trade and within the different regional and inter‑
national organizations that is part of.
Angola is a member of the World Trade Organization, a worldwide organization whose pri‑
mary purpose is to open trade for the benefit of all172 involved in the international trade. The
country got WTO accession on 23 November 1996, eleven years after the establishment173 of this
organization with more than 150 countries members. Belonging to this organization can actually
be good and advantageous for the country given that as a member it has opportunity to export
its products to all other members without great obstacles concerning tariffs and import duties
that might hinder the international trade. And as a member of the Least Developed Countries
negotiation group within the WTO, Angola as a poor country can get special preference to export
171
The calculations imply just multiplying the growth of the oil sector with its respective weight on
the GDP (growth oil GDP × % oil sector on GDP).
172
http://www.wto.org/english/thewto_e/whatis_e/wto_dg_stat_e.htm.
The WTO was established in January 1, 1995. It has its headquarters in Geneva, Switzerland. On
173
| 169
its agricultural and some manufacturing products to developed countries, under the Generalised
System of Preferences, thus by diversifying the exports Angola can benefit and take advantages
of being member of the WTO.
Data from WTO gives note that in 2011 Angola’s share in the world total exports was about
0,37% whereas the imports were 0,11%.
Those figures per se do not give us much information. It is important to breakdown those
figures to see deeper and obtain meaningful information about the Angolan exports. As we can
see in the table 4, of all merchandise exported, 98,3% was just mineral, that is oil and diamonds
whereas manufactures were only 1,7% and agricultural products almost zero. Looking at the
imports we see that 23% of them were agricultural products and 70% manufactures. Here we
see a great room to diversify the exports, if Angola could invest in agriculture and manufactu
ring could reduce some imports of these goods and even export more, reducing in this way the
weight that oil and diamonds have.
Table 4 also gives us information regarding the export and import of commercial services.
88,3% of exported services were travel whereas other commercial services (such as communi‑
cation, construction, insurance, financial, computer, information, other business, and cultural
and recreational services, and royalties and license fees) were just 8,1%, too low in comparison
to the imports of these services that were 83% of the total imported commercial services. These
figures tell us that Angola can as well diversify its exports by investing in the sectors of com‑
mercial services and export more of these services than what is being done currently. For that
purpose to be accomplished it is crucial to invest in quality education among the population and
especially the young generation.
Now we are going to look at the breakdown of the Angolan exports according to the figures
from the national customs services of Angola to see in details the main products exported by
the country and their respective weight in the nations total exports.
170 |
According to the Standard International Trade Classification (SITC) revision 3 at 3 level of the
United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD), the export lines of Angola are
made up of many products such as crude oil, diamonds, refined petroleum, natural gas, coffee,
sisal, fish and fish products, timber, cotton, agricultural products and many other products and
services. According to the National Customs the export line of Angola contains more than 2 thou‑
sands products; but the most exported number of products, with the monetary value greater
than 100 000 USD, is shown in the figure 2.
Figure 2 – Number of products exported with value > 100 000 USD
As we can see in the figure 2, in 1995 Angola exported 31 different products with monetary
value higher than 100 000 USD and considering the period between 1995 and 2001, a period
of war, the average in this time was 50 per year; after the end of the war in 2002, the average
number of the most exported products increased. Between 2002 and 2011 the average was 69
without including 2007 and 81 if 2007174 is included.
Out of all total number of exported products, crude oil, refined oil, gas, and diamonds are
among the main exported products and the crude oil is of course the most exported product
of all.
174
The year 2007 was an outlier in the history of the economic growth of Angola since in this year
the country recorded the highest growth rate of its economy and thus the high level of the num‑
ber of products exported which the monetary value was greater than 100 000 USD in 2007 can be
explained due to this fact. Some facts might explain this: in 2007 Angola joined the Organization of
Petroleum Exporting Countries (OPEC) and also in this very year Angola got a credit line from the
Chinese Eximbank amounting to USD 2,5 billion (in 2004 and 2005 Angola had already received up
to USD 4 billion).
| 171
The figure 3 shows clearly how the Angolan exports are concentrated on just one product,
which is the crude oil. In 2004 more than 92% of the total export was crude oil and this percen
tage is increasing from year to year as we can see in the figure 3. From 2004 to 2012 the export
of crude oil on average was 95% of the exports; just in 2012 alone the weight was more than
96%. The weight of diamonds in the total value of the exports has been decreasing since 2004,
in this year more than 5% of the total exports were diamonds whereas in 2012 the weight was
less than 2%. The weight of refined oil is on average almost 1% of the exports strikingly inferior
to the export of the crude oil. This shows that nearly all crude oil that Angola produces is not
refined within the country but is sold as such; even part of the refined oil that is consumed
internally is imported from abroad175.
The export of natural gas is on average 0,5% of the total exports; these figures would actu‑
ally be higher if Angola did not burn most of the natural gas coming from the process of the
extraction of the crude oil. But with the implementation of the Angola LNG Project176, a specific
factory (industry) destined to recover and treat the natural gas and then export it, the weight of
the natural gas in the total exports will certainly increase in the near future.
175
According the Report of the Alfandegas of Angola (Angolan Customs) 2012, the imported refined
oil is on average more than 4%.
176
Angola LNG is a project that is being implemented in the province of Zaire and was established in
2008. According to the website of the Project, Angola LNG has the potential to produce one billion
cubic feet of clean gas per day for domestic and international markets. The facility will be supplied
by the over 10 trillion cubic feet of gas reserves that are available from offshore blocks of crude oil
extraction 0, 1, 2, 14, 15, 17 and 18 (http://www.angolalng.com/project/aboutLNG.htm).
172 |
The other exports comprised on average more than 50 products out of 57 in 2004 and in
other years more than 85% of the total number of products exported. But in terms of percentage
weight in the total value of the exports they represent less than 1% of the total value of exports.
What room to diversify the exports Angola has, just by increasing the intensive margin and not
even touching the extensive! To increase the intensive margin of these other exports, the authori
ties should know exactly who are the ones that export these products, what challenges they are
facing and what can be done to help them, why they do not export more quantities of these
goods and so forth. Because on their own the small enterprise exporters or the small companies
that export cannot or are not able to export more quantities without help (either financial or
by facilitating the process of obtaining an export credit line177, either institutional by easing the
bureaucracy of the institutions that deals with the exports) from the authorities.
In the figure 3 we also see that the weight of coffee in the total exports is almost zero
throughout the years; this fact really saddens those who know the history of the Angolan
exports. The young generation would not believe that before the independence from Portugal
in 1975, for more than 20 years coffee was on the top of the main exported products and in the
period of 1960 to 1973 Angola was the 4th biggest producer and exporter of coffee in the world!
At that time coffee represented on average more than 30% of the total exports being the most
exported product, followed by diamonds, cotton, sisal and agricultural products representing
on average 9 to 15%178.
Angola started exporting oil in 1959; in 1960 the share of oil was 0,74% and only in 1973 the
crude oil was on the top of the most exported products179, constituting 30% of the total export,
whereas coffee 26%; from there on coffee almost disappeared from the commercial balance,
letting crude oil and diamonds alone to dominate180.
The civil war that occurred soon after the proclamation of the independence affected dra‑
matically the agricultural production, since farmers were destroyed and most of the arable lands
were mined with the land mines. However, fortunately the war is over now and most of land
mines are being cleared. Then this is the time to invest again in coffee and cotton production
and start exporting these products again as it was before the independence. Once more, the
figures of the coffee exports show us that it is indeed possible to diversify the Angolan exports by
focusing not only on the extensive margin but particularly on the intensive margin, by promoting
the increase of the production and exports of coffee, cotton and other agricultural products.
177
Many countries have Export and Import Banks that help their companies to export more and more
since without money is very hard to export products successfully and find new markets. In this regard
we have the Eximbank of the USA, of China and other countries.
178
Dilolwa, Carlos Rocha, História Económica de Angola, Editora Nzila 2000, pp. 120‑149.
179
Dilolwa, Carlos Rocha, História Económica de Angola, Editora Nzila 2000, p. 99.
180
Unfortunately from 1975 to 1989 there are almost no records of the trade or export of coffee.
| 173
Now if we aggregate the exports in just two categories, as we did in the GDP, oil and non‑oil
exports we clearly see the highly concentration of the Angolan exports.
As can be seen in the figure 4, only in 2004 and 2005 the oil export were less than 95% of
the total exports but from 2006 onward the weight was more than 96% and in 2012 the weight
reached 98%! As obvious the weight of the non‑oil exports has been decreasing since 2004 and
in 2012 was only 2%.
According to the data that we are analysing there is no evidence of export diversification
process in Angola given that the oil export is getting more and more weight whereas the non‑oil
is decreasing. The facts are unambiguous and very clear that something must be done soon in
order to free the Angolan economy from the total dependence on the crude oil, by engaging
with commitment in the process of diversifying the exports.
Angola has trade relationship with many countries around the world, importing181 most of
the goods and services from them and exporting to them its main export products namely crude
oil and diamonds. The main trade partners to whom Angola exports its products are presented
in the figure 5.
181
We do not present the imports in this work because our focus is just on the exports. But data from
National Customs Services and the Central Bank show that the main import partners are: Portugal
(18%), China (11%), USA (7,6%) and others. See the Appendix p. 55, table 12.
174 |
As can be seen in the figure 5, since 2007 China has become the main trade partner of Angola
in the exports, being the country where more than one third of crude oil is exported182; the USA
is the second biggest trade partner183, followed by India, Taiwan, Canada, South Africa, Portugal,
France, Holland and Spain. The other countries comprise more than 20 countries such as the UK,
Sweden, Switzerland, Japan and others.
The oil exports have been concentrated on China; this makes the country depend on one
or few importers which can cause troubles in the future. Diversifying the destination of exports
might also be away to diversify the exports itself, since by doing so the country is promoting
what it produces and attracting in this way more buyers.
It is interesting to see that among the top ten there is only one African country, South Africa.
Angola is a State Member of the Southern African Development Community (SADC), a regional
economic community comprising 15 Member States founded in 1992 which aims, among others,
182
Jensen and Paulo (2011) argued that “China is by far the largest Angola’s creditor which lent more
than USD 14,5 billion (thousands million) up to 2011” for the process of national reconstruction that
has being carried out by the government after the end of the war. As part of the guarantee of the debt,
Angola and China agreed that China would have privilege on the export of the crude oil. This can be
one of the reasons why China has become the main trade partner of Angola regarding the exports of
oil.
183
The USA was the biggest trade partner in the exports (oil) of Angola since the independence up
to 2006.
| 175
The concentration of the Angolan economy is extremely high. In fact, Angola has the second
most concentrated economy in the world in terms of exports, beaten only by Iraq. The top half
of table 5 presents the ten most concentrated economies of the world, the bottom half the ten
most diversified economies. As the top of the table indicates, the most concentrated economies
tend to be oil producing ones in Asia, Africa and Latin America. Among the least concentrated
economies from the bottom of the table, we find a number of developed European countries the
most diversified being Italy, Germany and Austria, and also the United States and China. In the
table, countries are ordered by their score on the Theil index but the ranking does not change
much if we instead use the Herfindahl or Gini indexes. Iraq and Angola remain the most con‑
centrated, and the same countries tend to be among the most diversified. The picture changes
a bit more if countries are ordered by the number of products they export, this tends to push
smaller and poorer countries towards the high end of concentration.
Table 5 – Ten most concentrated and ten most diversified economies in the world, 2011
184
SADC mission statement (http://www.sadc.int/about‑sadc/overview/sadc‑mission/).
185
The other members are: Botswana, Lesotho, Madagascar, Malawi, Mauritius, Mozambique, Sey‑
chelles, Swaziland, Tanzania and Zimbabwe.
176 |
The high level of concentration in Angola reflects an economy that revolves almost completely
around oil. Table 6 shows the ten products categories with the highest export values in 2011, with
values in 1998 for comparison in the last column. Crude oil completely dwarfs the other products,
with exports of almost 50 billion USD in 2011 compared to exports in the millions for the other
product categories. What there is of exports in other categories tends to be dominated by raw
and base materials and distillates of petroleum. There is little in terms of other processed exports
on any major scale. Consistent with this pattern, only four Angolan companies make it onto a
2010 list of the 500 largest non‑financial corporations in Africa in term of revenues; oil companies
Sonangol and Total E & P Angola, and mining companies Endiama and Catoca.
Table 6 – Top ten Angolan exports, 2011
| 177
It is not that surprising that other industries have trouble being competitive in an oil‑rich
economy. A hugely profitable oil sector tends to drive up factor prices and/or currencies, leaving
other industries at a considerable cost disadvantage internationally. But even for an oil country,
the concentration of the Angolan economy seems high. A closer look at the evolution of exports
over the last decades provides some clues as to why, as well as some nuances in the overall
picture of extreme concentration.
The end of a civil war is likely to improve the overall business environment in a country. There
are some indications that this also happened in Angola after the civil war ended in 2002. The
number of export products has risen steadily since the end of the war, from around 450 active
export lines in 2002 to 680 products in 2011. Some industries also saw considerable increases
in export volumes in the period after the civil war.
However, though more products are being exported from Angola, export volumes of new
products remain at low levels, in relative and absolute terms. And at the same time, Angola
has experienced a considerable increase in export revenues from oil. Figure 7 documents the
increase in the period after the civil war, reflecting high oil prices and the phasing in of oil pro‑
duction from deep‑water reservoirs. The rise in oil exports in this period is behind what has
been term the mini golden age in Angola, where economic growth was in the double digits in
the period 2002‑2008.
178 |
The increase in oil export since 2002 dominated any increase in the number or volume of
other products, leading to an overall increase in concentration of exports. This overall increase is
shown in figure 8 for the Theil index of concentration (whose scale is on the left vertical axis) and
the Gini index (scale on the right vertical axis). While Angola was already highly concentrated at
the end of the civil war, concentration has risen even from this high level, leading to the current
extreme level of industrial concentration in Angola.
SOURCE: Baci.
| 179
The increasing concentration of the Angolan economy in recent years has added to a more
long‑term process of concentration and de‑industrialization that has been ongoing since inde‑
pendence in 1975. It seems obvious that diversification of the Angolan economy was far greater
at the time of independence than today, even though the lack of detailed exports data prevents
the calculation of indexes comparable to those used above. Before independence, agriculture
dominated the Angolan economy, particularly coffee of which Angola was the fourth largest
producer in the world. Coffee was the largest export until overtaken by oil in 1973, when oil
represented 30 per cent of total export earnings. Until 1975, Angola was a net exporter of
food, particularly maize, and had a stable fishing industry. In the early 70’s, Angola was also
the world’s fourth largest exporter of diamonds, with an annual production of around 2 million
carats, and a major exporter of iron ore. Angola also had a manufacturing industry based on
simple technologies, in food, textiles, paper, glass and other products.
With independence in 1975 came a number of events and changes which led to a decline
in agriculture and manufacturing production and exports. With the exodus of portuguese
settlers after independence substantial technical and management capacity and expertise was
lost. The internal military conflict was associated with immense human, material and financial
losses, leading to rural exodus to the cities, destruction of infrastructure and degradation of
public services. And a socialist, centrally planned economic system imposed a series of dis‑
tortions and led to a poor allocation of resources and factors of production. As infrastructure
and the security in rural areas deteriorated, agricultural exports – which flourished during the
1960’s and the early years of the 70’s – virtually disappeared and food production declined
rapidly. Economic distortions, inflation, mismanagement and unproductive investment led
to falling productivity and the decline of the manufacturing sector. While market reforms
started to be introduced in the late 1980’s and early 1990’s, the return of civil war after the
1992 elections reduced their effect. The decline in agriculture and manufacturing in the first
two decades of independence all happened against the backdrop of increasing reliance on
oil exports.
Avoiding the Dutch disease is the most common argument behind diversification of econo
mies concentrated in primary products like petroleum or minerals. Natural resources like oil
tend to crowd out manufacturing activity in a country, which may lead to the loss of technologi
cal progress and to lower growth prospects. Diversification is seen as a way of preventing such
decreases in productivity by broadening a country’s economic base. Other economic arguments
for diversification are reduction in volatility and vulnerability to deteriorating terms of trade
that comes from reliance on a single industry. However, even with costs in terms of forgone
productivity gains, and increased volatility and vulnerability, it is not obvious that countries
180 |
benefit from diversification rather than concentrating their inputs on the hugely lucrative oil
sector. Some degree of Dutch disease, volatility and vulnerability may be optimal. While empiri
cal results show that richer countries are more highly diversified, it is unclear what the causal
relation is between income and diversification, or if indeed there is one.
The main problem facing resource‑rich countries like Angola may be political rather than
economic, however. Institutional dysfunctions, in particular a lack of democratic accountability,
create problems of patronage and rent‑seeking. Public resources are used to shore up the power
of the ruling elite to secure their continued access to rents from petroleum resources, rather
than invested in economically sound activities that would improve development outcomes for
the Angolan population. For diversification, the important question to ask is therefore whether a
more diversified economy would also improve prospects for democracy. For this reason, political
effects of diversification have been a main focus of the recent CEIC‑CMI project on Diversification
of the Angolan Economy.
The project has provided an analysis of possible mechanisms through which diversification
can affect prospects for democracy. A more diversified economy likely has a less unified elite, and
citizens who have better outside employment options and hence less to lose from challenging
the elite. On the other hand, diversified economies may experience fewer economic crises in
which opportunity costs of challenging power are lower, and hence see fewer transitions from
authoritarianism to democracy. Our empirical analysis suggests that the former mechanisms are
more important; we find a significant and sizeable positive effect of diversification on democracy.
This indicates that less concentrated economic power in a society leads to more widely distribu
ted political power. An important effect of diversification is therefore that, at least in principle,
it can improve chances of democracy.
The Angolan export structure showed that the exports are concentrated on just one com‑
modity which represents more than 95% of the total value of the exports. In this section we are
going to look at the exports concentration indicator (Herfindahl index) computed by the United
Nation Conference on Trade and Development for all countries members since 1995; of course
our attention is on the case of Angola and some countries within the Southern African Develop‑
ments Community region just to help us make some comparisons.
It is important to remember that the Herfindahl index is normalized to range between zero
and one; a value close to zero implies full export diversification, whereas values close to one
mean a high export concentration.
| 181
Figure 9 is unambiguous about how highly concentrated the Angolan exports are, the Her‑
findahl index is above 0,9 very close to 1 the upper limit of concentration. It is noteworthy that
from 1997 to 2001 the concentration index is lower than 0,9 and within this period in 1998 and
1999 was recorded the lowest concentration index being this 0,85. One of the reasons that might
explain this fact is the higher diamond production and exports that occurred in this period and
the lower crude oil production due to the intensity of the war in these years, helped decrease
the exports concentration index. With the end of the civil war in April of 2002 the concentration
index started to increase again reaching the value of 0,97 in 2011. During the period of peace
from 2002 to 2011, only in 2007 was recorded a lower index (0,92) throughout all this period.
This is not surprising since in the figure 2 we saw that in this year Angola exported the lar
gest number of products which monetary values were higher than 100 000 USD recorded in its
modern history, more than 190 different products and experienced the highest economic growth
rate; of course this explains the lower concentration index in 2007.
How does Angola compare with the other countries within SADC? Figure 10 helps us answer
this question. The average export concentration of SADC is about 0,4186 and we selected some
countries to compare with Angola.
186
This is an arithmetic average that was computed by us according to the data from UNCTAD of the
14 countries member of SADC available; although there are 15 countries, we just used 14 because
data for Madagascar is not available.
182 |
SOURCE: UNCTADstat.
Figure 10 shows that by far Angola is the country with the highest export concentration
index within SADC, its index being two times higher than the average of the region. Botswana,
Zambia and Mozambique also have a concentration index above the average of SADC but far
from those of Angola. Namibia, Zimbabwe and South Africa187 present an index much below of
the SADC’s average, meaning that these countries are the ones with more diversified exports
within region. Clearly Angola can learn from them how to diversify the exports given that those
countries managed to differentiate their exports.
Comparing Angola with the countries of SADC alone can be misleading since among the
SADC’s countries Angola is the biggest crude oil producer. To avoid what some people might
call an unfair comparison, we will now compare Angola with other African and non‑African
countries main producers of crude oil to see how concentrated their exports are in comparison
to Angola.
187
South Africa is the country with the lowest export concentration index in the region, its concentra‑
tion index being on average 0,12. This means that South Africa is the country that has more diversi‑
fied exports in the region followed by Zimbabwe (0,24) and Namibia (0,27).
| 183
SOURCE: UNCTADstat.
Figure 11 shows us the export concentration index of the biggest African oil‑producing coun‑
tries, still Angola is the country with the highest export concentration although is not the biggest
crude oil producer in the continent188. The average export concentration index of these countries
is about 0,67 and Angola is very above of this average; Nigeria (the biggest oil producer); Libya,
Sudan and Equatorial Guinea are also above the average showing that they have a high export
concentration index but lower than of that of Angola. Algeria and Egypt have their export con‑
centration index below the average; and Egypt with the average index of 0,26 is managing to
reduce its concentration index particularly since 2007, whereas with other African oil‑producing
countries the index is increasing. Algeria is the second biggest oil producer in Africa producing
more oil than Angola; even so its export concentration index is on average 0,54, much lower
that of Angola (0,92 on average). The fact that not all African oil‑producing countries have a high
export concentration index (above 0,9) seems that high export concentration does not have
to do with oil production per se, but yes it has to do with the internal economic policies and
priority of its government regarding the sectors of the economy they will focus on according to
their objectives and goals.
For the sake of completeness we are going also to compare the export concentration index
of Angola with that of the other oil‑producing countries outside of the African continent to see
if they also have a very high concentration index. The figure 12 plots the export concentration
188
In 2011 Nigeria was the biggest producer with 2,4 million of barrels per day, followed by Alge‑
ria (2,07 million), then Angola the #3 (1,9 million), Libya the #4 (1,7 million), Egypt the #5 (662
thousand), Sudan (514 thousand) and Equatorial Guinea (322 thousand), according to index mundi
(http://www.indexmundi.com/g/r.aspx?v=88).
184 |
index of some major oil‑producing and exporting countries in the world189 along with that of
Angola to see how concentrated their exports are in comparison with Angola.
SOURCE: UNCTADstat.
It is interesting to see that Angola is sharing the rank with Iraq as the oil‑exporting countries
with the highest export concentration index. In 1995, 1996 and 2004 Angola had the highest
index whereas in the remaining years Iraq is on the top. Throughout all of this period the average
index for Angola is 0,92 as for Iraq is 0,94. Saudi Arabia, Russia, Emirates, Norway and Kuwait,
that export more oil than Angola, they all have an export concentration index lower than Angola,
showing that besides oil they export other goods and services. Venezuela almost exports the
same quantity of oil as Angola, but its export concentration index is much lower (0,61 on avera
ge). Just exporting a large quantity of crude oil does not necessarily imply that a country will
have a high export concentration index as in the case of Angola. The world’s biggest oil‑exporting
countries, as the figure 12 shows, do not have export concentration indexes as high as Angola has.
The year 2007 recorded a slight decrease of export concentration index of almost all oil
‑exporting countries except Iraq and Kuwait. In the case of Angola the decrease is really notewor‑
thy since its line is very close of that of Iraq and in this year there is a notable gap, greater that of
2009 when all countries were affected severely the financial and economic international crisis.
189
Saudi Arabia is the world biggest oil exporter (7,6 million barrels per day), Russia ranks the #2
exporter (5,01 million barrels per day), Iran the #3 (2,5 million barrels per day), United Arab Emira
tes the #4 (2,3 million barrels per day), Norway the #5 (2,1 million), Iraq the #6 (2,1 million), Kuwait
the #7 (2,1 million), Venezuela the #12 (1,8 million). Angola is ranked the #13 (1,8 million) (http://
www.indexmundi.com/g/r.aspx?v=88).
| 185
O trade‑off entre curto prazo e longo prazo em Angola coloca‑se do modo seguinte:
186 |
Como se tem sublinhado muitas vezes nestes Relatórios do CEIC é insuficiente, e mesmo
arriscado, avaliar o processo de diversificação da economia pelo viés do peso do PIB petrolífero
na actividade económica global. Este indicador é muito atreito às variações do mercado petrolí‑
fero internacional, pelo que as correspondentes variações podem não corresponder a alterações
estruturais internas.
A figura seguinte – extensão até 2013 das linhas tendenciais apresentadas mais atrás, tam‑
bém em representação gráfica para o período 2002-2010 – permite confirmar estar‑se ainda nas
fases preliminares do processo de transformações estruturais efectivas e consolidadas.
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
PIBp/PIB 40,58 41,3 48,21 45,31 48,24 49,7 39,05 43,48 47,49 46,19 46,76
Preço do petróleo 28,2 36,1 50,0 61,4 72,4 93,9 60,9 77,8 110,3 111,5 107,7
FONTE: CEIC, Quadro Macroeconómico Comparativo, com base no Ministério dos Petróleos e nas Contas Nacionais.
| 187
Outro ângulo de análise que recoloca em discussão a validade do peso relativo da activi‑
dade petrolífera como indicador de diversificação é dado pelo índice da sua contribuição para o
crescimento económico. Numa perspectiva de diversificação o seu valor deve tendencialmente
diminuir, para se dar espaço a outros sectores.
Das assimetrias na distribuição das despesas entre os cinco escalões de rendimento consi‑
derados no IBEP e aglutinando‑os em rural, urbano e nacional, constata‑se que entre os 20%
mais pobres e os 20% menos pobres as diferenças são abissais, em redor de 850% em termos
nacionais.
Tabela 8 – Diferenças entre a despesa média mensal dos 20% menos pobres e dos 20% mais pobres
Não havendo ou sendo exígua a dimensão económica do mercado interno, a solução está na
abertura ao exterior, colocando‑se problemas essenciais no domínio do controlo da inflação, da
pauta aduaneira, da livre circulação de capitais e rendimentos factoriais, da política cambial –
como se sabe, uma das vias de melhorar a competitividade aparente das economias –, da taxa
de juro e da produtividade.
188 |
Um breve relance sobre a inflação comparada com alguns países europeus, latino‑americanos,
asiáticos e sadcianos permite concluir que, na generalidade, Angola não é competitiva com
nenhum deles, decorrendo, portanto, dificuldades em disputá‑los pela via dos preços, caso exis‑
tisse alguma produção exportável de bens transaccionáveis, com excepção do petróleo e dos
diamantes. No capítulo sobre a inflação está feita uma análise circunstanciada sobre a compe‑
titividade da economia nacional pela via dos preços.
Só em relação a alguns (poucos) países da África Subsariana os preços nacionais são relati‑
vamente aproximados, embora as diferenças sejam ainda assim elevadas no período 2005-2013
(a única excepção é a RDC). São necessários esforços mais contundentes de combate à alta de
preços para que se possa, por esta via, preparar terreno para o fomento de outras exportações
de transaccionáveis.
A tabela seguinte mostra os valores de quatro indicadores que, usualmente, se utilizam para
medir o grau de diversificação das economias190. Qualquer um deles mostra um índice muito
baixo de diversificação da actividade produtiva do país, razão pela qual o seu grau de exposição
a choques externos é muito maior, sem que, na maior parte das vezes, a política económica
nacional consiga contrariar os seus efeitos negativos.
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
IDIEC 0,529 0,524 0,525 0,530 0,531 0,530 0,520 0,519 0,520 0,530 0,527
ITEI 0,363 0,313 0,938 1,615 1,510 1,996 3,044 0,118 0,175 0,253 0,275
ITEE 0,964 0,334 0,956 ‑0,141 0,963 0,148 2,195 1,104 0,811 ‑0,127 ‑0,299
ICAE 0,359 0,367 0,441 0,410 0,441 0,457 0,342 0,390 0,433 0,419 0,425
NOTAS: ITEI – índice de transformação da estrutura industrial, ITEE – índice de transformação da estrutura económica, ICAE – índice de
concentração da actividade económica, IDIEC – índice de diversificação da economia.
FONTE: CEIC, ficheiro Estudos sobre a Diversificação da Economia.
Os pontos essenciais para a reflexão sobre a diversificação da economia são que os recursos
naturais‑chave são não‑renováveis e que este processo tem de ocorrer, na sua parte essencial e
190
O índice de Hirschmann, usualmente utilizado para medir o grau de concentração das exporta‑
ções dum país foi adaptado para medir o nível de concentração da actividade económica em Angola.
O índice de diversificação da estrutura económica foi calculado – de resto, como o anterior, tendo em
atenção as 182 actividades identificadas na CTCI – sobre as actividades de extracção mineral. Os res‑
tantes índices comparam, no tempo, as transformações ocorridas e foram calculados com base na
estrutura económica e na estrutura industrial do país.
| 189
substantiva e dentro das premissas diversificação/democracia discutidas mais atrás, antes que
os mesmos se esgotem (ver mais adiante neste parágrafo a análise sobre o papel do sector dos
petróleos para a diversificação).
191
Karslen, Jan Erik and Quale, Pilot Study on Scientific Knowledge Enhancement in Angola, IRIS/Uni‑
versity of Stavanger, January 2012.
190 |
Porém, são vários os constrangimentos que ainda se colocam a esta caminhada. A diversifi‑
cação da economia pressupõe uma aposta financeira do Estado que tenha a ver com uma nova
ideia do seu papel na economia e em particular no desenvolvimento agrícola. Uma análise das
verbas atribuídas ao sector através do OGE nos últimos três anos mostra que, quer em percen‑
tagem em relação à totalidade do orçamento, quer em termos absolutos, as coisas não estão
bem. Em 2009, a verba foi de 1,7 mil milhões de dólares, reduzida em 2010 para 680 milhões e
em 2011 para 674 milhões. Em termos percentuais em relação ao todo do OGE, as cifras estive‑
ram sempre a descer, passando de 4,13% em 2009 para 1,41% em 2011, com 1,97% em 2010.
O cenário torna‑se mais preocupante quando se sabe que as verbas realmente alocadas ficam
quase sempre muito abaixo das inscritas no OGE. De acordo com o Ministério da Agricultura,
em 2009 apenas foram executados 27% dos montantes do Programa de Investimentos Públicos
inscritos no OGE (Ministério da Agricultura, 2010).
| 191
Os resultados do agronegócio mostram, por sua vez, que ele gera poucos empregos, princi‑
palmente para as mulheres rurais, o que é natural porque um dos seus objectivos é aproveitar a
baixa oferta de mão‑de‑obra, como é o caso de Angola. Mostram ainda pouca correspondência
aos investimentos realizados, pois as produtividades atingidas são baixas. Os baixos investimen‑
tos na investigação, que em 2010 ficou apenas aquém de um milhão de dólares (CEIC, 2011)
e a ausência de coordenação entre a investigação e o agronegócio, pois os processos técnicos
e tecnológicos conseguidos não são acompanhados pelos Institutos de Investigação, explicam
esta situação.
Apesar dos progressos registados nos últimos tempos, com a paz e principalmente com a deci‑
são sobre a diversificação da economia, ancorados nos programas de combate à pobreza, descen‑
tralização administrativa, extensão rural, crédito agrícola e comércio rural, a agricultura angolana
continua a ter uma contribuição escassa para o PIB. A falta de coerência entre as políticas e a
legislação, por um lado, e as estratégias de execução e práticas governamentais, por outro, são
uma das razões do menor desempenho do sector. A mais notória diz respeito às verbas atribuí‑
das ao sector no OGE, que têm estado em decréscimo nos últimos anos, exactamente depois da
decisão sobre a diversificação da economia, como se viu. Outra, estreitamente ligada à primeira, é
revelada pela secundarização da agricultura familiar, em contradição com o programa do Governo
para o período de 2008 a 2012 e a chamada Estratégia 2025 de Longo Prazo, agravada em 2011
com a aprovação de projectos de grande dimensão no valor de quase mil milhões de dólares,
numa altura em que são notórios os insucessos financeiros com projectos do mesmo tipo.
Segundo estimativas da FAO, Angola exporta actualmente um único produto agrícola, que é
o café, no valor de cerca de USD 2 milhões (FAO, 2010), e muito recentemente fez‑se a expor‑
tação de uma quantidade muito pouco significativa de algodão. Além disso, há um fluxo de
produtos na fronteira com a República Democrática do Congo (feijão, banana e mandioca). O
Executivo reconhece o sector agrícola como sendo uma das áreas com potencial para o aumento
considerável das exportações, mas esse potencial tem de ser analisado de forma estratégica,
baseado não só na dimensão nacional, mas também nas oportunidades existentes nos mercados
internacionais. Num contexto de diversificação da economia, o Executivo previu a elaboração de
estudos em 2011 sobre a substituição de importações e promoção de exportações (República
de Angola, 2010) mas parece que o único estudo realizado foi no sector do algodão (MINADERP,
2010). O sector florestal é um bom exemplo do que se poderia fazer em termos de exportação
de produtos agrários com valor incorporado.
192 |
vai continuar a dar argumentos aos defensores dessa estratégia e dificultar o desenvolvimento
das economias locais, principalmente no domínio da agricultura e dos serviços conexos.
A modernização do sector agrícola, objectivo desejável e inadiável, não tem sido devida‑
mente equacionado, pois tem sido sobrevalorizada em relação aos outros pilares do desenvol‑
vimento, como, por exemplo, a identidade cultural, a participação e a preservação ambiental,
levando os governantes a tomarem decisões políticas que não tenham a mínima fundamentação
técnica. Caso não sejam tidos em conta os outros pilares, poderá haver crescimento ancorado
na disponibilidade de petrodólares e no voluntarismo dos governantes, mas não certamente um
desenvolvimento sustentável, até porque são enormes – e nem sempre entendidos e assumidos
– os obstáculos culturais, organizacionais, de gestão, técnicos e tecnológicos que se levantam à
modernização acelerada da agricultura angolana. Um exemplo poderá ser o facto de tal opção
exigir grande quantidade de mão‑de‑obra qualificada de que Angola não dispõe, o que obriga
ao recrutamento de expatriados e provoca mal‑estar social e político. Num dos novos projectos
recentemente aprovados e cuja implementação está a iniciar, os trabalhadores angolanos repre‑
sentam apenas cerca de 30% do total (Pacheco et al., 2011).
192
Ver http://www.nepad‑caadp.net.
| 193
que atinge a humanidade aconselha que os modelos produtivos e de consumo sejam repensa‑
dos, exigindo o bom senso que a pequena agricultura seja reconsiderada e se evitem os erros
de outros que, sabe‑se agora, são em grande parte responsáveis pela própria crise, incluindo
a ambiental. Por outro lado, na agricultura, mais do que em qualquer outra actividade econó‑
mica, não se pode ignorar a lei dos factores limitantes. Por mais recursos financeiros de que
se disponha, nada pode substituir a apropriação do desenvolvimento pelos agricultores e em
particular, no caso de Angola, pelas agricultoras. Os paradigmas de desenvolvimento que insis‑
tiram em processos de substituição, em vez dos que propunham o conhecimento, a adaptação
e a transformação, falharam porque geraram situações socialmente injustas, economicamente
ruinosas e politicamente perigosas.
194 |
Os países considerados pelos autores deste estudo foram Chile, Grécia, Coreia do Sul, México
e Espanha. A leitura dos resultados da tabela é fácil. Por exemplo, para o sector do couro, por
cada dólar adicional de produção de produtos de couro, a produção de todos os inputs deve
aumentar 2,39 dólares. Esta é justamente a actividade que, em média, naqueles países, induz
o maior efeito de arrastamento.
Não existem matrizes de Leontief para a fase actual da economia angolana. Durante a Admi‑
nistração portuguesa foram construídas 4 matrizes input‑output para 1967, 1968, 1969 e 1970.
É, assim, possível, sobre a matriz de 1970, estimar os efeitos a montante e a jusante, que se
encontram na tabela seguinte.
193
Perkins, Dwight et al., Economics of Development, Fifth Edition, Norton & Company, 2001.
| 195
Indústria petrolífera
O preço do barril do petróleo volta a apresentar uma tendência crescente, fazendo recear
o retorno aos piores momentos de 2008, em que se chegou a atingir, em Abril, a cifra de 147,5
dólares. Esta tendência pode ser interpretada de duas maneiras. Ou que o pior da crise econó‑
mica mundial já ocorreu, ou, então, que o petróleo começa, de facto, a escassear.
Seguramente que para as finanças públicas angolanas esta recente tendência no comporta‑
mento da sua principal fonte fiscal é recebida com enorme júbilo, esperando‑se que as reservas
internacionais aumentem e se volte a devolver aos mecanismos de mercado as decisões de
afectação dos recursos do sistema bancário nacional.
Em termos de longo prazo, as questões são, no entanto, outras. Não é completamente cre‑
dível que a economia mundial – economias avançadas e algumas das emergentes – “consinta”
(no sentido económico do termo) preços muito elevados do principal recurso energético da cha‑
mada civilização ocidental. Barack Obama e a sua Administração estão fortemente empenhados
na substituição rápida dos derivados do petróleo na indústria e nos transportes (os principais
utilizadores de petróleo e, também, os mais poluentes). Foi anunciada uma redução de 40%
196 |
Do ponto de vista nacional, a principal preocupação prende‑se com o tempo requerido para
se promover uma diversificação económica sustentável e os respectivos custos financeiros,
necessariamente dependentes das receitas do petróleo (os empréstimos externos acabarão por
estar sempre relacionados com as disponibilidades de petróleo do país, só deixando de ser assim
quando a diversificação for irreversível e a força da economia não-mineral a mais determinante
do crescimento e desenvolvimento nacional). E quando se fala em tempo, pensa‑se na duração
provável das reservas petrolíferas nacionais. Ou seja, no peak oil angolano.
Assim, o ponto máximo da produção petrolífera nacional poderá ocorrer já em 2020 (dentro
de pouco mais de oito anos), ou em 2021, ou em 2025 ou, finalmente, em 2028 (mais 15 anos
a contar do próximo ano). Estas estimativas são consistentes com as que costumam ser feitas a
nível das reservas mundiais.
Na verdade, os cálculos mais pessimistas sobre o peak oil mundial apontam para a sua ocor‑
rência entre 2015 e 2020 (correspondentes a reservas entre 2000 e 3000 biliões de barris),
enquanto as previsões mais optimistas estabelecem o ponto de declínio da produção mundial
somente depois de 2030. Vale a pena, no entanto, sublinhar que, actualmente, por cada barril
de petróleo descoberto, três são consumidos.
Ainda bem que está lançado o desafio da diversificação da economia nacional. A partir de
um pronunciamento do Presidente da República, os ministérios relacionados duma forma mais
directa com este processo começaram a recentrar e a repensar estratégias de actuação.
A maior parte das economias que deixaram de pertencer ao grupo das menos desenvolvi‑
das precisaram de mais de 30 anos para consolidarem os seus processos de diversificação das
estruturas produtivas nacionais. Se atentarmos nos anos que nos separam do peak oil, conclui‑se
que outras fontes de financiamento do crescimento e da diversificação têm de ser encontradas,
mesmo sabendo‑se que o ponto de break da produção não significa esgotamento das receitas
petrolíferas.
| 197
No entanto, as projecções das receitas petrolíferas brutas feitas pelo Banco Mundial194, e jus‑
tamente baseadas na ocorrência do peak oil em Angola, apontam para um máximo de 226 698
mil milhões de dólares no quinquénio 2010‑2014 (para um preço médio do barril de petróleo
de 60 dólares), momento a partir do qual se registará uma quebra acentuada, até cerca de 17
mil milhões de dólares em 2025. Ou seja, para o Banco Mundial o ponto de produção petrolífera
máxima em Angola poderá ocorrer entre 2010 e 2014.
Dir‑se‑á que são apenas cenários. Claro que sim. Mas têm a vantagem de assinalar a probabi‑
lidade da ocorrência de factos determinantes para a sustentabilidade do crescimento económico
de Angola e que alicerçam a ideia de que o reforço da economia não‑mineral e o processo de
musculação da sua estrutura produtiva têm de ser dramaticamente dinamizados e acelerados.
O esforço financeiro envolvido na diversificação está estimado em 604 mil milhões de dóla‑
res , para que em 2025 se tenha uma estrutura económica menos dependente do petróleo,
195
centrada numa economia industrial em transição para uma economia de serviços, os pesos
relativos são: agricultura, florestas e pescas com 16,5% do PIB, indústria transformadora, cons‑
trução e energia com 37,5% do PIB, comércio, transportes, banca, seguros e telecomunica‑
ções com 24,5% do PIB e 18,7% para a extracção de petróleo. A taxa média de crescimento do
PIB admitida neste exercício é de 9,5% ao ano, com os parciais de 13,9% para o conjunto agrícola,
21% para o agregado industrial e da construção, 11,5% para os serviços e 2,5% para o petróleo.
Tabela 13 – Esforço de investimento para a diversificação até 2025 (em milhões de USD)
194
Angola, Memorando Económico do País – Petróleo, Crescimento Alargado e Equidade, Outubro de
2006.
195
Para mais informações ver CEIC, Relatório Económico de Angola 2009.
198 |
4.6.3 Transportes
Ana Duarte
196
O transporte ferroviário foi desenvolvido em África com a ideia de que a “experiência Americana”,
ou seja, que os impactos positivos associados à expansão da via‑férrea, poderia ser facilmente repe‑
tida ou que as condições do séc. XIX que existiam na Inglaterra e que também permitiram usufruir dos
impactos do desenvolvimento do transporte ferroviário podiam ser uma realidade no contexto Afri‑
cano. Ambas as ideias estavam incorrectas. Além disso, em vez de se verificar o reinvestimento das
receitas provenientes da exploração do minério encorajando a auto‑suficiência local (Prinsloo, 1978),
as colónias asseguraram que as mais‑valias eram transferidas para a Europa e América do Norte.
197
A história do transporte ferroviário em Uganda é um exemplo disso e no Quénia inúmeras trans‑
formações positivas ocorreram imediatamente após a chegada do comboio em certas áreas (Neu‑
mark, 1964).
| 199
um lado, por serem fonte de matéria‑prima para a indústria europeia e americana, de finan‑
ciamento do aparelho do Estado português e dos investimentos de infra‑estruturas e apoio às
empresas, e, por outro lado, para garantir o abastecimento dos trabalhadores e o aumento do
tráfego ferroviário. No ramo industrial, por exemplo, a produção artesanal autóctone cedeu
lugar a pequenas indústrias transformadoras. O comércio espalhou‑se por toda a região. Para
as exportações e importações e para o movimento das pessoas, a via‑férrea representava a
espinha dorsal de todo o sistema de transporte. Actualmente, a elevada taxa de crescimento
da economia angolana só poderá ser sustentada com uma aposta na diversificação económica
que não deverá esquecer a importância do transporte ferroviário no passado já que esteve na
base não só da estabilidade política, mas também de mudanças económicas e da mobilidade e
promoção social das várias províncias e, logo, do país. Em paralelo, sendo as estradas a principal
infra‑estrutura para transporte de passageiros e mercadorias, o desafio que o país enfrenta é o
de melhorar a manutenção das estradas existentes e expandir a rede de estradas secundárias
e terciárias que ligam os meios rurais às estradas principais. Um sistema logístico (ferroviário e
rodoviário) interligado servirá o escoamento que a expansão das produções agrícola e industrial
exige198.
No entanto, uma oferta maior no sector dos transportes não significa necessariamente uma
oferta melhor. Quando se atribui muita importância aos investimentos nas infra‑estruturas de
transporte está implicitamente a sugerir‑se que os operadores públicos e privados irão res‑
ponder de uma forma eficiente a este investimento, oferecendo serviços de transporte ade‑
quados. Alguns países baseiam a sua estratégia de desenvolvimento assumindo (erradamente)
que é apenas necessário investir em infra‑estruturas de transporte modernas em áreas menos
desenvolvidas que, em seguida, o desenvolvimento acontecerá de uma forma espontânea
(Moavenzadeh and Geltner, 1984) ou “mágica”. Para a expansão das actividades que permitam
que a economia angolana ultrapasse a dependência das receitas petrolíferas torna‑se essencial
que o desenvolvimento do sector dos transportes adopte uma estratégia holística, integrada
e sustentável. É necessário tomar em linha de conta o impacto que os limites e as carências
dos serviços de transporte têm sobre o desenvolvimento económico das comunidades locais e,
consequentemente, na diversificação da economia. Assim, em conjunto com o investimento em
infra‑estruturas de transporte é imprescindível que os serviços de transporte sejam eficientes,
adequados e financeiramente acessíveis.
198
Uma rede inadequada de infra‑estruturas representa um dos grandes obstáculos ao desenvolvi‑
mento das actividades comerciais em África, sendo o sector dos transportes um dos principais entra‑
ves ao crescimento da produtividade e competitividade. Dados de um estudo realizado pelo World
Economic Forum e o African Development Bank (AfDB) indicou que as empresas africanas perdem
cerca de 3% das vendas devido aos atrasos em termos de transporte (World Economic Forum, 2007).
Infra‑estruturas de transporte em mau estado impedem o desenvolvimento da actividade agrícola
comercial e, consequentemente, impedem o crescimento (Wang, 2007).
200 |
Ainda no contexto de uma oferta melhor no sector dos transportes, em paralelo com a
importância da mobilidade é a acessibilidade. A construção de uma estrada ou de uma via
‑férrea numa determinada área implicará um aumento da mobilidade mas não necessariamente
a melhoria da acessibilidade, definida pela proximidade física de um indivíduo ou comunidade a
um centro activo local, a outra estrada ou a serviços básicos como escolas, hospitais, mercados,
entre outros. A necessidade de prestar serviços de transporte que permitam não só aumentos
de mobilidade, mas, mais importante, melhorias na acessibilidade, é particularmente relevante
nas áreas mais pobres. Não só áreas mais pobres estão necessariamente mal servidas de infra
‑estruturas de transporte199, como também está provado que uma melhoria do acesso das comu‑
nidades, em particular das rurais e mais vulneráveis, aos transportes pode reduzir o nível de
pobreza. Comunidades privadas de serviços básicos tornam‑se cada vez mais marginalizadas e
não têm possibilidade de participar na vida económica, política e social local ou regional. Ligar
estas comunidades com uma rede de transportes eficiente ajudaria a integração da população
rural, permitindo‑lhes aceder e usufruir de serviços que lhes garantiriam uma melhor qualidade
de vida.
Por outro lado, em Angola, por exemplo, dado o número reduzido de proprietários de veí‑
culos motorizados, a melhor forma de melhorar a acessibilidade é garantindo a provisão de
serviços de transporte financeiramente acessíveis. É necessário, por exemplo, considerar medi‑
das que ultrapassem o desequilíbrio existente entre investimentos em serviços de transportes
motorizados e não motorizados, individuais e colectivos, ou seja, os que são financeiramente
acessíveis aos mais vulneráveis e pobres. Isto porque a forma como os mais vulneráveis utilizam
o sistema de transportes modela os benefícios que eles recebem. Desta forma, dependendo do
tipo de actividades que o meio de transporte complementa, o bem‑estar será afectado de uma
forma directa ou indirecta. Neste contexto, defende‑se que investimento nos serviços rodoviá‑
rios e ferroviários pode, por exemplo, resultar num aumento da produtividade agrícola e do
199
Por exemplo, no Nepal cerca de 42% da população vive abaixo do nível de pobreza com especial
incidência nas zonas onde as infra‑estruturas dos transportes não são adequadas. Essa mesma per‑
centagem aumenta para 70 nos países em vias de desenvolvimento onde cerca de 900 milhões de
pessoas estão isoladas porque não têm acesso a estradas. Na Índia, a maior parte das aldeias mais
pobres encontra‑se a cerca de 15 a 20 km das estradas (Banco Mundial, 2006).
| 201
emprego não‑agrícola, aumentando os salários e emprego dos mais pobres e, logo, o seu bem
‑estar económico. Isto é um efeito directo traduzido pela distribuição mais equitativa de maiores
níveis de rendimento. Em paralelo, maiores níveis de produtividade e de emprego implicam
níveis superiores de crescimento económico, afectando a oferta e preços de bens e serviços e,
consequentemente, o bem‑estar dos mais pobres. Este é um efeito indirecto. Em conclusão, uma
melhoria da acessibilidade das comunidades pode contribuir para a redução do nível de pobreza
que está interligada com as oportunidades de expandir as opções da economia angolana200.
Tanto nas zonas urbanas como nas rurais os problemas evidenciados no sector dos trans‑
portes podem ser enfrentados através de um enquadramento integrado que considere a com‑
plexidade político‑social e inclua soluções que levem a uma planificação eficiente, por exemplo,
criando transportes que liguem as zonas residenciais e as comerciais, as zonas rurais e as zonas
urbanas, que evitem o congestionamento do trânsito, acidentes, que levem a um aumento da
acessibilidade e mobilidade e a uma redução da poluição e soluções para todos os outros aspec‑
tos que impedem um desenvolvimento sustentável e a diversificação da economia. No longo
prazo, o sistema de transportes, entre outras funções económicas, permitirá a diminuição do
tempo de viagem e logo dos custos de produção, promovido mediante a construção de novas
vias de escoamento e de ampliações do sistema de transportes existente, seja pelo alargamento
da malha rodoviária existente e faixas pela utilização de novas tecnologias na reconstrução,
manutenção e extensão das redes de estradas e vias‑férreas. Verificar‑se‑á a possibilidade de
especialização regional, visto que se a região detentora de rede de transportes for bem articu‑
lada com outros centros produtores, isso permitirá que ela se concentre economicamente na
produção de certo tipo de produto e importe os demais de outros centros para a provisão da
sua subsistência. Finalmente permitirá a exploração de novos mercados, uma vez que a ligação
geográfica com centros consumidores permitirá o escoamento da produção para exportação.
200
No caso particular dos países em desenvolvimento que foram afectados por conflitos, quando se
pretende atingir níveis mais elevados de PIB per capita e bem‑estar, os principais objectivos deverão
ser crescimento económico, diversificação económica e redução da pobreza. Tendo por base evidên‑
cia que sugere que pobreza e conflitos estão inter‑ligados (Collier et al., 2003; Malapit et al., 2003;
Smith and Vaux, 2003 and Stewart, 2003) e que a pobreza atinge níveis mais elevados em áreas onde
os meios de transporte não existem ou são irregulares (World Development Report, 1994), a recons‑
trução do sistema de transportes nos países afectados por conflito é crucial. No entanto, a destruição
das infra‑estruturas em consequência do conflito e a necessidade de reconstrução socioeconómica
impõem desafios adicionais (quando comparados com países que não foram afectados por conflito)
na provisão de infra‑estruturas e no processo de reconstrução.
202 |
Arne Wiig
Ivar Kolstad
5.1 Introduction
A question that has so far received far less attention is how diversification relates to politi‑
cal institutions, in particular democracy. In a sense, diversification can be viewed as a form of
de‑concentration of economic power, and democracy as a form of de‑concentration of political
power, so a relation between the two is not unlikely. The lack of discussion of this topic is particu‑
larly glaring in relation to resource‑rich countries, where diversification is often suggested as an
important policy tool to reduce problems related to the so‑called resources curse, in particular
the Dutch disease. This literature tends to ignore the observation that a central problem behind
the resource curse is the lack of good institutions and in particular a lack of democracy, which
permits country elites to use patronage as a strategy to remain in power and capture resource
rents (Robinson et al., 2006; Kolstad and Wiig, 2009). Understanding how diversification relates
to democracy then becomes essential to assessing its role in addressing the resources curse
(Wiig and Kolstad, 2012).
For Angola, this is a particularly relevant concern. As shown in table 1, Angola has the second
most concentrated economy in the world in terms of exports, only Iraq is more concentrated.
And this high level of concentration has been fairly consistent in recent years and has even
shown a considerable increase after the civil war ended in 2002, as seen in figure 1. This raises
questions of whether Angola could be in a better situation economically and politically if the
| 203
country was more diversified. It also raises questions of whether the political situation, with little
democracy and high levels of elite capture of rents, is in itself a factor which inhibits the country
from having a more diversified economic base, since this might also undermine the power of the
ruling elite. These are questions that cannot be answered using the few data points available on
Angola in figure 1. It is also challenging to assess the causal impact of diversification on demo‑
cracy, and vice versa. But these observations nevertheless point to a need to better understand
the political economy of diversification in oil‑rich countries, and outlining the association bet‑
ween diversification and democracy is a useful starting point in this discussion.
Iraq 0,972
Angola 0,970
Micronesia 0,940
Guinea‑Bissau 0,887
Azerbaijan 0,866
Andorra 0,838
Equatorial Guinea 0,819
Chad 0,809
Vanuatu 0,795
Libya 0,795
Nigeria 0,768
Congo 0,762
204 |
This point presents new descriptive evidence on the relation between income and demo‑
cracy on the one hand, and diversification on the other. We present results that suggest that
the U‑shaped relationship between income and concentration found in previous studies is due
to oil‑rich outliers with high incomes. When these outliers are dropped from the sample, the
relationship between concentration and income is negative for all levels of income; countries
get more diversified as they get richer. We also present results suggesting that more democratic
countries are more diversified. We stress that these results are descriptive in nature, and hence
do not prove causal effects from income or democracy to diversification, or vice versa. The
results on democracy can mean that a lack of democracy hinders diversification, that diversifica‑
tion increases the chances of democracy, or both, or neither. Causal effects need to be assessed
in further studies. Our results do suggest, however, that further analysis of the political economy
of diversification is needed.
One can measure diversification in an economy in different parts of the value chain: diversi‑
fication of imports and intermediary production, of factor endowments, of technology, of pro‑
duction and of exports of goods and services (or even the destinations of exports). At all levels
diversification implies a lower level of concentration, whether in imports, production or exports.
Here, we focus on diversification in terms of exports, since success in exports indicates that
companies and industries are able to compete on world markets.
Diversification can take place within a particular sector such as the manufacturing sector, or
denote less concentration across sectors. It can take the form of selling more of existing products
to new markets, or of producing new products or improving the quality of existing products
(Brenton et al., 2009). Diversification along the “intensive margin” refers to increasing volumes
on active or existing product lines. Production of new product lines is referred to as diversifi‑
cation along the “extensive margin”. Hummels and Klenow (2005) show that export growth is
mainly driven by growth at the extensive margin – i.e. through new products, although this
finding is disputed in the literature (see for instance Brenton et al., 2009).
A very rough proxy of diversification in natural resources rich countries is the natural resour‑
ces export as a share of total exports. There are also more fine – tuned indexes for diversification
of exports or production. Most of these are taken from the income‑distribution literature such
as the Gini, Theil and Herfindahl indexes (see an overview in Carrère et al., 2009). Reported
concentration measures are usually based on measuring inequality of export shares. Here we
use a Herfindahl concentration index compiled by UNCTAD.
Two questions are raised in the following: Does increasing the income of a country also
increase diversification? And are there institutional constraints to diversification? As for the
first question, Cadot et al. (2011) show that the number of new export lines peaks for middle
| 205
income countries, and then falls as economies develop further. They accordingly find a hump or
U‑shaped relationship between income and concentration. Diversification along the extensive
margin increases in the early development process partly due to an entrepreneurial trial and
error process. As times passes, comparative advantage catches up with old product lines and
they slowly die, reducing diversification. High diversification is consequently a transitory pheno‑
menon observed at middle income levels (Cadot et al., 2011).
Applying the UNCTAD concentration index and more updated time series we find indica‑
tions of a similar U‑shaped relationship between income and concentration. Figure 2 presents a
bivariate plot between GDP per capita and concentration as measured by the UNCTAD concen‑
tration index for the countries for which we have data on both variables. The full line shows the
best quadratic fit in the data. This line suggests that concentration is decreasing with income
at low incomes, and then increasing with income at higher incomes. In other words, there is a
suggestion here of the U‑shaped relationship previous studies have found. We have, however,
also highlighted a few countries in the sample. Angola, Norway, and the United Arab Emirates
are all at higher concentration levels than countries at comparable income levels. This conforms
to the expectation that oil‑rich countries are more concentrated since oil tends to increase
costs of other industries, making them less internationally competitive. We note, however, that
having oil does not necessarily entail being fully concentrated; Norway for instance does have
some degree of diversification in exports. An extreme outlier in our sample is oil‑rich Qatar.
It is possible that the oil‑rich countries with high incomes are the ones driving the apparent
upward sloping relationship between income and concentration at high incomes. The U‑shaped
relationship could thus be less of a general pattern that previous studies suggest and one more
driven by a few idiosyncratic cases. Visually, if a few of these cases are excluded, the relation
seems mostly downward sloping throughout the figure.
206 |
Our second main question is whether there are institutional constraints to diversification.
This question is partly motived by the puzzle of why countries, and in particular resource‑rich
countries, do not diversify more if there are gains from diversification (Wiig and Kolstad, 2012).
Could it be the case that diversification is not always easy to attain due to political interests?
According to Dunning (2005), resource dependence is the outcome of strategic decisions by
incumbent elites to limit the extent to which political opponents can challenge their power. In a
model of Acemoglu and Robinson (2006a), the elite faces a clear trade‑off in deciding whether
or not to pursue a strategy that would lead to the introduction of new industries. On the one
hand, this could help elites access new sources of income, for instance from manufacturing or
services. On the other hand, the elite will likely foresee that these new areas of industry will
make them more vulnerable to popular revolt, and hence make it more likely that they will lose
political power and access to rents over which they previously had control. In other words, if
current sources of income are sufficiently important to the ruling elite, it is unlikely to introduce
a strategy of diversification into industries whose existence would undermine the elite’s hold on
political power. To the extent that an elite will introduce industrial policies of diversification in
this case, it will likely focus on diversification into industries that shore up the political power of
the elite. There is however little existing empirical analysis of institutional or political constraints
to diversification.
| 207
The analysis focuses primarily on the relation between concentration, and income and demo‑
cracy. We use OLS estimation with robust standard errors, estimating the relationship given by
equation (1), where concentration in country c is regressed on GDP per capita and democracy
in country c. To assess the U‑shaped relationship with GDP per capita, we include both the
individual term and its square. The robustness of the U‑shape is tested by dropping the outlier
Qatar. Since small states in the sample tend to have a low degree of diversification, we also
control for population size in the estimations. We use data from 2009 for concentration, which
was the latest available data at the time of the analysis. All independent variables are lagged
one period. To make sure that the results do not depend on choosing the year 2009, we also
perform between effects panel data estimations, which essentially use the average of the data
for the years available.
+ β4 · Populationc + εc (1)
It should be noted that this empirical approach only permits us to capture correlations bet‑
ween the variables in question. There are likely to be unobserved variables that affect income
or democracy on the one hand, and concentration on the other. This means that our estimates
are highly likely to be biased, and cannot be used to make causal statements. We therefore
interpret all results as capturing correlations, rather than impacts of income and democracy on
concentration. Capturing causal effects would require a more complicated empirical setup, for
instance using instruments for income and democracy. We leave this issues for further research,
but see the results here as an indication of issues and relationships that can be probed further.
208 |
Our main variables are presented in table 2. The concentration index is taken from UNCTAD,
and is computed as a Herfindahl index of merchandise export concentration (for details on the
index, see Wiig and Kolstad, 2012). The index runs from 0 to 1, with higher numbers capturing
greater concentration. A country whose export is fully concentrated in one sector will hence
get a value of 1, whereas the more diversified the country is across sectors, the closer the index
is to 0. As our measure of income, we use GDP per capita, PPP adjusted and in constant 2005
USD. Our main measure of democracy is the Polity IV Democracy Index, which runs from 0 to
10, with higher values representing greater democracy. To assess the robustness of our results
for the democracy variable, however, we also use the Freedom House Political Rights Index. We
have rescaled this index so that it also runs from 0 to 10, making the results comparable across
estimations. Our democracy indexes are standardly used in the empirical literature on demo‑
cracy (see for instance Kolstad and Wiig, 2013). We control for total population in billions, from
the World Development Indicators.
Table 2 – Main variables
Descriptive statistics for the variables are shown in table 3. Our main sample includes 151
countries, which increases to 174 when using the Freedom House Democracy Index instead of
the Polity IV Index. The mean level of concentration in our sample is 0,32; there is substantial
variation in the sample, which contains both highly diversified and highly concentrated coun‑
tries, such as Angola. Our sample consists of both poor and wealthy countries, Qatar being the
richest with an average GDP per capita of 84 000 USD and the average country having a GDP per
capita of 12 000 USD. The average country in the sample is borderline democratic, with a score
on the democracy indexes of about 6.
Table 3 – Summary statistics
| 209
5.4 Results
Results from our main estimations are presented in table 4. In the first column are the results
from the full sample of 151 countries using the Polity IV Index as the measure of democracy.
The results suggest that there is a U‑shaped relationship between concentration and income,
as suggested by figure 2. However, the second column in table 4 shows results when the outlier
Qatar is dropped from the sample. The squared GDP per capita term is then no longer significant,
making the non‑linearity of the relation between income and concentration appear not very
robust. Column three in table 4 presents results when using the Freedom House Democracy
Index instead of the Polity IV Index, and when excluding Qatar, and the result is the same for this
larger sample of countries. In other words, it is likely that the U‑shaped relationship documented
in previous studies is driven by countries with some highly specific characteristics, in particular
large petroleum endowments. This means that a hypothesis that countries that grow richer
first diversify and then re‑concentrate need not be as fruitful a line of inquiry as past studies
have argued. Instead, there seems to be a consistently negative relation between income and
concentration, outside of oil‑rich economies, richer economies seem to be more diversified.
NOTE: Robust standard errors in parentheses. *** – Indicates significance at the 1% level, ** – Indicates significance at the 5% level, * – Indicates
significance at the 10% level.
The results for the democracy variables in table 4 are negative, suggesting that more demo‑
cratic countries are more diversified. The results are very similar in all three columns, and so do
not depend on which of the two democracy indexes is used. A one standard deviation increase
in democracy reduces concentration by about eight percentage points, so the relation is also
economically significant. This of course does not imply a causal relation, we cannot tell from
these results whether democracy affects concentration, or vice versa, or whether the correlation
between the two is driven by some third variable that we have not controlled for. Nevertheless,
210 |
this finding is a novel one in the literature on diversification, and given the importance of political
economy considerations in assessing the potential for and impacts of diversification, this opens
up interesting hypotheses for further studies.
The population variable shows a negative coefficient, which means that larger countries have
less concentrated economies in terms of exports. This is in line with expectations.
The results in table 4 are based on concentration data from 2009. To assess whether the
results are due to using data from this particular year, we also run between effects panel data
estimations. The results are presented in table 5, and each column is comparable to the columns
of table 4. In other words, columns one and two present results using the Polity IV Democracy
Index, with Qatar excluded from the sample in column two, and column three uses the Freedom
House Democracy Index and omits Qatar from the sample. The uncovered relationships are more
or less the same as in the OLS regressions presented above. There is a negative relation between
income and concentration. In contrast to the OLS estimations, the second order GDP per capita
term is not significant in any estimation, again suggesting that the U‑shaped relationship found
in previous studies is not very robust. Democracy and concentration are negatively related, as in
the above results. And more populous countries have less concentrated economies.
BE 1 BE 2 BE 3
Dependent variable Concentration Concentration Concentration
GDP/capita ‑0,006* ‑0,008* ‑0,007**
(0,00) (0,00) (0,00)
GDP/capita squared 0,000 0,000 0,000
(0,00) (0,00) (0,00)
Democracy Polity ‑0,029*** ‑0,029***
(0,00) (0,00)
Population ‑0,281*** ‑0,284*** ‑0,345***
(0,10) (0,10) (0,11)
Democracy FH ‑0,024***
(0,00)
Constant 0,537*** 0,542*** 0,543***
(0,03) (0,03) (0,03)
R‑sq. 0,382 0,379 0,274
N 2322 2312 2743
NOTE: Standard errors in parentheses. *** – Indicates significance at the 1% level, ** – Indicates significance at the 5% level, * – Indicates
significance at the 10% level.
5.5 Conclusion
| 211
deserve some special attention in discussions of diversification. Firstly, oil‑rich countries tend
to be more concentrated than countries at comparable levels of income, which should be taken
into account when discussing patterns of industrialization. Our results show that a U‑shaped
relationship between concentration and income is due to a single oil‑rich country, making this
less of a general and robust pattern than the previous literature would suggest. Instead, it seems
for the most part that with higher average incomes comes more diversification. Secondly, the
resource related problems in oil producing developing countries means that we need to focus
on the political economy of diversification, and specifically its relation to democracy. The paper
has presented some initial evidence on this suggesting that across countries, and controlling for
income and population size, diversification increases with democracy.
The result that there is a negative relation between concentration and democracy can mean
either of four things. Firstly, it is possible that no causal relation exists between democracy and
concentration, and the negative relation uncovered above simply reflects some underlying third
variable which influences both democracy and diversification. Secondly, it could be that our
results reflect a causal effect of democracy on diversification. This would be consistent with a
hypothesis that elites in undemocratic countries would be reluctant to promote diversification
of the economy, as this would reduce their power and ability to extract rents. Thirdly, the results
could reflect a causal effect of diversification on democracy, consistent with a hypothesis that
when economic power is more widely distributed this also leads to pressure for more de‑concen‑
trated political power. Fourthly, our results could reflect causal effects in both directions, from
democracy to diversification and from diversification to democracy. Which of these four possi‑
bilities actually underlies our results cannot be inferred from the results given the approach we
have taken. This would require a different methodological approach. But our results do present
some useful working hypotheses which can form the basis of such studies of causal effects. In
particular, they do suggest that the political economy of diversification is an important and so
far under‑explored topic in the relevant literature.
Some caution is therefore advised in suggesting diversification as a key policy to improve the
situation in resource‑rich countries such as Angola. While there are arguments that diversification
has positive economic and political effects, these effects so far remain insufficiently proven to
provide a firm basis for policy. More research is needed before we can conclude on this matter.
Even with the descriptive results we present here, it remains possible that diversification policies
and narratives can be captured and used by political elites to increase their hold on power, by
focusing on sectors conducive to this end (see Wiig and Kolstad, 2012). Our results could also be
taken to suggest that the scope for any form of beneficial diversification likely depends on the
incentives facing the political elite, which needs to be explored further in future work, quantita‑
tive and qualitative. What we do not need in the context of resource‑rich countries such as Angola
is more policy advice based on assumptions of a benevolent or fully accountable government.
Political economy considerations need to be taken into account when analyzing the potential of
diversification or any other policy in improving the situation in these countries.
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