Material de apoio – Jurisdição

1. Conceito

Jurisdição é a função atribuída a terceiro imparcial para que realize o direito de

maneira imperativa e criativa, reconhecendo/protegendo/efetivando situações
jurídicas concretamente deduzidas, através de decisão insuscetível de controle
externo e com aptidão a tornar-se indiscutível (Fredie Didier Jr.).

Perguntinha: a lide é pressuposto da jurisdição?

2. Princípios da jurisdição

Macete: i5TJ. São 5 “is”, um T e um J. Veja a tabela:

Indelegabilidade A jurisdição como decisão é

indelegável. No entanto, funções de
instrução, direção de processo e
execução podem ser delegados.
Inércia Nenhum juiz atua sem ser inicialmente
provocado. Havia uma exceção no art.
989 do atual CPC, que não foi
reproduzida no NCPC.
Inafastabilidade Previsto no art. 5o, XXXV da CF. Todo
assunto pode ser levado ao Poder
Judiciário, salvo exceções raras na
própria CF, como é o caso do
julgamento do Presidente pelo Senado
em crimes de responsabilidade. O
legislador, em regra, não pode
condicionar o acesso à jurisdição ao
prévio esgotamento na seara
administrativa. Cuidado com exceções.
Falar sobre o RE 631.240/2014.
Inevitabilidade Ninguém pode escapar à jurisdição. Há
exceção no atual CPC que não persiste
no NCPC.
Investidura A jurisdição é função exercida por
quem foi investido devidamente na
função. Normalmente é por concurso,
mas nem sempre.
Territorialidade Cada juiz exerce jurisdição num
território específico. Há exceções. Arts.
60 e 255 do NCPC, por exemplo.
Juiz Natural Não está expressamente previsto na
 CF. Decorre dos incisos XXXVII e LIII do
art. 5o da CF. Juiz natural é o juiz
independente e imparcial. A criação de
varas especializadas não viola tal
princípio.

3. Equivalentes de jurisdição

Autotutela, autocomposição: transação, submissão, mediação e conciliação,

decisões administrativas.

4. Arbitragem é jurisdição?

Arbitragem não é jurisdição Arbitragem é jurisdição (Fredie

(Marinoni)
Quando os litigantes escolhem seus
árbitros, renunciam à jurisdição.
Jurisdição só pode ser exercida por
juízes investidos na função.
Necessidade de respeito ao princípio
do juiz natural.
Só o Estado pode executar suas
decisões.
O Poder Judiciário pode controlar as
decisões proferidas em arbitragem.
Didier Jr.)
Não há renúncia à jurisdição como um
todo, mas à jurisdição estatal. A
jurisdição é monopólio do Estado, mas
não seu exercício.
Nem sempre. Exemplo: quando o Poder
Legislativo julga o Presidente da
República por crime de
responsabilidade, atua com jurisdição.
Na arbitragem, as partes escolhem
pessoa de sua confiança. Isso não fere a
imparcialidade do árbitro.
De fato. Mas isso não retira o fato de
que, durante a fase de conhecimento,
haja jurisdição. O árbitro não tem
competência para executar, mas isso
não lhe retira a jurisdição para
reconhecer direitos.
Nem sempre. Pode apenas controlar a
VALIDADE da decisão (90 dias), jamais
o mérito.

5. Jurisdição voluntária é jurisdição?

5.1. Características da jurisdição voluntária

a) É atividade de integração e fiscalização: através dela, a parte pode integralizar

sua vontade e torna-la apta a gerar efeitos jurídicos.

b) É procedimento inquisitivo: ou seja, o juiz é o protagonista.

c) O juiz pode decidir com base na equidade: é o que está permitido no art. 723,
par. único, do NCPC. O juiz pode adaptar o processo como bem queira.

d) O MP agora só atua nos casos do art. 178 do NCPC. Cuidado com isso.

5.2. Finalmente, é jurisdição ou atividade administrativa? Polêmica!

Prevalece que NÃO É JURISDIÇÃO, já que não haveria lide neste caso. Mas há
forte corrente em contrário. Anote os argumentos dessa doutrina minoritária,
que são muito pertinentes:

a) Lide
b) Exercida pelo juiz
c) Há processo
d) O juiz é imparcial
e) Há ação e não mero requerimento
f) Há partes e não meros interessados
g) Há coisa julgada? Aqui há polêmica em torno do art. 1.111 do atual CPC. O STJ
é claro ao dizer que não se pode discutir novamente a decisão de jurisdição
voluntária senão houver alteração fática superveniente. Citar o caso do Bráulio.

Bons estudos!!