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FACULDADE DE MEDICINA
GOIÂNIA-GO
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS – UFG
FACULDADE DE MEDICINA
GOIÂNIA-GO
2018
Sumário
INTRODUÇÃO ............................................................................................. Error! Bookmark not defined.
1. ALIMENTAÇÃO BRASILEIRA .......................................................................................................... 5
1.1 SAL....................................................................................................................................................... 5
1.1.1 Contextualização Histórica e Atual do Consumo de Sal e Impactos Sobre o Sistema de Saúde... 5
1.1.2 CHS Aplicada ao consumo excessivo de sal ................................................................................. 5
1.2 AÇÚCAR............................................................................................................................................ 11
1.2.1 O que é o açúcar .......................................................................................................................... 11
1.2.2 Historicidade do açúcar ............................................................................................................... 11
1.2.3 Destino do açúcar ........................................................................................................................ 12
1.2.4 Efeitos do excesso de açúcar no sistema cardiovascular ............................................................. 14
1.3 GORDURAS ...................................................................................................................................... 18
1.3.1 Alimentação e Dieta como Prevenção ......................................................................................... 24
1.3.2 Inovações Que Auxiliam Na Prevenção ...................................................................................... 25
1.3.3 Exercícios Físicos como Prevenção............................................................................................. 25
1.4 ALIMENTOS PROCESSADOS ........................................................................................................ 26
1.4.1 Alimentos minimamente processados/in natura ou não processados .......................................... 26
1.4.2 Ingredientes culinários e industriais ............................................................................................ 26
1.4.3 Alimentos processados ................................................................................................................ 27
1.4.4 Alimentos ultra processados ........................................................................................................ 27
1.4.5 Porque moderar o consumo dos alimentos processados? ............................................................ 28
Impactos dos alimentos processados no padrão de consumo alimentar brasileiro: .............................. 30
1.5 É SÓ UM “CAFEZINHO”? ............................................................................................................... 31
1.5.1 Pressão ......................................................................................................................................... 31
2. ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO E CUIDADOS ........................................................................... 33
2.1 SAÚDE COLETIVA .......................................................................................................................... 33
2.1.1 Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva (ANSC) .................................................................. 33
2.1.2 A Educação Alimentar e Nutricional (EAN) ............................................................................... 34
2.1.3 O enfrentamento das doenças crônicas ........................................................................................ 35
2.1.4 A comida e a culinária na ean ...................................................................................................... 36
2.1.6 Ações de alimentação e nutrição na atenção básica em saúde..................................................... 37
2.2 SEMIOLOGIA ................................................................................................................................... 39
CONCLUSÃO .............................................................................................................................................. 42
REFERÊNCIAS............................................................................................................................................ 42
4
INTRODUÇÃO
O Brasil está entre os 10 países com maior número de mortes causadas por doenças
cardiovasculares (DCV), sendo a principal razão de morte em mulheres e em homens no país.
São quase 30% de mortes todos os anos devido às DCV (MANSUR; FAVARATO, 2012).
Sua etiologia é multifatorial, contudo, existem fatores que parecem influenciar mais
fortemente a ocorrência da doença, sendo eles: má alimentação, tabagismo, hipertensão
arterial, hipercolesterolemia, diabetes, obesidade e sedentarismo (GIROTTO, et al.,1996).
1. ALIMENTAÇÃO BRASILEIRA
1.1 SAL
o consumo de sal em geral continua alto, entretanto, percebe-se uma mudança: houve
aumento de consumo de alimentos processados com adição de sal e pratos prontos e
diminuição da adição de sal de mesa e condimentos à base de sal (BANDONI et al., 2013).
Dessa forma, como afirma Branka Legetic, consultora da OPAS/OMS para Doenças Crônicas
Não-Transmissíveis: "A maioria de nós nem sequer sabe o quanto de sódio consome, isto
porque a maior parte do sódio que consumimos está escondido em alimentos processados,
prontos para consumo” (PAHO, 2013).
É necessário, assim, que o Estado junto à população diminua o uso de sal na
alimentação brasileira, sendo, por exemplo, pela redução da quantidade de sal usada na
produção de alimentos industrializados e pela reeducação alimentar da população, uma vez
que uma diminuição de 1,3g de sal consumida por dia, em pessoas de 25 e 55 anos de idade,
causaria a redução de 5mmHg na pressão arterial sistólica ou de 20% na prevalência de
hipertensão arterial (SARNO, 2009). Essa redução de 1,3g deve ser vista, contudo, como um
passo inicial, uma vez que apesar de promover uma redução nas 350 mil mortes anuais por
DCV (OMS), ainda ficaria muito aquém do que seria alcançado com um consumo consoante
ao padrão recomendado. Nesse último cenário, haveria, segundo a Sociedade Brasileira de
Cardiologia (SBC), uma diminuição de 15% nos óbitos por Acidente Vascular Cerebral e
redução de 10% dos óbitos por infarto.
O que fazer, no entanto, é mais fácil de estabelecer do que como ser feito. Como
introduzido, a alimentação é algo que envolve múltiplos campos de estudo, entre eles o social,
já que envolve aspectos sociológicos, característicos de um momento histórico. Há no
capitalismo contemporâneo, uma verdadeira indústria da alimentação, consolidada e
representada principalmente pelo movimento fast food e pelas variadas e acessíveis opções de
produtos instantâneos para serem comprados nas grandes redes de supermercado. O que
ocorre é um verdadeiro apoio entre as indústrias da cultura e da alimentação, sendo que o
consumidor, metonimicamente, consome um sanduíche M ou uma pizza H e não o produto
em si, isto é, consome uma marca e não o alimento em si com sal, açucares, transgênicos.
O alimento industrializado está fetichizado e é consumido com naturalidade apoiado
na propaganda que o deifica e em uma realidade social que pede rapidez e eficiência. Nesse
sentido, é difícil idealizar algo a ser feito, talvez seja melhor olhar para exemplos de ações
que repercutiram positivamente, ou que poderiam, especialmente aquelas ligadas ao consumo
excessivo de sódio. Entre elas se destacam: o movimento slow food (FERREIRA, 2009), a
semana mundial pela conscientização do sódio (PAHO, 2013), diversos programas de dia a
dia que passaram a dar espaço na grande mídia para que se percebesse os perigos do consumo
8
Por fim, cabe ressaltar que o aumento da pressão arterial com a idade está também
relacionado com o maior consumo de sal ao longo da vida. A ingestão salina parece ser um
dos fatores envolvidos no aumento progressivo da pressão arterial que acontece com o
envelhecimento. Tal aspecto ficou evidente no clássico estudo INTERSALT (1988).
Novos estudos nesta área vêm sendo realizados como o descrito por He et al. (2009),
que realizaram um estudo controlado sobre o papel da ingestão de sal e potássio na pressão
arterial. Este estudo de intervenção alimentar envolveu 1906 indivíduos, incluindo 7 dias de
dieta pobre em sal (3g/dia), 7 dias de dieta rica em sal (18g/dia) e 7 dias de dieta rica em sal
(18g/dia) suplementada com potássio (2,34 g/dia), sendo verificado que a restrição na
ingestão de sal é uma das mais eficientes ferramentas terapêuticas na homeostase da pressão
arterial.
1.2 AÇÚCAR
A glicose é vital para o bom funcionamento das funções orgânicas, e ,por isso, o corpo
dispõe um eficiente mecanismo de difusão facilitada para absorvê-la, na qual proteínas
carreadoras da membrana reconhecem glicose, fazendo com que ela entre para o meio
intracelular - na membrana gastrointestinal e no epitélio dos túbulos renais, entretanto, o
mecanismo é diferente, sendo a glicose transportada pelo cotransporte ativo de sódio e glicose
(GUYTON & HALL, 2011).
A difusão da glicose para o interior das células, entretanto, não acontece de forma
invariável e constante, visto que os níveis de glicose, sejam quando estão elevados sejam
quando estão abaixo do normal, revelam-se extremamente prejudiciais à saúde, como
mostrado na figura 3 (BERNE & LEVY,2008).
abaixo. Além disso, a imagem também mostra a relação desse eixo hormonal com a presença
de catecolaminas – substâncias relacionadas com a o sistema nervoso autônomo simpático – a
qual inibe a insulina e aumenta o glucagon, a fim de disponibilizar mais glicose livre em uma
situação de fuga ou ataque, por exemplo.
Efeitos da Insulina e do Glucagon.
pancreáticas, que ao produzirem insulina, a qual aumenta a entrada de glicose na célula para
que ela seja utilizada como fonte de energia (DE RICCO, 2016). Quando essa refeição é rica
em açúcares, todavia, nem toda glicose consegue ser utilizada imediatamente como fonte de
energia. Dessa forma, a glicose extra é armazenada sob a forma de glicogênio, um grande
polímero de glicose, em todas as células do corpo - em quantidade significativa – isso se dá
apenas em algumas células, como células hepáticas e células musculares. Entretanto, isso
acontece até que o corpo tenha armazenado quantidades suficientes para fornecer energia para
as necessidades do organismo por período de 12 até 24h. Assim, quando as células
aproximam-se da saturação com glicogênio, a glicose passa a ser convertida em lipídeos no
fígado e nas células adiposas, sendo armazenada sob a forma de gordura nos adipócitos,
mecanismo denominado lipogênese de novo, mostrada na Figura 6. Nessa via, inicialmente, o
carboidrato é convertido em acetil - CoA, que, por sua vez, é substrato da síntese de ácidos
graxos. Nos seres humanos, a maior parte dessa síntese ocorre no fígado, mas quantidades
diminutas, também, são sintetizadas pelo tecido adiposo (GUYTON & HALL, 2011).
Atuação da insulina na presença de excesso de glicose
1.3 GORDURAS
Segundo a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), no
mundo uma em cada sete pessoas sofre de má alimentação. Interpreta-se como má
alimentação a falta de proteínas, vitaminas, carboidratos e lipídios necessários, bem como seu
excesso. Esta ingestão de alimentos desarmoniosa, segundo Popkin (2006), evoluiu em
estágios, apresentando idiossincrasia fundamentada em seu período histórico e característica
antropológica vigente, conforme imagem 7.
19
mais de 250 mg/dia em relação aos que ingeriram menos que isso (Arq. Bras. Cardiol.
2014, vol.104 no.2).
Portanto, não só a ingestão de peixe pode ser benéfica, mas provavelmente também a
quantidade de ômega-3 que esse alimento possui pode exercer efeitos favoráveis. Isso, por sua
vez, relaciona-se com a espécie e a procedência (Arq. Bras. Cardiol. 2014, vol.104 no.2).
/ ou exercício são necessários para determinar com precisão as mudanças que o estilo de vida
mais ativo pode ter no processo inflamatório, assim como em outros fatores de risco para
doenças cardiometabólicas (Rev Bras Med Esporte [online]. 2016, vol.22, n.3).
saturadas e gorduras hidrogenadas, que, além de ricas em gorduras saturadas, contêm também
gorduras trans. Além disso os alimentos ultra processados tendem a ser muito pobres em
fibras, que são essenciais para a prevenção de doenças do coração, diabetes e vários tipos de
câncer. Finalmente em função da menor sensação de saciedade que provocam por meio de
seus hipersabores (grande quantidade de açúcar), consumo fácil em qualquer ambiente,
comercialização em embalagens maiores e ainda ingestão de calorias líquidas (refrigerantes e
refrescos) que são menos registradas pelo organismo resultam em uma maior ingestão de
calorias diária de modo que contribuem para a incidência de obesidade na população.
(LOUZADA et al., 2015).
Estudos populacionais que tenham avaliado diretamente a associação entre consumo
de alimentos ultra processados e morbimortalidade ainda são poucos em face da recente
definição dessa categoria de alimentos. Entretanto, os estudos já realizados no Brasil indicam
associações significativas do consumo de alimentos ultra processados com a síndrome
metabólica em adolescentes (TAVARES et al., 2012), com dislipidemias em crianças
(RAUBER et al., 2015) e com a obesidade em todas as idades (CANELLA et al., 2014).
Com relação as demais categorias dos alimentos processados são registrados os
mesmos fatores de risco para doenças crônicas como diabetes e obesidade, em função da
presença em excesso de sal, açúcar, óleos e gorduras, porém em menor quantidade que nos
alimentos ultra processados. (LOUZADA et al., 2015).
Ademais é importante atentar-se para a grande presença de farinha de trigo refinada
presente em alimentos industrializados. A mesma é um grão refinado que é composto por
carboidratos simples (principalmente amido), possui poucas fibras e tem um IG (índice
glicêmico) elevado. O IG encontrado nesse tipo de farinha de trigo é cerca de duas vezes
maior que em alimentos não transformados. Como efeito nocivo, o consumo da farinha de
trigo libera açúcar na corrente sanguínea rapidamente e, ao longo do tempo, é possível que o
indivíduo que ingira farinha e alimentos processados e refinados em excesso desenvolva
resistência à insulina e, eventualmente, diabetes do tipo II.
Quando os alimentos que contêm farinha de trigo refinada são fritos, o corpo recebe
uma dose ainda maior de gordura e carboidratos refinados. Isso atrapalha a taxa de
metabolismo do organismo e pode causar, além de inflamação e resistência à insulina,
doenças cardíacas, artrite, doença de Alzheimer e até câncer.
30
Figura 15
1.5 É SÓ UM “CAFEZINHO”?
O café é a bebida mais consumida pelos brasileiros. Segundo a EMBRAPA o consumo
interno do país em 2017 foi de 21,5 milhões de sacas. Assim, o Brasil destaca-se como o
segundo maior consumidor de café, perdendo somente para os Estados Unidos da América. A
seguir, analisaremos seus efeitos no sistema cardiovascular.
1.5.1 Pressão
Estudos experimentais evidenciam que a administração de cafeína (em quantidades
médias comparáveis às ingeridas diariamente) provoca uma elevação aguda da pressão arterial
típica, na ordem dos 5 a 15 mm Hg (sistólica) e dos 5 a 10 mm Hg (diastólica), podendo esse
efeito subsistir durante várias horas. Verificou-se, ainda, uma sensibilidade aumentada em
indivíduos hipertensos, fumadores e/ ou sujeitos a situações de stress psicológico (JAMES,
2004). A vasoconstrição é conhecida como sendo o principal meio através do qual a cafeína
influencia a pressão sanguínea, resultante da sua ação antagonista face à adenosina, um
vasodilatador fisiológico (NURMINEM, 1999).
Diversos estudos mostram, ainda, que não existe uma tolerância completa aos efeitos
da cafeína, mas sim uma tolerância parcial ao longo do dia. Ou seja, o aumento da pressão
sanguínea induzido por cada dose de bebida cafeinada é inversamente proporcional ao
número de doses previamente consumidas no mesmo dia e, consequentemente, aos níveis
sistêmicos do composto na altura da ingestão da bebida. No entanto, é restabelecida uma
sensibilidade à cafeína próxima à original após a abstinência de consumo noturna. Doses
moderadas de café parecem ser suficientes para saturar todos os receptores de adenosina
disponíveis e manifestar-se todo o efeito vasopressor da cafeína. Em situações de consumo
excessivo de cafeína, este efeito tende a ser mais prolongado, não parecendo ser, contudo,
mais pronunciado (JAMES, 2004).
Inúmeros estudos têm associado o consumo de café a um aumento dos níveis séricos
do colesterol total e LDL (lipoproteínas de baixa densidade), importante fator de risco de
doença cardiovascular (ARO, 1989). Foram identificados, na fração lipídica do café, dois
compostos químicos, o cafestol e o kahweol, com atividade hipercolesterolêmica (URGET et
al., 1997).
O mecanismo para a ação destes diterpenos ainda não é totalmente claro. Observou-se
que o consumo de cafestol e kahweol provoca um aumento da atividade da proteína de
transferência de ésteres de colesterol (CEPT) em humanos, podendo esta ação contribuir para
o aumento do colesterol LDL (Higdon, J. V. et al., 2006).
Cabe assinalar que seu caráter iminentemente intersetorial situa sua inserção nos
serviços públicos e privados, e em diferentes setores. No setor saúde, abrange desde as
unidades básicas até as unidades de maior densidade tecnológica, como os hospitais.
O avanço conceitual vem inspirando a busca por práticas diferenciadas e novas
estratégias educativas que viabilizem essa concepção, mas ainda de forma incipiente. Como
demonstra Santos (2012), as práticas privilegiam o conhecimento científico biomédico e
existe um hiato entre a concepção teórica e o que efetivamente é realizado.
Experiências positivas vêm sendo percebidas com o uso da culinária como estratégia
metodológica, respondendo de forma potente aos desafios da alimentação na vida
35
contemporânea. (Castro, 2007), (Diez-Garcia et al., 2011). Como afirmam Diez-Garcia et al.,
(2011): (...) a culinária é uma prática social que funciona como um amálgama de elementos
individuais e coletivos, agrega o conhecimento tradicional e também é inovada com
informações advindas de outras vivências, ela se apresenta como um espaço apropriado e
promissor para intervenções que visem promover a troca de experiências e um aprendizado
holístico sobre alimentação e nutrição”.
Desta forma buscamos desenvolver uma reflexão crítica sobre o uso da culinária como
estratégia metodológica de educação alimentar e nutricional, em especial no enfrentamento
das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT).
alimentação e nutrição precisa ultrapassar o caráter biológico das práticas alimentares que
orienta a mudança comportamental com base na composição nutricional, classificando os
alimentos em "bons" e "maus".
O mais recente cenário de crescimento das doenças crônicas coloca para a EAN o
desafio de propor ações que possibilitem a reflexão sobre saúde e prazer na perspectiva do
bem-estar das pessoas, dado que a doença não é algo a ser vencido, mas um fato com o qual
os usuários terão que conviver para o resto da vida diariamente.
estar e status econômico. Neste sentido, discutir sobre as formas e os locais de compras de
alimentos associado à quantidade de alimentos necessária para o usuário e sua família, quando
for o caso, pode ter um alto impacto na concretização de propostas de mudanças.
Outro aspecto alegado constantemente pelos usuários como dificuldade para melhorar a
alimentação é a falta de tempo. Este aspecto está fortemente associado à discussão sobre
culinária. O distanciamento da rotina de preparo dos alimentos faz parecer cada vez mais
complexo e demorado preparar as refeições. Estimular o aprendizado de habilidades
culinárias ou valorizar as habilidades já presentes é uma importante etapa deste processo. O
uso do tempo pode ser otimizado com um pouco mais de planejamento das compras e da
organização da cozinha e do cardápio, tarefa com a qual o nutricionista pode contribuir
bastante.
Por último e talvez o mais importante, não há como evitar uma reflexão sobre o
significado da alimentação na vida de cada usuário, o valor atribuído a todo o processo de
preparar as refeições, bem como as condições concretas que viabilizem alcançar as mudanças
pretendidas. Essa reflexão pode ser provocada ou surgir naturalmente e, provavelmente,
permeará o processo educativo.
todos profissionais de saúde. Sua construção buscou integrar-se às ações na Atenção Básica
(AB), por este ser lócus com o mais alto grau de descentralização e capilaridade, ocorrendo no
local mais próximo da vida das pessoas. Destacamos, portanto, a importância das unidades
básicas de saúde (UBS) e dos polos do Programa Academia da Saúde como espaço
privilegiado para o desenvolvimento dessas ações.
Este Instrutivo faz parte de uma série de materiais, que foram elaborados como
desdobramentos do Guia Alimentar para a População Brasileira, e pretende ser um
orientador da mudança de prática no que se refere à abordagem da promoção da saúde,
apresentando propostas de metodologias com suporte teórico e prático para o
desenvolvimento das ações. Espera-se que os conteúdos abordados ajudem na tarefa e no
compromisso cotidiano dos gestores e trabalhadores do SUS, a fim de que se transformem em
multiplicadores e criadores de estratégias para a promoção da saúde de todos os brasileiros.
Além disso, foram elaborados outros materiais de apoio, tais como: Diário de Bordo; o livro
de receitas Na Cozinha com as Frutas, Legumes e Verduras; fôlderes com os Dez Passos para
a Alimentação Adequada e Saudável; e o livro Desmistificando Dúvidas sobre Alimentação e
Nutrição. Por fim, este material representa os esforços do Ministério da Saúde em garantir a
atualização e a apreensão de novos conhecimentos relativos à saúde, sua promoção,
ressignificação e potencialidade de transformação de realidades desafetas à vida com
qualidade.
2.2 SEMIOLOGIA
As doenças cardiovasculares (DCV) são associadas a quatro fatores de risco
principais: consumo de tabaco, uso abusivo do álcool, hábitos sedentários e alimentação
inadequada. É universalmente conhecida a relação que tais hábitos têm com o aumento do
risco de hipertensão arterial, dislipidemias, diabete melito e sua principal complicação: a
doença aterosclerótica. (MAGALHÃES et al. 2015).
Nesse sentido, é de suma importância que o médico esteja capacitado a fim de
conseguir detectar e coibir, dentro de uma boa relação médico-paciente, práticas que sejam
prejudiciais à saúde, como por exemplo a desregulação alimentar, que é um grande fator de
risco associado à DCV.
Os hábitos alimentares do paciente devem ser colhidos na anamnese durante a consulta
médica, tomando como referência o que seria a alimentação adequada para essa pessoa em
função da idade, do sexo e do trabalho desempenhado. Induz-se o paciente a discriminar sua
alimentação habitual, especificando, tanto quanto possível, o tipo e a quantidade dos
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Dessa maneira, avaliando seus hábitos alimentares junto à sua necessidade energética
basal será possível determinar se, quantitativamente, o paciente está suprindo suas
necessidades energéticas ou se há uma desregulação para mais, o que pode levar ao sobrepeso
ou até mesmo à obesidade ou para menos do que o necessário, levando à uma subnutrição.
Ambos os casos de desequilíbrio alimentar são fatores de riscos para doenças em gerais.
Para que seja possível quantificar a ingestão de alimentos deve-se conhecer a
necessidade energética basal de cada indivíduo. Essa necessidade energética basal, ou gasto
energético basal (GEB), pode ser estimada a partir das equações de Harris Benedict, que
levam em consideração peso (kg), estatura (cm), idade (anos) e sexo (RIBAS, 2013).
O gasto energético total pode ser estimado multiplicando-se o resultado obtido na equação
por 1,1 a 1,4, o que significa o acréscimo de 10 a 40% acima do GEB. O valor de 1,1 pode ser
usado quando não há evidências de que o paciente esteja sob estresse fisiológico, ao passo que
o maior valor (1,4) pode ser utilizado em pacientes com estresse evidente, como sepse ou
trauma. O resultado da equação acima é graduado em calorias. (RIBAS, 2013).
O GEB pode ser medido, ainda, por meio de calorimetria indireta, que consiste na medida
do oxigênio consumido (VO2) e do gás carbônico produzido (VCO2) por meio da coleta do ar
expirado. Os valores obtidos VO2 e VCO2 são aplicados na fórmula de Weir para obtenção
do GEB (RIBAS, 2013). No entanto, esse tipo de medição requer exame laboratorial e aqui
será salientada a prática médica durante a colheita da anamnese.
Dessa maneira, avaliando seus hábitos alimentares junto à sua necessidade energética
basal será possível determinar se, quantitativamente, o paciente está suprindo suas
necessidades energéticas ou se há uma desregulação para mais, o que pode levar ao sobrepeso
ou até mesmo à obesidade, ou para menos do que o necessário, levando à uma subnutrição.
Ambos os casos de desequilíbrio alimentar são fatores de riscos para doenças em gerais.
Durante a avaliação da alimentação na anamnese além do nível de lipídios e colesterol,
o nível de ácidos graxos ingerido indiretamente pelo paciente é um ponto muito importante a
ser notado. Todavia, infelizmente, falta um embasamento teórico durante a formação de
42
medicina quanto ao teor de gordura, colesterol, ácidos graxos e lipídeos nos alimentos, isso
impossibilita que o profissional faça uma análise mais profunda acerca dos riscos que aquele
paciente apresenta.
Ainda assim, com a finalidade de transparecer o teor de cada um desses componentes
listados acima nos alimentos comuns da cozinha brasileira, o cardiologista Carlos Sherr
elaborou, em seu livro “Redução do Risco Cardiovascular - Nova Tabela de Composição de
Colesterol e Ácidos Graxos em Alimentos”, uma tabela de alimentos que fornece uma grande
riqueza de dados sobre as gorduras saturadas, monoinsaturadas e poli-insaturadas, inclusive
apresentando sugestões sobre a melhor maneira de preparar os alimentos, principalmente os
de origem animal, no intuito de se prover uma alimentação menos saturada. Com tais
informações, torna-se possível propor uma nova concepção de alimentação com o objetivo de
melhorar a saúde cardiovascular da população brasileira ou até mesmo aprimorar a adequação
de dietas para perda de peso (dietas da moda), tais como as dietas ricas em proteínas, para que
contenham menor grau de saturação, permitindo o emagrecimento sem alterar os níveis
séricos dos lipídios ou aumentar o risco de aterosclerose (SCHERR, 2009).
CONCLUSÃO
Falar de hábitos alimentares num país como o Brasil é, obviamente, uma tarefa
complexa, não só pelas profundas diferenças existentes entre as diversas regiões, mas,
também, em razão de nossas origens.
Com base nos dados expostos nesse trabalho foi possível demonstrar que o estilo de
vida bem como os hábitos e comportamentos alimentares são considerados fatores de risco
para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, além dos fatores não modificáveis
como, hereditários, idade, sexo.
Assim, uma proposta de alimentação saudável, para prevenção das doenças crônicas
não transmissíveis, há de propor dietas que estejam ao alcance da sociedade como um todo e
que tenham um impacto sobre os mais importantes fatores relacionados às várias doenças.
Aumentar o consumo de frutas e verduras e estimular o consumo de arroz e feijão são
exemplos de proposições que preenchem estes requisitos (SICHIERI, 2000).
Neste contexto, a saúde exige das pessoas, uma postura de hábitos saudáveis, de modo
a culminar com uma cultura alimentar equilibrada, evitando, assim, problemas de saúde
gerados por uma alimentação desbalanceada.
Um padrão alimentar mais balanceado e saudável deve ser incentivado por promover,
a longo prazo, mudanças mais consistentes no perfil antropométrico da população.
Atualmente, há evidências epidemiológicas de que a melhoria da alimentação apresenta um
grande potencial para prevenir as doenças da atualidade (BISI MOLINA, 2003)
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