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POLÍTICAS PÚBLICAS

EM EDUCAÇÃO
Prezados(as) Alunos(as)!
A disciplina Políticas Públicas em Educação compõe o Núcleo Integrador da
matriz Curricular do Curso de Licenciatura em Computação e tem como amplo objetivo
proporcionar uma visão integrada e contemporânea das questões educacionais,
sociais e políticas.
Para compreender as políticas públicas, é preciso esclarecer, de antemão, que
estas podem ser vistas sob duas faces: como área de conhecimento (disciplina ou
categoria de pesquisas); e como ação do Estado no atendimento às necessidades
sociais básicas da população.
Esta disciplina tem especial importância na totalidade do curso, uma vez que as
políticas públicas estão presentes nas diversas áreas de atuação e setores da sociedade,
manifestando-se por meio de programas e ações governamentais que orientam o
cotidiano do nosso trabalho.
O conhecimento a ser, aqui, adquirido é imprescindível para sua formação, pois
irá fornecer-lhes elementos para entender as implicações das políticas públicas em sua
área de trabalho e, consequentemente, possibilidades de um posicionamento
profissional analítico, crítico e propositivo.
Esta disciplina é composta por 5 unidades cujos conteúdos contemplam os
principais conceitos no campo das políticas públicas, tais como: o surgimento da
política pública, o seu ciclo de realização, os modelos de análises, e, finalizando, as suas
formas de implementação (programas e ações governamentais).

Unidades
1. Conceituação
2. Ciclo de realização das políticas públicas
3. Análise de políticas públicas
4. A educação como política pública: políticas e programas governamentais

Objetivos
• Apreender os conceitos que são fundamentais para a compreensão das relações que
permeiam a própria definição de política pública.
• Conhecer os fatores históricos que contribuíram para o surgimento das políticas públicas
enquanto atendimento às necessidades sociais e como área de conhecimento e disciplina
acadêmica.
• Conhecer o ciclo de uma política pública mediante a compreensão de cada momento
de sua realização definidos como agenda, formulação, implementação, execução e avaliação.
• Apreender os modelos analíticos e explicativos que são utilizados pelos pesquisadores
para analisar as políticas públicas nos diferentes momentos do seu ciclo de realização.
• Relacionar as políticas, os programas e as ações governamentais com as demandas
sociais e econômicas dos anos finais do século XX e início do século XXI.
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CONCEITUAÇÃO
Esta unidade tem como objetivo:

• Apreender os conceitos que são fundamentais para a compreensão das relações


que permeiam a própria definição de política pública.

Vocês devem estar se perguntando: afinal o que é política pública? Quem é


responsável pela sua criação e execução? Por que devo estudar políticas públicas?
Políticas públicas e políticas sociais são sinônimas? Para responder essas indagações,
nesta unidade, vamos apresentar conceitos que são fundamentais para compreensão
dessa área conhecimento.
Vamos iniciar esta unidade respondendo a primeira indagação, ou seja,
conceituando política pública.
Após a exposição de todos os conceitos propostos faremos nossas análises e
discussões.

Política pública
Políticas públicas são definidas de várias formas. Apresentaremos abaixo alguns
conceitos para que possam compreender os sentidos que são atribuídos ao termo.
Enrique Saravia (2006, p 28-29) define política pública como:

Fluxo de decisões públicas, orientado a manter o equilíbrio social ou a


introduzir desequilíbrios destinados a modificar essa realidade. Decisões
condicionadas pelo próprio fluxo e pelas reações e modificações que elas
provocam no tecido social, bem como pelos valores, idéias e visões dos
que adotam ou influem na decisão. É possível considerá-las como
estratégias que apontam para diversos fins, todos eles, de alguma forma,
desejados pelos diversos grupos que participam do processo decisório. A
finalidade última de tal dinâmica – consolidação da democracia, justiça
social, manutenção do poder, felicidade das pessoas – constitui elemento
orientador geral das inúmeras ações que compõem determinada política.
Com uma perspectiva mais operacional, poderíamos dizer que ela é um
sistema de decisões públicas que visa a ações ou omissões, preventivas
ou corretivas, destinadas a manter ou modificar a realidade de um ou
vários setores da vida social, por meio da definição de objetivos e
estratégias de atuação e da alocação dos recursos necessários para atingir
os objetivos estabelecidos.

Um conceito bastante utilizado é o apresentado por Janete Azevedo (1997, p.


5), que toma como base dois autores franceses – Jobert e Muller – que é: “As políticas
públicas representam a materialidade da intervenção social do Estado, ou o Estado em
ação”.
Observem que estas conceituações são amplas e nos remetem a entender que
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política pública tem certa relação com o poder do Estado e preocupações em manter
o equilíbrio social a partir de decisões tomadas por um grupo. É importante, ainda,
observar alguns termos utilizados por Saravia (2006), em sua conceituação, como
decisões públicas, equilíbrio social, processo decisório, política, que no decorrer dos
estudos iremos esmiuçando seus significados.
Celina Souza (2006) reforça que não existe uma, nem a melhor, definição sobre
o que seja política pública e apresenta conceituações de diversos autores, transcritas a
seguir. Evitar tantos apuds, prefira o original! Colocar páginas. Vejam que aqui quero
ressaltar a observação da autora, então apresento os conceitos destacados por ela.

Conjunto de ações do governo que irão produzir efeitos específicos.


(LYNN, 1980 apud SOUZA, 2006, p. 68).
Soma das atividades dos governos, que agem diretamente ou por
delegação, e que influenciam a vida dos cidadãos. (PETERS, 1986 apud
SOUZA, 2006, p. 68).
Regra formulada por alguma autoridade governamental que expressa uma
intenção de influenciar, alterar, regular, o comportamento individual ou
coletivo através do uso de sanções positivas ou negativas. (LOWI, 1972
apud SOUZA, 2006, p. 68).

Vejam que no agrupamento dessas conceituações o termo governo está


sempre presente, indicando importante participação desse setor na formulação e
execução das políticas públicas.
Agora observem os conceitos que seguem:

Campo dentro do estudo da política que analisa o governo à luz de grandes


questões públicas. (MEAD apud SOUZA, 2006, p. 68).
Uma política pública, assim como a política partidária, é complexa, invisível e
elusiva. É uma categoria analítica, utilizada por pesquisadores que estudam a
atividade do governo ao longo do tempo. (PALUMBO, 1989, p. 35).

Observaram que nessas conceituações os autores fazem referência à política


pública como uma categoria de análise? Sobre a análise de políticas públicas
trataremos posteriormente.
Essa separação dos conceitos reforça o que afirmamos na apresentação da
disciplina, ou seja, que as políticas públicas podem ser vistas sob duas faces: como área
de conhecimento (como disciplina ou como categoria de pesquisas e análises); e como
a ação do Governo no atendimento as necessidades sociais básicas da população. Leia
o texto 1, disponível na biblioteca, pois seu conteúdo complementa essas informações
conceituais.
Conceituamos política pública, entretanto, vocês poderão observar em leituras
outras que é comum o termo política social aparecer associado ao termo política
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pública, ou mesmo como sinônimo. Mas, são ou não a mesma coisa?


Políticas sociais e políticas públicas
A política social é identificada como uma política em ação e, tal qual a política
pública, também é uma disciplina acadêmica, portanto, tanto se dispõe a conhecer e
explicar os fatos reais deste mundo como também agir sobre ele.
A realização de política social considera as posições desiguais dos cidadãos na
estrutura de classes da sociedade, portanto requer conhecimento da demanda a ser
atendida, estratégias e meios apropriados para consecução da política, amparo legal e
pessoal capacitado.
Quanto à diferenciação entre política social e política pública, podemos
entender que a política social volta-se para o atendimento das necessidades básicas do
cidadão em situação de desigualdade social e é uma ação política do Estado; e a
política pública atende não só as necessidades básicas, mas toda demanda social a qual
o Estado também deve atender, sendo que sua principal característica é a
universalidade e a totalidade, ou seja, é uma política feita para os diversos setores da
sociedade e voltada para todo e qualquer cidadão.
Pelo fato da política pública abarcar diferentes demandas sociais por meio de
diferentes políticas (políticas econômicas, políticas de gênero, políticas de inclusão
digital, políticas para juventude, políticas para o trabalho, etc.) é que a política social
torna-se também um tipo de política pública.
Entretanto, quando falamos de políticas públicas como ação voltada ao
atendimento das necessidades básicas da população, devemos considerar diversos
fatores e atores que no processo são envolvidos. Assim, precisamos avançar e ampliar
a compreensão sobre os conceitos de Estado, de governo, de política e de sociedade.

Estado
Conceituar Estado não é uma tarefa
simples, pois requer entender que as formas
que assume no tempo histórico têm relação Quando nos referimos ao termo estado
no seu sentido político, devemos iniciar
com as relações de poder e o contexto sua escrita em maiúsculo, ou seja,
social e econômico. Por isso, vamos fazer escrevemos Estado. Quando nos
referimos à localização geográfica
uma breve retomada sobre a formação do
escrevemos em minúsculo, estado.
Estado Moderno para, então, conceituá-lo.
A ideia de Estado foi se desenvolvendo, ao longo da história, à medida que
crescia o grau de abrangência populacional e consequente complexidade das
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organizações. Nessa trajetória histórica, a atuação do Estado assume as mais variadas
formas, de acordo com as condições de cada tempo e lugar, indo dos Estados
teocráticos e centralizados da antiguidade oriental aos Estados totalitários e aos
democráticos de nossos dias. A forma de Estado que predomina na sociedade atual é
o chamado Estado Moderno.
Como vocês devem lembrar o Estado Moderno surge em meados do século XV
e vai ser constituído, primeiramente, como Estado Absolutista (séculos XVI) depois
como Estado Liberal (século XVIII). É importante enfatizar que a forma de atuação do
Estado Moderno passou e ainda pode passar por variações o que depende das
necessidades políticas e econômicas da sociedade e das disputas de poder.
O Estado moderno é caracterizado por uma democracia liberal e pelo modelo
econômico capitalista e assume diferentes formas de intervenção na sociedade a
depender das necessidades ligadas a política e a economia, conforme demonstramos
abaixo:
Estado Liberal: Seu princípio básico é a “teoria da mão invisível”, exposta na obra
A Riqueza das Nações, escrita no século XVIII por Adam Smith. Segundo essa teoria o
mercado se autorregula, não sendo necessário qualquer tipo de intervenção estatal.
As funções do Estado se limitam a zelar pela segurança pública e pelos direitos civis
que estão ligados à liberdade individual. Assim, os indivíduos com seu direito de
liberdade e igualdade podem e devem disputar o seu lugar no mercado, sendo que o
fracasso ou o sucesso só dependem de seu esforço, bem como o desemprego, o
desabrigo, a falta de conhecimento podem ser qualificados como algo ruim pelo
Estado, mas nunca como injusto, pois não “existem” culpados diretos. O Estado liberal
tem conceito próprio de democracia.
No período de 1940 e 1970, a forma de atuação do Estado foi denominada de
Estado Regulador, pois desenvolvia políticas voltadas para a proteção social (Estado de
Bem-Estar Social) e para a garantia do pleno emprego, intervindo, assim, na economia.
(Retomaremos este assunto na Unidade 2).
A partir de meados dos anos de 1970, o mundo capitalista sofreu grande crise
e seus analistas atribuíam a causa dessa crise ao fato do Estado investir muito nas
políticas sociais. Isto gerou a necessidade de se estabelecer novas estratégias para
recuperação da acumulação do capital e uma série de reformas passaram a acontecer
nos setores produtivo, econômico, administrativo e político, requerendo a redefinição
dos modelos de produção, do papel estratégico do Estado, do modelo educacional,
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entre outros setores.


Em relação ao Estado, a resposta para a crise foi a adoção das políticas
neoliberais que, em síntese, prega a volta das leis do mercado para regular a economia
e a retração do Estado no investimento sobre as políticas sociais. O Estado Neoliberal.
O Neoliberalismo, por um lado, incentiva a produção voltada para o giro rápido
dos produtos visando o aumento do consumo e, por outro, acentua as desigualdades
sociais.

Figura 1 Figura 2
Fonte: http://publicphoto.org/c/business-finance/ Fonte: http://publicphoto.org/c/business-finance/page/2/

O neoliberalismo nasceu logo após a Segunda Guerra Mundial na Europa e na


América do Norte, onde o capitalismo imperava, constituindo-se numa forte reação
teórica e política contra o Estado intervencionista e de Bem-Estar. Isso quer dizer que
uma das características do neoliberalismo é a retração do Estado de suas funções de
prover as políticas sociais e também de sua intervenção na economia. Assim, vamos
perceber que o Estado e ações governamentais passam a realizar uma política de ações
focalizadas no atendimento as necessidades básicas do trabalhador e, também,
buscar novas formas de financiar a educação, dentre elas, maior incentivo a educação
privada.
A forma assumida pelo Estado se concretiza por meio da atuação dos partidos
políticos quando assumem o governo, das intervenções dos Organismos
Internacionais, dos rumos econômicos das grandes empresas capitalistas e, também,
da participação da sociedade civil organizada em movimentos sociais, em sindicatos,
em organizações não governamentais. Contudo, precisamos entender que as decisões
políticas ocorrem sempre numa relação de forças e de disputa de poder.
Devemos observar que o conceito de Estado também é diverso, pois a
construção desse conceito tem relação com as diferentes correntes de pensamentos
sobre o que é a sociedade e com o posicionamento teórico daquele que o define.
Basicamente, estamos nos referindo a corrente teórica liberal-positivista e a corrente
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teórica marxista. Estas são teorias clássicas, e antagônicas, sobre a sociedade e a partir
delas são concebidos os demais conceitos, tais como de Estado, de Homem, de Cultura,
de Democracia, de Educação, dentre outros.

Teoria Liberal: trata-se de uma doutrina política e econômica surgida na Europa na Idade
Moderna. No sentido político defende o direito do indivíduo de seguir a própria determinação,
dentro dos limites impostos pelas normas definidas socialmente; prevê oportunidades iguais para
todos e garante o direito a propriedade privada. Na economia defende a não intervenção do Estado
por acreditar que a dinâmica de produção, distribuição e consumo de bens deve ser regida pelas
leis do mercado.

Teoria Positivista: corrente filosófica surgida na primeira metade do século XIX através de
Auguste Comte (1798-1857), cujas ideias vinham do método de investigação das ciências da
natureza, a partir da qual fazia-se a associação da vida social as mesmas relações e princípios
com os quais os cientistas explicavam a vida natural. A sociedade foi concebida como um
organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionavam harmonicamente,
segundo um modelo físico ou mecânico que não muda e à qual o homem devia submeter-se.
Essa posição de submissão facilita a aceitação de leis naturais que consolidam a ordem vigente,
justificadora da autoridade reinante e protetora dos interesses – riqueza e poder – hegemônicos
naquele momento histórico. Essa doutrina se faz presente no ideário da nossa sociedade atual no
sentido da aceitação das diversidades econômicas e sociais e com o objetivo de fortalecimento
da ordem social combate-se qualquer doutrina revolucionária e as forças se concentram na
renovação moral da sociedade e não na sua transformação. Ordem e progresso, lema de nossa
bandeira, são termos positivistas. Positivismo e liberalismo são doutrinas que fundamentam a
sociedade capitalista.

Teoria Marxista: ideias filosóficas, econômicas, políticas e sociais que surgem a partir dos estudos
de Karl Marx e Friedrich Engels, no século XIX, sobre a sociedade capitalista. Essa teoria faz uma
crítica a organização social capitalista e afirma a existência de uma sociedade de classe onde os
interesses são antagônicos, o que inviabiliza a realização do bem comum e a neutralização do
Estado.

Apresentamos na sequência alguns conceitos de Estado segundo a Teoria


Liberal (que incorpora a Teoria positivista) e segundo a Teoria Marxista (que se
contrapõe a Teoria Liberal), conforme as correntes teóricas citadas.
a) Na teoria liberal:

O Estado é um sistema de poder organizado que se relaciona


dialeticamente com outro sistema de poder difuso, mas efetivo – a
sociedade civil. A sociedade civil é a forma pela qual a classe dominante
(ou as classes dominantes) se organiza(m) fora do Estado para controlá-
lo e pô-lo a seu serviço, portanto, não se confunde com a população ou
com o povo. O Estado exerce seu poder sobre a sociedade civil e sobre o
povo. Por outro lado, a sociedade civil é fonte de poder do Estado e ao
mesmo tempo estabelece limites e condicionamentos para o exercício
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desse poder. (BRESSER PEREIRA, 1998).


E, ainda, “o papel do Estado é fornecer a base legal com a qual o mercado pode
melhor maximizar os benefícios dos homens”. (CARNOY, 1988).

b) Na teoria marxista:
O “Estado é a instituição que tem como função assegurar e conservar a
dominação e a exploração de classe” (MARX; ENGEL, 2002). E, segundo BRAVERMAN
(1980), o “estado é o penhor das condições, das relações sociais, do capitalismo, e o
protetor da distribuição cada vez mais desigual da propriedade que esse sistema
enseja”.
Vamos lá! O conceito de Estado foi apresentado e agora vocês devem estar se
perguntando onde entra o papel do governo. Governo e Estado são a mesma coisa?

Governo
Genericamente, Governo é definido como o sistema político de um Estado,
conduzido por pessoas que exercem o Poder Executivo. O ato de governar ocorre sob
uma forma de governo - monarquia, diarquia ou república – que, por sua vez se
organiza em sistemas de governo –, parlamentarismo, presidencialismo ou
semipresidencialismo. O governo terá ainda um regime político que orienta suas
concepções – democracia, autoritarismo ou totalitarismo.
O Estado não pode ser definido apenas como governo ou vice-versa. As teorias
de Estado não são abstratas, elas se concretizam pela opção/adoção que diferentes
atores da sociedade assumem para realizar suas ações políticas (de diversos setores
e/ou partidos políticos) ou quando assumem o governo e passam a exercer a liderança
de uma nação, estado ou município.
Isso quer dizer que um governo não decide sozinho sobre uma política ou outra,
há momentos em que outros setores exercerão influências sobre tais decisões, por
exemplo, as grandes empresas capitalistas, os bancos credores, os organismos
internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Organização Internacional do
Trabalho (OIT), dentre outros.
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Figura 3: Sede da ONU, em Nova York (EUA) Figura 4: Sede da OIT, em Genebra (Suíça)
Fonte: http://www.infoescola.com/geografia/organizacao- Fonte: http://es.wikipedia.org/wiki/
das-nacoes-unidas-onu/ Archivo:OIT_-_Sede_de_Ginebra.jpg

Figura 5: Sede da OCDE, localizada no


Château de La
Muetteem Paris, França.
Fonte: Flickr/OCDE

Sociedade
Assim como os outros termos estudados sociedade não possui um único e
simples conceito. Comumente, é definida como uma totalidade de indivíduos que
vivem num determinado território compartilhando culturas e valores.
Na área da Sociologia, teóricos como Talcott Parsons, Max Weber, Émile
Durkheim, Karl Marx elaboraram suas conceituações de sociedade a partir de
diferentes categorias de análise, que não serão detalhadas nesta disciplina, porém,
vamos apreender o sentido de sociedade com base na organização do trabalho e,
nesse sentido, estaremos nos respaldando numa visão marxista de sociedade.
Vamos conhecer um pouco sobre cada um desses teóricos da sociologia:
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Karl Heinrich Marx. Economista, filósofo,
jornalista, teórico político, sociólogo alemão
nasceu em 1818 e morreu em 1883. Em seus
estudos e trajetória política foi idealizador de
uma sociedade com distribuição de renda
justa, equilibrada e igualitária. Em suas obras
analisou criticamente a sociedade capitalista
e defendeu o comunismo. Para Marx a
história da sociedade capitalista é marcada
Figura 6 pela divisão e luta entre as classes sociais.
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Marx3. Algumas de suas obras são: O 18 brumário de
jpg#filelinks Luís Bonaparte; O manifesto comunista; A
ideologia alemã; O Capital, dentre outros.
Émile Durkheim. Sociólogo francês,
nasceu em 1858 e morreu em 1917. É
considerado uns dos fundadores da
Sociologia. Seu pensamento tem influência
de August Comte e Herbert Spencer,
buscando dar cientificidade no estudo da
humanidade. Para ele o objeto da Sociologia
são os fatos sociais, cujas características são:
generalidade, exterioridade e coercitividade.
Ou seja, o que as pessoas sentem, pensam ou
fazem independente de suas vontades
Figura 7 individuais, é decorrente de um
Fonte: comportamento estabelecido pela sociedade.
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Emile_Durkheim.jpg
Suas principais obras são: Da divisão do
trabalho social (1893); Regras do método
sociológico (1895); O suicídio (1897).
Max Weber. Sociólogo e economista
alemão, nasceu em 1864 e morreu em 1920.
Para Weber a sociedade pode ser
compreendida a partir do conjunto das ações
individuais e estas só se tornam ação social
quando o indivíduo estabelece comunicação
de suas ações com os demais indivíduos. A
Figura 8 busca do sentido que as ações do indivíduo
Fonte: têm é denominado método compreensivo.
http://commons.wikimedia.org/ Suas principais obras são: Economia e
wiki/File%3AMax_Weber_in_ Sociedade; e A Ética Protestante e o Espírito
1884.jpg do Capitalismo.
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Talcott Parsons. Sociólogo norte-
americano, nasceu em 1902 (Colorado/EUA)
e morreu em 1979. Em seus estudos buscou
explicar as razões para a existência de uma
ordem social, tendo como base as teorias de
Pareto, Durkheim e Weber. Para ele os
sistemas sociais podem ser estudados à luz
de quatro necessidades funcionais: a
manutenção das normas (estabilidade
derivada da motivação para desempenhar
Figura 9 tarefas); a integração (coordenação interna);
Fonte:
http://en.wikipedia.org/wiki/File:T._Parsons.jpg
a continuidade de objetivos (o
estabelecimento de finalidades para o
sistema) e a adaptação (a utilização dos
recursos do meio. Suas principais obras são:
The Structure of Social Action (1937) e The
Social System (1951).

Retomando a história, temos na Comunidade Primitiva o modo de produção


comunal, isto é, o desenvolvimento do trabalho e sua produção eram feitos e divididos
em comum e não havia classes sociais. Na Antiguidade e na Idade Média, a produção
continuava tendo por base o cultivo da terra.
A Idade Média tinha no feudalismo a sua organização econômica e social e a
Igreja possuía poder de Estado; havia a ideia de inferioridade social e a dependência
dos camponeses em relação ao senhor feudal.
Na sociedade moderna, temos a decadência dos nobres e o surgimento da
burguesia; a Igreja vai perdendo seu poder para o Estado Moderno; o trabalho passa
a ser assalariado, primeiramente, com a manufatura e, depois, com a industrialização;
a economia gira em torno do capital.
Forma-se, então, a sociedade capitalista cuja principal característica, segundo
Karl Marx, é a divisão da sociedade em classes sociais na qual uma detém os meios de
produção e a outra tem apenas a sua força de trabalho para vender. A divisão da
sociedade em classes sociais gera com maior crueldade a exclusão e as desigualdades
entre os seres humanos.

Política
A atividade política passou a existir quando os grupos humanos começaram a
se organizar para viver em sociedade, formando um sistema hierárquico de poder no
qual o mais forte ou mais sábio que detinha tal poder.
No decorrer da história os sistemas políticos eram geralmente absolutistas
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(poder centrado em uma pessoa). Na Grécia, houve a prática da política democrática


por meio da realização de assembleias para a tomada das decisões, embora fosse
restrita aos homens livres. O filósofo Aristóteles popularizou o termo política ao
escrever a obra “Política”, na qual faz uma análise da sociedade e de suas instituições.
Com o avanço econômico da sociedade e mediante os ideais da Revolução
Francesa, foram instaurados regimes democráticos em alguns países (nos Estados
Unidos, por exemplo).
No campo das teorias e ideologias políticas encontramos duas grandes
vertentes, representadas, por um lado, pelas políticas de Esquerda (socialismo e
comunismo) que fazem a defesa da igualdade social e, por outro, as políticas de Direita
(liberalismo e conservadorismo) defendendo o direito à propriedade privada e ao
mercado livre. Exemplo do confronto entre essas duas vertentes, assistimos no período
da Guerra Fria à bipolarização do mundo entre Estados Unidos e União Soviética, cujo
final aconteceu em 1989 com o fim do socialismo real.
Podemos entender política como uma ação que é orientada ideologicamente
para determinado fim, tendo o seu cerne a tomada de decisão em função do alcance
de objetivos coletivos e sociais.
Até aqui vimos conceitos amplos e complexos, que são importantes para a
compreensão das relações que perpassam o campo das políticas públicas. Agora,
vamos tratar de alguns conceitos mais específicos, que irão colaborar na compreensão
dos processos de implementação das políticas públicas, como: programas, ações,
atores e agenda.

Programas, ações e projetos


Para entendermos o significado dos termos Programas, Ações e Projetos no contexto
das políticas governamentais, vamos recorrer ao documento que orienta os governos
na elaboração do Plano Plurianual, intitulado “Orientações para elaboração do Plano
Plurianual 2012-2015”.
Atenção!

Plano Plurianual (PPA) é o instrumento de planejamento que estabelece, de


forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da Administração
Pública Federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para
as relativas aos programas de duração continuada, conforme disposto no
artigo 165 da Constituição Federal de 1988. O PPA declara as escolhas
pactuadas com a sociedade e contribui para viabilizar os objetivos
fundamentais da República. Além disso, organiza a ação de governo na busca
de um melhor desempenho da Administração Pública. (BRASIL, 2011, p. 9).
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Para Programa consta a seguinte explicação:

No processo de planejamento, os grandes problemas da sociedade são delimitados


em partições menores por meio da técnica de elaboração de programas orientados
para resultados, que permite a identificação e focalização dos problemas e
respectivos públicos-alvos da ação governamental, bem como o estabelecimento dos
resultados a serem alcançados. [...] face ao exposto, pode-se definir um programa
como sendo um conjunto integrado e suficiente de ações (orçamentárias e não-
orçamentárias), que expressa uma relação consistente entre o problema a resolver e
o objetivo do programa e entre as metas das ações e a evolução esperada dos
indicadores do programa. (BRASIL, 2011, p. 8-10).

Portanto, um Programa é resultado do casamento entre a necessidade


identificada na sociedade e a vontade política expressa nas Orientações Estratégicas
do Presidente da República que se realiza por meio de ações focalizadas no problema
a ser atacado.
Para definição de Ações, no mesmo documento, consta que:

[...] ações são operações das quais resultam produtos (bens ou serviços) ofertados à
sociedade, que contribuem para atender ao objetivo de um programa. Incluem-se
também no conceito de ação as transferências obrigatórias ou voluntárias a outros
entes da Federação e a pessoas físicas e jurídicas, na forma de subsídios, subvenções,
auxílios, contribuições, doações, etc. e os financiamentos.
O binômio “Programa-Ação”, que estruturava tanto os planos plurianuais como os
orçamentos, dá lugar a Programas Temáticos, Objetivos e Iniciativas, tornando-se a
Ação uma categoria exclusiva dos orçamentos. Com isso, define-se uma relação de
complementaridade entre os instrumentos, sem prejuízo à integração. O Plano tem
como foco a organização da ação de governo nos níveis estratégico e tático, e o
Orçamento responde pela organização no nível operacional. O Programa Temático
retrata no Plano Plurianual a agenda de governo organizada pelos Temas das
Políticas Públicas e orienta a ação governamental. Sua abrangência deve ser a
necessária para representar os desafios e organizar a gestão, o monitoramento, a
avaliação, as transversalidades, as multissetorialidades e a territorialidade. O
Programa Temático se desdobra em Objetivos e Iniciativas. Exemplos: Programa
Temático – Energia Elétrica; Programa Temático – Agricultura Irrigada; Programa
Temático – Aperfeiçoamento do Sistema Único de Saúde (SUS).(BRASIL, 2011, p.
15-16).

O Projeto é o instrumento de programação para alcançar o objetivo de um


programa, que envolve um conjunto de operações, com tempo delimitado, das quais
resulta um produto que concorre para a expansão ou aperfeiçoamento da ação de
governo. O projeto é parte da ação e tem natureza orçamentária.
Pudemos perceber que há uma graduação entre programas, ações e projetos
e, também, que houve uma mudança na terminologia de programas e ações para
Programas Temáticos e, especificamente, a Ação se torna um termo exclusivamente
ligado ao orçamento. Por isso, que o projeto enquanto desdobramento da ação tem
natureza orçamentária.
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Chamamos sua atenção para observar que na definição de Programa Temático


foi colocado que o programa retrata no Plano Plurianual a agenda de governo
organizada pelos Temas das Políticas Públicas e orienta a ação governamental. Assim,
podemos questionar o que é agenda de governo? Qual a sua relação com as políticas
públicas? Quem define a agenda?

Agenda e atores
Agenda pode ser entendida como a lista de prioridades das necessidades sociais
básicas dos cidadãos
definida pelo poder público, cuja intervenção é legitimada sob a forma de decisão das
autoridades públicas.
Atores são aquelas pessoas que participam dos processos de formulação,
implementação ou de avaliação das Políticas Públicas. Essas pessoas (atores) podem
fazer parte do grupo governamental (ou estatal) ou do grupo não governamental (ou
privado). A referência para essa classificação é Viana (1988).
Os atores governamentais (estatais) são aqueles que exercem funções públicas,
definidas pelo processo eleitoral (os políticos partidários), ou por concurso público
(servidores públicos). Geralmente, o grupo estatal é o maior responsável pelos
processos de implementação.
 Atores governamentais: Presidente da República, diplomatas, parlamentares,
altos burocratas e funcionários de carreira, funcionários do Legislativo e membros
do Judiciário, políticos eleitos, governadores, prefeitos, empresas públicas e
organizações governamentais.
Os atores não governamentais (privados) são aqueles pertencentes à sociedade
civil, portanto não possuem vínculo direto com a estrutura administrativa do Estado.
 Atores não governamentais: atuam em sindicatos patronais, sindicatos de
trabalhadores, associações civis, universidades, centros de pesquisa, grupos de
interesse e os lobbies, organismos internacionais, partidos políticos, organizações
não governamentais, movimentos sociais, empresas, entidades de representação
empresarial, pastorais, imprensa, associações da sociedade civil organizada,
dentre outros.
Os atores também podem ser classificados em visíveis e invisíveis, conforme sua
exposição pública.
 Atores visíveis: podem ser governamentais ou não governamentais, a visibilidade
é dada pela imprensa e pelo público.
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 Atores invisíveis: não governamentais e ou ligados ao mundo político (assessores


e funcionários parlamentares, cargos de confiança, etc.).

Educação e políticas educacionais


A Educação é uma política pública de corte social, de responsabilidade do
Estado, mas não pensada
somente por seus organismos. (AZEVEDO,1997).
A Política Educacional é uma modalidade da política social e deve ser entendida
como parte de uma
totalidade maior que expressa o projeto de sociedade vigente. (SAVIANI, 2008).
Vamos, nesse ponto, retomar o conceito de política pública, quando diz que é
o Estado em ação para atender as necessidades básicas da população, para fazermos
a seguinte reflexão: Por que uma camada da população necessita receber algo vindo
do Estado, por meio da ação governamental, para ter suas necessidades básicas
satisfeitas?

SOUZA, Celina. Estado da arte da pesquisa em políticas públicas. Sociologias, Porto


Alegre, ano 8, n. 16, jul/dez 2006, p. 20-45. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/soc/n16/
a03n16.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2012.

HEIDRICH, Andréa Valente. Transformações no estado capitalista: refletindo e


refratando transformações na questão social. Revista Virtual Textos & Contextos, n. 5,
nov. 2006. Disponível em:
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/ viewFile/1019/799>.
Acesso em: 18 ago. 2012.

PEREIRA, Potyara A. P. Políticas Públicas e Necessidades Humanas com Enfoque


no Gênero. Revista Sociedade em debate v. 12, n. 1, 2006. Disponível
em:<www.rle.ucpel. tche.br/index.php/rsd/article/view/437/391>. Acesso em: 19 jul.
2012.
Aprenda mais na leitura complementar a seguir proposta.
A compreensão da questão posta será buscada no conteúdo apresentado na Unidade 2.
16
SURGIMENTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

Esta unidade tem como objetivo:


• Conhecer os fatores históricos que contribuíram para o surgimento das políticas
públicas enquanto
atendimento às necessidades sociais e como área de conhecimento e disciplina acadêmica.

Estamos iniciando a unidade na qual vamos abordar o surgimento das políticas


públicas. É importante conhecer quais os fatores históricos que contribuíram para a
necessidade de se ter políticas públicas, bem como compreender como esse tema se
torna uma área de conhecimento e disciplina acadêmica.
Para dar conta do objetivo proposto é importante que vocês conheçam um
pouco sobre as políticas sociais.

A questão social e o surgimento das políticas sociais


Tratar de políticas públicas sob a concepção de Estado em ação requer
relacioná-la ao campo das políticas sociais, dado que essa ação do Estado gira em torno
de garantir o atendimento aos direitos sociais, em especial, dos trabalhadores
assalariados.
A política social está diretamente relacionada ao conflito capital e trabalho que
irrompe com o movimento operário no século XIX, em países como Inglaterra, França,
Alemanha, Estados Unidos e norte da Itália, no qual os operários passam a reivindicar
seus direitos trabalhistas e sociais mediante suas necessidades emergentes.
As políticas sociais, forjadas num contexto de pressões das várias classes sociais
e nos limites estruturais da economia, se constituem em mecanismos de reprodução
da força de trabalho por proporcionar ao trabalhador a reposição dos desgastes que
sofre no próprio trabalho. Essa reposição permite a reprodução da sobrevivência do
trabalhador e, ao mesmo tempo, garante a manutenção da paz social sem modificar a
relação entre os donos dos meios de produção e os assalariados.
As decorrências do conflito capital e trabalho, no século XIX, se expressam por
meio do que se denominou como questão social. Castel (1998) indica que a expressão
“questão social” foi nomeada nos anos 1830, quando se dá a consciência da existência
de uma população, ao mesmo tempo, agente e vítima da revolução industrial e nesse
contexto, a emergência do pauperismo (os miseráveis).
Entretanto, a questão social já se apresentava nas sociedades pré-industriais da
17

Europa ocidental com a presença dos ‘vagabundos’ e, sobre estes, o Estado intervinha
com repressão da vagabundagem, com a obrigatoriedade do trabalho e com o
controle da circulação da mão-de-obra. Desse período para a época atual (dos
excluídos), verificamos a configuração de uma nova questão social uma vez que na
dinâmica social se tem a dialética do mesmo e do diferente (metamorfose), traduzida,
à exemplo, na homologia da posição entre os vagabundos anterior a revolução
industrial e os inempregáveis da atual sociedade salarial, sendo que a existência desses
grupos coloca em ameaça a “coesão” de uma sociedade (CASTEL, 1998).
A questão social que se impõe a partir do século XIX tem na base o evento do
livre acesso ao trabalho e decorrente condição salarial, pois se:

Sob o reino das tutelas, a condição de assalariado asfixiava-se. Sob o regime do


contrato, ela se desenvolve, mas, paradoxalmente, a condição operária se torna frágil
ao mesmo tempo em que se liberta. Descobre-se, então, que a liberdade sem
proteção pode levar à pior servidão: a da necessidade (CASTEL, 1998, p. 44).

Observem bem a afirmação contida na última frase da citação, ou seja, a


liberdade sem proteção leva à pior servidão que é a necessidade.
Podemos entender, então, que as condições precárias de vida do assalariado
resultam na não possibilidade deste satisfazer suas necessidades básicas por meio de
seu salário. Essas necessidades têm relação com a questão dos direitos sociais do
indivíduo, portanto, para terem esse direito atendido, uma vez que seu salário não é
suficiente, surgem as políticas sociais, sendo que a responsabilidade de atendimento
fica a cargo do Estado e se efetiva por meio da ação da máquina estatal, representada
pelos governos. Dessa forma, podemos afirmar que a política social tem estreita relação
com as políticas econômicas.

As necessidades sociais básicas são aquelas ligadas


à saúde, à educação, à moradia, ao saneamento
básico, à segurança, ao emprego e à previdência.

Vimos no trecho anterior que da relação entre questão social e o Estado surge
a política social e que está se estabelece como uma política de ação sendo conduzida
no seu desenvolvimento histórico por diferentes formas do Estado.
Entre 1940 e 1970, vamos encontrar uma nova forma de atuação do Estado
que, por várias razões, se torna cada vez mais obrigado a intervir na realidade social e
econômica. Primeiro, porque o modelo de política econômica dos Estados Modernos
18

adotou a política do pleno emprego inspirado na teoria de John Maynard Keynes (o


Keynesianismo). Segundo, os países capitalistas da Europa tinham que demonstrar que
o capitalismo podia atender as necessidades das populações adotando, então, para as
políticas sociais o denominado Welfare State ou Estado de Bem-Estar.
Para nosso estudo, vamos enfocar o Welfare State ressaltando que este é
caracterizado por um novo tipo de relação entre Estado e sociedade com o objetivo
de atender as necessidades sociais da época por meio das seguintes políticas e ações:
 extensão dos direitos sociais;
 oferta universal de serviços sociais;
 preocupação com o pleno emprego (Keynesianismo);
 institucionalização da assistência social como meio combate a pobreza
absoluta e de atendimento as
 necessidades humanas básicas.

O Welfare State assume um caráter ligado ao conceito de seguridade e


cidadania social ao buscar melhorar o atendimento dos direitos sociais do trabalhador.
Entretanto, não podemos deixar de atentar para o fato de que essa forma de atuação
do Estado continuava a manter o atendimento a interesses contraditórios, ou seja,
atender necessidades sociais e, ao mesmo tempo, preservar a integridade do modo de
produção capitalista.
De toda forma, no período do Welfare State houve algumas conquistas como
os direitos de cidadania, o fortalecimento das instituições democráticas, maior
mobilização da classe trabalhadora, dentre outros, colaborando para o crescimento
dos sistemas de Previdência, de Saúde e de Educação e marcando a presença do
Estado na interação com as demandas da sociedade.
É importante colocar que o Welfare State ocorreu nos países mais avançados da
Europa e nos Estados Unidos. Nos países da América Latina, inclusive no Brasil, há uma
controvérsia, entre os teóricos, em torno do fato de ter existido, ou não, o Welfare State
ou algum tipo de sistema nacional de proteção social. Dessa polêmica, a assertiva mais
coerente é a de que o Welfare State, no Brasil, não chegou a se consolidar conforme
os moldes do desenvolvimento na Europa do pós-guerra, mas que ocorreu a
implantação em diversas áreas sociais de uma estrutura estatal de provisão de serviços
públicos que se inspiravam no Welfare State.
As políticas do Welfare State tiveram êxito até os anos de 1960 e nesse período,
assistiu-se, nos países de capitalismo mais avançado, a um amplo gasto social com
19

saúde, educação, pensões e outros programas sociais.Entretanto, esse


desenvolvimento alcançou seu apogeu e entrou em declínio, principalmente, com o
questionamento acerca do grande investimento do Estado nas políticas sociais e, daí,
adotaram-se as políticas neoliberais, conforme estudamos na Unidade 1, quando
tratamos do conceito de Estado.
Para aprofundar o conhecimento sobre a questão social e sobre as necessidades
básicas do trabalhador e o papel do estado, leiam os textos indicados a seguir:

Material complementar

HEIDRICH, Andréa Valente. Transformações no estado capitalista: refletindo e


refratando transformações na questão social. Revista Virtual Textos & Contextos, n.
5, nov. 2006. Disponível em:
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/ viewFile/1019/799>.
Acesso em: 18 ago. 2012.

PEREIRA, Potyara A. P. Políticas Públicas e Necessidades Humanas com


Enfoque no Gênero. Revista Sociedade em debate v. 12, n. 1, 2006. Disponível
em:<www.rle.ucpel. tche.br/index.php/rsd/article/view/437/391>. Acesso em: 19
jul. 2012.

O surgimentodo conceito de políticas públicas comoação do Estado


Para compreendermos o surgimento do conceito de políticas públicas como
ação do Estado, precisamos nos lembrar da relação que a política pública tem com a
forma e a ação do Estado e seu aparelho governamental. Também, observarmos que
o funcionamento do aparelho governamental está ligado ao campo da administração.
O conceito de políticas públicas surge relacionado ao campo da administração pública,
com uma conotação mais administrativa, para se referir a intervenção do Estado nas
necessidades sociais. Mediante o fato de a ação do governo ser entendida como uma
administração pública, a introdução da política pública como ferramenta das decisões
do governo decorre do período da Guerra Fria (fim da segunda guerra até final de
1980) e da valorização da tecnocracia (governo orientado por técnicos e técnicas de
eficiência) como forma de enfrentar as consequências da Guerra.
As políticas públicas, enquanto o Estado em ação por meio da atuação dos
governos, representam a última etapa de um acordo social entre a sociedade que
elegeu os governantes como seus representantes e o partido político que apresentou
para essa sociedade um programa de governo.
Entretanto, devido às mudanças periódicas de governo tornou-se necessário
20

estabelecer algumas características gerais e essenciais para as políticas públicas, a fim


de não ficarem submetidas apenas as vontades partidárias. São elas:
 estabilidade: não apresentarem grandes mudanças nos seus rumos/objetivos;
 adaptabilidade: sofrerão mudanças apenas se forem necessárias para atingirem
seus objetivos;
 coordenação e coerência: as políticas públicas devem ser resultados de ações
bem coordenadas entre os atores que participam de sua elaboração;
 qualidade: na elaboração e na implementação;
 orientada aos interesses do público: devem promover o bem-estar geral;
 eficiência: alcançar bons resultados com poucos recursos.

Surgimento da área de política pública


Neste item, vamos nos concentrar no entendimento do surgimento das políticas
públicas enquanto uma área de conhecimento constituída tanto pelos seus estudos
(disciplina acadêmica) como pelas suas análises (pesquisa).
Os estudos sobre as intervenções do Estado na área social ocorriam em diversos
países do capitalismo central, porém os pioneiros nos estudos das políticas públicas
enquanto área de conhecimento e disciplina acadêmica foram os norte- americanos.
Segundo Souza (2006, p. 22):

[...] na Europa, a área de política pública vai surgir como um desdobramento dos
trabalhos baseados em teorias explicativas sobre o papel do Estado e de uma das mais
importantes instituições do Estado - o governo -, produtor, por excelência, de políticas
públicas. Nos EUA, ao contrário, a área surge no mundo acadêmico sem estabelecer
relações com as bases teóricas sobre o papel do Estado, passando direto para a ênfase
nos estudos sobre a ação dos governos.

A ideia que orientou a criação de estudos sobre políticas públicas é de que


aquilo que o governo decide fazer ou não fazer pode ser formulado por meios
científicos e pode também ser analisado por pesquisadores mediante a aplicação de
diferentes métodos (sobre isto falaremos na Unidade 4).
Os estudiosos de políticas públicas apresentam quatro teóricos como
fundadores dessa área, são eles: Harold Dwight Lasswell, Herbert Alexander Simon,
Charles E. Lindblom e David Easton. A seguir, apresentamos breve informação a
respeito do pensamento de cada um deles, com base em Souza (2006).
 Laswell (1936) introduziu a expressão policy analysis (análise de política pública),
nos anos 1930, como meio de harmonizar o conhecimento científico e
acadêmico com as ações dos governos.
21

 Simon (1957) introduziu o conceito denominado policy makers (racionalidade


limitada dos decisores públicos) defendendo que a racionalidade dos decisores
públicos pode ser limitada por alguns problemas como informação incompleta
ou imperfeita, tempo para a tomada de decisão, interesse particular dos
decisores, entre outros. Isto poderia ser minimizado com a criação de um
conjunto de regras e incentivos para normatizar o comportamento dos atores e
direcionar para resultados desejados.
 Lindblom (1959) introduziu as variáveis relações de poder e a integração entre as
diferentes fases do processo decisório, em contraposição ao racionalismo dos
teóricos anteriores. Para ele, seria preciso analisar outros elementos, além das
questões de racionalidade, tais como o papel das eleições, das burocracias, dos
partidos e dos grupos de interesse.
 Easton (1965) definiu a política pública como um sistema, isto é, para ele há
relação entre formulação, resultados e o ambiente. Nesse sentido, as políticas
públicas recebem inputs (canais de entrada) dos partidos, da mídia e dos grupos
de interesse, influenciando seus resultados e efeitos.

O que precisamos entender, aqui, é que as ideias desses autores vão contribuir
para os trabalhos de análises de políticas públicas e para a ampliação e/ou criação de
novos métodos de análises.
Quem teria interesse em analisar política pública? Quais as razões para realizar
um estudo analítico dessa natureza? Como se analisa?
Segundo Palumbo (1989), analisar políticas é um esforço profissional praticado
por inúmeras pessoas ligadas a esse campo de estudo, seja em escolas de políticas
públicas, de administração ou de gestão pública.
As razões podem ser:
 puramente científicas (apenas para aprofundar-se no tema aumentando o
conhecimento e a teoria);
 profissional (quando cientistas sociais buscam colaborar com governos no
aprimoramento das políticas);
 revolução silenciosa (quando os estudos fazem parte das agencias
governamentais para avaliar se os programas estão alcançando os objetivos
desejados;
 política (para aconselhar os políticos sobre qual política devem apoiar nos
momentos de campanha e também depois de eleitos).
22
A realização das políticas públicas é constituída por várias etapas formando o
que podemos chamar de ciclo das políticas públicas. As análises das políticas públicas,
geralmente, são feitas por meio do estudo de cada etapa desse ciclo, separadamente,
pois são amplos e podem ser vistos como categorias de análise.
Busquem mais subsídios teóricos para compreensão desse universo, lendo os
textos indicados como complementares.

Texto 3
SOUZA, Celina. Estado da arte da pesquisa
em políticas públicas. Sociologias, Porto
Alegre, ano 8, n. 16, jul/dez 2006, p. 20-45.
Disponível em: <www.scielo.br/pdf/soc/n16/
a03n16.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2012.

Na próxima unidade, vamos estudar cada etapa do ciclo de realização das


políticas públicas.

CICLO DE REALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS


Esta unidade tem como objetivo:
Conhecer o ciclo de uma política pública mediante a compreensão de cada momento
de sua realização definidos como agenda, formulação, implementação, execução e avaliação.

Para que uma política pública se concretize, vários momentos ocorrem


relacionados a sua estruturação, geralmente, são definidos como: agenda, formulação,
implementação, execução e avaliação, formando um ciclo de realização.
Esse ciclo se inicia no momento em que uma situação problemática aparece e
que pode ser resolvida com a intervenção pública. Em seguida, o problema entra para
a agenda de decisões, se priorizado, passa a ter formulação de propostas. As propostas
são implementadas e seus resultados são avaliados, podendo um novo ciclo se iniciar,
ser reformulado ou ser extinta a ação.
Estudaremos cada momento nos itens que seguem, porém, é importante
esclarecer que o processo como um todo nem sempre ocorre na sequência exposta,
mas os momentos mencionados e suas fases constitutivas estão geralmente presentes.
O texto tem por base estudos de Saravia (2006) e Viana (1988).
No último item, vamos tratar sobre algumas características do ciclo das políticas
23

públicas no Brasil, tomando por base o trabalho de Rua (2009).


Os momentos da agenda e da formulação
Mediante os problemas sociais e econômicos o poder público é chamado ä
cumprir seu dever de Estado no atendimento a tais demandas. Nesse caso, o governo
realiza um estudo sobre os fatos/problemas a fim de perceber por que adquirem o
status de problema público e a necessidade de atendê-los. Ao definir quais problemas
ou demandas priorizará, cria-se a agenda.
No momento da elaboração da agenda, a tomada de decisão sobre um ou
outro problema é perpassada por uma avaliação preliminar tanto sobre os custos e os
benefícios das várias opções disponíveis de ação, como das chances de imposição
política sobre as decisões. Isso demonstra que tais decisões não são tranquilas e sem
embates, os diversos atores estatais ou privados lutam para incluir os temas que são de
seus interesses, formando uma “arena política”.
Essa diversidade de atores participando da definição da agenda demonstra que
este momento é carregado de disputas de poder, de interesses e de ideias acerca da
priorização dos problemas a serem atendidos pela ação governamental.
Analisar a construção da agenda permite demonstrar a relação entre o meio
social e os processos governamentais, desvelando o embate Estado e sociedade.
Feita a definição da agenda o passo seguinte é elaborar/formular as alternativas
para solução dos problemas.
A formulação de políticas é feita a partir da determinação das possíveis
alternativas para solução ou satisfação do problema, a avaliação dos custos e efeitos
de cada uma delas e o estabelecimento de prioridades. Isso feito, tem-se a definição da
alternativa considerada mais oportuna seguida de declaração que assume a decisão
adotada, da definição dos objetivos e de seu termo jurídico, administrativo e financeiro.
Especificamente, a formulação da política pública é o momento em que os
governos transformam suas propostas e plataformas eleitorais em programas e ações
visando a produzir resultados ou mudanças no mundo real.

Os momentos da implementação e da execução


O momento da implementação é caracterizado pelo planejamento e
organização do aparelho administrativo e dos recursos humanos, financeiros, materiais
e tecnológicos necessários para executar a agenda priorizada.
Em outros termos, podemos dizer que é o momento em que se preparam os
planos, os programas, as ações e os projetos para a execução da política pública que
24

emergiu do complexo processo de decisão.


Para que a implementação obtenha sucesso é preciso que não haja obstáculos
impostos por circunstâncias externas ao agente implementador; que o programa
disponha de tempo hábil e recursos suficientes; que exista compreensão e acordo
sobre os objetivos; que as tarefas sejam bem especificadas, e que a comunicação da
coordenação seja perfeita. Contudo, nem sempre esses requisitos são totalmente
satisfeitos na prática.
Em relação à análise do processo de implementação, o pesquisador pode
decidir por enfocar o conteúdo de um programa, comparando os objetivos com os fins
alcançados, ou as estruturas e os atores, com o objetivo de descrever o ‘como’ e o
‘porquê’ desse processo, ou seja, o que acontece, quais atores atuam com quais razões
e com quais resultados.
A execução é o momento em que se coloca em prática a política pública,
organizada em um conjunto de ações destinadas a atingir os objetivos estabelecidos,
previamente, no momento da formulação. Esse momento é acompanhado de um
processo de supervisão da execução da ação, com o objetivo de fornecer as
informações e, caso for necessário, para introduzir eventuais correções com vistas a
garantir a consecução dos objetivos estabelecidos.
Após a realização da política é o momento da avaliação. Trataremos sobre a
avaliação de políticas públicas no próximo tópico.

O momento da avaliação
A avaliação consiste na mensuração e análise dos efeitos produzidos na
sociedade pelas políticas públicas, mais especificamente, em relação às realizações
obtidas e às consequências previstas e não previstas.
A avaliação é a área de política pública que mais se desenvolveu nos últimos
tempos. Isso se deu, em grande parte, devido às alterações históricas ocorridas nas
áreas política, social e econômica que se colocaram como desafios aos governos,
exigindo modificações sobre a forma de compreender, formular e avaliar as próprias
políticas.
Nesse contexto, a avaliação de políticas públicas passou por mudanças teóricas
e discursivas, marcadamente:
 na década de 1960: nesse período o foco político sobre a avaliação voltou-se
para o fornecimento de informação para os gerentes de programas públicos,
dando retorno para correções de rumo;
25

 na década de 1980: nesse período o foco recai sobre a função de (re)alocação


de recursos com base em critérios de eficiência e racionais no item
orçamentário;
 na década de 1990: período marcado pelo questionamento sobre o papel do
Estado e, também, sobre a influência da nova administração pública.

Na literatura corrente, a avaliação de uma política ou programa é classificada


em função de diversos fatores e de diferentes formas que, no geral, buscam identificar
a validade e qualidade dos objetivos propostos. Diante da diversidade de classificações
teórico-metodológicas vamos destacar a avaliação relacionada ao seu tempo de
realização (avaliação ex-ante, avaliação formativa ou de processo e monitoramento e
avaliação ex- post ou somativa) e a ligada a posição que o avaliador ocupa em relação
a política avaliada (interna, externa ou mista).

Quadro 1 – Avaliação quanto ao tempo de realização da política ou programa

Avaliação ex-ante Realizada antes do início do projeto tem por


objetivo medir a viabilidade do programa a ser
implementado no que diz respeito a sua relação
custo-benefício. É um tipo de avaliação que
interessa aos órgãos financiadores de projetos
por colaborar na identificação de prioridades e
metas.
Avaliação formativa ou de processo e Está ligada ao processo de gestão das políticas e
monitoramento é realizada, periodicamente, no decorrer da
implementação do programa, a fim de detectar as
dificuldades e efetuar correções ou adequações.
Avaliação ex-post ou somativa Pode ser feita ainda no decorrer da
implementação do programa, quando assume o
caráter somativo por julgar se está sendo bem
encaminhado, ou ao término, quando investiga
em que medida os resultados esperados pelos
formuladores foram atingidos ou não.
Quadro elaborado para este trabalho.

Quadro 2 – Avaliação quanto à posição que o avaliador ocupa em relação à política ou ao programa
avaliado

Avaliação interna Aquela realizada pela própria instituição responsável pelo


programa. Ponto positivo seria a não interferência de uma
opinião externa e a possibilidade de uma reflexão interna.
Ponto negativo seria perder a objetividade devido o
envolvimento direto do julgador com o programa.
26
Avaliação externa Realizada por pessoas de fora da instituição responsável
pelo programa. Ponto positivo seriam a imparcialidade
do avaliador e a possibilidade de comparação dos
resultados obtidos com os de outros programas
semelhantes já analisados. Ponto negativo seria um
posicionamento defensivo dos avaliados ao fornecer as
informações.
Avaliação mista É aquela que busca combinar as avaliações interna e
externa mediante o contato entre os avaliadores externos
com os participantes do programa a ser avaliado, visando
a equilibrar os pontos positivos e negativos apresentados
em ambas.
Fonte: Elaboração própria

Para finalizar, podemos sintetizar o conteúdo deste item retomando que a


avaliação de políticas públicas (traduzidas em programas) tem a função de subsidiar o
planejamento governamental mediante as avaliações que vão desde a definição da
agenda até a completa execução do programa, isto é, passando por todas as suas
etapas de realização. Os benefícios da avaliação estão, principalmente, nas
possibilidades de fornecer informações que indicarão a manutenção, alteração ou
extinção do programa, permitir maior visibilidade sobre a ação do Estado no
atendimento às necessidades sociais, divulgar as ações do governo para os usuários
ou beneficiários dos programas.

Características das políticas públicas no Brasil


A efetivação das políticas públicas no Brasil é caracterizada por algumas
regularidades que, no geral,
trazem implicações negativas para aqueles que precisam ser atendidos por esse
tipo de política.
Segundo Rua (2009), ao se observar diversas análises sobre as políticas públicas
no Brasil é possível verificar a presença de regularidades importantes, como:
fragmentação, competição interburocrática, descontinuidade administrativa, decisões
tomadas a partir da oferta e não da demanda, separação entre formulação/decisão e
implementação, desarticulação entre política econômica e política social. Essas
regularidades seriam
consequências da formação histórica de nosso país que possui características de
autoritarismo e centralização de poder.
A primeira característica está na forma fragmentada de se efetivar a política
27

proposta. Isso se traduz quando a realização de uma dada ação para a resolução de
um problema amplo exigiria articulação entre diversos setores, porém, isso não ocorre.
Vamos imaginar que para resolver o problema de saneamento básico de um município
fosse necessário articular os setores da saúde (para tratamento das doenças adquiridas
e campanhas de prevenção) e da educação (para o trabalho de conhecimento para a
prevenção), entretanto, a ação realizada seria apenas de instalação da rede de esgoto.
Essa falta de articulação pode justificar a segunda característica que é
competição interburocrática, identificada pela demarcação de áreas de atuação de
cada setor, agência ou órgão estatal.
A descontinuidade administrativa se caracteriza pela constante interrupção,
abandono ou substituição das políticas, causando indefinição nos rumos pretendidos.
Isso ocorre porque os grupos ou governos que estão à frente dos processos nem
sempre possuem concepções consolidadas e, ainda, podem ser levados por
convicções, preferências, compromissos políticos e/ou individuais, entre outros. Outro
fator é que a cada mudança política partidária os agentes que ocupam cargos
estratégicos também são mudados e provocam alterações nas ações em andamento.
É muito comum vivenciarmos essa descontinuidade política no setor educacional.
As decisões tomadas a partir da oferta e não da demanda se configuram
quando há um descompasso entre o real problema social e a política definida para
atendê-la. Descompasso causado por decisões que priorizam os meios e nos os fins.
A separação entre formulação/decisão e implementação acontece devido uma
visão de que o momento mais complexo da política está na primeira fase
(formulação/decisão), sendo a implementação considerada um momento de tarefas
de baixa complexidade. Essa visão também é expressa nas diferenças de status e de
capacitação dos envolvidos nas fases do processo como um todo.
A desarticulação entre política econômica e política social tem estreita relação
com o papel do Estado em relação às políticas econômicas e em relação às políticas
sociais que tratamos na Unidade 2. Como vimos, em tempos de políticas neoliberais a
política social sofreu uma retração nos investimentos governamentais, contudo, há
uma recente percepção de que o investimento na política social pode ser benéfico para
o setor produtivo ao colocar parte carente da população com possibilidades de
consumo.
Observando as características dessas regularidades das políticas públicas no
Brasil, podemos concluir que muito há para ser superado no que diz respeito a
execução do ciclo das políticas de forma coerente e satisfatória. Não podemos deixar
de refletir, contudo, sobre a construção de uma sociedade na qual as pessoas não
28

precisassem depender de políticas focalizadas para ter as suas necessidades básicas


atendidas.

ANÁLISE DE POLÍTICAS PÚBLICAS

Esta unidade tem como objetivo:


• Apreender os modelos analíticos e explicativos que são utilizados pelos pesquisadores para
analisaras políticas públicas nos diferentes momentos do seu ciclo de realização.

Nesta unidade, nosso objetivo é abordar a análise das políticas públicas. Essa
análise é o momento em que estudiosos da área buscam entender e explicar os fatores
que perpassam desde a origem até a realização final da política pública, levando em
consideração, também, os atores envolvidos nesse processo.
A análise das políticas públicas é feita por meio da aplicação de modelos
analíticos e explicativos para melhor entender como e por que o governo faz ou deixa
de fazer alguma ação para o atendimento das necessidades sociais dos cidadãos.
Existem muitos modelos para se fazer essa análise, vamos apresentar, no item 4.1,
alguns deles. No item 4.2, conheceremos uma pesquisa sobre um levantamento das
pesquisas feitas no Brasil, num determinado período, sobre políticas públicas.

Modelos de análise de políticas públicas


Para tratar dos modelos de análise de políticas públicas, tomamos por base o
trabalho de Souza (2006, p.), reescrito a seguir.

O tipo de política pública


A mais conhecida tipologia sobre política pública, segundo Souza (2006) foi
desenvolvida por Theodor Lowi a partir da máxima de que a política pública faz a
política. Para essa tipologia cada tipo de política pública encontra diferentes formas de
apoio e de rejeição e as disputas em torno de sua decisão passam por arenas
diferenciadas.
Assim, política pública pode assumir quatro formatos, que são: a) políticas
distributivas: decisões tomadas pelo governo que geram impactos mais individuais do
que universais, pois privilegia certos grupos sociais ou regiões, em detrimento do todo;
b) políticas regulatórias: são mais visíveis ao público, envolvendo burocracia, políticos
e grupos de interesse; c) políticas redistributivas: em geral se referem às políticas sociais
universais, ao sistema tributário, ao sistema previdenciário e são as de mais difícil
29

encaminhamento, pois atingem maior número de pessoas e impõem perdas para uns
e ganhos incertos e futuro para outros; d) políticas constitutivas: que lidam com
procedimentos.
Cada tipo de política pública pode gerar grupos de oposição ou de apoio
diferentes, processando-se, portanto, dentro do sistema político de forma também
diferente.

Incrementalismo
A visão da política pública como um processo incremental vincula-se as
questões orçamentárias. Segundo Souza (2006) essa visão foi desenvolvida por
Lindblom, Caiden e Wildavsky, para os quais os recursos governamentais para um
programa, órgão ou uma dada política pública não partem do zero e sim, de decisões
marginais e incrementais que desconsideram mudanças políticas ou mudanças
substantivas nos programas públicos, tornando as decisões dos governos apenas
incrementais e pouco substantivas.
A visão incrementalista da política pública perdeu parte do seu poder explicativo
com as profundas reformas ocorridas em vários países, decorrentes do ajuste fiscal, que
mudou as formas de se prestar contas. Entretanto, do incrementalismo ainda vem a
visão de que decisões tomadas no passado constrangem decisões futuras e limitam a
capacidade dos governos de adotar novas políticas públicas ou de reverter a rota das
políticas atuais.

O ciclo da política pública


A política pública, nessa tipologia, é vista como um ciclo deliberativo, formado
por vários estágios e se constitui num processo dinâmico e de aprendizado.
O ciclo da política pública possui os seguintes estágios: definição de agenda,
identificação de alternativas, avaliação das opções, seleção das opções,
implementação e avaliação. Esta abordagem enfatiza a definição de agenda (agenda
setting) questionando por que algumas questões entram na agenda política, enquanto
outras não. Algumas vertentes do ciclo da política pública focalizam mais os
participantes do processo decisório, e outras, o processo de formulação da política
pública.
Para a pergunta de como os governos definem suas agendas, são dados três
tipos de respostas: a) a primeira focaliza os problemas, mostrando que entram na
agenda quando se assume que deve ser feito algo sobre eles sendo que o
30

reconhecimento e a definição dos problemas afeta os resultados da agenda; b) a


segunda resposta focaliza a política propriamente dita, isto é, como se constrói a
consciência coletiva voltada para a necessidade de enfrentar um dado problema; c) a
terceira resposta focaliza os participantes, que são classificados como visíveis e
invisíveis. Os visíveis são os políticos, a mídia, os partidos, os grupos de pressão, dentre
outros. Os invisíveis são aqueles ligados a academia e a burocracia. Os participantes
visíveis definem a agenda e os invisíveis, as alternativas.

O modelo “garbage can”


O modelo garbage can ou “lata de lixo” foi desenvolvido, segundo Souza (2006)
por Cohen, March e Olsen, cujo argumento é que escolhas de políticas públicas são
feitas como se as alternativas estivessem em uma “lata de lixo”. Para, esse modelo as
soluções não são bem analisadas e dependem do leque de soluções que os decisores
(policy makers) têm no momento.
Nesse modelo, são as soluções que procuram pelos problemas, pois problemas
e soluções são colocados na “lata de lixo” pelos participantes à medida que eles
aparecem. Isto quer dizer que se tem um monte de problemas e um monte de soluções
e busca-se relacioná-los simplesmente por um processo de decisão.

O modelo de coalizão de defesa


Para o modelo da coalizão de defesa (advocacy coalition), de Sabatier e Jenkins-
Smith, a política pública deve ser concebida como um conjunto de subsistemas
relativamente estáveis que se articulam com os acontecimentos externos que orientam
os constrangimentos e os recursos de cada política pública.
Nesse modelo, as crenças, os valores e as ideias são importantes dimensões do
processo de formulação de políticas públicas e, por isso, diverge da visão trazida pelo
modelo do ciclo da política e pelo garbage can, pois possuem escassa capacidade
explicativa sobre por que mudanças ocorrem nas políticas públicas.
Portanto, cada subsistema que integra uma política pública é composto por um
número de coalizões de defesa que se distinguem pelos seus valores, crenças e ideias
e pelos recursos de que dispõem.

O modelo de arenas sociais


Para o modelo de arenas sociais a política pública é uma iniciativa dos chamados
empreendedores políticos ou de políticas públicas, pois para que uma determinada
31

circunstância ou evento se transforme em um problema, é preciso que as pessoas se


convençam de que algo precisa ser feito. Isto acontece quando os decisores públicos
(policy makers) do governo passam a prestar atenção em algumas questões e a ignorar
outras.
Três mecanismos contribuem para chamar a atenção dos decisores e
formuladores de políticas públicas: a) divulgação de indicadores que desvelam a
dimensão do problema; b) repetição continuada do mesmo problema ou desastres; e
c) informações que mostram as falhas da política atual ou seus resultados
insignificantes.
Os empreendedores constituem a comunidade de especialistas (policy
community) que são aquelas pessoas dispostas a investir recursos variados esperando
um retorno futuro, dado por uma política pública que favoreça suas ações e, também,
são cruciais para a sobrevivência e o sucesso de uma idéia e para colocar o problema
na agenda pública. Os atos dos empreendedores constituem redes sociais, pois
envolvem contatos, vínculos e conexões que relacionam os agentes entre si e não se
reduzem às propriedades dos agentes individuais. A eficácia desse modelo está na
possibilidade de investigação dos padrões das relações entre indivíduos e grupos.

O modelo do “equilíbrio interrompido”


O modelo do “equilíbrio interrompido” (punctuated equilibium) tem por base as
noções de biologia e de computação e foi elaborado por Baumgartner e Jones.
A noção de “equilíbrio interrompido”, vinda da Biologia, significa que a política
pública se caracteriza por longos períodos de estabilidade, interrompidos por períodos
de instabilidade. Da computação vem a noção deque os seres humanos têm
capacidade limitada de processar informação, por isso as questões se processam
paralelamente e não uma de cada vez. Isto é, os subsistemas de uma política pública
permitem ao sistema político-decisório fazer mudanças a partir da experiência de
implementação e de avaliação, e somente em períodos de instabilidade ocorre uma
mudança sequencial mais profunda.
Para os autores, esse modelo permite compreender por que um sistema político
pode agir tanto de forma a manter uma situação ou provocar mudanças mais
profundas nas políticas públicas.
Nesse modelo é fundamental a construção de uma imagem sobre determinada
decisão ou política pública (policy image), tendo a mídia papel preponderante nessa
construção.
32

Modelos influenciados pelo “novo gerencialismo público” e pelo ajuste fiscal


A partir da influência do “novo gerencialismo público” e da política fiscal
restritiva de gasto, adotada por vários governos, novos formatos foram introduzidos
nas políticas públicas, voltados para a busca de eficiência. A eficiência passou a ser a
meta de qualquer política pública, aliada à importância do fator credibilidade e à
delegação das políticas públicas para instituições com “independência” política.
A ênfase na eficiência nasceu da ideia de que as políticas públicas e suas
instituições são influenciadas por visões redistributivas ou distributivas (tipologia de
Lowi), desprezando-se a questão da sua eficiência. Uma boa política pública não
poderia resultar da disputa entre grupos, mas de uma análise racional, assim, passou-
se a enfatizar a questão da eficiência/racionalidade que seria alcançada por novas
políticas voltadas, por exemplo, para a desregulamentação, privatização e para
reformas no sistema social, as quais poderiam diminuir os riscos da ação coletiva.
O elemento credibilidade das políticas públicas também ganhou importância,
ou seja, estabelecer e anunciar regras claras em contraposição à arbitrariedade dos
decisores públicos e burocratas, a qual levaria à inconsistência.
A influência do “novo gerencialismo público” nas políticas públicas é rejeitada,
em vários países do mundo em desenvolvimento, mediante experiências de políticas
públicas de caráter participativo. Essas experiências visam à inserção de grupos sociais
e/ou de interesses na formulação e acompanhamento de políticas públicas ou sociais
e são impulsionadas, por um lado, pelas propostas dos organismos multilaterais e, por
outro, por mandamentos constitucionais e pelos compromissos assumidos por alguns
partidos políticos. No Brasil, temos como exemplos dessa tentativa os diversos
conselhos comunitários e o Orçamento Participativo. Fóruns decisórios como
conselhos comunitários e Orçamento Participativo seriam os equivalentes políticos da
eficiência.
Apesar da aceitação de várias teses do “novo gerencialismo público” e da
experimentação de delegação de poder para grupos sociais comunitários e/ou que
representam grupos de interesse, os governos continuam tomando decisões sobre
situações-problema e definindo políticas para enfrentá-las, ainda que delegando parte
de sua responsabilidade para outros setores, inclusive não governamentais. Estes
novos formatos de políticas ainda são pouco incorporados nas pesquisas empíricas.
Reforçamos, caros alunos, que para melhor compreender esses modelos é
preciso raciocinar como alguém que está interessado em apreender, por meio da
pesquisa, como acontece o processo de formulação e implementação das políticas
públicas.
33

Nesse sentido, vocês já se perguntaram sobre a possibilidade de investir na


sequência de seus estudos visando a adentrar na prática de pesquisas sobre temas
relacionados a sua área de estudo e atuação? Pensem nisso!
Sobre as pesquisas analíticas em políticas públicas no Brasil, a pesquisadora
Janete Azevedo (1999) fezum trabalho de levantamento das produções nessa área, o
qual vamos conhecer fazendo a leitura do texto indicado a seguir:

AZEVEDO, J. M. L.; AGUIAR, M. A. S. Políticas de


educação: concepções e programas. Série Estudos e Pesquisas,
Brasília, v. 6, p. 65-76, 1999. Disponível em:
<http://www.redecaes.com.br/bibliografia_marcia/
POLITICAS%20DE%20EDUCACAO%20concepcoes%20
e%20Programas.pdf>. Acesso em: 12 ago.2012.

A EDUCAÇÃO COMO POLÍTICA PÚBLICA: POLÍTICAS E PROGRAMAS


GOVERNAMENTAIS

Esta unidade tem como objetivo:


• Relacionar as políticas, programas e ações governamentais com as demandas sociais e
econômicas dos anos finais do século XX e início do século XXI.

Vimos nas aulas anteriores que a educação é uma das necessidades básicas do
indivíduo e, por isto, é direito de todos e é dever do Estado prover esse direito. Sendo
a educação necessidade básica e direito individual se caracteriza como uma política
social cuja forma de atendimento, pelo Estado, define-a como política pública.
Para desenvolvermos esta unidade, vamos nos ater primeiramente ao
entendimento da educação formal na sua relação com as mudanças sociais e
econômicas, para adentrar no conhecimento sobre os principais programas e ações
propostos para a educação brasileira nos últimos 20 anos (década de 1990 e início do
século XXI), que são importantes para os objetivos de nossa disciplina.

Educação formal e sociedade


A educação formal na sociedade capitalista se constitui como parte das funções
do Estado, que é o responsável por sua condução com o objetivo de promover a justiça
e a igualdade, combatendo e compensando as desigualdades que emergem do
sistema social e econômico. Desde o início da escola pública, os rumos da educação
34

são orientados por essa relação entre escola e sociedade. A escola passou a fazer parte
da formação do indivíduo orientando sua inserção social, seu grau de cidadania, sua
relação com o mundo do trabalho e com a cultura.
Para uma nação a educação formal contribui para a construção da identidade
nacional, por meio do ensino da língua, de valores, de regras de convívio em sociedade
e de determinada cultura. Dessa forma, a educação constituiu-se como um direito
subjetivo e, por consequência, um dever do Estado de oferecê-la, o que é feito por
meio das políticas educacionais.
As políticas para a educação nos dias atuais são decorrentes de mudanças no
mundo capitalista, ocorridas a partir da crise do capital dos anos 1970, que trouxerem
desdobramentos diversos nos aspectos econômico, social, cultural e educacional. Entre
os teóricos da economia e da ciência política predominava a compreensão de que a
crise estava na forma de atuação do Estado (lembram que até os anos de 1960 o
Estado investia nas políticas sociais com o Welfare State), assim, houve uma mudança
no seu papel passando a intervir menos na economia e reduzindo a atuação e forma
de atendimento às políticas sociais. Trata-se do Estado Neoliberal. Essa redução no
atendimento às políticas sociais trouxe consequências para a educação, a saúde e
outras áreas sociais.
Portanto, mediante a crise estrutural do capital, o setor educacional também foi
questionado em relação aos objetivos a serem alcançados, aos conteúdos propostos,
ao modelo de gestão da educação e da escola e as formas e enfoques do
financiamento.
Em decorrência disto, assistiu-se, ao longo dos anos 1970, 1980 e 1990, a uma
vasta discussão a respeito de reformas, necessárias para a educação, que foram se
tornando temas recorrentes na justificação e formulação de políticas para diversos
países, principalmente da América Latina. Tais discussões, acentuadas nos anos 1990,
podem ser verificadas nas publicações de estudiosos da área e de empresários, em
eventos promovidos por grandes organismos internacionais e, principalmente, nos
documentos do Banco Mundial (BM) que sistematizam a grande narrativa neoliberal
de vinculação entre educação e produtividade, numa clara visão economicista.
A tendência das reformas apontava para a minimização do Estado, o qual se
afastava de seu papel de
provedor dos serviços públicos como a saúde e a educação.
No Brasil, apesar do processo de ajuste da economia brasileira às exigências da
reestruturação global da economia ter sido deflagrado no governo Collor (1991-1992),
35

a implementação das recomendações para o setor educacional, referentes às


dimensões pedagógicas, administrativas, financeiras e da própria relação entre ação
estatal e educação pública, já vinha ocorrendo, principalmente, por meio dos
programas cofinanciados por organismos como o Banco Mundial e Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), responsáveis mais diretos pelo
financiamento às políticas públicas e pela propagação dos ajustes econômicos, com
vistas à redução da pobreza.
As reformas da educação também foram impulsionadas pela realização das
grandes conferências de educação, iniciadas em 1990 com a Conferência Mundial de
Educação para Todos, em Jomtien (Tailândia). Na realização dessas Conferências, são
expostas as propostas e orientações para a educação e, ao mesmo tempo, são
momentos de cobrança sobre o cumprimento dessas orientações.
A Conferência Mundial de Educação para Todos (Jomtien/Tailândia)
estabeleceu um marco de referência para os demais encontros, por firmar
compromissos por parte dos países participantes (155 países) em relação aos objetivos
de reforçar a fundamentalidade da educação básica, de enriquecimento dos valores
morais e culturais comuns e da ideia de satisfação das necessidades básicas de
aprendizagem. A satisfação das necessidades básicas via educação básica, seria o
suporte para a melhoria da qualidade de vida das populações o que, por sua vez,
garantiria o crescimento econômico. Vejam que a melhoria da qualidade de vida é
atrelada ao crescimento econômico em detrimento da educação integral do indivíduo.

Guarde bem isto!

Sobre a participação dos Organismos Internacionais na educação há divergências entre os


estudiosos da educação no sentido de ser benéfico ou não para o país.
Leia o trecho abaixo, retirado do documento Avaliação do Plano Nacional de Educação - 2001
a 2008, que demonstra uma visão positiva sobre o assunto. Disponível em:
fne.mec.gov.br/images/pdf/ volume1.pdf abaixo. Acesso em: 30 jul. 2012.

A inserção do Brasil nas questões internacionais na área de educação tem-se


dado em várias situações e perspectivas, incluindo sua participação ativa como
país-membro do Mercosul e da Cúpula das Américas, bem como sua articulação
com organismos multilaterais, a exemplo da Unesco e do Banco Mundial, que
exercem influência considerável na formulação das políticas educacionais da
região. Um exemplo importante da melhoria da qualidade da educação tem
sido a atuação dos países membros da Cúpula das Américas na busca de
elementos analíticos comuns, a fim de assegurar o cumprimento dos marcos do
Plano de Ação em Educação adotado por chefes de Estado e de governo, com
as seguintes metas gerais: assegurar que, até o ano de 2010, 100% das crianças
36

concluam a educação primária de qualidade e que, pelo menos, 7% dos jovens


tenham acesso à educação secundária de qualidade, com percentuais cada vez
maiores dos que terminem seus estudos secundários; e oferecer oportunidades
de educação, ao longo da vida, à população em geral. Esses marcos convergem
para as políticas em curso no País e, certamente, a aprovação e a efetivação do
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização
dos profissionais da Educação (Fundeb) contribuirão para o alcance das metas
propostas.

Agora, um trecho escrito por Marília Fonseca, pesquisadora sobre projetos que envolvem a
participação técnica e financeira do Banco Mundial, na educação. Artigo O Banco Mundial como
referência para a justiça social no terceiro mundo: evidências do caso brasileiro. Disponível em:
www.scielo.br/scielo. php?pid=S0102-25551998000100004...sci... Acesso em: 12 ago. 2012.

O Banco Mundial tem assistido o setor educacional brasileiro, na forma de


cooperação técnicae financeira para o desenvolvimento da educação de base.
Esta assistência foi realizada por meio de seis projetos de co-financiamento
desenvolvidos no âmbito do Ministério da Educação, nas três últimas décadas.
Durante esse período, o Banco ampliou suas funções para além da assistência
técnica e financeira propriamente dita, passando a elaborar políticas para os
setores a serem financiados, entre eles, a educação. [...] Desse modo, a
educação passa a ter uma função política específica nas diferentes fases da
cooperação técnica, segundo a evolução do projeto econômico do Banco. Esse
conjunto de políticas é suportado por princípios retoricamente humanitários
de eqüidade, combate à pobreza e de autonomia local. Observados do ângulo
mais prático, os princípios são submetidos às estratégias de recuperação de
custos e de sustentabilidade mundial, que constituem os dois pilares da
concepção econômica do Banco. Alguns ideais, cultivados no âmbito
educacional, como igualdade de oportunidades, participação, descentralização
e autonomia, passam a ser subordinados à lógica da racionalidade econômica.
A parcimônia na utilização dos bens sociais, imposta por essa racionalidade, é
naturalmente incompatível com os princípios humanitários anunciados pelo
Banco. Na área da educação, em que pese a retórica igualitária de “educação
para todos”, a eqüidade é restritiva para os pobres, podendo ser resumida na
fórmula “o mais para alguns, o menos para todos.” Desse modo, as estratégias
voltadas para a pobreza constituem menos um caminho para sua inclusão social
do que um instrumento de alívio para momentos de crise econômica.

Vejam que são interpretações diferentes sobre a participação de organismos internacionais na


educação. Você poderá ler mais sobre esse assunto e refletir sobre qual seria seu
posicionamento diante dessa questão.

Nos governos de Collor de Melo e de Itamar Franco as reformas na educação


não avançaram muito, mas com a posse de Fernando Henrique Cardoso (FHC), na
Presidência (1995-2002), e de Paulo Renato de Sousa, no Ministério da Educação
(MEC), o processo da reforma ganhou força e concretude. Isso porque as orientações
do Banco Mundial e as proposições do governo FHC para a política educacional
brasileira guardavam estreitas relações que se concretizaram em diversos programas
e, também, na própria legislação. É o caso da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDBN ou Lei nº 9.394/96), do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do
Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef ou Lei nº 9.424/96) e do
37

Plano Nacional de Educação (PNE ou Lei nº 10.172/2001).


Diversos programas também foram criados, destacam-se à época:
 Toda Criança na Escola, propondo a Aceleração da Aprendizagem, o
atendimento as escolas rurais multisseriadas, o regime de Progressão
Continuada, a Alfabetização Solidária e a Educação para Qualidade do
Trabalho.
 Programa Guia do Livro Didático.
 Programa Bolsa Escola, para assegurar a permanência da criança na escola;
 Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), que repassa recursos diretamente
às escolas.
 Programa Renda Mínima.
 Fundo de Fortalecimento da Escola (FUNDESCOLA).
 Programa de Expansão da Educação Profissional (PROEP).
 Exame Nacional de Cursos (ENC) ou Provão; entre outros.

Desses programas, alguns atendiam todas as regiões brasileiras e outros eram


restritos a algumas delas, como é o caso do FUNDESCOLA. Também, a maioria se
destinava apenas ao ensino fundamental e contavam com a participação financeira do
Banco Mundial. O enfoque na educação básica, entendida pelo Banco Mundial como
educação primária, e mais especificamente no ensino fundamental, já vinha sendo
defendida pelas políticas internacionais desde os anos de 1970 e tomou força nas
décadas seguintes, pois esse nível de ensino é visto como importante meio de
sustentabilidade mundial e de saúde familiar (compreendida como diminuição do
número de filhos) ao proporcionar a formação de hábitos e atitudes para um grande
número da população, visando o desempenho profissional, e pela taxa de retorno
econômico atribuída ao nível primário (FONSECA, 1998).
Nesse sentido, podemos dizer que o atendimento do Estado para a educação
assume um caráter de política focalizada, ou seja, se concentra em um nível da
educação formal e se destina para um grupo da população.
No conjunto, esses programas, faziam a reestruturação da educação, pois
abrangiam a gestão, a organização e o financiamento da educação básica e, também,
para o ensino superior.
38
Saiba mais!
Diferença entre reformas e transformações. Reformas são mudanças processadas na
economia, na organização do trabalho, na educação ou outros setores ou serviços a fim
de superar crises econômicas ou políticas sem, contudo, alterar a estrutura da
sociedade, por exemplo, a adoção da política neoliberal para superar a crise do capital.
Transformações são mudanças profundas que ocorrem numa sociedade resultando
numa nova estrutura social, por exemplo, a passagem da sociedade feudal para a
sociedade capitalista.

No final dos anos 1990 e primeiros anos do século XXI, a educação prossegue
no mesmo curso. Em 2003, tivemos a mudança de governo com a eleição de Luis
Inácio Lula da Silva para a presidência da república, que trazia novas proposições para
a educação. Entretanto, devido aos compromissos que são firmados nos acordos que
os governos fazem com os países e organismos que emprestam o dinheiro para
realização dos programas, não se pode eliminá-los e começar da estaca zero. Assim,
embora o Governo Lula lançasse, em 2007, suas intenções e ações para a educação
no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), anunciado sob o lema da
campanha “Todos pela Educação”, muitos dos programas e ações do Governo anterior
permanecem no PDE.

Figura 10 Figura 11 Fonte:


Fonte: http://portal.mec.gov.br/ http://www. todospelaeducacao.org.br/

Leia o “Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE):


razões, princípios e programas” na íntegra acessando
<portal.mec.gov.br/arquivos/livro/index.htm>

Feita essa breve contextualização acerca da definição e organização da política


educacional em nosso país, vamos destacar nos próximos tópicos as principais políticas
que estão em vigência e que são estruturadas de diferentes formas, isto é, como
legislação, documentos orientadores, planos, programas e ações. Lembrando que o
39

conjunto dessas políticas representa o conceito de políticas públicas que vimos na


Unidade 1, que é o Estado em ação.
Planos e legislações
O funcionamento do ensino na educação brasileira é orientado e normatizado
por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) e do Plano
Nacional de Educação (PNE).

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional


Uma lei de diretrizes e bases para a educação nacional tem a função de
regulamentar o sistema educacional, seja ele público ou privado, prescrevendo a
organização do ensino da educação básica ao ensino superior.
Na história da educação brasileira a primeira Lei de Diretrizes e Bases (LDB) foi
promulgada no ano de 1961, sendo conhecida como LDB nº 4.024/61. Essa Lei passou
por reformas no período da ditadura militar de forma a atender à política
desenvolvimentista adotada pelo governo militar, fazendo alterações sobre a estrutura
do ensino superior (Lei da Reforma Universitária - nº 5.540/68) e, posteriormente, para
o ensino primário e médio foi instituída a Lei nº 5.692/71, que alterou a sua
denominação para ensino de 1º e 2º graus.
Cabe informar que para alguns autores a Lei nº 5.692/71 seria a segunda LDB
do país, para outros é a Lei nº 9.394/96. Vocês, alunos, poderão pesquisar mais sobre
essa questão e formular sua compreensão a respeito do tema.
A formulação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) – Lei
nº 9394/96 – se deu em meio ao embate entre duas propostas distintas, que durou
cerca de seis anos. Uma proposta vinha de uma série de debates abertos com a
sociedade, organizados pelo Forum Nacional em Defesa da Escola Pública e
denominava-se Projeto Jorge Hage. A outra proposta foi elaborada pelos senadores
Darcy Ribeiro, Marco Maciel e Maurício Correa com a participação do poder por meio
do Ministério da Educação (MEC). A principal divergência entre as duas propostas era
o posicionamento sobre o papel que o Estado deveria exercer em relação a educação,
sendo que no Projeto Jorge Hage a preocupação era com os mecanismos de controle
social excessivos do sistema de ensino por parte do governo, e a proposta Darcy Ribeiro
defendia justamente a concentração de poder no âmbito do governo.

Figura 12
40

Fonte: http://commons.wikimedia.
org/wiki/File:1715JC0003. JPG
Na Unidade 2, estudamos que a educação é uma necessidade social, é direito
de todos e é dever do Estado oferecê-la. Diante disto, a Lei nº 9.394/96 reafirma o
disposto na Constituição Federal/1988 em relação ao direito à educação e estabelece
os seus princípios, também coloca os deveres do Estado em relação à educação escolar
pública, definindo as responsabilidades, em regime de colaboração, entre a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
Para a organização do ensino, conforme o regime de colaboração, a LDBEN/96
define a estruturação dos sistemas de ensino. O termo sistema refere-se à
administração nas diferentes esferas administrativas: federal, estadual e municipal.
Sistema de Ensino é definido como o conjunto de instituições de ensino que são
interligadas por normas e por leis educacionais, mas não por uma intencionalidade.
Isto quer dizer que um governo federal, estadual ou municipal pode construir e realizar
sua proposta para a educação desde que não venha a ferir os preceitos legais.
Vejam, no quadro seguinte, quais são os órgãos que compõem cada esfera
administrativa:

Quadro 3 - Esferas administrativas e respectivos órgãos administrativos

ESFERA ADMINISTRATIVA ÓRGÃOS ADMINISTRATIVOS


Federal Ministério da Educação (MEC)
Conselho Nacional de Educação (CNE)
Estadual Secretaria Estadual de Educação (SEE)
Conselho Estadual de Educação (CEE)
Delegacia Regional de Educação (DRE)
(nem todos estados possuem)
Municipal Secretaria Municipal de Educação (SME)
Conselho Municipal de Educação (CME)
Fonte: Saviani (2008). Quadro elaborado para este trabalho.

Para o funcionamento do ensino, a LDBEN/1996 organiza os níveis e


modalidades de educação e ensino da seguinte forma:

Quadro 4 – Níveis e modalidades da educação brasileira

NÍVEIS ESCOLARES Educação Básica Educação Infantil Ensino


fundamental Ensino Médio

Educação Superior ------


MODALIDADES Educação de Jovens e Adultos
Educação Profissional
41

Educação Especial
Fonte: Brasil (1996). Quadro elaborado para este trabalho.
Além disso, citando de maneira geral, normatiza questões relacionadas:
• à formação do profissional;
• aos recursos para a educação;
• à organização curricular com um núcleo comum para o currículo do
ensino fundamental e médio e uma parte diversificada em função das
peculiaridades locais;
• à obrigatoriedade e gratuidade do ensino fundamental;
• à gestão democrática e progressiva autonomia pedagógica e administrativa
das unidades escolares;
• à carga horária mínima de oitocentas horas distribuídas em duzentos dias na
educação básica, dentre outros;
• à educação intercultural ás comunidades indígenas.

O ensino a distância é tratado no título das disposições gerais, art. 80, no qual
consta que o Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de
programas de ensino a distância em todos os níveis e modalidades e de ações de
educação continuada.
Sobre a LDBEN vimos que esta visa a garantir diretrizes e bases para a educação
nacional estabelecendo as normas para a organização e gestão dos diferentes níveis e
modalidades da educação e definindo as ações e políticas a serem realizadas em prol
de garantir o acesso, a permanência e a gestão democrática para alcançar certa
qualidade da educação. Se o país conseguir alcançar esses objetivos estará cumprindo
os compromissos coletivos assumidos no Fórum Mundial sobre Educação, junto a
outros países, no que diz respeito à garantia de educação para todos.
Plano Nacional de Educação
Um Plano Nacional de Educação é um documento de referência da política
educacional para todos os níveis de governo. Deve conter um diagnóstico da
educação no país e, a partir deste, apresentar princípios, diretrizes, prioridades, metas,
estratégias e ações para enfretamento dos problemas educacionais detectados.
Na história da educação brasileira, a ideia de um Plano Nacional de Educação
foi concebida pela primeira vez com o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova,
lançado em 1932, que apresentava um diagnóstico da educação pública e propunha
que o Estado organizasse um plano geral de educação e assumisse a defesa de uma
42

escola pública, não dual, laica (sem interferência da Igreja), obrigatória e gratuita. A
necessidade de elaboração de um plano nacional de educação foi prevista pela
primeira vez na Constituição de 1934, no artigo 150.
Na atual Constituição Federal de 1988, a obrigatoriedade da elaboração do PNE
aparece no art. 214 e a sua regulamentação está colocada na Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDBEN) - Lei nº. 9.394/96, no art.87, parágrafo 1º -, cujo teor
deixa à cargo da União, em colaboração com Estados e Municípios, a incumbência de
elaborar o PNE.
Em 2001, a LEI No 10.172, DE 9 DE JANEIRO DE 2001 (clique na Lei para acessá-
la na íntegra) aprova o Plano Nacional de Educação com vigência de 2001 a 2010.
Em 2009, o poder público
desencadeou ampla discussão com
a sociedade civil para elaboração do
novo PNE para 2011-2020, com Você poderá acompanhar a tramitação para
vistas a estabelecer as bases e aprovação do Plano Nacional de Educação –
diretrizes para as políticas de Estado PNE 2011-2020, acessando:

promovendo a discussão de http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fich

temáticas relacionadas aos diversos adetr amitacao?idProposicao=490116

níveis, etapas e modalidades da educação nacional. Diversas conferências estaduais,


municipais e intermunicipais foram realizadas para discussão do documento-referência
envolvendo representantes do setor público e do privado, pais, estudantes,
professores, funcionários, dirigentes, representantes de organizações sociais, entre
outros. No período de 28 de março a 1º de abril de 2010, foi realizada a Conferência
Nacional de Educação (CONAE) sob o tema “Construindo um Sistema Nacional Articulado
de Educação: Plano Nacional de Educação, suas Diretrizes e Estratégias de Ação”, quando
foi publicado o documento final da CONAE. O projeto do PNE 2011-2020 encontra-se em
tramitação para sua aprovação.
Vocês podem observar que falamos de Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE), de Plano Nacional de Educação (PNE) e de Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDBEN). É importante registrar que há uma diferença entre eles além do fato

Vejam caros alunos, na trajetória histórica seja dos PNE ou da LDB percebemos a ação do
Estado e dos diferentes governos sobre os rumos da educação, bem como as formas de
participação da sociedade civil, deixando evidente a relação entre educação e sociedade. Isto
porque são processos pautados por disputas ideológicas acerca da forma de intervenção do
43

Estado sobre a educação e a definição dos princípios educacionais.


de dois serem planos e um ser lei, qual seja: o Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE) é um plano proposto pelo Governo que está em ação; o Plano Nacional de
Educação (PNE) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) são
elaborados e reformulados a partir do preceito colocado pela Constituição Federal de
1988. Assim, conhecer legislações e planos voltados para a educação oferece a
oportunidade de embasar-se legalmente e, assim, poder participar ativamente do
cotidiano e, principalmente, de grandes momentos de decisões para os rumos da
educação de nosso país.

Diretrizes curriculares e parâmetros curriculares


As questões ligadas ao currículo também são pautas da agenda de discussões e
decisões estatais, uma vez que a definição do conhecimento a ser trabalhado em uma
nação é uma decisão política. Decisão esta que precisa considerar os valores
defendidos, o conhecimento necessário para atender a demanda do trabalho, o nível
de desenvolvimento econômico e social desejado para o país.
Para a sistematização desses conhecimentos são definidos, primeiramente, as
Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) e, posteriormente, os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN).
Conforme prevê o art. 9º, inciso IV, da LDBEN/96, a União, junto aos Estados,
Municípios e Distrito Federal, deve estabelecer as Diretrizes Curriculares Nacionais e
compete ao Conselho Nacional de Educação, conforme a Lei nº 9.131/95, deliberar
sobre as diretrizes curriculares propostas. Nas DCNs devem constar as competências
e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio que
nortearão os currículos escolares e seus conteúdos mínimos. Portanto, Diretrizes
Curriculares formam um conjunto de definições doutrinárias sobre os princípios, os
fundamentos e os procedimentos da educação básica.
A necessidade de elaboração de parâmetros curriculares advém da orientação
legal (art. 26º da LDBEN/1996) ao definir que os currículos do ensino fundamental e
médio devem ter uma base nacional comum a ser complementada por uma parte
diversificada em cada sistema de ensino e escola para atender as características
regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela.
44
Saiba mais!

No espaço escolar, o processo de ensino e de aprendizagem acontece, por um


lado, mediado pelas diretrizes e pelos parâmetros no que se refere ao trabalho
cognitivo e à formação de valores. Por outro lado, a escola possui uma cultura
própria que também dá forma e expressão ao processo escolar. A junção desses
dois atos define o que conhecemos como currículo escolar. Não vamos tratar
sobre o conceito de currículo e seus desdobramentos por não ser objetivo desta
disciplina, mas você s poderão pesquisar sobre o tema buscando estudos de
autores como Antônio Flávio Barbosa Moreira, Tomaz Tadeu da Silva, Henry
Giroux, Gimeno Sacristan, dentre outros, por meio da internet ou biblioteca.

Até aqui, vimos que no âmbito federal são definidas as diretrizes e os parâmetros
curriculares, o que não dispensa a ampla participação de profissionais da área, da
academia e outros setores da sociedade na sua elaboração. Também, pudemos
perceber que há uma ordem de acontecimento nesses processos.
Entretanto, no movimento das decisões e de relações de poder nem sempre a
ordem legal é seguida. Sobre o processo histórico de definição e deliberação das
Diretrizes Curriculares e Parâmetros Curriculares, leiam o trecho abaixo, retirado do
texto de Bonamino e Martínez (2002, p. 370-373):
Na CF de 1988 é possível encontrar uma série de artigos referentes direta ou
indiretamente a uma formação básica comum, dimensão esta garantida após intensa
discussão entre atores políticos que, durante a Assembléia Nacional Constituinte,
tinham polemizado sobre questões curriculares. Por meio desses artigos, a CF fixa
conteúdos mínimos para o ensino fundamental dentro dos princípios de igualdade e
de diversidade, com vistas a assegurar uma formação básica comum e a coexistência
de registros culturais diferenciados, em qualquer proposta curricular e nos diferentes
níveis de governo e nas unidades escolares.
O prosseguimento da discussão curricular deu-se em torno da LDB que tramitava
no Congresso desde 1988. A nova LDB reafirmou a CF ao considerar ser
incumbência da União, em colaboração com estados, Distrito Federal e municípios,
estabelecer diretrizes para nortear os currículos e seus conteúdos mínimos de forma
que se assegure a formação básica comum (art. 9º, IV).
Por sua vez, no plano político-institucional ou estatal, a criação do Conselho Nacional
de Educação (CNE) pela Lei nº 9.131/95 procurou caracterizá-lo como um órgão
representativo da sociedade brasileira. Nessa perspectiva, segundo Lüdke (1998, p.
35) caberia ao CNE um papel consultivo, e também deliberativo, de contraponto ao
MEC, no sentido de “ajudá-lo a ver sob diferentes ângulos suas propostas para
educação, possibilitando-lhe assim uma aproximação maior da realidade nacional”.
No que respeita à questão curricular, de acordo com a o art. 9º, § 1º, alínea C, da lei
que cria o CNE, compete a este órgão “deliberar sobre as diretrizes curriculares
propostas pelo Ministério da Educação e do Desporto”.
Desse modo, no enquadramento legal fornecido pela CF, a nova LDB e a Lei nº
9.131/95, os currículos e conteúdos mínimos propostos pelo MEC teriam seu norte
estabelecido pela mediação de diretrizes curriculares que deveriam ter como foro de
deliberação a Câmara de Educação Básica (CEB) do CNE (Brasil, 1997).
No entanto, a divulgação da primeira versão dos PCNs pelo MEC, antes mesmo de os
45

conselheiros do CNE iniciarem seu novo mandato em fevereiro de 1996, marcou um


dos primeiros descompassos entre os dois órgãos de Estado. A professora Menga
Lüdke (1999), participante do CNE por um mandato de dois anos, entre fevereiro
de 1996 e fevereiro de 1998, oferece-nos elementos extremamente ricos para
caracterizarmos o desencontro desses dois atores políticos.
Lüdke (1999, p. 243-246) mostra-nos que, já no início dos trabalhos na Câmara de
Educação Básica do CNE, os conselheiros depararam-se com o problema da
definição de competências. Se de acordo com a Lei nº 9.131/95 compete ao CNE
deliberar sobre as diretrizes curriculares propostas pelo MEC, essas diretrizes
tinham chegado aos conselheiros por via indireta e após terem passado por um
processo longo de elaboração e de detalhamento.
Quem conhece os PCNs pode perceber claramente a distância existente entre o que
poderia ser um conjunto de conteúdos mínimos e obrigatórios para o ensino
fundamental, ou uma proposta de diretrizes curriculares, e uma complexa proposta
curricular, que contém diretrizes axiológicas, orientações metodológicas, critérios
de avaliação, conteúdos específicos de todas as áreas de ensino e conteúdos a serem
trabalhados de modo transversal na escola.
Com essa abrangente proposta curricular em mãos, a CEB/CNE voltou-se para a
tarefa de tentar divisar nos PCNs as diretrizes curriculares sobre as quais deveria
deliberar e que deveriam fundamentar a fixação de conteúdos mínimos para o ensino
fundamental (Lüdke, 1999).
A análise da forma de encaminhamento e do teor da proposta curricular enviada pelo
MEC ao CNE deixa claro que se tratou de uma política construída num movimento
invertido, no qual os PCNs, apesar de serem instrumentos normativos de caráter
mais específico, deveriam reorientar um instrumento de caráter mais geral como as
DCNs.
Esse movimento invertido está na raiz das duas lógicas diferentes que passaram a
orientar a elaboração curricular do MEC e do CNE e a definição política das
competências desses dois órgãos de Estado em relação ao currículo escolar. No
entanto, se dimensões em comum podem ser encontradas nessas duas lógicas, elas
dizem respeito ao fato de que as estratégias acionadas pelo CNE e pelo MEC em
relação à elaboração curricular acabaram por condenar as possíveis formas de
colaboração entre esses atores políticos à lógica da mútua omissão.
Na lógica do MEC, mais importante do que inscrever a discussão das diretrizes
curriculares na agenda política do Estado ou no debate público, era ver rapidamente
os PCNs aprovados pelo CNE e efetivados pelos professores nas redes de ensino.
Na lógica do CNE, o papel de órgão representativo da sociedade não lhe permitia
ignorar que a comunidade científica educacional considerava imprescindível
discutir a concepção geral dos PCNs e o conteúdo específico das diferentes áreas de
conhecimento escolar, o processo de elaboração e divulgação dos parâmetros e as
características das escolas e dos professores destinatários da posposta (Lüdke,
1999).
Aliás, o CNE já se tinha voltado para a tarefa de estabelecer os limites e as
possibilidades de suas competências curriculares à luz dos dispositivos
constitucionais e legais existentes. Em face dos “ímpetos curriculares” dos PCNs e
apoiada no contexto legal de referência que delegava ao CNE a competência de
deliberar sobre asdiretrizes curriculares do MEC, a Câmara de Educação Básica
conseguiu chegar, na visão de Lüdke (1999, p. 244), “a uma solução razoável”, que
reafirmava a importância da proposta pedagógica da escola e o caráter não-
obrigatório dos PCNs.
Assim, no posicionamento político do CNE, a fixação de diretrizes curriculares
nacionais, tendo em vista uma formação básica comum a ser observada nas
propostas curriculares para o ensino fundamental municipal, estadual ou da própria
unidade escolar, teve, como contrapartida, a não-obrigatoriedade dos PCNs.
Que lições podemos tirar sobre esses episódios? Na nossa interpretação, os
desentendimentos entre o MEC e o CNE em torno das definições curriculares
ilustram a lógica implícita à política educacional do governo, a partir da segunda
metade dos anos de 1990: excessiva centralização das decisões no governo federal
e escasso envolvimento das outras instâncias político-institucionais e da
46

comunidade científica com a educação básica.


Com base nesse trecho, podemos entender que a elaboração dos PCNs deveria
ser precedida das diretrizes curriculares que dariam o norte para elaboração do
currículo nacional. Porém, diante da inversão das ações na proposição do PCN, a
solução encontrada pelo CNE foi deliberar colocando a não obrigatoriedade do PCN
e, assim, ele passou a ser considerado um documento norteador das escolas na
elaboração de seus projetos políticos pedagógicos.
Para a Educação Infantil o documento norteador denomina-se Referencial
Curricular Nacional para a Educação infantil (RCNEI).
Para finalizarmos, informo que as Resoluções e os Pareceres sobre as diretrizes
para a educação básica estão disponíveis no site do MEC, é só acessar:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&vie
w=article&id=12992:diretrizes-para-a-educacao-basica&catid=323.
Abaixo estão ilustrações de alguns dos documentos e legislações citadas no decorrer
das aulas.

Figura 13
Fonte: http://portal.mec.gov.br/

Figura 14
47

Fonte: http://portal.mec.gov.br/
Políticas de avaliação
Para acompanhamento e controle sobre o processo educacional o MEC realiza
um conjunto de avaliação tanto no nível da Educação Básica como na Educação
Superior.

Figura 15
Fonte: http://portal.mec.gov.br/

Para a Educação Básica, foi criado o Índice de Desenvolvimento da Educação


Básica (IDEB) com o intuito de ser um medidor da qualidade da educação básica das
escolas públicas de todo o país. Para medir a qualidade são combinados dois
indicadores que são: o fluxo escolar (índice de aprovação) que é processado pelo
Programa Educacenso; e o desempenho dos estudantes que é avaliado pela Prova
Brasil nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática.
48

Segue um quadro resumo dos processos avaliativos da Educação Básica.


Quadro 5 – Processo de avaliação da educação básica

Avaliações da Educação Básica


Programa Internacional de Avaliação de Programa de avaliação internacional padronizada,
Alunos desenvolvido conjuntamente pelos países
(Pisa) participantes da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), aplicada
a alunos de 15 anos, a cada três anos, nas áreas de
linguagem, matemática e ciências.
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) Exame individual, de caráter voluntário, oferecido
anualmente aos estudantes que estão concluindo ou
que já concluíram o ensino médio, com o objetivo
de avaliar competências e habilidades que dão
suporte para a continuidade de sua formação e à sua
inserção no mundo do trabalho. Atualmente muitas
universidades utilizam a pontuação do Enem em
substituição à seleção pelo vestibular.
Exame Nacional para Certificação de Exame aplicado a brasileiros residentes no Brasil
Competências de Jovens e Adultos e no Exterior para aferir competências, habilidades
(Encceja) e saberes adquiridos em processo escolar ou extra-
escolar de jovens e adultos que não tiveram acesso
aos estudos ou não puderam continuá-los na idade
própria. A certificação é feita por instituições
credenciadas para esse fim.
Provinha Brasil Avaliação diagnóstica do nível de alfabetização das
crianças matriculadas no 2º ano de escolarização das
escolas públicas brasileiras, que é aplicada início e a outra
ao término do ano letivo. O objetivo é avaliar o nível de
alfabetização dos alunos para oferecer às redes de ensino
um diagnóstico da qualidade dessaaprendizagem.
Saeb – Aneb e Anresc (Prova Brasil) O Sistema de Avaliação da Educação Básica
(SAEB) é composto por duas avaliações
complementares, a Aneb e a Anresc (Prova Brasil).
A Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb)
permite produzir resultados médios de desempenho
conforme os estratos amostrais, promover estudos
que investiguem a equidade e a eficiência dos
sistemas e redes de ensino por meio da aplicação de
questionários, conforme vem sendo implementado
na avaliação desde o ano de 1995.
A Avaliação Nacional do Rendimento Escolar
(Anresc ou Prova Brasil), realizada a cada dois anos
com alunos de 6º ano e de 9º ano da rede pública,
avalia as habilidades em Língua Portuguesa (foco na
leitura) e em Matemática (foco na resolução de
problemas).
49

Fonte: BRASIL, 2008. Quadro elaborado para este trabalho.


A Educação Superior é avaliada por meio do Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Superior (SINAES), criado pela Lei n° 10.861, de 14 de abril de 2004, e é
formado por três componentes principais (a avaliação das instituições, dos cursos e do
desempenho dos estudantes) que avaliam aspectos relacionados ao ensino, a
pesquisa, a extensão, a responsabilidade social, ao desempenho dos alunos, a gestão
da instituição, ao corpo docente, as instalações e vários outros. Para a realização dessa
avaliação, temos os seguintes objetivos:
 identificar mérito e valor das instituições, áreas, cursos e programas, nas dimensões
de ensino, pesquisa, extensão, gestão e formação;
 melhorar a qualidade da educação superior, orientar a expansão da oferta;
 promover a responsabilidade social das IES, respeitando a identidade institucional
e a autonomia.

O quadro resumo abaixo apresenta as etapas do processo avaliativo da


Educação Superior por meio do SINAES.

Quadro 6 – Processo de avaliação da educação superior

Avaliação da Educação Superior – SINAES


Avaliação institucional, 1. Missão e PDI
interna e externa 2. Política para o ensino, a pesquisa, a pós-graduação e
a extensão
(dimensões) 3. Responsabilidade social da IES
4. Comunicação com a sociedade
5. As políticas de pessoal, as carreiras do corpo docente e
técnico-administrativo
6. Organização de gestão da IES
7. Infraestrutura física
8. Planejamento de avaliação
9. Políticas de atendimento aos estudantes
10. Sustentabilidade financeira
Avaliação dos cursos 1. Organização Didático-Pedagógica
2. Perfil do Corpo Docente
3. Instalações físicas

A avaliação dos estudantes, através do ENADE, é aplicada


periodicamente aos alunos de todos os cursos de graduação,
ao final do primeiro e do último ano de curso. A avaliação é
expressa por meio de conceitos, tomando por base padrões
mínimos estabelecidos por especialistas das diferentes áreas
50

do conhecimento.
Coletas de informações 1. Censo da Educação Superior (integrado ao SINAES
e incluindo informações sobre atividades de extensão)

2. Cadastro de Cursos e Instituições (integrado ao SINAES)

3. CPA: Comissão Própria de Avaliação (criadas nas IES


com a atribuição de conduzir os processos de avaliação
interna da instituição, de sistematização e de coleta de
informações).

Fonte: INEP (2012). Quadro elaborado para este trabalho.

Os resultados dos sistemas de avaliação da educação, seja da educação básica


ou da educação superior, repercutem cada vez mais sobre a organização do ensino e
a definição das políticas educacionais. Também, pudemos observar que esses
resultados, no caso da educação básica, não se restringem apenas ao âmbito nacional,
mas compõem um sistema de avaliação internacional (o PISA) como resposta aos
compromissos sociais do Brasil frente aos organismos internacionais.
Após o estudo deste item, pense se você já participou de alguma dessas
avaliações. Caso participou, você tinham clareza do que estava sendo feito e para quê?

Políticas de financiamento
O financiamento da educação é um dos momentos da política educacional, mas
por sua abrangência e relevância pode ser considerado como uma política pública por
si só, inclusive com potencial de induzir a implantação de outras políticas como, por
exemplo, os conselhos fiscais para o controle social sobre os recursos da educação.
Para entender o quadro atual de financiamento da educação é importante
voltar as suas origens e acompanhar os embates e processos que conduziram as
decisões acerca dessa pauta na política educacional brasileira.
Para esse fim, vamos recorrer ao trabalho de Martins (2010), trazendo trechos
de seu artigo intitulado “Financiamento da educação básica como política pública”.

A questão do financiamento ingressou na agenda das políticas públicas pela ação da


Escola Nova. A proposta de vinculação de recursos dos impostos e a constituição de
fundos educacionais remontam ao ideário dos pioneiros. Em seu Manifesto (março
de 1932) propugnavam que a educação é uma função essencialmente pública e
reivindicavam autonomia e meios materiais para realizá- la. A proposta de
vinculação de recursos à educação já era discutida na década de 1920, desde a
Conferência Interestadual do Ensino Primário, realizada no Rio de Janeiro em 1921,
por convocação do Ministério da Justiça (ainda não fora criado o Ministério da
Educação). Esta traçou um programa de cooperação entre a União e os estados, pelo
qual estes deveriam aplicar 10% de suas receitas na instrução primária. Entretanto,
51

foi a Escola Nova que assumiu o papel de “empreendedor político” para viabilizar
propostas e obter sua positivação na Carta Magna de 1934.
Em primeiro lugar, a Constituição de 1934 previa a educação como direito de todos
(art. 149) – expressões (“direito” e “de todos”) que desapareceriam do texto da Carta
do Estado Novo (1937). Em relação, especificamente, ao financiamento da
educação, foi estabelecida a vinculação de recursos à manutenção e
desenvolvimento dos sistemas educativos (art. 156). Previa-se, ainda, a criação de
fundos por esfera de Federação, constituídos, na prática, por sobras orçamentárias
(art. 157). Introduzia-se, pois, apolítica de vinculação com a adoção paralela de
fontes específicas (fundos). No período em que vigoraram a Constituição de 1946 e
a Lei de Diretrizes e Bases de 1961 (lei n. 4.024/61), novas tentativas de criação de
fundos foram intentadas, esbarrando sempre no argumento da carência de recursos.
Se os fundos não vingaram neste período, a vinculação passou a ser o eixo do debate
das políticas públicas de financiamento, e acompanhou, em movimento pendular, os
períodos de maior e menor democratização da sociedade brasileira.
Em 1937, o Estado Novo derrubou a vinculação, resgatada pela Constituição de
1946, com a elevação do percentual do compromisso dos municípios, de 10% para
20% (art. 169). A LDB de 1961 elevaria o patamar da União, de 10% para 12% (art.
92). Em 1967, com as Cartas do regime militar, a vinculação perdeu o status
constitucion alem 1967, e em 1969 foi limitada aos municípios (art. 59). Neste
período, os impactos negativos da desvinculação foram evidenciados, entre outros,
no campo acadêmico, por Araújo Melchior (1975) e, na esfera política, pelo senador
João Calmon. Assim, no período da “abertura” política, já nos estertores do regime
militar, foi aprovada, em 1983, a Emenda Calmon, que fixava (art. 176) a vinculação
mínima de recursos à manutenção e desenvolvimento do ensino nos patamares
de 13% para a União e 20% para os estados, DF e municípios. Com o advento da
Constituição de 1988 foi consagrada a vinculação de recursos no art. 212, com a
fixação de novos percentuais tendo em vista a alteração da estrutura tributária: 18%
para a União e 25% para os demais entes federativos (o município ganhou este status
na federação brasileira). Nesse período, como a política de financiamento identifica-
se com a vinculação, as lutas eram pela sua adoção, nos períodos de fechamento, e
pelo cumprimento dos percentuais, nos períodos de democratização. A política de
fundos caíra em desuso. (MARTINS, 2010, p. 503).

Até aqui podemos perceber que a questão do percentual de recursos


destinados para educação se constituía em ponto de embates bem como os
compromissos de cada ente federativo. Continuando, na segunda metade da década
de 1990, tivemos a formulação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do
Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), que retoma a adoção
da política de fundos.
Para esclarecer o que é uma política de fundo, Martins (2010, p. 507) diz que:

O fundo, concebido para organizar os recursos vinculados, permite que a vinculação


cumpra seus objetivos. Fundo é um conceito de direito financeiro que equivale à
reunião de recursos de diferentes fontes e sua separação para uma destinação
específica. O fundo constitui, inclusive, uma exceção ao princípio de unidade de
tesouraria, o que permite uma maior possibilidade de seu controle e, portanto, uma
maior transparência. No caso do Fundef, propôs-se um fundo contábil, com conta
única e específica, no âmbito de cada Estado, para organizar os recursos vinculados
a partir de sua subvinculação.

O FUNDEF trazia a alocação das despesas públicas em educação entre os entes


federados de forma a sanar as diferenças regionais de arrecadação. Entretanto, se por
52

um lado, o FUNDEF colaborou para a expansão do ensino fundamental (para uma


taxa em média de 97%), por outro, a sua lógica de descentralização de recursos e a
municipalização desse nível de ensino não logrou sanar as desigualdades educacionais
regionais e alcançar a qualidade de ensino apregoada.
Ainda assim, considera-se que o FUNDEF foi um marco importante para a
educação e permitiu experiências que deram suporte para a elaboração do Fundo de
Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB).
A passagem do FUNDEF para o FUNDEB é feita mediante novas discussões e
disputas políticas e sociais. Segundo Martins (2010, p. 209):

Você sabia?

Sendo o financiamento da educação uma política pública, é passível de análise por meio
de pesquisas. Verhine e Magalhães (2003), em pesquisa sobre os impactos do FUNDEF
destacam que se por um lado esse programa é elogiado por sua capacidade de promover
transparência por meio da previsão de controle social e da correção das desigualdades
regionais, por outro lado tem sofrido críticas quanto a insuficiência dos seus recursos, a
focalização no ensino fundamental em detrimento da educação básica como um todo e a
iniquidade na proporção de recursos disponíveis em cada estado da federação.

Como em qualquer política pública, os agentes adotaram comportamento estratégico


e se formaram coalizões para a defesa de algumas propostas. De uma posição reativa
em relação ao Fundef, as entidades do movimento social com atuação na defesa da
educação passaram a uma postura de formulação nos congressos nacionais de
educação – Coneds, para elaboração de uma proposta de plano nacional de educação
e de reivindicação da extensão dos efeitos redistributivos do Fundef para toda a
educação básica, com a criação do Fundeb.

Com o fim da vigência do Fundef, em 2006, e realizado o balanço de suas virtudes


e insuficiências, abriu-se uma janela de oportunidade para a adoção de política que
organizasse o financiamento de todas as etapas da educação básica, já que aquele se
limitara ao ensino fundamental. Nascia o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação
– Fundeb, criado pela EC n. 53/06, com a finalidade de suprir as lacunas do fundo
anterior, de cuja experiência se beneficiou o novo fundo, a partir da avaliação de
seus erros, acertos e lacunas.

De maneira geral, o FUNDEB traz a ampliação do atendimento para toda a


Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) e prevê
modificação do percentual sobre os impostos vinculados de 15% para 20%, além de
incluir outros tributos que não eram previstos no FUNDEF. Contudo, podemos afirmar
que a política de financiamento da educação, em nosso país, ainda não tem um perfil
que coloque a qualidade da educação como prioridade dentre as políticas públicas.
53
Saiba mais!

Em cada estado, o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB) é


composto por
percentuais das seguintes receitas:

Fundo de Participação dos Estados (FPE),


Fundo de Participação dos Municípios (FPM),
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS),
Imposto sobre Produtos Industrializados, proporcional às
exportações (IPIexp), Desoneração das Exportações (LC nº
87/96),
Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doações (ITCMD),
Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA),
Cota parte de 50% do Imposto Territorial Rural-ITR devida aos municípios.
Também compõem o fundo as receitas da dívida ativa e de juros e multas incidentes
sobre as fontes acima relacionadas.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br. Acesso em: 12 ago. 2012.

Para maiores detalhes sobre FUNDEF e FUNDEB leia o texto: Do Fundef ao


Fundeb: a qualidade ainda fora de pauta. De Rosimar de Fátima Oliveira e Beatriz de
Basto Teixeira. Disponível no link:
http://www.ufsj.edu.br/portal-repositorio/File/Vertentes/Rosimar%20e%20Beatriz.pdf

Programas sociais articulados com a educação básica


Na segunda metade da década de 1990, no governo de Fernando Henrique
Cardoso, diversos programas surgiram, ou foram reformulados, priorizando as políticas
sociais de combate à fome e à pobreza, tendo a educação como carro-chefe.
No governo seguinte, Governo Lula, esses programas foram reagrupados,
reorganizados e outros também surgiram, buscando atender os direitos básicos da
população, como o acesso à alimentação, à educação, à saúde, à habitação e à cultura
de forma articulada entre os alunos que estão na educação básica e suas famílias.
Vamos destacar aqui: Fome Zero, Bolsa Família, Erradicação do Trabalho Infantil
(PETI) e, ainda, para a população que não teve acesso à escola na idade própria, o
Programa Brasil Alfabetizado, que acontece também em espaços não escolares.
54
Quadro 7 – Programas governamentais

Programa Descrição
FOME ZERO Objetiva para assegurar o direito humano à alimentação
possibilitando melhores condições de vida é composto pelo
Programa Bolsa Família e os Programas de Segurança Alimentar e
Nutricional. Caracteriza-se como um programa multidimensional,
abrangendo o Programa Cartão Alimentação, que transfere recursos
para famílias pobres selecionadas a partir de um estudo da situação
social, as intervenções emergenciais destinadas a grupos
específicos (desempregados,trabalhadoressem-
terra,indígenasequilombolas);aaquisição direta de alimentos para
estimular a agricultura familiar; a continuidade de oferecimento da
merenda escolar, que é um esquema de nutrição infantil e materna;
e a criação de um banco de alimentos. Inclui, ainda, intervenções
mais estruturais como: cursos de alfabetização, construção de
reservatórios de água e redes de irrigação em pequena escala, apoio
à agricultura familiar e à assistência para a obtenção de
documentação necessária.
BOLSA FAMÍLIA Criado pela Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004, unificou outros
benefícios sociais do governo federal, como a Bolsa Escola, a
Bolsa Alimentação, o Cartão Alimentação e o Auxílio Gás, num
único programa. Seu objetivo é promover a inclusão social das
famílias em situação de pobreza e extrema pobreza por meio da
transferência de renda e da promoção do acesso aos direitos
sociais básicos de saúde e de educação.

ERRADICAÇÃO DO O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) visa


TRABALHO erradicar todas as formas de trabalho de crianças e adolescentes
INFANTIL (PETI) menores de 16 anos, concedendo bolsas mensais e
financiamento de jornada ampliada (atividade desenvolvida em
horário complementar ao da escola) para reduzir a possibilidade
de inclusão da criança e do adolescente em atividades de
trabalho e de exposição a riscos.

BRASIL O Programa Brasil Alfabetizado visa o combate ao


ALFABETIZADO analfabetismo por meio de parcerias com estados, municípios,
universidades, empresas privadas, organizações não-
governamentais, organismos internacionais e instituições civis
como forma de potencializar o esforço nacional de. O programa,
articulado à Educação de Jovens e Adultos (EJA), prioriza os
municípos que apresentam taxa de analfabetismo igual ou
superior a 25%. Desse total, 90% localizam-se na região
55

Nordeste.
Fonte: <portal.mec.gov.br>. Acesso em: 10 ago. 2012. Quadro elaborado para este trabalho.
Programas de inclusão digital
Nos tempos atuais a informação ou, melhor, o acesso rápido a informação pode
se configurar como uma nova necessidade individual, social e econômica.
Individual porque facilita a vida diária, maximiza o tempo, potencializa o acesso
rápido às informações
e aos conhecimentos buscados. Social porque
coloca as pessoas em contato em tempo real,
dissemina e democratiza as informações, é fonte
de lazer e de acesso à cultura. Econômica porque
agiliza a comercialização, permite novas formas de
organização do trabalho (por exemplo, muitas
empresas permitem que o funcionário trabalhe em
sua própria casa, fazendo uso da Internet), facilita as
transações financeiras, dentre outros. Figura 21 Fonte: FreeDigitalPhotos.net

Assim, facilitar o acesso às tecnologias para o maior número de pessoas tornou-


se uma política em si, sendo denominada política de inclusão digital, vinculada à ideia
da política de inclusão social, visando a beneficiar as camadas mais carentes da
população com o acesso às Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), bem
como proporcionar acessibilidade aos usuários com deficiência.

A política de inclusão digital tem incorporado dois


conceitos interessantes, sendo um ligado à ideia da
acessibilidade (e-Accessibility) e o outro à questão da
competência para o uso das tecnologias (e-Competences).
Façam uma pesquisa sobre os dois conceitos e ampliem
seus conhecimentos.

Programas e projetos para a população em geral


Na perspectiva da democratização do acesso às novas tecnologias, o Governo
Federal promove diversos programas e projetos, como: Projeto Computadores para
inclusão, Telecentros Banco do Brasil, Programa Estação Digital, Telecentros de
Informação e Negócios (TIN), Centros Vocacionais Tecnológicos (CVT), Maré–
Telecentros da Pesca, Quiosque do Cidadão, Programa SERPRO de Inclusão Digital
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(PSID), Observatório Nacional de Inclusão Digital, Centros de Inclusão Digital,


Ministérios das Comunicações – Telecentros, Territórios Digitais, Cidades Digitais,
Pontos de Cultura – Cultura Digital, Programa Nacional de Apoio à Inclusão Digital
nas Comunidades (Telecentros.BR), Centro de Difusão de Tecnologia e Conhecimento
(CDTC) e Inclusão Digital para a Juventude Rural.
A execução desses programas fica sob a responsabilidade de diversos
Ministérios, da Casa Civil, de Secretarias do Governo Federal e da Fundação Banco do
Brasil. Vocês poderão conhecer cada programa na íntegra acessando o site
www.inclusaodigital.gov.br.

Programas e projetos para a educação escolar


Os programas da Política de Inclusão Digital voltados especificamente para as
escolas são: Programa Nacional de Informação na Educação (ProInfo), Programa
Computador Portátil para Professores, Programa Banda Larga nas Escolas e Projeto Um
Computador Por Aluno (PROUCA). Vamos descrevê-los abaixo.

Quadro 8 – Programas da política de inclusão digital


Programa/Projeto Descrição
Programa Nacional Programa desenvolvido pela Secretaria de Educação a Distância
de Informação na (SEED), por meio do Departamento de Infraestrutura Tecnológica
Educação (DITEC), em parceria com as Secretarias de Educação Estaduais e
(PROINFO) Municipais. Adotando o princípio da descentralização o programa
possui em cada Unidade da Federação uma Coordenação Estadual
do ProInfo, com a função de introduzir o uso das tecnologias de
informação e comunicação nas escolas da rede pública, além de
articular as atividades desenvolvidas sob sua jurisdição, em especial
as ações dos Núcleos de Tecnologia Educacional (NTEs).
Programa O Programa tem o objetivo de criar condições para facilitar a
Computador aquisição de computadores portáteis para professores da rede
Portátil para pública e privada da educação básica, ensino profissional e superior,
Professores que sejam credenciadas junto ao MEC, a baixo custo e condições
diferenciadas de empréstimo. Esse programa é de responsabilidade
da Presidência da República, Ministérios da Educação, Ministério da
Ciência e Tecnologia e Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
(ECT).
Programa Banda Programa Banda Larga nas Escolas, lançado no dia 04 de abril de
Larga nas 2008 pelo Governo Federal, objetiva conectar todas as escolas
Escolas públicas urbanas à Internet, rede mundial de computadores, por meio
de tecnologias que propiciem qualidade, velocidade e serviços para
melhorar o ensino público no País. A gestão do Programa é feita em
conjunto pelo Ministério da Educação (MEC) e pela Agência
Nacional de Telecomunicações (ANATEL), em parceria com o
Ministério das Comunicações (MCOM), o Ministério do
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Planejamento (MPOG) e com as Secretarias de Educação Estaduais


e Municipais.
Projeto Um Projeto com objetivo de promover a inclusão digital nas escolas das
Computador Por redes públicas de ensino estadual, distrital ou municipal, mediante a
Aluno aquisição de computadores portáteis novos, com conteúdos
(PROUCA) pedagógicos, voltados para os processos de ensino e aprendizagem.
Esse projeto teve vigência até 31 de julho de 2012, iniciado em 2010.
Fonte: <www.inclusaodigital.gov.br>. Acesso em: 10 ago. 2012. Quadro elaborado para este trabalho.

Desses programas, o PROINFO pode ser considerado como o carro chefe, pois
é por meio dele que o Governo Federal busca aproximar o cotidiano escolar dos
avanços tecnológicos viabilizando a diversificação de espaços e metodologias no
processo de construção e transmissão do conhecimento com a utilização das TICs.
Para a implementação desse programa algumas etapas foram e/ou são
realizadas, como: a sensibilização dos agentes educacionais para compreensão da
importância do Programa para aprimoramento da educação nacional; a aquisição e
distribuição de equipamentos e softwares; a formação de professores multiplicadores,
mediante realização de cursos de pós-graduação lato sensu; a implantação dos
Núcleos de Tecnologia Educacional (NTE).
Os Núcleos de Tecnologia Educacional (NTE) são estruturados junto às
Secretarias de Educação dos Estados com as atribuições de capacitar professores e
técnicos de suporte; oferecer suporte pedagógico e técnico às escolas; desenvolver
experiências educacionais e realizar pesquisas.
Embora as boas intenções do Programa, é comum encontrarmos escolas,
principalmente de comunidades mais carentes, que recebem os computadores, mas
não podem utilizá-los devido a ausência de telefone para conectar à Internet, por faltar
professores qualificados para trabalhar na sala de tecnologia ou por não possuir
espaço adequado. Outra situação comum é a falta de condições da escola para repor
equipamentos ou periféricos que vão se estragando.
Portanto, não basta equipar as escolas ou mesmo criar meios para a aquisição
ou acesso a um computador, é preciso disponibilizar recursos voltados para a
manutenção desses espaços e equipamentos.
E quanto aos programas voltados para a sociedade como um todo, para que a
inclusão digital seja uma realidade, é preciso democratizar o acesso ao domínio das
ferramentas e aos serviços, por exemplo, tornando-os menos onerosos ao orçamento
das famílias mais carentes.
A inclusão social a partir da inclusão digital ainda é um tema pouco estudado
no Brasil, e é bom lembrar
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que esse tema pode ser importante objeto de análise no campo das políticas
públicas.

Outros programas, projetos e ações que compõem o Plano de Desenvolvimento


da Educação
No início desta unidade, falamos sobre o Plano de Desenvolvimento da
Educação (PDE) lançado em 2007, pelo Governo Lula. Os temas tratados nos itens 5.3,
5.4, 5.5, e 5.6 são integrantes do PDE e colocamos em destaque em virtude de serem
abrangentes e importantes para a educação nacional.
Contudo, muitas outras ações compõem o PDE e fazem parte do cotidiano
escolar atual, como: o Programa Mais Educação, o Programa Nacional do Livro
Didático (PNLD), o Programa Nacional da Biblioteca Escolar (PNBE), o Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), Transporte Escolar, PDE-Interativo,
Acessibilidade e outros mais.
Chegamos ao final de
nossa disciplina!
Mas, ainda, façam Para você ter uma visão abrangente e atual sobre os
mais uma leitura para programas e ações do PDE faça a leitura do documento
intitulado Sinopse das Ações do Ministério da Educação
complementar seus – setembro de 2011, acessando o endereço abaixo:
conhecimentos e como base < po rtal . mec.gov.br/ index. php? opt ion= com_
banners&task...bid...>
de atividade avaliativa.
Afinal, nunca é demais saber!!!:

Material complementar
SAVIANI, Dermeval. O Plano de Desenvolvimento da Educação:
análise do projeto do MEC. Educação e Sociedade, Campinas, vol.
28, n. 100 - Especial, p. 1231-1255, out. 2007.
<Disponível em: http://www.cedes.unicamp.br>.
Acesso em: 17 ago. 2012.

Na trajetória deste estudo pudemos compreender que as políticas públicas são


ações voltadas para o atendimento de diversas demandas sociais e que o atendimento
a tais demandas é de responsabilidade do Estado.
Do conceito mais amplo de política pública, vimos que este possui tanto o
significado de ação do Estado no atendimento às necessidades sociais básicas da
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população como o de área de conhecimento.


Compreendemos que as políticas públicas têm uma estreita relação com as
políticas sociais, que por sua vez surgem dos conflitos entre capital e trabalho que
geram, para a classe trabalhadora, demandas de atendimento as necessidades sociais
básicas não atendidas de forma suficiente pela política salarial.
Como área de conhecimento está ligada às Ciências Sociais se desdobrando em
disciplina acadêmica de diferentes cursos e, também, se caracteriza como uma
categoria de análise. Isto quer dizer que a política pública é um objeto de pesquisa.
Vimos que a realização da política pública ocorre num ciclo, num processo, que
passa pelos momentos de formulação da agenda, de implementação e monitoramento
e de avaliação.
Nas pesquisas sobre políticas públicas, cada momento do ciclo torna-se objeto
de análise e para a realização da análise vimos que existem diferentes métodos ou
modelos. Fica na decisão do pesquisador trabalhar com um ou outro método,
conforme sua perspectiva teórico-metodológica.
Estudamos que a Educação é um direito de todos e é dever do Estado oferecê-
la. Portanto, a Educação se constitui numa política pública de caráter social. Dessa
forma, vimos as principais legislações vigentes que regem a educação, estudamos
sobre planos e documentos que orientam o processo educacional e, destacamos
diversos programas e/ou políticas governamentais que atualmente são
implementados na educação básica e no ensino superior.
Vocês puderam perceber que a informática e o uso das tecnologias estão
contemplados nas políticas educacionais. Assim, prezados(as) alunos(as), na área da
educação vocês têm a possibilidade de atuar nos espaços escolares ou instituições afins
com base na sua habilitação e/ou, também, atuar como pesquisadores dessas ações
colaborando para a produção científica da área das políticas públicas.
Sucesso a todos(as)!!!!
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REFERÊNCIAS

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Associados, 1997.

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