You are on page 1of 7
DESEJO E PRAZERY Giles Dee Apresentagao por Francois Ewald © texto que s va ler no € apenas um inédito. Ele tem algo de imo, de secreto, de confidencial. Tratase de uma série de nota, clasficadas de Aa H, que Gills Deleuze me hava confiado para que eu as ‘ransmitase a Michel Foucault. Isto foi em 1977, Foucault acabava de publicar A sontade de slr, introducio a uma Hisiia da sacaldade qe ecolocava em xequeo jogo da categoria nas quate refletnm ae tas de liberacdo sexual. A recepro deste lito, mal compreencldo, deuse 20 ‘mesmo tempo em que Foucault atravessiva uma especie de ee, todo ‘mpenhado em sir de si mesmo e converterse Aquilo que consticuré a problemtca de O so das passe O euidado des Giles Deleuze, sensvel 80 que percebia ser um sofrimento do amigo, redige entio esse nots: ‘elas faz um balango de suas convergéncls e divergéncias com Foucault [Nose trata de uma critica, multo menos de uma polémica, mas de um ‘convte — interamente atravessdo pela sinceridade da amizade — para retomar um diloge interrompido Gilles Deleuze e Michel Foucault se conheceram em 1962 em Clermont-Ferrand, na casa de jules Vuillemin, Delewe acabava de publicar seu Nise filofiae Foucault entavaa nomeacio deste (contra Roger {DELEUAECie“Dsepas "Foca ajour ns Mage nS 1s Garaudy) na Universidade de Clermont-Ferrand, onde cle proprio ensinata Fo inicio de uma grande amizade. Deleuze ccnvida Foucault ao elbquio| ‘de Royaumont, dedicalo a Niewsche, de cya organiacio foraencarreyu, Em 1966 eles sasumem juntos aresponsabldade pela versio francens da nova edigio Coll:Montinari de Nieushe, na editora Gallimard. Quando Deleuze publica em 1969 Dijreya retire Ligica do enti, Fuca faz uma resenha no Nowe! Oburvaeure uth artigo a revista Ctgue one, segundo uma formula que se tornaré célebre, ele decara “Mas un dia, tales, oséculo seri delewriano” Delewe, por saver, faz uma resenha de A rquolgia da sab na revista Critique No pxmaio de 68, jntase a Foucault no Grupo Infmagio Pisies (GLP). Bles io vision juntos com Ireqiencia nas manifestagdes antijudiciériae do inieio dos anos 70. A ublicagio de O anti em 1972, “extraordinaia profusio de noges nora ede conceitos surpress’, fz de Deleuze um dos grandes pensadores do psmaio de 68. Em seyuida a ess puiblicagio, Ltr dedicathe um ‘nimnero, com uma importante conversa onde os dois fsotos se propaem dine conjuntamenteo novo extatsto do intelectual, ce sen traballse de sua rlagio com as tas. 0 anti, publica tr anos antes de Viger ‘unis, fo sem diva uma obra constrangedora para Foucault. que poco depois propae sua prépria versio do Edipo ("A verdade ¢ as formas _jiicas"), um texto um tema que serio retomados por ele diversas vee Em 1877, Foucault prefacia a edigao americana de O entildipe , nas ‘ategorias que serio as mesmas de teu sltimo trabalho, fr dele uma “Inrodugio a vida so fascist”. Deleuze resena Vigiar¢punir na revista Chtquen, 348, Depois 0 didlogo x intrrompe. Foucault ndo tornard a ‘encontrar Delewze. Um de seus ities deagjos, quanclo hoxptlizado em Junho de 1984, ser rexel Essas notas so portanto 0 iltimo texto da troca FoucaultDelewe, uum chamado que Gcou sem resposta. Para slém da amizade entre dois homens, nelas encontramos wm modelo 20 qual podriamos aspirar no idlogo entre dois ilbsofos. [Aseria biog doa de Delete (tambo) ero se ‘quoter tea minal aed bral. 0), 4 NOTAS DE DELEUZE a Uma das teses essenciais de Vigiar ¢ Punit® dizia respeito aos Lispostvos de poder Ela me pareciaestencial sob its aspects: 1) Em si mesma e em relagio a certo exquerdismo ("gauchisme"), note a profunds novidade politica desaconcepo do poder por oposicio ‘toda teora do Eatado, 2) relagio x Michel, ela era extends, pois permitadhe uluapassar a dualidade das formagdesdiscursivase das formagdes no discurivas, que subsist mA Angulo do Saber, eexpliear como os doistipos de formagbes, se distribuiam ou se artiulavam segmento por segmento (sem que um foe teduzido an outro, sem que fossem levadosse assemelharem ete) [io se trativa de suprimira dstingo, mas de encontrar uma razio de suas selagies. ‘5 Ela era também essencil gragas a uma conseqiéncia preci: ot lisposiivos de poder nso procediam por repreao e nem por Weologia. FHivia portanto ruptura com umaalternativa que era maisou menosacita por todo mundo. Em ver de repressio ou ideologia, VP formava um onceito de normalzacio ede dsciplinas 8 Pareciame que esa tese sobre os dxposivos de poder Unha duas alguma contradtérias, mas stints, De qualquer direges, de mane modo, estes dspostivoseram iredutiveisa um aparelho de Estado, Porm, deacordo com uma dite¢o, els consistiam numa muliplicidade dius, heterogénea, a dos microdispostvos. De acordo com outra diregio, cles emetam a um digrama, atm espécie de miquina abstrataimanente 3 todo o campo social (0 panoptismo, por exemplo, dfinido pela funcio eral de ver sem servisto,apicivel a uma mulplicidade qualquer). Eram cotongedeas nts (AS UP WS enti cei no il como duas diregies de microanalis, igualmente importantes, pois a ‘segunda mostrava que Michel no x contentava com 1 “diserinagio™ © Olivo A Vontade de Saber dé. um novo passo em relagioa SP. © ponto evista permaneceexatamenteete:nem repress, nem deoogi. Poem, «para dio em poucaspalavras, osdispositivos de poder ni se cntentam fem ser normalizantes, mas tendem a ser consituintes (da sexualidade les mio se contentam em formar sberes, meio constitutvos de verdade (erdae do poder). indo mais se veferem a “categorie apesar de tido sega (oar, deni come objet de confnanente), ma. ta categoria dita pot (ead). Et in ponte € confirma pels envi dae a La Quinine Li A ese resp, ota, Ero er havo er USum nov argo ta and. i peri e uc Michel retoras um andlogo de "woete contain © por que periment le a necenidade de rama a verdad, mesmo lend dla um nov conceit? Pnso que exasfalesqueatex, ini so minhas, sero levmtadenguanto Miche other expend mal D> Para mim, uma primeira questio era maturea da mlcroanslise que Michel estabelecia desde VP. Entre "micro" e “macro” a diferenga no era evidentemente de tmanho, no sentido em que microdispostivos seviam concermentes& pequenios grupos, pos a familia, por exemplo, io tem menos extensio que qualquer outra formagio, Tratese menos ainda de tum dualismo extsinseco, posh mnicrodiapositnos imanentes xo aparelho de Estado assim como hi segmentos de aparetho de Estado que penetram \ambém os microdisposiivos. No ha dualismo extrnseco, mas imanéncin completa das duas dimenSes, Seria entio precisa compreender que a dliferenca € de escala? Uma pigina de VS (182 no original) recusa explicitamente esa interpretacso, Mas essa signa parece remeter o macro 20 modelo estratégico 0 micro ao modelo tic Iso incomods, pois me parece que os microdispostvs, para Michel, tm toda uma dimensio estratégie, sobretudo x levse em conta ease dingrama do qual so cles 16 inseparivels. Uma outra direc seria das"relagdesde fore, vistascomo faguilo que determina o micro (ef, notadamente, a entrevista publicada fi La Quinsain). Mas Michel creo eu, no desenvolveu ainda esse ponte, tua concepeo original das relagdes de forea, © que ele denomina relagio fe forca, deve serum conceito to novo quanto todo 0 rest. "Em todo caso, hi dferenca de natorea, heterogeneidade entre mi cro € macro, 0 que de modo algum eelui a imanéncia dos dois. Mas, no limite, minha questo seria. a seguinte: est dferenga de natureza permite {que se fale anda em dispostios de poder? A nocio de Estado no €aplicvel ho nivel de uma microandlise, pois, como diz Michel, nio se trata de tminiaturizar 6 Fst, Mas seria maie aplicivel a nogio de poder? Nao & também cla a miniagurizacio de um conceito global? “Ghego, assim, a sinha primera dferenga com Michel, atualente Se, com Félix Guattariy flo em agenclamento de deseo, por nio estar euro de que os microdisposivos possam sr deseritosem termos de poder. Para mim, agenciamento de desejo marca que © desejo jamats & wma dleterminagao “natural”, nem “espontinea”. Por exemplo,feudalidade & lum agenciamento que pdcem jogo novasrelacbes com o animal (0 cavalo), coma terra, coma desterritorialiagio (a cortida do caalero, a Cruzads), ‘com as mulheres (oatnoreaalleresco)...ete Ageniciamentos totalmente Toxcos, mas sempre historieamente asinalvels. De minha parte dria que fo desejo cireula nese agenciamento de heterogéncos, nessa expécie de “simbione” desejo wne-se a um agenciamento determinado; hi um co fancionamento, Seguramente, um agenciamento de descjo comport ispostvos de poder (poderes feudai, por exemplo), mas sera preciso ‘Siulos entre osdiferentes componentes do agenciamento. Coaforme um primero cixo, pde-se descobrir nos genciamentos de desejo os estado ‘He coisas crunciagbes (o que estara em conformidade coma distingo {eita por Michel dos dois tipos de formagdes ou de multipicidades) Conforme um outro cixo, etiam distngvidas as trvtorialidades ow reterritoriaizagdes e 08 movimentos de desterritorializagao que ‘desencaciam um agenciamento (por exemplo, todos os movimentos de desteritorialzagio que arrebatam a Kgejs 9 cavalara, os camponeses). em que se operam re- (Os dsposiivos de poder surgiriam em toda par

You might also like