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História da Educação
ÍNDICE
COMCLUSÃO.............................................................................................................................30
BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................................30
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História da Educação
CAPÍTULO I
Na Antigüidade Oriental.
Em documentos escritos, que nos chegaram das mais antigas civilizações orientais, temos exemplos
de que a educação Institucionalizada se iniciou com a especialização das funções sociais, no sentido da
profissionalização de atividades. Entre os habitantes da Suméria, entre assírios e babilônios, o aprendizado
artesanal pela iniciação numa determinada profissão, como as de pedreiro, carreiro, ferreiro, etc., chegou a
ser objeto de prescrições legais, ou melhor, de determinações do governo real. Mas, ao mesmo tempo, essa
diferenciação progressiva das funções sociais criava necessidades profissionais de outro tipo, talvez de
aprendizagem mais refinada, mais longa, mais difícil. De um lado, em todas as civilizações orientais, o culto
religioso passou a ter função social das mais importantes, não só de natureza mística ou espiritual, mas ainda
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História da Educação
Os hebreus, o chamado povo escolhido de Deus, cuja literatura religiosa perdura até nossos dias,
condicionando o comportamento religioso de uma grande parcela do mundo ocidental, só tiveram
instituições escolares depois do cativeiro da Babilônia. Há no Talmude (século II da era cristã) referências
explícitas a escolas, inclusive à elementar, básica e comum a todas as crianças.
Isso não impediu, porém, que o Deuteronômio - que coroa o Pentateuco, série de cinco livros de
Moisés - tenha várias regras e prescrições de educação, a serem seguida pelos pais. Era a educação patriarcal,
no selo da família, sob a responsabilidade do chefe familiar: "Escuta, Israel, estas palavras que te mando hoje
e que estarão em teu coração; nelas instruirás teus filhos e as meditarás em tua casa e andando pelo caminho,
ao ires dormir e ao te levantares".
Já os provérbios exaltam o poder educativo das punições: "Não apartes o castigo de teu filho; se o surrares
com a férula, não morrerá. Sacudirás a vara e o livrarás e à sua alma do inferno". "A vara e a coerção
comunicam a sabedoria..."
Esta concepção do castigo físico, como estímulo de aprendizagem, é comum a todas as organizações
nacionais antigas, de cunho autocrático, cristalizadas e estáveis em sua estrutura social. As mudanças, então,
eram apenas as provocadas pelas guerras, que, entretanto, não alteravam a estrutura básica, mudando apenas
os homens que compunham as castas dominantes e que, geralmente, passavam a provir dos conquistadores.
Os Impérios se sucediam, mas a sociedade, estruturalmente, não sofria grandes alterações.
Na Antigüidade Clássica.
Há sempre uma certa distância entre as idéias e as práticas pedagógicas, no sentido de que as
primeiras tendem a indicar o que deveria ser a educação, ao passo que as segundas são propriamente a
educação institucionalizada, como ente real, concreto, numa determinada área e em certo momento histórico.
Nas civilizações orientais, em virtude da própria organização social que as caracterizou, tal distância era
muito menor. Podemos apreciá-la, entretanto, em proporções bem maiores na Grécia, onde as Idéias
educacionais, decorrentes da própria filosofia política e moral dos gregos, convertem-se no meio pelo qual
seriam atingidos os fins que aquela filosofia propunha. Pela primeira vez na história, as idéias educacionais
organizavam-se numa doutrina cujo objetivo não era justificar a prática, mas transformá-la, dando-lhe outro
sentido e outra orientação. Surgia, assim, como que um reformismo filosófico da educação.
Vários fatores foram apontados para explicar este fato novo e próprio da antigüidade clássica. Renê
Hubert declara que a pedagogia nasceu na Grécia ao mesmo tempo que a filosofia, ou melhor ainda, como
um aspecto essencial da filosofia. Entre os pensadores da Grécia pré-socrática, ela teria sido, de fato, ao
mesmo tempo, uma especulação e uma educação ou iniciação, o que se pode interpretar como aprendizagem
prática do pensar e especular filosoficamente. Com Sócrates a educação se constitui em objeto da filosofia.
Estabelecendo, assim, a origem da pedagogia como um sistema de idéias e teorias educacionais, explica-se o
chamado milagre grego da razão especulativa e lógica – em contraposição ao misticismo do pensamento ori-
ental - como uma evolução, em que as Idéias desse mesmo pensamento oriental despojaram-se de seus
aspectos afetivo-religiosos, para se submeterem a um processo crítico-lógico. O nascimento da filosofia
helênica coincide com a grande crise provocada por causas demográficas (colonização e emigração),
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econômicas (enriquecimento pelo comércio e pela produção artesanal a cargo de escravos), e políticas
(esforço de sistematização lógica das crenças em que se apoiava o poder das grandes famílias, sempre
ameaçadas, em seus supostos direitos de classe dominante, pelas tiranias demagógicas).
A partir desse processo de racionalização de situações sociais definidas, conseguiram os filósofos
gregos ultrapassar a fase oriental das cosmogonias teológicas, para realizar a metafísica sistemática e a ética
dialética. É a situação que encontramos de 500 a 300 anos antes de Cristo, quando alguns pensadores deposi-
taram as maiores esperanças na educação, que consideravam o recurso para resolver problemas morais,
políticos e sociais do mundo helênico, onde os fatos sociais, econômicos e políticos aprofundavam
contradições e exacerbavam conflitos. Propuseram, esses filósofos, com bastante clareza, meios e fins
educacionais, foram compreendidos e admirados por muitos de seus contemporâneos e, se um deles,
Sócrates, foi condenado, outros, como Platão e Aristóteles, foram amados e admirados. Todavia, suas idéias
pedagógicas foram admiradas apenas estritamente, não tiveram qualquer resultado prático, isto é, não foram
postas à, prova em suas conseqüências ativas e concretas. "O conhecimento é a virtude", pregara Sócrates,
que, assim, fazia do sábio um homem necessariamente virtuoso porque conhecer seria saber o que é a
virtude, e esta, uma vez conhecida, resultaria como necessidade certa. Daí a busca do conhecimento como o
grande meio de reforma social e, portanto, como o fim da educação. Devendo ser conseqüência do poder de
pensamento, tal reforma impunha, como tarefa educativa por excelência, a necessidade de aprender a utilizar
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plebéia, mas que veio a ocupar os mais altos postos da República. No que diz respeito à educação, chegou a
escrever um livro sobre a das crianças, em que defendia o velho estilo da educação doméstica, e verberava a
modificação dos costumes e a invasão do cosmopolitismo em Roma. Caracterizou-se, assim, como um
tradicionalista, inveterado inimigo da Influência cultural grega e das escolas que se abriam com professores
orientais, que ele considerava fatores de amolecimento do caráter e de desromanização de sua pátria.
Inutilmente o Senado Romano fez passar leis de proteção às tradições e combateu a nova educação
institucional que surgia; as mudanças que se operavam na sociedade romana tinham causas mais profundas e
eficiência mais poderosa do que os ideais conservadores de um pensador e político, mesmo do porte de
Catão, o Antigo.
Já no período de transição da República para o Império, no primeiro século antes de Cristo, Cícero,
que não era apenas um admirador da cultura helênica, mas visitou, ele próprio, as cidades gregas e nelas
estudou, soube perceber muito bem que tal cultura, ao contrário do que supusera Catão, não estava sendo
transplantada para Roma e ali substituindo o que lhe era original. O que estava acontecendo era uma
assimilação do helenismo, em vista das necessidades e problemas da nova sociedade que o Imperialismo de
Roma estava construindo. Eis por que, em vez do ideal socrático da serenidade filosófica, em vez das
sutilezas dialéticas do individualismo sofista, formula-se o ideal da sabedoria política, concretizada no
orador, o homem público por excelência dos últimos tempos republicanos. No De Oratore (livro 1) diz
Por entre os conflitos e contradições que caracterizaram o mundo romano, na época da decadência
dos Césares, surgia, pouco a pouco, como uma esperança, o Cristianismo, religião de plebeus e escravos. Em
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História da Educação
face do fracasso de um difícil estoicismo de elite que se tentara aclimatar em Roma, facilmente suplantado
pelo epicurismo sensual de quase todos, o ideal cristão de fraternidade humana, da unicidade e
universalidade divinas, de responsabilidade pessoal em face de uma vida futura, extraterrena, de
simplicidade, moralidade, humanitarismo e caridade, não tardaria a conquistar, aos poucos, adeptos em todas
as classes sociais, até que Constantino, percebendo a força moral que as novas idéias religiosas adquiriam
sobre todo o povo, podendo, por isso, contrapor-se eficientemente aos desregramentos das classes
dominantes, oficializou a nova religião que passou, desde logo, a dominar as instituições educacionais do
império. A educação foi, portanto, o meio eficiente de consolidação do cristianismo como reforma ou
transformação social. E tão eficiente foi que, no momento em que os chamados povos bárbaros invadiram e
dominaram o decadente império, o cristianismo foi a única força capaz de os conter, apaziguar e lentamente
trazer para a civilização que os gregos iniciaram, os romanos consolidaram e as contradições do Império
quase levaram à destruição total.
Em face de tudo isso, não é de admirar que os líderes cristãos se tenham preocupado com a educação
do povo, meio de perpetuar a nova ordem de valores espirituais - religiosos e morais - cujo poder social se
mostrava tão operante. As Constituições Apostólicas surgidas logo no quarto século da era cristã, são disso
uma prova, pois eram um manual de ensino e instrução destinado tanto ao clero quanto aos leigos. Santo
Agostinho (354-430), no seu Tratado da Doutrina Cristã, indicou, neste sentido, todo um plano de educação
Na Renascença Humanista.
Desde o século XIII, de um lado, por Influência árabe, através da Espanha e pelo contacto de
Constantinopla com o Oriente Próximo, onde se refugiara durante os séculos de obscurantismo medieval, a
remanescência da cultura greco-romana, e de outro lado, por fatores como o desenvolvimento das cidades
européias em que se concentravam o comércio e o artesanato manufatureiro, o desenvolvimento dos estados
nacionais, com o progressivo crescimento do poder central dos reis em detrimento do que detinham os
senhores feudais, as cruzadas e a intensificação das relações entre os povos cristãos e os não-cristãos,
profundas mudanças culturais começaram a operar-se na Europa, colimando, nos séculos XV e XVI, com a
Renascença e o Humanismo, responsáveis, em parte, pelo individualismo filosófico-científico de Bacon e
Descartes e pela Reforma religiosa. Dizemos em parte porque, na realidade, todos esses quatro movimentos e
atitudes culturais, que estão à base do pensamento contemporâneo, tiveram causas bem mais profundas nas
mudanças de estrutura política e econômica, causas que, depois do milênio de relativa estabilidade medieval,
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História da Educação
se desencadearam em sucessão ininterrupta, pois apesar dos cinco séculos já decorridos a partir do seu início,
ainda não culminaram em qualquer equilíbrio que se mantivesse por mais de 50 anos.
Por tais razões e para melhor podermos compreender os ideais educacionais e as teorias pedagógicas
formulados pela renascença humanista, cabe aqui resumir as principais características da cultura humana no
período renascentista, o que, até certo ponto, equivale a caracterizar o próprio humanismo de então. Em
outro trabalho, com uma longa documentação bibliográfico-histórica, indicamos as seguintes dominantes
dessa cultura:
Do ponto de vista das idéias educacionais, o humanismo começou pelas realizações concretas, entre
as quais podemos citar as escolas de Vittorino da Feltre e Guarino de Verona, a primeira em Mântua
(1423-1446) e a segunda em Ferrara (1429-1460). Ambas se destinavam à nobreza e à alta burguesia das
redondezas, desenvolvendo o estudo dos clássicos latinos e da história antiga, a prática das "boas maneiras",
próprias da nobreza, de exercícios físicos, etc., e serviam como escolas preparatórias primeiro esboço das
escolas secundárias para os estudos superiores. Ambas se preocuparam com a didática e desenvolveram
métodos de ensino capazes de despertar maior interesse nos alunos, tornando-lhes as atividades mais amenas
e agradáveis.
Johann Sturm (1507-1589) foi quem organizou, de fato, a primeira escola secundária de tipo
humanista em Estrasburgo (1536-1582), que foi como um modelo para as escolas desse tipo criadas na
Alemanha e que, em suas linhas mestras, perduraram até quase nossos dias. Com 10 graus ou anos de
estudos, destinava-se a escola, primordialmente, ao ensino das letras, principalmente das letras clássicas e,
segundo afirmara Sturni, tinha por fim desenvolver "a piedade, o conhecimento e a arte de falar".
"Conhecimento, pureza e ornamento da linguagem, tais são os elementos da educação científica." Era, corno
diria Monroe, (1) a realização do humanismo em seu sentido mais estreito, o qual atendia apenas a um dos
aspectos do movimento humanista que caracterizou a Renascença em todos os setores da atividade humana.
Dizem alguns escritores católicos C) que Sturm representa a transição do catolicismo ao protestantismo, tal a
maneira por que graduou o ensino e pretendeu fazer a Interpretação dos clássicos e das escrituras sagradas,
de forma semelhante por que Pestalozzi representaria a transição do protestantismo ao racionalismo
pedagógico.
Justamente reagindo contra a realização desse humanismo estreito nas escolas, espécie de novo
escolasticismo de natureza literária, que procurava estudar, em si, as obras clássicas dos romanos e dos
gregos, imitá-las e segui-las, quais modelos únicos e eternos, fugindo, portanto, ao verdadeiro espírito do
renascentismo humanista, todo ele embebido da realidade e das conquistas do tempo, vários pensadores e
escritores do século XVI tiveram que se voltar para as questões educacionais, a fim de reformulá-las em
termos de sua época. Entre estes, o primeiro digno de nota foi, sem dúvida, Erasmo de Rotterdam
(1467-1536) autor celebrado do Elogio da Loucura, saborosa e decisiva sátira contra a filosofia escolástica,
dos Colóquios, que constituem urna descrição e uma apreciação irônica das práticas e costumes da vida
monástica, do Método nos Estudos e da Primeira Educação Liberal dos Meninos. O humanismo de Erasmo
era realista e partia do princípio de que se devia procurar nos clássicos romanos e gregos o espírito e o
sentido de sua obra, menos ou mais do que perder-se nos estudos de formas, em si despidas de valor, pois
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História da Educação
eram apenas o veículo, o meio de realização mental e artística. O valor contemporâneo dos antigos estaria em
que eles souberam observar e apreender o seu mundo dele extraindo toda a literatura de que foram capazes. 0
mesmo dever-se-ia fazer no momento em que para eles se retornava. Para isso, todo um processo
educacional seria preciso, sem violências e sem árduas tarefas, "Assim como o corpo é nutrido, em pequenas
doses, distribuídas por intervalos, também o espírito da criança deve ser nutrido com conhecimentos
apropriados à sua debilidade e apresentados aos poucos." Preocupou-se com os mestres e deles exigiu cultura
e educação de nível superior, além das qualidades naturais para o trato com crianças e adolescentes. 0
humanismo postulava, pois, tôda uma nova concepção de meios e fins educacionais, sendo que os estudos
clássicos seriam apenas um meio, um processo, aliado a outros, na verdadeira formação humanística das
crianças e dos jovens. A Natureza, a História, a vida contemporânea seriam outros tantos meios indispen-
sáveis.
François Rabelais (1483-1553), que, como Erasmo, fora monge, também se pronunciou por um
humanismo realista em suas obras Vida de Gargântua e Feitos Heróicos de Pantagruel, partindo do ponto de
vista de que se pode obter dos clássicos reais valores de vida. Ridicularizou o medievalismo, o formalismo
pseudo-humanista e o ensino como era ministrado em seu tempo, advogando uma educação física, moral,
social, religiosa e intelectual que se baseasse na compreensão do espírito dos melhores escritores e mestres
do renascimento. Em virtude do tom caricaturesco com que escreveu e a que não faltam premeditados
Os mesmos fatores que, de modo geral e impreciso, invocamos para explicar o humanismo
renascentista, servem também para explicar a reforma religiosa, mais conhecida sob o nome de
protestantismo, porque, sob certos aspectos, ela foi, também, uma renascença. Desde Wycliffe e John Huss,
nos séculos XIII e XIV, vinha-se tentando um retorno à pureza do cristianismo primitivo, que, dizia-se, fora
deturpado durante a Idade Média. Esse retorno, em última análise, era uma liberação que significava muito
mais do que a simples revolta contra determinada autoridade religiosa, e do que a conquista cultural de certa
autonomia da consciência individual. Era o coroamento de toda uma nova ordem política, social e econômica
que se estabelecia na Europa. Já mesmo nos séculos áureos da cultura medieval (XIII e XIV) se fizera sentir,
de forma nítida, o conflito entre o poder crescente dos reis e príncipes - motivado pela decadência do
feudalismo e pela progressiva urbanização burguesa - e o poder-temporal da Igreja romana. Uma reforma
religiosa, de independência e quebra da unidade dessa Igreja, quando tal conflito se tornara mais intenso,
seria um fator a ser aproveitado pelos Estados mais ansiosos de se libertarem, do domínio eclesiástico e da
interferência destes negócios civis, interferência essa quê era acompanhada de cobrança de dízimos e outras
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História da Educação
taxações em favor da Igreja. Estavam neste caso os príncipes alemães, cujos Estados carreavam para Roma
grande parte de suas rendas e meios financeiros. Além disso, por influência e força da mesma Igreja,
sentiam-se ainda presos a um império que, até certo ponto, lhes dificultava o próprio desenvolvimento
nacional. Nessas condições, a liberdade de consciência religiosa seria um grande instrumento de mais ampla
e fundamental liberação econômica e política. Para ela, do ponto de vista cultural, contribuía todo o espírito
humanista da Renascença.
Daí, o recurso à Bíblia e aos primeiros escritos dos antigos padres, tão praticado nas escolas
protestantes de teologia. E, em vez da superficialidade formal do humanismo restrito, era para o reformismo
protestante que se encaminhava tudo o que de mais profundamente humano se escrevera nos albores da Re-
nascença. Tanto os primeiros escritos de Lutero, quanto os de Calvino e os de Zwinglio estavam
impregnados de humanismo, pois o que se tentava, em última análise, pelo livre exame, era a humanização
da religião.
Lutero, logo depois de sua excomunhão, em 1520, declarava que “tudo quanto fosse contrário à
razão, seria certamente, em maior grau, contrário a Deus” porque a razão seria “a principal de todas
as coisas, a melhor, algo divino”. Em conexão com estas idéias que se ligavam, por sua vez, à teoria do
livre exame dos textos religiosos, formou-se outra que dizia respeito à criação de sistemas universais de
educação, sob a responsabilidade do Estado, cujo bem-estar estaria diretamente ligado à educação dos
A contra-reforma católica
A história tem sido, até nossos dias, uma atestante inevitável de que as mudanças e reformas sociais
não se operam sem lutas, sem contra-reações que, até certo ponto, atenuam os efeitos revolucionários ou
reformantes, embora não os anulem. No final, as próprias forças agentes da contra-reação ajustam-se às
novas situações, adquirindo sentido novo, isto é, transformando-se a si próprias.
Não era de admirar, pois, que a reforma religiosa, desencadeada no Centro e no Norte da Europa,
pelos motivos já expostos, provocasse também uma contra-reação que, de início, por causas políticas e
econômicas que se lhe associaram, tomou a forma de uma encarniçada e impiedosa luta guerreira que afetou
toda a Europa. Assumindo inicialmente o aspecto de luta político-religiosa entre estados católicos e estados
protestantes, já no final de seu longo período perdia o aspecto religioso, para se limitar ao político, tendo-se
então visto, entre outras coisas, por exemplo, a França católica aliar-se a alguns países protestantes.
Nestas condições, os líderes católicos, mais esclarecidos pelo que lhes revelavam os próprios fatos,
retornaram sobre o próprio sentido das doutrinas católico-cristãs, já agora com o objetivo de lhes manter os
valores morais e religiosos, livres - tanto quanto possível - de seus compromissos temporais, para só
conservar o poder moral e espiritual da fé e da organização religiosa da Igreja. E, então, a contra-reforma
assumiu o aspecto de luta pacífica, reivindicatória da pureza e da originalidade cristã das doutrinas católicas
romanas. Para tal fim, foram utilizados muitos dos próprios meios protestantes, entre os quais a educação,
Quem melhor consubstanciou esse aspecto da contra-reforma foram os padres jesuítas. Inácio de
Loiola, nos meados do século XVI, ao fundar sua ordem religiosa, soube compreender que os fatores de
mudança que levaram à contra-reforma protestante, não contradiziam fundamentalmente o princípio de
autoridade e disciplina religiosas, se tal princípio se limitasse ao campo espiritual da fé e da moral, porque
Isso, até certo ponto, poderia ser um meio de ordem e organização das nações, que, nascidas no período de
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for. mação renascentista, sofriam o impacto de um individualismo sem pelas, resultante da quebra da ordem
e dos valores antigos. O próprio protestantismo veio a compreender isso e, já no fim de sua vida, Lutero
clamava por autoridade e disciplina religiosas nos Estados protestantes.
Como objetivo supremo dos jesuítas, aparecia, em primeiro plano, o combate às heresias
protestantes, não mais pelos meios materiais da luta armada e inquisitorial, mas pela pregação e o debate
dos valores espirituais da Igreja. Em segundo plano surgia a conversão dos pagãos existentes nos novos
mundos descobertos por espanhóis e portugueses, que, se catolizados, reforçariam o poder espiritual do
Papado.
Mas a pregação e o debate supunham a preparação de líderes e, daí, a importância da educação. Para
este fim, na Constituição da Companhia de Jesus, dividida em dez partes, a quarta - Ratio Studiorum (sistema
de estudos) - dedicava-se ao problema educacional. Por tal sistema verifica-se que os jesuítas não tinham em
vista apenas a formação de líderes de batina, mas também e sobretudo de líderes leigos. Não pretendiam uma
simples educação religiosa, mas a mais avançada educação secular do seu tempo, a serviço da fé. Tiveram,
por isso, pouco interesse pelo ensino primário e o das massas populares. O ensino secundário, propedêutico,
e o ensino superior foram o seu campo de ação. Numa época em que o feudalismo ruíra e os privilégios da
nobreza tendiam a reduzir-se, em que uma nova classe social - a dos burgueses -começava a afirmar-se cada
vez mais poderosamente pela detenção crescente das fontes e meios de produção, os jesuítas não procuraram
O realismo pedagógico.
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Talvez tenha sido otimista demais, mas soube tomar consciência do pensamento de sua época e,
interpretando-o, lançar as bases de um grande e profundo movimento de Idéias e práticas que seriam
amplamente utilizadas nos séculos seguintes, Imprimindo uma orientação menos formalística e mais concreta
e humana ao pensamento pedagógico e aos processos de instrução escolar. Não foi o criador do método
científico, mas soube formulá-lo e divulgá-lo. Deu ênfase ao estudo da natureza como base de todo o
progresso científico, Iniciando esse estudo a partir da observação e da experiência, pois o estudo dos fatos se-
ria o começo do processo de pensar. Reafirmou o espírito renascentista. no domínio da ciência, recusando
toda autoridade em favor da pesquisa livre. Em conseqüência, ao tratar do progresso dos estudos e da
aprendizagem, teve de repudiar os defeitos escolares do seu tempo, Inclusive a aprendizagem formal e verbal
do humanismo estreito, recomendando a Inclusão do conhecimento científico nos programas escolares,
acompanhado de facilidades de pesquisa e prática.
Diante disso não tardaria Wolfgang Ratke (1571-1635), a tentar a primeira formulação do que, em
história da educação, seria chamado de "realismo sensorial" e que se caracterizaria, sobretudo, pelo
postulado de que o conhecimento das coisas concretas deveria preceder o estudo de palavras a respeito das
coisas.
Como complemento das regras de ensino, mais os seguintes princípios foram formulados por
Wolfgang Ratke: a procura da ordem natural para segui-la; o ensino de uma só coisa de cada vez e de
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relações entre percepções, estabeleceu uma base para as doutrinas do sensorialismo realista. Compreendendo
o processo de formação dos hábitos, viu que a educação, menos ou mais (to que o armazenamento de
Informações e conhecimentos, seria a aquisição de um equipamento de hábitos, conforme a seguinte escala
de valores: saúde, virtude, sabedoria, serenidade e, aprendizagem mental, sendo que esta consistiria apenas
em aprender a pensar e a usar a razão e não em informação de conhecimentos ditados ou já adquiridos.
Sem esta contribuição de Locke, a Didaffica Magna de Comênio talvez não tivesse tido a
repercussão que alcançou, porque a obra de Locke, embora não diretamente relacionada com a pedagogia
comeniana, que repousava na graduação do ensino, de acordo com a natureza da criança, completou-a e
tornou-a viável.
O naturalismo pedagógico.
Depois das Cruzadas, começara na Europa a constituição dos Estados nacionais e o fortalecimento
progressivo do poder central dos reis, que tiveram como seus aliados, capazes de lhes financiar os exércitos,
os comerciantes e banqueiros burgueses das cidades, para os quais os desregramentos absolutistas e
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nova direção. Nestas condições, era possível modificar, transformar o próprio homem. E daí, a importância
da educação e a necessidade de a organizar de modo a permitir sua transformação numa força de mudança
da estrutura da sociedade injusta e cruel daqueles tempos. O idealismo racionalista deu margem à
"Ilustração" e à política dos déspotas esclarecidos (Pombal, Haranda, Frederico I1 da Prússia, Catarina II,
etc.); o naturalismo racional foi a ideologia dos enciclopedistas é da Revolução Francesa, bem como da
nova pedagogia dos séculos XVIII e XIX.
Jean Jacques Rousseau (1712-1778) foi quem deu expressão mais viva ao naturalismo pedagógico e
quem, em França, mareou o fim da "ilustração", com sua filosofia natural do afeto. Viu que a erudição
meramente racionalista em nada contribuíra para melhorar a humanidade e acrescentou, ao materialismo
sensualista já prevalente entre os enciclopedistas, algo de mais humano,- a natureza do afeto, da
personalidade e do cultivo da vida interna e individual. Daí, no Emílio, seu grande romance educacional, a
tese de que a educação começa a partir da natureza da criança, e que, portanto, a vida moral deve ser um
prolongamento da vida biológica, não podendo o ideal ético ser mais do que a expressão das necessidades e
dos instintos e tendências que constituem a vontade de viver. Sua teoria de que os homens nascem
naturalmente bons e de que a sociedade os corrompe repousa justamente no fato de pensar Rousseau que o
intelectualismo, a política e a moral convencionais contrariam, deturpam e se opõem às condições
biológico-naturais do comportamento humano, onde as tendências e os instintos, isto é, a afetividade, têm
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compreensão de uma Idéia já latente no educando. Mas, na formulação dos métodos didáticos, Pestalozzi é
elementarista, o que, em suma, é uma posição indutivista resultante do empiricismo. Daí, prescrever ele que
se deve ensinar o aluno a considerar cada objeto uma unidade em si, independentemente dos demais objetos
que lhe parecem associados, pelo conhecimento da forma, isto é, de suas proporções e dimensões.
Finalmente, decompõe a própria intuição em elementos que constituem o seu conteúdo, por agrupamento
associativo. Tais elementos seriam os sons, as formas e a quantidade. Em função de tal decomposição do
conteúdo da intuição, ficava quase determinado o programa da escola elementar, que seria, justamente,
desenvolver o agrupamento associativo de tais elementos exercitados, respectivamente, pelos sons falados e
cantados, pela geometria, a caligrafia e o desenho, e pelo, número na contagem e no cálculo.
O que mais importa, nesta ligeira notícia de Pestalozzi, é assinalar que ele tentava partir da criança
para o ensino e não vice-versa, isto é, da predeterminação do conteúdo do ensino para a criança.
Em Friedrich Froebel (1782-1852) vamos encontrar uma tentativa de dar ao naturalismo pedagógico,
tal qual o encontramos em Rousseau e Pestalozzi, um timbre religioso, para isso contribuindo, em parte, a
teologia protestante e, em parte, o pan-espiritualismo para o qual descambara certo ramo da filosofia Idea-
lista depois de Leibniz e Espinosa. Daí seus postulados filosófico-pedagógicos: unidade fundamental da
existência da natureza e do homem no absoluto que é o espírito autoconsciente; o propósito de toda a
existência é revelar Deus; a natureza revela Deus à criança; os dotes naturais, tanto quanto os símbolos,
CAPÍTULO II
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Foi durante o século XVIII que a Alemanha deu os primeiros passos para a organização de um
sistema nacional de educação, capaz de atender às necessidades e exigências coletivas de escolas. Por essa
época, duas tendências se revelavam e se realizavam no sistema escolar alemão. Uma, representada pelo
Gymnasium, era o resultado direto do humanismo clássico em sentido restrito; a outra, representada pela
Realschule, correspondia a um resultado da reforma protestante. De acordo com essas tendências, isto é,
satisfazendo a ambas, o Estado foi gradualmente assumindo o controle da educação. Frederico Guilherme 1
(1713-1740) lançou os fundamentos da organização escolar oficial, apoiando as idéias de Francke, criador
das primeiras Volkschulen para as classes populares, das escolas latinas para os que podiam pagar, e das
escolas para a nobreza, além de um Seminarium Praeceptorium para a preparação de professores. Em 1713,
Frederico Guilherme sanciona um código regulador do ensino, onde se recomenda a freqüência escolar geral.
Em 1737, são baixados os Princípios Reguladores, lei escolar básica da Prússia Oriental, em que se
prescreviam normas para a construção de prédios escolares, para o pagamento de professores, taxação,
pagamento de anuidades e auxílio governamental.
Frederico, o Grande (1740-1786), pelos Regulamentos Gerais das Escolas, datados de 1763, foi
quem realmente fundou o sistema prussiano de ensino elementar, estabelecendo a freqüência obrigatória às
escolas para crianças de cinco a treze anos. Além disso, a lei -regulava a formação dos professores e sua
remuneração. E, mais ainda, estabelecia métodos, textos, regime disciplinar, etc. Proclamando a tolerância
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História da Educação
CAPÍTULO III
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História da Educação
a República para formar o cidadão e realizar a democracia". Daí a volta ao laicismo, a gratuidade do ensino
primário e sua compulsoriedade a partir de 1882.
Como vimos, Frederico, o Grande, na segunda metade do século XVIII, dera os primeiros passos
decisivos para a criação de um sistema nacional de educação na Prússia. Quando este pais foi derrotado em
Viena, por Napoleão, no ano de 1806, Fichte viu na educação a força regeneradora e capaz de arrebatar a
nação ao estado de prostração a que fôra reduzida.
Já em 1808 era criado um Departamento de Instrução Pública, sob a direção de Von Humboldt, com
a cooperação de Fichte e outros, os quais revolucionaram o sistema prussiano de escolas elementares, não só
em extensão, mas também em profundidade, introduzindo-lhes os métodos pestalozzianos. Em 1817, esse
Departamento foi elevado à categoria de Ministério. Estava, já então, praticamente organizado o ensino
elementar que se ia desenvolver na Alemanha: a "Volkschule", com oito anos de curso, divididos em dois
períodos de 5 e 3 anos, respectivamente, sendo que os últimos podiam ser substituídos pela "Preparan-
denanstalt", espécie de escola preparatória para as escolas do ensino normal, das quais se sala para o
"Lehrerseminar", escolas de três anos, destinadas à formação de professores primários. Isto quer dizer que já
no primeiro quartel do século XIX julgava-se necessário um mínimo de cinco anos primários, mais três de
preparatórios, e ainda três de estudos profissionais, isto é, onze anos de escolaridade, para formar um
professor primário.
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História da Educação
continuaram as mesmas lutas, já agora visando ao ideal do sufrágio universal e de um regime plenamente
democrático-liberal; ao mesmo tempo, o socialismo fazia sua primeira aparição na Inglaterra como força
político-social, através da organização das trade-unions, forma que assumiu o sindicalismo inglês.
Naturalmente, todos esses fatos políticos, sociais e econômicos não podiam deixar de repercutir
sobre as idéias e o sistema educacional Inglês. A extensão do direito do sufrágio, por exemplo, e o ideal do
sufrágio universal, ditados pela necessidade de representação política das forças econômicas burguesas, não
se poderiam realizar-se o povo não adquirisse a capacidade de votar. À falta de uma teoria estatal e uma
teoria filosófica que levassem a uma organização sistemática de escolas públicas, surgiu o
movimento filantrópico, de 1800 a 1883. Esse movimento repousava sobre o princípio de uma rígida
estratificação social, que sempre foi uma característica inglesa, mas, de acordo com as tendências da época,
reconhecia que as classes tinham, todas, direitos inegáveis, inclusive à educação e à representação política.
Assim, a pobreza era considerada uma condição permanente, embora com certos direitos. Para assegurá-los,
formaram-se várias sociedades destinadas a garantir os fundos necessários à concessão desse mínimo às
classes inferiores. O sistema de escolas monitoriais, de Bell-Lancaster, tem, assim, uma explicação, pois,
permitindo atribuir a um só professor grande número de alunos (os alunos mais adiantados e aplicados eram
aproveitados como monitores, Isto é, como aprendizes-professores, em relação aos mais jovens e mais
atrasados, tornava possível quase realizar a educação universal sem despesas excessivamente grandes.
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História da Educação
continuaram a exercer sua influência, tendo-se transplantado o sistema monitorial de Lancaster, que, no ano
de 1806, esteve, em pessoa, em Nova York. Como na Inglaterra, o sistema lancasteriano teve a virtude de
demonstrar as vantagens e a economia de um sistema de escolas comuns, para todos. As escolas infantis,
segundo o modelo de Robert 0wen, realizado na Escócia em 1799, também foram introduzidas em Boston,
Nova York e outras cidades, podendo ser consideradas como antecessoras dos primeiros graus primários das
escolas com atividade manuais, posteriores.
Pouco a pouco foi surgindo a idéia de sistematizar o aparelhamento escolar existente, sem quebra de
relativa autonomia e responsabilidade locais.
Em 1837, o Estado de Massachusetts, sob a influência de Horace Mann, secretário (o primeiro) do
Conselho de Educação, iniciou o movimento pela criação de um sistema estadual de educação pública. de
modo que lima série de desorganizados e heterogêneos sistemas de escolas de comunidade foi transformada
em uma organização, cujas bases e diretrizes eram fixadas pelo Estado. Connecticut e Rhode Island, de 1838
a 1849, sob a liderança de Henry Barnard, lançaram-se à Mesma obra, sendo, aos poucos, Imitados pelos
demais estados. É Interessante observar que os sistemas estaduais norte-americanos nunca foram
exclusivistas, no sentido administrativo, tendo mesmo consagrado o livre direito de escolha e de organização
da escola, embora determinassem a obrigatoriedade escolar e a obrigatoriedade coletiva de manutenção das
escolas, bem como, de outro lado, uma política de mínimos escolares a serem realizados por todas as escolas,
CAPÍTULO IV
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História da Educação
EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA
A nova escola e a escola ativa. A chamada "escola nova" abarcou várias correntes pedagógicas.
Reagindo contra a organização tradicional do ensino em compartimentos estanques, o médico e educador
belga Ovide Decroly criou o método globalizador, que se concentrava no princípio do interesse da criança, já
o francês Célestin Freinet valorizou o ensino baseado em métodos ativos e no trabalho de equipe como meio
de formação do educando, centralizando as atividades escolares em torno do uso da imprensa na escola.
A partir do princípio de que o ensino simultâneo não levava em conta as diversas aptidões e tipos de
inteligência dos alunos, procurou-se estabelecer a "diferenciação pedagógica" em graus e ciclos sucessivos,
da qual já se havia cogitado anteriormente. Nesse sentido, o psicólogo suíço Edouard Claparède, que deu a
Educação socialista. Só no século XX foi elaborada uma doutrina marxista para a educação. A
maior figura da pedagogia marxista foi o soviético Anton Seinenovitch Makarenko, que criou as "escolas da
comunidade". Outros pensadores de orientação marxista, como o francês Louis Alditisser, analisaram o papel
da escola tradicional que, ao inculcar no educando o sistema de valores das classes sociais dominantes, seria
responsável pela perpetuação das desigualdades sociais.
Na União Soviética, após a morte de Stalin, em 1953, as mudanças na política oficial afetaram dire-
tamente a escola. A idéia central passou a ser o estreitamento dos laços entre a escola e a vida, em todos os
níveis. Reviveu a idéia da educação politécnica, mas no sentido de preparar estudantes secundários para o
trabalho especializado na indústria e na agricultura.
Essa orientação, que vigorou no período do governo de Nikita Khruchev, foi substituída por uma
política de universalização da educação secundária, com ênfase na criação de escolas secundárias técnicas.
No entanto, os ganhos quantitativos dessa política não tiveram correspondência na melhoria da qualidade de
ensino.
Na China, desde a revolução comunista até à morte de Mao Zedong (Mao Tsé-tung), em 1976, a
educação teve como tônica a doutrinação ideológica em todos os campos e níveis, que ocupou, por lei, dez
por cento do currículo escolar. 0 novo governo deslocou a ênfase para a modernização, principal bandeira do
regime pós-Mao. Todo o esforço educacional passou a ser dirigido no sentido das "quatro modernizações"
(indústria, agricultura, defesa nacional e ciência e tecnologia).
Educação liberadora. Para o brasileiro Paulo Freire o objetivo da educação deveria ser a liberação
do oprimido, que lhe daria meios de transformar a realidade social a sua volta mediante a “conscientização”
(conhecimento crítico do mundo). No período 1958/1964 no Brasil e depois de 1964 no Chile, Paulo Freire
pôs em prática, com bons resultados, seu método de alfabetização de adultos. A eficácia e a validade do
método estribam-se no fato de partir da realidade do alfabetizando, do seu universo, do valor pragmático das
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História da Educação
coisas e fatos de sua vida cotidiana, de suas situações existenciais. Obedece às normas metodológicas e
lingüísticas, mas vai além delas, ao desafiar o homem ou a mulher que se alfabetizam a se apropriarem do
código escrito com vistas a sua politização. O trabalho de Paulo Freire pode ser visto não apenas como um
método de alfabetização, mas como um processo de conscientização, por levar em conta a natureza política
da educação.
Educação e tecnologia. Todas as correntes citadas abordaram, sob ângulos diversos, os problemas
gerados pelo desenvolvimento tecnológico no âmbito da educação. As novas situações criadas pela
sociedade pós-industrial, o avanço contínuo da informática e dos meios de comunicação e a complexidade
crescente dos novos conhecimentos e técnicas acentuaram o conflito entre dois tipos de orientação
educacional: a educação científica e a humanista. Além disso, a desigualdade econômica entre as nações
industrializadas e os países subdesenvolvidos constituiu um obstáculo a um planejamento global da
educação, que sempre foi reflexo das condições socioeconômicas.
Todavia, a educação no século XX procurou assumir um caráter internacional. Em 1919, surgiu o
Bureau International des Écoles Nouvelles (Escritório Internacional das Escolas Novas). Expandiram-se os
centros de estudos de âmbito internacional; sucederam-se os congressos, assembléias e simpósios sobre
educação; lançaram-se várias publicações especializadas na matéria.
CAPÍTULO V
EDUCAÇÃO NO BRASIL
Período colonial.
A história da educação tio Brasil iniciou-se com a chegada dos padres jesuítas em 1549. Visando à
propagação da fé, lançaram as bases de um vasto sistema educacional, que se desenvolveu progressivamente
com a expansão territorial da colônia. Agindo com rapidez, estabeleceram-se no litoral e daí penetraram nas
aldeias indígenas, fundando conventos e colégios. por dois séculos, foram os principais educadores do Brasil,
ao lado de outras ordens religiosas que também mantiveram escolas, como a dos franciscanos.
Nas escolas elementares, base do sistema colonial de educação, que funcionavam onde quer que
existisse um convento, os índios aprendiam a ler, escrever, contar e a falar o português. Nelas também eram
instruídos os filhos dos colonos. A cultura dos nativos foi, pouco a pouco, substituída pelas idéias dos
jesuítas. Desse ponto de vista, os missionários atuaram como elementos desintegradores das culturas
não-européias.
Na família patriarcal, a única força que se opunha à ação educadora dos jesuítas era a dos senhores
de engenho, cuja autoridade se exercia não somente sobre os escravos como sobre suas esposas e filhos. Esse
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História da Educação
estado de submissão facilitava o trabalho dos jesuítas, que também procuravam submetê-los à autoridade da
igreja. A família patriarcal seguia, assim, as tradições portuguesas.
Humanistas por excelência, os Jesuítas procuravam transmitir aos discípulos o gosto pelas atividades
literárias e acadêmicas, (de acordo com a concepção de “ homem culto” vigente em Portugal. A falta de
interesse pelas atividades técnicas e científicas marcou a educação colonial, por sua vez moldada pela da me-
trópole. Principiando pelas escolas de leitura e escrita, não pararam aí os jesuítas, nem mesmo no primeiro
século, pois já havia, então, cursos de humanidades em seus colégios do Rio de Janeiro, Bahia e
Pernambuco. Os colégios que exerceram maior influência foram os de Todos os Santos, na Bahia, no qual
Antônio Vieira foi educado, e o de São Sebastião, no Rio de janeiro. Ambos apresentavam o sistema
educacional jesuíta em sua forma mais completa, desde o curso de humanidades até o de teologia e ciências.
Eram os centros, por excelência, de formação dos líderes religiosos.
No sistema de ensino dos Jesuítas, ao curso de humanidades seguia-se o de artes (filosofia e ciência).
Os cursos que preparavam para as profissões liberais só existiam na Europa, e os estudantes brasileiros
procuravam geralmente a Universidade de Coimbra, famosa pelos cursos de ciências jurídicas e teológicas, e
que teve, por isso, grande importância na formação da elite cultural brasileira.
Desde a expulsão dos jesuítas em 1759 até a transferência da corte portuguesa para o Brasil, a
educação da colônia passou por um período de desagregação e decadência. A chegada do príncipe regente,
D. João, modificou a política educacional que o governo luso adotava em relação ao Brasil. A fundação de
várias instituições culturais deu novo impulso à educação: a Imprensa Régia, a Biblioteca Nacional e um
museu, e, sobretudo, as escolas de ensino superior, a Escola Naval, a Escola Militar, cursos de medicina no
Rio de Janeiro e na Bahia, e nesta última cursos de agricultura, química e desenho técnico. Essas escolas
rompiam com a tradição de ensino excessivamente literário, vigente na época dos jesuítas. Ficaram, porém,
circunscritas quase exclusivamente ao Rio de janeiro e à Bahia. O resto da colônia continuava mergulhado
no mesmo atraso. Esse período foi um dos mais importantes na evolução cultural do Brasil, pois nele foram
lançadas as bases de notáveis instituições culturais.
Império.
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História da Educação
faculdade; para o povo, a escola primária, os liceus de artes e ofícios e a escola normal. A educação
superior, inaugurada com os cursos jurídicos de Olinda e São Paulo, em 1827, teve corno característica
durante muito tempo o sistema de faculdades isoladas de tipo profissional, que formam bacharéis e doutores
com o fim de conferir privilégios à elite. A evolução do sistema educativo prosseguiu lenta, ressaltando-se a
ação do visconde do Rio Branco, que reorganizou a Escola Central, denominada desde então Escola
Politécnica, fundando três cursos básicos, engenharia, mineralogia e artes e manufaturas. Em 1875, criou,
também, a Escola de Minas, em Ouro Preto.
República Velha.
Com a proclamação da república, a política educacional não se modificou, pelo menos até a primeira
guerra mundial. O tipo de mentalidade formado no período colonial e no império persistiu: o mesmo gosto
pela literatura e retórica, o mesmo formalismo. Excetuando-se a reforma de Benjamin Constant, influenciada
por idéias positivistas, foi esse o espírito que marcou a constituição brasileira de 1891, no tocante à
legislação educacional. A reforma de Benjamim Constant estabelecia a primazia dos estudos científicos
sobre os de letras, com a introdução das ciências físicas e naturais já a partir das classes elementares.
Após a primeira guerra mundial, a “escola nova” penetrou no Brasil: Antônio Sampaio Dória, em
Era Vargas.
República populista.
De acordo com os dispositivos constitucionais de 1946, foi apresentado à Câmara dos Deputados,
em 1948, o projeto de diretrizes e bases da educação nacional, elaborado por uma comissão de educadores de
diversas tendências ideológicas, entre os quais figuravam o padre Leonel Franca, Alceu Amoroso Lima,
Almeida Júnior e Lourenço Filho. O projeto concedia maior autonomia aos estados na organização de seus
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História da Educação
sistemas de ensino, dava flexibilidade aos cursos, estabelecia a articulação dos cursos de grau médio e o
currículo mínimo obrigatório, além de uma conceituação objetiva da autonomia universitária.
O ensino no Brasil era organizado em níveis: primário, médio e superior. Pela lei 5.692, o ensino de
nível primário fundiu-se ao antigo ginásio e passou a constituir e ensino de 1º grau; o ensino médio
transformou-se em ensino de 2º grau. O sentido básico da reforma residiu na atribuição de capacidade
habilitadora ao ensino médio no campo profissional, e não somente na preparação para o ensino superior.
Considerando a realidade brasileira, a reforma de 1971 visava à formação de quadros profissionais dentro do
processo de ensino geral, sem incompatibilização com a possibilidade de continuação dos estudos em níveis
superiores.
Nas quatro primeiras séries do primeiro grau, as matérias de um "núcleo comum" nacional e obriga-
tório passaram a ser tratadas como atividades (comunicação e expressão, estudos sociais e ciências), in-
cluindo-se ainda uma parte diversificada, variável de acordo com as condições locais. Nas quatro últimas
séries do primeiro grau, as atividades do núcleo comum foram abordadas como "áreas de estudo". Nas três
séries do segundo grau, o currículo se apresentou sob a forma de disciplinas, dosadas em cada caso de acordo
Redemocratização.
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BIBLIOGAFIA
Enciclopédia Barsa
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