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O CASO COLUMBUS
Autor
K. H. SCHEER
Tradução
S. PEREIRA MAGALHÃES
Digitalização e Revisão
ARLINDO_SAN
A Terra coesa contra a invasão dos
seres descendentes de insetos!
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O Major Nako Matsuro se viu no meio dos mais graduados oficiais da Terra. Até o
Marechal Allan D. Mercant se encontrava na central do supercouraçado Drusus. Parecia
que se planejara algo que apenas alguns homens sabiam.
O relatório de Matsuro já havia sido apreciado. Tinha conseguido entrar em contato
com os agentes na base de Hades. Interrogado mais uma vez, o comandante do cruzador
de reconhecimento resumiu em poucas palavras:
— Perfeitamente, Sir. Os dados foram fornecidos integralmente. O Capitão Rous
afirma que os druufs conseguiram criar um funil de descarga artificial. Nosso agente
Ernst Ellert parece estar em sérias dificuldades. Confessou a Rous que está perdendo aos
poucos o poder sobre a mente do cientista druuf Onot. Onot é acusado pelo Conselho de
Ministros de Druufon de culpado pela destruição da grande central calculadora, pelo
menos de ter participado nas ações de sabotagem.
— No que eles têm razão — observou Rhodan, secamente. — Continue, Matsuro!
— É mais ou menos tudo, Sir. Ernst Ellert se esconde agora, aliás, como sempre,
atrás deste Onot. A ligação pelo rádio com o décimo terceiro planeta do sistema
gigantesco não parece fácil para Ellert. Capitão Rous teme complicações.
— E para que serve aquela gigantesca estação espacial perto do sol duplo de
Siamed? — perguntou Mercant.
Matsuro percebeu que o homem que parecia tão indiferente estava tocando no cerne
da questão.
— Esta notícia chegou exatamente na hora em que eu me preparava para a transição.
Por intermédio de Rous, Ellert comunicou que os druufs haviam construído este monstro.
A estação espacial foi montada com a finalidade exclusiva de se obter um funil de
descarga artificial. Rous conseguiu ainda constatar, por meio de medições, que a zona de
ligação começa logo acima desta estação espacial.
Mais não se conseguiu tirar de Matsuro. A bem treinada tripulação do cruzador,
seriamente danificado, foi rebocada por uma nave-socorro da Frota e levada para a base
da Lua. Quando Matsuro lá chegou, foi-lhe dado o comando de uma nave recém-saída
dos estaleiros.
Sete horas após a conversa com Perry Rhodan, o Major Matsuro partia novamente
para um vôo experimental.
***
Estas sete horas se converteram nos momentos decisivos para o plano de defesa do
comando supremo solar. Primeiramente, o cruzador leve Califórnia, sob o comando do já
famoso Coronel Tifflor, atracou perto do rebordo de reforço na fuselagem da Drusus. E
depois, o comandante supremo da gigantesca nave deu certas ordens importantes.
Quando Matsuro partiu para o vôo experimental, quando o Coronel Tifflor chegava
a bordo da nave capitânia, quando o chefe dos mutantes, John Marshall, reunia seu
grupamento em torno de si, e quando cinco mil caças mono piloto se reuniam sob a
proteção dos grupos de cruzadores, que avançavam para um determinado setor de defesa,
apareciam as primeiras belonaves dos druufs, irrompendo de seu esconderijo... o segundo
plano espacial.
O cruzador pesado Cattano, da ala direita do RJV-106, explodiu sob o impacto dos
disparos de quatro grandes unidades dos druufs. O Cattano foi o primeiro cruzador que a
Frota do Império Solar perdeu em combate.
Para surpresa dos pilotos dos jatos, os atacantes fizeram uso de uma arma que
jamais teria sido nociva a uma belonave de maior tamanho. Tratava-se de um lançador de
agulhas térmicas, cujos impulsos super-potentes eram transformados em milhares e
milhares de raios de ataque de poucos milímetros de extensão, por meio de um
desintegrador filtrante de circuitos. Surgia assim uma verdadeira granada atômica com
um enorme raio de divergência e conseqüentemente com grande garantia de acertar o
alvo.
Já para uma nave auxiliar do tipo girino, estes raios finíssimos de muito pouca
energia não trariam perigo. No entanto, conseguiriam prejudicar muito os pequenos jatos
e os destróieres de três tripulantes. As espaçonaves de menor tamanho da Terra que
entrassem em ataque, em sessenta por cento dos casos seriam logo descobertas e atacadas
com este novo tipo de arma.
O Tenente Aluf Tehete voou com suas máquinas para uma destas frentes de
combate. Nem ele, nem nenhum de seus companheiros ainda tinha tido a honra de
derrubar algum aparelho inimigo. Os doze aparelhos do grupo de caça 586 foram todos
destruídos pelo fogo da frota dos druufs, que avançava com um número de naves nunca
visto antes.
Poucos segundos antes da desgraça, o cruzador pesado Osage ainda conseguiu
escapar da frente arrasadora dos druufs, graças à ousadia de seu comandante. Os
impactos vibratórios destinados a ele resvalavam em seu bojo e se perdiam no espaço.
Duas horas depois do ataque maciço, aliás, após o primeiro embate, a situação já
estava mais ou menos clara. Tomaram parte neste ataque cerca de cinco mil unidades dos
druufs, mas do funil de descarga brotavam ininterruptamente centenas e centenas de
outras naves. Após três horas de combate, Perry Rhodan sabia que, com suas forças em
visível inferioridade numérica, não poderia salvar a Terra. Estava iminente um fracasso
total. As primeiras naves druufs já achavam-se atacando a base de Plutão, cujo fogo
antiaéreo, a princípio, parecia suficiente para afastar os invasores. Mas o planeta não ia
resistir por muito tempo a este ataque maciço.
À crua realidade destes fatos, advinha ainda a seguinte pergunta cruel: Será que os
druufs não iriam conseguir abrir um outro funil de descarga? Caso isto acontecesse, não
se podia mais nem pensar em defesa...
O Coronel Poskanow anunciou a perda de onze cruzadores de seu grupo de caças
espaciais. Os caças e os destróieres de três tripulantes, catapultados dos grandes
couraçados, não podiam mais retornar à nave-mãe durante os combates que se davam no
momento da fuga.
Foi assim que os pilotos receberam a instrução de tentarem romper o cerco cada vez
mais fechado dos druufs, para ver se conseguiam chegar até o setor, onde estava a frota
sob o comando direto de Rhodan.
Terminada a missão de vigiar os postos mais avançados no espaço, reduziu-se o
trecho a ser defendido. Quanto mais se aproximavam do Sol, que era o centro de todo o
sistema, tanto mais se encurtava o teatro de operações bélicas.
Rhodan antevia assim melhores possibilidades de defesa. Seus poucos
supercouraçados podiam se concentrar melhor e mais rapidamente chegar aos pontos de
maior urgência.
Cinco horas após o início da invasão dos druufs, os gigantes terranos entraram em
ação pela primeira vez. Eram os supercouraçados de 1.500 metros de diâmetro Hannibal,
General Pounder, Barbarossa, Wellington e Alexander, que, depois de uma curta
transição, apareceram no meio da enorme confusão para abrir fogo imediatamente.
Somente a Titan, já um tanto envelhecida, e a Drusus ficaram para trás para proteger
a retaguarda. Em tempo algum de sua vida, os druufs experimentaram desgraça tão
grande. Já conheciam estes gigantes do tipo Império, de outras refregas, mas tão-somente
como supernaves robotizadas do Império Arcônida.
Agora a situação era outra. Atrás dos canhões das supernaves terranas estavam
homens de alta qualificação técnica, que, além de tudo, sabiam por que estavam
arriscando sua vida.
Somente o novo couraçado Wellington, no curto espaço de oito minutos, conseguiu
fazer vinte e sete disparos, sem ser atingido seriamente. Seu poderoso envoltório de
proteção resistia a tudo que os druufs podiam fazer.
Os outros supercouraçados também não tiveram muito trabalho com os invasores e
puderam olhar a situação com mais calma. A ponta de lança do ataque druuf estava
dominada. Porém, uma hora mais tarde, eles se reorganizaram novamente.
Mais ou menos nesta hora, o General Deringhouse chamou a nave capitânia. Seu
rosto comprido, denotando grande cansaço, apareceu na grande tela da nave de Rhodan.
Este se postou diante do vídeo.
— Sir, conforme meus cálculos, dentro de trinta minutos Plutão vai cair nas mãos do
inimigo. Não posso mais me arriscar em deixar as grandes espaçonaves na linha de
frente. Os druufs estão começando a atacar todas as naves maiores com um fogo
concentrado de mais de cinqüenta aparelhos. Nossa maior agilidade de manobra nos
livrou até agora do pior. Sir, que pretende fazer?
Rhodan simplesmente deu ordem de retirada. Plutão seria evacuado e as instalações
de defesa, entregues aos robôs. As esquadrilhas mais avançadas recuaram até a órbita de
Saturno, onde se reuniram, formando novos grupos.
Rhodan esperou até que chegassem os boletins das últimas perdas. Quando os
números foram conhecidos, olhando para os oficiais do estado-maior, sentenciou:
— Meus senhores, o ponto crítico chegou. Se tivéssemos mais algumas naves, não
precisaríamos pedir o auxílio de Atlan. Os senhores farão alguma objeção em chamarmos
nosso amigo Atlan?
— Eu já teria feito isto há mais de vinte e quatro horas — disse Reginald Bell, com
calma. — Nossas perdas são horrorosas. O fato de já termos abatido mais de duas mil
naves dos druufs, não nos vai ajudar muito, no balanço geral. Ninguém tem objeções a
fazer.
Sem dizer uma palavra, Rhodan voltou para a central de comando. Foi o momento
mais importante na história da raça humana. Perry Rhodan, primeiro administrador do
Império Solar, resolvera abrir mão do segredo da localização da Terra, mantido até então
com tanta firmeza e prudência.
A ligação por hipercomunicador, preparada já há muito tempo, se fez em menos de
quatro minutos. Podia-se ver claramente o rosto de Atlan. A enorme distância de 34 mil
anos-luz não representava nada para as freqüências do hiper-rádio.
— Já chegou a este ponto? — perguntou o arcônida sério. — Estou acompanhando
o ataque há algumas horas. Cinco cruzadores robotizados estão nas redondezas de
Capela. Você quer meu auxílio? Em caso afirmativo, não se esqueça de que não poderei
manter por muito tempo o que lhe prometi.
— Peço o apoio do Grande Império — respondeu Rhodan, gaguejando um pouco.
— Atlan, estamos sendo atacados por cerca de oito mil naves dos druufs. Acho que ainda
consigo manter a resistência por mais vinte e quatro horas. Depois disso, atacarão a Terra
e Vênus através de Marte.
— Todas as ligações já estão preparadas. Tenho a impressão de que estes insetos
monstruosos vão fazer tudo para deter as forças arcônidas na zona de descarga. Vou lhe
mandar tudo que não me for indispensável. Daqui a dez ou doze horas, a frota chegará aí.
Estão ainda em vigor as nossas velhas senhas de reconhecimento?
— Sem exceção. Vou avisar os comandantes terranos. Os sinalizadores de impulso
receberão logo a programação combinada.
Depois que o arcônida desligou, Rhodan ainda ficou longo tempo diante da tela.
Acreditou que estava recebendo nas costas os olhares de todos os seus oficiais superiores.
— Caso você nos pergunte se o consideramos um traidor, vou ficar realmente
zangado — disse alguém.
Rhodan virou-se para trás. Reginald Bell o encarava. Os olhares dos dois homens se
encontraram, até que Rhodan disse em voz baixa:
— Não... não vou perguntar. Santo Deus, como tudo isto foi tão simples. Com um
simples radiograma, a gente destrói tudo que se construiu em setenta anos. Daqui em
diante, a Terra estará aberta, franqueada para amigos e inimigos. Vai começar uma nova
época.
— Eu me alegro com isto, Sir — disse o Marechal Freyt. — Nós não poderíamos
nos esconder mais por muito tempo.
6
Allan D. Mercant havia iniciado a reunião às 13:30, hora padrão, no grande salão da
tripulação do cruzador Califórnia. Estavam presentes todos os membros da tripulação da
nave e os especialistas do exército de mutantes. Perry Rhodan não se achava ali. Tinha
outros assuntos importantes para resolver. Os preparativos para a ação dos mutantes era
um assunto exclusivo do setor geral da defesa.
No sistema solar, estrugia a mais dura das batalhas. A Humanidade fora obrigada a
pegar em armas. Além do sistema solar, reinava calma na imensidão do espaço.
Mercant foi sucinto:
— Os acontecimentos provam que os senhores e as senhoras, apesar de seus dons
sobrenaturais, não têm o poder de se opor aos invasores. Isto é uma guerra, ou melhor,
uma batalha aberta, que, realmente, não tem nada a ver com as suas atividades de agentes
de forças paranormais. Entre os senhores, apenas os três teleportadores teriam uma
possibilidade limitada de destruir naves inimigas, transportando explosivos nucleares.
Gucky já experimentou atacar desta maneira. Foi bem-sucedido em dois casos. Na sua
terceira teleportação, errou o alvo móvel e quase foi morto.
— O druuf decolou, exatamente quando eu estava me concentrando — ouviu-se
alguém dizer, em tom de voz fina, nos fundos da sala.
Podia-se ver a figura pequena do rato-castor.
— Eu pulei para fora, exatamente para fora, coisa que nunca me aconteceu.
— E isto vai acontecer muitas vezes. Numa aglomeração de tantos milhares de
espaçonaves assim, de todos os tipos, a intervenção dos mutantes se torna irracional, pelo
menos desta forma. Permaneçam, portanto, no campo de ação que lhes é peculiar e
deixem a batalha apenas para as espaçonaves.
Mercant interrompeu seu discurso e cumprimentou o administrador do Império
Solar, que estava entrando naquele momento. Rhodan agradeceu rapidamente. Sobre sua
cabeça, pairou Harno, o singular ente esférico.
— Já está pronto, Marshall, confia no nosso plano?
A figura imponente de Marshall se destacou dos corpos que estavam agrupados
rente à parede.
— Tudo em ordem, Sir. Estamos experimentando. Sei que telepatas e pessoas de
meu tipo não podem fazer muita coisa numa batalha aberta.
— Isto já foi dito, há anos, por um homem sábio e experimentado — disse Rhodan.
— Seu nome é Atlan. Para sua informação: pedi o auxílio dele. Vai nos enviar todas as
naves de que não estiver precisando no momento. Apesar disso, temos que tentar tudo. A
Drusus vai partir daqui a alguns minutos para fora da frente de batalha e o Major Tifflor a
acompanhará com a Califórnia. Vou mandar instalar para você um dispositivo de lentes,
através do qual possa enxergar, perfeitamente, o Universo dos druufs. Aproveite o grande
poder de aceleração do cruzador. Entre em contato com a base de Hades. Gucky pode
tentar encontrar Ernst Ellert. Parece que ele está em dificuldades. Penetre no sistema de
Siamed e passe a averiguar se realmente existe a estação espacial anunciada por Rous. Se
esta instalação corresponde de lato a uma usina voadora para construção dos funis de
descarga artificiais. A seguir, faça o que achar melhor.
“Tifflor e você, Marshall, trabalharão juntos. Tifflor controlará a nave Califórnia e
Marshall colocará os mutantes preparados para atuarem. Mas, de qualquer maneira, você
deverá tentar destruir esta estação espacial. Terá muitas oportunidades, pois um
empreendimento deste tipo é um ótimo campo de ação para suas forças mentais. Agora,
uma coisa: de mim vocês não podem esperar socorro. Ficarei demasiadamente ocupado
por aqui. Estejam bem compenetrados de que vão estar entregues às suas próprias forças.
Também não lhes posso prometer auxílio por intermédio dos transmissores fictícios.
Todos os instrumentos existentes nos supercouraçados estão sendo usados para
salvamento urgente dos feridos e acidentados. Os tripulantes das naves atingidas estão
sendo levados para outras unidades com o auxílio dos transmissores fictícios.
“Vocês estão vendo como nossa situação é difícil. Não quero ainda usar a expressão
‘desesperadora’, mas pode ser que, em futuro próximo, tenhamos que usá-la.”
Depois de pequena pausa, Rhodan continuou:
— Nós todos somos homens, temos uma pátria comum, a nossa Terra. Gucky e
Harno pertencem ao nosso meio. Não consideramos como monstros outras inteligências
que existam no espaço, se forem justas e honestas. Ninguém é responsável por seus
aspectos exteriores.
— Muito obrigado, pelo que me toca — disse Gucky lá dos fundos.
Seu dente roedor estava à vista.
— Não estava me referindo a você — disse Rhodan sorrindo.
E este sorriso quebrou um pouco a tensão expressa no rosto dos homens que o
ouviam. Era como se Rhodan tivesse rompido uma barreira.
— Os senhores precisam saber que a empreitada é dura. Se tudo correr bem, os
senhores irão separar a base de suprimento dos druufs de sua frota que está em combate.
Isto será meia vitória. Naturalmente ainda continuaria o problema de liquidarmos com o
restante dos aparelhos inimigos. Este problema não diz respeito aos senhores, mas sim a
nós, aqui no nosso Universo. Procurem a todo custo destruir esta estação espacial. Guerra
é guerra. Se forem obrigados a atacar com armas atômicas, lembrem-se de que estamos
defendendo a Humanidade. Não deixará de ser uma legítima defesa. Bem... é tudo que
pretendia dizer. Resta ainda alguma dúvida?
Rhodan olhou para o relógio. Marshall ainda se informou sobre a extensão da
missão de Harno, televisor vivo.
— Harno fica aqui — resolveu Rhodan. — Vou precisar de seus dons com urgência,
para poder regular corretamente o transmissor fictício da Drusus. Quero atacar com ele as
naves mais importantes dos druufs.
Logo em seguida, o chefe do Império Solar voltou para a nave capitânia, em cujo
flanco estava ancorada a Califórnia, que media apenas 100 metros de comprimento.
O cruzador se desprendeu de suas travas magnéticas, decolou e pouco depois entrou
em transição. Era a única nave do Império Solar que ainda dispunha de uma estação
especial a bordo para instalação do campo óptico.
Atrás dela, desapareceu também no hiperespaço a Califórnia. Ambas se
rematerializaram, depois de um longo salto, nas proximidades da frente de bloqueio, que
distava mais ou menos 6.300 dias-luz da Terra.
A duas horas-luz da tal frente, estavam lutando as grandes esquadrilhas da frota
arcônida com os druufs que irrompiam do funil de descarga. Era evidente que os seres
estranhos faziam de tudo para se aproximar das unidades arcônidas. Além disso, se
notava facilmente que esquadrilhas inteiras estavam se afastando da frente de combate.
Assim, Rhodan se convenceu de que Atlan estava cumprindo sua palavra, isto é, dando
ordens de que estas esquadrilhas voassem para o sistema solar.
Mas ninguém sabia que ele, Atlan, estava atrás do cérebro robotizado. Suas ordens
eram transmitidas na freqüência conhecida do grande cérebro, motivo pelo qual eram
obedecidas imediatamente.
A Califórnia estava apenas a cem quilômetros atrás da Drusus que freava com toda
força. Tifflor iniciou também as manobras de frenagem. Quando a nave capitânia parou,
ele desviou cauteloso a Califórnia. Rhodan apareceu na tela do vídeo de telecomunicação.
— Bom trabalho. Chegamos bem. Se você penetrar por este lado, deverá sair perto
do sistema Siamed. Em todas as suas operações, não se esqueça de que os pontos de
referência do espaço de cinco dimensões não são idênticos aos do de quarto. Não se
admire, portanto, quando você descobrir a mencionada estação espacial do planeta
Druufon, embora o funil de descarga produzido por ela esteja a cerca de seis mil e
trezentos anos-luz de distância, bem rente da Terra. Trata-se de um processo de ligação,
para o qual a separação espacial nada representa. Aqui estão as últimas instruções:
“Se vocês forem bem-sucedidos, nós o saberemos pelo desaparecimento repentino
do funil. Neste caso, virei com a Drusus até este setor do espaço, instalo aí um campo
refletor e os apanho. Se o ataque de vocês fracassar, ou se a suposta existência desta
estação energética voadora se baseia num erro, vocês voarão para Hades e lá aguardarão
novas instruções. Tentarei, neste caso, tirá-los de Hades através de uma nave com
transmissor fictício. Está tudo claro? Então, mãos à obra.
***
Julian Tifflor sentiu umas agulhadas dolorosas na região dos rins, quando, bem rente
de seu cruzador, se desenhou aquele fenômeno luminoso, causado pela aproximação da
Drusus.
Lembrou-se, neste momento, de sua primeira missão, realizada em obediência a uma
ordem de Rhodan. Tratava-se, naquela época, de enganar os comerciantes das Galáxias.
Julian Tifflor estava se recordando. Naquele tempo, ele era ainda bem jovem. Um rapaz
que, para perplexidade de seus colegas, foi arrancado dos bancos da Academia, em plena
época de provas finais. Um cirurgião terrano lhe implantara no corpo um pequeno
aparelho. Tratava-se de um sinalizador orgânico, que servia para localizá-lo onde quer
que estivesse. Este micro aparelho estava implantado em sua cavidade renal...
No momento, a situação era esta: bem próximo da Califórnia, formou-se um campo
de transição, de onde partiam os diferentes influxos energéticos dos dois tipos de espaço.
Um círculo luminoso de apenas trezentos metros de diâmetro surgiu no meio do espaço
sombrio. O que havia por trás dele, não se podia explicar com poucas palavras.
O rosto de Tifflor, que se mantinha admiravelmente jovem, mostrava traços de
preocupação. Acabaram-se os sonhos e recordações da juventude. Só um pensamento
podia haver em sua cabeça neste instante: a sobrevivência da Terra.
John Marshall, um dos primeiros elementos do Exército de Mutantes, estava de pé,
atrás dele. Tifflor fitou aqueles olhos, cuja expressão não permitia nenhuma conclusão
sobre os sentimentos de Marshall. Quase a contragosto, disse o comandante:
— John, temos de nos desejar boa sorte. Estava há pouco pensando nos bons velhos
tempos.
— Eu também, Tiff — respondeu Marshall em voz baixa. — Você sabe que nós já
devíamos estar mortos há muito tempo? Recebemos a ducha celular renovadora do
planeta Peregrino e nosso processo natural de envelhecimento foi suspenso
temporariamente. Tiff, em certo sentido, esta poderá ser nossa última missão.
— Autorização para decolar — soou a voz de Rhodan nos alto-falantes. — Vamos, o
que estão esperando? Não percam tempo.
Julian Tifflor deu as ordens necessárias. Com os motores de propulsão funcionando
com pouco ruído, o mais moderno cruzador da Terra deslizou em direção ao círculo
luminoso. Pequenas correções o colocaram exatamente no centro do campo. Trinta mil
metros antes, Tifflor passou para velocidade mais elevada. O fogo-fátuo ficou mais
visível e depois desapareceu. Uma dor breve, mas penetrante se fez sentir em toda a
tripulação. A comunicação de rádio com a Drusus cessou repentinamente. As últimas
palavras de Rhodan não foram mais ouvidas.
— Manobra terminada, Sir — soou a voz do segundo-oficial. — Já atravessamos.
Tifflor se dirigiu para as telas. O que elas mostravam não era outra coisa que o
monótono e sombrio Universo dos druufs, onde todas as colorações se fundiam num
avermelhado forte. Era o quadro de sempre. Quantas vezes Tifflor já havia visto isto!
Os instrumentos de rastreamento da Califórnia começaram a trabalhar. A uma
distância de pouco mais de dois anos-luz, constatou-se intenso movimento de
espaçonaves. Simultaneamente, veio a comunicação de que o duplo sol captado pelo
rastreador de matéria era idêntico ao do sistema Siamed.
O gigantesco sol tinha um companheiro de brilho esverdeado. Já que não era coisa
rara encontrar-se um sol duplo rodeado de planetas, ninguém se mostrou preocupado.
Mas a situação se alterou, quando se constatou a multiplicidade de órbitas dos 62
planetas. Uns giravam apenas em torno do sol maior, outros davam volta em torno dos
dois sóis e um terceiro grupo serpenteava em órbitas aparentemente contraditórias, por
entre os fortes campos de gravitação dos dois sóis.
O sistema Siamed foi sempre um pesadelo para Julian Tifflor. Nada aqui parecia
normal, era tudo imprevisível. Acrescia a tudo isto a grande variação de tempo do
sistema, de cujas dimensões não se sabia muita coisa. A cosmonáutica dos terranos se
contentara em estudar mais seriamente apenas o sistema pátrio dos druufs. O que se
passava nos planetas dos diversos sóis estava além dos conhecimentos de Tifflor. Para ele
parecia suficiente saber de que maneira se entrava neste quase inferno.
A Califórnia estava parada no espaço.
— Desapareceu o campo de refração — disse o “goniômetro” Tanaka Seiko, através
do rádio.
Tifflor passou a mão pelos cabelos. Seu rosto jovem, de barba feita, parecia
indeciso. Olhou em volta, meio desajeitado.
— Mas é isto mesmo. Tínhamos que contar com isto. Certamente a presença da
Drusus se tornou necessária na frente de combate. Marshall, o que você propõe agora?
Infelizmente não nos foi possível receber instruções mais detalhadas.
Marshall se aproximou mais das telas do vídeo. A galeria das diversas telas, de
ordinário repletas do argênteo cintilar de grandes estrelas, tinha agora um aspecto
sombrio, deprimente.
Os rastreadores estruturais do cruzador mantinham o ruído de sempre. A uma
distância de apenas dois anos-luz, havia grandes levas de espaçonaves que tentavam
penetrar num funil de descarga formado pela própria natureza ou imergir na estreita
garganta energética.
O número tão grande de naves desenvolvia um volume tal de energia que as
freqüências próprias, já existentes no funil de descarga, recebiam uma sobrecarga grande
demais. Marshall se dirigiu mais vezes à central de rastreamento, mas ninguém lhe
conseguiu dar maiores explicações.
Uma coisa, porém, estava certa: o cálculo de Rhodan fora exato. Estavam bem
próximos do sistema pátrio dos druufs, onde devia estar localizada a misteriosa estação
espacial.
Não se conseguia ainda encontrá-la. As distâncias eram demasiadamente grandes, o
número fantástico de planetas os confundia muito e os motores de propulsão das
inúmeras naves, que funcionavam a todo vapor, ainda contribuíam para fazer desaparecer
os poucos vestígios do mundo druuf.
John Marshall surpreendeu-se pronunciando uma terrível imprecação que deixou a
mutante Betty Toufry horrorizada.
— John!... — disse ela com ar de repreensão.
O rato-castor caiu numa risada estridente. Parecia ser o único completamente calmo
a bordo.
Aparentemente enfastiado da longa espera, o pequeno animal começou a andar pela
central. Depois esticou as patas dianteiras e se apoiou na larga cauda de castor, com todo
conforto.
— Ah!... se eu não existisse... — declarou cheio de si.
— Medroso — disse o mutante de duas cabeças Goratchim. Ivan, o mais velho,
sorriu feliz.
O focinho pontiagudo de Gucky se contraiu numa expressão de desprezo. Suas
orelhas viraram para a direção do gigante de dois metros e meio.
— Ninguém está falando com vocês. E tem mais: cheguei à conclusão de que...
— Como? — interrompeu Marshall. — Você chegou à conclusão de que nós não
temos outra opção a não ser pular para o interior do sistema, não é?
— Exatamente — confirmou Gucky. — O que vocês pretendem fazer? Estamos
aqui completamente isolados. Em Hades não há nenhum telepata, e eu não acho
conveniente usar um hiper-rádio. Ernst Ellert é um bom telepata, mas me parece que está
demasiadamente ocupado com este cientista druuf. Venho observando há tempo como
Onot tenta escapar da influência mental de Ellert. Assim sendo, não há outro jeito, a não
ser...
— A não ser o quê? — acudiu novamente Marshall.
— Não gosto muito de ser interrompido a cada instante. Isto é falta de respeito.
Posso falar ou não?
Marshall resignado fez um sinal afirmativo. Tifflor sentou-se pacientemente na
primeira cadeira.
— Então vamos lá — disse Gucky mais tranqüilo. — Sugiro penetrarmos pelo
menos dez horas-luz. Desta distância poderei entrar em contato com Ellert, com toda
certeza. Se for necessário, John, Betty, Ishy Matsu e eu teremos que formar um bloco ou
uma corrente mental para atingirmos de fato Ellert. Ele haverá de saber onde devemos
procurar esta estação espacial. Talvez não precisemos enviar um radiograma ao Capitão
Rous. Ele se encontra agora no décimo terceiro planeta. Quando a usina voadora explodir,
ele logo saberá que fomos nós os autores da façanha. O que os senhores dizem do meu
plano?
Marshall, muito pensativo, continuou limpando as unhas.
— Hum...! — pigarreou evasivamente a mutante telepata Ishy Matsu.
John Marshall enfiou as mãos nos bolsos da calça. Seu olhar procurou o comandante
da Califórnia.
— Tiff, que diz você de tudo isto? Tem o nosso amigo de fato uma boa idéia, ou
você possui outros planos?
— Não vejo caminho melhor do que este. Haveria outras possibilidades, mas muito
complicadas e perigosas. Vamos arriscar. Tenho que encontrar o início do funil de
descarga, independente do fato de ele se achar num planeta ou numa estação espacial. Só
desejo uma coisa, é que nossos agentes não tenham se enganado. E se a garganta de
transição for de origem natural, podemos voltar satisfeitos.
O semblante de Marshall se anuviou. Tifflor não gostou quando percebeu o olhar
sério do telepata.
— Não, não podemos... — opôs-se o chefe dos mutantes. — Pelo que Atlan contava
sobre a submersão da Atlântida, sabemos que ele conseguiu, naquela época, fazer
desmoronar semelhantes formações energéticas por meio de fogo cerrado de mecanismos
de impulsos reativados. Possivelmente, vamos nos orientar por estes dados e aproveitar a
experiência dos velhos arcônidas, ou melhor, fazer o que seus cosmonautas fizeram já há
milênios. Está certo? Vamos embora?
Tifflor se levantou. Tinha compreendido tudo muito bem. John Marshall estava
firme na sua resolução de terminar com o estranho fenômeno, de um modo ou de outro.
Os mutantes voltaram à sala, pois não tinham nada a ver com o comando da nave.
Meia hora mais tarde, já estavam prontos os cálculos para a transição. Tifflor os
conferiu três vezes, para que houvesse absoluta segurança nos dados mais complicados.
Conforme os cálculos, a Califórnia haveria de chegar ao ponto do hiperespaço, que
equivalia para os druufs ao que é para nós o espaço de Einstein. Já este fato bastaria para
provar, logo que penetrassem no segundo plano temporal, que a nave estava no local
certo.
— Transição cerca de seis minutos após a partida — comunicou Tifflor através dos
alto-falantes. — Colocar os trajes espaciais. Os mutantes, que sairão em missão, devem
usar os uniformes arcônidas de combate. Pode ser que os teleportadores tenham de saltar
antes do tempo combinado. Não gostaria de perder uma excelente oportunidade por mero
descuido. Marshall, por favor, apanhe com o oficial do almoxarife as microbombas já
preparadas, distribuindo-as com seu pessoal. O negócio tem de ser bem feito.
Havia um novo surto de vida dentro do pequeno cruzador. Com os motores
funcionando em plena carga, foi dada a partida. Os cento e cinqüenta tripulantes já
estavam familiarizados com o grande abalo nervoso, que então se iniciava. Fazia-se até o
impossível para que todas as mensagens fossem rápidas e claras.
Os dispositivos de absorção de pressão amorteciam as alucinantes forças da inércia,
provenientes da súbita aceleração.
Ninguém a bordo notou que a Califórnia varava o estranho universo druuf a mil
quilômetros por segundo. Para Julian Tifflor, as qualidades daquela pequena nave eram
excelentes. Embora, do ponto de vista de armamentos, a Terra fosse inferior a Druufon,
os descendentes de inseto não podiam apresentar um aparelho que se comparasse à
Califórnia, principalmente no tocante aos grandes valores de aceleração. Além disso, os
aparelhos dos druufs, exatamente devido à grande diversidade de planos de tempo,
conseguiam no máximo atingir a metade da velocidade da luz.
A situação, porém, se alterava assim que passavam para a transição linear. Aí,
novamente, eram superiores às construções terranas.
Depois de alguns minutos, a carcaça do cruzador começou a vibrar intensamente. Os
motores de propulsão já estavam funcionando com injeção extra de combustível, para que
a velocidade fosse mantida nos valores previstos. Dez segundos antes da transição, Tifflor
ligou as telas da instalação do intercomunicador.
— Vamos saltar. Está tudo em ordem com você, John?
— Certo, está tudo bem. Boa sorte! Veio então a dor da desmaterialização,
penetrando até na medula dos ossos. Já deviam estar acostumados, no entanto cada salto
parecia ser o primeiro, uma verdadeira tortura...
A nave Califórnia desapareceu do plano normal dos druufs. Não houve a onda de
abalos, devido ao fato de estarem ligados os aparelhos de absorção estrutural.
Surgia assim a possibilidade de emergirem inesperadamente diante do sistema de
Siamed.
7
***
A permanência num local situado a dez horas-luz fora do sistema de Siamed foi
muito curta. O Coronel Tifflor já estava preparando a próxima transição, depois de ter
constatado que não tinham sido localizados pelos druufs.
Enquanto isto, o intenso movimento de naves, que reinava no espaço dos 62
planetas, veio favorecer à Califórnia. Devia ser praticamente impossível para as bases
localizadas nos planetas distinguirem o relativamente pequeno cruzador terrano, entre a
multidão de seus próprios aparelhos.
Ainda não tinham encontrado o funil. Mas depois de uma procura febril, um dos
cientistas da equipe chegou ao pensamento certo.
Estava mais do que evidente: uma sondagem por via energética era totalmente
desaconselhada, devido aos efeitos de sobreposição. Um reconhecimento por via óptica
também seria falho, devido às enormes dimensões de um tal funil. Quando se estava
perguntando se já estavam no local certo, um dos físicos disse, depois de uma tremenda
imprecação:
— Há quanto tempo existe este funil? Só há poucos dias? E qual é a velocidade da
luz no espaço dos druufs? Mais ou menos cento e cinqüenta mil quilômetros por
segundo? Então não se admirem se ainda não pudemos ver o fenômeno. A luz não chegou
aqui ainda, meus senhores. Voemos um pouco mais, e ela aparecerá.
Foi este o motivo que levou Tifflor a fazer uma segunda transição.
Agora, depois do segundo salto, estava tudo claro. As grandes telas panorâmicas não
conseguiam captar o fenômeno luminoso em toda sua grandeza. Tifflor calculou sua
altura em dez bilhões de quilômetros. A boca do funil poderia ter, na parte de transição
onde se torna quase invisível, aproximadamente vinte milhões de quilômetros em
diâmetro.
Eram espaços enormes, que, no entanto, para os parâmetros astronômicos, eram
pequenos e de pouca significação. De qualquer maneira, o diâmetro era suficiente para
permitir a uma frota inteira a livre entrada no espaço de Einstein.
Os instrumentos de rastreamento da Califórnia trabalhavam sem cessar. Tinha-se
chegado ao décimo quinto planeta, vindo do plano superior. O décimo sexto planeta, a
pátria dos druufs, distava ainda duzentos e cinqüenta milhões de quilômetros. Nas telas
de ampliação de rastreamento, mais veloz que a luz, já brilhava o número dezesseis —
chamado de Druufon — do tamanho de um punho cerrado.
Bem perto de Druufon, começava, em forma de um tubo enorme, a extremidade do
funil de descarga, que estava sendo a causa da desgraça do sistema solar.
Tifflor supunha naturalmente que este conjunto artificial repousasse também numa
base artificial. Da anunciada estação espacial, não se sabia nada ainda. Tifflor estava
pensando em chamar a base de Hades e pedir informações.
Isto era, porém, muito perigoso. Portanto, acabou desistindo. Um radiograma podia
ser uma verdadeira traição, mais comprometedor do que o aparecimento do próprio
cruzador terrano.
Um rugido tonitruante das turbinas superpotentes fez estremecer todo o bojo do
cruzador. Ainda estavam nas manobras de frenagem. A seguir, tentariam, com a nave
parada, colher melhores dados sobre a localização do fenômeno luminoso.
Além disso, era fato notório de que um corpo parado tinha muito mais peso de um
objeto a grande velocidade. Temia não poder levantar vôo mais uma vez. Três minutos
depois, a Califórnia parou completamente.
Com a nave pairando no espaço, os técnicos rastreadores começaram de novo a
procurar a estação espacial. Os ecos registrados, porém, provinham de naves dos druufs
que decolavam ou aterrissavam. Parecia mesmo que o décimo sexto planeta era a grande
base da frota. Quanto mais se aproximavam da fonte de interferência, mais confusas se
tornavam as medições.
— Continue tentando — disse Tifflor. — Enquanto permanecermos incógnitos, o
tempo perdido não tem importância. Agora, como anda a situação na Terra, nem é bom
pensar.
O comandante queria logo depois chamar John Marshall. Deixou de fazê-lo porque
Goratchim lhe disse que Marshall estava ocupado. O comandante se contentou então em
observar a cena tão singular através das telas do vídeo.
Os membros do corpo de mutantes, com poderes telepáticos, estavam todos de pé de
mãos dadas. Eram Gucky, John Marshall, Betty Toufry e Ishy Matsu. Seus rostos
pareciam vazios e os olhos arregalados não tinham nenhuma expressão.
Fora deles, não havia ninguém por perto. Uma corrente de vontades, formada por
telepatas tão competentes, não podia ser perturbada por nenhum ruído.
A única coisa a mover-se eram as tele-câmaras de captação óptica, que aliás não
faziam o menor ruído.
Marshall fazia o papel de porta-voz do conjunto de vontades. Os outros três
mutantes simplesmente lhe colocavam à disposição suas forças individuais através do
contato manual. Forças estas que Marshall podia aplicar tanto para sua própria irradiação,
como também para ampliação dos impulsos recebidos.
Somente depois de dez minutos da mais intensa concentração, conseguiram o
contato desejado.
A distância não lhes causou propriamente nenhuma dificuldade. Mas pelo fato de
que Ellert, que por uma rara fatalidade, tinha se apossado da personalidade do cientista
Onot, tivesse levado tanto tempo para responder aos insistentes apelos dos mutantes, já se
podia perceber que ele se achava em grandes dificuldades. Marshall teve que transmitir
muitas e muitas vezes os impulsos combinados, até conseguir se comunicar.
O subconsciente de John Marshall captou uma voz fraca:
— Quem chama? É John?
— Você está em apuros, nós o sentimos. Formamos uma corrente. Podemos ajudá-
lo?
— Não. Consegui a muito custo dominar o espírito de Onot que se revoltou. Vocês
vieram por causa do funil?
Marshall confirmou. Ele e os outros mutantes tiveram que fazer o maior esforço
para ampliar os impulsos de Ellert, debilitados por sua extrema fraqueza.
— Estamos à procura da estação espacial, Ellert.
— Ela gira em torno de Druufon a uma distância de três milhões de quilômetros.
Vocês devem destruí-la. Os maiores cientistas de Druufon estão dentro dela. Tudo de
importante se encontra nessa estação. Essa estação é a responsável pelo funil. O
aparelhamento necessário para criar o tal funil foi construído de acordo com as
descobertas do cientista Onot no seu novo compactador do tempo. Essa estação foi a
primeira feita pelos druufs. Se for destruída, e com ela também os responsáveis pela sua
montagem, não haverá mais possibilidade de os druufs reconstruírem uma outra
plataforma espacial. Onot está praticamente numa prisão preventiva. Ele e eu estamos
no planeta. Ataquem o quanto antes, do contrário será tarde.
A seguir, a comunicação foi interrompida. Por mais que Marshall chamasse, Ellert
não respondia.
Tifflor estava numa grande excitação. Ao desaparecer a rigidez da expressão dos
mutantes, o coronel perguntou afobado:
— Que aconteceu? Que foi que ele disse? Por favor, digam alguma coisa, podemos
ser descobertos a qualquer momento.
— A estação espacial está girando em volta de Druufon, a uma distância de três
milhões de quilômetros. Por isto é que ela não pode ser localizada. O gigantesco planeta
encobre tudo. Ellert parou de falar de repente. Receio que ele não esteja bem.
Deveríamos tentar auxiliá-lo...
— Não!
Marshall estranhou o tom duro do “não” de Tifflor. Quando olhou para cima e
examinou a tela, sua fisionomia se transformara. Era um Coronel Tifflor diferente, aquele
homem de aço, pronto para qualquer sacrifício.
— O salvamento de Ellert será uma incumbência para outra expedição. Não estamos
nem preparados para isto, nem temos o tempo necessário. John, vamos fazer mais uma
transição. Preparem-se. Acho que não temos mais um minuto a perder. Venha com os três
telepatas para a central de comando.
Julian Tifflor tentou abrandar suas duras palavras. Notou que tinha sido um pouco
ríspido. Aquele “não” ainda lhe estava queimando na boca. Levado pelo remorso, olhou
calmo em volta. Mas ninguém demonstrava qualquer sinal de reação.
Enquanto se faziam os cálculos para a curta transição, apareceram Marshall, o rato-
castor Gucky, Tako Kakuta e o negro Ras Tschubai. Com exceção de Marshall, todos
eram teleportadores. Todos vestiam trajes espaciais de combate de fabricação arcônida,
cujo envoltório de proteção individual dispensava a pesada couraça. Traziam a tiracolo
um objeto preto brilhante, do tamanho de uma bola de futebol. Ali estava uma terrível
arma de destruição.
Três minutos antes da preparada transição, a Califórnia foi descoberta, apesar do
envoltório protetor. Do posto de radiotelegrafia, o sentinela chamou:
— Tenente Instedt, Sir. Acabamos de registrar hiperimpulsos, com volume sete. São
três reflexos diferentes, agora já cinco. Acho que nos descobriram.
— Ecos de ondas de choque, em amplitude rasa — comunicou a central de
rastreamento. — Algumas naves penetram no meio-espaço, estamos perdendo o contato.
O eco das ondas indica motores de propulsão linear. Fim.
Tifflor era a calma em pessoa. Para não perder tempo, se absteve de conferir, como
sempre fazia, os cálculos para a transição.
Enquanto ainda estavam entrando os últimos dados para o salto, as turbinas da
Califórnia já estrugiam, e, em poucos segundos, deslocou-se para o espaço.
A brusca aceleração a atirou para longe.
Quando o posto de rastreamento anunciou a presença de cinco naves dos druufs, a
Califórnia já tinha percorrido alguns milhões de quilômetros.
Os valores para o salto ainda não estavam completos. A programação automática do
campo estrutural levava sempre algum tempo.
Nas telas que correspondiam ao campo óptico instalado fora da nave, as estrelas, até
então bem claras, começaram a se ofuscar. Estava-se aproximando da velocidade da luz.
Quando o zumbido dos motores de propulsão indicou que a injeção adicional de
combustível havia entrado em ação, Tifflor sabia que, voando normalmente, não seria
mais alcançado. As naves druufs não conseguiam nem a rápida aceleração, nem a
velocidade final das naves terranas.
Tifflor calculou que ainda dispunha de cinco minutos. Com toda calma, virou-se
para os três teleportadores do grupo:
— Eis o meu plano, que vocês devem seguir rigorosamente: é impossível para a
Califórnia atacar com tiros de canhão a estação espacial, pois poderiam nos abater. Vamos
nos rematerializar a uma distância de três milhões de quilômetros, antes do planeta
principal do sistema. Depois, terei o espaço de um minuto para localizar a estação e
atacá-la numa ação fulminante.
“Assim que ela aparecer nas telas e vocês conseguirem se orientar, saltem com as
bombas. Quando desaparecerem, eu entro numa curta transição. Assim, desapareço do
teatro de operações. Depois da manobra de reaparecer no espaço, vou levar cinco minutos
para as operações de frenagem. Depois, mais cinco minutos para calcular a transição de
volta. Vou me abster de, antes da volta ao hiperespaço, fazer outra transição. Em
compensação, vou me arriscar a uma perigosa transição de nível para chegar exatamente
diante da estação espacial.
“Assim que acontecer tudo isto, vocês receberão de mim um curto impulso em
hiperonda. Concentrem-se de novo e pulem de volta para bordo. Ao todo, terão de
agüentar dentro da estação dez ou doze minutos. Antes disso, certamente não poderei
estar de volta. Agora, quando receberem meu impulso, terão apenas trinta segundos para
atingirem a nave. Está tudo claro? Há alguma pergunta a fazer?”
Gucky se apresentou:
— Por que você não espera um instante, até que atiremos as bombas? Isto não dura
mais que um minuto.
— Um minuto eu já vou levar para procurar a estação. Outro minuto seria
exatamente o tempo que os canhoneiros druufs levariam para transformar a Califórnia
numa tocha viva. Temos que ficar com o meu plano. Vocês saltam, eu desapareço no
hiperespaço, detenho a Califórnia, volto e lhes envio o curto impulso. Prestem atenção
nos trinta segundos que lhes restam depois do impulso recebido. Não posso esperar um
segundo mais, para reiniciar o vôo. Vocês vão conseguir isto?
Tako Kakuta sorriu.
— É a isto que eu chamo de um plano de emergência perfeitamente estudado!
Daremos conta do recado.
Logo depois, constatou-se a aproximação de nove espaçonaves druufs. Estavam
perseguindo a Califórnia, que se mantinha no espaço normal por meio de aparelhos com
propulsão linear.
— Agora — disse Tifflor — toda a frota de emergência será avisada. Atenção,
transição. Quero deixar para longe de nós esta barreira de fogo dos druufs.
Quando os perseguidores surgiram de repente no espaço normal do Universo dos
druufs, a Califórnia já havia desaparecido na dimensão superior. Os projéteis de raios
energéticos disparados contra ela se desfizeram inutilmente no espaço.
Simultaneamente, o posto de rastreamento de Hades registrava novos dados. O
Capitão Rous deu alarme geral, o mesmo acontecendo com as naves de reconhecimento
em torno da estação espacial. Demorou poucos instantes, até que o cruzador desaparecido
terminasse sua reduzida transição a duzentos e cinqüenta milhões de quilômetros para
frente.
Quando se tornou novamente visível, apareceu também nas telas das naves dos
druufs.
***
Uma coisa extraordinária foi a visão dos projéteis de raios energéticos disparados
pelos druufs. Uma coisa impossível no espaço de Einstein, em decorrência da absoluta
ausência da matéria, se tornava aqui uma fantástica realidade.
Os feixes de impulsos, em consonância com as leis do tempo ali reinante,
alcançavam somente a metade da velocidade da luz. Foi assim que o Comandante Tifflor
achou muito simples poder escapar dos raios mortíferos e continuar tranqüilo em sua rota.
Mas, por quanto tempo ainda teriam tanta sorte assim? Tifflor sabia que a situação
daqui para frente pioraria. Estava comandando a Califórnia com controle manual.
Conseguia, assim, manobras incríveis, com as quais escapava dos inúmeros projéteis do
inimigo.
O espaço entre os planetas, de um brilho vermelho-sombrio, foi percorrido por uma
tempestade de cintilações das mais pesadas descargas térmicas.
Provavelmente devia haver, bem próximo aos dois sóis, uma espécie de micro-
matéria cósmica, que era atraída e mantida presa por poderosos campos de gravitação.
Quando Tifflor mandou abrir fogo, formaram-se, nas bocas dos canhões da nave terrana,
flamejantes bolas de fogo. Os dois disparos, feitos no correr de cinco segundos, atingiram
em cheio seu alvo. Os sóis atômicos coruscantes tragaram as duas naves druufs que
estavam no encalço da Califórnia.
Foi fácil localizar a estação espacial, mais fácil do que se esperava. Bastou que se
orientasse pela delgada extremidade tubular do grande funil. Divisava-se com nitidez a
estranha figura luminosa no espaço. Ali, onde a garganta começava, devia estar instalada
a usina flutuante. Não podia ser de modo diferente.
Tifflor não se deteve. Os motores de propulsão da Califórnia trabalhavam com toda
a potência. Há dois segundos atrás, os campos magnéticos de proteção antichoque foram
ligados automaticamente, em virtude da estranha e surpreendentemente grossa camada de
micromatéria no meio do sistema, causando desagradáveis atritos nos flancos da nave.
O bojo esférico do cruzador já estava atingindo a coloração de metal incandescente,
quando os projetores entraram automaticamente em ação. Ionizavam as diminutas
partículas, expulsando-as para longe do trajeto da nave.
Do minuto que Tifflor tinha dado, como tempo suficiente para o vôo, quarenta
segundos já se haviam passado. Na grande tela da frente, viu-se claramente uma figura
em forma de disco, com cerca de oito quilômetros de diâmetro por um e meio de altura.
Antes de esgotar o prazo estabelecido de um minuto, parecia que os postos de defesa
automática da frota de vigilância estavam atirando. Os ângulos de correção foram bem
calculados, pois o primeiro projétil atingiu o envoltório de proteção.
Isto aconteceu um minuto antes da planejada ação. Vencido o minuto, Tifflor sabia
que o tempo urgia. Um segundo projétil veio de encontro à barragem magnética e, no
centro da nave, houve um ruído como de um grande sino rachado. A estação espacial
distava ainda cinqüenta mil quilômetros.
— Saltem! — gritou o comandante, já com um atraso de uma fração de segundo.
Os três teleportadores sabiam que venceriam aquela distância, apesar das perigosas
bombas.
No local onde os três estavam em grande concentração, surgiram pontos luminosos
de várias colorações, que logo se dissolveram.
No mesmo instante, Tifflor puxou a alavanca de transição. A Califórnia desapareceu
no hiperespaço, quando quatorze projéteis de raios térmicos cruzaram o local onde devia
estar, se continuasse em seu vôo normal.
Dentro da estação espacial, onde já reinava o estado de alerta, os cientistas druufs se
parabenizavam eufóricos. Estavam convencidos de terem repelido um desesperado ataque
de um comando suicida, ainda mais que se havia percebido claramente como o estranho
inimigo tentara atingir seriamente a grande estação flutuante. Não tinha acertado nenhum
tiro, a estação estava intacta, o funil funcionando como antes.
Exatamente esta crença é que Tifflor queria provocar neles. Tudo dependia agora de
que os mutantes pudessem agir sem serem vistos. Pelos cálculos humanos, tudo devia dar
certo. Ninguém podia contar com o fato de que três seres dotados de forças sobrenaturais
pudessem sair de uma nave em velocidade quase idêntica à da luz, sem uma nave
auxiliar, ou qualquer outro meio mecânico.
Quando a Califórnia se rematerializou, e seus oficiais navegadores começaram logo
os cálculos para um salto de regresso, chegaram também ao seu objetivo os três mutantes.
***
Ras Tschubai teve o azar de saltar exatamente num local desprotegido, onde estavam
instalados transformadores de alta tensão. Ofuscado por incessantes descargas de curto-
circuito dos cabos de alta voltagem, gemendo de dores cambaleou para trás. Seu corpo
ainda estava ressentindo-se da terrível compressão da desmaterialização. Só no último
instante notou-se que toda a superfície da enorme estação estava envolta numa barragem
energética em forma de uma campânula de proteção.
Aparentemente, a estação possuía uma estranha energia. Tschubai já tinha sentido
isto, pois quando tentou andar mais para frente, viu-se preso...
Sentou-se num canto mais protegido, prestando muita atenção para não encostar nos
cabos condutores desprotegidos.
Do outro lado da parede metálica, roncavam as possantes máquinas de propulsão. A
julgar pelo ruído, deviam ser fornos de grande potência, acoplados a conversores. Neste
sentido, o modo de agir dos druufs não era essencialmente diferente do dos terranos.
Apenas usavam para estabilização de sua energia nuclear um outro processo catalítico.
Sem perda de tempo, Ras começou a agir. Com todo cuidado, desatarraxou a bomba
de seu cinturão, olhou para o relógio, e regulou o detonador, descontando os segundos já
decorridos, para um prazo de quinze minutos.
A ação tinha sido planejada para três homens, a fim de se poder atingir um alto grau
de segurança. Mesmo que duas bombas fossem descobertas a tempo, sempre sobraria
uma, que bastaria para destruir toda a estação flutuante.
A partir daí, Ras Tschubai ficou esperando pelos impulsos combinados. Seu receptor
de pulso estava ligado. Os trinta segundos depois dos impulsos tinham que ser
aproveitados, ou não haveria mais um regresso.
Gucky e Tako Kakuta tiveram a sorte de aterrissar nos grandes corredores, onde
havia muitos cantos para se esconder. Depois de chegarem à estação, o resto do trabalho
foi muito simples. Como se esperava, as grandes instalações técnicas eram quase todas de
controle remoto. Gucky conseguiu ver apenas um druuf, que naturalmente estava de
ronda.
Exatamente aos 12:03 minutos, os microcomunicadores se fizeram ouvir. Ao mesmo
tempo, escutaram as tonitruantes descargas dos canhões energéticos, com as quais a
estação espacial devia estar bem equipada para se defender.
Pularam ao mesmo tempo. Quando se materializaram, estavam a bordo da nave
terrana, cujo comandante tentava, com manobras desesperadas, fugir ao fogo cerrado dos
druufs, que atiravam sem parar. Depois de ter recebido dois projéteis, arruinando o
envoltório de proteção, Tifflor resolveu entrar em transição, embora não tivesse ainda a
necessária velocidade prescrita.
As dores da desmaterialização foram terríveis, muito mais fortes do que todas as
vezes anteriores, isto porque não se atingira a necessária velocidade para abrandar o
choque, como nos saltos normais.
A Califórnia desapareceu na quinta dimensão. Quando voltou ao espaço normal, o
gigantesco funil de descarga havia sumido. Estavam nos confins do sistema Siamed. Mas,
no lugar onde o rastreador ainda há pouco mostrava o grande funil, o campo óptico
apenas apresentava uma eclosão energética.
E, no entanto, ainda se podia ver o funil em sua forma primitiva. Era naturalmente
uma ilusão ótica, já que no espaço dos druufs os raios luminosos tinham a metade da
velocidade, produzindo uma imagem que já não existia mais.
Do mesmo modo, não se podia ainda ver a gigantesca bola de fogo. Sua luz ainda
não havia chegado até ao sexagésimo segundo planeta. Somente um rastreamento
espontâneo, trabalhando à base de maior velocidade que a luz, podia provar que o sol
artificial não se identificava com o funil de descarga.
Ras Tschubai e Tako Kakuta sofriam terrivelmente com um grande mal-estar. Gucky
jazia sem sentidos. O salto superapressado e as dificuldades com o singular envoltório de
proteção da estação já destruída haviam causado um profundo esgotamento nos três
teleportadores.
Tifflor, porém, estava de excelente humor. Podia anunciar seu sucesso. Mas lhe
faltava ainda sair são e salvo do Universo dos druufs.
A Califórnia continuou seu trajeto, possivelmente se preparando para a transição.
Tifflor parou o cruzador exatamente no local onde Rhodan pretendia aparecer com a
Drusus e montar o campo óptico. Todas as máquinas que pudessem traí-los por suas
irradiações estavam paradas. O ágil cruzador terrano parecia uma nave-fantasma.
A única coisa a funcionar era um reator de alimentação independente,
cuidadosamente blindado, que fornecia a energia para os sensibilíssimos rastreadores. Por
meio deles se constatava se a Califórnia tinha sido atingida por impulsos sonoros e desta
maneira localizada pelos druufs.
***
Três horas após a erupção da quinta onda de assalto, detonaram nas luas de Júpiter
as primeiras bombas de telecomando. Um cruzador, acidentalmente atingido, rolou sobre
um grupo de caças e destróieres, já prontos para decolar.
No setor central, rugia a mais incrível das batalhas. As perdas do Império Solar eram
tremendas, no entanto, os druufs já haviam perdido cinco vezes mais em espaçonaves do
que os terranos.
Os supercouraçados formavam a espinha dorsal da defesa. Principalmente a Drusus
causou tantos prejuízos ao inimigo com seu transmissor fictício, que, em todo lugar onde
aparecia a nave gigante, abriam-se enormes lacunas na linha de ataque dos druufs.
Nove horas após o regresso da nave capitania, aconteceram duas coisas importantes.
Um radiograma anunciava que o funil de descarga perto do sistema Capela tinha sido
destruído repentinamente. Os gritos de alegria a bordo das naves terranas, Rhodan não
conseguiu ouvir, mas notou bem que suas forças, de moral irremediavelmente deprimido,
se lançaram com novo entusiasmo ao ataque.
A esquadra druuf sediada em Marte foi aniquilada em pouco tempo. Mas ainda
havia muita nave dos druufs pelo sistema solar, para se poder proclamar uma vitória da
Terra.
Rhodan ordenou então, por hiper-rádio, a retirada para a terceira e última linha de
defesa do Império Solar. Unidades danificadas de todos os tipos lá estavam reunidas.
Foi então que se deu o segundo grande acontecimento, decisivo para o resultado das
operações.
Instantes depois da destruição do couraçado Osage, sob o comando do Coronel
Poskanow, os rastreadores estruturais das espaçonaves terranas ameaçavam rebentar.
Num movimento surpreendentemente rápido, surgiram do hiperespaço numerosas
belonaves. Atlan agira mais rápido do que se esperava. Apenas nove horas depois do
pedido de socorro, chegaram dez mil belonaves pesadas e pesadíssimas, da frota
robotizada dos arcônidas.
Estavam sob o comando do almirante arcônida Senekho, que após a troca
radiofônica das senhas combinadas, entrou imediatamente em ação, para expulsar os
invasores.
Cinco minutos mais tarde, chegaram outras quatro mil naves, cuja forma externa
demonstrava serem construções dos saltadores.
Foi a primeira vez que os comerciantes das Galáxias penetraram livremente no
sistema solar, naquele sistema que eles há tanto tempo procuravam sem sucesso.
— Venho por ordem do regente, administrador — reboou a voz de um velho
patriarca de barba branca, através dos alto-falantes. — Cokaze é meu nome. Sou o chefe
de minha estirpe. Onde é que se torna mais importante nossa intervenção?
Rhodan parecia paralisado diante da tela. A expressão sombria do velho despertou
em Rhodan toda a antipatia que nutrira durante longos anos contra os saltadores.
Com muita reserva, deu algumas informações. Ao mesmo tempo retirou suas
unidades menores da frente de combate. Somente os couraçados e supercouraçados,
como também os cruzadores não danificados, ficaram na linha de frente. Os extenuados
pilotos dos caças e dos destróieres de três homens voaram a toda, de volta para suas
bases.
A partir deste momento, os oficiais do estado-maior, a bordo da Drusus, não tiveram
mais nada que fazer, a não ser observar de longe a sistemática destruição das restantes
oito mil naves dos druufs.
Depois de quinze minutos, o comandante dos inimigos, que não era um ser humano,
reconheceu a situação. Vendo que suas naves iam explodindo uma após a outra, sem
poder mais contar com reforço, em virtude do súbito desaparecimento do funil de
descarga, deu ordem de reunião de suas unidades. Com apenas três mil naves —
melancólico fim da gigantesca frota de invasão — desapareceu no segundo plano.
De um minuto para o outro, o sistema solar se libertou de seu ferrenho adversário.
Mas agora, ficavam outros aqui, não muito desejáveis.
Rhodan pediu uma ligação para falar com o Almirante Senekho. O ancião pertencia
aos poucos arcônidas ativos a quem se podia ainda confiar o comando de uma esquadra.
Quando o rosto cansado e enrugado apareceu na tela da Drusus, Rhodan teve que rir, sem
querer. Senekho era o mesmo oficial que examinava os navegadores espaciais na grande
lua do ciclópico planeta Naat. Eram navegadores de Zalit a quem Senekho também
instruía sobre as naves do Império de Árcon.
Isto tudo fora há apenas algumas semanas e, no entanto, parecia a Rhodan um fato
de muitos e muitos anos atrás.
— Foi uma viagem enorme, terrano — começou Senekho. — Tenho impressão de
que você mantém boas relações com o regente, não é? Seus inimigos fugiram. E não se
podia esperar outra coisa. Fui instruído para executar todas as suas ordens. Que resta
ainda a fazer?
Foi uma pergunta clara e objetiva. Em oposição à grande maioria dos homens de sua
raça, Senekho tinha grandes qualidades.
— Nada, muito obrigado. Se precisar de água fresca, mantimentos ou qualquer outra
coisa, nossas bases no Império Solar estão à sua disposição.
— Império? — repetiu Senekho admirado. E começou a sorrir. — Império? Gostei
de ouvir, terrano. Você chama de império sua miserável estrelazinha com planetas em
miniatura?
Ao ouvir isto, Reginald Bell ficou vermelho de ira, olhando furioso para a tela.
Rhodan não perdeu a calma devido a esta arrogância, que era típica dos arcônidas.
Respondeu muito à vontade:
— Realmente, Império, almirante. O senhor já deve ter ouvido falar muito de nós,
para saber que a grandeza territorial de um sistema solar não é decisiva para as
qualidades de seus habitantes. Mas não é sobre isto que gostaria de falar.
— Sobre o que, então?
Senekho se inclinou interessado. Seu rosto parecia maior e mais expressivo.
— Quando propus aliança com o regente de Árcon, foi-me prometida a proteção do
Império. Como pode acontecer então que de repente aparecem no meu sistema quatro mil
naves dos saltadores?
Senekho sorria.
— Não sabia nada desta aliança, mas não duvido de sua existência, pois se não fosse
assim, não me tirariam da frente de bloqueio. O regente mandou também as naves dos
saltadores por recear que as minhas dez mil unidades sozinhas não seriam suficientes.
Nós não podíamos saber que os monstros do outro Universo já haviam sofrido tão
grandes perdas. Fora disso, você tem algum desejo especial, terrano?
Rhodan refletiu um pouco. Sabia que Cokaze, o patriarca dos saltadores, estava
ouvindo tudo.
— Gostaria de lhe pedir para explicar a Cokaze que a Terra não deseja ser anexada
ao domínio dos saltadores. Somos um sistema independente e queremos continuar assim.
— Compreendi — disse o almirante pensativo. — Está bem claro.
Com isto, interrompeu a ligação. Enquanto a frota arcônida se reunia nas
proximidades da órbita de Marte, para daí partir direto para sua frente de bloqueio, os
quatro mil aparelhos dos saltadores voavam na direção da Terra.
Rhodan chamou o chefe do clã e lhe disse com toda firmeza:
— Você vai mudar de direção em três minutos, Cokaze, do contrário vai levar uma
boa lição. Não pedi seu auxílio, portanto não exija nenhuma recompensa.
— Somos comerciantes e não fazemos nada de graça.
— Não os chamei. Se vocês abaixam a crista para o regente, cumpram suas ordens,
isto não tem nada a ver comigo. Ainda estou bem forte para lhes dar um banho de sangue.
Caso não mude de rumo, minha frota partirá imediatamente.
Como Cokaze recebeu tudo isto, Rhodan não podia saber. No mesmo momento,
porém, suas naves entraram na operação de frenagem e logo depois se ajuntaram à frota
dos robôs arcônidas.
Somente sessenta unidades danificadas em combate obtiveram permissão de Rhodan
para aterrissar. Assim aconteceu que, pela primeira vez, alguns comerciantes das Galáxias
pisaram o chão do nosso planeta, onde foram recebidos por uma multidão de homens
calados, de expressão pouco amistosa.
Rhodan passou para o supercouraçado Wellington, a fim de observar melhor os que
vieram de tão longe para ajudá-lo. Os comandantes das esquadrilhas terranas receberam
instruções secretas.
Concluindo, Rhodan disse o seguinte:
— É claro que nem o Almirante Senekho, nem os saltadores estão informados sobre
a mudança que houve em Árcon III. Por amor de Deus, sejam prudentes, não digam nada
a respeito, pois do contrário a situação de Atlan ficará muito séria. O que nos interessa
agora é vermos os saltadores longe de nós. A frota robotizada voltará em um ou dois dias,
conforme garantiu Atlan. Somente estes saltadores é que nos podem incomodar. Abram
fogo imediatamente assim que um deles tente descer em Vênus, em Marte ou na Terra,
sem minha expressa autorização.
“Meus senhores, está na hora de despertarmos. O jogo de esconder já acabou. A
partir de agora, todo mundo sabe onde moramos. Temos, pois, que reformular nossa
política galáctica. Tenho plena certeza de que encontraremos o caminho certo.
Permaneçam de olhos abertos. Muito obrigado.”
Enquanto a Drusus disparava pelo hiperespaço para apanhar o cruzador Califórnia,
Rhodan voltou para seu camarote.
“Esperar”, pensava ele, “esperar, mais uma vez. Até hoje a Terra não dormiu, e
também amanhã ou depois de amanhã, ela não vai dormir. Vocês, de outros mundos,
ainda haverão de nos conhecer!”
***
**
*
A Terra venceu a grande batalha, sendo que o avanço
desesperado de Tifflor para o interior do Universo druuf foi o que
decidiu, na hora mais séria da História da Humanidade, a sorte do
nosso planeta.
No entanto, apesar do resultado positivo da luta, surge um
novo fator: acabou o mistério da localização da Terra. Começa
então agora, para Perry Rhodan, o administrador do Império
Solar, a fase mais perigosa de sua longa carreira...
Irrompe a hora gloriosa de Gucky, exatamente quando o
destino traça os momentos mais trágicos de Perry Rhodan!
A Grande Hora de Gucky, este é o nome do próximo livro da
série.