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A SEGURANÇA EM RESTAURANTES FAST-FOOD

Há cerca de quatro anos, ao assumir a gerência de segurança corporativa da segunda maior rede
de restaurantes de comida rápida do país – para mim um desafio completamente novo – causou-
me muita surpresa encontrar pouquíssima literatura técnica específica sobre o assunto em nosso
idioma. Sendo um entusiasta dos assuntos pertinentes à segurança pessoal de executivos e
autoridades, armamentos, inteligência e contra-terrorismo, já detinha alguma experiência em
segurança patrimonial, embora mais estritamente voltada ao ramo bancário. Uma vez que em
segurança inexistem as famosas “receitas de bolo”, torna-se claro que, para proteger as lojas,
suas operações, os clientes e os funcionários numa conjuntura cada vez mais violenta e adversa,
necessitamos estudar as peculiaridades deste ramo específico de comércio e adequar acepções,
quase sempre novas e dinâmicas, aos nossos velhos conhecidos princípios da segurança.

AS CARACTERÍSTICAS DO COMÉRCIO

Um restaurante fast-food possui características bastante peculiares. Trata-se de um comércio


dinâmico por excelência, fortemente centrado em marcas, que apresenta uma grande circulação
de clientes mas que, ao contrário dos bancos por exemplo, movimenta em suas lojas quantias de
dinheiro muito menos significativas. O patrimônio físico (em termos de máquinas, produtos e
equipamentos) bem como o dinheiro em caixa, não fazem dessa categoria de restaurantes um
alvo atrativo para as grandes quadrilhas e não consegui colher exemplo de fast-food assaltado
durante o expediente por um numeroso grupo armado de fuzís ou metralhadoras. Por outro lado,
pela liberdade de acesso, pela ignorância de gerentes e funcionários quanto a aspectos técnicos
da segurança de seu ambiente, bem como pela própria fragilidade da segurança física dessas
instalações, os fast-foods são avo fácil de “arrastões” e de pequenos assaltos, praticados por
pivetes, ladrões principiantes, viciados em busca de dinheiro para drogas ou mesmo por ex-
funcionários, os quais sempre dispõe de informações privilegiadas.

Um enorme complicador para a segurança desses estabelecimentos é que a necessidade de criar


uma atmosfera agradável e atrativa para o cliente não permite opor obstáculos entre ele (o cliente)
e os funcionários que o atendem. Num fast-food não há como se estabelecer rígidos controles de
acesso, instalar portais de detecção de metais, etiquetas anti-furto etc. A venda deve ser praticada
num clima agradável, de extrema empatia. Normalmente não existem vidros ou anteparos, os
balcões são baixos (e consequentemente, facilmente transponíveis), os caixas (e suas gavetas),
na maioria das vezes, podem ser alcançados com um simples esticar de braço, não existem
obstáculos físicos à passagem para as áreas restritas, a visão do que se passa no interior através
das janelas da loja quase sempre se encontra prejudicada pela afixação de cartazes e galhardetes
etc.

A prioridade consiste em atrair o cliente, fazer com que ele goste de tudo – da comida ao
atendimento, do design do ambiente à segurança que ele oferece – e mantê-lo fiel. Aliás,
modernamente, o que se pretende é que o cliente se torne um entusiasta da loja, verdadeiro fã da
marca, de seus produtos, amigo daqueles que o atendem no dia à dia... Nesse contexto, os
critérios preponderantes de harmonização arquitetônica, paisagística e de marketing
obrigatoriamente se sobrepõe aos pressupostos tradicionais da segurança. Tal fato se explica
unicamente por uma exigência de mercado; e uma vez que nenhum de nós se sentiria à vontade
dirigindo-se a um “bunker” para pedir um hambúrguer ou cachorro-quente (o qual seria entregue
através de uma “janelinha” ou eclusa de aço blindada) resta aos profissionais encarregados de
planejar a segurança dessa modalidade de comércio tentar conciliar as medidas preventivas e
dissuasórias de segurança nas instalações que, via de regra, foram projetadas sem levar em
conta os históricos da criminalidade naquela área, o modus-operandi das ações delituosas típicas
etc. Vale lembrar também que, na eterna luta de encarregados e planejadores de segurança
“versus” criminosos, as restrições de caráter orçamentário, a necessidade de economizar, a
dificuldade de conscientizar, as dificuldades de adqüirir este ou aquele equipamento, preocupam e
atingem sempre aos “mocinhos” e quase nunca aos fora-da-lei.

Sabemos que – do ponto de vista do cliente de um estabelecimento – é muito importante usufruir


da sensação de segurança... talvez mais até do que – sob o ponto de vista estritamente técnico –
estar realmente seguro. Se o cliente (o qual normalmente já se afiniza com os produtos da linha
comercializada) se sente bem e seguro numa determinada loja, é provável que venha visitá-la com
maior assiduidade, concorrendo significativamente para uma melhoria no faturamento daquela
dependência. O cliente seguro faz a melhor propaganda, garantindo com o seu testemunho
pessoal que o local pode (e até deva) ser freqüentado sem receio. Proporcionar a indispensável
sensação de segurança aos clientes é um dos principais objetivos da segurança numa rede de
fast-food. Nas lojas situadas em shopping-centers o assédio de pivetes e mendigos normalmente
não existe, mas nas lojas situadas abertamente ao nível da rua, além de zelar para que os
clientes não sofram roubo ou furto no interior da dependência, se deve garantir que os mesmos
possam desfrutar de seus lanches de forma tranqüila, sem serem importunados.

Uma prévia consulta a um profissional de segurança qualificado sempre pode poupar dinheiro e
problemas às empresas quando do projeto de uma loja. Embora no Brasil ainda não haja grande
tradição em proceder dessa forma, é na fase de projeto de uma loja que se deveria contemplar a
necessidade de instalação de equipamentos como sensores de detecção de intrusão (por infra-
vermelho passivo, sensores magnéticos de abertura de portas e sensores de quebra de vidros),
sensores de incêndio, câmeras de circuito fechado de televisão e os respectivos equipamentos de
gravação ou transmissão de imagens, sistemas de “no-break”, iluminação preventiva, cofres,
portas e fechaduras resistentes para a área de gerência, gradeamentos etc. Conduítes deveriam
ser previstos na fase de projeto, a fim de eliminar o inconveniente – estético e técnico – das
fiações e cabeamentos expostos correndo pelos cantos e paredes. À luz das modernas
experiências com assaltos, a posição do caixa numa loja do tipo “drive-thru” deve contar com
janelas de policarbonato (à prova de balas) e dotada de botão de alarme discretamente
posicionado (do tipo “money-clip” no interior da gaveta de dinheiro, ou botoeira que possa ser
acionada com os pés). Ainda na fase de projeto, também se pode estabelecer um local seguro
para contagem de dinheiro recolhido dos caixas, de preferência numa posição de onde se possa
visualizar o que acontece no balcão e no salão da loja.

PREVININDO OS ASSALTOS

Um assalto em um restaurante fast-food pode acontecer praticamente a qualquer momento. Um


histórico de ocorrências analisado demonstrou que são particularmente perigosos os momentos
iniciais da manhã (quando da abertura das lojas ao público) e na hora que antecede o
fechamento. Quando da chegada dos malotes de dinheiro pela manhã e depois do abastecimento
dos caixas da loja, a atenção deve ser redobrada. Nos dias de pagamento de funcionários,
principalmente em lojas onde o pagamento seja feito no local e em espécie, a situação vai
requerer cuidados bastante especiais.

Nos roubos à restaurantes fast-food, normalmente os criminosos avaliam a perspectiva do risco da


ação e a recompensa que pode ser obtida, considerando a quantidade de dinheiro vivo disponível,
a possibilidade de reação da segurança local (ou da chegada rápida dos efetivos policiais em
socorro), a existência de circuito fechado de televisão, a existência de acionadores de pânico
silenciosos etc. Outros fatores que podem condicionar a escolha dos alvos nas ações de roubo
são a própria localização da loja (favorecendo o acesso sem despertar suspeitas e fuga rápida), a
quantidade de funcionários trabalhando, sua faixa etária e compleição física etc...

O emprego de vigilância ostensiva armada no interior das lojas é algo que deve ser considerado
com bastante cuidado. Embora saibamos que a presença de guardas armados possam dissuadir
bandidos como os que costumam assaltar tais lojas, há de se considerar particularmente a
qualificação, o treinamento e o temperamento daquele elemento que se pretenda empregar como
“guarda” na loja. Um criminoso baleado numa loja e um assalto frustrado pode fazer com que as
lojas de uma rede passem um bom tempo sem sofrer com essas visitas indesejáveis, porém isso
não é algo que se possa afiançar com 100% de certeza. Obrigatoriamente há de se analisar o
histórico de ocorrências delituosas na região ou cidade. Com a criminalidade em cidades como o
Rio de Janeiro atingindo patamares de impensável ousadia, sempre podem ocorrer represálias...
Não podemos deixar de levar em consideração também que – devido à normal “contenção de
custos” que atinge indistintamente as empresas – nem sempre se poderá implantar um
quantitativo de homens armados compatível com as dimensões da loja, com sua localização, com
o público que ela recebe e seu faturamento etc. O quantitativo de seguranças deve ser
dimensionado de acordo com as necessidades observadas em cada loja e sou de opinião que se
não pudermos provir um efetivo minimamente capaz de realmente dissuadir ações adversas numa
loja especificamente, é melhor que não optemos pelos vigilantes ou agentes de segurança
armados. A simples “padronização” de um vigilante armado para cada loja, pode – mais do que
uma medida de segurança – constituir-se num problema; o revólver é um instrumento de cobiça
para os bandidos e não se pode descartar a possibilidade de que dois ou mais deles, mesmo
desarmados, criando uma situação de distração, possam tentar imobilizar um guarda sozinho e
tomar-lhe a arma. Por outro lado, um disparo de arma de fogo efetuado de forma imprecisa, pode
acarretar vítimas inocentes no interior da dependência e causar irremediáveis danos à imagem da
empresa, prejudicando-lhe as vendas, não só daquela única loja, mas de toda a rede. No caso de
um cliente ser atingido por um disparo acidental, o valor pago numa ação indenizatória pode
exceder em muito o faturamento mensal de uma loja.

Preventivamente a solução contra assaltos mais eficaz encontrada por planejadores de segurança
foi a de limitar a quantidade de dinheiro a que criminosos podem acessar rapidamente num roubo.
A solução de adotar cofres com fechadura de retardo – a exemplo do que ocorreu nos bancos –
pode ser dispendiosa e por isso menos vantajosa do que o usual emprego do cofre do tipo “boca-
de-lobo” de duplo trancamento. Neste caso, uma das chaves simplesmente não se encontra em
poder da gerência. É trazida pela guarnição de vigilantes do transporte blindado de valores que vai
periodicamente à Loja para fazer o recolhimento do dinheiro. Os valores arrecadados pelos caixas
com as vendas são constantemente recolhidos durante o expediente e depositados no referido
cofre através do compartimento basculante blindado. Se os criminosos chegam e pedem dinheiro,
apenas poderão dispor daquele que estiver nos caixas naquele momento ou de uma pequena
quantidade mantida para troco (notadamente em moedas) no outro cofre de serviço na gerência.
Não há como “pescar” o dinheiro no cofre e o seu arrombamento demandaria um tempo ou até
uma especialização que esse tipo de bandidos simplesmente não tem.

A divulgação dos tais procedimentos de segurança quanto à cautela de numerário no seio dos
funcionários da loja ajuda a reforçar essa idéia para o público interno, uma vez que podem ocorrer
“vazamentos” de informações para beneficiar criminosos. A observância desses procedimentos
deve ser fiscalizada pelos gerentes das lojas e pelos responsáveis pela segurança. O processo
seletivo dos novos funcionários que vão trabalhar nas lojas deve, sempre que possível,
compreender uma checagem de antecedentes profissionais e criminais. As referências devem
checadas, quer pela segurança corporativa da rede ou por empresa especializada contratada pelo
setor de recursos humanos com esta finalidade. Embora a grande maioria dos funcionários
subalternos nas lojas seja constituída de pessoas trabalhadoras, de origem humilde e honesta, há
casos de roubos perpetrados com informações das rotinas da loja fornecidas por maus
funcionários, assim como há históricos até da participação em assaltos de funcionários que foram
despedidos por desvios de conduta

O limitado o montante de dinheiro disponível, aliado aos demais recursos de segurança como
circuito fechado de TV e os alarmes, concorre para transformar as lojas fast-food em alvos pouco
atrativos. A existência de câmeras de TV ostensivas, juntamente com cartazes que alertam para a
existência delas e para o sistema de gravação segura das imagens, traz para o criminoso mais
uma incerteza. Por mais que o seu roubo possa ter êxito, um sistema que armazene ou transmita
sua imagens – e que seja mantido em condições tais que o criminoso não possa a ele acessar –
permite que se apure os delitos, identificando positivamente seus autores, “modus operandi” de
suas ações etc. Ações um pouco menos violentas como o vandalismo dos grupos de jovens
arruaceiros ou ainda algumas das fraudes praticadas por funcionários podem ser desencorajadas
por uma sistema de câmeras (verdadeiras e falsas) bem distribuídas numa loja, uma vez que
permite o registro em vídeo de tudo que se passa nos setores e pontos monitorados. Nas lojas, os
principais pontos de acesso como as portas (se possível também as de serviço), o salão e o
balcão de atendimento com os caixas deverão contar com monitoramento de CFTV, assim como
também o estacionamento, área exterior circunvizinha etc. A tecnologia hoje disponível nos provê
uma ampla gama de opções de equipamentos. Câmeras de variados modelos, verdadeiras e
falsas (quase indistingüíveis das autênticas), coloridas e P&B, com capacidade de operar mesmo
sob condições de luminosidade excessiva ou deficiente, câmeras fixas e móveis, câmeras
interligadas com os sensores de infra-vermelho passivo e botões de pânico (de forma a fixar a
atuação de uma câmera no instante em que houvesse um evento de sensoreamento na área
coberta), sistemas de gravação local por videocassete, sistemas de gravação digital por
computador, transmissão de imagens digitais por linha telefônica...permitem ao planejador de
segurança escolher o equipamento que melhor se enquadra às premissas de risco/custo/benefício
da sua rede de lojas.

Um bom entrosamento com os organismos de segurança pública também concorre para a


melhoria das condições de segurança nas lojas. Se durante a seleção de seus alvos, os
criminosos se acostumarem a ver na loja os policiais que rondam nas redondezas, é bem provável
que abandonem a idéia de agir contra a referida dependência. A boa relação entre a gerência da
loja, seus funcionários e o policial que está de serviço, um lanche que ajude ao agente de
autoridade a poupar seu vencimento e a alimentar-se melhor no dia de plantão, pode representar
um maior empenho no atendimento a uma ocorrência emergencial na loja. Não se trata de
institucionalizar na rede uma postura lesiva ao lucro das lojas, do tipo “polícia não paga”, mas de
cativar os agentes que prestam serviço nas cercanias, os quais sempre responderão melhor ao
chamado da dependência em questão. Tal procedimento que, no Brasil já é adotado há tempos
pelo comércio de refeições, vem sendo também aplicado em outras partes do mundo. Em sua
edição de 18 de Setembro de 2002, o jornal britânico “The Daily Telegraph” noticiava que a
Inglaterra – cujas soluções no campo da segurança, própria ou inadequadamente, sempre são
indicadas como modelo para o Brasil – já incentiva que policiais, auferindo pequenos descontos,
façam suas refeições no comércio nas áreas por eles patrulhadas, de forma a reduzir o tempo
gasto no deslocamento para almoço ou jantar, aumentando a presença ostensiva nas ruas.
Quando do fechamento das lojas, horário em que é estatisticamente grande a incidência de
assaltos, contar com a dissuasão da presença policial se constitui numa grande vantagem.

De uma maneira geral, os incidentes, discussões, brigas, enfim todos os problemas que
acontecem na loja devem – prioritária e predominantemente – ser resolvidos com uma boa
conversa de parte do gerente ou do fiscal de salão. Assim sendo, aqueles a quem couber zelar
pela segurança das lojas devem, antes de mais nada, ter condição de dialogar com clientes, tratá-
los com cortesia e tentar apaziguar...tudo “no papo”! O emprego de força física, armas ou mesmo
o concurso da polícia, são recursos dos quais só se deve lançar mão quando o emprego da
diplomacia não for mais possível. Uma vez que em boa parte das lojas os incidentes de má
conduta, arruaça ou vandalismo perpetrados por jovens costumam ser mais freqüentes que os
assaltos, uma opcão acertada é a de instruir o profissional que se emprega como “Fiscal de Salão”
em técnicas defensivas de combate desarmado como a brasileira Kombato (www.kombato.com) e
o Aikidô, originária do Japão. Embora armas de choque elétrico (não-letais, de alta voltagem, com
amperagem baixa) estejam liberadas para uso civil no Brasil, não creio que seu uso disseminado
para os seguranças de lojas se constitua numa boa solução, mormente pelo fato de que a nossa
mídia sensacionalista pode transformar um lícito recurso de defesa em instrumento de tortura ou
agressão, comprometendo a imagem da instituição. Em casos de lojas com “problemas crônicos”
de brigas e arruaças uma solução eficaz pode ser copiada das boates e clubes noturnos,
contratando fiscais que sejam verdadeiras montanhas de músculos ou que sejam
reconhecidamente experts em artes marciais, os quais tendem a desencorajar os brigões pela
própria presença ostensiva no salão.

CONSCIENTIZANDO EM PROL DA SEGURANÇA

No mercado de trabalho é extremamente comum encontrarmos pessoas que encarem a


segurança como tarefa unicamente de policiais, bombeiros, militares e profissionais de vigilância
privada. Nada mais errado, sabemos que atuar na segurança é função prioritária dos grupos
anteriormente mencionados, porém eles não podem prescindir da colaboração e do empenho de
todas as outras pessoas, grupos e categorias profissionais. Para que se possa desfrutar de
condições satisfatórias de segurança, deveremos – todos – estarmos comprometidos com essa
finalidade.

Um desafio quando se trata de garantir a segurança em qualquer modalidade de negócio é tornar


claro e aceito que, para desfrutar de segurança, toda pessoa que dele participa – do funcionário
mais humilde ao Presidente da empresa – deve assumir que precisa mudar detalhes da sua
maneira de agir e de viver, modificar seus hábitos, se conscientizando de que, em função de todos
os perigos, ela obrigatoriamente deverá precaver-se. Num restaurante fast-food todos estão
prioritariamente voltados para a produção e cabe ao gerente de segurança a tarefa de inculcar
segurança na mente das pessoas; algo como “você funcionário é o principal interessado em que
nada de mal aconteça consigo e por isso deve pensar e agir levando sempre a segurança em
consideração”.

Os gerentes e funcionários devem trabalhar permanentemente alertas pois qualquer pessoa mal
intencionada (seja um assaltante ou mesmo um funcionário disposto a fraudar) estará sempre
observando a maneira de funcionamento da loja e anotando as falhas que permitirão atacar com
sucesso. Membros de gerência, monitores, fiscais e atendentes não deverão descuidar-se. O
principal e mais prejudicial dos preconceitos em segurança, consiste em achar que algo de ruim
jamais irá acontecer conosco ou que, por qualquer motivo, estaríamos à salvo de uma ação
criminosa. Por mais que isso possa tardar, tal preconceito costuma custar muito caro!

As empresas, se possível com a ajuda de um profissional experiente, devem pensar e antecipar


tudo o que pode vir a acontecer na loja em termos de ações criminosas como roubo, furto,
depredações, sabotagens e fraudes. Em se tratando de segurança não se pode contar apenas
com a boa sorte; há de se pensar antes, até pelo fato de que só se consegue atuar corretamente
em face de uma ocorrência que se imaginou que pudesse realmente acontecer.
Tudo que puder ser identificado como uma óbice ao bom andamento do serviço ou ameaça à
segurança das lojas, de seus funcionários e clientes deve suscitar medidas preventivas dos
planejadores de segurança. Como poderíamos evitar tais ocorrências de roubo, furto,
constrangimentos, abuso sexual em banheiros, estelionatos, depredações e atos de vandalismo?
Quais medidas devemos tomar? Tudo deve preferencialmente ser previsto, levando em
consideração as características da edificação e do ambiente onde está situada, o público
freqüentador, o histórico de ações pregressas, a legislação vigente e todas as informações que os
profissionais, atuando com inteligência, possam coletar. Lamentavelmente para nós, segurança
não se trata de uma “ciência exata”. Não existe fórmula 100% garantida para se evitar uma fraude,
um furto ou um roubo, principalmente quando consideramos que a segurança é uma atividade-
meio, voltada para garantir a operação dos restaurantes com o mínimo de percalços e não para
inviabilizá-la. Sempre existirá a possibilidade de ocorrências adversas e sem poder garantir que as
mesmas não ocorrerão, prioritariamente nos caberá pensar sempre no pior e previnir tais
situações lançando mão de avisos, normativas, comunicados e todos os demais recursos e
equipamentos disponíveis. Em segurança, ao contrário das ciências naturais ou estatísticas, o fato
de uma modalidade de evento (no caso, de delito) não ter se processado até a presente data não
assegura a impossibilidade de sua ocorrência, apenas indicando que a mesma, por fatores às
vezes imponderáveis, ainda não foi tentada.

Num meio onde os criminosos dispõe de fuzís, metralhadoras, granadas e até foguetes, não
esperamos que os funcionários tentem reagir à força dos bandidos. A idéia - seja na via pública,
seja em nossos lares, seja nas lojas – é estar suficientemente atento para identificar o perigo
antes dele se materializar e aí tomar todas as providências ao alcance, a fim de prevenir a ação.
Num banco, o guarda da tem por obrigação trabalhar de forma a impedir que os criminosos
possam ter acesso armado ao interior dos postos e desencadear um ataque. A criminalidade
precisa ser mantida do lado de fora e para isso, além de um bom trabalho de abordagem na porta
giratória. Um guarda deve observar a movimentação no exterior do Banco e visualizar a
movimentação de elementos suspeitos antes mesmo deles chegarem à porta. Se o vigilante olhar
por através do vidro e perceber a movimentação suspeita de elementos portando fuzis AR-15, não
se imagina que ele vá esperar que os elementos cheguem até a porta para constatar que está
diante de um assalto e que o alarme deverá ser acionado. Assim como o guarda está atento à
movimentação de quem possa pretender atacar um banco, os funcionários devem estar
permanentemente “ligados” nas pessoas que circulam pela loja e chegam ao balcão.

Os responsáveis pela segurança de uma rede de fast-food devem buscar desenvolver nos
funcionários a capacidade de perceber o perigo antes dele acontecer, principalmente
demonstrando a vantagem de tornar tal procedimento um hábito comum nas vidas de todos. Este
hábito é saudável e os preservará de muitos contratempos. Em suas ações, os criminosos
necessitam daquilo que chamamos de “elemento surpresa”, ou seja, precisam permanecer sem
serem identificados (ou detectados) até o momento de anunciarem a sua ação. Não faltam
exemplos de assaltantes bem vestidas, com ternos caros, carros importados, roupas brancas
(como médicos), fardados como militares, com coletes de policiais... mas em todas as situações
sempre deixam transparecer olhares nervosos, sinalizações por meio de gestos ou alguma coisa
que indique sua real intenção. Vale se perguntar sempre o porquê daquele cliente olhar tanto ao
seu redor e se demorar tanto ao saborear um simples sorvete? Qual o motivo que leva aqueles
dois clientes a permanecerem no salão depois do fechamento das portas? Como eles estão
vestidos? Parecem estar armados? Aquele cliente aparenta um mal disfarçado volume sob a
camisa? Estaria ele armado? O que há naquela bolsa que o cliente deixou debaixo da mesa?
Apenas pessoas atentas podem perceber os detalhes que acabarão por revelar uma ação
criminosa prestes a acontecer. No que tange às fraudes, mesmo diante da máxima que diz que
“quem vê cara não vê coração”, é fato que uma quantidade realmente grande de golpistas deixa
transparecer características como demonstrar irritação pela demora no atendimento, olhar
repetidamente para todos os lados, tentar esconder o rosto da câmera de CFTV, agir de forma
apressada ou agitada, não fazer questão de nota ou comprovante de pagamento, dá gorjetas
altas...e tudo isso tem de provocar a desconfiança de um funcionário atento

Nos dias de hoje, com todos os exemplos de crimes que acontecem à nossa volta, as gerências
de segurança nas redes de fast-food devem manter os funcionários nas lojas o mais atualizados
possível com as técnicas que a criminalidade vem adotando em suas investidas. A expedição de
comunicados circulares e realização de palestras pelos encarregados de segurança são
ferramentas importantíssimas na prevenção de delitos. Uma metodologia interessante consiste em
demonstrar a relevância de saber como os ladrões ou fraudadores agiram para que se possa
impedí-los de repetir aquela ação contra as próprias pessoas ou contra as lojas onde elas
trabalham. Os responsáveis pela segurança numa rede de restaurantes devem procurar manter
arquivos atualizados com narrativas de ocorrências delituosas, fotos, retratos-falados de
criminosos. Informações sobre todas essas ações que se consiga coletar devem ser levadas ao
conhecimento dos funcionários pois, do contrário, ele acabarão sendo vítima dos mesmos
elementos e/ou da mesma tática que já foi utilizada com sucesso anteriormente contra uma outra
loja, seja ela da mesma rede ou não.

Certa vez, em uma de suas famosas cartas, o Duque de Wellington pedia desculpas a seu
interlocutor por não conseguir se expressar de forma mais resumida.... Com a idéia de poder
transmitir algo da minha própria experiência prática no gerenciamento da segurança uma rede de
fast-food – sobretudo numa época em que a segurança se faz tão necessária – me vi confrontado
com a mesma situação. Este artigo e conjunto de “dicas” que ele encerra de forma alguma
pretendem esgotar o universo de conhecimentos desejáveis, a fim de se garantir o funcionamento
seguro de um restaurantes de comida rápida na perigosa selva em que vem se transformando as
nossas grandes cidades. Não abordei o problema do terrorismo e sei que aspectos essenciais da
segurança em face das fraudes praticadas por funcionários (matéria que por si só acarretaria um
outro artigo de tamanho idêntico) certamente deixaram de ser abordados; mas caso haja
conseguido auxiliar outros profissionais de segurança ou mesmo funcionários do ramo do fast-
food (os quais, normalmente, pouco compreendem ou conseguem enxergar sobre a atividade de
segurança) acredito que terei alcançado o meu objetivo.

VINICIUS DOMINGUES CAVALCANTE, CPP o autor, é consultor em segurança especializado


em segurança de personalidades e inteligência. Graduando em Gestão da Segurança pela
Universidade Estácio de Sá (RJ), foi a Gerente de Segurança Corporativa da rede de restaurantes
fast-food BOB’s.

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