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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

Escola de Engenharia – Departamento de Metalurgia


Centro de Tecnologia – Laboratório de Fundição

Conceitos básicos
da solidificação e
análise térmica
Relação entre processamento,
microestrutura e propriedades
A solidificação de ligas metálicas

Que tipo de informação, o conhecimento da solidificação de um metal


(liga), pode trazer de relevante para a fabricação de uma peça?

• As características mecânicas de uma peca em serviço, ou o


comportamento de um material, frente as diferentes etapas de
processamento, como por exemplo as etapas de conformação, usinagem e
tratamentos térmicos, dependem fundamentalmente das características
internas da peca original.

• Sabendo que o primeiro fenômeno de fabricação envolvido na produção


de qualquer produto metálico e a SOLIDIFICACAO. Então é fato admitir que
a estrutura formada nesse primeiro fenômeno, deverá ser de importância
fundamental para as demais etapas de processamento.
A solidificação de ligas metálicas
A solidificação de ligas metálicas
Definição e conceitos fundamentais
Componente: Termo utilizado para definir um metal puro ou os elementos
químicos individuais que formam uma liga metálica;

 Sistema: Relata uma mistura de componentes. Definição de uma liga;

 Fase: é a porção homogênea de um sistema que tem características


físicas e químicas definidas.

Ao misturar os componentes A e B, na solidificação pode se formar uma


solução com características distintas das de A ou de B
Mistura Homogênea, Apresenta Mistura Heterogênea,
apenas uma fase de composição Possui mais de uma fase
química variável presente
Definição e conceitos fundamentais

 Estrutura Cristalina: Todo material que se encontra no estado líquido,


possui uma estrutura desordenada, ou seja, os átomos estão em posições
aleatórias.

Na solidificação, em função do tipo de componente, existirá uma


organização atômica dos átomos, conhecida por Estrutura Cristalina, que se
repete no espaço tridimensional.

A Estrutura cristalina de um material determina suas propriedades físicas


(mecânicas).
Definição e conceitos fundamentais
Célula unitária: A menor estrutura na organização dos átomos que irão
compor a estrutura cristalina.
 Nos metais observam-se fundamentalmente 3 células unitária: CCC; CFC
e HC.

A) CÚBICA DE CORPO CENTRADO (CCC)  Metais: Cr, V, Nb, Ta, Mo, W, Fe (T > 1394oC e T < 912oC)

B) CÚBICA DE FACE CENTRADA (CFC)  Metais: Cu, Ag, Au, Ca, Sr, Al, Pb, Ni, Fe (912oC < T < 1394oC)

C) HEXAGONAL COMPACTA (HC)  Metais: Be, Mg, Zn, Cd


Definição e conceitos fundamentais
Formação das Fases:
 Fase: é a porção homogênea de um sistema que tem
características físicas e químicas definidas.

Como se apresenta a estrutura


cristalina de 2 componentes após a
solidificação?
Sólido - Condição 1
Estrutura cristalina organizada
Componente A apresentando duas fases com diferentes
Componente B componentes

Líquido Sólido - Condição 2


Estrutura desorganizada Estrutura cristalina organizada
apresentando um única fase apresentando uma fase formada por diferentes componentes
Definição e conceitos fundamentais
 Solução sólida:

O termo Solução Sólida, refere-se a mistura homogênea de 2 componentes do materiais no


estado sólido.

Um componente B pode formar uma solução sólida com um componente A, se o componente B


se misturar a estrutura do componente A (de modo intersticial ou substitucional ) de tal forma a
manter uma condição de fase única.

Solução sólida
Componente solvente Componente solvente Intersticial
Solução sólida
Substitucional

FASE
ÚNICA
Componente soluto Componente soluto
Definição e conceitos fundamentais
 Limite de Solubilidade:

Admitindo que o componente B (soluto) seja adicionado ao componente A (solvente), para formar uma
solução sólida.
Sabe-se que para uma dada temperatura, deverá existir um limite da quantidade do componente B que o
componente A é capaz de absorver.
Após esse limite, os átomos do componente soluto não poderão mais existir dissolvidos nos átomos do
componente solvente, ocorrendo a partir daí a precipitação de uma nova fase.
Esse limite da quantidade do componente B que o componente A pode receber é chamado de Limite de
Solubilidade.

Exemplo da solubilidade
do açúcar na água.
Observe que após o
Limite de Solubilidade o
sistema será formado por
duas fases.
Definição e conceitos fundamentais
 Polimorfismo ou Alotropia:
 Alguns metais e não-metais podem ter mais de uma estrutura cristalina dependendo da temperatura e
pressão.

Materiais de mesma composição química, mas que podem apresentar estruturas cristalinas diferentes, são
denominados de alotrópicos ou polimórficos.

 Geralmente as transformações polimórficas são acompanhadas de mudanças na densidade e mudanças de


outras propriedades físicas.
grafite hexagonal
Carbono diamante cúbico

a e d (CCC)
Exemplos Fe g (CFC)
a (HC)
Titânio b (CCC)
SiC (chega ter 20 modificações cristalinas)
Definição e conceitos fundamentais
 Microestrutura:
• É a forma como os constituintes ou fases estão presentes, suas proporções e o modo pela
qual estão distribuídas ou agrupadas.

•Na maior parte dos materiais, as propriedades físicas e particularmente o comportamento


mecânico são dependentes de sua microestrutura.

• Nas ligas metálicas, a microestrutura é caracterizada pelo número de fases, suas


proporções e suas morfologias

Grãos de Ferrita
(monofásica)
Definição e conceitos fundamentais
 Constituição:
A constituição de uma liga é descrita por três parâmetros:

 As fases que se encontram presentes;


 A composição de cada fase;
 A proporção de cada fase;

Uma descrição mais precisa das propriedades mecânicas de um material, será aquela que diz
que estas propriedades dependem da constituição da microestrutura.

Outros fatores de importância nas propriedades serão:


A ESCALA de tamanho da fase
A MORFOLOGIA da fase
Fase A (Matriz) Fase B (Precipitado) Fase A (Matriz) Fase B (Precipitado)
Exemplos de microestruturas de ferrosos:

AÇO SAE 1010 AÇO SAE 1035 - TREFILADO FERRO GUSA

FOFO BRANCO HIPOEUTÉTICO FOFO CINZENTO - GRAFITE C FOFO CINZENTO - GRAFITE E


Análise Térmica

• A técnica de análise térmica consiste em monitorar, por meio de


termopares, a temperatura ao longo do tempo de um sistema em
resfriamento.

• Informações como nucleação e transformações de fase podem ser obtidas


diretamente da curva Temperatura x Tempo.
Análise Térmica

 Todas as conclusões baseiam-


se na curva de resfriamento
(CR), obtida, normalmente, pôr
um termopar (TP) colocado no
centro da peça ou lingote e que
gera um sinal elétrico que é
Temperatura de
registrado em função do tempo. Solidificação (Tf)

 Superesfriamento térmico (ΔT)


Temperatura de
 ΔT = Tf – TN Nucleação(TN)

 corresponde a redução de
temperatura, abaixo da
Temperatura de Fusão (Tf) na
qual a nucleação tem início (TN).
Análise Térmica
Análise Térmica
 Se um metal puro for resfriado lentamente a partir de uma temperatura Tv
(vazamento), a curva de resfriamento é dada como segue:

Líquido
(1 fase)

TF

Sólido
(1 fase)
Análise Térmica
 No caso de ligas metálicas, admitindo um metal puro (componente A)
no qual será inserido uma pequena quantidade de um elemento de liga
(componente B), a curva de resfriamento partindo de uma temperatura TV,
será dada por:
Diagrama de fases
Resfriamento do líquido
Tv Líquido
Temperatura

(1 fase)
Transformação de fase
(sólido + líquido) TL Sólido +
Tl Líquido
Resfriamento TS
do sólido Sólido
Ts
(1 ou + fases)
Liga binária:
Metal base (solvente) - A
Metal de liga (soluto) - B TL - Temperatura liquidus
TS - Temperatura solidus
Tempo
Análise Térmica Sn25Pb

T=230,6°C

Diagrama Pb-Sn e Curvas de


resfriamento do Estanho (Sn)
puro e da liga Sn25Pb
Diagrama de Equilíbrio ou de Fases
 Diagrama de Equilíbrio: Construção

 Para diferentes teores de soluto B no solvente A, diferentes curvas térmicas


serão obtidas:
Limite das
A+10%B A+70%B Temperaturas liquidus
Temperaturas de transformação versus
Temperatura

teor de soluto
100% A Limite das
Limite das

Temperatura
Temperaturas liquidus
Temperaturas solidus Tf B
Liquido
Líquido
+
Sólido Limite das
Temperaturas solidus
100% B
A+50%B A+90%B
A+30%B Tf A
Tempo
Sólido
Curvas térmicas e levantamento das
temperaturas de transformação de fase 100% A 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% B
%B
Diagrama de Equilíbrio ou de Fases
 Diagrama de Equilíbrio ou de Fases

• Um diagrama completo deve apresentar como informações as temperaturas de


transformações de fases, os campos de fases e as solubilidades envolvidas:
Diagrama de Equilíbrio ou de Fases
SOLIDIFICAÇÃO DOS METAIS

 O fenômeno de solidificação pode ser dividido em dois


fenômenos distintos que ocorrem sequencialmente:

 Nucleação  Modo pela qual a fase sólida surge na fase líquida na forma de
pequenos aglomerados cristalinos, chamados embriões. Em função do tamanho
inicial destes embriões, eles podem crescer originando um núcleo estável, ou
refundir-se novamente no banho do metal líquido. A nucleação pode ser homogênea
ou heterogênea.

Redução da
Temperatura

Líquido - Desorganização Formação de clusters


Cristalina ou embriões

 Crescimento  Modo pelo qual os núcleos crescem sob a forma de cristais ou


grãos com orientação cristalográfica definida.
Nucleação na solidificação (tranformação
líquido/sólido)

➩ Formação de um aglomerado de átomos


ORGANIZADOS CRISTALOGRAFICAMENTE, que se O raio crítico para a
reúnem dentro do banho líquido, em quantidade de nucleação ocorre dentro da
átomos suficiente para manter a estabilidade da estrutura ordem de 10Å. Esse valor
em um temperatura logo abaixo de TL (Temperatura corresponde a um raio médio da
Liquidus); ordem de 5 diâmetros atômicos.
➩ Um único átomo, dentro do banho líquido, possuir
isoladamente uma elevada energia interna, devido a sua
agitação térmica;
➩ Um átomo ao se unir a outro de modo organizado
(cristalino) deverá reduzir sua energia transferindo esta
ao sistema na forma de liberação de calor latente;
➩ Conforme mais e mais átomos se reúnem na
estrutura, maior deverá ser a liberação de energia e com
isto o aglomerado de átomos deverá gradativamente
reduzir sua ENERGIA INTERNA tornando-se
gradativamente mais estável;
Representação esquemática da possível estrutura
de um núcleo crítico de um CFC
Nucleação na solidificação (tranformação
líquido/sólido)
A formação de partículas pode se iniciar seguindo um processo de
nucleação homogênea ou heterogênea.

Nucleação homogênea

Quando um metal solidifica, os cristais sólidos só aparecem no líquido


quando se atinge uma temperatura ligeiramente inferior à temperatura de
fusão, Tf.
• Ocorre sem a interferência ou contribuição energética de elementos ou
agentes estranhos ao sistema metal líquido-metal sólido.

• Formação do Núcleo é devida à ocorrência do Superesfriamento Térmico


(ΔT). ΔTmax= 0,2Tf

Nucleação heterogênea

Ocorre quando existirem pontos de nucleação preferenciais, sobre um substrato.


Podem ser superfícies, contornos de grão, partículas de impurezas (partículas de 2ª
fase), etc., e são chamados de agentes nucleantes.
SOLIDIFICAÇÃO DOS METAIS

Formas de se elevar o número de núcleos/volume (Refino de


Grão):

1) Imposição de elevadas taxas de resfriamento;


2) Agentes nucleantes;
3) Agitação mecânica do banho no momento da transformação
(Nucleação dinâmica);

➩ Na nucleação heterogênia, a taxa de nucleação e ditada pela


concentração dos agentes nucleantes introduzidos. Também
chamados de refinadores de grãos ou inoculantes. São partículas
que atua como um substrato para a nucleação heterogênea da
fase sólida, devido ao fato de apresentar um alto índice de
molhamento pelo metal líquido.
SOLIDIFICAÇÃO DOS METAIS

Mecanismos de Crescimento:

– Crescimento com Interface Plana (Lisa ou Facetada)


Típico de metais puros e ligas eutéticas
– Crescimento com Interface Celular

– Crescimento com Interface Dendrítica (Difusa)


Típico de Ligas metálicas com intervalo de solidificação( TL – TS)

Difusividade do soluto no líquido

Velocidade de deslocamento interface

Taxa de resfriamento

Teor de soluto(C0)

Gradiente térmico no líquido junto a interface


Crescimento Dendrítico

Após a formação de um núcleo estável, a No crescimento novas


interface L/S sofre instabilização, ocorre a ramificações ou braços surgem e o
formação de protuberâncias, e o crescimento sistema toma a forma de um sólido
continua em direções específicas, de acordo avançando no interior do líquido,
com a direção cristalográfica preferencial da formando o tipo de estrutura
estrutura cristalina. conhecida como dendrítica.
Crescimento Dendrítico

Estrutura dendrítica - DENDRON = ÁRVORE

Estruturas dendríticas
Crescimento Dendrítico

Formação dos grãos a partir de


dendrítas nos materiais
Microestrutura dendrítica de um aço 1020 metálicos
Segregação no Crescimento Dendrítico

Micrografia de uma liga Al5%Cu onde


as regiões escuras indicam maior
concentração de soluto.

Concentração de soluto entre os


braços dendríticos.
Segregação no Crescimento Dendrítico
Segregação no Crescimento Dendrítico

Representação esquemática da microestrutura de solidificação


[Tese Doutorado de Noé Cheung-UNICAMP]
Segregação no Crescimento Dendrítico

Representação esquemática da microestrutura de solidificação [Tese Doutorado de Daniel


Monteiro Rosa-UNICAMP 2007]
Espaçamento Dendrítico vs Taxa de resfriamento
Macroestrutura Bruta de Fusão

ZONAS COQUILHADA, COLUNAR E EQUIAXIAL

1.) Zona coquilhada  Consiste de uma camada periférica (região de contato direto com
o molde) de pequenos grãos, de orientação cristalográfica aleatória (equiaxial);

2.) Zona colunar  Consiste de uma


camada que cresce de modo alinhado
(em geral na direção do fluxo de calor)
com grãos grandes e alongados;

3.) Zona equiaxial central  Consiste de uma zona de grãos equiaxiais, com pequenos e
grandes grãos. As propriedades mecânicas da zona equiaxial central são isotrópicas
quando comparadas com as propriedades da zona colunar.
ZONAS COQUILHADA, COLUNAR E EQUIAXIAL

Possíveis variações na macroestrutura de um lingote.

(a) Ausência da Zona Equiaxial Central (b) Presença das três Zonas (c)
Ausência das Zonas Coquilhada e Colunar.
ZONAS COQUILHADA, COLUNAR E EQUIAXIAL

Macroestrutura de planos frágeis e


1.) Zona Coquilhada cantoneiras em fundidos

Crescimento competitivo dos grãos na


zona coquilhada resulta que somente
os grãos com orientação favorável se
desenvolvam em grãos colunares.
ZONAS COQUILHADA, COLUNAR E EQUIAXIAL

2.) Zona colunar


Estrutura de
Solidificação

Metalografia da liga Stelite (200X).


--------------------------------------
Elementos %
--------------------------------------
Co 60.189 %
Cr 29.109 %
Fe 3.957 %
W 3.203 %
Ni 2.509 %
Si 0.443 %
Al 0.308 %
Mo 0.094 %
Se 0.077 %
Metalografia da liga Stelite (200X).
P 0.065 %
S 0.048 %
Controle da macroestrutura – Adição de inoculantes

Imagem da seção transversal das amostras da liga Al-3%Si (a) sem inoculante e (b)
com inoculante 0,05%Ti. Ataque Keller concentrado.

Fonte: Arango, J. M. R.; Martorano, M. A. ESTUDO DO REFINO DE GRÃO DE LIGAS Al-Si ATRAVÉS DE INOCULANTES DO SISTEMA Al-Ti-B
Trabalho apresentado no 14o Congresso de Fundição (CONAF).
Controle da macroestrutura – Adição de inoculantes

Adição de 1,5% (em


peso) da liga-mãe Al-
5%Ti-1%B

OSORIO, W. R.; PEIXOTO, L. C.; GARCIA, A.. Efeitos da agitação mecânica e de adição de refinador de grão na microestrutura e propriedade
mecânica de fundidos da liga Al-Sn. Matéria (Rio J.), Rio de Janeiro , v. 14, n. 3, 2009
Controle da macroestrutura – Adição de inoculantes

Microradiografia
Nucleação e crescimento de
grão primários de Al-alfa durante
resfriamento contínuo. (a) ZA27
and (b) ZA27 with 1.1% TiB2.

F. Chen et al. /Real time investigation of the grain refinement dynamics in zinc alloy by
synchrotron microradiography/ Journal of Alloys and Compounds 630 (2015) 60–67
BIBLIOGRAFIA

Ciência e engenharia dos materiais. Donald R. Askeland, Wendelin J. Wright


ISBN-10: 8522112851. 2015.

Fundição: Processos e Tecnologias Correlatas. Roquemar de Lima Baldam e Estéfano


Aparecido Vieira. 2ª. ed. rer. São Paulo: Editora Érica, 2014.

ASM Handbook - Volume 15 Casting - Editora ASM (ISBN: 0871700212)

Solidificação e Analise Térmica dos Metais. Arno Muller. Porto Alegre. Ed.UFRGS, 2002.

Solidificação – Fundamentos e Aplicações. Amauri Garcia. Campinas-SP, Ed. Unicamp, 2001.

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