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De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana.

- Duas formas de abordagem da cidade:

1. Análises e diagnósticos que enfatizam aspectos desagregadores do processo.


Abordagens sociotécnicas que enfatizam elementos quantitativos. Primeiro enfatiza o
caos urbano a partir do crescimento.

2.Sucessão de imagens, conflitos signos simulacros, não lugares, redes, ponto de


encontro virtuais. Uma abordagem que enfatiza uma perspectiva pós moderna. No
segundo enfatiza-se as rupturas.

Obs. Marc Auge - O não lugar é diametralmente oposto ao lar, à residência, ao espaço
personalizado. É representado pelos espaços públicos de rápida circulação, como
aeroportos, rodoviárias, estações de metrô, e pelos meios de transporte - mas também
pelas grandes cadeias de hotéis e supermercados.

- Embora sejam diferentes as perspectivas, ambas levam para conclusões semelhantes


no âmbito da cultura urbana. (deterioração dos espaços e equipamentos públicos,
privatização da vida coletiva, segregação e evitação de contatos, ambientes de
confinamento, redes e situações de violência.)

- As duas formas de abordagem apontam para a perspectiva de uma sociedade global


(todas as cidades são semelhantes por seus equipamentos e instituições)

- Gentrificação como uma proposta de adaptar os espaços a uma lógica de consumo,


consumo cultural, consumo do lugar)

- Os efeitos homogenizadores do sistema mundial em contraponto com as culturas


locais, que se manifesta através de uma narrativa da dominação (Marshall Salihns - ilhas
de história)

- A cidade muitas vezes equivocadamente é pensada enquanto ausente dos atores


sociais, muitas vezes abordada a parte de seus moradores ou como resultado de forças
econômicas. um cenário desprovido de ações, atividades, pontos de encontro, redes de
sociabilidade.

- em contra partida os habitantes da cidade manifestam as suas multiplas redes,


sociabilidades, estilos de vida, deslocamentos, conflitos, elementos estes que dão vida a
cidade.

- diferentes de muitas práticas que não são visíveis na leitura política, a etnografia surge
para resgatar essa dimensão subjetiva. a incorporação dos atores e práticas é que
permitem a introdução de outros pontos de vista sobre a cidade para além do lucro e
poder.
- Esta é a proposição da antropologia através da etnografia, compreendendo a
importância das grandes cidades para análise e reflexão. Não uma percepção ampla
proveniente de uma fragmentação multicultural, mas sistemas de trocas em outra escala
arranjos, experiências de diferentes matizes com parceiros até então impensáveis.

- O modo de operar da etnografia permite captar aspectos da dinâmica urbana que


passariam desapercebidos pelas percepções sociotécnicas.

- A relação entre a teoria do pesquisador e as idéias nativas.

- A importância dos núcleos de significado: estranhamento em relação ao objeto e a


cultura de origem, esquemas conceituais que nos acompanham, que não são
abandonadas pelo fato de estarmos em outra cultura, uma experiência que no contato
com a diferença tem efeitos no pesquisador.

- O pesquisador e o nativo são dotados dos mesmos processos cognitivos, pois ambos
participam do mesmo plano dos fenômenos fundamentais da vida do espírito (levi
Strauss) estes processos cognitivos permitem o contato em uma instancia mais
profunda, uma comunhão para além das diferenças culturais.

- A etnografia não se confunde ou se reduz a uma técnica - No contato podemos nos


servir de diferentes abordagens. - Ela poderia ser definida como uma forma de acercar-
se, aprender com o diferentes, algo que esta para além de apenas um conjunto de
procedimentos.

- A natureza da explicação etnográfica tem como base o "insight", a "sacada", que nos
permite interpretar aqueles dados que nos foram oferecidos de maneira fragmentada. O
resultado deste encontro entre pesquisador/pesquisado carrega as marcas de ambos.

- pensando em uma etnografia da cidade sobre a cidade e sua dinâmica, o olhar de perto
e de dentro é capaz de manifestar aspectos que estão excluídos de uma perspectiva de
fora e de longe representada em abordagem que não enfatizam estabelecer relação com
os habitantes da cidade.

- A idéia de uma cidade com indivíduos isolados e solitários nega o potencial manifesto
na vida dos indivíduos, e todas as possibilidades que são constituídas por eles no
cotidiano da cidade. O simples acompanhar o citadino manifestara parte deste complexo
que é a vida, suas relações, espaços freqüentados, redes, comportamentos, trajetos, tudo
isso ocorrendo na paisagem da cidade e acessando os equipamentos por ela propostos.
(ônibus, trem, hotéis, etc.).

- o autor fala sobre a Modalidade de passagem - percorrer a cidade, suas vielas, observar
os espaços, personagens, os habitos, conflitos, expedientes, se deixar imbuir pela
fragmentação que a sucessão de imagens e situações produz.

- Ao contrario da passagem, o olhar de perto e de dentro observa os arranjos dos


próprios atores sociais, não é um trajeto constituído pelo pesquisador sobre a cidade,
mas seguir os trajetos constituídos pelos citadinos, observar as mais diferentes esferas,
estabelecer encontros, trocas.

- O olhar de fora e de longe da pouco importância aos atores sociais e sua tramas.

- renunciar a uma percepção de cidade em sua totalidade não significa cair no seu
oposto, a fragmentação.

- tentação da aldeia- a totalidade é percebida em múltiplos planos e escalas.

- para lidar com estas distâncias é preciso situar o foco nem tão de perto que se
confunda, e nem tão de longe a ponto de distinguir um recorte abrangente, mas
indecifrável desprovido de sentido.

- O autor ainda desenvolveu algumas categorias que descreve como podem se


apresentar alguns desses recortes na paisagem urbana – pedaço, mancha, trajeto, circuito

- A noção de pedaço evoca laços de pertencimento e estabelecimentos de fronteiras. -


Modalidade do pedaço - Não é de casa, não é estranho, mas é próximo por compartilhar
de uma sociabilidade compartilhada. - Modalidade do pedaço - Não é de casa, não é
estranho, mas é próximo por compartilhar de uma sociabilidade compartilhada.

- Mas pode estar inserida em alguma mancha, de maior consolidação e visibilidade na


paisagem; esta, por sua vez, comporta vários trajetos como resultado das escolhas que
propicia a seus freqüentadores. A mancha, ao contrário, sempre aglutinada em torno de
um ou mais estabelecimentos, apresenta uma implantação mais estável tanto na
paisagem como no imaginário.

- Já circuito, que aparece como uma categoria capaz de dar conta de um regime de
trocas e encontros no contexto mais amplo e diversificado da cidade (e até para fora
dela), pode englobar pedaços e trajetos particularizados. Circuito de cinema, cirquito de
acumpunturistas, circuito de astrólogos, circuito de capoeira, circuito religioso)

- Essas categorias constituem uma gramática que permite classificar e descrever a


multiplicidade das escolhas e os ritmos da dinâmica urbana não centrado nas escolhas
de indivíduos, mas em arranjos mais formais em cujo interior se dão essas escolhas.

- Por fim, Magnani concluí que a meta é seguir em busca de uma lógica mais geral. Do
olhar de perto e de dentro, próprio da etnografia, para um olhar distanciado, em direção,
aí sim, a uma antropologia da cidade,

- Deve-se procurar desvelar a presença de princípios mais abrangentes e estruturas de


mais longa duração. É somente por referência a planos e modelos mais amplos que se
pode transcender, incorporando-o, o domínio em que se movem os atores sociais,
imersos em seus próprios arranjos, ainda que coletivos.

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