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Phil Hine
Originalmente publicado em Chaos International #11
Traduzido por @mwonix
Eu me lembro muito bem da primeira fez que eu fui fodido. Esgotado e relaxado
após uma tarde inteira de sexo, deitado na cama do meu namorado e proferi as
palavras fatais “Faça qualquer coisa comigo”. Do canto do meu olho eu o vi
pegando uma garrafa de vidro em formato de unicórnio, cheio de um líquido
amarelado (óleo de amêndoa doce), e eu sabia o que estava prestes a
acontecer. Eu não fiquei com medo, apenas uma profunda sensação de
relaxamento. Não doeu, mas no momento da penetração, um EU morreu e
outro renasceu. Uma “iniciação”, certamente, e uma iniciação que me deu
insights que eu tentarei colocar em forma de um artigo coerente agora.
Que sentimentos se agitaram em mim ao ser fodido? Duas palavras talvez
descreva tudo melhor – abandono e posse. Ao ser fodido, eu estou
abandonando as defesas do meu ego, me abrindo em um nível profundo à outra
pessoa, e deixando de lado as “máscaras” socialmente trabalhadas que eu
vestia para lidar com o mundo. Eu me abandono ao prazer total, e ao prazer do
meu amado. Eu viajo entre as barreiras do êxtase e da agonia, até que eu estou
gemendo e chorando incontrolavelmente; fogo líquido na minha barriga e um
formigamento feroz que parece mais perceptível nas pontas dos meus dedos.
Até o momento eu não tive um orgasmo apenas sendo fodido, mas na maior
parte do tempo ejaculação e orgasmo são duas experiências bem diferentes pra
mim, e a ejaculação peniana parece sem importância em comparação com as
sensações que parecem querer rasgar meu corpo quando meu amante está
dentro de mim. O orgasmo dele dentro de mim me trás um sentimento de
profunda paz e satisfação. Eu me sinto como se tivesse sido revitalizado, e posso
encarar o mundo irradiando um brilho interno. Lamento profundamente, nesses
tempos de conscientização da AIDS, não poder receber o sêmen do meu amante
dentro de mim. No entanto, é como se eu tivesse me “inabandonando” para o
outro, reafirmando o meu senso de mim.
Para os homens gays, a polaridade não precisa ser tão simplista como um
parceiro assumindo um papel “feminino” - você pode reconhecer o feminino e
ainda assim dar o seu pênis para outro homem. Você pode celebrar os
elementos masculinos da mente e ainda assim receber o pênis de outro homem
dentro de você. Deusas e Deuses são estão sujeitos às mesmas restrições que os
seres humanos - afinal, qual seria o ponto se eles estivessem? Impor as nossas
limitações estreitas sobre eles é perder o ponto de todo o exercício de invocá-
los. Eu os invoco para ir além das minhas limitações humanas - para me unir
com algo maior, fora do meu ego. Às vezes o meu amante se torna um Deus ou
uma Deusa para mim - ou isso é muito estranho pra você?
Para concluir, então, me atrevo a afirmar que ser fodido é, para mim, uma
experiência intensamente sagrada; que a espiritualidade está na celebração do
prazer e não na negação do corpo. Dar o meu pau pra outro homem é agradável
também, é claro, mas de um modo diferente, e as minhas reflexões sobre isso
terão que esperar uma próxima oportunidade.