You are on page 1of 9

Boa noite.

Queria agradecer pelo convite e pela oportunidade de debater e pensar junto


com vocês. Eu pesquiso já há alguns anos temas ligados a pessoas trans (no mestrado eu
fiz pesquisa etnográfica junto a travestis na prostituição e atualmente eu pesquiso sobre
travestis presas), então o debate dentro do esporte não é minha especialidade, mas eu acho
a discussão tão interessante e desafiadora que eu topei. Porque a discussão sobre
transexualidades e travestilidades já é muito complexa, e quando situada dentro do
contexto de competição esportiva de alto rendimento ela traz questões ainda mais
profundas.

(Valorizo a iniciativa/ / Existem poucas pesquisas sobre o tema, na maioria das vezes,
quando vão pensar sobre a presença de mulheres trans a gente se depara com comparações
de mulheres cisgêneras, com homens cisgêneros, como se as mulheres trans fossem
simplesmente isso, homens com roupas femininas”.)

Então eu fiz uma apresentação pensando sobre gênero e esporte de forma mais ampla, pra
servir mais como um pontapé inicial pra gente conversar.

Eu queria começar contando a história da Maria Patiño.

Pra quem não conhece, Maria Patiño, jovem corredora espanhola, que disputou pela
primeira vez as olimpíadas de 1988. Como de praxe, ela se submeteu ao teste
cromossômico de comprovação de sexo, assim como todas as atletas mulheres faziam até
os anos 2000, se não me engano). Para a surpresa de todos e inclusive dela, ela não passou
no teste). Ela não era XX e foi proibida de competir.

E aí, eu li um texto da Fausto Sterling, que é uma bióloga estadunidense, e ela se pergunta:
Mas por que o Comitê Olimpico se preocupa tanto com o teste de sexo? Porque ele existe?
Como ele surgiu?

Em parte, as regras do COI refletem ansiedades políticas típicas da guerra fria: durante
as olimpíadas de 1968 o COI instituiu esse teste “científico” do sexo em reação a rumores
de que alguns competidores da união soviética tentariam obter glórias para a causa
comunista trapaceando –homens disfarçando-se de mulheres para obter vantagens ilícitas.
O único caso conhecido e comprovado de um homem que se infiltrou numa competição
feminina ocorreu em 1936, quando Hermann Ratjen, membro da Juventude Nazista,
participou da competição de salto em altura como “Dora”. Sua masculinidade não foi de
grande valia: ficou em quarto lugar, atrás de três mulheres.
Até 1968 antes do teste científico as mulheres que competiam nas Olimpíadas eram
frequentemente convidadas a desfilar nuas diante de um corpo de examinadores. Seios e
uma vagina era tudo o que se necessitava para certificar a feminilidade. Mas muitas delas
reclamavam que o processo era degradante. Em parte pelo aumento dessas reclamações,
o COI decidiu fazer uso do moderno teste do cromossomo.

Maria Patiño gastou milhares de dólares consultando médicos a respeito de sua situação.
Estes explicaram que ela nascera com uma síndrome de insensibilidade ao andrógeno.
Isso queria dizer que, embora tivesse um cromossomo Y e seus testículos (internos)
produzissem testosterona suficiente, suas células eram incapazes de detectar esse
hormônio masculinizante. Por isso, seu corpo nunca produziu características masculinas.
Mas na puberdade seus testículos produziam estrógeno (como os testículos de todos os
homens), que, por causa da incapacidade de seu corpo de reagir à testosterona,
provocaram o crescimento de seus seios, o estreitamento de sua cintura e o alargamento
dos quadris. A despeito de um cromossomo Y e testículos, ela crescera como mulher e
desenvolvera formas femininas.

Atualmente, o COI não faz mais uso do teste cromossômico, mas faz testes de
níveis de testosterona. //Um outro caso conhecido como um dos impulsionadores dessa
mudança foi o da atleta polonesa Ewa Klobukowska, a atleta foi banida do esporte e teve
todos seus recordes excluídos por apresentar no teste que sua constituição genética tinha
o mosaico de XXY e ter sido considerada homem. Depois de tal humilhação a atleta, já
afastada do esporte engravidou e declarou que sua maior conquista era ter sido
considerada homem e ainda assim ter dado à luz//

Eu conto essa história pra gente pensar como o sexo de um corpo é simplesmente
complexo demais. Não existe simplesmente o isso ou aquilo. Antes, existem nuances de
diferença, e em última instância rotular alguém homem ou mulher acaba sendo uma
decisão social.

Podemos e devemos utilizar o conhecimento científico para nos ajudar a tomar a decisão,
mas sabendo que as nossas crenças sobre o gênero também afetam o tipo de conhecimento
que os cientistas produzem sobre o sexo.
E eu falo isso porque eu penso no caso da Tifany no vôlei, que acabou sendo ilustrativo
e pioneiro dessa discussão aqui no Brasil. E eu percebi que a argumentação dos técnicos
e das atletas, no fim das contas, passava a bola pra medicina. E passava a bola num sentido
de neutralidade, como se a medicina e a biologia produzissem verdades puras e não
interpretações e construções ativas sobre a morfologia.

Ana Paula escreveu um texto com um título bem ilustrativo disso que foi:“biologia não
é de esquerda nem de direita”

Bernardinho, Tandara, disseram: não sou preconceituoso, mas deixo na mão dos médicos,
são os especialistas que tem que dizer...

E aí vinham as opiniões dos médicos, que diziam que embora era tivesse um nível de
testosterona bem abaixo da quantidade permitia por litro de sangue), a divergência dos
especialistas era sobre os ganhos de Tifany antes do tratamento hormonal. E se isso daria a ela
uma vantagem em relação às outras atletas. Porque a transição de Tiffany se deu quando ela
completou 30 anos. (o que não é uma trajetória universal para pessoas trans) Coração, pulmões,
parte óssea e musculatura foram formados com produção hormonal masculina. Pouco se fala que
, ao se submeter ao tratamento hormonal perde-se comprovadamente força, velocidade e
resistência. Pouco se fala sobre os efeitos dos hormônios nesses corpos.

Outra coisa que eu achei curiosa desse caso, foi a quantidade de comparações estatísticas da Tifany
com a Tandara, jogadora cisgênera que ocupa a mesma posição dela. Por um lado achei ótimo
porque eu nunca vi uma modalidade feminina ser tão discutida em programas de esporte,.Aquelas
rodinhas de homens comentaristas discutindo detalhadamente estatísticas de vôlei feminino, é
coisa rarissíma. Mas eu via que na maioria das vezes as pessoas argumentavam levando em
consideração só os números absolutos. Os números eram usados contra ela. E sempre pra passar
uma ideia de ‘’desvantagem’’ das outras. É como se ela não pudesse ter talento, só vantagens de
alguma forma ilícitas, por ser trans.

E eu achei muito bonita a fala da Tifany quando questionada sobre o assunto: “Eu tenho
uma força de mulher forte”.

Em outros momentos, vejo a discussão sendo levada quase que por uma gestão pelo
absurdo, que é tratar a situação como uma “ameaça trans” no esporte.

(Frase infeliz de uma das jogadoras da seleção em entrevista (Sheila): “ imagina se todo
gay quiser jogar no feminino. Não vai ter mulher mais na competição”) como se tivesse
uma conspiração trans com uma multidão de atletas de alto nível tomando conta do
esporte. (ignorância em relação a divisão entre orientação sexual e identidade de gênero,
que são coisas completamente diferentes)

Cria-se uma espécie de pânico moral como se existisse um exército de atletas transexuais
de alto nível prontas pra dominar o esporte feminino. É ainda mais perverso quando se
tenta fazer disso uma questão pseudo-feminista, de defender o esporte das mulheres “de
verdade”

//Qualquer pessoa que conhece um pouco mais a fundo a história do feminismo sabe que
dentro a dele a categoria mulher sempre esteve em disputa e constante interpelação, e isso
foi muito importante. Há muitas décadas as mulheres negras denunciam sua invisibilidade
dentro dos discursos e movimentos feministas, mostrando como as reivindicações
pautadas pela categoria mulher se pretendiam, universais mas, na verdade, tinham muitas
limitações e um centramento nas experiências de mulheres brancas e euroamericanas.
Processos de interpelação semelhantes foram feitos por mulheres lésbicas, mulheres
deficientes, mulheres de países ditos de ‘terceiro mundo’. Esses questionamentos
agregaram muito ao feminismo, enquanto teoria e prática política, e trouxeram novos
deslocamentos na categoria “mulher”.

Com as mulheres transexuais e travestis acontece um processo parecido: elas trazem


novos debates e experiências que nos fazem repensar e reconhecer a diversidade de
contextos e vivências que colocamos sob a categoria feminino.//

Então eu me preocupo quando vejo o debate sendo gerido pelo absurdo com argumentos
do tipo: ah, imagina Se o Wallace virasse transexual”, se o “Usain Bolt virasse
transexual”, se o “Shaquile O’Neal botasse uma saia” (como se a presença de transexuais
no esporte fosse massiva. Enquanto Minha experiência com pessoas trans e educação (e
eu sou professora do transvest, que é um cursinho pré enem pra travestis e transexuais)
mostra muito mais um afastamento em relação a prática esportiva, e uma traumas na aula
de educação física. Já ouvi diversos relatos de sofrimento, bullying e desconforto no
embiente escolar, especialmente na educação física, onde o corpo é colocado mais em
evidência. E a gente vê como é difcíl pra esses corpos não conformes, ambíguos,
afeminados, com um jeito diferente do que se espera pro seu gênero estar nos espaços de
prática esportiva. E eu fico imaginando que mensagem a gente manda pra essas pessoas,
deixando pessoas como elas sem lugar pra competir. Hoje mesmo conversei com minhas
alunas sobre esse debate aqui em sala de aula e uma delas de me disse que sente que é
como se dissessem pra ela:” ah, seria mais fácil se vocês não existissem)

Enfim, eu acho que todas essas questões revelam quão frágil é uma tentativa de
comparação — chega a ser bizarro tentar destacar os prós e os contra de ser trans, já que
qualquer vantagem ou desvantagem potencial depende do esporte e do atleta tentando
competir nele.

Além do que se faz uma análise completamente abstrata do corpo trans, como se ele
estivesse apartado da sociedade, quando é importante lembrar que mulheres trans e
travestis no Brasil tem uma expectativa de vida que gira em torno dos 35 anos de idade,
graças a um contexto muito amplo de marginalização e exclusão.

De qualquer modo, eu me pergunto se há uma competição totalmente justa, afinal, mesmo


entre competidores cisgêneros, é inegável que há diferenças metabólicas e anatômicas
que favorecem alguns corpos em detrimento de outros (sejam diferenças na altura ou no
tamanho de um braço, por exemplo- Michael Felps e a envergadura de golfinho, os
maratonistas quenianos com as pernas compridas e finas nas extremidades).

"Todos os atletas se beneficiam de vantagens biológicas, ou sofrem com


desvantagens biológicas, em seus respectivos esportes."

Tá na hora da gente pensar porque as diferenças que são generificadas são as que geram
mais pânico moral?

Pra concluir, eu diria a presença de corpos dissonantes tensiona os limites e fronteiras


de padrões instituídos e propõe questões para o sistema esportivo convencional. As
experiências de pessoas trans deslocam o delicado balanço entre princípios esportivos
importantes: a inclusão e a igualdade competitiva.

O esporte de competição necessita e investe na manutenção de uma ordem de gênero,


tendendo a uma indistinção em favor do máximo rendimento, ainda que a performance
inclua um conjunto de expectativas sobre masculinidade e feminilidade. A compreensão
de uma vantagem atlética se cruza intimamente com uma construção do corpo em
termos biológicos e sociais. E eu queria terminar frisando essa dimensão social, porque
ontem mesmo me deparei com a notícia de que a torcida do galo entoou o seguinte
cântico durante o jogo: “cruzereinse, toma cuidado, o Bolsonaro vai matar veado”. E eu
lembro disso não porque quero entrar em qualquer querela eleitoral, isso nem vem ao
caso, mas eu queria que a gente pensasse como as decisões tomadas no alto escalão do
esporte de alto rendimento tem impactos, ainda que difusos, nas práticas cotidianas das
pessoas.

A debilititação do corpo atlético com variação transexual e intersexual enuncia um estado


de cronicidade ao descapacitar o que é tomado como excessivo para um típico corpo
feminino.
Faz parte do universo competitivo a produção da desigualdade, demarcada,
especialmente, pelo código vitória/derrota. Além disso, embora o esporte se baseie na
igualdade formal de chances, as desigualdades estão na base da preparação esportiva.
Levando tudo isso em conta, parece difícil evitar a idéia de que nosso próprio entendimento
científico dos hormônios, do desenvolvimento do cérebro e do comportamento sexual
são, da mesma forma, construídos em contextos sociais e históricos específicos, e
carregam suas marcas. A forma inteira do debate é limitada socialmente, e as específicas
ferramentas escolhidas para a análise têm suas próprias limitações históricas e técnicas.
A escolha dos critérios a utilizar na determinação do sexo, e a escolha de simplesmente
fazer essa determinação, são decisões sociais para as quais os cientistas não podem
oferecer regras absolutas.
Para mudar a política do corpo, precisamos mudar a própria política da ciência. As
feministas (e outras) que estudam o modo como os cientistas criam o conhecimento
empírico já começaram a reconstruir a própria natureza do processo científico. Como em
outras arenas sociais, esses estudiosos entendem que o conhecimento empírico prático
está envolvido com as questões sociais e políticas de seu tempo.

[Complementares]

LINCE ESPORTES- Como analisar a performance da Tiffany em números? Como os recordes dela em
pontuação podem trazer análise para o futuro da Superliga?

REGIS – O que muito tem se questionado e eu volto a insistir nesse tópico é que quando falam da
performance da Tiffany, só levam em consideração os números absolutos. Quando se fala de performance
não se pode deixar de fora eficiência e eficácia. Tiffany atacou no campeonato até agora 315 bolas em 7
jogos, uma média de 45 bolas atacadas por jogo. É obvio que a jogadora/jogador que mais recebe bolas, irá
pontuar mais. Tiffany atacou 75 bolas no jogo contra o Praia (jogo onde bateu recorde de pontos em uma
partida da Superliga), marcou 33 pontos em ataque, 6 em bloqueios. A segunda jogadora que mais recebeu
bolas em seu time, foi a Cubana Palácio que atacou 23 bolas e converteu 10 pontos. Para se ter uma ideia,
Tiffany sofreu 7 pontos de bloqueio, isso mostra que o número de bloqueios que ela sofreu, foi quase o
mesmo número de pontos que sua companheira de equipe converteu em ataques. Tiffany possui hoje 45%
de eficiência no ataque e esse número tende a diminuir com mais ações e mais jogos, principalmente se
continuar no mesmo ritmo de receber essa quantidade absurda de bolas por partida, essa porcentagem não
é um número emblemático em performance, pelo contrário é um número bem “mediano”. Até nos termos
que usamos as pessoas fazem interpretação equivocada. Mediano ou Medíocre, são termos usados para
descrever o que está dentro da média e não abaixo dela como o senso comum nos faz acreditar. Então sim,
partindo desse parâmetro, a Tiffany é uma jogadora que está dentro da média ou mediana.
Grande parte da imprensa começou a postar sobre o recorde de pontos obtido por ela na partida contra o
Praia Clube. Recordes foram feitos pra serem quebrados. O recorde anterior de uma partida da Superliga
era da Tandara que marcou 37 pontos contra o próprio Praia Clube, quando atuava pela equipe
Campinas/AMIL na temporada 2013/2014 e a própria jogadora já esteve perto de quebrar esse recorde em
várias oportunidades. No jogo em questão Tandara atacou 68 bolas e converteu 36 em pontos em ataque e
1 em saque. O percentual de Tandara nessa partida foi de 53%, em se tratando de performance, o recorde
da Tandara ainda é superior aos 33 pontos de ataque que a Tiffany conseguiu na partida de terça-feira,
Tandara mantem o maior número de pontos em ataques 36(contra 33 da Tiffany) e melhor porcentagem
53%(contra 44% da Tiffany). A jogadora Bruna do Esporte Clube Pinheiros também vem chamando a
atenção pela quantidade de pontos marcados na competição. Em jogo realizado também na terça-feira dia
30 de janeiro, a oposta de 1.78m marcou 33 pontos (31 em ataques), aproveitamento de 46% em 68 bolas
atacadas, contra o Barueri de Zé Roberto Guimarães. Se cada vez que uma jogadora ultrapassar a marca de
20 pontos por jogo, questionarmos se ela possui vantagens sobre as outras, passaremos o campeonato inteiro
nesse questionamento.
O problema não são os números da Tiffany, é como usam esses números contra ela.
Bruna, Tandara, Thaisinha do Fluminense, Renatinha também do Fluminense, centrais como Mayhara do
RIO têm superado a marca de 20 pontos com frequência e com porcentagens superiores. Então não entendo
ao dizer que a Tiffany está levando vantagem quando ela tem aproveitamento inferior ao dessas outras
atacantes.

REGIS – A questão biológica tem sido o maior fator de discordância da participação de atletas transexuais
em competições femininas. Mas o que essas pessoas não conseguem separar cientificamente é que a Tiffany
não é um homem operado, ela é uma mulher transexual que precisa manter um nível de hormônio que
possibilite sua participação. Dito isso, precisamos avaliar diversos pontos da performance esportiva e ser
bem cuidadosos com isso na relação aplicada ao voleibol. Primeiro que não se pode usar bibliografia ou
artigos científicos de pessoas cisgenero para avaliar pessoas transexuais. A ausência de homeostase no
corpo de uma mulher transexual já derruba várias teses de favorecimento biológico. O médico do Esporte
Clube Pinheiros que concedeu entrevista a VEJA, disse que a Tiffany leva vantagem por ter um Vo2
máximo superior e possuir pulmões maiores que as mulheres cisgenero. Me causou espanto um médico
esportivo afirmar que o Vo2 máximo pode ser uma vantagem da Tiffany perante as outras atletas. É bem
sabido que o voleibol por ser esporte aeróbico no que tange a duração das partidas, mas é essencialmente
anaeróbico no que tange os rallys do jogo. No voleibol, sempre treinaremos todas as valências inclusive o
Vo2 máximo, entretanto ele não é e jamais será indicativo de performance. No voleibol o Vo2 máximo atua
como agente regenerativo. Atletas melhores condicionados terão recuperação mais rápida. Mas não implica
dizer que um atleta que possui Vo2 máximo inferior irá ter performance inferior. Se fosse assim,
montaríamos equipes com todos os atletas condicionados em seus 30% de Vo2 máximo e teríamos uma
equipe imbatível. Outro ponto é a questão óssea, ter uma densidade óssea maior que o de mulheres
cisgenero, no voleibol, também não é indicativo de vantagem. Nenhum estudo provou até o momento que
essa característica possa influenciar na performance no voleibol, na verdade em alguns esportes, que se
beneficiam pelo menor centro de gravidade, pode ser uma desvantagem para atletas transexuais terem peso
e densidade óssea superior a de outras atletas cisgenero.
Quando se faz terapia de correção hormonal, além de todo o desequilíbrio causado no corpo e suas funções,
existe também a significativa perda de massa muscular. Entre as funções do Sistema muscular destaca-se
ser responsável pela manutenção do sistema esquelético e produção de movimentos. Com menos massa
muscular e tendo que suportar ossos mais pesados, como o corpo de uma mulher transexual poderá manter
a mesma performance? O desgaste será maior, a queima de energia será maior, o tempo de recuperação
será maior. Pode-se perceber as deficiências no jogo da Tiffany como a velocidade o tempo de reação.
É necessário cautela não só daqueles que possuem acesso e alcance midiático, mas também dos
profissionais da área que consigam ver com olhos questionadores e com vontade de somar à pesquisa ao
invés de formularem decisões baseadas no que é sabido pelo senso comum. Estudos existem muitos,
disponibilidade e interesse nem tanto.

Harper explica que uma mulher trans que inicia a TSH costuma correr 12%
mais devagar que antes. E diz que o fato de mulheres trans ser possivelmente
mais altas que mulheres cis nem sempre significa vantagem em alguns
esportes, como ginástica olímpica ou fisiculturismo.

Assim como a lutadora Ronda, tem quem defenda que a estrutura óssea e os
músculos das pessoas trans não alterariam após a hormonioterapia, pois as
mudanças já ocorreram durante a puberdade. Mas um estudo norte-americano
chamado Race Times For Transgender Athletes, do Providence Protland Medical
Center, de Joana Harper, garante que o tratamento hormonal de mulheres trans
ou travestis produz um decréscimo significativo da massa muscular e da
densidade óssea.

colocaram os termos de tal maneira que sexo passou a representar a anatomia


e funcionamento fisiológico do corpo e gênero passou a representar as forças
sociais que moldam o comportamento. As feministas não questionavam o
domínio do sexo físico; o que era posto em questão eram os significados
psicológicos e culturais dessas diferenças – o gênero. Ao renunciar ao território
do sexo físico, as feministas ficaram expostas a ataques renovados com base
na diferença biológica. E isso levou as acadêmicas feministas, de um lado, a
questionarem a própria noção de sexo16 e, de outro, a aprofundarem suas
investigações do que queremos dizer com palavras como gênero, cultura e
experiência.
Nossos corpos são complexos demais para dar respostas claras sobre a
diferença sexual. Quanto mais procuramos uma base física simples para o “sexo”
mais claro fica que o “sexo” não é uma categoria física pura. Aqueles sinais e
funções corporais que definimos como masculinos e femininos já vêm
misturados em nossas idéias sobre o gênero. Consideremos o problema
enfrentado pelo Comitê Olímpico Internacional. Os membros do Comitê querem
decidir em definitivo quem é homem e quem é mulher. Mas como? Poderia o
COI utilizar a força dos músculos como medida do sexo? As taxas hormonais?
Os cromossomos?

[Os modos europeus e norte-americanos de entender como funciona o mundo


dependem em grande parte do uso de dualismos – pares de conceitos, objetos
ou sistemas de crenças opostos. Este ensaio enquadra especialmente três
deles: sexo/gênero, natureza/criação e real/construído. ]

You might also like