É uma forma de conhecimento cientifico que estuda a vida das pessoas
em sociedade e os fenómenos sociais que daí advêm. Esses fenómenos sociais implicam o estudo das relações entre as pessoas, isto é, as relações sociais e dos contextos em que estas se formam e ocorrem. É também uma atitude perante o mundo e a realidade social, que se representa como um desafio faces às concepções dadas como certas, e como um processo de desocultação do que habitualmente permanece invisivel ou interdito. Interroga o que de mais profundo existe na nossa vida em comum.
A sociologia implica uma forma de ler a realidade social, implicando uma
curiosidade sociologica, de modo a ver para alem das fachadas aparentes. Existe uma necessidade de imaginação sociologica – procura constante de cruzamento entre as biografias, ou seja, as historias de vida individuais e as circunstancias historicas em que elas se desenrolam (economicas, politicas, sociais e culturais). Ninguem vive sozinho e ninguem habita num vazio.
Objecto das ciências sociais
Imaginando um hospital, com médicos especializados em diversas
áreas, há algo que é comum a todos: o seu objecto é sempre o estado de saúde de um ser humano, cujo conhecimento exaustivo requer a intervenção conjugada dos vários saberes médicos.
Da mesma forma, as ciencias sociais podem funcionar de modo similar
na sua função de “diagnosticar” a realidade social. Esta realidade – conjunto dos fenomenos que se produzem e reproduzem na sociedade – é com efeito o objecto real sobre o qual se debruçam as varias ciencias sociais.
Temas da realidade social como – escola / trabalho / desemprego /
familia – são estudo das ciencias sociais.
A unidade e a complexidade do social
É errado pensar que a realidade social se reparte em sectores distintos e
que cada ciencia social estuda o seu campo especifico do real. Na verdade, a pluralidade dos ramos das ciencias sociais não significa que se possa dividir quer a realidade social, quer os seus fenomenos particulares em compartimentos perfeitamente separados.
A realidade social constitui uma unidade indivisivel e complexa, cuja
analise pode ser efectuada segundo perspectivas disciplinares ou olhares cientificos diferentes. Quando por isso os cientistas sociais se referem a analise economica, ou outra, estão apenas a usar um recurso linguistico que visa ajudar a compreender uma realidade vasta, complexa e pluridimensional, dividindo-a artificialmente de acordo com os seus interesses disciplinares próprios – sem que, todavia, se deva confundir essa divisao disciplinar com a realidade social que é sempre indivisivel.
Fenómenos sociais totais
O estudo de um fenómeno por uma dada ciencia em exclusivo, pondo de
parte os contributos de outras areas do saber, tambem nao permite a sua compreensão global. Já será diferente se houver uma acção conjugada e complementar das varias ciencias sociais – acção interdisciplinar – opção que se revela mais capaz de produzir conhecimentos integrados , completos e profundos, mais proximos da realidade social entendida como uma totalidade. Este conceito de “fenomeno social total” caracteriza os fenomenos que – seja na sua estrutura própria, seja nas suas relações e determinações – têm implicações simultaneamente em varios niveis e em diferentes dimensoes do real-social, sendo portanto susceptiveis, pelo menos potencialmente, de interessar a varias, quando nao a todas as Ciencias Sociais.
Dito de outra forma, apresentam vários niveis de significado (são
pluridimensionais) e sujeitam-se, como tal, a diferentes perspectivas de análise. É como se a realidade social fosse constituida por camadas sobrepostas, cuja descoberta sucessiva vai revelando uma totalidade diferente dos aspectos particulares que a integram.
A Interdependencia e a pluralidade das ciencias sociais
A sociologia, representa então uma disciplina do saber que toma a
realidade social como seu objecto de estudo. Desta forma, decorre da natureza complexa da realidade, que todas as ciencias sociais se podem inter-relacionar na busca de uma visão global sobre os fenómenos – ou seja, são interdependentes e complementares (embora possam produzir resultados contraditorios).
Apesar disso, as ciencias sociais distinguem-se igualmente entre si
através dos modos especificos de interpretar e questionar os fenomenos sociais (ou por utilizarem diferentes codigos de leitura do real), daí partindo para a elaboração de distintas problemáticas teoricas ou objectos cientificos (teorias metodos tecnicas). Ao proceder desta forma, estão a conservar a autonomia individual de cada disciplina, fazendo do conjunto destas ciencias um campo plural e diferenciado. A Interdisciplinaridade como atitude metodológica
A interdisciplinaridade – é a atitude mais propicia a que se forme um
conhecimento global (tanto quanto possivel) acerca dos fenomenos sociais. Isto porque, se as explicações fornecidas por uma qualquer disciplina sobre esses fenomenos constituem avanços cientificos, não e menos verdade que tais explicações apenas possibilitam visões parcelares e incompletas. O contributo das outras ciencias, pode ajudar a colmatar essa importante lacuna. No caso dos medicos, o trabalho em equipa devidamente coordenado pode ajudar a melhorar o desempenho do hospital.
1.3 – Construção do conhecimento cientifico em Sociologia
O conhecimento cientifico e o conhecimento do senso comum
Desde sempre, o ser humano tenta compreender e interpretar a
realidade que o rodeia, procurando explicações para os diversos fenómenos com que se vê confrontado. Esse conhecimento prático, subjectivo e espontâneo é conhecido como o conhecimento do senso comum. O senso comum é então o conhecimento vulgar e pratico com que no quotidiano orientamos as nossas acções e damos sentido à nossa vida.
A evolução do conhecimento cientifico, nomeadamente no que se refere
às ciencias naturais e exactas, veio pôr em causa muitas das crenças do senso comum. O conhecimento cientifico, através da criação e do desenvolvimento de métodos de obervação rigorosos e controlados, permitiu esclarecer causas de diversos fenómenos naturais e, inclusivelmente, prever e controlar alguns deles. Exemplos (Sida – senso comum dizia que era transmissivel apenas nos homossexuais e tinha como preconceito que se tratava de um castigo divino por estes terem uma orientação sexual diferente. / O conhecimento cientifico veio revelar que se transmite através do sangue e dos fluidos sexuais e pode acontecer tanto ao homem como à mulher.
O conhecimento cientifico nas ciencias sociais e na Sociologia
As ciencias sociais fisicas e naturais, atraves do desenvolvimento de
métodos e tecnicas de observação e de experimentação rigorosos e controlados, conseguiram de certo modo, impor-se no quotidiano dos individuos e ajudá-los a conhecer e compreender mais claramente os fenomenos relativamente complexos. Este processo de construção de conhecimento cientifico é bastante diferente do das ciencias sociais, isto porque, enquanto nas ciencias fisicas e naturais os objectos de estudo são parcial ou completamente exteriores ao cinetista, pelo contrario, nas ciencias sociais e humanas o cientista faz parte do seu objecto de estudo – ele próprio é um ser humano e um ser social. E tal como todos os seres sociais, o cientista social apresenta um conhecimento pessoal e pratico de si e da realidade em que vive: conhecimento do senso comum.
Exemplo do sociólogo que fez o estudo sobre o copianço: Este exemplo
permite-nos constatar que as nossas perspectivas pessoais acerca do acto de copiar em provas de avaliação e a forma como lidamos com esse mesmo acto podem ser estudadas, analisadas, compreendidas e explicadas de forma cientifica, através do recurso a determinados procedimentos que estudaremos adiante. Estes procedimentos asseguram a necessária ruptura do sociologo face às suas ideias pré-concebidas.
É sobre o processo de ruptura com o senso comum que o sociologo
precisa de empreender em cada investigação. Considerando que o senso comum se baseia no aparente, no subjectivo, em opiniões e em explicações simplistas, percebemos que o sociologo tem de ultrapassar tudo isto e tentar ver e questionar para além do obvio, das suas opiniões pessoais, das suas ideias pré-concebidas e das explicações simplistas que circulam na sociedade sobre os fenómenos sociais.
O sociólogo tem então de desenvolver uma atitude de vigilancia
constante e relativizar todo o seu conhecimento prático da realidade na produção de conhecimento cientifico. Não se trata de uma tarefa fácil, visto que, muito do nosso conhecimento do senso comum é baseado em estudos cujos resultados foram de tal forma divulgados que passaram a integrar aquele conhecimento.
Conhecimento do senso comum Conhecimento cientifico
Subjectivo – é pessoal, baseia-se em Objectivo – procura ser universal, válido opiniões para todos Espontâneo – surge da informação obtida Sistemático – construido de forma através dos nossos sentidos, do aparente sistemática e consciente pelos cientistas Errático – é construido aleatoriamente ao Metódico – É obtido recorrendo a longo da vida de cada individuo métodos e técnicas de investigação que asseguram a sua validade Ingénuo – é assimilado sem sentido Critico – procura questionar a realidade e critico questionar-se a si próprio Dogmático – Acreditamos nele como se Comprovável / Verificavel – Pode ser tratando de verdades inquestionáveis testado a qualquer momento e, assim, confirmado ou infirmado.
As dificuldades da produção do conhecimento cientifico em
Sociologia
Os vários obstáculos que o senso comum coloca à produção de conhecimento
científico em Sociologia podem ser sistematizados da seguinte forma: Familiaridade com o Social Sendo o sociólogo também um actor social, pode existir uma grande familieridade com o seu objecto de estudo e isso pode alterar a forma como ele conduz a sua pesquisa e, consequentemente, os resultados obtidos. Quanto mais próximo é o sociologo da realidade que vai analisar, maior é o risco de enviesamento da pesquisa, mais dificil é o processo de ruptura, porque mais forte é a ilusão de transparencia do social. Esta familieridade dificulta o seu questionamento e, logo, a sua analise cientifica, na medida em que a realidade se nos apresenta de forma ilusoriamente transparente e óbvia.
Explicações do tipo naturalista
Por vezes tentamos explicar os fenomenos sociais recorrendo a explicações naturais, ou seja, recorrendo a factores de ordem fisica ou biológica, atribuindo responsabilidades à natureza das coisas. (nat. Humana, de um povo, sexo etc.) Estas explicações são perigosas do ponto de vista cientifico, porque tendem a assumir-se como inquestionaveis e inevitaveis. Exemplo: As mulheres são mais emotivas, logo têm cargos inferiores.
Explicações do tipo individualista
As causas sociais dos fenómenos nem sempre são evidentes e torna-se mais simples recorrer a justificações do tipo individualista e psicologica. Exemplos: “Alunos copiam porque nao gostam de estudar” / “Desemprego existe porque as pessoas nao querem trabalhar”
Explicações de tipo etnocentrista
Já quando olhamos para outras sociedades, outras classes sociais, outros grupos, outras culturas e tomamos como referencia a nossa propria realaidade social e cultural, tendemos a explicar os fenomenos dessas sociedades, classes, grupos e culturas de forma etnocentrista. Estas explicações pressupõem um sentimento de superioridade, uma sobrevalorização da propria cultura e a construção, com base nisso, de juizos de valor que inferiorizam e desvalorizam o contexto social e cultural da realidade observada e nao têm por isso qualquer valor cientifico. Exemplo: “Nazismo”
A especificidade da Sociologia enquanto disciplina cientifica
Uma das especificidades da Sociologia prende-se com o facto de
procurar distanciar-se destas explicações de senso comum, imediatas e preconceituosas, e procurar explicar os fenomenos sociais recorrendo a explicações também elas de ordem social. A sociologia não pretende julgar a realidade mas sim compreendê-la, explicá-la e fundamentar eventuais intervenções políticas ou institucionais. Quanto melhor conhecermos uma determinada realidade, mais fundamentadas serão e maior probabilidade de exito terão essas intervenções. Deste modo, a sociologia intervem na sociedade na medida em que as suas analises podem influenciar as acções dos individuos e das organizações. Outra especificidade da Sociologia, é que se preocupa em proceder a uma ruptura com o senso comum, mas ao mesmo tempo, preocupa-se em utilizá-lo enquanto objecto de estudo.
Os preconceitos que os actores sociais veiculam no seu dia-a-dia,
nomeadamente crenças xenófobas, racistas, podem ser em si (e têm sido) objecto de analise sociologica; analise que permite identificar as origens desses preconceitos, as suas causas, manifestações no quotidiano e consequencias. De igual modo, pode permitir que se encontre formas eficazes do seu combate.