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Capítulo XV d’O PRINCIPEZINHO, Antoine de Saint-Exupéry, Ed. Agir.

Para quem não pode ter um momento de reflexão sobre a utilidade e valor prático daquilo que
andamos a buscar nas escolas e nas universidades, porque lhe é difícil ter um interlocutor com
um suporte de sensibilidade intelectual com muitos bytes, há uma solução: O Principezinho, de
Antoine de Saint-Exupéry.
Da inocência infantil ao amor genuíno, o texto discorre sobre diferentes temas das humanidades,
nomeadamente, o conhecimento, ou sabedoria e o seu valor prático ao serviço daqueles que o
buscam seriamente, apontando que quem é realmente sábio não se gaba da sua sabedoria e não
se agarra a outros ou a alguma coisa para tornar útil e válido o seu conhecimento, ou a sua
sabedoria, como alguns o fazem. Na verdade, os que se gabam de serem sábios são, por assim
dizer, pseudo-sábios. Pois, o conhecimento adquirido por alguém revela-se na atitude, na
partilha, na aplicação prática, não na ostentação do diploma e do adjectivo ligado à área
profissional e académica que seguimos.
Santex, como também é conhecido este escritor, antecipadamente, sugeriu-nos imaginar e
reflectir sobre a existência de pseudo-sábios, pessoas que aparentam ser sábios, que dizem saber
alguma coisa, mas quando postos à prova, nada sabem. Muitos desses indivíduos vestem
máscaras de certas profissões, como a de geógrafo, por exemplo, porém, o seu trabalho ao invés
de proporcionar ganhos à sociedade para qual trabalha ou presta serviços, importuna-a com
perdas, algumas vezes, de soma avultada de dinheiro em materiais que não pode usar em nome
da profissão que ostenta – porque não sabe –, outras tantas vezes, em benesses pelo cargo que
ocupa com o rótulo de “profissional”, usufruindo ordenados desmesurados.
A mensagem que o capítulo XV de O Principezinho, especificamente, transmite leva-nos à
reflexão a respeito do que andamos a fazer nas escolas e nas universidades. Não perdemos
tempo em carteiras para, posteriormente, andarmos a contar a outros como foi que aguentamos
as provas e professores chatos durante a nossa formação. Não nos graduamos em engenharia
eléctrica para que seja outra pessoa a resolver o problema de luz em nossa casa, em nosso
bairro. Não tiramos curso de enfermagem para andar aos berros com os utentes dos hospitais.
Males que assolam diversas sociedades, que também aqui em Angola se tem registos.
Quantas vezes, por exemplo, em contexto de sala de aula vários professores andam a contar aos
alunos o que têm, o que fazem ou fizeram nas suas vidas ao invés de realmente exercerem a
profissão de ensinar? Quantos doentes deixaram de ir aos hospitais porque tiveram experiências
arrepiantes e tristes com as enfermeiras que gritam com eles no contacto inicial para consultas?
Quantos psicólogos dão mostras de que são eles que realmente precisam de médicos? São vários
relatos tristes que ouvimos de muitos que ocupam determinados cargos na função pública – ou
privada – porque possuem um diploma ou certificado para o exercício de uma profissão cujos
trabalhos, porém, são feitos por tios, primos, irmãos ou amigos. Todavia, a moda é dizer: “eu
sou formado”!
Por Vanêzio Francisco

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