You are on page 1of 5

UNIVERSIDADE FEDERAL DA SEMESTRE LETIVO: ​2018.

1
BAHIA - UFBA

CURSO DE SEMESTRE: 2º TURNO: MATUTINO:


PSICOLOGIA

DISCIPLINA: TEORIA EVOLUCIONISTA DO PROFESSOR (A): AMANDA


COMPORTAMENTO HUMANO (IPSC11) SEIXAS

Alunas:​ Ana Beatriz Guarany Teixeira


Larissa Santos Fraga

BICHARA, Ilka Dias. ​Brincar ou Brincar: Eis a Questão - A Perspectiva Evolucionista Sobre
a Brincadeira​. Rio de Janeiro, ​Guanabara Koogan​, 2009. p. 104 - 113.

Ilka Dias Bichara é doutora pela Universidade de São Paulo (USP) e professora
associada da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atualmente ela coordena o grupo de
pesquisa Brincadeiras e Contextos Culturais e atua na área de Psicologia do Desenvolvimento
e Psicologia Evolucionista.
O texto “Brincar ou brincar: eis a questão - A perspectiva evolucionista da
brincadeira” traz um apanhado histórico do brincar entre diferentes espécies, incluindo os
hominídeos, o que explica por diversas perspectivas a necessidade dessas ações
aparentemente tão simples, mas que em realidade são um modo de aprimoramento social,
físico e psicológico para o desenvolvimento desses indivíduos. Nele, Bichara et al
distribuíram em aproximadamente 25 páginas o que pode se caracterizar como brincadeira, a
sua função, sua evolução e sua ontogênese.
O brincar, devido à sua complexidade, não pode ser encaixada em um conceito fixo e,
por isso, o texto o significa com base nas características que o rodeiam. Essas características
incluem os movimentos exagerados (que não se enquadram como estereotipia), a adoção de
comportamentos de situações reais na brincadeira (mesmo que sem efeito biológico aparente)
e a alternância de papéis, entre algumas outras características. Tudo isso é resumido por
Burghardt (2005) como sendo o “big five” das brincadeiras, o qual é explicado por Bichara,
Lordelo, Carvalho e Otta (2009) da seguinte forma:
1) Função imediata limitada, referindo-se à ocorrência de comportamentos fora do
contexto original; 2) Componente endógeno, representando o fato de que a
brincadeira consiste em comportamento espontâneo, voluntário, prazeroso,
recompensador, reforçador ou feito em benefício próprio; 3) Diferença temporal ou
estrutural, descrevendo o fato de que os comportamentos de brincar são, em geral,
incompletos, exagerados ou precoces, envolvendo padrões com forma, seqüência ou
alvo modificados; 4) Ocorrência repetida, consistindo no desempenho repetido em
forma similar, embora não estereotipada; 5) Ambiente relaxado, ou seja, as
brincadeiras só ocorrem em situações livres de tensões, ameaças, disputas e quando
o indivíduo encontra-se num estado saudável, alimentado e sem necessidades físicas
prementes (Burghardt, 2005).
A partir daí, surge a necessidade de explicar as raízes do brincar, começando pelo
questionamento: “Qual a função da brincadeira?”. Mesmo com a quantidade escassa de
evidências sobre o seu valor adaptativo, diversas alternativas para explicar sua função já
foram levantadas. Uma das possibilidades consiste em pensar nela como uma forma de
sobreviver a essa fase da vida (a infância) e um dos exemplos citados no texto que sustenta
essa hipótese é o brincar em técnicas psicoterapêuticas com crianças. Outra opção seria a
brincadeira como um preparo para lidar com situações inesperadas, como quedas, e como um
modo de preparo também para situações estressantes. Além disso, ela pode também ser vista
como um modo de preparo para que o indivíduo chegue à maturidade, para tornar-se um
“adulto competente”.
Hipóteses como essas se baseiam na constatação de que os animais que mais brincam
são aqueles que precisam aprender mais novas habilidades diferentes (EIBL-EIBESFELDT,
1989). Assim, algumas das habilidades adquiridas através da aprendizagem inclui a
linguagem, a fuga, a reconhecer sinais, entre outros comportamentos vitais adaptativamente
para sua sobrevivência.
Os autores continuam a citar diversas funções da brincadeira, até chegar no próximo
tópico: “Como pode ter evoluído a brincadeira no homem? (filogênese)”. Para esse
questionamento, os autores trouxeram primeiramente um apanhado de informações entre
outras espécies que incluem a avaliação de quais brincavam mais. Assim, existe a separação
entre animais especializados e não especializados (“oportunistas”), sendo que esses últimos
têm uma uma tendência maior a brincar e explorar, e deveriam evitar ficar inativos.
As brincadeiras de luta, fuga e perseguição representam um valor adaptativo
justamente em relação a isso: são um tipo de treino para as situações futuras, assim como o
aperfeiçoamento da utilização de instrumentos, advindo da tentativa e erro, o que indica a
adaptação dos homens ao meio, favorecendo a sua sobrevivência. Isso se evidencia nas
brincadeiras de luta, onde existe uma “inversão de papéis” e uma auto contenção, o que serve
para que ambos os participantes desenvolvam suas habilidades coletivamente.
A seguir, surge o próximo questionamento: “Como a brincadeira se desenvolve
durante a vida humana? (ontogênese)”. As crianças brincam desde que nascem, fazendo a
“cara de brincadeira” e reagindo de modo reflexivo às brincadeiras das mães. Os estudos de
Eibl-Eibesfeldt (1989) revelaram que as crianças se divertem por muito tempo apenas por
observar alguém manuseando um objeto, ou elas mesmas brincam com eles. Depois, elas
passam a reordenar figuras diárias fora de contexto (copo sem nenhuma bebida, etc), passando
por uma fase de reinventar os objetos ao dar significados a eles, até que esses simbolismos
passam a ser incluídos na relação com um companheiro. Tornando as interações cada vez
mais complexas e elaboradas, quando, com uns 5 a 7 anos, a criança passa a se interessar mais
por brincadeiras com regras. Esse fluxo de brincadeira ocorre em diversas populações
diferentes entre si, como mostrou o estudo de Gosso et al. (2005).
A última questão posta no texto é: “Quais os fatores imediatos que afetam a
brincadeira?”. Geralmente, fatores como a história particular de cada um e as influências do
presente podem afetar o comportamento de brincadeira. Os autores ressaltam também a “zona
lúcida”, que pode interferir nos tipos de relações que serão desenvolvidas e no
desenvolvimento do indivíduo, além de falar sobre a diferença entre meninos e meninas no
brincar, sendo que os primeiros têm maior preferência pelo ambiente externo, e elas pelo
ambiente interno. Assim, citando alguns outros exemplos de variáveis do brincar, Bichara et
al (2009) encerram o texto, nos deixando pensativos sobre as inúmeras variáveis que
permeiam o brincar, desde o clima em que as crianças se encontram, até os tipos de brinquedo
disponíveis para o brincar.
O trabalho de Bichara propõe um estudo extenso sobre o brincar, tanto em relação às
espécies, quanto em relação às inúmeras variáveis encontradas nas brincadeiras das crianças
humanas. Ao colocar a posição da brincadeira como um importante marco de
desenvolvimento para a promoção de atividades futuras, contrasta-se com a ideia do senso
comum do brincar como um passatempo característico da fase. As brincadeiras realizadas
pelas crianças conseguem desenvolver a cognição, a linguagem e até o convívio social, de
diferentes formas ao longo dos anos e da idade da criança.
As autoras além de esclarecerem a importância histórica e evolutiva da brincadeira,
ainda presente nos dias de hoje, trazem também os fatores que alteram as brincadeiras ao
redor do mundo. As condições econômicas, sociais e culturais, inerentes ao sujeito, mas não
escolhidas livremente, são determinantes para a construção e participação na brincadeira. O
ser criança em um bairro pobre possui brincadeiras diferentes de uma criança que cresce em
um bairro rico, assim como as brincadeiras de meninos e meninas são diferentes. Contudo,
enquanto nos é dito que os meninos são mais facilmente encontrados brincando em ambientes
externos, e com tendências às brincadeiras de luta; sabemos que as meninas tendem a brincar
em ambientes internos, mas não nos é dito a existência de brincadeiras específicas.
A distinção entre as brincadeiras que meninas e meninos preferem tem explicação
tanto biológica, quanto cultural e social. É apontado que diferenças hormonais, genéticas e
neurais interferem no modo e na escolha do brincar (​Biddulph, 2006). Na literatura é
encontrado que as brincadeiras mais comuns entre os meninos é de luta (95%), nas meninas
foi dançar (65%), enquanto a brincadeira geral mais comum foi pega-pega (86%)
(MENEZES, 2010).
A cultura perpassa o modo de brincar das crianças de maneira significativa, pois elas
brincam com o quê é possível e facilmente encontrado em seu contexto e universo conhecido.
Crianças da zona rural podem brincar com os instrumentos necessários ao trabalho do campo,
tanto imitando o trabalho dos adultos, como dando novos significados a esses objetos.
Contudo, uma criança aldeada e sem acesso à tecnologia, não irá brincar que dirige um
automóvel, por exemplo.
Bichara et al apontam que a cultura tem impacto no modo de brincar, todavia não
relatam a influência que o modelo familiar ao qual a criança se encontra tem impacto nas suas
brincadeiras.
É importante vermos o impacto da comunidade em que a criança está inserida, pois
sem o cuidado do adulto, as possibilidades de brincar são reduzidas, pois não estará sendo
garantida a segurança e a alimentação. Entretanto em situações extremas, como foi o caso das
crianças trazidas em navios negreiros, as mães confeccionavam bonecas de pano feitas com
pedaços rasgados de vestidos e saias e nós (VIEIRA, Kauê). Neste caso, mesmo que as
necessidades básicas não estivessem asseguradas, foi oferecido um mínimo de conforto,
através das possibilidades do brincar.

REFERÊNCIAS

BICHARA, I. D.; LORDELO, Eulina da Rocha ; CARVALHO, Ana Maria Almeida ; OTTA,
Emma .​ Brincar ou brincar: eis a questão - a perspectiva da psicologia evolucionista
sobre a brincadeira.​ In: Emma Otta; Maria Emília Yamamoto. (Org.). Fundamentos de
Psicologia: Psicologia Evolucionista. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009, v. 1, p.
104-113.

BURGHARDT, G.M. (2005). ​The Genesis of Animal Play: Testing the Limits.​ Cambridge:
The MIT Press.

EIBL-EIBESFELDT, I. (1989). ​Human Ethology.​ New York: Aldine de Gruiter.

GOSSO, Y. (2005). ​Pexe oxemoarai: brincadeiras infantis entre os índios Parakanã.


Instituto de Psicologia da USP: tese de doutorado em Psicologia.

MENEZES, A. B. C.; BRITO, R. ; FIGUEIRA, R. A. ; BENTES, T. F. ; MONTEIRO, E. F. ;


SANTOS, M. C. . ​Compreendendo as diferenças de gênero a partir de interações livres
no contexto escolar.​ Estudos de Psicologia (Natal), v. 15, p. 79-87, 2010.
Biddulph, S. (2006). ​Criando meninos​. São Paulo: Fundamento.

VIEIRA, Kauê. ​Bonecas Abayomi: Símbolo de assistência, tradição e poder feminino.


Disponível: <http://www.afreaka.com.br/notas/bonecas-abayomi-simbolo-de-resistencia-
tradicao-e-poder-feminino/> . Acesso em 03 ago. 2018.

You might also like