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PERCURSO *
1– INTRODUÇÃO
Embora formalmente parcial, esta revisão traduziu uma verdadeira ruptura com
a ordem essencial de valores positivada na anterior constituição, traduzindo,
desse modo, uma verdadeira revisão total em sentido material.
Ainda assim, essa revisão não alterou o sistema do governo nem adaptou os
mecanismos e procedimentos de organização e funcionamento do Estado aos
novos princípios estruturantes do Estado Democrático de Direito.
2.2.2. A TRANSIÇÃO/TRANSACÇÃO
Desta vez, foi uma nova Constituição formal sem alteração da Constituição
material que, no essencial, clarificou e desenvolveu os princípios estruturantes
do Estado, designadamente o do estado de direito, da soberania popular e da
representação política democrática e ainda da democracia económica, social e
cultural.
Por outras palavras, "o que sucedeu em Angola não foi o colapso da
democracia e da transição constitucional, mas sim o frascasso de um processo
de pacificação, que vem influir na dinâmica e vitalidade da transição
democrática e não no seu mérito e continuidade".
Finalmente, aponto o surgimento de uma sociedade civil com cada vez maior
capacidade (ou, pelo menos, cada vez mais interessada) em influenciar as
políticas públicas e a ampliação do espaço da cidadania.
A natureza dos incidentes atrás enunciados, mostra bem que, além de garante
da paz social, o sistema judicial repercute ou contraria a acção política,
amplifica ou minimiza as frustrações e as esperanças colectivas e é
indispensável para a estabilidade do sistema político e a transição democrática,
constitui parâmetro do desempenho dos órgãos de soberania e condição
essencial da legitimação do próprio Estado de Direito.
"Os tribunais não são uma instituição moderna nem uma invenção da
democracia.Todavia ocupam uma posição central e singular no moderno
Estado de Direito Democrático, definida pela necessidade de assegurar a sua
"neutralização" política e a sua isenção perante as partes em litígio.É isto que
justifica a caracterização do poder judicial como órgão de soberania e o que
postula a sua rigorosa independência."
Daí a nossa eleição da independência real dos tribunais como um dos maiores
desafios do percurso democrático.
Por isso, não podemos deixar de, nesta ocasião, em nome da Ordem dos
Advogados de Angola, enquanto associação de direito público preocupada com
os princípios e valores do Estado Democrático de Direito e a defesa de um
associativismo e parcerias sérios e responsáveis, declarar que renunciamos
aos direitos que essa lei nos quer oferecer porque rejeitamos as limitações a
que, objectivamente, nos quer sujeitar.
6 - CONCLUSÃO
Cito Karl Popper: "Só podemos ser optimistas sobre o presente, não sobre o
futuro…Podemos fazer alguma coisa para influenciar o futuro. Mas o futuro
nunca será seguro. Nem certo".
Descompasso temporal
Irá recomeçar tudo do zero, ou perto disso, e aí, a única saída, para já, é a
dissolução do Parlamento, a “queda” do governo e ir toda a gente a votos outra
vez. A questão é saber se o MPLA terá até lá mantido o apoio popular que lhe
permite estar agora com praticamente todo o Parlamento com a sua camisola.
Maturidade democrática
Seria mesmo uma imposição da razão, o acerto com a Lei magna. Em vez de
sinal de instabilidade das instituições, os angolanos veriam na dissolução do
Parlamento (neste caso da entrada em vigor da nova Constituição) um virar de
página e a entrada numa nova fase de estabilidade e o sinal de cumprimento
do passo que falta para que o país possa dizer-se verdadeiramente
democrático e com as instituições legitimadas, todas elas, pela vontade do
povo.
Num último caso, seria sempre uma forma de exercício do direito de eleger os
representantes do povo, uma forma mais de se voltar a discutir o país e as
propostas apresentadas pelos diversos actores políticos. O mundo está cheio
de exemplos de parlamentos dissolvidos a meio da legislatura sem que isso
significasse algum drama. No futuro de Angola nada exclui a possibilidade de
por uma ou outra razão se vir a impor a necessidade de eleições antecipadas.