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Ano XVII – Número 37 - julho de 2016

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9 771806 807001
ISSN 1806-8073
Foto: Marcello Lourenço

Laudos da perícia federal apontam causas e consequências


da maior tragédia ambiental do País

BANCO DE DADOS OLIMPÍADAS


DE DNA 2016
Estuprador em série Como são feitos os
é identificado pela exames antidoping
primeira vez
Associação Nacional SUMÁRIO EDITORIAL: André Morisson, presidente da APCF

dos Peritos Criminais Federais

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Ano XVII – Número 37 - julho de 2016

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Caro leitor,

Ad
Diretoria Executiva Nacional

9 771806 807001
ISSN 1806-8073
André Luiz da Costa Morisson Marcos de Almeida Camargo

Foto: Marcello Lourenço


Presidente Vice-Presidente Laudos da perícia federal apontam causas e consequências
da maior tragédia ambiental do País

Felipe Gonçalves Murga Evandro Mario Lorens Bruno Gomes de Andrade João Carlos L. Ambrósio
Secretário-Geral Diretor Técnico-Social Diretor de Assuntos Jurídicos Diretor de Assuntos Parlamentares

Carlos Antônio Almeida de Oliveira Eduardo Roberto Rosa Erick Simões da Camara e Silva Henrique Mendonça Oliveira de Queiroz O maior desastre ambiental da história do Bra-
Suplente de Secretário-Geral Suplente de Diretor Técnico-Social Suplente de Diretor de Assuntos Jurídicos Suplente de Diretor de Assuntos Parlamentares
BANCO DE DADOS
DE DNA
OLIMPÍADAS
2016
sil não poderia deixar de ser lembrado pela revista
Wilson Akira Uezu Hélio Buchmüller Lima Meiga Aurea Mendes Menezes Paulo Roberto Fagundes
Estuprador em série Como são feitos os
é identificado pela exames antidoping

Perícia Federal. Nesta edição, trazemos detalhes


primeira vez

Diretor Financeiro Diretor de Comunicação Diretora de Administração e Patrimônio Diretor de Aposentados e Pensionistas

Fábio da Silva Botelho


Suplente de Diretor Financeiro
Carlos Eduardo Palhares Machado
Suplente de Diretor de Comunicação
Alexandro Mangueira Lima de Assis
Suplente de Diretor de Administração e Patrimônio
José Arthur de Vasconcelos Neto
Suplente de Diretor de Aposentados e Pensionistas TRAGÉDIA ANUNCIADA
sobre o trabalho dos peritos criminais federais na
Danielle Ramos e Taynara Figueiredo tragédia que soterrou o município de Bento Rodri-
Conselho Fiscal Deliberativo Página 20 gues em Mariana, deixando mais de 10 mortos e
Willy Hauffe Neto Fabricio Fonseca Theodoro Marco Giovanni Clemente Conde Walvernack Beserra Fábio Caus Sicoli Eduardo Monteiro de Queiroz dezenas de famílias desabrigadas. Após seis meses
Membro-Titular
Presidente Vice-Presidente 1º Suplente 2º Suplente 3º Suplente ENTREVISTA

Mesquita – Dilabila Fotos


Meiga Aurea
do rompimento da barragem de Fundão, o laudo da
Conselho de Ética
Página 4 criminalística Federal foi divulgado e apontou que
Fernando Fernandes de Lima Carlos Andre Xavier Villela Fabio Vinicius Moura de Carvalho Jose Alysson Dehon Moraes Medeiros Silvio Marcio Santos Nery Andre Fernandes Britto a empresa Samarco é responsável pelo desastre. O
Presidente Vice-Presidente Membro-Titular 1º Suplente 2º Suplente 3º Suplente ÁREAS DA PERÍCIA
mais grave, apresentado pelos peritos, são as conse-
Peritos criminais federais Alessandra Barbosa,
Diretorias Regionais Alexandre Pavan, Jeferson Corrêa e Rodrigo quências para a fauna e flora local, em alguns casos,
ACRE MARANHÃO FOZ DO IGUAÇU SÃO PAULO
Pereira da Silva consideradas irreversíveis. Nesta edição,
Página 6
Diretor Regional - Diogo Otávio Scalia Pereira
Vice-Diretor - Leandro Bezerra di Barcelos
Diretor Regional - José de Carvalho Azevedo Filho
Vice-Diretor - Lucian Ricardo Guedes Fidelis
Diretor Regional - Denir Valêncio de Campos
Vice-Diretor - Fernando Rosemann
Diretor Regional - Ronaldo de Moura Ramos
Vice-Diretor - Alexandre Bernard Andrea
A experiência em toxicologia forense dos pe- trazemos
ritos criminais federais colabora com as Olimpía-
detalhes sobre
Diretor Financeiro - Luiz Fernando dos Santos Diretor Financeiro - Gerson Vasconcelos Malagueta Diretor Financeiro - José Ricardo Rocha Silva Diretora Financeira - Roberta G. M. Juliani ESTUPRADOR EM SÉRIE É IDENTIFICADO PELA
E-mail - apcf.ac@apcf.org.br E-mail - apcf.ma@apcf.org.br E-mail - apcf.pr@apcf.org.br E-mail - apcf.sp@apcf.org.br
REDE INTEGRADA DE BANCOS DE PERFIS das no Rio de Janeiro. A revista traz reportagem
ALAGOAS
Diretora Regional - Keyla Wanderley de Cerqueira MATO GROSSO PERNAMBUCO
ARAÇATUBA
Diretor Regional - Eustaquio Veras de Oliveira
GENÉTICOS
sobre os exames antidoping que serão realizados o trabalho dos
Taynara Figueiredo
peritos criminais
Vice-Diretor - Thiago Costantin Sandoval Diretor Regional - Lenildo Correia da Silva Junior Diretor Regional - Diogo Laplace Cavalcante da Silva Vice-Diretor - Mario Sergio Gomes de Faria
Diretor Financeiro - Dario Alves Lima Junior Vice-Diretor - Joao Luiz Freixo Vice-Diretor - Diogo Cunha Diretor Financeiro - Nevil Ramos Verri Página 8 durante os jogos.
Diretora Financeira - Edna Aparecida Silveira Diretor Financeiro - Rhassanno Caracciollo Patriota
E-mail - apcf.al@apcf.org.br
E-mail - apcf.mt@apcf.org.br E-mail - apcf.pe@apcf.org.br
E-mail - apcf.sp@apcf.org.br Entrevistamos a Administradora do Banco Nacio- federais na
AMAPÁ CAMPINAS MÉTODOS DE CONSTRUÇÃO EXÓTICOS EM nal de Perfis Genéticos e Coordenadora do Comitê
Diretor Regional - Renato Chacon Vieira Paes
Vice-Diretor -Rafael Guimaraes Alves
MATO GROSSO DO SUL PIAUÍ Diretor Regional - Carlos Henrique Da Silva Pereira ALGARISMOS E SINAIS DE ACENTUAÇÃO
Gestor, Meiga Aurea, que fala sobre o andamento e
tragédia que
Diretor Regional - André Luís de Abreu Moreira Diretor Regional - Ramysés de Macedo Rodrigues Vice-Diretor - Lorival Campos Moreira Perito criminal federal Samuel Feuerharmel
E-mail - apcf.ap@apcf.org.br Vice-Diretor - Frederico Natividade Ortiz
Diretor Financeiro - Gleison Macedo Rocha
Vice-Diretor - Rômulo Vilela Ferreira
E-mail - apcf.pi@apcf.org.br
Diretor Financeiro - Fernando Juliano de Castro
E-mail - apcf.sp@apcf.org.br Página 13 os resultados da Rede Integrada de DNA. soterrou o
município de
AMAZONAS
Diretor Regional - Marcos Antônio Mota Ferreira
E-mail - apcf.ms@apcf.org.br
MARÍLIA
Técnicas utilizadas nos exames em armas e
Vice-Diretor - Ricardo Lívio Santos Marques SINISTRO EM BARRAGENS: DESAFIO PARA
Diretora Financeira - Martha Fernanda
MINAS GERAIS RIO DE JANEIRO
Diretor Regional - Clayton José Ogawa
Vice-Diretor - Antônio José dos Santos Brandão A ENGENHARIA FORENSE
projéteis e a construção exótica de algarismos e Bento Rodrigues
Barros Alfaia Diretor Regional - Rodrigo Ricart Santoro sinais de acentuação são temas de artigos. Esta
em Mariana,
Diretor Regional - Marcelo Carvalho Lasmar E-mail - apcf.sp@apcf.org.br Peritos criminais federais Cirilo Max Macedo de
E-mail - apcf.am@apcf.org.br Vice-Diretora - Raquel de Souza Lima
Vice-Diretor - Maurício de Souza
Diretor Financeiro - Adriano Arantes Brasil Morais, Thalles Evangelista Fernandes de Souza e edição apresenta ainda um estudo de caso sobre
BAHIA Diretor Financeiro - Marcus Vinícius de O. Andrade PRESIDENTE PRUDENTE
Diretor Regional - Carlos Alberto Doria de M. Neto E-mail - apcf.mg@apcf.org.br E-mail - apcf.rj@apcf.org.br Diretor Regional - Ricardo Samu Sobrinho
Vice-Diretor - Raimundo Chabowski
Bruno Teixeira Dantas
os efeitos pedagógicos das investigações crimi- deixando mais
Vice-Diretor - Andrei Rocha de Almeida Página 28
Diretor Financeiro - Pompílio José S. Araújo Junior
E-mail - apcf.ba@apcf.org.br
UBERLÂNDIA
RIO GRANDE DO NORTE
Diretor Regional - Clint Eastwood Costa Freitas
E-mail - apcf.sp@apcf.org.br nais de combate à corrupção e seus benefícios de 10 mortos
Diretor Regional - Ronaldo Cordeiro
Vice-Diretor - Cezar Silvino Gomes SÃO JOSÉ DOS CAMPOS IV CONGRESSO NACIONAL econômicos financeiros. e dezenas
Vice-Diretor - Jorge Eduardo de Sousa Aguiar
JUAZEIRO Diretor Financeiro - César de Macedo Rego Diretor Regional - Jose Augusto Melonio Filho DOS PERITOS CRIMINAIS
Diretor Financeiro - Glycon Sousa Rodrigues
Diretor Regional - Marco Antonio Valle Agostini
Vice-Diretor - Lucas Martins Evaldt E-mail - apcf.mg@apcf.org.br
E-mail - apcf.rn@apcf.org.br Vice-Diretor - Bruno Altoe Duar
Diretor Financeiro - Renato Garrido Leal Martins
Danielle Ramos e Taynara Figueiredo
André Morisson
de famílias
E-mail - apcf.sp@apcf.org.br Página 38
desabrigadas
E-mail - apcf.ba@apcf.org.br
RIO GRANDE DO SUL
PARÁ Diretor Regional - Marco Antônio Zatta
Presidente da APCF
CEARÁ Diretor Regional - Gustavo Pinto Vilar SANTOS
Diretor Regional - Eurico Monteiro Montenegro
Vice-Diretora - Carina Maria Bello de Carvalho
Diretor Regional - Francisco Artur Cabral Gonçalves
PERÍCIA FEDERAL NOS JOGOS OLÍMPICOS 2016
Vice-Diretor - Jordânio José Ribeiro Diretor Diretor Financeiro - Leonardo da Cunha
Vice-Diretor - José Carlos Lacerda de Souza Financeiro - Luis Felipe Monteiro Vieira Vice-Diretora - Priscila Dias Sily Danielle Ramos Revista Perícia Federal
E-mail - apcf.rs@apcf.org.br
Diretor Financeiro - Daniel Paiva Scarparo E-mail - apcf.pa@apcf.org.br E-mail - apcf.sp@apcf.org.br
Página 40
E-mail - apcf.ce@apcf.org.br
RORAIMA SOROCABA Planejamento e produção: A revista Perícia Federal é uma
DISTRITO FEDERAL PARANÁ Diretor Regional - Jorge Cley De Oliveira Rosa Diretor Regional - Adriano Jorge Martins Corrêa COMPARAÇÃO BALÍSTICA Assessoria de Comunicação da APCF publicação da APCF e não se
Diretor Regional - Emerson Santos de Lima Diretor Regional - Marlon Konzen Vice-diretor - Leonardo De Almeida Dias Vice-Diretor - Ulisses Kleber de Oliveira Guimarães comunicacao@apcf.org.br responsabiliza por informes
Diretor Financeiro - Alexandre Salgado Junqueira
Perito criminal federal Lehi Sudy dos Santos
Vice-Diretor - Dângelo Victor Gonçalves Silva Vice-Diretor - Luiz Spricigo Junior Diretor Financeiro - Ricardo Bernhardt publicitários nem opiniões e
E-mail - apcf.rr@apcf.org.br Página 44 Redação:
Diretor Financeiro - João Carlos Gonçalves Pereira Diretor Financeiro - Ricardo Andres Reveco Hurtado E-mail - apcf.sp@apcf.org.br conceitos emitidos em artigos
Danielle Ramos e Taynara Figueiredo
E-mail - apcf.df@apcf.org.br E-mail - apcf.pr@apcf.org.br assinados.
RONDÔNIA Coordenação e edição:
ESPÍRITO SANTO SERGIPE O EFEITO PEDAGÓGICO DE OPERAÇÕES DA Danielle Ramos e Taynara Figueiredo Correspondência para:
Diretor - André Abreu Magalhaes Diretor Regional - Alex Souza Sardinha
Diretor Regional - Leonardo Resende GUAÍRA
Vice-Diretor - David Gomes Guimaraes
POLÍCIA FEDERAL: UM ESTUDO DE CASO DA Revista Perícia Federal
Vice-Diretor - André Fernandes Britto Capa, arte, diagramação e revisão:
Vice-Diretor - Cristiano Martins Pinto Diretor Regional - Devair Aloísio
Diretor Financeiro - Naraiana Ribeiro Santos OPERAÇÃO “CAIXA DE PANDORA” SHIS QI 09, conjunto 11, casa 20
Diretor Financeiro - Cristiano Martins Pinto Vice-Diretor - André Rodrigues Lima Diretor Financeiro - Reinaldo do Couto Passos Abril Design Lago Sul - Cep: 71.625-110 Brasília/DF
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Perito criminal federal Alan Lopes
E-mail - apcf.es@apcf.org.br Diretor Financeiro - Eduardo de Olveira Barros CTP e Impressão: Telefones: (61) 3345-0882/3346-9481
E-mail - apcf.pr@apcf.org.br Página 48 Athalaia Gráfica e Editora E-mail: apcf@apcf.org.br
GOIÁS SANTA CATARINA TOCANTINS
Diretor Regional - Gabriel Renaldo Laureano LONDRINA Diretor Regional - Daniel Pereira de Oliveira Diretor Regional - Eduardo Henrique de Oliveira Mendes Tiragem: Assinatura da revista:
Vice-Diretor - Isleamer Abdel Kader dos Santos Diretor Regional - Eduardo Marafon Vice-Diretor - Eduardo Zacchi Vice-Diretor - Erich Adam Moreira Lima PERITOS FEDERAIS MINISTRAM CURSO INTER- 10.000 exemplares www.apcf.org.br
Diretor Financeiro - Rodrigo Albernaz Bezerra Vice-Diretor - Roberto Maurício Américo do Casala Diretor Financeiro - Antônio Cesar da Silveira Junior Diretor Financeiro - Koichi Ouki NACIONAL DE ANÁLISE DE LOCAIS DE CRIME
E-mail - apcf.go@apcf.org.br E-mail - apcf.pr@apcf.org.br E-mail - apcf.sc@apcf.org.br E-mail - apcf.to@apcf.org.br Agência APCF
Página 57
Perícia Federal 3
ENTREVISTA: Meiga Aurea ENTREVISTA: Meiga Aurea

recidas. Para o leitor ter uma ideia, estima-se eficazes para a identificação dos autores.  para que haja a confirmação final dos resul- combate aos crimes sexuais. Você poderia Vale aqui esclarecer que quando falamos
que hoje cerca de 60 países utilizem essa Para se ter uma ideia de como os Bancos tados e emissão do laudo pericial aos atores falar um pouco mais sobre essa aplicação? em custos, precisamos citar também que há
tecnologia e, juntos, somem cerca de 70 de Perfis Genéticos poderiam ajudar, vamos ao da persecução penal. Sim, de fato a RIBPG se preocupou em di- outros, bem mais altos por sinal, do que se
milhões de perfis genéticos armazenados. exemplo do Reino Unido. Usuário dessa tec- Qual sua leitura da discussão da vulgar um pouco mais sobre essa aplicação, já investir em bancos de perfis genéticos e na
Após anos de investimento, capacitação nologia desde 1995, em seu relatório anual do constitucionalidade da Lei nº 12.654 que crimes sexuais apresentam um alto índice prova pericial. Um deles é o custo da impuni-
e parcerias, o Brasil se juntou a esse grupo Banco Nacional de DNA de 2015, é informado atualmente pelo STF? de reincidência e impunidade. Um estudo do dade, seja pelo dano direto à sociedade com
formalmente em 2013, quando foi publica- que a taxa de coincidência (match rate) já atin- Acredito que será uma oportunidade ímpar IPEA indica que pode haver cerca de 500 mil mortes e roubos desnecessários pelo simples
do o Decreto Presidencial nº 7950 criando a giu a marca de 63,2%. Isso significa que cerca para refletir melhor a respeito de uma lei fede- estupros por ano no Brasil. Aliada a essa alar- fato do criminoso estar solto ou pelo dano ir-
Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéti- de seis em cada dez amostras encontradas em ral vigente há quatro anos que ainda pode ser mante estimativa, temos a baixa notificação reparável causado pela prisão equivocada de
cos (RIBPG) no âmbito do Ministério da Jus- uma cena de crime sem suspeito (conhecidas muito melhor utilizada. No último relatório se- por parte das vítimas e pouquíssimo uso da um inocente. Além desses, há alguns outros
tiça. Segundo o último relatório semestral também como amostras de casos abertos), mestral da RIBPG, é apontado que cerca de 70 prova pericial, já que muitos casos são encer- exemplos do quanto se revela econômico in-
André Zímmerer

que publicamos em maio passado, no por- quando são inseridas no banco, apresentam mil condenados no Brasil estariam sob efeito da rados apenas com o uso de reconhecimen- vestir em bancos de perfis genéticos, como o
tal da RIBPG, os 19 laboratórios de genética coincidência (match) com o perfil genético de lei, embora haja menos de mil hoje cadastrados tos testemunhais comprovadamente frágeis recente estudo da economista Jennifer Do-
forense oficiais e membros compartilham, um indivíduo previamente cadastrado crimi- no Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG), e falhos.  Entendo que o primeiro passo para leac de 2016, “The Effects of DNA Databases
A perita criminal federal Meiga Aurea hoje, cerca de seis mil perfis genéticos e já nalmente. Ou seja, hoje um suspeito pode ser que congrega os dados de todos os 19 labora- mudar esse cenário seria a aplicação imediata on Crime”, cujos cálculos, levando em con-
Mendes Menezes é farmacêutica- auxiliaram mais de 200 investigações em revelado em mais da metade dos casos crimi- tórios oficiais de genética forense do País. da Lei nº 12654/12, estimulando a coleta e a in- sideração a economia americana, indicam
bioquímica e mestre em Ciências todo o País. Os dados sem dúvida são ani- nais, obviamente dos que envolvem vestígios Há poucos meses chegou ao STF o Recur- serção dos perfis genéticos de condenados e que se evitar um determinado crime grave
madores, mas o número geral de amostras biológicos, em todo Reino Unido. so Extraordinário 937.837, onde a Defensoria suspeitos de crimes sexuais nos bancos de per- pode custar muito menos simplesmente se
Biológicas pela UFRJ. Após dois anos
e, consequentemente, de resultados, ainda Qual o papel da perícia criminal no uso Pública de Minas Gerais questiona a constitu- fis genéticos que compõem a RIBPG. O fato do alimentando bancos de perfis genéticos do
lotada na Unidade de Perícias de
é considerado muito abaixo do esperado dos bancos de perfis genéticos? cionalidade da coleta de DNA de condenados STF estar discutindo a lei não significa de modo que aumentando a pena ou o efetivo policial.
Foz do Iguaçu/PR, chegou ao então para um país com alarmantes taxas de vio- Diferente do mundo fantasioso mostra- por crimes violentos ou hediondos. Distribui- algum que ela parou de ter efeito.  Por outro Outra estratégia, não menos interessan-
recém-inaugurado  Laboratório de lência e impunidade como o nosso. do em alguns filmes e seriados criminais, os do ao Ministro Gilmar Mendes, o relator con- lado, seria importante um esforço para coleta te, seria a implantação de programas especí-
Genética Forense do Instituto Nacional Qual o impacto dos bancos de perfis bancos de perfis genéticos, embora seja uma siderou que a questão constitucional tem re- e análise de todos os materiais coletados das ficos de combate a crimes sexuais e de pes-
de Criminalística (INC) em 2006. Com genéticos na persecução penal? valiosa ferramenta, não são ainda máquinas levância jurídica e social, se manifestando no vítimas (geralmente suabes vaginais) conten- soas desaparecidas para que haja um maior
grande atuação nos trabalhos da Rede Imagine uma cena de crime encontrada expressas do tipo autoatendimento. Na vida sentido de reconhecer a existência de reper- do o perfil genético do agressor para o devido incentivo na coleta, na análise e na inserção
pela polícia: uma explosão de caixa eletrô- real, o trabalho da perícia tem início na cena cussão geral na matéria. A decisão do Plenário confronto no banco e identificação da autoria. dos perfis genéticos nos bancos da RIBPG. E
Integrada de Bancos de Perfis Genéticos
nico, uma invasão de domicílio ou mesmo de crime, onde os peritos criminais identifi- Virtual foi unânime. Com o reconhecimento Sem dúvida, quanto mais esforços forem uma boa coleta impõe outro grande desa-
(RIBPG) desde sua concepção em 2009,
um caso de estupro. Dificilmente alguém cam, registram e coletam vestígios que po- da repercussão geral, a decisão de mérito a feitos nessa direção, mais resultados práticos fio: o fortalecimento da perícia de local de
participou do primeiro treinamento do imagina o criminoso ainda presente no mo- dem conter material biológico dos autores ser tomada pelo STF no recurso passará a ter poderão ser obtidos pelos peritos criminais, crime. A matemática é simples nesse caso:
FBI para formação de administradores mento da chegada da polícia. A maioria dos do crime. É uma etapa-chave e que depende efeito vinculante e deverá ser aplicada a todos como o caso da identificação de um estupra- sem uma perícia de local bem estruturada,
CODIS em 2010. Atualmente, é a crimes investigados, de fato, não apresenta também de uma adequada preservação do os casos análogos no âmbito do Poder Judi- dor serial tratado nesta Revista. não se pode esperar bons resultados em
administradora do Banco Nacional de suspeitos, principalmente aqueles contra o local de crime. Uma vez coletados os vestí- ciário brasileiro, sendo nosso entendimento Pela sua experiência de sete anos desde bancos de perfis genéticos. Por fim, desta-
Perfis Genéticos e coordenadora do patrimônio, a pessoa e a dignidade sexual. gios biológicos, eles são enviados para os que isso poderá ser extremamente positivo. o início da implementação da RIBPG caria o uso da Lei nº 12.654/12. É importante
Em maior ou menor grau, essa é uma reali- laboratórios de genética forense e processa- Como já citado, vários países trabalham com no País, quais os maiores desafios que ressaltar que o cadastro de pessoas nos ban-
Comitê Gestor da RIBPG, ambos ligados
dade presente no mundo todo e no Brasil dos para a extração dos perfis genéticos, que bancos de perfis genéticos há mais de uma serão enfrentados nos próximos anos? cos de dados de perfis genéticos não se res-
diretamente ao Ministério da Justiça.
não seria diferente. Apesar de não existir são, então, inseridos nos bancos em tela. década e, naturalmente, suas respectivas Su- Eu destacaria a implantação de uma tringe ao previsto na Lei n°12.654. Há outros
Como você avalia a situação do Brasil uma estatística precisa disponível, um es- Além de toda a responsabilidade na premas Cortes já debateram e aprimoraram política continuada no âmbito federal para dispositivos legais que permitem à autori-
quanto ao uso dos bancos de perfis crimi- tudo de 2012, feito pela Estratégia Nacio- adoção de padronizações e critérios de seus ordenamentos jurídicos sobre o tema. prover os recursos materiais e humanos ne- dade judiciária encaminhar este cadastro.
nais e de pessoas desaparecidas? nal de Justiça e Segurança Pública (Enasp), qualidade para inserção de perfis, toda Um exemplo recente foi em 2013, quando a cessários aos laboratórios oficiais de genéti- Um dos exemplos é a progressão de regime,
A tecnologia de bancos de perfis gené- mostrou que apenas 6% dos suspeitos de vez que uma coincidência é observada Suprema Corte dos Estados Unidos, após ana- ca forense membros da RIBPG. Observamos prevista na Lei de Execuções Penais (Lei n°
ticos surgiu há cerca de 20 anos, sendo o homicídios registrados nas delegacias do no banco é iniciada uma complexa etapa lisar diversos posicionamentos estaduais, de- que ainda há muita dificuldade na disponibi- 7.210/1984, artigos nº 115, 124 §1° e 132).
primeiro país a adotá-la o Reino Unido, se- País eram levados ao Judiciário. Ou seja, de interpretação dos dados e confirmação cidiu favoravelmente pela coleta de suspeitos lidade de peritos especializados, bem como Outras possibilidades de cadastro a partir de
guido pelos EUA, pela França e pela Nova 94% dos casos de homicídio não são leva- por parte dos peritos criminais vinculados de crimes considerados graves. na aquisição de equipamentos e insumos uma decisão judicial são a suspensão condi-
Zelândia. Desde então, diversos países dos a julgamento, o que talvez nos indique aos laboratórios oficiais de genética forense No último relatório semestral da RIBPG, que ainda são considerados caros, em com- cional da pena, prevista no Código Processo
vêm adotando essa importante ferramenta que há em nosso País um alarmante cená- participantes da RIBPG.  Não são raros os ca- publicado no portal do MJ em junho, paração com outras áreas da criminalística. Penal (Lei n° 3.689/1941, artigo nº79), e a
como instrumento de prova na apuração rio de crimes sem suspeitos, agravado pela sos em que há a necessidade de repetição foi reforçado o uso dos bancos de perfis Outro passo importante é a integração dos suspensão condicional do processo, previs-
criminal e identificação de pessoas desapa- grande carência de ferramentas periciais ou o uso de uma nova técnica disponível genéticos como importante ferramenta no nove estados ainda faltantes à RIBPG. ta no § 2° do artigo 89 da Lei n° 9.099/1995.

4 Perícia Federal Perícia Federal 5


ÁREAS DA PERÍCIA: peritos criminais federais Alessandra Barbosa, Alexandre Pavan, Jeferson Corrêa e Rodrigo Pereira da Silva ÁREAS DA PERÍCIA: peritos criminais federais Alessandra Barbosa, Alexandre Pavan, Jeferson Corrêa e Rodrigo Pereira da Silva

casos criminais, geralmente relacionados Perito Criminal Federal/Área 12 de metodologia adequada, é possível obter Necropsia forense Exames de avaliação de idade
Áreas da Perícia com eventos cuja apuração seja de com- Requisito: diploma, devidamente regis- informações sobre espécie, sexo, grupo ét- É um procedimento médico realizado Frequentemente são aplicadas técnicas
petência da Polícia Judiciária da União, ou trado, de conclusão de curso de graduação nico, idade, estatura, entre outros. em casos de morte violenta ou suspeita. de odontologia e medicina legal com o ob-
demandada pela Justiça Federal2. de nível superior em Medicina, fornecido Consiste no exame do cadáver e de seus jetivo de estimar a idade biológica do indiví-

MEDICINA E O Departamento de Polícia Federal conta


com dez cirurgiões-dentistas e sete médicos
por instituição de ensino superior reconhe-
cida pelo Ministério da Educação (MEC). 
Perícia médica e
odontológica no vivo
pertences com a finalidade de confirmar a
identidade da vítima e fornecer importan-
duo, seja ele vítima de alguma ação crimino-
sa (como na prostituição infantil ou pedofilia),

ODONTOLOGIA
no quadro desde 2006. Os peritos criminais tes subsídios à investigação criminal por seja agente do delito (quando não se tem re-
federais que atuam nessas áreas estão lotados Perito Criminal Federal/Área 13 meio de informações sobre a causa e cir- gistro de nascimento), para fins de aplicação
em várias regiões do Brasil. Especificamente Requisito: diploma, devidamente re- cunstâncias do óbito. da legislação pertinente a cada caso.

FORENSES no órgão central da criminalística federal, o


Instituto Nacional de Criminalística (INC), em
Brasília, cinco peritos criminais federais mé-
gistrado, de conclusão de curso de gradu-
ação de nível superior em Odontologia, for-
necido por instituição de ensino superior
Exames de marcas de mordida
São exames realizados em marcas ou
dicos e um dentista constituem a equipe da reconhecida pelo Ministério da Educação. impressões deixadas pelos dentes ou ou-

A
Medicina e Odontologia Forenses Área de Perícias de Medicina e Odontologia Atribuições: realizar exames periciais tros elementos rígidos presentes na boca
constituem a parte da Criminalística Forenses (APMOD) atualmente. Além de atua- em locais de infração penal, realizar (próteses, aparelhos ortodônticos) sobre
que aplica conhecimentos técnico- rem em todo o território nacional, os peritos exames em instrumentos utilizados, ou um suporte. O recolhimento e a interpre-
-científicos relacionados à Medicina e à Odon- médicos e dentistas podem participar de mis- presumivelmente utilizados, na prática tação dessas marcas podem auxiliar na ex-
tologia, respectivamente, bem como de suas sões no âmbito internacional, em cooperação de infrações penais, proceder pesquisas clusão de suspeitos ou apontar elementos
diversas especialidades, para apuração de cri- técnica com a Interpol ou mediante determi- de interesse do serviço, coletar dados e de culpabilidade. São úteis na investigação
mes e esclarecimentos dos fatos à justiça. nação do Ministro da Justiça. informações necessários à complemen- de crimes sexuais, de abuso infantil e vio-
A perícia médico-legal é obrigatória Dentre as apurações em que houve tação dos exames periciais, participar lência doméstica.
em todos os casos de crimes que atentem forte atuação da equipe da APMOD, desta- da execução das medidas de segurança
contra a integridade física do ser humano. cam-se: a busca pela identificação de desa- orgânica e zelar pelo cumprimento das As perícias médica e odontológica no Exames periciais indiretos
A medicina forense pode ser subdividida parecidos políticos na região do Araguaia; a mesmas, desempenhar outras atividades vivo constituem a maior casuística nos ins- e mistos
nos temas relacionados à antropologia, protagonista participação na exumação do que visem apoiar técnica e administrati- titutos de medicina legal no Brasil. Tais pe- Além dos exames acima elencados, uma
traumatologia (lesões corporais), tanato- ex-presidente João Goulart (2013); e atua- vamente as metas da Instituição Policial, rícias são realizadas, respectivamente, por grande casuística atual da APMOD consiste
logia, sexologia, toxicologia, psiquiatria, ções para a identificação de vítimas de de- bem como executar outras tarefas que médico ou cirurgião-dentista por meio de na realização de perícias indiretas, com base
entre outros1. sastres em massa, como no caso da queda lhe forem atribuídas.  exames clínicos, radiográficos, laboratoriais nas informações contidas em materiais e
Na perícia criminal, o campo de atua- do avião da Air France em águas internacio- e envolvem exames de traumatologia fo- Exumação e necropsia documentos médicos e odontológicos,
ção do odontólogo abrange diversas áreas, nais, na costa brasileira em 2009, e do avião PRINCIPAIS TIPOS rense, toxicologia, sexologia forense, entre pós-exumação frequentemente ligados a ocorrências que
envolvem qualidade da assistência médica
como a antropologia; a realização de exa- que levava o então candidato à presidên- DE PERÍCIAS MÉDICA outros, relacionados à caracterização de au- Consiste no desenterramento de restos
hospitalar em Unidades Hospitalares Fede-
cia da República Eduardo Campos, em São toria e materialidade de práticas criminosas. mortais para que esses sejam submetidos
mes de corpo de delito de lesão corporal,
Paulo, em 2014.
E ODONTOLÓGICA rais, uso e consumo indevido de materiais
quando houver comprometimento da ao exame necroscópico. Objetiva, geral-
cavidade bucal e/ou do complexo maxilo-
REALIZADAS PELA mente, confirmar a identidade da vítima, e equipamentos em estabelecimentos hos-
mandibular; exames em marcas de mordi- COMO INGRESSAR APMOD buscar informações acerca da causa e cir- pitalares que faturam contra o Sistema Úni-
da; exames de identificação odontolegal, cunstâncias do óbito ou quaisquer outros co de Saúde (SUS), ou situações de suspeita
Para se tornar um perito criminal fe- Exames de antropologia de fraudes contra a previdência social em
sendo sua atuação de extrema importância esclarecimentos de interesse da justiça que
deral é necessária aprovação em concur- forense em corpos, fragmentos decorrência de processos de aposentadoria
em casos de desastres em massa ou que tenham surgido após a inumação.
so público em sua área de atuação. As corporais ou ossadas por doenças ou invalidez.
resultem em cadáveres carbonizados, frag- graduações em Medicina e Odontologia,
mentados ou em avançado estado de de- Esse tipo de exame é realizado em res- Exames periciais “ad
aliadas às disciplinas específicas do Curso
composição; entre outros. tos mortais que se encontram em estágio cautelam” em presos e
de Formação Profissional, última etapa do
Na Polícia Federal, as perícias médicas e concurso, fornecem a esses profissionais
de decomposição avançado, fragmentado custodiados
odontológicas são requisitadas em diversos ou esqueletizado. O trabalho pode ter início São exames realizados cautelarmente
conhecimentos técnico-científicos espe-
por meio de uma minuciosa escavação no na pessoa presa ou naquela que iniciará o
1. GARIEIRI, A. P.; MACHADO, C.E.P.; CORRÊA, J.E.; LIRA, M.M.A. cializados para a aplicação na área forense.
local onde se encontram os restos mortais, cumprimento de uma pena com o obje-
Perícias de medicina e odontologia forenses. Guia de serviços Os requisitos e atribuições2 do cargo são:
da perícia criminal federal: uma visão panorâmica: a verdade e remoção e transporte até o laboratório de tivo de atestar a integridade física ou não
a justiça pela ciência forense, Brasília: Departamento de Polícia
Federal, Diretoria Técnico-Científica (DITEC), p. 90-95. 2011. 2 Fonte: www.pf.gov.br antropologia, onde, por meio do emprego do indivíduo.

6 Perícia Federal Perícia Federal 7


DNA ESTUPRADOR : Taynara Figueiredo DNA ESTUPRADOR : Taynara Figueiredo

ESTUPRADOR
Segundo a perita criminal Ana Cristina
Lepinsk Romio, administradora estadual do
Banco de Perfis Genéticos em Mato Grosso,

EM SÉRIE É
os perfis dos vestígios obtidos das vítimas
foram inseridos no banco de DNA enquan-
to eram conduzidas as investigações. ‘‘Existia

IDENTIFICADO
uma linha de investigação, com base no mo-
dus operandi do criminoso, e uma suspeita
de que o autor dos crimes em Mato Grosso
poderia ser a mesma pessoa que havia estu-

PELA REDE prado várias mulheres em Manaus’’, explicou.


No Amazonas, o acusado usava as duas
identidades e já tinha sido preso, em 2012,

INTEGRADA DE
por integrar uma quadrilha que cometia
roubos a comércios e a residências. Ele
também era investigado por homicídio,

BANCOS DE PERFIS
porte ilegal de armas, além de mais de 20
estupros. Em dezembro do mesmo ano, ele
fugiu do presídio e se tornou foragido da

GENÉTICOS
justiça. Contra ele havia pelo menos quatro
mandados de prisão preventiva em aberto. prisão acompanhar a coleta do material vestígios que foram coletados de vítimas
genético do acusado, cedido por ele de for- de violência sexual atribuídas a Herley, com
ma espontânea. “Essa foi a primeira vez que idades entre 11 e 40 anos. Desses, oito eram
Apesar de apresentar resultados expressivos em alguns Sete em cada requisitei esse procedimento de coleta de compatíveis com o perfil do acusado. Três
casos, banco de DNA ainda anda a passos lentos 10 mulheres no material genético. Não tinha conhecimento foram enviados ao Banco Nacional de Perfis
da ferramenta do banco de dados de DNA. Genéticos e deram match (compatibilida-
mundo já foram ou Soube recentemente, por meio de matéria de) com os de Mato Grosso”.
serão violentadas

D
divulgada na imprensa. Avalio que deve ser A polícia de Rondônia ainda não conse-
esde que foi implementada no Brasil, pelo Decreto nº 7950/13, a Rede In- feita uma campanha para divulgação do guiu confirmar por meio do DNA estupros
tegrada de Bancos de Perfis Genéticos apresentou ao poder público, de em algum Banco Nacional de Perfis Genéticos e de praticados por Célio no estado, mas dois
acordo com o último relatório do Ministério da Justiça, 139 coincidências momento da vida. como ele pode auxiliar a justiça, da forma casos já estão sendo investigados, segundo
e que auxiliaram 209 investigações em todo o País. Para os gerenciadores da rede, que nos ajudou. A resposta foi muito rápi- o perito Flávio Ricardo Silva.
o número é considerado baixo, se comparado ao que a ferramenta pode oferecer Fonte: Organização das Nações Unidas – ONU
da”, afirmou a delegada.
em resultados. Depois de feita a coleta, o material do
Um exemplo do bom funcionamento do Banco é o recente confronto captado Célio/Herley só foi preso em setembro suspeito foi inserido no banco estadual. 67,1% da população
pelo sistema CODIS (software cedido pelo FBI ao Brasil e que integra a rede): um es- de 2015, no estado de Rondônia, numa “Fizemos a comparação, que confirmou a
tuprador em série, suspeito de ter abusado sexualmente de mais de 50 vítimas nos operação das polícias civil e militar, após autoria dos quatro estupros aqui em Mato residente nas
estados do Amazonas, de Rondônia e do Mato Grosso, sendo 23 apenas em Manaus, cometer roubos e um estupro a uma secre- Grosso. Mas a surpresa só veio quando fi- grandes cidades
onde estuprou crianças, adolescentes e mulheres adultas. tária de um consultório odontológico. Em zemos upload dos perfis genéticos para
O acusado é Célio Roberto Rodrigues, de 35 anos, que também utilizava o nome depoimento, ele teria confessado dezenas o Banco Nacional e constatamos que era
brasileiras
de Herley Nascimento Santos para cometer os crimes. Ele é o primeiro criminoso no de crimes que praticou. compatível com o perfil do estuprador do têm medo de
Brasil a ter a identificação confirmada como suspeito de crimes sexuais em série por
meio do exame de DNA, com o auxílio do Banco Nacional de Perfis Genéticos.
Quando soube da prisão de Célio em Amazonas”, explicou a perita Ana Cristina.
ser agredida
Rondônia, a delegada Eliane da Silva Mo- A perita Daniela Koshikene, do Ama-
Célio foi identificado pelo banco pela primeira vez, em março deste ano, em raes, da Delegacia da Mulher que investi- zonas, informou que o perfil genético de sexualmente.
Mato Grosso, após cometer quatro estupros com o mesmo modus operandi. Ele ata- gava os casos de estupro no Mato Grosso, Herley foi identificado no laboratório de
cava as vítimas em casa depois de simular pedir alguma informação ou água. O com base nas informações coletadas pela DNA do estado no mesmo ano que ele foi Fonte: Organização das Nações Unidas – ONU
primeiro abuso foi em 2013 e outros três em 2014, na cidade de Cuiabá. equipe de inteligência, foi até o local da preso em 2012: “Chegaram 16 amostras de

Perícia Federal 9
DNA ESTUPRADOR : Taynara Figueiredo
CRONOLOGIA DE CRIMES COMETIDOS

ROUBOS A
COMÉRCIOS

PERFIL DO RR
ROUBOS A
RESIDÊNCIAS ACUSADO
MA
PORTE ILEGAL RN
DE ARMA
AMAZONAS

PI
2012

Célio/Herley atribui suas ações aos AL


abusos sexuais que sofreu do AC TO
HOMICÍDIO RO
padrasto na infância. Antes de SE
começar a praticar os crimes, era
funcionário público e de família
estruturada. Tem duas filhas. É um
20 ESTUPROS
homem inteligente, orientava-se
por meio de mapas e usava do seu A REDE INTEGRADA
conhecimento para fugir do cerco A Rede Integrada de Bancos de Perfis
policial. Quando cometia os crimes, Genéticos (RIBPG) surgiu da iniciativa con-
dizia apenas “que não conseguia se junta do Ministério da Justiça e das Secreta- Laboratórios participantes da RIBPG
FUGA DO controlar”. Tornou-se um homem rias de Segurança Pública Estaduais, tendo Até novembro de 2015 participavam
PRESÍDIO perigoso e frio a ponto de confes- por objetivo propiciar o intercâmbio de per- efetivamente da RIBPG 18 laboratórios
sar o que fazia e não se arrepender fis genéticos de interesse da Justiça, obtidos estaduais e o laboratório da Polícia Federal
2013

de nada. Usava da violência para em laboratórios de perícia oficial. Dezoito


MATO GROSSO

estuprar as vítimas, mulheres de laboratórios estaduais e o laboratório da


ESTUPRO qualquer biótipo e idade. Em Polícia Federal, onde fica o Banco Nacional,
Manaus, ele agredia as mulheres integram a Rede. Atualmente, ele é abaste-
com socos e chutes. Uma chegou a cido com vestígios coletados em locais de
2014

ser morta por ele depois de estu- crimes, com perfis genéticos de condena-
prada, outra precisou passar por dos por crimes hediondos (com base na Lei
3 ESTUPROS cirurgia para reparar as agressões 12.654/12), restos mortais não identificados
e familiares de pessoas desaparecidas.
que sofreu, segundo a perita 90,2% das mulheres
RONDÔNIA

De acordo com o último relatório do co-


Daniela Koshikene.
2015

mitê gestor da Rede, disponível no site do e 73,7% dos jovens


Para a delegada Eliane Moraes, é MJ, há uma preocupação com a inserção de
ROUBO E
de 16 a 24 anos
um caso a ser estudado. “Ele é um perfis no sistema. Isso porque a maioria das
ESTUPRO
criminoso que tem que ficar poucas amostras ainda se trata de vestígios afirmam ter medo
preso para o resto da vida. Não coletados em locais de crime. As oriundas de sofrer violência
tem como voltar a ser uma da aplicação da Lei 12654/12 em alguns
pessoa comum”, afirmou. Com laboratórios seriam até inexistentes. Outra sexual.
CAPTURADO todas as condenações somadas, preocupação é com relação à quantidade
as penas de Célio/Herley podem de amostras de restos mortais e familiares Fonte: 9º Anuário do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública – 2015
ultrapassar 200 anos. de pessoas desaparecidas.

Perícia Federal 11
DNA ESTUPRADOR : Taynara Figueiredo DOCUMENTOSCOPIA: perito criminal federal Samuel Feuerharmel

Distribuição da categoria dos perfis genéticos no BNPG, por laboratório cabe a gestão do Sistema Penitenciário
Federal, composto por quatro unidades fe-
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000

MÉTODOS DE
derais de segurança máxima – Catanduvas
PF

SP
(PR), Mossoró (RN), Campo Grande (MS) e
MG Porto Velho (RO). No que tange ao Sistema
Penitenciário Federal, a coleta de perfis ge-

CONSTRUÇÃO
RS
PR néticos foi realizada em uma das unidades,
RJ estando em curso providências para sua
PA operacionalização nas demais, em diálogo

EXÓTICOS EM
AP com o Poder Judiciário Federal.
PE
CE
Esta operacionalização

ALGARISMOS E SINAIS
MS
PB
BA
há tempos é esperada
SC pela perícia. Os peritos

DE ACENTUAÇÃO
Vestígios
ES
MT
Condenados e identificados criminalmente (lei 12.654/12)
Restos mortais não identificados criminais federais
Familiares de pessoas desaparecidas
GO Outras estão preparados para
realizar as coletas nos
AM
DF

Padrão de contribuição de cada laboratório para o Banco Nacional de Perfis Genéticos


presídios federais e A Grafoscopia é a área da Criminalística que se ocupa
(BNPG) por categoria de perfíl genético. aguardando que esta da identificação da autoria de manuscritos,
O documento relata, ainda, que a RIBPG políticas mais efetivas para inserção de operacionalização tendo por fundamento o Princípio da
só se tornará eficiente e mostrará resultados perfis e caso a lei fosse cumprida, muitas
aconteça o mais rápido
reais caso sejam coletados os perfis genéti- mulheres não teriam sido mortas. Individualidade Gráfica, segundo o
cos de indivíduos cadastrados nos termos O Ministério da Justiça informou, por possível, para que sejam
da Lei nº 12.654/12. Sem o pleno cumpri- meio de nota, que para que a RIBPG conti- qual não há duas pessoas em todo
mento dessa lei, segundo o relatório, não nue a ser alimentada com amostras genéti-
maiores as chances
há com o que se comparar os vestígios, cas de presos condenados ou aguardando de se prevenir crimes o mundo cujas escritas não
diminuindo sobremaneira as chances de julgamento, é necessário que os gestores e evitar o sofrimento possam ser diferenciadas.
identificação para auxiliar a elucidação de prisionais e os órgãos de segurança das uni-
crimes, evitar condenações equivocadas ou dades da Federação que aderiram ao RIBPG de famílias brasileiras,
prevenir crimes em série como o de Harley. procedam à operacionalização da coleta. afirmou André Morisson.
Atualmente, o sistema carcerário brasi- Explicou ainda que, ao Governo Federal,
leiro tem população de 620 mil presos, se-
gundo o levantamento do Departamento Vestígios, condenados e identificados criminalmente
Penitenciário Nacional. Treze porcento repre-
sentam os condenados que cometeram cri- CATEGORIA DE AMOSTRA Nº DE PERFÍS GENÉTICOS
mes contra a pessoa, ou seja, 80.600 pessoas.
Vestígios 3423
No ano passado, o Ministério da Justi-
Condenados (Lei 12.654/12) 955
ça chegou a colher amostras de presos no
presídio de Catanduva, mas o projeto não Identificados criminalmente (Lei 12.654/12) 95
avançou. Hoje o banco apresenta ape- Decisão judicial 4
nas 955 amostras de presos disponíveis
Total 4477
para comparação. Segundo o presidente
da APCF, André Morisson, caso houvesse Número de perfís genéticos das categorias de amostras relacionadas a casos criminais

12 Perícia Federal Perícia Federal 13


DOCUMENTOSCOPIA: perito criminal federal Samuel Feuerharmel DOCUMENTOSCOPIA: perito criminal federal Samuel Feuerharmel

O
artigo a seguir consiste em um es- em teoria, que a escrita produzida tenha que sejam razoavelmente confiáveis e úteis texto escrito pelos voluntários e o empre- acento grave, executado apenas duas vezes cada escrita: forma contínua ou snowman
tudo estatístico sobre métodos de uma mistura de características gráficas do mesmo em casos que envolvam escritas go de suportes com ou sem pauta. Em 65 por cada escritor. Além disso, a despeito de (ver Figura 2). Em alguns algarismos (“4”, “5”
construção incomuns empregados próprio imitador com características seme- não normais. Elementos que atendam a es- amostras, foi também solicitado que os se tratar de uma atividade de cópia, alguns e “7”), também foi pertinente considerar ca-
na produção de alguns sinais de acentuação lhantes às da pessoa cuja grafia foi imitada ses três critérios constituirão uma ferramen- voluntários reescrevessem o mesmo texto, voluntários não produziram nenhum sinal sos especiais de levantamentos de caneta
e dos dez algarismos. A principal característi- – a vítima da imitação. As escritas disfarça- ta de grande utilidade para os peritos em disfarçando sua escrita. Nesse caso, não foi de acentuação em suas escritas. internos, os quais eram pouco perceptíveis
ca considerada foi o sentido dos traços que das tendem a apresentar significativas mo- grafoscopia, e seu conhecimento e estudo fornecida nenhuma instrução específica, Os sinais de acentuação foram classifi- e implicavam mudanças significativas na gê-
constituem esses símbolos, tendo em vista dificações em suas características, podendo certamente elevarão o grau de objetivida- mas apenas explicado que o objetivo seria cados como ascendentes ou descendentes nese gráfica.
sua imperceptibilidade para pessoas leigas e até mesmo ser totalmente deformadas. de dos exames grafoscópicos, aumentan- alterar a grafia de modo a inviabilizar a iden- quando todas as suas execuções haviam
até mesmo para o próprio escritor. Nas escritas alteradas isso também pode do, assim, a confiabilidade das conclusões tificação de seu autor. sido feitas em apenas um desses sentidos. A A A A
Os resultados obtidos indicaram que ocorrer, mas, nesse caso, as alterações não apresentadas nessas perícias. Os grafismos coletados foram produzi- As amostras que apresentavam uma ou
uma considerável parcela de escritores são propositais, e sim causadas por fatores Neste trabalho, foram estudados os mé- dos por cópia de textos previamente im- mais exceções foram classificadas como
emprega, em um ou mais desses casos, alheios à vontade do escritor. todos de construção dos sinais de acentua- pressos ou projetados em uma tela, orien- variáveis. Casos duvidosos não foram con- B B B B

métodos de construção exóticos, mas que Não por acaso, os documentos mais fre- ção (acentos agudo e grave) e dos dez alga- tando-se os voluntários a empregarem sua siderados e, naqueles em que a maioria das
praticamente não alteram a morfologia do quentemente encaminhados para perícia rismos (mais especificamente o sentido de escrita normal. Em certo ponto do traba- execuções não propiciou a identificação
caractere, tornando-se, por essa razão, ca- grafoscópica são justamente aqueles que produção de seus traços), com o objetivo de lho, percebeu-se que alguns voluntários do sentido do traço, a amostra foi inteira-
racterísticas discriminadoras extremamen- contêm escritas não normais: alteradas, disfar- verificar quais os feitios mais frequentemen- interpretavam a expressão “escrita normal” mente desconsiderada. A B C D
te úteis para as perícias grafoscópicas. çadas ou imitadas. Justamente por isso, é ne- te empregados pelos escritores e identificar como sinônimo de escrita cursiva, poden- As inclinações aceitas para o sinal de
cessário que os peritos grafoscópicos tenham construções incomuns, que possam ser em- do tal interpretação ter elevado falsamente acentuação agudo variaram de 90o (total-
INTRODUÇÃO condições de trabalhar com razoável segu- pregadas como elementos discriminadores. o percentual desse estilo de letra3. O texto mente vertical) a 0o (totalmente horizontal). E F G H

rança em qualquer uma dessas situações. mais frequentemente empregado contém Neste último caso, foram considerados as-
A distinção de escritas com autorias di-
versas é feita por meio da análise de caracte-
Muitos dos elementos discriminadores METODOLOGIA nove palavras com acento agudo e duas cendentes os traços feitos da esquerda para
considerados nessas perícias, porém, pare- ocorrências de acento grave (sinal indicati- a direita e descendentes aqueles produzi-
rísticas especiais, que podem ser chamadas Foram reunidas 321 amostras de grafis-
cem não ser suficientemente confiáveis em vo de crase), além de várias ocorrências de dos em sentido contrário. Sinais com incli- A B A
genericamente de elementos discriminado- mos produzidos por pessoas de vários es-
escritas não normais; pelo menos não tanto letras e algarismos, estes produzidos à parte nações fora dessa faixa foram descartados.
res da escrita. Sendo o ato de escrever uma tados do Brasil2. Todos os voluntários eram
quanto o são nas normais. Segundo Camara e em condições que favoreceram a espon- Critérios correspondentes foram emprega-
ação motora complexa, que mobiliza diver- adultos e, em sua maioria, alunos de um cur-
e Silva e Feuerharmel (2014), a importância taneidade da escrita. dos para o acento grave. C D B
sas regiões cerebrais e exige vários meses so de pós-graduação. Os testes foram feitos
de um elemento ou característica discrimina- Os instrumentos empregados nas aná- Os algarismos tiveram seus métodos de
– ou mesmo anos – de exercitação prática dentro da disciplina de Grafoscopia, mas
dora depende de três fatores: sua constância lises foram lupas manuais de ampliações construção determinados pela análise de
para ser automatizada, é bastante razoável sempre nos primeiros momentos de aula,
na escrita examinada, sua raridade na popu- variadas e um microscópio digital com dois seus respectivos ataques, arremates, sen-
considerar que cada pessoa tende a desen- sem que os alunos tivessem estudado ou
lação em geral e sua imperceptibilidade. valores de ampliação: 20 e 800 aumentos. tidos de produção dos traços e, eventual- A B A
volver numerosas peculiaridades em sua recebido informações a respeito do assunto.
O primeiro fator implica que a ausência Para a determinação do sentido dos tra- mente, levantamentos de caneta internos.
escrita, as quais permitirão diferenciá-la de Embora não se tenha questionado a idade
ou a alteração de uma determinada carac- ços, foram seguidos os métodos propostos As amostras estudadas continham no mí-
todas as outras, tornando-se, portanto, ca- nem o sexo dos escritores, havia predomí-
terística na escrita questionada constitui por Camara e Silva e Feuerharmel (2014). nimo cinco execuções de cada algarismo, C D
racterísticas individualizadoras. nio de mulheres (numa proporção aproxi-
um bom indício de que ela não tenha sido Com exceção de algumas poucas amostras mas em geral essa quantidade era bem
Embora a individualidade da escrita te- mada de 2 para 1), e a grande maioria tinha
produzida pela pessoa a quem se atribui que não permitiram identificar inequivoca- maior. Pelo menos três a cinco execuções
nha sido corroborada por vários estudos1, ela menos de 50 anos de idade. A única carac-
sua autoria (em cuja escrita, tal caracterís- mente o sentido de seus traços, por terem de cada algarismo foram analisadas com
parece ser mais plausível em casos que en- terística pessoal efetivamente pesquisada e
tica é constante). A raridade de uma deter- sido produzidas a lápis ou com canetas de ampliação em cada amostra, e as demais o A A B
volvem escritas normais, isto é, escritas sem considerada neste trabalho foi a lateralidade
minada característica implica o contrário, tinta líquida, praticamente todos os algaris- foram macroscopicamente.
quaisquer tipos de alterações ou anormali- gráfica (escritores canhotos e destros).
tornando pouco provável que sua presen- mos tiveram seus métodos de construção Os esquemas mostrados na Figura 1 ilus-
dades. No entanto, é sabido que as pessoas A coleta do material ocorreu entre os
ça na escrita questionada se deva a mero definidos. No caso dos sinais de acentua- tram os critérios empregados na classificação B C D
podem, de modo geral, produzir até quatro anos 2011 e 2015 e, nesse período, sofreu
acaso (características raras, entretanto, po- ção, houve algumas ocorrências em que dos métodos de construção considerados,
tipos de escrita: normal, alterada, disfarçada algumas alterações em sua metodologia,
dem ser imitadas). A imperceptibilidade de isso não foi possível, especialmente para o os quais se basearam no sentido de produ-
e imitada (HUBER e HEADRICK, 1999). devido a mudanças no objetivo do tra-
uma característica discriminadora diminui a ção do traço principal de cada algarismo. O
Este último tipo ocorre quando uma balho. Tais alterações foram meramente
probabilidade de ela ser deliberadamente 3. Neste trabalho não se objetivou a análise das frequências algarismo “8” constituiu uma exceção, pois Figura 1: Esquemas indicando os possíveis
determinada pessoa tenta imitar a escrita formais – basicamente o conteúdo do dos estilos de escrita, mas as amostras reunidas apresentaram
imitada ou disfarçada. nele também se analisaram alguns hábitos métodos de construção considerados nes-
de outra. Nesse caso, espera-se, ao menos os seguintes percentuais (aproximados): 79% de escritas
Com base nessas ideias, tem-se busca- 2. A maioria dos voluntários residia nos estados de Goiás, cursivas, 10% de escritas de fôrma, 5% em estilo script gráficos relacionados com a posição dos te trabalho. Os traços em cinza representam
Mato Grosso do Sul, Pará, Rio Grande do Sul, Santa Catarina (desconectada de imprensa) e 6% mistas, que apresentavam
1. E.g.: HUBER (2000) e SRIHARI (2002). do encontrar elementos discriminadores e São Paulo. características de pelo menos dois desses estilos. ataques e a morfologia predominante em estruturas que não foram levadas em conta.

14 Perícia Federal Perícia Federal 15


DOCUMENTOSCOPIA: perito criminal federal Samuel Feuerharmel DOCUMENTOSCOPIA: perito criminal federal Samuel Feuerharmel

11
12
RESULTADOS DISCUSSÃO Em alguns voluntários que apresenta- dos propósitos deste trabalho, mas pode ser
1 ram variação quanto ao método de cons- desenvolvido futuramente.
Os resultados obtidos são apresentados nas tabelas a seguir: Sinais de acentuação trução do acento agudo, aparentemente A imperceptibilidade do sentido de pro-
O sentido de produção do acento agu- havia certa lógica na inversão do sentido do dução dos sinais de acentuação já foi útil em
ACENTO AGUDO (´) ACENTO GRAVE (`)
10 2 do mostrou-se bastante útil como elemen- traço. É possível que a estrutura da palavra algumas perícias realizadas pelo autor. Num
Total Canhotos Destros Total Canhotos Destros to discriminador da escrita. Os percentuais (posição da letra acentuada, suas letras vizi- desses casos, uma pessoa que negava ter
9 3 obtidos podem ser considerados como nhas, o alógrafo empregado e o tamanho assinado três documentos, e fornecera pa-
Ascendente 75% (228) 64% (7) 75% (108) 15% (28) 86% (6) 9% (11)
ideais para essa finalidade: nem muito equi- da palavra, p. ex.) tenha influenciado essa drões gráficos disfarçados5, tinha por hábito
Descendente 10% (30) 27% (3) 11% (16) 83% (156) 14% (1) 89% (106) librados, nem muito díspares. Se cada uma inversão. Esse tema foge ao escopo do pre- produzir o acento agudo em sentido des-
8 Variável 15% (47) 9% (1) 14% (20) 2% (4) - 2% (2) dessas possibilidades (sentidos ascendente sente artigo, mas pode vir a ser estudado cendente, mesmo nos padrões disfarçados.
e descendente) ocorresse com frequência em outras ocasiões. Nas três assinaturas questionadas, o acento
de 50%, ambas seriam demasiadamen- O sentido de produção do acento gra- também era descendente, e ainda havia,
7 Tabela 1: Frequências observadas quanto ao método de construção dos sinais de acen-
te comuns, e a identificação de qualquer ve também parece ser útil como elemento em relação aos padrões, algumas poucas
tuação estudados. Os valores absolutos estão indicados entre parênteses. A lateralidade
uma delas numa determinada escrita pra- discriminador da escrita, mas os dados ob- convergências de natureza formal em duas
do escritor não foi especificada em muitas amostras, por isso os valores são mais baixos nas
ticamente não teria valor. Em uma situação tidos neste trabalho precisam ser confirma- letras das assinaturas questionadas. A pro-
colunas indicativas de destros e canhotos.
extremamente oposta (se uma dessas pos- dos ou revistos, já que os modelos de textos nunciada dessemelhança entre as assina-
sibilidades fosse extremamente rara), dificil- empregados nas pesquisas continham ape- turas questionadas e padrões (incluindo o
MÉTODO
DE CONS-
TRUÇÃO.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 mente se encontraria uma pessoa cuja es-
crita divergisse da população em geral no
nas duas ocorrências desse sinal, o que não
permitiu avaliar com precisão o número de
andamento gráfico, o uso dos alógrafos e
até mesmo a aparente habilidade gráfica)
A 96,9% 99,4% 100% 100% 93,9% 55,0% 99,4% 93,8% 81,1% 98,2% tocante a essa característica. escritores que apresentam este hábito grá- sugeria fortemente a dualidade de punho.
Na amostra pesquisada, pode-se con- fico variável. Oitenta e três por cento dos No entanto, a coincidência quanto ao sen-
B 3,1% 0,6% - - - 40,6% 0,6% 3,1% 18,9% -
siderar que três em cada quatro escritores voluntários produziram o acento grave em tido de produção do acento – e justamente
C - - - - 2,5% 1,9% - 1,9% - 1,2% (75%) sempre4 produzem o acento agudo sentido descendente. no sentido menos comum – justificou uma
D - - - - - 2,5% - 0,6% - 0,6% com um traço ascendente, e um décimo A lateralidade do escritor não pareceu busca por padrões naturais (já que uma
dos voluntários (10%) sempre o produzem influenciar significativamente o método nova coleta costuma ser totalmente inútil
E - - - - 0,6% - - 0,6% - -
com um traço descendente. Já o percen- de construção do acento agudo, já que as em casos que envolvem disfarces gráficos).
F - - - - 1,2% - - - - - tual de pessoas que apresentam esse há- proporções encontradas entre canhotos e Os padrões naturais permitiram identificar
G - - - - 1,2% - - - - -
bito gráfico variável foi relativamente alto destros foram semelhantes. Para o acento prontamente a unicidade de punho.
(15%). No entanto, em boa parte desses ca- grave, no entanto, o sentido ascendente foi
H - - - - 0,6% - - - - - sos o escritor tendeu a produzir o traço em mais comum entre os canhotos (86%), en- Algarismos
sentido ascendente e realizou apenas uma quanto que entre os destros houve grande Os métodos de construção referencia-
Tabela 2: Frequências observadas quanto ao método de construção dos algarismos es- execução no sentido oposto, sendo por predomínio do sentido descendente (89%). dos com a letra “A” na Tabela 2 e na Figura 1
tudados (n = 127 para o algarismo “8” e 160 para os demais). Os métodos de construção essa razão classificado no grupo “variável”. Um dado digno de menção é que dos 65 são aqueles de ocorrência mais comum na
indicados por letras nesta tabela estão representados na Figura 1. A disponibilidade de padrões gráficos voluntários que também foram solicitados a população em geral, de acordo com a práti-
numerosos e adequados permitirá classi- disfarçar suas escritas, apenas um alterou o ca pericial do autor. Os percentuais obtidos
Figura 2: À esquerda, representação es- ficar seu fornecedor num desses três gru- sentido de produção do acento agudo. To- neste trabalho confirmaram tal expectativa.
quemática das posições indicadas para o
POSIÇÃO DO
ATAQUE 10 11 12 1 2 3 7 8 9 pos e, a depender da extensão dos escritos dos os demais mantiveram seus hábitos grá- Para o algarismo “5”, no entanto, era es-
perada uma alta frequência também para
ataque do algarismo “8” (em analogia com questionados, também se poderá determi- ficos para essa característica, mesmo aqueles
a posição das horas em um relógio). Con- Frequência 21,6% 30,4% 8,0% 29,6% 0,8% 2,4% 3,2% 0,8% 3,2% nar qual o hábito gráfico de seu autor (as- que o apresentavam variável. No único caso o método de construção indicado como
vencionou-se que um ataque realizado cendente, descendente ou variável). Ainda em que houve alteração, aparentemente o “B”. De fato, essas duas primeiras formas
exatamente na junção das duas ovais seria Tabela 3: Frequências observadas quanto à posição do ataque do algarismo “8”. Os núme- que a amostra estudada não seja represen- escritor não a fez de modo deliberado. É pos- apresentadas na Tabela 2 ocorreram com
classificado como 9 ou 3 horas se o traço ros indicativos da posição do ataque formam uma analogia com a sinalização das horas tativa da população brasileira, a princípio sível que a alteração do sentido ascendente frequências relativamente altas na amos-
subsequente fosse direcionado para a es- em um relógio analógico (ver Figura 3). Esses valores referem-se apenas aos escritores não se vislumbram razões que impeçam a para o descendente tenha sido uma adap- tra estudada, e muitos voluntários usaram
querda ou para direita, respectivamente. que usam a forma contínua (n = 125). O formato snowman foi empregado por 22,3% dos extrapolação dos resultados aqui obtidos. tação involuntária à mudança radical feita
5. Por questões que fogem ao escopo deste artigo, não
À direita, representação de duas variantes voluntários, e não foi computado nesta tabela. Dois voluntários que usaram a forma con- 4. O termo “sempre” não é empregado neste trabalho com na inclinação da escrita, que originalmente haviam sido disponibilizados padrões naturais para a perícia.
morfológicas do algarismo “8”: contínuo e tínua apresentaram variação muito alta quanto à posição do ataque, e também não foram significado absoluto, mas sim como uma regra geral, sujeita era para a direita. O estudo de alterações de- O exame grafoscópico deixou totalmente claro que o
a exceções. Mas as exceções que porventura ocorrerem fornecedor dos padrões gráficos teve a intenção de disfarçar
snowman (boneco de neve). considerados nesta tabela. provavelmente constituirão casos fortuitos (acidentais) e raros. correntes de disfarces gráficos não fez parte sua escrita.

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DOCUMENTOSCOPIA: perito criminal federal Samuel Feuerharmel DOCUMENTOSCOPIA: perito criminal federal Samuel Feuerharmel

ambas concomitantemente. Nesses casos, foi cinco formas diferentes da mais usual, as dos escritores (também uma única pessoa7) se analisem minuciosamente os padrões comum em seus algarismos. Essa amostra- lidade de a análise grafoscópica tornar-se
computada apenas a forma predominante. quais foram empregadas por cerca de 6% o produziu em sentido ascendente. gráficos e a escrita questionada quanto à gem, no entanto, é muito limitada e precisa completamente objetiva (a ponto de suas
Com relação ao método de constru- dos voluntários. Duas das variantes repre- Os algarismos 2 e 3 não apresentaram constância (ou inconstância) da posição ser ampliada. conclusões serem expressas em valores
ção do “5”, portanto, o uso dos formatos sentadas na Figura 1 não estavam presen- nenhuma ocorrência de execução em sen- desses ataques. probabilísticos numéricos), nem tampouco
“A” ou “B” não pode ser considerado como tes na amostra estudada. tido ascendente na amostra pesquisada. A grande maioria dos voluntários pro- CONCLUSÃO a ideia de a capacidade analítica do peri-
elemento discriminador, nem para iden- O algarismo “7” também se revelou va- O algarismo “8” revelou-se o mais útil duziu o algarismo “8” com a curva superior O sentido de produção dos traços cons- to ser substituída por um banco de dados
tificação nem para eliminação de auto- riável, sendo identificados quatro métodos para a individualização da escrita, desde em sentido anti-horário (81,1%). Não foram tituintes de algarismos e sinais de acentua- com frequências de elementos discrimina-
rias gráficas. Quase 5% dos escritores, no de construção diferentes do usual, os quais que sejam consideradas conjuntamente observados casos de variabilidade para ção pode ser usado como um elemento dores. As informações aqui apresentadas
entanto, usaram formatos diferentes, que foram empregados por pouco mais de 6% as características relacionadas com o sen- esse hábito gráfico. discriminador de elevado grau de impor- devem ser tratadas como mais uma ferra-
foram denominados “C” e “D”. Entretanto, dos voluntários. Merece menção o fato de tido dos traços e com a posição do ata- A pesquisa revelou também que apro- tância em perícias grafoscópicas, tendo menta nas mãos do perito, a qual se junta
deve-se observar que as formas identifica- alguns escritores produzirem o corte desse que. Esta última, no entanto, mostrou-se ximadamente 29% dos voluntários produ- em vista sua imperceptibilidade a pessoas a uma ampla coleção já empregada por ele.
das como “B” e “C” diferem apenas quanto algarismo da direita para a esquerda. variável em alguns escritores, mas tais va- zem pelo menos um dos dez algarismos de leigas e a ocorrência de diversas variantes
a um levantamento de caneta (que ocorre O algarismo “9” apresentou variação me- riações consistiram na produção de traços forma diferente da mais comum (formas “A” mais ou menos raras e que são empregadas
somente na última), o qual nem sempre é nor, sendo constatada a ocorrência de ape- mais longos ou curtos (nos ataques) e ini- e “B” para o algarismo “5” e “A” para todos os por algumas pessoas de forma consistente, REFERÊNCIAS:
nítido e pode não ser detectado, mesmo nas duas variantes diferentes do método de ciados um pouco antes ou depois da po- demais). Nesses casos, se forem analisadas isto é, com poucas variações intrapessoais. CAMARA E SILVA, E.S. e FEUERHARMEL,
em ampliação. Por essa razão, é prudente construção mais comum, as quais foram usa- sição habitual. Citam-se, como exemplos, as possíveis combinações de algarismos Neste trabalho foram apresentadas al- S. Documentoscopia – aspectos cien-
considerar a forma “B” como uma varian- das por pouco menos de 2% dos escritores. ataques normalmente localizados na posi- em que é empregada uma variante inco- gumas frequências observadas na escrita tíficos, técnicos e jurídicos - Campi-
te eventualmente usada pela maioria das O algarismo “0” foi feito predominante- ção das 11 horas que eventualmente eram mum (e qual a variante empregada), pode- de mais de trezentas pessoas de diversas re- nas: Millennium, 2014.
pessoas e, consequentemente, seu em- mente no sentido anti-horário, e apenas 3,1% iniciados na posição da 1 hora; ou ataques -se obter um perfil gráfico razoavelmente giões do Brasil, permitindo aos peritos ava- HUBER, R.A. The heterogeneity of
prego não apresenta valor para a grafos- dos voluntários o fizeram em sentido horário. normalmente feitos às 12 horas que às ve- discriminativo baseando-se apenas no sen- liar, com razoável segurança, quão raros são handwriting. The American Society
copia. A única forma que parece não ser Menos de 1% dos participantes (um zes se localizavam mais para a esquerda tido de produção dos traços de cada alga- alguns métodos de construção emprega- of Questioned Document Examiners, p
empregada concomitantemente com a “B” único escritor6) produziu o traço principal ou para a direita. No entanto, escritores rismo. Esse perfil será ainda mais eficiente dos para algarismos e sinais de acentuação. 2-10, 2000.
é a forma “D”, cujo sentido de produção é do algarismo “1” de baixo para cima, en- que iniciavam o algarismo “8” em posição se os elementos discriminadores tradicio- Estudos adicionais podem ser promovi- HUBER, R.A.; HEADRICK, A.M. Handwrit-
exatamente o oposto. quanto que todos os demais o fizeram de alta (1, 12, 11 ou 10 horas) não o variaram nais (e.g.: inclinação, proporções, ataques dos para catalogar as frequências de outras ing identification: facts and funda-
O algarismo “4” mostrou-se um dos mais cima para baixo. a ponto de inverter seu ataque para uma e arremates) também forem considerados. características identificadoras, a fim de que mentals - Boca Raton : CRC, 1999.
variáveis – e, portanto, mais úteis para a dis- Valores semelhantes foram observados região baixa (3, 7, 8 ou 9 horas), e vice-ver- Vale destacar também que todos os as perícias grafoscópicas possam ser emba- SRIHARI, S.N. Individuality of hand-
tinção/identificação de autorias gráficas –, também para o algarismo “6”. Menos de 1% sa. De qualquer forma, é importante que escritores que produziram algarismos em sadas também em dados estatísticos, e não writing – Journal of Forensic Sciences,
inclusive quanto ao número de possíveis suas amostras e declararam ser canhotos apenas na experiência pessoal do perito. July 2002, Vol. 47, No. 4.
6. Este escritor também produziu os algarismos 7 e 9 em 7. Este escritor não usou métodos de construção exóticos
variantes em seu método de construção: sentido ascendente, e usou a forma “E” para o algarismo 4. para os outros algarismos. (n = 4) usaram pelo menos uma forma in- Não obstante, não se vislumbra a possibi-

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ACIDENTE EM MARIANA: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo ACIDENTE EM MARIANA: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo

TRAGÉDIA O
cenário de caos e lama que vi- a ocorrência foi caracterizada como dano ter levado ao rompimento; e as equipes
timou 18 pessoas e devastou o interestadual de atribuição da Polícia Fe- de meio ambiente (fauna e flora), que in-
distrito de Bento Rodrigues, mu- deral. Desde o rompimento, no entanto, as dicariam as consequências e o alcance da
nicípio de Mariana em Minas Gerais, é re- Polícias Civil e Militar de Minas Gerais, Corpo tragédia”, contou o perito criminal federal
sultado de uma série de erros de projeto e de Bombeiros, Defesa Civil e Ibama já esta- e chefe da Perícia Federal oficial em Minas

ANUNCIADA
remendos. Uma sequência de problemas vam no local e montaram um Centro de Co- Gerais, Marcus Andrade.
de operação, estruturais e de gerencia- mando e Controle na sede da Samarco para Segundo os peritos, uma equipe de
mento que contribuiu para a ocorrência da atender a ocorrência de forma integrada. pronta resposta, já com recursos direciona-
maior tragédia ambiental do País. Laudos “A estratégia que adotamos foi pri- dos e com logística pré-definida, poderia
divulgados recentemente pela Polícia Fe- meiramente convocar uma equipe mul- ser montada e treinada para ser acionada
deral apontam o que foi determinante para tidisciplinar de peritos criminais federais sempre que um grande evento como esse
o que aconteceu. Segundo o documento, de vários estados e planejar como seria a aconteça. “Uma lição aprendida, talvez a
não se trata de um acidente, e sim de uma atuação no caso. Dividimo-nos em frentes principal, é a grande necessidade de ter-
Laudo de peritos criminais federais afirma que a empresa Samarco sabia dos riscos tragédia anunciada. e estabelecemos uma equipe de exame de mos um grupo assim para atuar em situa-
de rompimento da barragem de Fundão. Segundo o laudo assinado pela equipe de A perícia criminal federal foi acionada de local, que seria responsável pela avaliação ções extremas, já que temos um potencial
forma tardia, quase 15 dias após o rompi- inicial da extensão da tragédia e por traçar de casuística com mais de 700 barragens
peritos da engenharia, o episódio de novembro de 2015 foi consequência de uma mento da barragem. Os peritos só entraram um panorama geral; uma equipe de enge- no estado, sendo cerca de 20 delas consi-
no caso após a onda de lama atravessar a nharia, que apontaria as causas da tragédia deradas instáveis e que podem romper a
série de problemas que anunciavam a possibilidade de rompimento antes mesmo
divisa do estado do Espírito Santo, quando e procedimentos técnicos que poderiam qualquer momento”, completou Andrade.
da barragem começar a operar

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ACIDENTE EM MARIANA: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo ACIDENTE EM MARIANA: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo

O QUE ACONTECEU Segundo o perito, a Samarco só elabo-


rou o projeto em outubro de 2014. Para
Pela dimensão dos estragos e pelo lap- retornar ao eixo, conforme previsto, levaria
so temporal entre o rompimento e o efeti- cerca de um ano para chegar à elevação.
vo acionamento da perícia criminal federal Não deu tempo: o recuo estava com 33
no caso, não foi possível fazer a análise do metros e a barragem rompeu.
local logo após o evento. O laudo da perí- O laudo de engenharia, assinado por
cia de engenharia, por exemplo, foi focado uma equipe de peritos de engenharia ci-
principalmente em exames documentais vil, engenharia de minas e geologia, foi um
com base em mais de 60 mil arquivos que desafio, segundo Leonardo. Por se tratar de
foram apreendidos em uma operação da um objeto de análise muito complexo, foi
Polícia Federal realizada diretamente no necessária uma verdadeira imersão e de-
servidor da Samarco, em Ubu, no Espírito dicação dos profissionais para produzi-lo:
Santo, ainda que vários exames de campo “Trata-se de uma perícia de grande porte,
tenham sido realizados. multidisciplinar e temos aprendido muito
De acordo com o laudo, um processo de trabalhando em conjunto, apesar de esbar-
liquefação – quando um material sólido se rarmos em diversas limitações”.
Imagem aérea do Sistema de Rejeitos de Fundão, logo após o término da sua implantação, onde Imagem do vazamento com carreamento de material ou Piping, ocorrido em 13 de abril de 2009,
comporta como líquido – foi o que provo- visualizam-se os Diques 1 e 2. acima da saída do dreno de fundo principal, que foi mal construído. (ref.: APPENDIX A – Photos). O documento divulgado no final de
cou o rompimento da barragem, resultado maio é apenas parte do trabalho. Segundo
de uma série de problemas acumulados. zer a manutenção do dique 1, de onde ocor- conformidades do que foi projetado para o secundária também teve vazamento de re- o perito, pela fragilidade das barragens es-
A Samarco dispõe de duas barragens reu um vazamento. Quando fizeram isso, o que foi executado. Problemas de premissa jeito. Mais tarde, as galerias foram tampona- palhadas pelo país, é necessário ficar alerta.
de rejeitos na unidade Germano, em Minas rejeito arenoso começou a ser jogado onde básica, que era manter o balanço de massa das e abandonadas, para substituí-las, novas
Gerais, denominadas de Germano e Fun- antes era previsto somente rejeito argiloso, e que não foi feito, problema operacional e foram construídas. O que rompeu é apenas uma
dão. Na jusante (da nascente para a foz do provocando a quebra do balanço de massa. de contaminação de rejeito”, disse o perito. “Em agosto de 2014, houve um princí- fração do que existe lá, a barragem
rio) das barragens de rejeito encontra-se “A premissa básica do funcionamento A sequência de erros foi marcada pela pio de escorregamento no eixo recuado de Germano, que está adjacente
uma terceira barragem, cujo nome é Santa- desse tipo de barragem é depositar o ma- alteração do projeto, devido a presença de do dique quando este já tinha sido alteado a Fundão, é muito maior. O que
aconteceu em Fundão é um
rém e sua função é o acúmulo e tratamento terial arenoso junto ao dique que será altea- lama próxima ao dique de alteamento. Mas aproximadamente 20 metros, sem qualquer
aprendizado do que não deve ser
de água oriunda das drenagens das outras do, formando uma praia mínima de 200m outra circunstância inviabilizou a execução tipo de monitoramento. Uma consultoria feito. Depois de estudar esse caso eu
duas barragens. para que o rejeito argiloso não interfira na dessa alteração: em uma área adjacente internacional (ITRB) recomendou que o al- imagino a quantidade de bombas-
A barragem funciona como uma lixei- drenagem interna desse reservatório. Eles que pertence a Vale, desce um córrego em teamento do recuo não poderia ultrapassar relógio que devem existir por aí
ra para as indústrias de mineração. Elas são falharam em não manter a praia mínima, cima do dique principal – o que rompeu. 20 metros de altura e que seria necessário
construídas com o objetivo de armazenar que foi considerado um erro grave opera- “Os responsáveis já sabiam da existência fazer um projeto de retorno ao eixo original”, Leonardo Mesquita de Souza
perito criminal federal
os rejeitos sem valor comercial, que sobram cional, além de deixar o rejeito arenoso ser desse córrego desde o início e negligencia- explicou o perito Leonardo.
durante o processo de extração de minério contaminado por lama, desde a planta de ram sua interferência ao não executarem os
de ferro. Para isso são construídos diques beneficiamento.”, ressaltou o perito criminal dispositivos de drenagem previstos”, com-
e o material que sobra é armazenado de federal Leonardo Mesquita de Souza. pletou Leonardo.
forma separada de acordo com sua densi- Em abril de 2010, após esse incidente, a Quando o novo projeto alterado co-
dade: são divididos em rejeito arenoso e re- empresa construiu um dique intermediário, meçou a ser executado, o córrego da Vale
jeito argiloso. Para a engenharia, essa sepa- e nesse reservatório, ao invés de deposita- formou um lago naquele local e passou a
ração é dimensionada segundo uma razão rem apenas o rejeito arenoso, começaram a provocar problemas de drenagem. Depois
denominada balanço de massa e seu cor- misturar com lama. Três meses depois, teve disso, ainda sem resolver a situação, a em-
reto gerenciamento é indispensável para a início um vazamento de rejeitos pela gale- presa construiu um recuo do eixo, alegan-
segurança global do empreendimento. ria principal, que é usada no processo de do que a galeria secundária não tinha sido
Fundão começou a operar em 2008 e, drenagem de águas superficiais. A empre- dimensionada para o novo carregamento
um ano depois, a barragem quase rompeu. sa concluiu que o problema da galeria se Imagens do lago formado no reservatório do imposto pela alteração de projeto.
Com isso, a empresa Samarco precisou esva- deu devido a falhas de execução com rela- dique 1 em 29 de janeiro de 2009, indicando Assim que iniciaram a construção do Vista aérea geral, contemplando Barragem Germano e área sinistrada da Barragem do Fundão
ziar um dos reservatórios de rejeitos para fa- ção às suas fundações. “É uma série de não problemas com o dreno de fundo. recuo do eixo, um novo problema: a galeria no dia do acidente.

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ACIDENTE EM MARIANA: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo ACIDENTE EM MARIANA: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo

CONSEQUÊNCIAS Doce, percorrendo uma extensão de e possuem uma proteção maior pela legis- A metodologia aplicada pelos peritos
aproximadamente 660 km, ao longo da lação vigente. para mensurar os danos foi inédita no DPF.
DA TRAGÉDIA qual provocou danos à flora, à fauna, à O artigo 38 da Lei de Crimes Ambien- “Depois do evento, era possível conseguir
A barragem de Fundão se rompeu no poluição hídrica, à interferência em uni- tais (9.605/98) descreve como tipo penal as imagens, mas dependíamos das con-
dia 5 de novembro de 2015, por volta das dades de conservação, além dos impac- “destruir ou danificar floresta considerada dições meteorológicas. Como era época
15h30, com vazamento de grande parte tos socioeconômicos. de preservação permanente, mesmo que de chuva, não foi possível contar com as
dos rejeitos lá depositados, um volume de em formação, ou utilizá-la com infringência imagens de satélite. Foi então que usamos
aproximadamente 62 mil metros cúbicos. A
FLORA das normas de proteção”. Dessa forma, fica imagens de uma câmera acoplada a um
onda de rejeitos, acrescida de solo e árvo- tipificado crime ambiental decorrente do helicóptero, que fotografou o trecho de
res arrancadas e ainda de rejeitos deposita- A perícia criminal federal produziu um rompimento da barragem. toda a calha do rio e utilizamos a técnica de
dos na barragem Santarém, sobrepassou o laudo específico para identificar o impacto Para realizar o trabalho nessa área, a fotogrametria, que até então nunca tínha-
dique dessa última, danificando-a. da tragédia no que diz respeito à flora. O equipe fez cinco incursões a campo e uti- mos utilizado para fazer o cálculo de área”,
O curso dos rejeitos atingiu primeira- trabalho que demandou cerca de três me- lizou imagens para avaliar os danos. Entre contou o perito Carlos Alberto Trindade. Geração de modelo 3D com fotogrametria.
mente o distrito de Bento Rodrigues, loca- ses de dedicação, realizado pelos peritos as dificuldades, os peritos narraram que era O perito explicou que é o mesmo princí-
lizado a 3 km da barragem de Santarém e criminais federais Carlos Alberto Trindade necessário conhecer o que existia antes da pio de imagens feitas por um Vant (Veículo A equipe se preocupou em apontar De acordo com o perito, todo o conheci-
outros dez distritos/municípios, o mais dis- e João Bosco Gomide, teve como objetivo lama chegar e destruir todo aquele trecho Aéreo Não Tripulado), mas como o equipa- dados extremamente precisos da área mento aplicado que foi usado para preparar
tante deles, Barra Longa, que fica a 73 km caracterizar e quantificar a vegetação de- para realizar a comparação. “Fizemos essa mento trabalha com uma área de até 3 km, atingida. “Fizemos um mapeamento uti- o laudo é algo rotineiro do trabalho da perí-
da barragem Santarém. vastada nas faixas marginais às calhas (la- avaliação com base nas imagens de satéli- seria impossível fazer imagens dos 117 km lizando uma escala muito mais precisa cia, já que a demanda de atuação de peritos
“A onda de rejeitos atingiu grande parte terais) do rio. Pela velocidade e quantidade te, mas classificar exatamente o tipo de ve- com este recurso. Dessa forma, os peritos do que foi divulgado anteriormente. criminais federais na área de meio ambiente
do distrito de Bento Rodrigues causando de lama, as calhas extrapolaram, arrastan- getação presente apenas com as imagens usaram os dados cedidos pelo Ibama. “Se Por meio das imagens de satélite con- é altíssima em Minas Gerais. Contudo, um
destruição, interrupção de acessos, pro- do a vegetação que margeava o percurso. disponíveis foi um desafio”, relatou o perito não fosse por meio da fotogrametria, nós seguimos isolar as áreas que possuíam trabalho com essas proporções e magnitude
vocando mortes e desaparecimentos, e O laudo aponta que a lama só perdeu João Bosco Gomide. não teríamos conseguido realizar o trabalho vegetação antes do desastre e subtraí- foi algo completamente diferente. “Nunca
desabrigando famílias. Fizemos os exames força na altura do reservatório da usina hi- Segundo o perito, a análise dos danos com tamanha precisão. Essa foi a primeira mos aquilo que era rio ou barragem an- tínhamos atuado em nada nesse nível, uti-
de local sete dias após o evento por meio drelétrica Risoleta Neves, o que acarretou à fauna era algo emergencial, mas não foi vez que utilizamos e que tivemos a real ne- tes de ser coberto por lama”, enfatizou lizando todas essas ferramentas e técnicas
de imagens aéreas e imagens de satélite”, cerca de 120 km de destruição das flores- feito imediatamente. “Nós entramos mui- cessidade de usar”, completou Trindade. o perito Trindade. não temos nada para comparar”, finalizou.
destacou o perito criminal federal Antônio tas nativas, plantações de eucalipto, áreas to tarde nesse trabalho. Existem coisas de
Maurício Pires, que assina o laudo de cons- de pastagens, cultivos, áreas urbanizadas meio ambiente que se você não estiver OS DANOS À FLORA EM NÚMEROS:
tatação de danos com o perito criminal fe- e estradas. O documento mostra que a naquela hora do acidente, você perde. Os
Consolidação do quantitativo das áreas devastadas pelo rejeito, distribuído
deral Rodrigo Craig Cerello. degradação atingiu 1.176 hectares de área resultados teriam sido melhores caso fos-
por classe de uso e ocupação do solo removida, em relação à área total e à área de
Os impactos ambientais ocorreram total, sendo que, aproximadamente 66% semos a campo logo depois do que acon-
preservação permanente atingida por município
desde a barragem de Fundão até o am- correspondiam a áreas de preservação per- teceu, recolhido o que era necessário e só
biente costeiro em torno da foz do Rio manente (APP). Essas áreas são específicas depois fazer as análises”, colocou. ÁREA ATINGIDA POR CLASSE DE VEGETAÇÃO E POR MUNICÍPIO (HA)

ST. CRUZ DO
MARIANA BARRA LONGA PONTE NOVA RIO DOCE TOTALIZAÇÃO
ESCALVADO

ÁREA ÁREA
CLASSES TOTAL APP TOTAL APP TOTAL APP TOTAL APP TOTAL APP TOTAL ATINGIDA
ATINGIDA EM APP

MATA ATLÂNTICA 235,37 167,25 5,18 5,10 - - 0,33 0,33 D D 240,88 172,68

MATA ATLÂNTICA
45,00 23,26 - - - - - - - - 45,00 23,26
EUCALIPTO

VEGETAÇÃO
167,85 104,19 4,57 3,92 - - 1,34 1,34 0,51 0,51 174,30 109,96
NATURAL

EUCALIPTO 1,38 0,82 - - - - - - - 1 1,38 0,82

BOSQUE 22,16 13,72 17,76 15,66 0,14 0,14 2,10 2,06 1,36 1,36 43,52 32,94

CULTURA 7,50 4,83 21,86 18,00 1,16 1,16 8,13 5,99 0,46 0,46 39,11 30,44

PASTAGEM 285,07 169,67 238,00 180,37 6,14 5,81 12,47 12,11 4,48 4,48 546,16 372,44

ÁREA
72,38 21,31 13,58 10,38 - - 0,13 D - - 85,09 63,38
ANTROPIZADA

TOTAL 836,74 505,05 300,95 233,43 7,44 7,11 24,50 21,83 6,81 6,81 1.176,44 774,23

D = Valor desprezado, abaixo de 100m2

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ACIDENTE EM MARIANA: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo ACIDENTE EM MARIANA: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo

FAUNA de o dano ter ocorrido em diversos outros inferir que não tenha sido contabilizada
Os danos à fauna decorrentes dos re- grupos, como insetos, aracnídeos, anfíbios, uma parcela muito significativa dos peixes
jeitos da barragem de Fundão para o leito répteis, aves e mamíferos. de médio porte (de 15 a 30 cm) e, princi-
dos rios Gualaxo do Norte, Carmo e Doce, De acordo com o perito criminal federal palmente, de pequeno porte (abaixo de 15
e também para o mar territorial brasileiro, Rodrigo Mayrink, coordenador dos exames cm) que também foram vitimados pelo de-
atingiram principalmente peixes e crustá- periciais na área de fauna, o trabalho de sastre”, explicou.
ceos de água doce. Os animais, na maioria recolhimento de peixes mortos totalizou Cerca de cem espécies de peixes foram
dos casos, morreram soterrados devido à mais de 29.300 carcaças nos três primei- atingidas, incluindo algumas ameaçadas de
deposição de rejeitos ou por anóxia, que é ros meses da tragédia. “Acredita-se que o extinção. Por exemplo, na lista de espécies
ausência de oxigênio para o processo me- número total de peixes mortos seja muito encontradas mortas no estado do Espírito
tabólico da respiração, causado pela má superior a isso, uma vez que só uma parte Santo, foi identificada a espécie Genidens
qualidade da água do rio Doce. do que morreu pôde ser recolhida. Nos pri- genidens, que consta como criticamente
Além dos peritos, também realizaram meiros quilômetros da tragédia, os animais ameaçada no estado de Minas Gerais e a
constatações de dano à fauna diversos ór- em geral morreram por soterramento e, por espécie Potamarius grandoculis, que consta
gãos ambientais, como Ibama, ICMBio, IEF/ esse motivo, não puderam ser coletados e como ameaçada no Espírito Santo.
MG, SEMAD/MG, Polícia Militar Ambiental/ contabilizados. Adicionalmente, o tamanho No laudo, a perícia afirma que o derrama-
MG e IEMA/ES, além de empresas espe- da maioria das carcaças recolhidas contras- mento de rejeitos ocorreu em uma época
cializadas contratadas pela mineradora ta com dados da literatura científica espe- do ano de especial sensibilidade ambiental,
Samarco. A mortandade de animais pôde cializada, que atesta que a maior parte das por ter ocorrido no período reprodutivo dos
ser constatada visivelmente e mais signifi- espécies de peixes do rio Doce é de peque- peixes (piracema) e de outros animais aquá- Brânquia de peixe incrustada com sólidos de coloração amarronzada/acobreada. Necropsia realizada em peixe coletado no rio Doce, no município
cativamente nos animais aquáticos, apesar no e médio porte. Sendo assim, é possível ticos. “Encontramos muitos animais mortos de Linhares/ES.

repletos de ovócitos, prontos para desovar e CAUSAS DA MORTE tragédia, vários pontos do rio Doce ultra-
se reproduzir. O fato de o desastre ter acon- passaram a marca dos três mil NTU, com
tecido na época de reprodução acarreta Exames da qualidade de água do leito picos de até 21 mil NTU. “São valores ab-
um obstáculo adicional à repovoação do do rio Doce, após o desastre, constataram surdamente anormais, que extrapolam em
rio, pela redução de futuras populações de baixos teores de oxigênio dissolvido e alta muito os limites legais e acarretam sérios
peixes jovens, e isso tende a impactar com turbidez, ambos decorrentes da passagem prejuízos à ecologia do rio. Com certeza
gravidade a oferta de pescado nos próximos da lama de rejeitos oriundos do rompimen- vai demorar muito para voltar ao normal,
anos”, explicou Daniel Domingues, perito cri- to da barragem de Fundão. Tais fatores fo- considerando o tempo necessário para o
minal federal especialista em ictiologia que ram apontados pela perícia com determi- escoamento de toda a massa de rejeitos
integra a equipe pericial. nantes para a morte dos animais. extravasada e depositada ao longo da ca-
Para o perito, é impossível estimar quando “Essa turbidez impede a penetração de lha e das margens do rio”, finalizou.
a população de peixes vai voltar ao normal, luz podendo causar a redução da atividade Necropsias realizadas por peritos cri-
porque a contaminação do rio pelos rejeitos de organismos fotossintetizantes e alteração minais federais constataram a presença de
ainda não cessou. do oxigênio dissolvido, seja por diminuição resíduos sólidos de coloração amarronza-
da sua produção, seja pelo aumento do con- da/acobreada nas brânquias dos peixes.
sumo por degradação aeróbica. Além da “As brânquias dos peixes são como os
“A recomposição da vida aquáti- baixa disponibilidade de oxigênio dissolvi- nossos pulmões, órgãos responsáveis pe-
ca não é de uma hora pra outra, do na água, a matéria sólida em suspensão las trocas gasosas da respiração. Com os
demora anos e anos. Os peixes obstrui as brânquias dos peixes e crustáceos, sedimentos incrustados nas brânquias, os
vão voltar gradativamente assim prejudicando sua função respiratória, o que animais perdem a capacidade de absorver
que começar a diminuir a carga levou a morte dos peixes por anóxia”, afir- oxigênio e morrem asfixiados”, explicou
de poluição do rio”, mou Domingues. Mayrink. Amostras e tecidos foram coleta-
Peixes tentando respirar junto à camada mais superficial do leito do rio, um comportamento típico de animais que agonizam por dificuldade O perito destacou que o grau máximo das e enviadas para exames laboratoriais,
respiratória. Trata-se de bagres, que vivem no fundo do rio e que em condições normais não têm o comportamento natural de subir à superfície. afirmou Domingues. de turbidez da água aceito pela legisla- e os resultados serão apresentados em
(foto fornecida pelo analista ambiental do ICMBio Marcello Vicente Lourenço). ção brasileira é de 100 NTU e que, após a laudos específicos.

26 Perícia Federal Perícia Federal 27


SINISTRO EM BARRAGENS: peritos criminais federais Cirilo Max Macedo de Morais, Thalles Evangelista Fernandes de Souza e Bruno Teixeira Dantas SINISTRO EM BARRAGENS: peritos criminais federais Cirilo Max Macedo de Morais, Thalles Evangelista Fernandes de Souza e Bruno Teixeira Dantas

O
rompimento de barragens desti- Nesta oportunidade, são identificados e re-
nadas a rejeitos e ao armazena- gistrados os vestígios com as características
mento d’água tem se tornado um de elementos constitutivos do objeto, que

SINISTRO EM dos principais tipos de sinistro em obras de


engenharia, não pela frequência com que
tem ocorrido, mas pelas graves consequên-
eventualmente permaneceram inalterados
após o sinistro, coletados corpos de prova
de elementos da obra que foram danifica-

BARRAGENS:
cias proporcionadas. Os sinistros em obras dos para análises laboratoriais, além de anali-
de engenharia são eventuais, porém, quan- sados outros vestígios que possam subsidiar
do ocorrem, geralmente acarretam gran- o entendimento da dinâmica do sinistro.
des perdas materiais e põem em risco vidas Em perícias desta natureza, são impres-

DESAFIO PARA
humanas, geralmente causando grande cindíveis os exames indiretos para se cons-
comoção social e cobrança por parte da truir a “linha do tempo” ao longo da existên-
opinião pública, por explicações de causa e cia da obra sinistrada, desde sua concepção

A ENGENHARIA
responsabilização. inicial, perpassando pela sua construção,
Tais obras ensejam conhecimentos alterações, manutenções, operação, até o
técnicos multidisciplinares, afetos, dentre momento do colapso. Para isso, é neces-
outros, principalmente a engenheiros civis, sário colecionar e estudar diversos docu-

FORENSE
engenheiros de minas, engenheiros carto- mentos, destacando-se: os projetos iniciais
gráficos e geólogos. São usados diversos e suas eventuais alterações; licenciamentos
conhecimentos técnicos para o projeto, nos órgãos competentes; relatórios de ma-
execução, fiscalização, operação e manu- nutenção e operação do empreendimento;
tenção dessas obras, como: mecânica dos coleta de informações mediante entrevis-
solos; mecânica das rochas; hidráulica; geo- tas de colaboradores que presenciaram o
tecnia; geologia; topografia; hidrologia etc. sinistro e, por vezes, sobreviventes do even-
No âmbito da Criminalística do Depar- to; coleta de fotografias e vídeos do objeto
tamento de Polícia Federal, os eventos de em momentos anteriores ao sinistro e, com
No intervalo de 15 anos, foram sete acidentes
sinistro em obras de engenharia são, prima sorte, durante o colapso etc.
no Brasil. Isso resulta em uma média de um facie, de competência dos peritos criminais A complexidade da realização de perícias
federais integrantes da área de Engenharia em sinistros de obras não se limita, no entan-
acidente relevante com barragens de rejeitos Legal, ou Engenharia Forense, cuja gerência to, apenas à dificuldade na coleta de vestígios,
no Brasil a cada dois anos e dois meses, técnica compete ao Serviço de Perícias de mas também na urgência em sua obtenção.
Engenharia e Meio Ambiente (SEPEMA), Sem considerar o prejuízo social ocasionado
aproximadamente. A estatística internacional, centralizada no Instituto Nacional de Crimi- à comunidade pela ausência do empreendi-
nalística (INC). A perícia de engenharia da mento e a necessidade de recuperação do
que contempla os casos registrados em Polícia Federal elabora laudos com diver- objeto, alguns vestígios, se não coletados
todo o mundo a partir do ano de 2001, é sos objetivos em diversos tipos de obras e imediatamente após o sinistro, podem ser eli-
serviços de engenharia. Entre os objetivos, minados por novos desmoronamentos, pela
de uma média de um acidente relevante a estão: avaliação de custos de obras, análi- chuva, pelo trânsito de pessoas etc.
se documental de licitações, avaliação de Por fim, soma-se à complexidade de rea-
cada oito meses. Trata-se, portanto, de uma imóveis e, dentre outros, a identificação de lização de perícia em sinistro de obras, além
casuística com uma frequência preocupante, causas de sinistro de obras. da extensão e da urgência de obtenção dos
A perícia em sinistro de obras destaca- vestígios, a necessidade de realização de
considerando os prejuízos sociais, ambientais e -se das demais pela impossibilidade de se providências relacionadas à segurança da
obter todas as características do objeto em equipe pericial.
econômicos que trazem como consequências
análise, unicamente mediante o exame di- Entre os sinistros de obras objeto de aná-
reto do objeto, realizado quando da indis- Figura 1: Rompimento da barragem de Al- lise das perícias da Polícia Federal com maior
pensável vistoria in loco na área sinistrada. godões no município de Cocal/PI em 2009. ocorrência, estão os acidentes relacionados

28 Perícia Federal Perícia Federal 29


SINISTRO EM BARRAGENS: peritos criminais federais Cirilo Max Macedo de Morais, Thalles Evangelista Fernandes de Souza e Bruno Teixeira Dantas SINISTRO EM BARRAGENS: peritos criminais federais Cirilo Max Macedo de Morais, Thalles Evangelista Fernandes de Souza e Bruno Teixeira Dantas

à ruptura de barragens. Em tais situações, a cada oito meses (MEECH, 2013). Trata-se, das estruturas, principalmente, quando
não apenas perícias de engenharia são ne- portanto, de uma casuística com uma fre- implicaram na ocorrência de piping no
Desconhecidas 11,6%
cessárias, mas também perícias de meio quência preocupante, considerando os pre- maciço ou na fundação da barragem.
ambiente, perícias de exame de material juízos sociais, ambientais e econômicos que Rico et al. (2008) realizou um estudo Outras 5,2%

genético etc. O conhecimento sobre a ne- trazem como consequência. em 147 desastres, em todo o mundo, oca- Desastres 3,0%
cessidade de exames complementares, ou Não só a frequência é preocupante, como sionados por barragens de terra para ar-
Gerenciamento 1,3%
sua possibilidade, também deve ser objeto também há uma tendência de aumento na mazenamento de rejeitos, sendo 26 deles
Problemas de qualidade 42,5%
de atenção pela equipe pericial responsável gravidade dos acidentes. Segundo Bowker e localizados na Europa. A Figura 6 apresen-
pela realização da perícia de engenharia. Chambers (2015), analisando dados de ocor- ta o número de ocorrências das causas da Galgamento 36,4%

Assim, os procedimentos de planeja- rências em todo o mundo no período de ruptura, com destaque para os acidentes
1940 a 2010, o número de casos de aciden- 0 50 100 150 200 250 300
mento, processamento de local, tratamen- atribuídos a chuvas intensas extraordinárias.
to dos vestígios e elaboração do laudo, para tes graves e muito graves vem aumentando Como seria de se esperar, o risco de sinis-
o caso de sinistro por ruptura de barragens, ao longo das décadas. Os acidentes graves tro aumenta quando a barragem é submeti- Figura 4: Causas de rompimento de barragens de terra. (L.M. Zhang e J.S.Jia (2007)).
Figura 3: Equipe pericial para levantamen-
com suas peculiaridades, serão tratados ao foram definidos como sendo aqueles que da aos maiores esforços. Assim, a atenção ao
to tridimensional da barragem sinistrada.
longo deste artigo. liberaram mais de 100.000 m3 de lama e/ou monitoramento da operação e manutenção
causaram mortes. Os acidentes muito graves da barragem deve ser crescente com o au-
HISTÓRICO foram definidos como sendo aqueles que li- mento do seu nível de armazenamento.
Desconhecidas 14,3%

DE SINISTROS beraram mais de 1.000.000 m3 de lama e/ou Pela sua importância, o acompanha- Qualidade do vertedouro 6,3%
No Brasil, os casos registrados de aciden- que alcançaram 20 km ou mais de percurso mento técnico do primeiro enchimento e
Piping no retorno do vertedouro 2,8%
tes relevantes com barragens de terra para e/ou que causaram 20 ou mais mortes. primeiro vertimento de barragens é am-
armazenamento de rejeitos são mostrados De acordo com o estudo realizado plamente estudado e preconizado na lite- Deslizamento no contato 18,3%
barragem/fundação
na Tabela 1. No intervalo de 15 anos, foram por L.M. Zhang e J.S.Jia (2007) sobre as ratura técnica, sendo positivado na Lei nº Piping no maciço ou na
58,3%
sete acidentes. Isso resulta em uma média causas das rupturas de 593 barragens 12.334, de 20 de setembro de 2010, na qual fundação da barragem
de um acidente relevante com barragens de de terra ao redor do mundo, as causas alude no inciso II do Art. 3º, como um dos 0 50 100 150 200
rejeitos no Brasil a cada dois anos e dois me- relacionadas aos sinistros das barragens objetivos da Política Nacional de Segurança
ses, aproximadamente. A estatística interna- estão representadas nas Figuras 4 e 5 a de Barragens (PNSB), que regulamenta as
cional, que contempla os casos registrados seguir, onde conclui-se que problemas ações de segurança a serem adotadas nas Figura 5: Problemas relacionados a falta de qualidade das barragens de terra. (L.M. Zhang
Figura 2: Necessidade de transporte aéreo de em todo o mundo a partir do ano de 2001, de qualidade na execução das barragens fases de primeiro enchimento e primeiro e J.S.Jia (2007)).
equipamentos por falta de acesso terrestre. é de uma média de um acidente relevante foi a causa preponderante para o colapso vertimento de barragens em todo o terri-
tório nacional. 40
Tabela 1: Histórico de acidentes relevantes com barragens de rejeitos no Brasil. A importância do primeiro vertimento ad- Mundo
35 Europa
vém do fato de que, além da carga máxima

NÚMERO DE INCIDENTES
ANO BARRAGEM/LOCAL PRINCIPAIS DANOS REFERÊNCIA 30
atuar pela primeira vez na estrutura da bar-
25
ragem, é nesse momento que as premissas
2001 Rio Verde, Minas Gerais Cinco vítimas. Lama fluiu até 8 km a jusante. WISE (2002)
20
de projeto sobre o escoamento e comporta-
1,4 bilhão de litros de lixívia negra liberada, que fluíram mento das estruturas estarão em prova real. 15
2003 Indústria de papel, Cataguases, Minas Gerais por 200 km ao longo de rios e córregos. Interrupção de FARIA (2015)
fornecimento de água. Com relação a barragens de rejeitos, em 10

recente artigo publicado em 21/07/2015, 5


Acidente sem ruptura. Vazamento de rejeitos de bauxita.
2006 Rio Pomba, Minas Gerais AVILA (2016) e FARIA (2015) sob o título The risk, public liability, & eco-
Interrupção de fornecimento de água. 0
nomics of tailings storage facility failures,

Fundação

Estabilidade de Talude

Galgamento

Subsidência da mina

Derretimento de Neve

Piping/Fluxo d’água

Liquefação sísmica

Estrutural

Desconhecida

Gerenciamento da Operação
Excesso de Chuva
Ruptura com liberação de 2 milhões de litros de rejeitos
2007 Rio Pomba, Minas Gerais AVILA (2016) e FARIA (2015) Bowker e Chambers (2015) afirmam que
de bauxita. Interrupção de fornecimento de água.
os avanços na tecnologia de mineração ao
Acidente sem ruptura. Liberação de milhões de litros de resí-
2009 Cataguases, Minas Gerais VIANNA (2012) e FARIA (2015) longo dos últimos cem anos tornaram eco-
duo sem tratamento de forma controlada no corpo d’água.
nomicamente viável a extração de minério
2014 Herculano, Minas Gerais Três mortes. AVILA (2016)
de menor grau de pureza. Porém, em um
2015 Fundão, Minas Gerais
Dezoito mortes. Uma pessoa desaparecida. Lama fluiu até
WISE (2016)
século de declínio dos preços do minério,
663 km. Interrupção de fornecimento de água.
para manter a atratividade econômica da Figura 6: Causas de rompimento de barragens de rejeitos de acordo com Rico et al. (2008).

30 Perícia Federal Perícia Federal 31


SINISTRO EM BARRAGENS: peritos criminais federais Cirilo Max Macedo de Morais, Thalles Evangelista Fernandes de Souza e Bruno Teixeira Dantas SINISTRO EM BARRAGENS: peritos criminais federais Cirilo Max Macedo de Morais, Thalles Evangelista Fernandes de Souza e Bruno Teixeira Dantas

operação minerária, houve expansão expo- da solicitação de realização dos exames em si- da perda de vestígios pelas intempéries ou ●● As causas podem atuar em paralelo, so- As barragens de terra têm como vanta- ●● calendário de inspeções periódicas, revi-
nencial do volume trabalhado de minério, nistro de obra: planejamento, processamento novos desmoronamentos, esta fase deve mando e ampliando suas contribuições, gem a possibilidade de serem executadas sões, avaliações e modificações adequadas.
não sendo contrabalançados os avanços do local e elaboração do laudo. ser concluída o quanto antes. Acrescenta-se como, por exemplo, a interação entre sobre fundações mais fracas, desde que to-
econômicos e de produção com um meio Na fase de planejamento, procurou-se que, em perícias desta natureza, dificilmen- infiltração e piping; e madas as providências cabíveis. Causas de sinistros
eficiente de gerir os passivos ambientais as- relacionar as informações necessárias para te as informações necessárias serão obtidas ●● As causas podem ocorrer em sequência. Os requisitos técnicos básicos para de barragens
sociados aos resíduos de rocha, aos rejeitos auxiliar na descoberta da causa do sinistro. com apenas uma única vistoria e seu plane- construção de barragens de terra são: Em casos de sinistros em obras de en-
O planejamento inicia-se pela identifi-
e às águas residuais. Essa seção iniciou-se pela identificação das jamento economizará o tempo despendido genharia, a perícia da Polícia Federal pro-
cação dos prováveis elementos do proje- ●● a estabilidade da fundação, do aterro
Segundo os referidos autores, essas possíveis causas do sinistro, abordando-se no processamento do local, reduzindo o cura suas causas essencialmente em seis
to da barragem que tenham ocasionado e das ombreiras em todo o período de
novas tecnologias de mineração não ofere- em seguida os aspectos do projeto, as téc- número de vistorias necessárias e evitando a fatores não exclusivos:
sua ruptura, passando em seguida para o execução e operação do reservatório;
ceram uma melhor gestão dos resíduos de nicas de dimensionamento e as variáveis perda de vestígios. Pode-se acrescentar que
conhecimento dos indicadores que apon- ●● o controle do escoamento de água a. falha de projeto;
minas. Isto é evidenciado em um pós 1990 envolvidas. Depois, foram abordados os o conhecimento prévio da literatura relacio-
tem a provável causa, pela obtenção das por meio da fundação, do aterro e das b. execução em desacordo com o projeto;
com a tendência de perdas ambientais de procedimentos necessários para a avalia- nada aos sinistros de barragens é de grande
informações necessárias para verificação da ombreiras; c. utilização/operação em desacordo com
maior importância. A avaliação interdisci- ção da segurança para a realização de vis- auxílio na fase de planejamento.
conformidade da construção com o proje- o projeto e/ou normas de segurança;
plinar conduzida por Bowker e Chambers toria e, finalmente, relacionou-se a mão de Na realização do planejamento não se ●● a altura suficiente de borda livre para impe-
to, pela análise prévia das medidas de se-
(2015), do histórico de falhas em barragens obra e equipamentos necessários para a deve descartar nenhuma hipótese até que dir o traspasse da barragem pelas ondas; e d. ausência de manutenção;
gurança a serem adotadas no local e pelo
de 1910-2010, estabelece uma relação clara realização do processamento do local. todos os dados tenham sido obtidos, ana- ●● a capacidade do sangradouro deve ser e. atuação de terceiros; e
dimensionamento da equipe de trabalho
e irrefutável entre as megatendências que Na fase do processamento do local, fo- lisados e revisados. Por isso, é interessante suficiente para impedir o transbordamen- f. desastre natural.
e da relação de equipamentos necessários
espremem os fluxos de caixa para as mine- ram mostradas as dificuldades e cuidados que múltiplas hipóteses sejam formuladas to da água por sobre a crista da barragem.
para o processamento do local. Sinistros em barragens geralmente
radoras em todos os locais, e esta tendência na obtenção dos vestígios, das entrevistas para serem estudadas ao longo dos exames.
Os requisitos administrativos básicos não podem ser atribuídos exclusivamente
indiscutivelmente clara de elevação das fa- e nos dados possíveis de serem coletados Segundo a Associação de Oficiais de Projetos de barragens
para a operação da barragem são: a uma única causa. Uma associação de fa-
lhas de consequências crescentes. A Figu- fora do local do sinistro. Por fim, tratou-se da Segurança de Barragens do Estado, EUA, De forma didática, as barragens podem
tores subsequentes e inter-relacionados se
ra  7, reproduzida de Bowker e Chambers elaboração do laudo, onde se relacionou os (2011), deve-se considerar todas as possí- ser consideradas como o gênero, sendo ●● responsabilidade ambiental;
fazem presentes, denominados de concau-
(2015), apresenta um gráfico relacionando principais assuntos a serem apresentados. veis formas de rompimento e suas causas possível subdividi-lo em duas espécies ●● manual de operação e manutenção;
sas, contribuindo em maior ou menor pro-
o histórico de 1940-2010 de produção, cus- no espaço e no tempo, a fim de se cons- principais: barragens para armazenamento ●● plano de monitoração e vigilância;
porção para o mesmo evento, nesse caso
to e falhas na produção de cobre (Cu). PLANEJAMENTO truir o histórico de ocorrência dos eventos de água e barragens para armazenamento
●● documentação e registros de todos os dese- até culminar com o colapso da estrutura.
Segundo aqueles autores, a conjun- e considerando o seguinte: de rejeitos. Aquelas podem ser executadas
A fase do planejamento inicia-se imedia- nhos e projetos de construção e operação; Na busca das causas do sinistro devem-se
tura de preços baixos do minério obriga com diferentes tipos de material: terra, con-
tamente após a solicitação de perícia em local ●● Ao invés de haver uma única causa pri- ●● Plano de Ação de Emergência (PAE), elencar todas as possibilidades imagináveis,
o incremento constante na produção (e, creto, alvenaria e pedra; sendo que as barra-
de sinistro e certamente o chamado ocorrerá mária, pode haver múltiplas causas de compreendendo a identificação, notifi- sejam essas prováveis ou mesmo improváveis,
consequentemente, do volume de rejeitos gens para armazenamentos de rejeitos têm
de forma inesperada. Devido a possibilidade importâncias comparáveis; cação e plano de resposta; e porém possíveis. Depois da lista exaustiva,
produzidos a dar o devido destino) para a particularidade de poderem, em parte, se-
manter a atratividade do negócio minerário 30.000
rem alteadas com diques construídos com
PRODUÇÃO DE COBRE MILHÕES DE TONELADAS

e a busca incessante da redução dos custos Custo de Produção de cobre o próprio rejeito armazenado.
Expon. (Produção
de produção. Isso tudo leva a uma situação 25.000 de minério de cobre) As principais estruturas de uma barra-
R2 = 0.7912 Linear (Teor de cobre)
de mitigação das ações de segurança, o gem são a fundação, o corpo ou maciço do
Linear (Falhas muito sérias)
R2 = 0.9984
que é demonstrado pelos autores pela cor- 20.000 Linear (Falhas sérias) aterro, a crista ou coroamento, as ombrei-
relação forte entre as variáveis analisadas. ras, os drenos internos, a tomada d’água,
15.000 R2 = 0.8474
Com a baixa dos valores, ocorre o aumen- o extravasor ou vertedouro (sangradouro)
to da produção de rejeitos que aumenta a e o sistema de instrumentação para mo-
10.000
carga nas barragens e consequentemente nitoramento da barragem. Alguns desses
o risco. Portanto, deve-se reforçar o moni- 5.000
R2 = 0.8565 elementos estão ilustrados na Figura 8.
toramento nesse período. Uma barragem de rejeitos tem como ca-
0 racterística singular ter em geral sua cons-
REALIZAÇÃO DA PERÍCIA 1940-49 1950-59 1960-69 1970-79

DECADE
1980-89 1990-99 2000-09 2010-19
trução faseada em sucessivos alteamentos,
A descrição das atividades a serem desen- havendo três métodos para a execução dos
volvidas durante a perícia foi dividida pelas fa- Figura 7: Gráfico relacionando o histórico de 1940-2010 de produção, custo e falhas na diques de alteamento: montante, jusante e
produção de cobre (Cu). linha central. A Figura 8 ilustra o método de Figura 9: Perfil esquemático de uma barragem de rejeito alteada pelo método de mon-
ses de atuação do perito após o recebimento
alteamento a montante. tante (Maia Neto, 2006).

32 Perícia Federal Perícia Federal 33


SINISTRO EM BARRAGENS: peritos criminais federais Cirilo Max Macedo de Morais, Thalles Evangelista Fernandes de Souza e Bruno Teixeira Dantas SINISTRO EM BARRAGENS: peritos criminais federais Cirilo Max Macedo de Morais, Thalles Evangelista Fernandes de Souza e Bruno Teixeira Dantas

deve-se trabalhar para provar tecnicamente obra é de dificuldade considerável, pois a Medidas de segurança Após a definição da equipe que irá ao visto que provavelmente o início do sinistro Na coleta das declarações deve-se ini-
a ocorrência de cada uma das causas e, não fonte causadora da ruptura pode ter sido Locais de sinistro de barragem são po- local para processamento dos vestígios, de- ocorreu na área afetada. cialmente deixar a testemunha relatar livre-
sendo possível, descartar tal hipótese do rol removida com o fluxo d´água ou do rejeito. tencialmente perigosos devido a possibilida- ve-se relacionar os equipamentos necessá- mente o que presenciou. Deve-se procurar
de causas possíveis. Ao final de uma primeira A observação de indicadores, na parte da de de deslizamento de taludes, lamas, inun- rios. É interessante observar que é grande a Coleta de vestígios materiais abordar os fatos de maneira cronológica ou
rodada, possivelmente restarão poucas pos- obra que porventura tenha permanecido, dações, erosão acelerada causada pelo fluxo possibilidade de não ser possível o acesso Inúmeros vestígios da obra podem ser do geral para o específico.
sibilidades plausíveis, porém, para que sejam pode levar a considerações sobre as pro- d´água e abertura de buracos. Por isso, me- por veículo ao local do sinistro. Por isso, o coletados para verificação de sua qualidade Além das entrevistas, deve-se procurar
confirmadas ou refutadas caberá o aprofun- váveis causas, que em sintonia com teste- didas de segurança são fundamentais antes perito deve procurar se informar sobre as e sua adequação ao projeto, desde a coleta imagens ou vídeos capturados por mo-
damento dos estudos, na pesquisa bibliográ- munhos, relatórios de inspeção, fotografias, do início dos trabalhos, sem falar que o local condições de acesso e providenciar meios de material para análise das características radores ou funcionários da obra sobre as
fica, no histórico de rupturas semelhantes, nos pode levar a uma conclusão satisfatória. sinistrado geralmente tem difícil acesso. alternativos de acesso ao local. Por vezes geotécnicas do solo até o levantamento condições da obra antes do sinistro, e se
ensaios laboratoriais, nas simulações compu- Ao chegar ao local do sinistro, o perito somente possível com auxílio de animal de topográfico do terreno e dos resquícios da houver, do momento do sinistro.
tacionais etc. Identificação das deve inicialmente identificar a presença de carga (cavalo etc), de motocicleta, de veícu- obra (Figuras 10 e 11). O método de cole-
A identificação dos elementos princi- informações necessárias orgãos de segurança no local como corpo los off-road ou por meio de aeronaves ou ta, sua amostragem e os equipamentos a ANÁLISE DOCUMENTAL
pais dos projetos de barragem, a identifi- de bombeiros, defesa civil, polícia militar e embarcações. Nesse ponto, a equipe peri- serem utilizados podem variar de acordo No Brasil, em 2010, foi criada a Lei Fe-
Informações preliminares necessárias
cação das variáveis necessárias para seu outros, devendo se informar sobre o sinis- cial deve avaliar a necessidade de solicita- como o caso concreto. Conforme já citado, deral 12.334/2010, que dispõe sobre a Po-
para a primeira vistoria:
dimensionamento, o conhecimento das tro e os eventuais riscos existentes na área. ção de apoio a unidades especializadas da a necessidade e o plano de amostragem lítica Nacional de Segurança de Barragens
metodologias de cálculo utilizadas para a ●● solicitar às autoridades competentes os Estabelecer um canal de comunicação, e PF, como o CAOP e o DEPOM/NEPOM. das coletas devem ser previamente realiza- (PNSB) e explicita que os empreendedores
elaboração do projeto, o conhecimento projetos e suas alterações, memoriais, cientificar da previsão de roteiro e horá- Haverá ainda casos que o acesso so- dos na fase de planejamento. que possuam barragens (seja em constru-
das normas de utilização e operação da especificações, fotografias e relatórios rios dos trabalhos periciais à autoridade de mente será viável mediante o transporte ção, seja em operação, sejam desativadas)
barragem e o entendimento dos procedi- de operação, manutenção, inspeções e coordenação dos trabalhos de segurança, dos equipamentos a pé, complementando devem apresentar e submeter à aprovação
mentos de monitoramento da barragem vistorias técnicas; e é prudente, visto que imprevistos podem a equipe pericial com pessoal para auxiliar dos órgãos fiscalizadores o cronograma para
tornam-se, portanto, requisitos básicos para ●● coletar informações sobre o sinistro da ocorrer à equipe pericial quando dos exa- no transporte. Deve-se considerar a proba- implantação do Plano de Segurança da Bar-
a realização de perícia em sinistros de obras barragem na internet, procurando coletar mes na área sinistrada. bilidade de não haver abrigos ou mesmo ragem. Diversos órgãos oficiais, dos diversos
desta natureza. fotografias do momento, vídeos de popu- Como medidas preliminares ao chegar árvores nos arredores do sinistro, devendo entes da federação, passaram a ter respon-
Em qualquer dos casos, de acordo com lares, declarações de testemunhas etc. ao local, Brosz (2012) relacionou, dentre ou- a equipe prevenir-se da exposição prolon- sabilidades na manutenção dos requisitos
Alvi (2015), fundamentalmente, todos os tras, analisar os seguintes aspectos: gada ao sol durante todo o deslocamento e mínimos de segurança das barragens no
rompimentos de barragens podem ser atri- Informações necessárias para a conclu- processamento do local. Também é impor- Figura 10: Levantamento topográfico com Brasil, sendo por tanto potenciais fontes de
buídos a fatores humanos, podendo citar: são dos exames: ●● a organização aparente do local; tante ressaltar a necessária logística para ali- documentação histórica da obra. A Tabela 2
estação total.
deficiência de projeto, deficiência de ma- ● ● necessidade e custo de exames la- ●● a presença ou ausência de pessoas au- mentação da equipe, visto que o desloca- ilustra as diversas entidades envolvidas.
nutenção, falta de inspeções, falta de efe- boratoriais; torizadas e não autorizadas no local; e mento geralmente ocorre apenas no início No caso de perícias em sinistros de en-
tividade na cultura do órgão responsável, ●● a avaliação dos riscos à sua pessoa e e fim do dia de trabalho. genharia, não é possível prever de uma ma-
●● elaboração de plano de amostragem
treinamento inadequado, operações incor- aos demais. neira abrangente os documentos necessá-
do local;
retas, instrumentos de monitoramento não
●● determinação do tamanho das amos-
EXAMES rios para cada caso concreto. Nesses casos,
aferidos, deficiência nas normas etc. No caso de constatação de riscos, o perito qualquer informação, independente de sua
Para barragens de terra, o mecanismo tras e tipo; deverá providenciar o imediato isolamento do Processamento do local origem, pode se tornar útil para esclarecer
de ruptura está principalmente relaciona- ●● necessidade de modelagem computa- local e informar às autoridades competentes. Um dos pontos chaves a ser identificado as causas do sinistro.
do à erosão do material do aterro. A erosão cional do local; durante a perícia, que ajudará na determi- Na análise documental recomenda-se
pode ser ocasionada externamente a par-
Relação de pessoal e que o perito procure descrever o históri-
●● considerações sobre as medidas de se- nação da dinâmica do evento é identificar Figura 11: Levantamento do terreno com
tir do transbordamento da barragem ou
equipamentos necessários o ponto inicial do colapso. Por vezes, após co da construção da barragem. Para isso é
gurança a serem adotadas; scanner 3D.
internamente mediante um processo de- Devido a amplitude de hipóteses e o início da ruptura, seja por galgamento, necessário identificar os atores do proces-
●● considerações sobre outras investigações
nominado “piping”. A ruptura causada pelo a serem realizadas por outras equipes;
possibilidades, podem ser necessários estu- pipping, ou outro motivo, em um determi- Coleta de dados fora so e suas respectivas responsabilidades. A
transbordamento inicia-se com a erosão a dos geofísicos, topográficos, geotécnicos, nado momento abre-se uma brecha no pa- do local do sinistro lista que apresentamos a seguir, dessa for-
●● considerações sobre as alterações ao lo- hidrológicos, hidráulicos, estruturais, me-
partir do pé do talude a jusante até atingir a ramento da barragem. A brecha cresce até O perito deverá realizar entrevistas pes- ma, é genérica e incompleta, mas ajuda a
cal que sua vistoria irá ocasionar; cânicos, elétricos etc. Essas necessidades
crista da barragem, enquanto que a erosão que se equalizem as forças erosivas devidas soalmente com os seguintes envolvidos: organizar o planejamento por ocasião de
interna é reversiva, iniciando-se a jusante a ●● considerações sobre a restrição de aces- devem ser levantadas na fase de planeja- ao fluxo e as forças resistentes da estrutura testemunhas oculares do sinistro, equipe uma perícia dessa natureza.
partir de infiltrações. so ao local; e mento para que a composição da equipe remanescente. Após esse equilíbrio de for- de operação da barragem, equipe de ma- Os documentos iniciais necessários para
No entanto, a descoberta da causa da ●● considerações sobre o atraso que a perí- conte com os especialistas necessários já ças, a estrutura remanescente pode servir nutenção, equipe responsável pelas inspe- identificação do histórico de construção da
ruptura com base apenas nos vestígios da cia irá ocasionar a recuperação da obra. para a primeira vistoria, se possível. de indicativo do não escopo dos exames, ções, construtores, projetistas e outros. obra e de seus responsáveis são:

34 Perícia Federal Perícia Federal 35


SINISTRO EM BARRAGENS: peritos criminais federais Cirilo Max Macedo de Morais, Thalles Evangelista Fernandes de Souza e Bruno Teixeira Dantas SINISTRO EM BARRAGENS: peritos criminais federais Cirilo Max Macedo de Morais, Thalles Evangelista Fernandes de Souza e Bruno Teixeira Dantas

Tabela 2: Exigências normativas decorrentes da Lei 12.334/10. imprensa (jornais, revistas, internet etc.)
e pela população; e
RESPON. PELA REGULAMENTAÇÃO
ARTIGO OBJETO MATÉRIA
(REGULAMENTO JÁ PUBLICADO) ●● imagens históricas de satélite. REFERÊNCIAS (BOX) Middlebrooks, T.A., Earth Dam Practice in
Classificação das barragens Classificar por categoria de risco e dano potencia the United States, ASCE Centennial Tran-
ARAÚJO, L. M. N. de. E outros. O papel do
Art. 7º
quando a categoria de risco, associado e pelo seu volume de acordo com o CNRH estabelece critérios gerais
Com a documentação em mãos passa-se sactions Paper 2620, 1952, pp. 697-722.
ao dano potencial associado critérios gerais estabelecidos pelo CNRH e critérios (Resolução CNRH nº 143/2012) órgão fiscalizador de segurança de bar-
e ao volume específicos regulamentados pelo órgão fiscalizador a verificação do projeto conforme executado. ragens no âmbito da Lei 12.334/2010. RICO, M.1; BENITO, G.2, SALGUEIRO, A. R.3,
Regulamentar a periodicidade de atualização, a
qualificação do responsável técnico, o conteúdo
ANA, OERH’s, ANEEL, DNPM,
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídri- DÍEZ-HERRERO, A.4 & PEREIRA, H.G.3
Plano de Segurança de OERM’s, IBAMA, OEMA’s e orgãos
Art. 8º
Barragem
mínimo e o nível de detalhamento e orientar os
empreendedores para a apresentação do relatório
ambientais municipais onde houver
(Resolução ANA nº 91/2012)
ELABORAÇÃO cos. Disponível em: http://arquivos.ana. Reported tailings dam failures. A review
DO LAUDO
de implantação PSB
Figura 12: Técnicas de fotogrametria para gov.br/imprensa/noticias/20131119_ of the European incidents in the worldwi-
Plano de Ação de Regulamentar a periodicidade de atualização, a ANA, OERH’s, ANEEL, DNPM,
Art. 8º,
Emergência (PAE) - Audiência qualificação do responsável técnico, o conteúdo OERM’s, IBAMA, OEMA’s e orgãos reconstituição das características originais PAP013771_01.pdf. Acesso em: 27/04/2016. de context.
11, 12
pública realizada mínimo e o nível de detalhamento ambientais municipais onde houver Na elaboração do laudo deve ser verifi-
da barragem. ÁVILA, J. P., 2016, Acidentes em Barragens de Zhang, L.M.;Xu, Y.; Jia, J.S. Analysis of earth
Regulamentar a periodicidade, qualificação da
ANA, OERH’s, ANEEL, DNPM, cado inicialmente se o dimensionamento do
Art. 9º
Inspeções de segurança
equipe responsável, conteúdo mínimo e nível de
OERM’s, IBAMA, OEMA’s e orgãos Rejeitos no Brasil. In: Seminário sobre Barra- dam failures - A database approach
regular
detalhamento
ambientais municipais onde houver projeto está compatível com as informações
(Resolução ANA nº 742/2011) gens de Mineração. Disponível em: http:// The Hong Kong University of Science
hidrológicas e geotécnicas da região, além de:
Inspeções de segurança
Regulamentar a periodicidade, qualificação da ANA, OERH’s, ANEEL, DNPM, goo.gl/Gz3gKm. Acesso em: 27/04/2016. and Technology, HKSAR, China J. S. Jia
Art. 9º equipe responsável, conteúdo mínimo e nível de OERM’s, IBAMA, OEMA’s e orgãos
especial ●● verificar se as condições meteorológicas
detalhamento ambientais municipais onde houver BOWKER, L. N., CHAMBERS, D. M.. the risk, The China Institute of Water Resources
Revisão Periódica de
Regulamentar a periodicidade, qualificação da ANA, OERH’s, ANEEL, DNPM, do momento do sinistro estavam com- public liability, & economics of tailings
equipe responsável, conteúdo mínimo e nível de OERM’s, IBAMA, OEMA’s e orgãos and Hydropower Research, Beijing, China.
Art. 10º Segurança
de Barragem
detalhamento em função da categoria de risco e ambientais municipais onde houver preendidas nos parâmetros de opera- storage facility failures, 2015.
do dano potencial associado à barragem (Resolução ANA nº 91/2012) Dam Failure Investigation Guideline De-
ção da barragem;
Diretrizes para
Estabelecer diretrizes para a implementação da BROSZ, HELMUT; ELLISON, KEITH; MAHER, cember 8, 2011 Association of State Dam
Art. 20,
implementação
PNSB e aplicação de seus instrumentos e atuação
CNRH (Resolução CNRH nº 144/2012) ●● verificar se a construção da barragem foi MICHAEL;PORTER, DAVID; PUPULIN, DEN- Safety Officials Dam Failure Investiga-
XII
da PNSB
do Sistema Nacional de Informações sobre Figura 13: Modelagem computacional em
Segurança de Barragens (SNISB) realizada de acordo com o projeto; NIS. Guideline for Professional Engi- tion Committee.
Fonte: http://arquivos.ana.gov.br/imprensa/noticias/20131119_PAP013771_01.pdf.
três dimensões da barragem sinistrada.
●● verificar se ocorreram alterações nas ca- neers providing Forensic Engineering General design and construction consi-
●● legislação sobre a responsabilidade de ●● licenciamento nos diversos órgãos go- racterísticas físicas da barragem, após o ●● detalhes das observações relacionadas Investigations,2012 derations for earth and rock-fill dams -
manutenção e operação da barragem vernamentais; início da operação que tenham modifi- ao sinistro; IRFAN A. ALVI, PE. Human factors in dam US Army Corps of Engineers
sinistrada; ●● memórias de cálculo de projeto; cado sua capacidade inicial; ●● descrição detalhada dos ensaios realizados; failures Introduction: The Essential Role WISE, World Information Service on
●● convênio para construção da barragem of Human Factors, 2005 Engergy, Uranium Project, 2002, The
●● laudos de sondagens geotécnicas; ●● verificar se providências de manutenção ●● descrição detalhada das pesquisas realizadas;
(no caso de barragem pública); foram realizadas a contento; e FARIA, M., 2015. Barragens de rejeito já Sebastião das Águas Claras tailings dam
●● diários de obra; ●● descrição detalhada dos métodos de
causaram diversas tragédias em Mi- failure (Nova Lima, Minas Gerais, Bra-
●● contrato para elaboração do projeto ●● verificar se ocorreram fenômenos na- análise realizados;
●● relatórios das leituras da instrumentação nas Gerais; relembre. Disponível em: zil). Disponível em: http://www.wise-
executivo da barragem, incluindo-se os turais que pudessem ensejar o “gatilho”
de monitoramento da barragem (medido- ●● descrição detalhada das opiniões expressadas; http://www.em.com.br/app/noticia/ge- -uranium.org/mdafsa.html. Acesso em:
projetos acessórios; do sinistro: chuvas extraordinárias não
res de níveis d’água, piezômetros, medido- ●● base científica ou referências das opi- rais/2015/11/05/interna_gerais,705019/ 27/04/2016.
●● contrato para fiscalização das obras de res de vazão, células de carga, inclinôme- previstas em projeto, terremotos etc. barragens-de-rejeito-ja-causaram-diver-
niões formuladas; WISE, World Information Service on En-
construção da barragem; tros, marcos topográficos superficiais etc); Conforme Brosz (2012), após a rea- sas-tragedias-em-minas-gerais-r.shtml.
●● explicação da confiabilidade da opinião gergy, Uranium Project, 2016, Chronology
●● contratos de execução das obras de lização dos exames pode-se chegar Acesso: 27/04/2016.
●● delimitação da bacia hidrográfica de expressada, se possível; e of major tailings dam failures. Disponível
construção da barragem; as seguintes conclusões: MAIA NETO, Francisco. Análise Dinâmica de em: http://www.wise-uranium.org/mdaf.
contribuição da barragem;
●● identificação de uma única causa; ●● explicação de qualquer procedimento Rompimento em Barragem de Rejeitos. XIII
●● projetos executivos da barragem prin- html. Acesso em: 27/04/2016.
●● listagem com postos pluviométricos da não usual. COBREAP – Congresso Brasileiro de Engenha-
cipal e das obras auxiliares, incluindo bacia hidrográfica; ●● identificação de múltiplas causas; VIANNA, L. F. V., 2012, Atendimentos Rea-
estudos geotécnicos, hidrológicos e
●● hidrograma da região no período ime- ●● eliminação de uma causa ou de um CONCLUSÃO ria de Avaliações e Perícias, Fortaleza, 2006. lizados pelo NEA Envolvendo Barragens.
demais estudos realizados, memorial MEECH, J. A., 2013. Tailings Dam Failures, In: III Seminário de Transporte de Derivados
diatamente anterior ao sinistro; conjunto de causas; e O presente trabalho procurou relatar os
ARD, and Reclamation Activities. Dis- de Petróleo e outros produtos perigosos
descritivo, especificações, alterações de trabalhos e procedimentos até então utili-
●● histórico do enchimento da barragem; ●● conclusão pela insuficiência de vestígios ponível em: http://www.slideserve.com/ - Prevenção de Acidentes Ambientais. Dis-
projeto durante a execução, projetos de zados pela perícia criminal em sinistros de
que corroborassem a identificação de moira/tailings-dam-failures-ard-and-recla- ponível em: http://www.meioambiente.
intervenção realizados após a entrega ●● estudos sobre a geologia local;
uma causa ou distinção entre duas pos- obras de engenharia, com o condão de ini- mation-activities. Acesso em: 27/04/2016. mg.gov.br/images/stories/seminarios/semi-
da obra, e o as built; ●● fotografias ou filmagens da execução da ciar o debate e as discussões para que surjam
síveis causas. Modes of dam failure and monitoring nario_petrobras/painel5/atendimentos-rea-
●● relatórios técnicos de vistoria, de histó- obra, e antes e após o acidente, tendo críticas e contribuições dos colegas peritos, and measuring techniques. Departamen- lizados-pelo-nea-envolvendo-barragens-
por fontes oficiais os órgãos do governo Informações que devem constar no laudo:
rico de problemas anteriores, de análise de forma que, juntos, possamos expandir, to de Meio Ambiente, Comida e Assuntos -luiz-felipe-semad-deamb-nea.pdf. Acesso
de segurança da obra, de operação e ou as empresas contratadas (executora ●● descrição do objetivo do laudo; fortalecer e densificar os conhecimentos e em: 27/04/2016.
Rurais da Agência Ambiental do Reino Unido
manutenção da obra, de plano de con- e supervisora da obra), e de forma com- ●● informações acessórias utilizadas para procedimentos para a atuação pericial em
tingência e segurança da obra; plementar as fornecidas pelos meios de elaboração do laudo; casos tão impactantes para a sociedade.

36 Perícia Federal Perícia Federal 37


IV CNPCF: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo IV CNPCF: Danielle Ramos e Taynara Figueiredo

S
ob a temática “Perícia Criminal: os e as dificuldades, sobretudo devido à quan-
olhos da Justiça”, a quarta edição do tidade de material a ser analisado. do exame de corpo de delito nos
Congresso Nacional dos Peritos Cri- “O Congresso Nacional dos Peritos Cri- crimes que deixam vestígios (art.
564, III, b). A possível retirada desse
Fotos: Mesquita – Dilabila Fotos

minais Federais fomentou debates sobre minais Federais tem revelado ser um even-
dispositivo corresponderá a um re-
a atuação da perícia criminal com vistas à to de extrema importância na germinação trocesso na persecução penal e na
celeridade e ao fortalecimento da produ- e na consolidação de propostas de políticas aplicação da justiça, comprometendo
ção de provas materiais, bem como o de- públicas e aperfeiçoamento do sistema de o direito constitucional da ampla de-
fesa e do contraditório, em razão da
senvolvimento das ciências forenses para persecução penal a serem apresentadas
ausência da prova científica, revestida
a promoção da Justiça no Brasil. O evento pela APCF em discussões junto ao Poder da isenção necessária à comprovação
contou com a participação de peritos cri- Público”, destacou o presidente da Associa- da materialidade e autoria;
minais federais de todas as unidades de cri- ção Nacional dos Peritos Criminais Federais, 3. A manutenção, também na
reforma do CPP, da obrigatorieda-
minalística do País. André Morisson. de da preservação do local de cri-
O Museu Nacional de Ciências Forenses, O evento foi encerrado com uma pales- me até a chegada dos peritos. Tal
que será construído em Minas Gerais, foi um tra do perito criminal e diretor-adjunto do procedimento deve ser rigorosamen-
te observado para não comprometer
dos destaques das atividades do primeiro Instituto Geral de Perícias de Santa Catarina, o resultado da perícia criminal, sob
dia. “A ideia do projeto é criar um verda- Rodrigo Tasso, que dividiu com os presen- o risco de perderem-se os vestígios
deiro museu de ciências e tecnologias para tes a experiência daquele estado, hoje mo- que levariam à elucidação do delito;
4. A regulamentação da nomea-
que nós, peritos criminais, possamos mos- delo de perícia desvinculada da Polícia Civil. ção de peritos ad hoc. Embora o atual
trar e desenvolver o trabalho de pesquisa”, Um dos frutos do congresso foi a elabora- CPP tenha restringido tal nomeação
explicou o perito criminal federal Gyovanny ção da Carta de Pirenópolis. (BOX com a carta) aos casos de falta do perito oficial, não
esclareceu o que seria a “ausência” do
Gomes, um dos idealizadores do museu.
especialista, possibilitando a utilização
A reforma política e o financiamento de
CARTA DE indevida desse dispositivo. Assim, tor-
na-se necessária a regulamentação em
campanha, assuntos amplamente discu-
tidos pelo Movimento de Combate à Cor-
PIRENÓPOLIS lei, de maneira que a nomeação de pe-
No período de 19 a 21 de maio rito ad hoc ocorra somente nos casos
rupção Eleitoral (MCCE), também estiveram de 2016, os peritos criminais federais em que o órgão oficial de perícia crimi-
entre os debates, assim como o desenvol- reunidos na cidade de Pirenópolis/ nal se manifeste pela impossibilidade
vimento das ciências forenses e o papel da GO, por ocasião do IV CONGRESSO do atendimento por perito oficial;
NACIONAL DOS PERITOS CRIMINAIS 5. Reafirmar o apoio à PEC
pesquisa nessa área, abordados pelo con- 117/2015, com a manutenção de
FEDERAIS, reafirmam o compromisso
vidado internacional Barry Logan, diretor republicano com a busca permanen- prerrogativas da polícia científica
executivo do Centro para Pesquisa e Edu- te pelo aperfeiçoamento da persecu- para o desempenho da atividade
ção penal e pelo eficiente combate de perícia criminal. A independên-
cação em Ciências Forenses do estado da cia institucional das perícias criminais
ao crime, com respeito à democracia
Pensilvânia e ex-presidente da Academia e aos direitos humanos, e consideram é um importante avanço no forta-
Americana de Ciências Forenses fundamentais os seguintes pontos: lecimento da isenção da produção
1. A manutenção da impres- da prova pericial e é recomendada
Durante o Congresso, os peritos crimi-
cindibilidade do exame pericial, pela Organização das Nações Unidas,
nais federais tiveram ainda a oportunidade quando um delito deixar vestígios, Anistia Internacional, Plano Nacional
de falar sobre casos de repercussão e trocar na reforma do Código de Processo de Direitos Humanos-PNDH3 (Decre-
experiências sobre o trabalho do dia a dia. Penal (CPP). É imperiosa a garantia to 7037/2009) e 1ª Conferência Na-
de que a prova material seja produzi- cional de Segurança Pública;
O caso Samarco foi um dos temas que mais da e oferecida à justiça à luz da ciên- 6. Sem prejuízo da constitucio-
atraiu a atenção dos participantes. O perito cia, tendo em vista que elementos nalização da Perícia Criminal Fede-
criminal federal Rodrigo Mayrink apresen- fundamentais para a comprovação ral, é premente a necessidade de
dos fatos e identificação dos autores regulamentar os termos do artigo
tou o desafio enfrentado pela equipe de 2-D da Lei 13.047/2014. A moder-
podem ser perdidos devido à vola-
Minas Gerais para produzir os laudos da tilidade dos vestígios de crime, com nização e a valorização da estrutura
Cerca de cem peritos criminais federais participaram do IV Congresso Nacional dos maior tragédia ambiental do País. A opera- sérios riscos à revelação da verdade da perícia criminal passam necessa-
real e à aplicação da justiça; riamente por uma gestão própria e
Peritos Criminais Federais, em Pirenópolis (GO), entre os dias 19 e 21 de maio ção Lava Jato foi abordada pelo perito Fá-
2. A manutenção, na reforma qualificada de seus recursos materiais
bio Salvador, coordenador da equipe de cri- do CPP, do dispositivo de causa e humanos, visando eficiência e eficá-
minalística de Curitiba. Ele comentou sobre de nulidade em razão da ausência cia da Criminalística Federal.
os resultados encontrados até o momento

38 Perícia Federal Perícia Federal 39


EXAME ANTIDOPING: Danielle Ramos EXAME ANTIDOPING: Danielle Ramos

PERÍCIA O
Rio de Janeiro irá receber cerca de Esse número extremamente reduzido de maio, os peritos criminais federais partici-
10.500 atletas (segundo o Comitê – só no Brasil existem cerca de 1.600 labo- param de treinamento junto à equipe.
Olímpico Internacional) a partir do ratórios de análises clínicas – explica-se pelo O coordenador do laboratório destacou
dia 5 de agosto. Parte deles, sem dúvidas os extremo rigor no processo de acreditação e a relevância da participação dos peritos cri-

FEDERAL
medalhistas da competição, irá passar pelo manutenção da acreditação. O objetivo da minais federais na equipe. “A perícia crimi-
exame antidoping. O exame é a análise da análise, então, é apenas identificar se existem nal, em seu viés de análises químicas, em
amostra biológica que busca substâncias ou não substâncias proibidas na amostra. “O muito se aproxima da cultura do controle
que podem aumentar o desempenho ou laboratório emite resultados negativos, ou de dopagem. A participação de peritos é

NOS JOGOS
auxiliar no controle do peso do atleta e que Resultados Analíticos Adversos (RAA, ‘Adverse muito bem-vinda. Não menos relevante é a
são definidas previamente como proibidas. Analytical Findings, AAF’). Não há mais, por- possibilidade de aproximação das duas ins-
A lista de substâncias proibidas é edita- tanto, ‘resultados positivos’. Isso é importan- tituições, pois há atividades complementa-
da pela Agência Mundial Antidoping (em te, pois enfatiza o fato de que o laboratório res que podem se beneficiar de uma maior
inglês, World Anti-Doping Agency – WADA) a apenas aponta a presença de substâncias aproximação e cooperação”, finalizou.

OLÍMPICOS
cada ano, e por vezes com adições ao longo proibidas pela AMA, assim, a atribuição de
do ano, de modo a acompanhar as tendên- dopagem cabe ao organismo esportivo
cias “inovadoras” da dopagem. gestor dos resultados”, destacou o professor
Francisco Radler de Aquino Neto, coordena-

2016
dor da equipe que irá atuar durante os Jogos.
Uma determinada Os peritos criminais federais irão cola-
substância vai para a borar como voluntários ao longo dos Jogos
Olímpicos. “Um trabalho integrado dessa
lista da AMA porque forma é interessante para todos. Para o la-

Peritos criminais federais vão atuar durante pode trazer riscos ao boratório, por poder contar com uma equi-
pe especializada e, para nós, pelo intercâm-
atleta, pode aumentar PERÍCIA FEDERAL
as Olimpíadas em parceria com outras bio de informações e troca de experiências”,
seu desempenho, ou ressaltou a perita Gabriele Hampel. E A TOXICOLOGIA
instituições para colaborar com a rotina de FORENSE
por estar fora do espírito O laboratório montado para os Jogos
análise de exames antidoping. A expectativa Olímpicos contará com a atuação de 240 A área de toxicologia forense não é for-
dos Jogos Olímpicos, profissionais, sendo que aproximadamente malizada dentro do Departamento de Polí-
é analisar até 450 amostras por dia, o que
explica a perita criminal 100 deles são especialistas cedidos pelos cia Federal. Peritos criminais federais atuam
representaria a realização de cerca de 1.500 demais laboratórios acreditados pela AMA. em demandas específicas quando recebem
federal Gabriele Hampel. “Durante os Jogos, o laboratório terá uma amostras biológicas para esse tipo de análi-
procedimentos complexos diariamente produção dez vezes maior que sua rotina, e se, mas ainda sem procedimentos e meto-
De acordo com a AMA, o controle de irá operar 24h por dia, sete dias por sema- dologias consolidadas para essa finalidade.
dopagem é essencial para garantir a segu- na”, enfatizou Radler. A boa notícia é que até o final do próximo
rança dos atletas e também sua saúde. Os As matrizes analisadas serão o sangue ano, o laboratório de Toxicologia Forense do
controles são realizados de acordo com as (ou soro) e urina. Usualmente, os resultados DPF pode sair do papel. O Centro Nacional
regras do “Código Mundial Antidopagem” e são liberados em até 10 dias úteis, mas nos de Capacitação e Difusão de Ciências Foren-
de outros organismos internacionais. Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 os ses já está configurado para receber o labora-
Esses organismos são responsáveis pela resultados serão liberados em 24h. tório de toxicologia forense como uma área
coleta e pelo transporte das amostras, bem Radler explicou que a logística é a maior independente, e já existe um projeto estru-
como a gestão dos resultados do labora- dificuldade, diante do aumento de escala turado e desenhado disponível no Gepnet
tório. Pelo mundo, existem 34 laboratórios entre uma operação rotineira e a operação (software de gerenciamento de projetos uti-
acreditados para a realização desses exa- olímpica. “Vários exercícios, simulações, tes- lizado na Polícia Federal) para implementá-lo.
Mesquita – Dilabila Fotos

mes. No Brasil, o Laboratório Brasileiro de tes de esforço ‘olímpico’ estão sendo realiza- “Para isso já estamos escrevendo os pro-
Controle de Dopagem (LBCD - LADETEC / dos para avaliar a engrenagem e azeitá-la em cedimentos operacionais e a ideia é que
IQ - UFRJ) é o único acreditado pela AMA. tempo hábil”, completou o professor. No mês até o final de 2017 o laboratório esteja es-

40 Perícia Federal Perícia Federal 41


EXAME ANTIDOPING: Danielle Ramos EXAME ANTIDOPING: Danielle Ramos

truturado. Esse intercâmbio com o Labora-

Fonte: WADA
tório de Controle de Dopagem durante os CONTROLE DE DOPAGEM
Jogos Olímpicos é muito importante para
esse projeto”, contou o perito criminal fe-
PROCEDIMENTO EM 5 ETAPAS
deral João Carlos Ambrósio. Segundo ele, a
toxicologia forense no Brasil é quase inexis-
tente e o objetivo é que a perícia federal se
torne referência no País.
Gabriele relata que a toxicologia não
trata de amostras brutas. A análise não é
realizada em um produto como um medi-
camento ou um anabolizante. Segundo a
especialista, essa é uma atividade desem-
penhada pela área de química forense. 3. COLETA DAS AMOSTRAS
“A toxicologia trata de amostras biológi- Durante o procedimento, o atleta tem o direito de ser acompa-
cas. Então, essas mesmas substâncias que nhado por um representante da equipe. Ele se identifica por
procuramos em amostras brutas são pro- meio de documento com foto e deve fornecer várias amostras
de urina, sangue ou ambas. Quando estiver pronto, o atleta é
curadas em sangue, urina, ou em qualquer acompanhado por um oficial de controle de dopagem do
parte do corpo. Quando recebemos essas mesmo sexo que irá testemunhar o processo da coleta e irá
amostras nos deparamos com algumas li- acompanhar o esportista até que ele forneça as amostras que
mitações, já que não temos procedimentos cumpram todos os requisitos exigidos.
1. SELEÇÃO DE ATLETAS
e equipamentos específicos. Como temos Em seguida, a amostra é dividida em dois frascos (A e B) e o
que usar os equipamentos da química, exis- O atleta pode ser selecionado durante uma competição ou fora de competi- atleta é o único que deve manipular as amostras durante o
ções. Dentro de uma competição, o controle pode ser realizado de diversas procedimento. Depois disso, ele assina um formulário e
te muita contaminação cruzada e, por isso, formas. São elas: por meio de sorteio, com base na classificação obtida ou por junto com as amostra, uma cópia é enviada ao laboratório
há a necessidade de termos equipamentos outra razão particular. acreditado pela AMA sem a identificação do atleta. As outras
dedicados e exclusivos para a toxicologia”, cópias são enviadas para as organizações antidoping e o
explicou a perita Hampel, que está à frente atleta fica com uma cópia do documento.
do projeto do novo laboratório.
A falta de equipamentos específicos,
padrões e procedimentos dificulta o tra-
balho da área. A perita explica que apesar
de caminharem juntas, a toxicologia difere
muito da química e que frequentemente
a perícia federal é acionada pelos estados
para colaborar nesse tipo de análise.
Para os Jogos Olímpicos de 2016, a es-
tratégia do Governo Federal foi de garantir
um “Legado Olímpico” integral para o País e,
para isso, foram adquiridos, em condições
especiais, todos os equipamentos neces- 2. NOTIFICAÇÃO DOS ATLETAS
5. GESTÃO DE RESULTADOS:
sários. Após os Jogos, o Governo preten- O processo de notificação é o mesmo para controle em competições ou fora delas.
de realocar os equipamentos excedentes Quando o atleta é selecionado para realizar o exame, oficial de controle de 4. ANÁLISE DAS AMOSTRAS O laboratório irá reportar os resultados à organização responsá-
dopagem (DCO) se identifica para mostrar que está autorizado a realizar o exame vel pela gestão de resultados. Uma cópia será enviada à AMA
para universidades, centros de pesquisas e Quando a amostra A chega ao laboratório, ela é aberta e analisada.
antidoping. Depois disso, o oficial explica ao atleta como é realizado o procedimen- para assegurar a integridade do processo. Se for verificado um
laboratórios nacionais. O novo laboratório to e solicita sua assinatura em um formulário. Uma vez notificado, o atleta deve se A amostra B é armazenada com segurança. Caso a amostra A resultado analítico positivo, o atleta tem o direito de assistir a
de toxicologia forense do DPF é um forte apresentar imediatamente ao local da realização da coleta. A partir da notificação, apresente alguma substância proibida, a amostra B é analisada em abertura da amostra B. Dentro dos prazos definidos, o atleta
candidato a ser contemplado com um des- o oficial permanece junto ao esportista até o procedimento ser concluído. seguida para confirmar o resultado. pode apresentar a defesa e apelar da decisão.
ses equipamentos.

42 Perícia Federal Perícia Federal 43


COMPARAÇÃO BALÍSTICA: perito criminal federal Lehi Sudy dos Santos COMPARAÇÃO BALÍSTICA: perito criminal federal Lehi Sudy dos Santos

A elevada pressão interna também ex- não, foi possível declarar que o projétil in-
pande o estojo, selando a câmara de com- criminado não poderia ter sido disparado
bustão e, dessa forma, o estojo recebe mar- pelo revólver com cano raiado e poderia ter
cas de contatos com a face da culatra (no sido disparado pelo outro.
revólver, placa de obturação), com o per- Em 1907, após disparos supostamen-
cussor e com as paredes internas da câmara te efetuados pela infantaria americana, os
de combustão. Nas pistolas e demais armas responsáveis pela investigação produziram

COMPARAÇÃO
de repetição semiautomática ou automáti- ampliações de fotografias das marcas do
cas, também atuam sobre o estojo, e nesse pino percussor e puderam identificar as ar-
deixam marcas, os lábios do carregador, a mas utilizadas.
garra de extração e o ejetor.

BALÍSTICA
Em 1912, em Paris, o professor V. Baltha-
A comparação dessas marcas encontra- zard produziu fotografias ampliadas de ca-
das em projéteis e estojos relacionados a vados e cheios de projéteis, bem como de
um local de crime com projéteis e estojos diversas partes da arma que interagem com
coletados de maneira controlada de uma estojos, como percussor, extrator e face da
arma suspeita (denominados padrões da culatra, que possibilitaram a identificação
arma), permite determinar se projéteis e es-
da arma utilizada no disparo. Seus estudos
Um breve histórico do exame que tojos partiram da arma suspeita.
e artigos publicados podem ser considera-
analisa armas e munições dos como os fundamentos para todo o de-
BREVE HISTÓRICO senvolvimento da ciência de identificação
DA COMPARAÇÃO de projéteis e estojos.
BALÍSTICA Em 1925 foi pela primeira vez mencio-

E
m crimes cometidos com uso de armas de fogo, fre- nado o uso de um microscópio compara-
Não se sabe ao certo quando inicial-
quentemente os peritos criminais têm que esclarecer dor que permite uma visualização amplia-
mente se observou que as marcas deixadas
se projéteis ou estojos foram disparados a partir de da e simultânea de dois projéteis ou dois
pela arma em estojos e projéteis poderiam
uma arma de fogo. O exame para determinar se há relação estojos para efeito de comparação.
ser utilizadas para identificar a arma em-
entre elementos de munição e esse tipo de arma é denomi- pregada, mas a literatura apresenta alguns O uso desse equipamento é conside-
nado confronto balístico (RABELLO, 1995). exemplos bem antigos de uso dessa pre- rado por muitos como o grande marco no
Durante o disparo de uma arma de fogo de cano raiado, missa, alguns deles citados em um artigo desenvolvimento da comparação balística,
o projétil é acelerado pelo cano sob grande pressão, rece- da Association of Firearms and Tool Mark Exa- sendo que melhorias posteriores ocorrem
bendo marcas do raiamento e das imperfeições que o cano miners (HAMBY, 1999). apenas quanto ao uso de lentes diferencia-
contenha. Como o projétil está em movimento, estas mar- Em 1835, na investigação do assassina- das, processos de gravação e registro de fo-
cas aparecem na forma de estrias longitudinais e cavados na to de um morador de Londres, Inglaterra, tografias mais sofisticados, bem como varia-
lateral do projétil disparado. uma análise cuidadosa dos elementos de ções nos tipos de iluminação (HEARD, 2008).
munição encontrados na cena de crime, O microscópio comparador consiste
incluindo análise do projétil e papel uti- em uma ponte montada sobre os tubos
lizado para separar o projétil da pólvora, verticais de dois microscópios que, por
permitiu identificar o molde utilizado para meio uma série de prismas internos, dirige
dar forma ao projétil e a fonte do papel as imagens de duas lentes objetivas para
como sendo provenientes do quarto de uma mesma ocular. A imagem resultante
um serviçal. permite a sobreposição das imagens de
Em 1879 no estado de Minnesota, EUA, cada amostra iluminada, bem como uma
um tribunal solicitou exame em um projétil composição de imagens lado a lado, sepa-
que causara a morte de uma pessoa e em radas por uma linha fina, que facilita gran-
dois revólveres suspeitos. Como um dos demente o processo de comparação de
revólveres apresentava cano raiado e outro estrias e demais marcas individuais.

44 Perícia Federal Perícia Federal 45


COMPARAÇÃO BALÍSTICA: perito criminal federal Lehi Sudy dos Santos COMPARAÇÃO BALÍSTICA: perito criminal federal Lehi Sudy dos Santos

potencial envolvido nos resultados dos cipalmente em sua aparente subjetividade, 7.597 exames houve uma combinação cor- COMPARAÇÃO
exames (ver box Resultados de um Con- na medida que apenas um examinador reta entre projéteis questionados e padrões
treinado poderia diferenciar um conjun-
BALÍSTICA REFERÊNCIAS
fronto Balístico). (HAMBY; BRUNDAGE; THORPE, 2009).
to de marcas coincidentes aleatórias de Por esse e outros estudos, os resultados
AUTOMATIZADA AITKEN, C.;TARONI, F. Statistics and the
outro conjunto que permita afirmar que Em casos práticos, nem sempre é pos- Evaluation of Evidence for Forensic
destes exames são aceitos e utilizados em
Scientists. Chichester, UK: John Wiley
RESULTADO DE o elemento de munição proveio daquela tribunais do mundo inteiro. sível estabelecer qual foi a arma utilizada.
& Sons, 2004.
arma. A abordagem mais qualitativa do que Isso pode ocorrer, dentre outras questões
UM CONFRONTO técnicas, quando não se há arma suspeita. CHU, W.; THOMPSON, R. M.; SONG, J. &
quantitativa é vista por muitos como de di-
BALÍSTICO fícil descrição ou convencimento do juiz ou O “Conservative Quantitative Em outros casos, há muitos elementos de VORBURGER, T. V. Automatic identi-
Os exames de confronto balísti- júri (CHU et al., 2013). Criteria for Identification” é um munição para comparação o que torna o fication of bullet signatures based
co podem resultar em: A busca por um critério mais objetivo critério que estabelece que a iden- exame muito demorado e dispendioso. Em on consecutive matching striae
Confronto positivo: quando há tificação positiva poderá ser deter- parte, motivados pelas limitações do exa- (CMS) criteria. Forensic Science In-
e quantitativo iniciou-se na década de 50,
correlação em quantidade e quali- minada, se a comparação entre dois me de confronto balístico, ou mesmo bus- ternational, Vol. 231, p. 137-141, 2013.
quando um estudo comparou a existência
dade suficiente nas marcas observa- de marcas coincidentes entre projéteis de elementos de munição ou marcas cando otimização de tempo em confrontos COMMITTEE ON IDENTIFYING THE
das para se afirmar que o elemento armas diferentes (os falsos positivos), esta- de ferramentas apresentar: com muitos elementos incriminados, sis- NEEDS OF THE FORENSIC SCIENCES
de munição questionado foi dispa- belecendo um primeiro padrão para identi- 1. Para marcas tridimensionais: temas de comparação automatizados têm COMMUNITY, NATIONAL RESEARCH
rado pela arma incriminada; ficação, o CONSECUTIVELY MATCHING STRIAE dois grupos de pelo menos três sido concebidos nas últimas três décadas e COUNCIL. Strengthening Forensic
Confronto negativo: quando há estrias consecutivas (em mesmas incorporados às rotinas de laboratórios de Science in the United States: A Path
(CMS), ou traduzindo, estrias consecutivas
diferenças significativas entre as mar- posições relativas) ou um grupo de balística de todo mundo. Forward. Washington D.C: The Natio-
coincidentes, que seriam marcas estriadas
ESTUDOS SOBRE cas observadas ou entre as caracte- que se alinham exatamente umas com as pelo menos seis estrias; Sistemas automatizados, como o da
nal Academy Press, 2009.
A COMPARAÇÃO rísticas da arma empregada, como outras em mesmas posições relativas, sem 2. Para marcas bidimensionais: figura a seguir, podem ser utilizados para GRZYBOWSKI, Richard; MILLER, Jer-
BALÍSTICA calibre ou raiamento incompatíveis; falhas ou acréscimos entre elas. No estudo dois grupos de pelo menos cinco otimizar a comparação de uma grande ry; MORAN, Bruce; MURDOCK, John;
Dado que a determinação de qual foi Confronto inconclusivo: não realizado, analisando 720 falsos positivos estrias consecutivas (em mesmas quantidade de elementos de munição rela- NICHOLS, Ron; THOMPSON, Robert.
é possível afirmar se o elemento conhecidos, não foi possível encontrar mais posições relativas) ou um grupo de cionados ao mesmo local de crime ou para Firearm/Toolmark Identification:
a arma de fogo utilizada em um crime
de munição partiu ou não da arma pelo menos oito estrias. armazenar em bancos de dados padrões Passing the Reliability Test under Fe-
pode ser de grande importância a uma do que quatro estrias consecutivas coinci-
incriminada, por exemplo pode ser Nenhum estudo posterior, in- coletados de armas apreendidas. deral and State Evidentiary Standards.
investigação, uma vez que pode indicar a dentes (Biasotti, 1959 apud GRZYBOWSKI et
AFTE Journal, vol. 35, 209-241, 2003.
possível autoria, as estratégias de defesa devido a um cano ou percutor sem al., 2003). clusive envolvendo atuais banco de A implementação de um banco de da-
de tempos em tempos têm sido desqua- imperfeições para marcar um ele- Mais recentemente Biasotti e Murdock dados com muitas imagens de ele- dos de padrões balísticos é sem dúvida a HAMBY, J.E. The history of Firearm
lificar este exame, principalmente quando mento de munição, ou um questio- (1997 e 2002 apud GRZYBOWSKI et al., 2003) mentos de munição, até o momen- grande meta da utilização desses estudos, and Toolmark identification. AFTE
nado com poucas áreas preservadas ampliaram o estudo e estabeleceram um to, conseguiu apresentar um falso mas há muitos aspectos técnicos a serem Journal, 30th Anniversary Issue, Vol.
diversos exames foram considerados al-
para visualização no comparador; positivo que superasse os critérios estudados e procedimentos a serem defini- 31, Number 3, 1999.
tamente inconclusivos e os responsáveis “Conservative Quantitative Criteria for Identifi-
por condenações erradas. Como inicial- Não serve ao exame de con- cation”, utilizando o CMS, (CHU et al., 2013). do CMS. dos, e por isso este é um assunto ainda sem HAMBY, J. E.; BRUNDAGE, D.; THORPE,
mente foram utilizados sem devidos es- fronto: elementos que não apre- Outro estudo digno de nota, e que solução definitiva. J. The identification of bullets fired
tudos comprovativos da validade de uma sentam marcas ou foram totalmente mostra a precisão deste exame, foi levado from 10 consecutively rifled 9mm
associação positiva, exames comparativos danificados, podendo ser um núcleo a cabo em dez anos e envolveu a partici- Ruger pistol barrels: A research pro-
envolvendo amostras de cabelo ou mar- de projétil encamisado, e portanto pação de 507 peritos. Para o estudo foram ject involving 507 participants from
sem marcas do cano, ou balins ou 20 countries. AFTE Journal, vol. 41, p.
cas de mordidas foram descobertos como utilizadas 10 armas de fogo novas, retiradas
bucha de munição de arma de alma 99-110, 2009.
tendo sido em parte responsáveis por em sequência da linha de montagem de
condenações errôneas, levantando dúvi- lisa, ou ainda um projétil que foi to- uma fábrica. Projéteis padrões e “questiona- HEARD, Brian J. Handbook of fi-
da sobre o erro potencial de cada exame talmente danificado ao atingir uma dos” foram coletados das armas e enviados rearms and ballistics: examining
realizado na criminalística (COMMITTEE..., superfície resistente. para laboratórios de balística de 20 países, and interpreting forensic evidence.
2009). Essas dúvidas atingiram desde inquirindo-se sobre qual arma partira cada 2ª edição. Chichester: John Wiley &
questionado. De 7.605 comparações ba- Sons, 2008. 419p.
exames comparativos de DNA (AITKEN;
TARONI, 2004) até comparação balística No caso do confronto balístico, quando lísticas efetuadas, houve cinco resultados RABELLO, Eraldo. Balística Forense.
(GRZYBOWSKI et al., 2003), e levaram à exi- a comparação entre duas amostras é mais inconclusivos, três projéteis foram consi- 3ª edição. Porto Alegre: Sagra-DC Lu-
gência de mais estudos que validassem os qualitativa do que quantitativa, levanta-se derados em um laboratório como “em não zzato, 1995. 488p.
exames, além do estabelecimento do erro críticas ao processo de identificação, prin- condições para o confronto” e nos demais

46 Perícia Federal Perícia Federal 47


OPERAÇÃO CAIXA DE PANDORA: perito criminal federal Alan Lopes OPERAÇÃO CAIXA DE PANDORA: perito criminal federal Alan Lopes

A
avaliação do prejuízo direto à Ad-

O EFEITO ministração Pública Federal causa-


do pela corrupção é tema de mui-
tos estudos, especialmente em se tratando
àquele tipo de criminalidade. O efeito
pedagógico atinge todo um setor.
A posição enérgica de cobrança com
produção, divisão de clientes e de mer-
cados de atuação. Cartéis são consi-
derados a mais grave lesão à concor-

PEDAGÓGICO de obras públicas. Conforme relatado por


Lopes (2011) e Mendes (2013), esses pre-
juízos em algumas ocasiões são muito sig-
relação a um contribuinte, pessoa
física ou jurídica, tem um efeito pe-
dagógico muito interessante e se
rência porque prejudicam seriamente
os consumidores ao aumentar preços
e restringir a oferta, tornando os bens

DE OPERAÇÕES nificativos. O foco das investigações para propaga rapidamente naquele se- e serviços mais caros ou indisponíveis.
apurá-los está, e não poderia ser diferente, tor. A análise setorial é também uma Ao artificialmente limitar a con-
além da identificação da autoria, na quan- de nossas formas de atuação corrência, os membros de um cartel

DA POLÍCIA
tificação dos danos causados (POLÍCIA FE- também prejudicam a inovação, im-
DERAL, 2014). pedindo que novos produtos e pro-
O aspecto qualitativo do efeito peda-
A avaliação do sucesso de ações de fis- cessos produtivos surjam no mercado.
gógico é muito comentado, porém poucos

FEDERAL: UM
calização e investigação criminal usualmen- Cartéis resultam em perda de bem-es-
estudos apresentaram estimativas mensu-
te é mensurada no volume de recursos des- tar do consumidor e, a longo prazo,
ráveis em termos econômico-financeiros
viados investigados e, principalmente, no na perda de competitividade da eco-
de ações dessa natureza. No intuito de con-

ESTUDO DE CASO
total recuperado. Essa recuperação, por di- nomia como um todo.
tribuir para o preenchimento dessa lacuna,
versos motivos, é notoriamente demorada Segundo estimativas da Organi-
é apresentado este breve relato de análise
e por vezes limitada, causa um sentimento zação para a Cooperação e Desen-
pericial no âmbito do Inquérito Policial nº
de impunidade e frustação daqueles que se volvimento Econômico (OCDE), os

DA OPERAÇÃO
1430/2010-4-SR/DPF/DF do Departamen-
esforçam em combater tais desvios. cartéis geram um sobrepreço esti-
to de Polícia Federal. Aqui, foi identificado,
Todavia, uma ampliação do enfoque mado entre 10 e 20% comparado ao
dentre outros aspectos, a ocorrência do
dessa atuação pode mudar a perspectiva preço em um mercado competitivo,

“CAIXA DE
citado efeito pedagógico em decorrência
de sucesso dessas ações, pois existe a ex- causando prejuízos de centenas de
da operação policial denominada “Caixa de
pectativa dos agentes do poder público de bilhões de reais aos consumidores
Pandora”, onde se estudou o incremento
que, além dos efeitos diretos de suas inter- anualmente.”

PANDORA”
do desconto ofertado nos preços pratica-
venções, ocorra um efeito pedagógico so-
dos em licitações de obras de engenharia
bre os indivíduos, as organizações e a pró-
de um órgão da Administração Pública,
pria sociedade. Moraes (2009), com relação Diante dessa definição, os peritos rea-
doravante denominado “Órgão A”, após a
às ações de fiscalização da Receita Federal, lizaram a seleção de dados indicativos de
deflagração da referida investigação com a
afirmou que existe um efeito pedagógico comportamento de cartéis. Uma das técni-
O objetivo deste artigo é demonstrar que derivado das ações do Estado sobre o con-
execução de mandados de prisão, de busca
cas utilizadas foi a da curva ABC, que con-
e apreensão.
os efeitos pedagógicos de investigações tribuinte, transcreve-se: siste na aplicação do Princípio de Pareto, no
qual a maior parte de um determinado fe-
criminais de combate à corrupção podem ser IDENTIFICAÇÃO DE nômeno é caracterizada por uma pequena
mensurados em termos dos seus benefícios Entre as nossas formas de atuação COMPORTAMENTO parcela dos dados amostrados.

econômico-financeiros. É relatado estudo de


temos a pesquisa e a investigação do DE CARTEL Para rastrear o comportamento do pos-
contribuinte, pessoa física ou jurídica, Antes de apresentar os dados do estudo, sível cartel que teria atuado no “Órgão A”, foi
caso relativo à denominada Operação “Caixa de com indícios expressivos de evasão de é necessário contextualizar o que caracteri- necessário analisar as licitações, com e sem
tributos, para a recuperação do cré- recursos federais, de forma a ampliar os da-
Pandora”, onde se analisou o comportamento dito tributário ou obtenção do efeito
za um cartel. De acordo com CADE (2008),
dos da amostragem ao ponto de atingir toda
um cartel é definido da seguinte forma:
de cartel atuante em contratações de órgão pedagógico. Lembrando novamente a população das licitações da modalidade
a fita aqui reproduzida, é interessante ‘concorrência para obras de engenharia’, ou
da Administração Pública e a mudança do observar o efeito pedagógico causa- “Cartel é um acordo explícito ou implí- seja, foi analisada a população e não uma
referido comportamento após a deflagração do pelo papel do Estado junto àqueles cito entre concorrentes para, principal- amostra. Todavia, na análise de dados, al-
que proporcionavam apoio logístico mente, fixação de preços ou quotas de guns considerados “outliers” foram retirados
da investigação criminal. para facilitar a interpretação dos resultados.

48 Perícia Federal Perícia Federal 49


OPERAÇÃO CAIXA DE PANDORA: perito criminal federal Alan Lopes OPERAÇÃO CAIXA DE PANDORA: perito criminal federal Alan Lopes

CADE (2008) apresenta a descrição das a licitação, não costumam apresentar pro- novembro de 2009, quando, com o obje- de empresas de construção civil nas licita- desse período ser correspondente ao da
características dos cartéis. O primeiro as- f) Rodízio, acordo pelo qual os postas a um determinado órgão, embora o tivo de reprimir fraudes em licitações no ções do “Órgão A”. Todavia, além da iden- gestão administrativa que estava sendo
pecto a considerar são as possíveis formas concorrentes alternam-se entre os façam para outro com objetos semelhantes. governo do Distrito Federal, foram cum- tificação de comportamento de cartel nas investigada pela referida investigação poli-
de atuação, tema de maior interesse no vencedores de uma licitação específi- Nesse ponto, o CADE (2008) chama a pridos 29 mandados de busca e apreen- licitações, foi identificado um aumento da cial, onde teriam ocorridos os danos.
presente estudo, transcritas a seguir: ca. Por exemplo, as empresas A, B e atenção para a necessidade de amplas aná- são em Brasília, Goiânia e Belo Horizonte, competitividade nas licitações do “Órgão A” Maggi (2010) classificou o dano causa-
C combinam que a primeira licitação lises que podem ser de mais de um órgão expedidos pelo Ministro Fernando Gon- no ano seguinte ao da deflagração da Ope- do pelos cartéis como o resultado do so-
Os Cartéis em Licitações será vencida pela empresa A, a segun- ou esfera de poder. Como rotina, a atenção çalves, do Superior Tribunal de Justiça, ração “Caixa de Pandora”. brepreço que, por sua vez, resulta do paga-
Licitações são um ambiente pro- da pela empresa B, a terceira pela em- maior deve estar na identificação de um pa- Presidente do Inquérito Judicial, baseados Foram analisados todos os resultados mento de preço acima do valor normal de
pício à atuação dos cartéis, que po- presa C e assim sucessivamente. drão claro de rodízio entre os vencedores em representação da Polícia Federal, cor- de licitações de obras e serviços de enge- mercado pelos compradores. Esse prejuízo,
dem agir de várias formas: g) Subcontratação, pela qual das licitações, quando existe uma margem roborada pelo Ministério Público Federal nharia de um órgão da Administração Pú- segundo Maggi (2010), é um dano material
a) Fixação de preços, na qual concorrentes não participam das lici- de preço estranha e pouco racional entre a (POLÍCIA FEDERAL, 2009). blica, doravante denominado “Órgão A”, no emergente, pois é a diferença de valor pago
há um acordo firmado entre concor- tações ou desistem das suas propos- proposta vencedora e as outras propostas, O objetivo principal da análise era verifi- período de 2007 a 2011 (LOPES e NONATO a mais pelo cliente e corresponde à sua per-
rentes para aumentar ou fixar preços tas, a fim de serem subcontratados onde alguns licitantes apresentam preços car eventuais indícios de atuação de cartéis FILHO, 2011). A escolha foi baseada no fato da econômica efetiva (Figura 1).
e impedir que as propostas fiquem pelos vencedores. O vencedor da lici- muito diferentes nas diversas licitações que
abaixo de um “preço base”. tação, a um preço divide o sobrepreço participam, apesar do objeto e das caracte-
b) Direcionamento privado da com o subcontratado. rísticas desses certames serem parecidos.
licitação, em que há a definição de Às vezes, a discrepância identificada
Biológico
quem irá vencer determinado certame significa que o valor das propostas se reduz Bens Tangíveis
significativamente quando um novo con- Estético
ou uma série de processos licitatórios, DANO À PESSOA
Ainda de acordo com CADE (2008), em Direitos de Nome e honra
corrente entra no processo (provavelmente NATURAL
bem como as condições nas quais es- Personalidade
muitos cartéis mais de uma das formas (fi- não integrante do cartel). A concentração Bens Intangíveis Privacidade
sas licitações serão adjudicadas.
xação de preços, direcionamento privado também pode ser um indicativo de atuação Psíquico
c) Divisão de mercado, representa-
da licitação, divisão de mercado, supressão de cartel, onde um determinado concor- (moral stricto sensu)
da pela divisão de um conjunto de licita-
de propostas, apresentação de propostas rente vence muitas licitações que possuem
ções entre membros do cartel, que, assim, Direitos Produção do intelectuo
“pro forma”, rodízio e subcontratação) po- a mesma característica ou se referem a um
deixam de concorrer entre si em cada Bens Tangíveis
dem estar presentes. Assim, a prática do tipo especial de contratação num órgão em DANO – DANO À PESSOA
uma delas. Por exemplo, as empresas A, EVENTO
“rodízio” pode ser combinada com a divisão rodízio com outros em órgãos equivalentes JURÍDICA
B e C fazem um acordo pelo qual a em- LESÃO Bens Intangíveis
de mercado (os concorrentes combinam (por exemplo, prefeituras vizinhas).
presa A apenas participa de licitações na
a alternação dos vencedores em um gru- Existem ainda aqueles casos onde lici-
região Nordeste, a empresa B na região Cultural
po de licitações, para dar a impressão de tantes vencedores subcontratam concor-
Sul e a empresa C na região Sudeste. Artístico
efetiva concorrência), e o direcionamento rentes que participaram do certame ou
d) Supressão de propostas, Bens Tangíveis
da licitação pode ser implementado pela quando licitantes que teriam condições de Histórico
modalidade na qual concorrentes
apresentação de propostas inviáveis e participar isoladamente do certame apre- DANO À SOCIEDADE Ambiental
que eram esperados na licitação não DANO COLETIVIDADE
complementado por subcontratações. sentam propostas em consórcio.
comparecem ou, comparecendo,
De qualquer forma, o resultado sempre é Assim, da análise das informações do Bens Intangíveis Dano Institucional
retiram a proposta formulada, com
o aumento dos preços pagos pela Admi- CADE (2008), percebe-se que é possível
intuito de favorecer um determinado
nistração e a consequente transferência rastrear certas condutas que são indícios Danos Emergentes
licitante, previamente escolhido.
ilegítima de recursos para os membros do da ação de cartéis. Para realizar esse tipo de
e) Apresentação de propostas DANO MATERIAL
cartel. Outros detalhes podem ser observa- análise, são necessários dados dos resultados
“pro forma”, caracterizada quando DANO – Lucros Cessantes
dos, inclusive por membros de comissões financeiros de diversos certames ou compras. PREJUÍZO
alguns concorrentes formulam pro-
de licitação, como, por exemplo, propostas EFEITO
postas com preços muito altos para DANO MORAL
serem aceitos ou entregam propostas
que apresentem redações semelhantes, os
ESTUDO DE CASO DA IMATERIAL
mesmos erros ou mesmas rasuras.
com vícios reconhecidamente des-
E, ainda, a identificação de quando
OPERAÇÃO “CAIXA DE
classificatórios. O objetivo dessa con-
certos fornecedores desistem, inesperada- PANDORA”
duta é, em regra, direcionar a licitação
mente, de participar da licitação, pois há O evento desencadeador do efeito pe-
para um concorrente em especial.
empresas que, apesar de qualificadas para dagógico estudado ocorreu no dia 27 de Figura 1: Quadro esquemático de classificação dos prejuízos causados por cartéis. Fonte: MAGGI (2010).

50 Perícia Federal Perícia Federal 51


OPERAÇÃO CAIXA DE PANDORA: perito criminal federal Alan Lopes OPERAÇÃO CAIXA DE PANDORA: perito criminal federal Alan Lopes

O período de atuação do Cartel é uma âmbito do comitê das Nações Unidas afirma – Sinapi e o Sistema de Custos Rodoviários, 100%
tarefa de extrema importância e, ao mesmo que situações de restrição artificial à com- mantido pelo Departamento Nacional de
tempo, dificultosa. O seu conhecimento petição na indústria, em geral, dão causa a Infraestrutura de Transportes – Sicro). Uma
permite a realização de uma análise do tipo preços entre 10% e 20% acima daqueles que possível causa para isso é que esses siste- 90%
“antes e depois”, o que possibilita a estima- ocorreriam em situação de saudável compe- mas não consideram, por exemplo, o efeito
tiva do dano causado durante a atuação do titividade (OCDE, 2002 apud OCDE, 2009). barganha, ou seja, a minoração dos preços 80%
cartel, ou no presente estudo, a estimativa A tese de que um ambiente de efetiva dos materiais devido ao porte das obras
dos danos evitados com o encerramento competitividade entre fornecedores gera (economia de escala nas compras em ata-
70%
da atuação do cartel ou com o arrefecimen- diminuição do preço ofertado também já foi cado e não em varejo).
to da sua atuação. objeto de estudos envolvendo licitações de Nesse sentido, o Ibraop, que é uma socie-

IPCC
Após a realização do estudo de “antes e obras públicas no Brasil. Os estudos de refe- dade civil de direito privado sem fins econô- 60%
depois” do evento crítico da referida ope- rência (Pereira, 2002 e Lima, 2009), ilustrados micos, de âmbito nacional, constituída por
ração policial, foi identificada uma mudan- nas Figuras 2 e 3, apontam para uma tendên- profissionais de Engenharia, Arquitetura e 50%
ça do patamar do “preço de mercado” das cia de descontos relevantes (de 15% a 30%) Agronomia, de nível superior e que exercem
licitações do “Órgão A”. Nessa análise, foi em relação ao preço de referência do órgão atividades relacionadas à auditoria de obras Máximo
avaliada a competitividade dos certames contratatante, quando o número de empre- públicas, também chamou a atenção para a
40% Mediana
Média
com a medição do tamanho dos descontos sas habilitadas na licitação é superior a 5. existência do citado efeito barganha, con- Mínimo
ofertados pelos licitantes em relação ao va- Esse fenômeno ocorre até mesmo forme registrado na sua Orientação Técnica 30% Tendência
Referência
lor de referência dos editais, onde maiores quando os preços do órgão contratante nº 5/2012, que versa sobre a apuração do
descontos são indicativos de competitivi- são baseados nos sistemas de referência sobrepreço e superfaturamento em obras
20%
dade e menores ou inexistentes descontos oficiais (por exemplo, o Sistema Nacional de públicas (IBRAOP, 2012), inspirada em estu-
são indicativos de pouca competitividade e Pesquisa de Custos e Índices da Construção do de Maciel, Silva Filho e Lima (2010), que 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
de conluio nos certames. Civil, mantido pela Caixa Econômica Federal mensurou a magnitude do efeito barganha.
NÚMERO DE CONCORRENTES
O efeito didático observado foi que,
após a ação policial, os licitantes aumenta- Figura 3: Gráfico do Índice Preço Custo do Contrato (IPCC) em função do número de participantes habilitados para concorrências do
ram os seus descontos nas licitações, am- 1,25 DNIT (LIMA, 2010).
pliando a competitividade dos certames e, 1,20 Mean +1,96º SE
Mean -1,96º SE
com isso, gerando maior economia para o 1,15
Mean + SE Essa falha sistêmica dos modelos de or- Barganha” e o Acórdão nº 1011/2015 – TCU – ocorrência do inverso, ou seja, pequenos
erário, mesmo sem serem diretamente in- 1,10 Mean - SE
çamentação no Brasil pode permitir a ocor- Plenário, de 29 de abril de 2015, que versou descontos com pouco variabilidade são
Mean
vestigados ou processados. 1,05
Linha de Custo
rência de sobrepreço e, por esse motivo, o sobre a possibilidade de uso do 1º quartil do indicativos de certames com pouca com-
1,00 Ministério Público Federal (MPF) elaborou SINAPI, o denominado “Efeito Cotação”. petitividade. Também ponderou-se a con-
VARIÁVEL CRITÉRIO – 0,95 uma recomendação, por meio da 5ª Câmara centração de licitantes como vencedores
IPCC

DESCONTO OBTIDO 0,90 de Revisão e Controle da Procuradoria-Geral ANÁLISE DA VARIÁVEL ou participantes dos certames.

NA LICITAÇÃO 0,85 da República, onde orienta órgãos públicos


DO DESCONTO NAS Os dados foram tabulados sob a orienta-
sobre como proceder para adotar novos ção dos peritos criminais federais do Institu-
Foi adotado como variável critério do
0,80

0,75 modelos de orçamentação que minimizem


LICITAÇÕES to Nacional de Criminalística (INC), por equi-
estudo de “antes e depois” o percentual de os citados riscos (MPF, 2011). Utilizando metodologia semelhante à pe do próprio “Órgão A” e encaminhados
0,70
desconto obtido (D) nas licitações do “Ór- A citada recomendação do MPF acabou adotada por Pereira (2002) e Lima (2010), para exame pericial em 12 de maio de 2011.
0,65
gão A”, nos anos de 2007, 2008, 2009 e 2010, por contribuir para o aprimoramento dos procedeu-se a análise das licitações de obras Para refinar a análise foram desconsi-
0,60
de forma, que a comparação do desconto métodos de fiscalização de outros órgãos, da modalidade concorrência do “Órgão A”, derados, dentre os dados do ano de 2007,
0,55
obtido foi realizada entre os conjuntos de 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 como o Tribunal de Contas da União (TCU), no período 2007 e 2010 (Figuras 4 a 7). os relativos a licitações para manutenção
dados dos anos de 2007, 2008 e 2009 em 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 conforme se verifica na edição do Acórdão O método utilizado foi o cálculo de to- de áreas verdes, de projetos executivos de
relação aos do de 2010. nº 2622/2013 – TCU – Plenário, de 25 de se- dos os descontos ofertados pelos licitantes ciclovias, de construção de 300 abrigos de
NÚMERO DE PARTICIPANTES CLASSIFICADOS
O desconto nas licitações é um dos in- tembro de 2013, que tratou da definição da nas licitações do “Órgão A”, onde a existên- ônibus, todos orçados em R$ 2.463.085,50,
dicadores de competitividade no certame e taxa de BDI, Acórdão nº 2984/2013 – TCU cia de grandes descontos, como também de um total de R$ 450.377.313,15. E, ainda,
pode ser sensivelmente afetado pela ação de Figura 2: Comportamento do IPCC em função do número de participantes classificados – Plenário, de 6 de novembro de 2013, que de maior variabilidade dos descontos, são desconsiderados dos dados de 2009 uma
cartéis. Nesse sentido, estudo realizado no (PEREIRA, 2002). tratou de aspectos relacionados ao “Efeito indicativos de licitações competitivas e a licitação para corte e podas de árvores.

52 Perícia Federal Perícia Federal 53


OPERAÇÃO CAIXA DE PANDORA: perito criminal federal Alan Lopes OPERAÇÃO CAIXA DE PANDORA: perito criminal federal Alan Lopes

Em seguida, foram plotados os descon- mento de referência dos editais de lici- Porém, no ano de 2010, apesar do coe- de 2009. Com isso, pode-se inferir que a Observou-se, ainda, que tomando o
IPCC 2007
1,05 tos obtidos em cada certame e analisada a tação do “Órgão A” e uma concentração ficiente de determinação (R2) ainda indicar ação da Polícia Judiciária da União, e dos mercado do ano de 2010 como paradigma,
1,00
existência de uma pequena tendência de de certames com a participação de 1 a 3 a falta de correlação entre o número de demais atores da persecução penal, afetou é possível utilizar o resultado das licitações
0,95
0,90 incremento de desconto com o aumento licitantes (em aproximadamente 70% dos concorrentes e o desconto médio obtido, o comportamento do mercado, modifi- do ano de 2010 como mais um indício de
0,85
0,80
y= -0,002x + 0,9859
R²= 0,0416 do número de licitantes, conforme previsto certames), o que confirma o esperado por o mercado apresentou um comportamen- cando os preços praticados, mesmo que que as licitações do “Órgão A” nos anos de
0,75
IPCC
pelos citados estudos referenciais. Porém, o Pereira (2002) e Lima (2010), de que pou- to diferente do padrão dos três anos ante- temporariamente. 2007, 2008 e 2009 foram vencidas sem que
0,70
0,65
Linear (IPCC) resultado demonstrou grande resiliência na cos concorrentes levam a pouca competi- riores. O desconto médio foi da ordem de Por fim, foi calculada a diferença per- os orçamentos das licitantes vencedoras
0,60
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 diminuição dos descontos, mesmo com o tividade e a pequenos descontos. A moda 10%, com uma visível amplitude dos resul- centual entre o desconto médio nos anos incorporassem a economia potencial dos
incremento do número de licitantes, o que do Índice Preço Custo do Contrato (IPCC) tados das frequências de desconto obtidas de 2007 a 2009, em aproximadamente 2%, efeitos “cotação” e “barganha”. O fato do des-
Figura 4: Licitações do “Órgão A” do ano de não representa o comportamento esperado – métrica do desconto obtido – foi calcu- em relação à condição dos anos anteriores e o desconto médio no ano de 2010, em conto identificado não ser completamente
2007. Fonte: LOPES e NONATO FILHO, 2011. em certames competitivos, conforme de- lada em 0,98, arredondamento para duas (Figura 9). aproximadamente 10%, o que resultou em compatível com o previsto na literatura
monstrado por Pereira (2002) e Lima (2010). casas decimais. Dessa constatação da mudança de uma diferença percentual de 8,3%. Consi- pode ser um indicativo de uma atuação re-
IPCC 2008 Por outro lado, da análise dos gráficos Analisando a distribuição dos descon- patamar do preço de mercado no ano de derando essa diferença sobre o total dos sidual do cartel.
1,40 y= -0,0051x + 0,9925 das Figuras 4 a 6, anos de 2007 a 2009, tos observados na população, também se 2010 nas licitações da modalidade concor- orçamentos das licitações da modalidade
CONCLUSÃO
R²= 0,0416
1,30
1,20 IPCC
inferiu-se que existiu uma tendência de percebe a concentração de resultados em rência do “Órgão A”, surgiu a identificação de concorrência do ano de 2010, da ordem
1,10
Linear (IPCC)
desconto de 2% em relação ao descon- torno do desconto de 2%, nos anos de 2007 de um dos efeitos pedagógicos da Ope- de R$ 198.314.309,21, constatou-se, com
1,00 O Inquérito Policial nº 1430/2010-4-SR/
to médio, calculado em relação ao orça- a 2009 (Figura 8). ração “Caixa de Pandora”. Uma explicação esse método, que ocorreu uma economia
0,90
DPF/DF do Departamento de Polícia Fe-
0,80 verossímil para a causa do fenômeno ob- financeira para o “Órgão A” nas referidas lici-
60 deral, que apurou a ocorrência de atuação
0,70
servado seria a associada às prisões rea- tações da ordem de R$ 16.415.601,10. Essa
0,60
de cartel no denominado “Órgão A”, foi re-
- 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00
2007 lizadas quando do denominado estouro economia foi decorrente da mudança de
50 2008
comportamento do mercado. latado com o indiciamento de 15 pessoas
2009
da operação, ocorridas no final do ano
como os responsáveis envolvidos. Todavia,
Frequência das licitações por

Figura 5: Licitações do “Órgão A” do ano


faixa de desconto obtido

40 o Ministério Público Federal (Arquivamento


de 2008. Destaque para licitações acima da
referência do próprio órgão. Fonte: LOPES e nº 099/2014 – MPF/PRDF/8º Ofício Crimi-
45
NONATO FILHO, 2011. 30 nal/MB) concluiu que o referido inquérito
40 2010 deveria ser arquivado, pois o risco potencial
IPCC 2009 20 35
de prescrição seria elevado demais, ponde-

Frequência das licitações por


rando eventuais dificuldades processuais,

faixa de desconto obtido


1,0500
1,0000
30
0,9500
10
o que foi acatado pela Justiça Federal em
0,9000
0,8500 y= -0,0023x + 0,9875
25 19/05/2014 (JUSTIÇA FEDERAL, 2014).
R²= 0,0933
0,8000
0,7500 O arquivamento do inquérito, após vá-
IPCC 0
0,7000 20
Linear (IPCC) rios esforços investigativos, poderia levar a
Menor que 0%

Entre 0 e 0,5 %

Entre 0,5 e 1 %

Entre 1 e 1,5 %

Entre 1,5 e 2 %

Entre 2 e 2,5 %

Entre 2,5 e 3 %

Entre 3 e 3,5 %

Entre 3,5 e 4 %

Entre 4 e 4,5 %

Entre 4,5 e 5 %

Entre 5 e 10 %

Maior que 10%


0,6500
0,6000
- 2,0000 4,0000 6,0000 8,0000 10,0000 15 um entendimento da ineficácia dos resul-
tados da atuação da Polícia Judiciária da
10
Figura 6: Licitações do “Órgão A” do ano de União. Todavia, em uma análise mais am-
2009. Fonte: LOPES e NONATO FILHO, 2011. Descontos percentuais constatados nas licitações (%) 5 pla, é possível perceber que, mesmo nesse
caso onde a ação penal não pôde sequer
Figura 8: Gráfico da distribuição dos percentuais de descontos das licitações do “Órgão 0
IPCC 2010 ser iniciada, houve um resultado efetivo
A” nos anos de 2007, 2008 e 2009 (LOPES e NONATO FILHO, 2011).

Menor que 0%

Entre 0 e 0,5 %

Entre 0,5 e 1 %

Entre 1 e 1,5 %

Entre 1,5 e 2 %

Entre 2 e 2,5 %

Entre 2,5 e 3 %

Entre 3 e 3,5 %

Entre 3,5 e 4 %

Entre 4 e 4,5 %

Entre 4,5 e 5 %

Entre 5 e 10 %

Maior que 10%


1,05
1,00 y= -0,0063x + 0,9152
R²= 0,0146
e mensurável em favor da Administração
0,95
0,90 Todavia, um detalhe chamou a atenção pode ser verificado tanto pela média de Pública e, consequentemente, de toda a
0,85
no exame pericial: mesmo com o aumen- desconto obtido nas licitações quanto pelo sociedade brasileira.
0,80
0,75
IPCC to do número de concorrentes, não há um baixo coeficiente de determinação (R2), Descontos percentuais constatados nas licitações (%) Por fim, espera-se com a apresentação
0,70
0,65
Linear (IPCC)
incremento significativo do desconto, uma próximo do valor zero, das retas traçadas desse estudo que os envolvidos na perse-
0,60
0 2 4 6 8 10 característica da fixação de preços (CADE, nos gráficos das Figuras 4 a 7. Esse fenôme- cução penal possam ampliar o entendi-
2008), demonstrando que, nesses casos, o no é um forte indício da existência da ação Figura 9: Gráfico da distribuição dos percentuais de descontos das licitações do “Órgão mento do alcance de suas ações e assim
Figura 7: Licitações do “Órgão A” do ano de aumento do número de participantes não de cartéis nas licitações do “Órgão A” no pe- A” nos anos de 2010. Detalhe do deslocamento da concentração nos descontos do pata- encontrar maior motivação para o exercício
2010. Fonte: LOPES e NONATO FILHO, 2011. aumentou a competitividade, fato que ríodo analisado, entre 2007 a 2009. mar entre 2% a 2,5% para superiores a 10% (LOPES e NONATO FILHO, 2011). de suas atribuições.

54 Perícia Federal Perícia Federal 55


OPERAÇÃO CAIXA DE PANDORA: perito criminal federal Alan Lopes CURSO INTERNACIONAL: Agência APCF

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to Policial Nº 1430/2010-4 – SR/DPF/DF, blicas. 5ª Câmara de Coordenação e Re-
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56 Perícia Federal Perícia Federal 57


CURSO INTERNACIONAL: Agência APCF
Associação Nacional
dos Peritos Criminais Federais
Diretoria Executiva Nacional

André Luiz da Costa Morisson Marcos de Almeida Camargo


Presidente Vice-Presidente

Felipe Gonçalves Murga Evandro Mario Lorens Bruno Gomes de Andrade João Carlos L. Ambrósio
Secretário-Geral Diretor Técnico-Social Diretor de Assuntos Jurídicos Diretor de Assuntos Parlamentares

Carlos Antônio Almeida de Oliveira Eduardo Roberto Rosa Erick Simões da Camara e Silva Henrique Mendonça Oliveira de Queiroz
Suplente de Secretário-Geral Suplente de Diretor Técnico-Social Suplente de Diretor de Assuntos Jurídicos Suplente de Diretor de Assuntos Parlamentares

Wilson Akira Uezu Hélio Buchmüller Lima Meiga Aurea Mendes Menezes Paulo Roberto Fagundes
Diretor Financeiro Diretor de Comunicação Diretora de Administração e Patrimônio Diretor de Aposentados e Pensionistas

Fábio da Silva Botelho Carlos Eduardo Palhares Machado Alexandro Mangueira Lima de Assis José Arthur de Vasconcelos Neto
Suplente de Diretor Financeiro Suplente de Diretor de Comunicação Suplente de Diretor de Administração e Patrimônio Suplente de Diretor de Aposentados e Pensionistas

Conselho Fiscal Deliberativo

Willy Hauffe Neto Fabricio Fonseca Theodoro Marco Giovanni Clemente Conde Walvernack Beserra Fábio Caus Sicoli Eduardo Monteiro de Queiroz
Presidente Vice-Presidente Membro-Titular 1º Suplente 2º Suplente 3º Suplente

Preparação
Conselho de painéis com diferentes perfis de manchas de sangue.
de Ética

N
Fernando Fernandes de Lima Carlos Andre Xavier Villela Fabio Vinicius Moura de Carvalho Jose Alysson Dehon Moraes Medeiros Silvio Marcio Santos Nery Andre Fernandes Britto
o curso, foram
Presidente
abordados temas
Vice-Presidente Membro-Titular 1º Suplente 2º Suplente 3º Suplente

gerais do processamento e do-


Diretorias Regionais
cumentação de Locais de Crime,
ACREalém de técnicas para análise de vestígios
MARANHÃO FOZ DO IGUAÇU SÃO PAULO
Diretor Regional - Diogo Otávio Scalia Pereira Diretor Regional - José de Carvalho Azevedo Filho Diretor Regional - Denir Valêncio de Campos Diretor Regional - Ronaldo de Moura Ramos
específicos,
Vice-Diretor - Leandrorelacionados
Bezerra di Barcelosa perfis de man-
Vice-Diretor - Lucian Ricardo Guedes Fidelis Vice-Diretor - Fernando Rosemann Vice-Diretor - Alexandre Bernard Andrea
Diretor Financeiro - Luiz Fernando dos Santos Diretor Financeiro - Gerson Vasconcelos Malagueta Diretor Financeiro - José Ricardo Rocha Silva Diretora Financeira - Roberta G. M. Juliani
cha
E-mail de sangue, impressões digitais
- apcf.ac@apcf.org.br e às
E-mail - apcf.ma@apcf.org.br E-mail - apcf.pr@apcf.org.br E-mail - apcf.sp@apcf.org.br
áreas
ALAGOAS
de medicina legal, balística forense, ARAÇATUBA
- Keyla Wanderley de Cerqueira MATO GROSSO PERNAMBUCO
dentre
Diretora outros.
Regional
Diretor Regional - Lenildo Correia da Silva Junior Diretor Regional - Diogo Laplace Cavalcante da Silva
Diretor Regional - Eustaquio Veras de Oliveira
Vice-Diretor - Mario Sergio Gomes de Faria
Vice-Diretor - Thiago Costantin Sandoval
Vice-Diretor - Diogo Cunha
Segundo o chefe da Área Vice-Diretor
de Perícias
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Diretora Financeira - Edna Aparecida Silveira Diretor Financeiro - Rhassanno Caracciollo Patriota
Diretor Financeiro - Nevil Ramos Verri
E-mail - apcf.al@apcf.org.br E-mail - apcf.sp@apcf.org.br
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AMAPÁ
de- apcf.mt@apcf.org.br
Crimi-
CAMPINAS
nalística, perito criminal federal
MATOCristiano
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GROSSO DO SULEquipe de professores PIAUÍ
e coordenação do curso com trajesDiretor
típicos presenteados
Regional pelos
- Carlos Henrique alunos.
Da Silva Pereira
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AMAZONAS
com as demandas específicas de conteúdo
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almejado pelos profissionais de Guiné Bis-
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sau e seguindo a incidência dos
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E-mail - apcf.am@apcf.org.br Vice-Diretora - Raquel de Souza Lima
Vice-Diretor - Maurício de Souza
tipos de crimes registrados no país.
BAHIA
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to Jesus Velho relatou que o feedback dos
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sores. “Ao final do curso, os alunos presen-
JUAZEIRO Vice-Diretor - Jorge Eduardo de Sousa Aguiar
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Diretor Financeiro - César de Macedo Rego Diretor Regional - Jose Augusto Melonio Filho
Diretor Financeiro - Glycon Sousa Rodrigues Vice-Diretor - Bruno Altoe Duar
tearam toda a equipe com trajes típicos da
Diretor Regional - Marco Antonio Valle Agostini
Vice-Diretor - Lucas Martins Evaldt E-mail - apcf.mg@apcf.org.br
E-mail - apcf.rn@apcf.org.br
Diretor Financeiro - Renato Garrido Leal Martins
cultura local”, afirmou Jesus Velho.
E-mail - apcf.ba@apcf.org.br Bastidores da preparação de Locais de Crimes Simulados.
RIO GRANDE DO SUL
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PARÁ Diretor Regional - Marco Antônio Zatta
CEARÁ Representaram a Perícia Federal como Diretor Regional - Gustavo Pinto Vilar Vice-Diretora - Carina Maria Bello de Carvalho
SANTOS
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Diretor Financeiro - Leonardo da Cunha
professores do curso, os peritos criminais
Vice-Diretor - José Carlos Lacerda de Souza Financeiro - Luis Felipe Monteiro Vieira E-mail - apcf.rs@apcf.org.br
Vice-Diretora - Priscila Dias Sily
Diretor Financeiro - Daniel Paiva Scarparo E-mail - apcf.pa@apcf.org.br E-mail - apcf.sp@apcf.org.br
federais: Clayton Tadeu Mota Damasceno
E-mail - apcf.ce@apcf.org.br
RORAIMA SOROCABA
(ANP), Cristiano de Assis FurtadoPARANÁ
DISTRITO FEDERAL (Apex/INC), Diretor Regional - Jorge Cley De Oliveira Rosa Diretor Regional - Adriano Jorge Martins Corrêa
Diretor Regional - Emerson Santos de Lima Diretor Regional - Marlon Konzen Vice-diretor - Leonardo De Almeida Dias Vice-Diretor - Ulisses Kleber de Oliveira Guimarães
Jesus Antonio Velho (Setec/PA), Vice-Diretor
Karina Alves
Vice-Diretor - Dângelo Victor Gonçalves Silva - Luiz Spricigo Junior Diretor Financeiro - Alexandre Salgado Junqueira Diretor Financeiro - Ricardo Bernhardt
Diretor Financeiro - João Carlos Gonçalves Pereira Diretor Financeiro - Ricardo Andres Reveco Hurtado E-mail - apcf.rr@apcf.org.br E-mail - apcf.sp@apcf.org.br
Costa (Setec/RN) e Rodrigo Travassos
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E-mail - apcf.pr@apcf.org.br
RONDÔNIA
MOD/INC). Integraram ainda a equipe o Di-
ESPÍRITO SANTO Diretor - André Abreu Magalhaes
SERGIPE
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Vice-Diretor - David Gomes Guimaraes
retor da Academia Nacional de Polícia, dele-
Vice-Diretor - Cristiano Martins Pinto Diretor Regional - Devair Aloísio
Diretor Financeiro - Naraiana Ribeiro Santos
Vice-Diretor - André Fernandes Britto
Diretor Financeiro - Cristiano Martins Pinto Vice-Diretor - André Rodrigues Lima Diretor Financeiro - Reinaldo do Couto Passos
gado federal José Rita Martins Lara, o agente
E-mail - apcf.es@apcf.org.br Diretor Financeiro - Eduardo de Olveira Barros
E-mail - apcf.es@apcf.org.br E-mail - apcf.se@apcf.org.br
E-mail - apcf.pr@apcf.org.br
de polícia Flávio Poubel (ANP) e o papilosco-
GOIÁS SANTA CATARINA TOCANTINS
Diretor Regional - Gabriel Renaldo Laureano LONDRINA Diretor Regional - Daniel Pereira de Oliveira Diretor Regional - Eduardo Henrique de Oliveira Mendes
pista Edson José Tavares (GID/MG).
Vice-Diretor - Isleamer Abdel Kader dos Santos Professores e alunos do curso.
Diretor Regional - Eduardo Marafon Vice-Diretor - Eduardo Zacchi Vice-Diretor - Erich Adam Moreira Lima
Diretor Financeiro - Rodrigo Albernaz Bezerra Vice-Diretor - Roberto Maurício Américo do Casala Diretor Financeiro - Antônio Cesar da Silveira Junior Diretor Financeiro - Koichi Ouki
E-mail - apcf.go@apcf.org.br E-mail - apcf.pr@apcf.org.br E-mail - apcf.sc@apcf.org.br E-mail - apcf.to@apcf.org.br

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