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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA E DIREITO - UFF

Disciplina: Teoria sociológica - aula: 19 de setembro de 2018


Docente: Profa. Dra. Ana Motta
Discentes: Luiz Henrique Eloy Amado, Adriana de Moraes, Mara Magda
Soares e Páris Borges Barbosa.

FREUND, Julian – “A Sociologia Compreensiva” (pp. 69 – 102); “A Sociologia Politica”


e “A Sociologia Jurídica” (pp. 165 – 200), In, A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER,
1966. Forense ed., Reio, S. Paulo, 1966.

Sobre o autor:
Professor conferencista da Faculdade de Letras e Ciências Humanas de
Estrasburgo, Julien Freund, nesta obra, o autor pretende é apenas refletir sobre pontos
relevantes do pensamento weberiano tais os conceitos de “tipo ideal”, “sistema”,
“causalidade”, “realidade”, dentre outros.
”.
RESENHA

CAP 3 – SOCIOLOGIA COMPREENSIVA

3.1 – A noção de sociologia compreensiva (p. 67)

O autor inicia dizendo que comumente dá-se a definição de sociologia, como


a ciência dos fatos sociais; as dificuldades começam quando se trata de precisar a noção
de fato social. Estudam-se profundamente o crime, o direito, o costume e eventualmente
a evolução, de acordo com a sociedade através das idades da humanidade. Durkheim por
exemplo, divide a sociologia em duas partes: a morfologia social, que tem por objetivo
descrever as estruturas com base em seu conhecimento geográfico, ecológico,
demográfico, econômico, etc. E, de outro lado, a fisiologia social, cujo objetivo é o estudo
do funcionamento dessas estruturas (p. 67).
Já Weber, coloca no centro de sua sociologia a noção de atividade social; não
avaliar ou apreciar as estruturas no sentido em que podem ser boas ou más, oportuna ou
inoportunas, porém para compreender o mais objetivamente possível, como os homens
avaliam e apreciam, utilizam, criam e destrói as diversas relações sociais. O que lhe
interessa é como o homem se comporta na comunidade e na sociedade, como forma essas
relações e as transformam (p.68).
Weber em momento algum rejeita a concepção geral que tem da sociologia,
a saber, que se trata de uma disciplina cujo objetivo é elaborar relações gerais e
forneceram saber nomológico. Ele se recusa a limitar a sociologia a esse único aspecto.
Para ele, qualquer ciência pode proceder, segundo as necessidades de sua pesquisa, pelo
método generalizante ou pelo método individualizante. Assim, quando Weber emprega
a denominação de Sociologia Compreensiva, não tem absolutamente a intenção de
privilegiar a compreensão relativamente a explicação, nem tão pouco de condenar as
outras orientações da sociologia, mas pretende apenas marcar suas influências, por vezes
deliberadas, e acentuar a estreiteza de certos pontos de vista, ou seja, ela é compreensiva
no sentido em que se abre novas perspectivas a sociologia tradicional (p. 69).
Neste sentido, por exemplo, podemos falar de uma sociologia política,
econômica ou religiosa. Não que a sociologia tende a suplantar ou ultrapassar a ciência
política ou econômica, cada uma destas disciplinas tem uma função e problemas próprios,
mas se constituem sociologia política ou econômica na medida em que se propõe a
compreender do ponto de vista especificamente sociológico. Ou seja, em que sentido e
em que medida, a política e a economia exercem uma ação significativa sobre a atividade
social dos homens, no seio de agrupamentos determinados e orientam seu
comportamento (p.71).

O autor transcreve a definição de Weber: “chamamos sociologia uma ciência cujo


objetivo é compreender pela interpretação atividade social, para em seguida explicar causa a mente o
desenvolvimento e os efeitos dessa atividade”. Após, ele sua análise sobre compreensão e atividade
social (p. 71).

3.2 – A compreensão (p. 71)

Weber reconhece a legitimidade do método compreensivo elaborado pelos


que vieram antes dele e por seus contemporâneos. Todavia, em vez de se prender as
questões puramente filosóficas que o método levanta, ele dirige sua atenção para a
validade científica do processo. Existem diversas maneiras de compreender, que podem
favorecer ora inteligência estética, ora experiência direta, mas não são todas compatíveis
com rigor científico. A questão weberiana é, pois, a seguinte: em que medida a
compreensão é um processo capaz de elaborar na sociologia verdades válidas para todos
os que querem a verdade? (p. 72)
E, continua: sendo uma disciplina empírica, a sociologia não conhece outra
compreensão além da do sentido visado subjetivamente por agentes no curso de uma
atividade concreta. Compreender, pode-se dizer, é captar a evidência ao sentido de uma
atividade (p.74).
O problema para Weber se situa em dois níveis diferentes: primeiro,
estabelecer com base na compreensão, um tipo ideal racional e evidente da atividade
social que seja compatível com a interpretação racional e que facilite o trabalho científico;
e, segundo dar o método compreensivo a maior validade objetiva possível. Com relação
a esse primeiro problema, ele vai analisar quando trabalhar a atividade social; em relação
a este segundo problema, ele afirma que são racionalmente evidentes na esfera da
atividade todas as relações significativas que se deixam compreender de maneira clara
mente intelectual. Entretanto, esta evidência racional só é cientificamente válida se sua
exatidão, puder ser controlada pelas vias comuns do trabalho científico (p. 77).

3.3 – A atividade social e seus diversos tipos (p. 77)

O segundo problema mencionado diz respeito à possibilidade de captar com


maior evidência possível o sentido de uma atividade social. Assim, o que vem a ser
atividade em geral e atividade social em particular? (p. 77)
Entendemos, diz Weber, por atividade um comportamento humano sempre
que o agente ou os agentes, lhe comunicam um sentido subjetivo; por atividade social,
entendemos a que segundo sentido visado, o agente ou os agentes relacionam com o
comportamento de outrem para orientar em consequência seu desenvolvimento (p. 78).
Como toda a compreensão tende para a evidência, o problema é definir
atividade social mais evidente racionalmente. Para isso, Weber distingue a atividade
racional por finalidade, a atividade racional por valor, a atividade afetiva e
atividade tradicional (p. 79).
• O comportamento tradicional situa-se no limite da explicação pela
sociologia puramente causal e pela sociologia compreensiva, porque
consiste muitas vezes em uma conduta maquinal, por obediência
inconsciente ao costume e porque comporta por isso elementos não
compreensíveis.
• O mesmo acontece com a atividade afetiva que comporta elementos
não compreensíveis de ordem extintiva, sensorial, emocional ou
passional, ou ainda, uma sublimação a ser explicada pela psicologia
ou pela psicanálise.
• A atividade racional por valor se caracteriza pelo fato de se inspirar,
no curso de seu desenvolvimento, apenas na convicção do a gente,
sem se preocupar com as consequências previsíveis. Um indivíduo se
põe a serviço exclusivo de um valor ou de uma causa de ordem
religiosa política.
• A atividade racional por finalidade possui uma prioridade em relação
a sociologia compreensiva, pois comporta mais evidência racional.
Sua característica é ser uma conduta que, uma vez fixado o fim,
segundo reflexão amadurecida, escolhe os meios mais apropriados
levando em conta consequências previsíveis capazes de acompanhar
o desenrolar da ação (p.80).

Segundo o autor, Weber sempre negou ter inventado um instrumento


metodológico novo, ao propor a noção de tipo ideal, uma vez que não fez mais do que
elaborar logicamente uma prática espontânea do historiador e do sociólogo que se
referem constantemente no curso de suas explicações, a um quadro ideal da atividade
para compreender uma ação (p. 83).
O tipo ideal é um conceito de grandes recursos uma vez que alia o rigor na
pesquisa ao rigor científico. Qualquer que seja o uso que se faz do tipo ideal, só possui ele
a validade de um paradigma, cujo objetivo é compreender uma relatividade significativa,
em outras palavras, ele se afasta necessariamente da realidade empírica para melhor
dominá-la teoricamente. E como tal é sempre um instrumento (p.84).
E conclui o autor, é portanto, um erro fazer da atividade racional o fim último
da sociologia, considerando-se a realidade, é o contrário que parece mais certo, pois as
atividades concretas em sua maioria se desenrolam a despeito da pura racionalidade tão
numerosos são os fatores irracionais acidentais incompreensíveis que intervém. É por isso
que seja qual for o tipo ideal, o da atividade tradicional, como da atividade afetiva, da
atividade racional por valor ou por finalidade, ele nunca passa de um quadro utópico,
elaborado teoricamente para facilitar a pesquisa. Sua validade é pois, sempre
problemática e sua utilidade só se comprova através de sua fecundidade na pesquisa
(p.84).
Por fim, nos três últimos itens, o autor trata do Indivíduo. Neste item ele mostra
que somente a consciência individual é que pode dá sentido à consciência. Isso se
evidencia melhor quando autor afirma que “todo apelo a um sentido supõe uma consciência, e esta
é individual”. Refletindo sobre o Estado, o autor insinua que uma das preocupações desse
(o Estado) é inserir os conflitos que estão inseridos na sociedade. Desse modo,
estabelecendo um paralelo com a sociologia, Freund demonstra que a sociologia não está
preocupada em saber se Lei é legitima ou não, mas sim, saber as transformações que
foram geradas a partir do erro dessas leis.
No item cinco, discorrendo sobre “As oportunidades e as estruturas sociais”, o
autor insinua que a obrigação também faz parte das relações sociais e, portanto, estão
presentes na estrutura da sociedade. Considerando que as relações sociais são complexas
e conflituosas, a obrigação se torna fundamental, sobretudo porque regulariza as relações
sociais que pretende ser mais duráveis.
No sexto, em sua parte final, trata da luta que se tece na sociedade em vista
das disputas pelo poder. Neste ponto, o autor refere que uma das características do Estado
é o fato dele “deter o monopólio da violência e do constrangimento físico”. A ideia central neste
contexto é a de que o estado usa da força para obrigar os cidadãos ao cumprimento de
seus respectivos deveres. Nesse sentido, o que faz com que o Estado seja Estado é o fato
de que ele tem força e usa dela para atingir seus objetivos. Em suma, não existe Estado
sem força.

4.3 – SOCIOLOGIA POLÍTICA

4.3.1 – A política e o Estado (p. 159)

A análise do autor limita-se a sociologia política e não a sociologia política de


Weber e suas tomadas de posição prática e pessoais junto a política alemã. Ele conceitua
política como “uma atividade geral do ser humano, isto é, esta em toda nossa história. Ela
tomou no curso do tempo diversas formas, fundamentou-se em diversos princípios e deu
origem as mais variadas instituições.
Dentre elas, o Estado – que é apenas uma das manifestações histórica e
precisamente a que corresponde ao movimento de racionalização da civilização moderna.
A política é, pois, anterior ao estado. Segundo Weber, o Estado se define
como estrutura ou o agrupamento político que reivindica com êxito o monopólio do
constrangimento físico legítimo.
Caráter específico do Estado: de um lado, comporta uma racionalização do
direito com as consequências que são a especialização do poder legislativo e judiciário,
bem como a institucionalização de uma polícia encarregada de proteger a segurança dos
indivíduos e de assegurar a ordem pública; de outro, apoia-se em uma administração
racional, baseada em regulamentos explícitos, que lhe permitem intervir nos domínios
mais diversos, desde a educação até a saúde, a economia e mesmo a cultura.
Para Weber, um estado socialista que preconiza a planificação metódica não
poderia constituir uma estrutura original, em suma o socialismo não é senão uma das
formas típicas do estado moderno. Ao lado da estrutura estatal, Weber observa uma
evolução análoga na estrutura das igrejas, por formarem estas um poder hierocrático,
recorre ao constrangimento psíquico e reivindica o monopólio deste.
O esforço de Weber se dirige menos análise da estrutura histórica do estado
e mais a compreensão do fenômeno político. É que o uso legítimo da violência pode caber
a outros argumentos agrupamentos que não a unidade política, tal como a comunidade
doméstica, as corporações ou ainda os feudos. Para ele organização política está longe de
ter sido o tempo todo rigor institucional do Estado.
Segundo Weber, a unidade política sempre constituiu um agrupamento e foi
só em nossos dias que ela tomou aspecto de uma instituição rígida. E conclui: é, pois, a
natureza específica do agrupamento político que é preciso explicar para se aprender o
fenômeno político em si mesmo.
Atividade política se define:
• Território: a atividade política se define em primeiro lugar pelo fato
de se desenrolar no interior de um território delimitado, não é
necessário que as fronteiras sejam fixadas rigorosamente, podem ser
variáveis. Entretanto, sem a existência de um território que
particulariza o agrupamento não se poderia falar em política.
• Atividade: os que habitam no interior das fronteiras do agrupamento
adotam um comportamento, que se orienta significativamente,
segundo esse território e a comunidade correspondente. Atividade fica
condicionada pela autoridade encarregada da ordem.
• Força: (violência) ela utiliza por certos, todos os outros meios para
levar a bom termo seus empreendimentos, porém em caso de falência
dos outros processos, a força é a sua ultima ratio e o seu meio específico.

Decorre dessas explicações que o domínio está no âmago da política e que o


agrupamento político é um agrupamento de domínio.

Conceito de domínio (p. 161): O domínio é a manifestação concreta e


empírica do poderio (macht – no Alemão marcas).
Weber define o poderio como a oportunidade de um indivíduo de fazer
triunfar no seio de uma relação social sua própria vontade contra resistências; e o domínio
como a oportunidade de encontrar pessoas dispostas a obedecer a ordem que eles é dada
(p.161).
Definição de política: “atividade que reivindica para autoridade instalada
em um território o direito de domínio, com a possibilidade de usar em caso de necessidade
a força ou a violência, quer para manter a ordem interna e as oportunidades que dela
decorrem, quer para defender a comunidade contra ameaças externas” (p. 161).
Atividade política: “jogo que tenta incessantemente formar, desenvolver,
deslocar ou perturbar as relações de domínio” (p. 161).

4.3.2 – O prestígio e as outras noções (p. 162)

O autor fala que certas unidades políticas, em geral as pequenas nações como
a Suíça ou a Noruega, manifestando conveniência sua soberba, não atribui em geral a
esse sentimento se não o valor puramente autonomista, pois elas só tem ciúme de sua
independência, da qualidade modelar de suas instituições ou mais simplesmente, de sua
história.
O orgulho político pode igualmente se afirmar no jogo das relações exteriores
e adotar atitude altiva da grandeza, da honra e do poderio que um país exerce no mundo:
dá-se então foros de privilégios. Esta última noção é fundamental aos olhos de Weber,
pois esclarece certo número de estruturas políticas com mais de “grandes potências”, de
nação ou de imperialismo (p. 163).
Sem dúvida, implica em uma aspiração irracional, entretanto, sem ela, certas
relações internacionais, como a hegemonia ou colonialismo, seriam incompreensíveis. O
prestígio surge como elemento dinâmico da política. Em princípio, todo poderio político
é um pretendente potencial ao prestígio, em razão da concorrência e da rivalidade entre
as unidades políticas (pouco importando as razões comerciais, ideológica ou outras)
Querer exercer influência sobre as relações internacionais, quer em nome de
um desejo de anexação e de agressão, quer de pacificação, é afirmar uma vontade de
prestígio.
As grandes potências das quais dependem em nossos dias a paz e a guerra, se
inspiram mais do que as outras nestes sentimentos. Certamente, tem-se razão de insistir
sobre as capacidades econômicas desses países, mas sem o pathos especial do prestígio, isto
é, quando não se leva em conta o papel que eles querem desempenhar, a motivação de
suas iniciativas não seria incompreensível.
O fator econômico do imperialismo deve ser levado em conta, mas o Weber
recusa esse exclusivismo economicista. Para Weber, o imperialismo imprimi igualmente
a vontade do prestígio (p. 163).
O autor aborda ainda a ideologia racista que pode exercer o papel de
fenômeno de poderio evidentemente assim como a economia a psicologia e a religião não
poderia a Biologia ser tida como fundamento da sociologia política todavia como certos
partidos ou formações políticas fazem da raça o fundamento ideológico de sua ação a
sociologia política deve levar isso em conta. Olhando as coisas de perto constata-se que a
concepção racismo é essencialmente subjetiva e negativa já que afirma sem razão
plausível a superioridade do sangue e chega a uma segregação baseada no desprezo e na
superstição.
Além do mais os parques resultados obtidos pela ciência das raças são todos
contestáveis apesar de tudo o racismo é fator determinante do poderio e Por conseguinte
do prestígio tanto mais que o conceito de nação faz intervir em noções ética mesmo que
não constituam um critério de sua definição sob este ponto de vista o conceito de raça
exerce ou pode exercer papel político determinante desde que consiga fazer crer que a
existência em comum nos limites de fronteiras determinadas tem por base uma
comunidade racial.

4.3.3 - Os três tipos de legitimidade (p. 166)


Para Weber há três tipos de domínio legítimo:
• O primeiro, domínio legal, é de caráter racional tem por
fundamento a crença na validade dos regulamentos estabelecidos
racionalmente e na legitimidade dos chefes designados nos termos da
lei;
• O segundo, chamado domínio tradicional, tem por base a crença
na santidade das tradições em vigor e na legitimidade dos que são
chamados ao poder em virtude de costumes;
• O terceiro que ele chama domínio carismático repousa no
abandono dos membros ao valor pessoal de um homem que se
distingue por sua santidade, seu heroísmo ou seus exemplos.
Para Weber, o domínio legal é o mais impessoal, o segundo se baseia na
piedade e o terceiro é da ordem do excepcional. Desde o início, Weber deixa claro que
trata de tipos ideais, por conseguinte, de formas que nunca se encontram ou só, muito
raramente estado puro na realidade histórica, pois o domínio carismático por exemplo,
não é inteiramente desprovido de legalidade e a tradição encerra todos aspectos
carismático ou mesmo burocrático.
Mas o autor traças suas principais características:
O domínio legal tem as seguintes características: todo direito seja ele
estabelecido por convenção ou por outorga, vale em virtude de um procedimento racional
por finalidade ou por valor ou pelos dois ao mesmo tempo. Conjunto das regras de direito
constitui um mundo abstrato de prescrições técnicas ou de normas. O domínio legal
consiste em um empreendimento contínuo de funções públicas instituídas por leis e
distribuídas em competências diferenciadas. A mais típica forma domínio legal é a
burocracia. O procedimento administrativo repousa no princípio de documentos e
fichários a serem observados, todas as decisões, decretos e ordens de serviços são escritos.
No domínio tradicional autoridade não pertence a um superior escolhido
pelos habitantes do país, mas sim a um homem que é chamado ao poder em virtude de
um costume em geral. O chefe tradicional se orienta segundo as regras habituais da
equidade e da justiça ética, ou então segundo a oportunidade pessoal, não segundo
princípios fixos e formais. No domínio tradicional, a autoridade não pertence a um
superior escolhido pelos habitantes do país mais sim ao homem que é chamada ao poder
em virtude de um costume em geral. As pessoas que assistem o chefe tradicional do
governo não são funcionários, mas sim servidores resultados conforme o caso, entre os
escravos, os libertos, os clientes, os membros da família, os vassalos, etc.
O domínio carismático constitui o tipo excepcional do poderio política,
porque ele deturpa a vida política ordinária. O comportamento carismático não é
peculiar apenas a atividade política, pois pode ser igualmente observado em outros
campos, como da religião, da arte, da moral e até mesmo da economia.
Todo domínio carismático implica na entrega dos homens a pessoa do chefe,
que se acredita predestinado a uma missão. Seu fundamento é pois, emocional e não
racional, já que toda a força de sua atividade repousa na confiança e na maioria das vezes
na fanática fé. O carismo é ruptura da continuidade, seja legal ou tradicional, ele quebra
as instituições põe em dúvida a ordem estabelecida e o constrangimento habitual, para
recorrer a uma nova maneira de conceber as relações entre os homens.
É difícil falar de direito em se tratando do domínio carismático, pois ele não
reconhece as instituições, nem os regulamentos e tão poucos costumes e os precedentes.

4.3.4 – A burocracia, o patrimonialismo e as dificuldades do carisma

A burocracia é o exemplo mais típico do domínio legal. O autor arrola


algumas características: 1) a existência de serviços definidos em competências
rigorosamente determinados pela lei, 2) a proteção do funcionário no exercício de suas
funções; 3) hierarquia das funções administrativas, 4) recrutamento por meio de concurso
e exames, 5) a remuneração regular, 6) o direito que tem autoridade de controlar o
trabalho de seus subordinados, 7) a possibilidade de promoção dos funcionários; 8) a
separação completa entre função e o homem que ocupa.
Mas alerta o autor, esta descrição só vale para configuração do estado
moderno, pois o fenômeno burocrático é mais antigo, uma vez que já encontramos no
Egito antigo, por exemplo. A burocracia moderna desenvolveu-se sob a proteção do
absolutismo real no começo da era moderna. As antigas burocracias tinham caráter
essencialmente patrimonial, isto é, os funcionários não gozavam das garantias estatutárias
atuais nem de remuneração em espécie.
E afirma o autor, que interessa a sociologia são as transformações que a
burocracia introduziu nas sociedades modernas. Admite-se em geral e a democratização
e burocratização andam de mãos dadas.
4.4 – SOCIOLOGIA JURÍDICA

4.4.1 – Tarefas da sociologia jurídica e definição do direito (pag. 178)

Weber era jurista de formação, por isso suas ideias procuravam expor as fases
e os fatores que contribuíram para a racionalização do direito moderno no contexto da
racionalização peculiar a civilização ocidental. Ele estuda ação da política, da religião, e
da economia sobre a evolução do direito, sem esquecer o esforço despendido pelos
juristas, os legistas, os advogados, em geral todos os profissionais do direito.
O autor estabelece uma distinção entre dogmática jurídica e a sociologia
jurídica.
A dogmática jurídica procura estabelecer teoricamente o sentido
intrínseco visado por uma lei, controlar a coerência lógica em relação a outras leis, ou
mesmo em relação ao conjunto de um código.
A sociologia jurídica, ao invés, tem por objeto compreender o
comportamento significativo dos membros de um grupamento, quanto as leis em vigor e
determinar o sentido da crença em sua validade ou na ordem que elas estabeleceram.
Procura pois, aprender até que ponto as regras de direito são observadas, e como os
indivíduos orientam de acordo com elas a sua conduta.
Para a dogmática jurídica uma norma é válida desde que seja estabelecida ou
figure em um código. Para a sociologia trata-se de controlar sua importância no curso da
atividade social dos indivíduos, pois não é sempre que uma lei estabelecida é respeitada.

4.4.2 – Quatro distinções (pag. 181)

- direito público e direito privado: afirma que embora seja uma


distinção muito cômoda, não se baseia em nenhum critério jurídico ou sociológico
satisfatório. Primeiro chama-se de direito público o conjunto de normas que regulam a
atividade relacionada a instituição estatal e o direito privado o conjunto das normas que
se referem as atividades não compreendidos por estado. Segundo, identifica o direito
público com a totalidade dos regulamentos da administração, ou seja, normas que contém
diretrizes para uso do governo. Terceiro, considera direito privado todas as questões nas
quais as partes estão juridicamente em pé de igualdade, e como direito público as que
implicam na relação hierárquica entre mando e obediência, entre domínio e
subordinação. No entanto, existem relações que fogem a este tipo de divisão, por
exemplo, quando regulamentos públicos criam direitos subjetivos privados, ou quando a
administração tem caráter privado, como no caso das empresas econômicas, ou quando
no caso da administração estatal antigamente um caráter privado, pois seus servidores
eram ligados ao soberano. Assim esta distinção entre as duas categorias de direito é
incapaz de facilitar a análise sociológica do direito por causa de seus equívocos, mesmo
que possa apresentar um interesse metodológico para a sociologia (p. 182).
- direito positivo e direito natural: segundo o autor a sociologia só
deveria ocupar-se, em princípio, do direito positivo já que só ele, dá origem a instituições
constatáveis e analisáveis cientificamente. No entanto tal proibição não poderia ser
imposta à uma Sociologia Compreensiva. Ela não pode desinteressar-se do direito
natural, se é que ele pode servir de regra, para o comportamento significativo dos homens
nas coletividades determinadas. Certamente não deve ela pronunciar-se sobre a validade
de tal direito, mas sim compreender até que ponto crenças desse gênero influenciaram a
vida jurídica (p. 182).
As outras duas distinções compõem o esqueleto da sociologia jurídica de
Weber (p. 183).
- direito objeto e direito subjetivo: ele entende por direito objetivo o
conjunto dos regulamentos que valem indistintamente para todos os membros de um
agrupamento no sentido em que este último faz parte da ordem jurídica geral. E direito
subjetivo, trata-se da possibilidade para um indivíduo de recorrer ao aparelho de coerção,
com vistas a garantir seus interesses materiais e espirituais. Em outras palavras, os direitos
subjetivos proporcionam a segurança a pessoas que dispõe de um poder sobre outros
indivíduos ou sobre coisas, por exemplo propriedade, eles os autorizam a impor proibir
ou permitir aos outros uma conduta determinada. Em suma, Weber, atribui um lugar
muito elevado a estas espécies de direitos, que não são afinal de contas, senão interesses
protegidos juridicamente. O autor afirma que, em linhas gerais, na sua sociologia jurídica,
não se deve esquecer de um lado, procura ela mostrar os diversos processos que levaram
a racionalização do direito moderno, e de outro ilustrar uma vez mais a singularidade da
civilização ocidental. Ora os direitos subjetivos constituem aspecto fundamental desta
civilização por terem desempenhado o papel determinante, nas transações privadas que
contribuíram para a formação do capitalismo moderno.
- Direito formal e direito material: ele entende por lei formal, à
disposição jurídica que se deixa deduzir logicamente apenas dos pressupostos de um
sistema determinado do direito. Assim, o direito formal é o conjunto do sistema do direito
puro, do qual todas as normas obedecem unicamente a lógica jurídica, sem intervenção
de considerações externas ao direito. Já o direito material, ao contrário, leva em conta os
elementos extrajurídicos, e se refere no curso de seus julgamentos aos valores políticos,
éticos, econômicos ou religiosos.
O autor dá exemplos de como conceber a justiça, seguindo exclusivamente as
regras da ordem jurídica, ou levando em consideração a situação e as intenções do
indivíduo. E conclui, uma Justiça exclusivamente material acabaria servindo de negação
do direito. Por outro lado, nunca existiu e sem dúvida jamais haverá, justiça puramente
for mal que possa dispensar toda e qualquer consideração estranha ao direito. Por fim
afirma que, diferentemente do direito formal, que tende a sistematizar as normas jurídicas
o direito; o material permanece empírico, por que é por força das circunstâncias
casuística; entretanto esses dois direitos se deixam racionalizar: um com base na lógica
pura, o outro na utilidade.

4.4.3 – Do direito irracional ao direito racional (p. 186)

- O autor inicia perguntando se a racionalização crescente constitui realmente


o progresso um simples aperfeiçoamento da técnica jurídica? E a firma, que na verdade
a sociologia nada tem a ver com essa questão, respondendo que a tarefa da sociologia é
compreender o movimento de racionalização, sem fazer um julgamento de valor (p. 186).
- E continua dizendo, que parece provável que o direito não nasceu de si
mesmo, mas nasceu de respostas a preocupações políticas ou econômicas, e
principalmente religiosas; porque todo agrupamento humano qualquer que seja, ele exige
para subsistir que seus membros se submetam a regras comuns, capazes de compelir, se
assim for preciso. Foram esses usos de caráter coletivo e proveitosas para as atividades
comum dos interessados que formaram o direito, e são eles que continuam a torná-lo
indispensável. O fato de em nossos dias a regulamentação jurídica se fundamentar um
texto de lei, não modifica a essência do direito. A lei é o meio técnico recente de um modo
de fazer mais antigo. É falso dizer que o direito emanou da lenta evolução de costumes
inveterados, o costume era direito como a lei em nossos dias (p. 186).
- E afirma o autor, que por motivos de ordem e deficiência, o príncipe político
ou hierocrático foi levado fatalmente a intervir em uma prática jurídica puramente
formal, que funcionava como sistema fechado que não obedecia senão a sua própria
lógica. E continua, certamente o formalismo jurídico, garante em geral a maior liberdade
aos indivíduos na defesa de seus interesses, porém muitas vezes às custas dos interesses da
coletividade e às vezes contra os do estado sustentáculo da Ordem. Era portanto normal,
que o poder tentasse todos os meios combinar um aparelho judiciário, capaz de
comprometer a decisões da vontade política, encontrar um equilíbrio tão racional quanto
possível entre os interesses individuais e os da sociedade com base não mais em uma
justiça puramente jurídica, mas sim, ética, econômica ou social (p.190).
- O que procuraram os Príncipes patrimoniais e os hierocratas, foi elaboração
de um direito que atendesse às condições materiais e práticas, pronto a sacrificar a
precisão jurídica puramente formal. A intervenção dos elementos extrajurídicos de ordem
política, econômica, social e ética; longe de entravar a racionalização do direito, só serviu,
ao contrário, para ajudar o seu progresso, é bem verdade, não mais no sentido da Justiça,
formal mas sim da Justiça material (p. 190).
- O autor conclui que o papel da sociologia jurídica é precisamente,
compreender essa diferença, bem como os conflitos que nascem da incompatibilidade
entre o aspecto formal e o aspecto material, portanto, analisar o desenvolvimento do
Espírito jurídico sem se deixar influenciar pelas disputas dogmáticas dos profissionais do
direito (p. 192).

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