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O ESTADO DE ISRAEL,
SOBERANO, AOS SEUS 70 ANOS
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Carta ao leitor
O Estado de Israel completará 70 anos de existência, Nossa convicção de que retornaríamos ao nosso lar
este ano, em Yom Ha’Atzmaut, Dia da Independência. eterno e à “mais bela das cidades” manteve-nos vivos
Por um lado, o Estado Judeu é um país muito jovem. durante uma longa e dolorosa diáspora. Foi também
Por outro, o vínculo entre o Povo Judeu e a Terra de esse anseio que deu aos judeus a coragem para lutar
Israel é muito antigo: judeus vivem ininterruptamente e perseverar apesar de todos os sofrimentos aos quais
na Terra de Israel há mais de 4000 anos. Desde a queda fomos submetidos, mantendo nosso povo de pé até
da antiga Israel até a fundação do Estado renascido, a mesmo nos campos de extermínio.
Terra Santa nunca se tornou um estado independente e
Jerusalém nunca foi considerada a capital de nenhum O profeta Zacarias declarou: “Assim diz o Senhor dos
outro país. Assim como nosso povo sempre sonhou Exércitos: idosos e idosas voltarão a sentar-se nas ruas
em voltar à sua antiga pátria e capital, a Terra de Israel de Jerusalém... e as ruas da cidade estarão cheias de
e Jerusalém esperaram ansiosamente o retorno de seus meninos e meninas brincando” (Zacarias 8:4-5).
filhos. Esse sonho se tornou realidade há 70 anos.
Com a fundação do Estado de Israel, cumpriu-se
A geração que sofreu a maior catástrofe na história essa profecia. Hoje, judeus de todas as idades vivem
judaica – o assassinato de sete milhões de judeus, foi em Jerusalém e falam a mesma língua que falavam os
também a que testemunhou a realização de um sonho Profetas. O retorno do Povo Judeu a sua Terra ancestral
de 2000 anos: o retorno do Povo Judeu à Terra de Israel é prova de que as profecias bíblicas, cedo ou tarde,
e a Jerusalém. realizam-se.
A breve história do Estado de Israel é extraordinária – A fundação do Estado de Israel é, portanto, significativa
quase inacreditável. Somos um povo que se reergueu das não apenas para o Povo Judeu, mas para toda a
cinzas de Auschwitz para retornar à sua antiga pátria e lá humanidade, pois constitui o início de um processo que
construir um país moderno, forte e vibrante. levará à Era Messiânica – a tão sonhada utopia – o dia
em que haverá paz não apenas em Jerusalém, mas em
David Ben-Gurion, fundador do Estado de Israel, todo o mundo. Quando chegar esse dia, a humanidade
afirmou que “Em Israel, para ser realista, é necessário não mais conhecerá guerras ou conflitos: não haverá
acreditar em milagres”. É um milagre que um país nenhum tipo de sofrimento ou pobreza, e a morte será
desprovido de recursos naturais e que teve de lutar apagada do mundo.
tantas guerras e conflitos conseguisse absorver milhões
de imigrantes – a maioria deles, refugiados – enquanto Em poucas semanas, o jovem Estado de Israel celebrará
construía um estado próspero e democrático. seu 70º aniversário. No judaísmo, o número sete e todos
os seus múltiplos são altamente significativos.
Mas o Estado de Israel é muito mais do que uma O número sete indica o fim de um ciclo e o início de
superpotência militar e um país inovador e vibrante. outro. Simboliza, também, a paz. Nossa esperança é que
É, também, o lar eterno e o sonho coletivo de todo um um novo ciclo se inicie em Israel e se espalhe por todo o
povo. mundo: uma era de paz e segurança para todos os seus
habitantes.
Além de ser a pátria eterna do Povo Judeu, a Terra
de Israel está entrelaçada com a alma coletiva de seus Chag Pessach Sameach!
filhos. Há dois mil anos, todos os dias, sem exceção,
oramos pelo retorno de nosso povo à Terra de Israel e à
Jerusalém. Há dois mil anos concluímos todo Seder de
Pessach com as palavras, “Ano que vem, em Jerusalém”.
ÍNDICE
13 26
42 48
52 67
03 carta ao leitor 18 CAPA
Israel - 70 anos
por zevi ghivelder
13
SABEDORIA
34 shoá
A grandeza de ser judeu A resistência judaica
por rabino jonathan sacks durante o Holocausto
4
REVISTA MORASHÁ i 99
06
18
42
educação 48 destaque
Inovação A Polônia e a negação do passado
por JAIME SPITZCOVSKy
Escola Beit Yaacov fica novamente
entre as melhores escolas de São Paulo 52 comunidades
no ENEM A vida dos judeus em Fez
5 ABRIL 2018
NOSSAS GRANDES FESTAS
Os Quatro Filhos
do Seder de Pessach
Um dos temas centrais do Seder de Pessach são os
quatro filhos - suas perguntas e as respostas fornecidas pela
Hagadá: o Chacham – filho sábio; o Rashá – filho malvado;
o Tam – filho tolo; e o She’einó Yodea Lishol – aquele que não
sabe perguntar.
S
ão inúmeras as interpretações do que o Eterno, nosso D’us, ordenou-lhes? A Hagadá
simbolismo de cada um dos quatro nos orienta a dar a ele a seguinte resposta: “De acordo
filhos. Neste trabalho, apresentaremos com as leis de Pessach, não nos é permitido comer nada
ideias que podem ser muito diferentes do depois do Corban Pessach, do sacrifício de Pessach”.
entendimento que muitas pessoas têm dessa
passagem tão conhecida da Hagadá. Ano após ano, lemos É importante observar que em nossos dias, na ausência
esse texto sagrado durante o Seder, mas muitos de nós do Templo Sagrado de Jerusalém, não há Corban
não dão grande atenção ao que o mesmo nos transmite. Pessach, sacrifício de Pessach. Comemos, em seu lugar,
Se analisarmos cuidadosamente as perguntas feitas uma quantidade adicional de Matzá, chamada de
pelos filhos e as respostas da Hagadá, perceberemos que Afikoman, ingerida após terminar o Shulchan Orech
são enigmáticas. Na verdade, é difícil entender o quão (a refeição festiva de Pessach). Após comer o Afikoman,
relevantes são as respostas às perguntas dos filhos e como não nos é permitido consumir nada além dos dois
respondem ao que eles parecem perguntar. copos adicionais do vinho do Seder – que tomamos
após recitar Birkat HaMazon, a Benção após as
Quem estuda a Hagadá em profundidade, percebe que Refeições, e ao término da leitura da Hagadá.
não se trata apenas de um texto sagrado, mas também O Afikoman é, pois, a última coisa que podemos comer
de uma obra genial. Como veremos adiante, a passagem antes de nos deitarmos.
que trata dos quatro filhos contém lições extraordinárias
e atemporais. Voltemos à pergunta do filho sábio. O que ele pergunta,
exatamente? Será que desconhece as leis de Pessach ou
O Filho Sábio as três categorias básicas de mandamentos da Torá:
Edot, Chukim e Mishpatim? Ainda mais enigmático: de
O primeiro a fazer uma pergunta é o Chacham – o que maneira a lei que proibe ingerir qualquer alimento
filho sábio. Ele pergunta: “Quais são os Testemunhos após comer o Afikoman responde à sua pergunta?
(Edot), os Decretos (Chukim) e as Leis (Mishpatim) Antes de responder, é importante observar que o
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REVISTA MORASHÁ i 99
primeiro filho mencionado na “vocês”, em vez de “nós”. O filho alimentação casher) e Mishpatim
Hagadá não é chamado de Tzadik – sábio, no entanto, também fala na (os mandamentos racionais,
o ser humano justo; mas é chamado segunda pessoa do plural – não na cujas motivações qualquer pessoa
de Chacham – aquele que é sábio. primeira pessoa do plural. Pergunta: sensata pode entender). Contudo, a
O fato de alguém ser um Chacham “Quais os Testemunhos, Decretos e pergunta dele é simplista e ampla.
não o torna necessariamente um Leis que o Eterno ordenou a vocês?”. E deveria nos surpreender porque
Tzadik. A pessoa pode ser muito Como o filho malvado, ele também assim como o Rashá, ele também
sábia, mesmo em questões da Torá, não se inclui na pergunta, pois diz não se inclui nessa pergunta. Será
e ainda assim ser uma pessoa má. “vocês”, e não “nós”. que o Chacham acredita que as três
Contrariamente ao que a maioria categorias da Lei da Torá não se
pensa, o filho sábio não é a antítese É verdade que a pergunta do aplicam a ele? Se assim for, então o
do segundo filho do Seder, a quem a Chacham é mais elaborada do que a Chacham não é exatamente o judeu
Hagadá chama de Rashá – malvado. do Rashá. O filho sábio menciona ideal que muitos de nós pensamos
Se analisarmos com atenção D’us, a Ele se referindo como “nosso que seja. Então, quem ele é?
as perguntas que fazem o filho D’us”, ao passo que o malvado não
sábio e o malvado, veremos que faz menção ao Todo Poderoso. O filho sábio simboliza pessoas
as duas não são muito diferentes. A pergunta do primeiro filho que se julgam bem-informadas,
Consideremos o seguinte: a Hagadá também revela o fato de que ele esclarecidas e intelectualmente
critica o Rashá devido à maneira está ciente de que os mandamentos superiores. Para elas, o intelecto
como ele se expressa. Ele pergunta: da Torá se enquadram nestas três e a razão são fundamentais.
“O que este serviço significa para categorias: Edot (mandamentos Consequentemente, é possível
vocês?”, em vez de perguntar: “O referentes ao Shabat e às datas que o Chacham não aceite seguir
que este serviço significa para nós?”. sagradas), Chukim (quase sempre leis da Torá que não entende ou
Ele é considerado um filho “mau” mandamentos esotéricos, como com as quais não concorda. As que
por causa de uma única palavra – certas leis relacionadas à Cashrut – ele entende – sejam Edot, Chukim
7 abril 2018
NOSSAS GRANDES FESTAS
os decretos e determinações de um
Ser Infinito. Na verdade, são muitos
os mandamentos do Judaísmo –
Edot, Mishpatim e Chukim. Há
mandamentos bíblicos e rabínicos.
Alguns deles você entenderá e
apreciará, outros, não. Mas saiba que
todos são expressões da Vontade e
Sabedoria Divina. Talvez todas essas
leis pareçam sem importância para
você, mas elas constituem a ponte
que permite que o homem finito se
conecte com D’us Infinito.
O Filho Malvado
ou Mishpatim – ele as segue. Os rodeios, que o Judaísmo se define
mandamentos que ele não entende pelas leis da Torá – racionais e O Rashá, o filho “malvado”, é um
– os que ele julga irracionais ou lógicas, ou não – que D’us espera enigma menor do que o sábio.
ilógicos – talvez ele não os cumpra. que cumpramos. Um exemplo dessas Facilmente identificável, é a pessoa
leis é a proibição de ingerir o que que participa do Seder para causar
Agora que entendemos quem é quer que seja além dos dois copos de confusão. Argumenta, questiona
o filho sábio, podemos entender vinho depois de comer o Afikoman. e, às vezes, zomba do ritual e
sua pergunta. Ele vem ao Seder e Essa lei é simbólica de muitos dos dos que o conduzem. Pergunta
questiona por que razão esse ritual e mandamentos detalhados e técnicos aos que o rodeiam: “O que este
a festa de Pessach – que celebra nossa do Judaísmo, que nos ensinam que serviço significa para vocês?”. Ele
liberdade – são cercados de tantas D’us conhece todos os detalhes de não se inclui na pergunta porque,
leis tão minuciosas, tão complexas nossa vida, inclusive o que comemos, claramente, o Seder e tudo o que
e, aparentemente, tão sem lógica. como comemos, e quando comemos. representa nada significam para ele.
Ele não entende por que motivo o
judaísmo tem tantas leis, bíblicas Se o filho sábio crê que leis como a Antes de relatar a resposta da
e rabínicas. Por essa razão ele não do Afikoman não são importantes, Hagadá à pergunta desse filho,
se inclui quando pergunta sobre ele claramente não entende bem o é importante considerar o que
os mandamentos do Judaísmo - os propósito da Torá. O Judaísmo não faz um judeu voltar-se contra o
Edot, os Chukim e os Mishpatim. Na visa à meditação ou ao nirvana e Judaísmo. Há várias possibilidades.
verdade, o que ele está perguntando, não constitui uma filosofia de vida. Pode ser um grito pedindo atenção;
é: “Vocês realmente creem que um O Judaísmo visa à ligação com D’us mas, em muitos casos, o Rashá
D’us Infinito Se preocupa com Infinito mediante o cumprimento é alguém que já foi religioso e
as várias Leis e ramificações do de Sua vontade – e a única forma se desiludiu do Judaísmo que
Judaísmo, tão técnicas e detalhadas? de fazê-lo é estudando Sua Torá e lhe transmitiram. Esse filho é
Será que realmente faz diferença cumprindo Seus mandamentos. Isto geralmente aquele cujos pais,
para D’us se eu como 10 ou 30 é o que a Hagadá tenta transmitir ao professores ou rabinos ensinaram um
gramas de Matzá, e se me reclino, filho sábio: você pode ser inteligente Judaísmo opressivo e maçante – que
ao comer, ou não? Não deveríamos e questionador, você pode ler sufoca a alma em vez de libertá-la
estar mais preocupados com as ideias muito e ser um pensador; mas não e fortalecê-la – ou um Judaísmo
e ideais grandiosos do Judaísmo do ouse presumir o que D’us espera fraco, falso e inexpressivo, destituído
que com essas minúcias?”. Uma vez do homem. Abraçar o Judaísmo de verdade, subsistência, força e
entendida a linha de pensamento significa cumprir os mandamentos beleza. Isso pode ser extremamente
do Chacham, podemos apreciar a da Torá, muitos dos quais não nocivo, especialmente para os que
profunda sabedoria da resposta da são inteiramente compreensíveis, são mais sensíveis e questionadores.
Hagadá a ele. Ao mencionar a lei simplesmente porque o homem, ser Quem está espiritualmente ligado e
do Afikoman, a Hagadá ensina, sem finito, não pode jamais entender procura a Verdade pode ficar muito
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9 abril 2018
NOSSAS GRANDES FESTAS
se comprometer com coisa alguma necessário agir de forma proativa. o verbo la’daat, (“saber”) não
e nas raras ocasiões em que o faz, A Hagadá ensina-lhe que a menos significa apenas saber algo, mas
geralmente não vai em frente. É fácil que aprenda a agir com “mão forte”, estar envolvido com esse algo. Por
identificar o Tam. Raramente vai à ele nunca será verdadeiramente livre: exemplo, é um eufemismo usado para
sinagoga. Pode ser que assista a uma continuará escravo, confinado pelas descrever as relações íntimas entre
aula de Torá uma ou outra vez, mas limitações da vida passiva e sem alma um homem e uma mulher. Portanto,
não retorna. Pode comprar livros que escolheu para si. a definição de She’einó Yodea Lishol
sobre Judaísmo, ler algumas páginas, é alguém que não tem interesse de
mas logo fechará o livro para nunca Aquele que Não perguntar. Ele está menos envolvido
mais tê-lo em mãos. Nada o comove, Sabe Perguntar no Seder do que o Tam. Pode estar
inspira ou estimula. Não é pró nem fisicamente presente, mas não está
contra o Judaísmo. Na verdade, isso O quarto filho, e último do Seder, é o nem remotamente interessado no
tudo se aplica a outras áreas de sua She’einó Yodea Lishol: aquele que não que acontece à sua volta.
vida: não tem entusiasmo por nada, sabe perguntar. Como ele está calado
nem senso de compromisso ou – pois nem se preocupa em fazer Diz-se que o contrário de amor não
disciplina. uma pergunta –, a Hagadá nos instrui é ódio, mas indiferença. Se isso é
a iniciar a conversa e lhe dizer que verdade, o filho mais problemático
Tendo entendido quem é o “D’us fez milagres para mim quando do Seder não é o Rashá nem é o Tam;
Tam, podemos apreciar com que deixei o Egito”. é o She’einó Yodea Lishol, o que não
brilhantismo a Hagadá se dirige a sabe perguntar. Para ele, o Judaísmo
ele, dizendo a esse terceiro filho que Enquanto o Chacham está em um não significa nada. Nada tem contra,
D’us não nos livrou simplesmente nível mais elevado do que o Rashá, mas nada tem a favor da Torá. Ele
do Egito, mas que o fez “com Mão e este, apesar de suas sérias falhas, está presente no Seder, mas nem se
forte”. é superior ao Tam, o quarto filho preocupa em discutir, argumentar,
– que não sabe perguntar – está no protestar ou questionar. O Judaísmo
O que a Hagadá transmite ao nível mais baixo de todos. O Tam não o inspira nem o incomoda.
Tam é que a salvação, a libertação é indiferente, mas ao menos se
e qualquer forma de progresso preocupa em fazer uma pergunta Por que há judeus que nem se dão ao
e realização na vida exige que no Seder. O filho que não sabe trabalho de perguntar? Talvez porque
ajamos com “mão forte”: com força, perguntar nem sequer se preocupa o único Judaísmo que estudaram
persistência, entusiasmo, paixão, em questionar algo. foi totalmente irrelevante para sua
comprometimento e esforço. vida. É bem possível que o filho que
A Hagadá alerta o filho Tam que Esse filho nem se preocupa em fazer não sabe perguntar tenha chegado
não se pode viver passivamente; é alguma pergunta. Em hebraico, a frequentar uma sinagoga, mas
sempre ouvia as mesmas prédicas
repetitivas e não inspiradoras, e
concluiu que o Judaísmo não era
para ele.
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11 abril 2018
NOSSAS GRANDES FESTAS
apenas um quinto filho, mas também – filhos de nosso patriarca Yaacov. descobrir sua identidade e herança
um sexto. Enquanto o quinto filho Só nos tornamos uma nação quando espiritual. O Talmud Bavli (Tratado
não participa de um Seder, o sexto D’us nos libertou da escravidão Berachot, 3a) compara o exílio do
nem mesmo sabe que se faz o Seder. egípcia e nos deu a Torá, 50 dias Povo Judeu a filhos que já não
Infelizmente, há um excesso de depois, no Monte Sinai. Assim sentam mais à mesa de seu pai.
sextos filhos. São tantos os judeus sendo, Pessach é, indiscutivelmente, A Hagadá emprega a metáfora dos
fora de Israel, inclusive aqui no a mais judaica dentre todas as quatro filhos em torno da Mesa
Brasil, que não têm conhecimento nossas festas. Isso explica por que do Seder para nos ensinar que D’us
algum sobre o Judaísmo; muitos o quarto filho, aquele que não sabe deseja que todos os Seus filhos
deles nem mesmo sabem o que o perguntar – alguém que não liga estejam próximos a Ele – mesmo
Seder de Pessach representa. para o Judaísmo – participa do Seder. o filho rebelde, o desligado e o
Apesar de sua falta de interesse, algo desinteressado. A missão de cada
As estatísticas que seguem revelam dentro de si o força a comparecer. judeu é, portanto, trazer todos os
a importância do Seder de Pessach Enquanto ele está à mesa do Seder, filhos, inclusive o quinto e sexto
para o Povo Judeu: 94% dos judeus mesmo que fique em silêncio, talvez filhos, à Mesa de Seu Pai. Quando
que vivem em Israel participam dessa esteja atento ao que a Hagadá tem todos estiverem de volta, haverá
cerimônia. É muito maior o número a lhe dizer. De fato, a mensagem da salvação e redenção para os Filhos
de judeus em Israel que vão a um Hagadá a cada um dos quatro filhos de Israel e para o mundo inteiro.
Seder do que o daqueles que jejuam é simplesmente genial. No entanto,
em Yom Kipur ou vão à sinagoga mesmo esse texto sagrado e brilhante Que isso possa se concretizar logo:
em Rosh Hashaná. Isso porque não chega àqueles filhos que não bekarov be’yamenu. Amén, ken yehi
o Seder celebra o nascimento e a estão presentes na mesa do Seder: o ratsón.
independência do Povo Judeu. Talvez quinto e o sexto filhos.
Pessach não seja tão sagrado como
Yom Kipur nem tão alegre quanto Não há mandamento maior no
Bibliografia:
Sucot, mas é a festa que celebra a Judaísmo do que aproximar um
Rabbi Y.Y. Jacobson - How to Address the Four
origem de nosso povo. Antes do judeu de D´us e de seu povo, sua Sons in our own Homes and Communities - https://
Êxodo, éramos uma família no Egito história e sua religião, ajudando-o a www.theyeshiva.net/jewish/2763
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SABEDORIA
Rabi J. Sacks
Cúpula 2017 da OLAMI, Londres, 4 de janeiro de 2018
A
migos, vocês constituem um grupo muito considerado hoje o ancestral em termos de religião de
especial e eu preciso confessar-lhes 2,4 bilhões de cristãos, 1,6 bilhão de muçulmanos e ...
algo. Eu me perguntava por que razão alguns de nós, a maioria dos quais aqui reunidos esta
Hashem havia arquitetado este encontro noite. Esse homem não usava coroa, não reinava sobre
do grupo Olami, Olam Ha’Yehudi, o nenhum império, não comandava nenhum exército
mundo judaico, aqui em Londres, às margens do poderoso, não realizava milagres nem profetizava –
Tâmisa. E, de repente, me dei conta de que devia ser mas ele mudou o mundo com sua fiel determinação
pelo fato de que, não muito longe daqui, também às de atender ao chamado de D’us. Nós somos os
margens do Tâmisa, um homem que não era judeu descendentes de Moshé Rabeinu, a quem Jean-Jacques
– alguém que eu realmente queria que tivesse sido Rousseau, a inspiração da Revolução Francesa, intitulou
judeu – William Shakespeare, aqui esteve. Por isso, “o maior legislador na história da humanidade”.
quero citar um verso de Shakespeare que julgo ser Tenho que lhes contar algo. Tenho assento, hoje em
capaz de transformar a vida da pessoa. É um verso dia, na House of Lords, Câmara dos Lordes; é difícil
da peça Twelfth Night (Noite dos Reis), que vai juntar um “minian”, como sabem aqueles que estão
diretamente ao âmago do que significa ser judeu. E acostumados a ouvir meus discursos. Costumam me
ele diz: “Alguns nascem grandes. Alguns alcançam perguntar qual é melhor: a House of Lords ou a “house
a grandeza. Mas alguns têm a grandeza imposta a of the Lord” – a sinagoga, a casa do Senhor? E eu
eles...”. Desde jovem eu percebi que não nascera respondo: “Sempre prefiro a sinagoga, porque nela o
grande nem iria alcançar a grandeza; mas em certo rabino é o único a fazer o sermão. Na House of Lords,
momento de minha vida, na faculdade, percebi que se Câmara dos Lordes, todos fazem sermões”. Mas tenho
você é judeu, você tem a grandeza imposta a você. que lhes contar que há um salão magnífico usado para
os trabalhos do comitê, chamado de Moses Chamber,
De que maneira? Como? Porque somos os herdeiros o aposento de Moshé. E quando meu predecessor,
dos descendentes do homem mais influente que já o saudoso Rabino Chefe Lord Jakobovits foi
existiu, Avraham Avinu, nosso Patriarca Avraham, apresentado à Câmara dos Lordes, eles lhe disseram:
13 abril 2018
SABEDORIA
“Congratulações. O Sr. é o primeiro a Sergey Brin da Google e Mark chineses. Quando eu estive lá, sob
rabino nesta Câmara”. Ao que o Zuckerberg do Facebook, e a maior domínio chinês, tive um encontro
Rabino Chefe, apontando para o invenção em tecnologia do mundo, com o delegado de Beijing em
enorme quadro que cobre toda a chamada Waze, conhecida como Hong Kong, Sr. Tung Chee-hwa,
parede, de Moshé Rabeinu trazendo Google Maps. Vocês sabem quantos primeiro governador, governador
os Dez Mandamentos do Monte casamentos o Waze salvou? Ou chinês de Hong Kong, um homem
Sinai, disse: “Não; ele foi o primeiro. quantos casamentos desmoronaram encantador que amava e admirava
Eu sou apenas o segundo”. porque ele disse a ela: “Por que você o judaísmo. Ele me disse: “Rabino
não olhou no mapa?”. E ela disse a Sacks, nós, chineses, sabemos que
Somos os descendentes de David ele: “Por que você não perguntou os judeus existem há longo tempo.
Ha-Melech, não apenas o maior como se chegava lá? ”. Amigos, Nós existimos há uns 5.000 anos.
rei de Israel, mas o maior poeta no mundo todo o Waze tem Vocês, há 6.000 anos. O que sempre
religioso em toda a História. contribuído para o Shalom Bayit, a quis saber é o que vocês faziam nos
Somos os herdeiros dos profetas, paz no lar... primeiros 1.000 anos, antes de existir
dos primeiros críticos sociais do delivery de comida chinesa casher???”.
mundo, do primeiro povo a dizer Digo-lhes algo mais. Os judeus E eu lhe disse: “Sr. Tung, nos
a verdade aos poderosos. Quando não inovaram apenas uma única primeiros 1.000 anos nós vivíamos
Martin Luther King, no Memorial vez. Eles inovaram geração após reclamando da comida...”.
de Lincoln, em Washington, fez seu geração. E apesar de que algumas
discurso “I have a dream”, “Eu tenho das personalidades citadas não E é isso aí. Nós já existimos há
um sonho”, no auge desse discurso fossem especialmente religiosas, mais tempo do que quase todos os
o que ele cita, palavra por palavra? cada uma delas manteve aquela ideia povos. Estivemos espalhados em
Nada menos do que dois pessukim, essencialmente judia de que você todos os países do mundo. Nesses
dois versos de Isaías da Haftará do transforma o mundo não pela ideia países, conhecemos todo tipo de
Shabat Nachamu. de poder, mas pelo poder das ideias sorte, do apogeu do triunfo às
– e isso é o que o judaísmo significa. profundezas da tragédia, e ainda
Somos seus herdeiros, e não apenas Somos o povo cujos heróis são assim, nunca antes na História
deles; mas em toda a História professores, cujas fortalezas são casas Judaica tivemos duas coisas que hoje
fomos inovadores no que quer que de estudo, cuja paixão é o estudo e a temos, simultaneamente: soberania
fosse, em qualquer disciplina, em vida da mente. E este é o problema. e independência em Medinat Israel,
Física, Ciências, Sociologia, ou com Vejam: é por isso que cada um de e liberdade e igualdade na Diáspora.
Durkheim e Levy-Strauss vocês é importante, porque hoje há, Houve épocas em que gozávamos
em Sociologia e Antropologia. que D’us nos proteja, por volta de 13 de uma, mas nunca antes, das duas.
Os judeus inventaram Hollywood. milhões de judeus. Isso é pouco, uma E hoje, quando todas as orações de
Os judeus inventaram a Psicanálise. minoria. Mas esse não é o problema. nossos avós e dos avós deles, há cem
O problema é que onde quer que se gerações atrás, quando cada uma
Tirando-se Jung, todos os olhe, mundo afora, um em cada dois, dessas preces foi respondida, ... o que
psicanalistas eram judeus. Mas nesse e dois em cada três jovens judeus nós estamos fazendo? Estamos nos
ponto eu sempre digo: se você não é estão-se afastando do judaísmo. E afastando...
judeu, para que Psicanálise??? Todos isso dói.
os grandes psicoterapeutas, ou Isso é mau. Isso dói. E é por isso
quase todos, Viktor Frankl; Aaron E lhes digo porque isso dói. Os que quando eu estava na faculdade,
Beck, o co-fundador da Terapia judeus existem há muito tempo. eu dizia: “Não posso ser parte disto.
Comportamental Cognitiva; Martin Existimos há mais que o dobro do Vou ser mais judeu, não menos”.
Seligman... Trinta e seis por cento tempo do que o Cristianismo; ao Eu não pretendia, nem em sonho,
dos Prêmios Nobel em Economia, triplo do tempo que o Islamismo. ser rabino, mas tomei uma decisão,
incluindo este último; os maiores Lembro-me de quando eu a de que não podia ser um daqueles
músicos, de Arnold Schoenberg era Rabino Chefe, eu e parte que se afastam. E se vocês tomarem
aos maiores poetas na música pop, da Commonwealth Britânica essa mesma decisão de serem mais
o saudoso Leonard Cohen, Paul costumávamos ser “Hong Kong” judeus, não menos, juntos vocês
Simon e Bob Dylan, até chegar até que tivemos que devolvê-lo aos mudarão o curso da História Judaica.
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REVISTA MORASHÁ i 99
Bem, mas vocês sabem, e eu com. Havia milhares de mecanismos precisar de certas forças para se sair
também sei, que não é fácil ser de busca (search engines1) antes do bem, prosperar e ter sucesso.
judeu. Google, mas você descobre que é um Quero contar-lhes por experiência
Larry Page e um Sergey Brin e você própria o que esse algoritmo de
Há todas aquelas leis, todo descobre o algoritmo certo... e aí Torá fará em sua vida. Em primeiro
aquele estudo, todas aquelas você pode mudar o mundo. lugar, fortalecerá todos os seus
restrições; a quem você pode Há muito tempo atrás, em um relacionamentos importantes. Não
desposar, o que você pode comer, deserto árido, no sopé de uma há casamentos mais sólidos do que
quando você tem que descansar. montanha no Sinai, D’us transmitiu entre os judeus religiosos. Ninguém
Mas quero dizer-lhes algo. Sabem a um povo, um povo pequeno, tem sentimentos de comunidade
de uma coisa? Tudo hoje – foi fragmentado e obstinado, com mais fortes do que os judeus.
meu neto que me explicou o nada que o pudesse distinguir Ninguém tem o mesmo senso de
que vou-lhes contar. [É por isso especificamente... e Ele lhes responsabilidade coletiva que têm
que temos netos...]. Meu neto transmitiu um algoritmo. Era os judeus, no mundo todo, pois
me disse que “tudo hoje é um chamado de Torá, e esse algoritmo “Kol Yisrael Arevim Zé Ba’zé”
algoritmo”. O que é um algoritmo, fez deles o povo mais notável, tenaz – Todos os judeus são responsáveis
isso eu não faço a menor ideia. e inconformado com seu destino uns pelos outros. Shimon bar Yochai
Quando eu era pequeno, tínhamos como jamais se viu no mundo. disse: “Quando um judeu está ferido,
“ritmo”, mas não tínhamos ainda o Como isso funciona, não lhes sei todos os judeus sentem sua dor”.
“algo”, do “algoritmo”, isso eu sei. dizer. Mas sei que funciona, isso sim. Ninguém tem relacionamentos
E sei que sem o algoritmo você E vocês estão para embarcar num como os nossos. Creiam-me.
pode ter uma pequena livraria futuro; cada um de vocês tem sonhos Sozinhos, vocês não conseguirão
de bairro; mas se você tem o e planos; e estão para entrar em um viver e encontrar felicidade e sucesso.
algoritmo, você vira uma Amazon. futuro no qual nada é previsível; Todos os estudos demonstram
o mundo está mudando mais que seu sucesso e sua felicidade
1
Mecanismo na Internet que possibilita a rápido do que nunca, e essa rapidez dependem da intensidade e
busca de informações. aumenta a cada ano; e vocês vão qualidade desses relacionamentos
15 abril 2018
SABEDORIA
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REVISTA MORASHÁ i 99
Bem, Dan Brown quer provar, a partir eventos no mundo moderno foi a e soberania de Medinat Israel, de
dessa teoria, que não é necessário descoberta da seleção natural por liberdade e igualdade na Diáspora,
acreditar em D’us para explicar a Charles Darwin e seu consequente e vivamos, realmente orgulhosos,
origem da vida. Vou dizer-lhes o abandono, da religião. Hoje, o como judeus, fieis à nossa fé,
que é fascinante nisso. O verdadeiro “próximo Charles Darwin” fez como uma bênção aos demais,
Jeremy England, pois ele existe, uma descoberta, possivelmente tão independentemente de sua religião.
respondeu o seguinte a Dan Brown grande quanto a da seleção natural, e E, juntos, vamos transformar o
em um artigo no The Wall Street encontrou a religião, e encontrou sua mundo!
Journal, há poucas semanas: “Dan fé como judeu crente e praticante.
Brown, não me use para refutar D’us
porque eu creio em D’us”. Jeremy Acredito que isto seja um ato de
England cresceu como judeu secular, Kidush Hashem, de Santificação
Palestra proferida em 4 de janeiro de
não praticante. Aos 20 anos de idade, do Nome de D’us. E lhes contei 2018 na reunião anual de cúpula da
ele tomou uma decisão: “Vou me esta história para mostrar que uma organização OLAMI. Presentes mais de
1.400 líderes judeus jovens, de mais de
tornar um judeu religioso”. Hoje decisão como essa pode mudar sua 100 organizações em mais de 20 países,
com a presença do Sr. Naftali Bennett,
ele vive e pratica o judaísmo com a vida e ajudar, de alguma maneira, Ministro para Assuntos da Diáspora de
crença de um judeu ortodoxo. E eu a mudar o mundo. O físico Jeremy Israel.
tenho que lhes dizer que para mim England tomou essa decisão
Tradução: Lilia Wachsmann
isso é um momento de pura poesia. quando tinha a idade de vocês.
Por quê? Porque um dos maiores Eu tomei essa decisão quando
tinha a idade de vocês; e agora
vocês precisam tomar essa decisão.
Transformem-se e vocês começarão
3
Internet Movie Database (ou Base de a transformar o mundo. Eu lhes Rabino Lorde Jonathan Sacks
Dados de Filmes na Internet) - uma prometo que daqui a alguns anos, Foi Rabino Chefe das Congregações
base de dados online de informação Hebraicas Unidas da Commonwealth
sobre música, cinema, filmes, programas olharão para trás e dirão que essa e presidente do Beth Din de 1991 a
e comerciais para televisão e jogos de foi a melhor decisão de sua vida. 2013. Desde 2009, membro da House of
computador, atualmente pertencente à Lords. Atua, hoje, como Professor
de Pensamento Judaico na New York
Amazon.com.
4
Spoiler (na mídia), é a revelação antecipada
Aproveitemos, juntos, este University e na Yeshiva University e
Professor de Direito, Ética e Bíblia no
do enredo de filmes e livros. momento único de independência King’s College de Londres.
17 abril 2018
CAPA
ISRAEL - 70 ANOS
POR Zevi Ghivelder
O
parágrafo acima não é uma calorosa de cem anos atrás. Trata-se de uma carta elevada à
exaltação em busca de aplauso, mas o condição de documento, tanto assertiva quanto evasiva,
rigor de uma sóbria verdade. Agora, mas que causou impacto por dar legitimidade ao
quando o Estado Israel celebra os incipiente movimento sionista e, assim, promover a
primeiros 70 anos de sua soberania, sua inserção no cenário internacional. Por isso até hoje
identificado com judeus mundo afora, deve-se tecer suscita polêmicas, quase sempre redundantes.
uma importante consideração. De todos os países A terceira fundação se assentou na declaração também
que foram criados no planeta depois da 2ª Guerra centenária, da partilha da antiga Palestina, em 1947,
Mundial, nenhum deles, nenhum mesmo, com pouco pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Mas, nessa
mais ou pouco menos de 70 anos de existência, crucial etapa ocorreu uma ainda irreparável fissura. Os
alcançou como Israel um nível tão elevado na países árabes rejeitaram a resolução. Impediram que
economia, na infraestrutura civil e militar, em múltiplas os palestinos residentes no território que lhes caberia
ciências, na tecnologia e na informática, nas artes e na criassem seu próprio estado independente e, dessa
cultura, na igualdade de gêneros, no bem-estar social e maneira, deram origem ao conflito que há 70 anos
na prática da democracia. perdura entre eles e Israel.
Conforme se procede em toda sólida construção, a Nos pilares individuais avulta um homem excepcional
recriação do Estado Judeu contou com fundações e e inigualável: Eliezer Ben Yehuda. Nascido Eliezer
pilares, sendo estes constituídos por ações individuais Perelman, na Lituânia, em 1858, ele foi o artífice do
e coletivas. A primeira fundação para o erguimento da renascimento do idioma hebraico, naquele tempo
morada ancestral do povo judeu foi fixada em agosto restrito aos rituais litúrgicos. Sionista ardente desde
de 1897 quando da realização do Primeiro Congresso a juventude, formulou um conceito tão simples
Mundial Sionista, na Suíça, sob a liderança de Theodor quanto imbatível: se o sionismo de fato viesse a
Herzl. A segunda fundação corresponde à emissão resultar numa nova nação judaica, era imperativo
pelo império britânico da Declaração Balfour, de mais que incorporasse à sua ideologia um novo idioma, ou
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Tel Aviv
seja, o hebraico, antigo idioma dos visão do futuro para a nova nação: estímulo às pesquisas científicas e
patriarcas, profetas e reis do povo expansão das atividades agrícolas, uma postura política tão nacional
de Israel. Com vinte anos de idade, expansão da população produtiva, quanto universal. Ele começou
Ben Yehuda foi para Paris com a criação de raízes literárias a partir do a trabalhar na elaboração de um
finalidade de estudar medicina. ressurgimento do idioma hebraico, dicionário hebraico, mas foi expulso
Porém, contraiu tuberculose e foi de Jerusalém pelas autoridades
obrigado a abandonar a faculdade, turcas, como um “inimigo nacional”,
ao mesmo tempo em que se juntou ao eclodir a 1ª Guerra Mundial.
a um grupo de jovens sionistas. Ao
lado deles e junto com a mulher Passou um ano nos Estados Unidos
partiu para a antiga Palestina em e regressou à Palestina em 1919.
1881. Instalou-se em Jerusalém e em Participou, então, da criação da
sua casa só se falava hebraico. Seu Academia da Língua Hebraica
filho, mais tarde o escritor Itamar destinada a formular palavras em
Ben Avi, foi a primeira criança hebraico que se adaptassem às
daquela época a ter o hebraico modernidades do cotidiano. No ano
como idioma materno, fora poucos seguinte avistou-se com Sir Herbert
descendentes de antigas gerações Samuel, Alto Comissário britânico
de judeus que jamais emigraram para a Palestina, convencendo-o de
da Terra Santa. Ao lado de outros que a Palestina deveria adotar três
intelectuais, Ben Yehuda fundou línguas oficiais: inglês, árabe e
uma sociedade chamada Tehiat hebraico. Essa proposta consumou-se
Israel (Renascimento de Israel) Jovens de Jerusalém, celebram a
decisão da ONU de criar um Estado
num decreto dois anos depois.
cujo ideário tinha uma consistente Judeu, novembro de 1947 Nesse tempo Ben Yehuda trabalhava
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CAPA
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1 2 3
1. Inauguração do primeiro aeroporto internacional, Aeroporto Internacional de Lydda. Novembro 1948 2. Chegada
de imigrantes no navio Atzmaut, (Independência ), 1949 3. Visitantes cumprimentam o Presidente Chaim Weizmann, na
presença do Ministro do Exterior Moshe Sharett. Maio 1959
bem-sucedidas do mundo em função árabes se não contasse com um perdão oficial ao presidente. Ele
da abrangência de suas atividades. mínimo de capacidade militar no se recusou. Disse que, como judeu,
ar. Foi mandado para a Califórnia ajudar a criação do Estado de Israel
Outro pilar coletivo muito onde, após artimanhas e superando era uma obrigação moral; quanto
importante corresponde à equipe complicadas burocracias, comprou ao contrabando, argumentou que
de agentes do ishuv que ocupou antigos aviões de diversos portes. se tratava de uma desobediência
diversos aposentos de um hotel Em seguida, recrutou um grupo de civil também baseada em princípios
situado no número 60 da rua 14 pilotos judeus, também veteranos morais. Em 1950, voltou para Israel
Leste, em Nova York. Era um grupo de guerra, e cumpriu a proeza, atendendo a um chamado de Ben
de rapazes empenhados na tarefa contrariando as leis americanas, de Gurion que o incumbiu de instalar a
de comprar armas e munições para fazê-los voar primeiro para o México, Israel Aerospace Industries (Indústrias
o estado que seria criado. Contido, uma escala no Panamá, outra escala e Aeroespaciais de Israel), até hoje uma
tratava-se uma operação secreta, reabastecimento referência mundial nessa modalidade.
obrigada a despistar o FBI, porque a no aeroporo de Natal, no Brasil, Schwimmer foi o diretor-executivo
legislação americana aceitava vender novos reabastecimentos na África e desta empresa durante meio século
equipamentos excedentes da 2ª na Europa, até concluir a viagem em e, nos anos 1980, atuou como
Guerra Mundial, porém proibia que Lidda, perto de Tel Aviv. conselheiro industrial e de tecnologia
fossem destinados a quaisquer outros do primeiro-ministro Shimon Peres
países. Entre sustos sofridos por A ação de Schwimmer resultou de quem se tornou íntimo amigo.
causa da vigilância das autoridades nos primórdios da Força Aérea Em 2001, recebeu um perdão oficial
americanas e missões bem de Israel, que cumpriu missões do presidente Bill Clinton e, em
finalizadas, a ação desses agentes do decisivas para assegurar a vitória 2006, o prestigioso Prêmio Israel.
“Hotel 14”, conforme chamavam seu judaica na Guerra da Independência, Faleceu em 2011, aos 94 anos de
quartel-general, foi fundamental para com destaque para uma delas, em idade, em sua residência em Ramat
abastecer o futuro exército de Israel. julho de 1948, quando os pilotos Gan. Se a expressão “pai da pátria”
A par do que ocorria em Nova York, de Schwimmer dizimaram uma deixar seu conceito abstrato e
um homem extraordinário, chamado coluna de blindados egípcios que se buscar um exemplo concreto, há de
Al (Adolf ) Schwimmer, agia na aproximava de Tel Aviv. encontrá-lo de sobra na figura de Al
Califórnia. Nascido no Brooklyn, Al Schwimmer regressou para os Schwimmer.
Nova York, em 1917, foi piloto da Estados Unidos no ano seguinte. Foi
Força Aérea dos Estados Unidos acusado como transgressor do Ato No dia 13 de maio de 1948, Ben
durante a 2ª Guerra Mundial. Judeu de Neutralidade Americano, por ter Gurion estava reunido em Tel Aviv
convicto, procurou por iniciativa contrabandeado aeronaves para fora com seu Estado Maior, o Conselho
própria o pessoal do “Hotel 14”. do país. Teve cassado seu direito de responsável pelos destinos do futuro
voto, dos benefícios como veterano país. Seus integrantes estavam
Custou a ganhar a confiança dos de guerra e condenado a pagar uma acabrunhados por causa do massacre
agentes até conseguir convencê- multa de 10 mil dólares, mas sem sofrido pela população judaica da
los de que o novo país não teria pena de prisão. Sugeriram-lhe que localidade de Etzion. Ben Gurion,
chance alguma de combater os tudo seria relevado se pedisse um entretanto, foi enfático:
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CAPA
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do Museu de Tel Aviv, Boulevard Torá. Para isso buscou um escriba Eram panos brancos com duas
Rothschild, número 16. Pedimos na comunidade ortodoxa de B’nei linhas paralelas em azul e, no meio,
que mantenha em sigilo o conteúdo Barak, mas este declinou, dizendo uma estrela de David da mesma
deste convite quanto à hora e ao que não daria tempo de terminar cor. Não eram bandeiras oficiais
local. Os convidados deverão estar até as quatro da tarde porque cada porque a verdadeira só foi adotada
no Museu às três e meia da tarde. vez que escrevesse o nome de D’us pelo governo em outubro do mesmo
Atenciosamente, o Secretariado. seria obrigado a cumprir o ritual ano. Aquelas ali confeccionadas se
Este convite é pessoal. Traje: social de se levantar e lavar as mãos. Em destinavam a cobrir esculturas e
escuro”. seguida, Rifkind chamou um artista pinturas com nus artísticos, pouco
plástico seu amigo, deu-lhe uma apropriados para o local e para a
O secretariado era na verdade sofrida quantia em dinheiro, para ocasião. Enquanto isso, Rifkind
um só secretário, Zeev Sharef, que ele comprasse os materiais e procurava um pergaminho no qual
diretor administrativo da Agência
Judaica. Em condições normais o
convite deveria ser assinado por
Ben Gurion, mas o tempo era
exíguo. Ben Gurion não gostou
do texto que lhe foi submetido
pelo grupo de Sharret. Achou que
aquele primeiro rascunho se perdia
em excessos de diplomacia e ele
preferia algo mais contundente,
mais conciso e mais objetivo.
Fez as alterações que julgou
necessárias e mandou o texto para
Zeev Sharef, recomendando que
fosse feito um bom número de
cópias para serem posteriormente
entregues à mídia. Mas, não era
possível guardar um segredo
de tal magnitude. Os jornais
matutinos do dia 14 publicaram
que a Kol Israel, emissora oficial Rabin e Peres, adversários políticos e parceiros na construção do Estado de Israel
de rádio, transmitiria a sessão da
independência ao vivo, às quatro da
tarde. A polícia começou a isolar a
cercania do Museu uma hora antes. elaborasse adereços condizentes seria escrita a declaração e uma
Isto serviu para atrair a curiosidade com a solenidade que aconteceria fotografia de Herzl que deveria ser
da população que ali logo começou no salão do Museu. Recomendou colocada acima da mesa principal.
a se aglomerar. que o amigo não comprasse tudo Encontrou numa loja da Rua
numa só loja, para não levantar Dizengoff, onde encontrou um
De manhã cedo, Sharef havia suspeitas. No Museu os funcionários papel sintético, tipo pergaminho,
convocado o designer Abraham foram dispensados com ordem para que parecia genuíno e deu-se
Rifkind que, dois anos antes, tinha regressarem às 15 horas, sem terem ao preciosismo de levá-lo para
preparado um salão na Basiléia a menor noção do que iria acontecer. análise no Instituto de Padrões. Só
para a realização do 22o Congresso No salão, o artista contratado sossegou quando lhe garantiram
Mundial Sionista. Rifkind revelou trabalhava com um carpinteiro, um que o papel poderia durar alguns
numa entrevista, anos depois, pintor e também decorador, uma séculos. Obteve fotografias em
que a sua primeira ideia era que costureira e uma faxineira para polir tamanho pequeno de Herzl e a
a declaração fosse escrita num o assoalho. De início, mandou fazer maior de todas, em bom estado,
rolo de pergaminho, tal como a bandeiras de diversos tamanhos. carecia no seu entender de
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25 ABRIL 2018
nossas leis
Os Quatro Guardiães:
Um Estudo Talmúdico
Na porção de Mishpatim, no Livro de Shemot (Êxodo),
a Torá apresenta as leis dos Quatro Shomrim
– os Quatro Guardiães. O Shomer é aquele que é
responsável por guardar a propriedade de outro.
A
Torá menciona sucintamente as leis dos compreensível: o mutuário recebe algo que pertence
Quatro Guardiães, ao passo que um dos a um terceiro, em seu próprio benefício, sem pagar ou
Tratados do Talmud Bavli, Bava Metzia, retribuir por isso. A Torá espera que ele devolva o que
discute-as e elucida: tomou emprestado – um objeto (ou animal) – intacto
“São quatro os guardiães: o não e sem danos. Se, enquanto estiver sob sua guarda, a
remunerado, o mutuário, o remunerado e o locatário. propriedade tomada por empréstimo for danificada,
O guardião não remunerado jura (sua inocência) e é perdida ou arruinada, o tomador deve substituí-la ou
completamente isento, desobrigado. O mutuário paga compensar pelo seu valor. Não importa a forma pela
integralmente. qual a propriedade foi danificada ou perdida. Também
O guardião remunerado e o locatário juram e ficam é irrelevante se estava ao alcance do tomador evitar essa
isentos de culpa pelo animal que quebrou a perna ou perda ou dano. Ainda que o dano ou perda tenha sido
morreu, mas eles pagam se o animal for perdido ou causado por um raio ou terremoto, cabe ao tomador
roubado” (Mishná, Bava Metzia 93a). reembolsar ao proprietário pela perda.
Neste artigo, explicaremos as leis básicas dos Quatro Exemplificando: Suponhamos que um homem de nome
Guardiães. Nosso propósito é introduzir nossos Shimon peça emprestado a seu vizinho Reuven o carro
leitores ao estudo do Talmud. Após discutirmos as leis deste último por uma semana.
dos Quatro Guardiães, exploraremos sua dimensão O vizinho concorda com o pedido. Shimon toma o
mística. carro emprestado, mas não paga nada a Reuven pelo
empréstimo. Se o carro for danificado, roubado, perdido
Shoel, o Mutuário ou tomador ou destruído enquanto estiver sob a guarda de Shimon,
este deverá reembolsar Reuven integralmente pela perda.
No grupo dos quatro guardiães, o Shoel, o mutuário, Como Shimon é o tomador, ele tem que pagar por
assume o nível mais alto de responsabilidade qualquer infortúnio com o carro, mesmo se ele for isento
pela propriedade de terceiros a seu cargo. Isso é de culpa no ocorrido.
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(Em certas circunstâncias, No Talmud, dois de seus maiores é o mesmo que o do guardião
a Torá isenta o tomador de Sábios – Rabi Yehudá e Rabi Meir remunerado. Quem é o guardião
responsabilidade. Estas leis, no (o Ba’al Haness) – discordam sobre remunerado? Ao contrário do
entanto, estão fora do escopo deste o grau de responsabilidade do Socher, locatário, ele não paga pelo uso
trabalho). o locatário. De acordo com Rabi da propriedade de terceiros mas
Yehudá, a Torá iguala o locatário com sim, recebe pagamento por cuidar
Socher, o locatário o guardião não remunerado (cujas leis da propriedade.
de responsabilidade veremos abaixo):
O locatário é semelhante ao o locatário é responsável apenas se Nos dois cenários acima
tomador, com uma diferença tiver agido com negligência. Rabi descritos, Shimon queria tomar
óbvia e significativa: ele paga pelo Meir discorda. Em sua opinião, o emprestado o carro de Reuven.
uso da propriedade de outrem. grau de responsabilidade do locatário Se ele tomar emprestado o
Suponhamos que Shimon tenha é o mesmo que o do guardião carro sem pagar por isso, ele é
pedido emprestado o carro de remunerado, que, como veremos um tomador; se ele pagar pelo
Reuven, com a condição de pagar adiante, é responsável pelo que o empréstimo, ele é um locatário.
uma taxa de aluguel. O que Talmud considera “danos evitáveis” Consideremos, agora, uma
ocorre se o carro for danificado – roubo e perda. O veredicto – a situação diferente: Shimon
ou destruído enquanto estiver sob Halachá – segue a opinião de Rabi não tem interesse no carro de
a responsabilidade de Shimon? Meir. Reuven – ele não quer pedi-lo
Como ele alugou o carro – pagando emprestado nem alugá-lo.
por seu uso –, a situação não é Shomer Sachar, o É Reuven que pede que Shimon
idêntica à descrita acima, em que Guardião remunerado o guarde. Talvez ele esteja saindo
o empréstimo tinha sido gratuito. de férias e quer que alguém
Neste caso, Shimon é um locatário, Na opinião de Rabi Meir, o grau cuide de seu carro enquanto
não um tomador. de responsabilidade do locatário ele estiver fora. Se Shimon
27 abril 2018
nossas leis
concordar em tomar conta do pago para cuidar da propriedade reembolsar totalmente Reuven pela
carro de Reuven, mas cobrar de terceiros. A Torá considera o perda. Mas, se bandidos armados
para fazê-lo, ele é um guardião guardião remunerado responsável roubarem o carro ou este for
remunerado. pelo que considera “danos evitáveis”, destruído ou danificado por um
como roubo e perda. Contudo, a desastre natural, Shimon não terá
A Lei da Torá reza que um Torá não o mantém responsável pelo que reembolsar Reuven pela perda
guardião remunerado assume que considera “danos não evitáveis” de seu carro.
uma medida significativa de – roubo à mão armada e eventos que
responsabilidade pela propriedade estão fora de seu controle, como os Shomer Chinam,
a seu cargo. Afinal, ele está sendo desastres naturais. o Guardião não
remunerado
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REVISTA MORASHÁ i 99
do carro de Reuven – algo que conveniências. Seu propósito na prazer, desfrutam deste mundo de
poderia ter-se recusado a fazer. vida é desfrutar do mundo ao D’us e de sua fartura, mas negam
Por exemplo, Shimon não pode máximo sem ter que pagar por isso. Sua existência ou O ignoram.
estacionar o carro de Reuven num O profeta Isaías assim descreve a Mesmo se reconhecem que este
local perigoso, sem travar as portas, filosofia de vida de tais pessoas: mundo a D’us pertence, elas não têm
deixando a chave no motor. Se agir “...Eis que há alegria e regozijo, e interesse em relacionar-se com Ele.
com negligência e, por esse motivo, são abatidos gado e ovelhas, carne “A vida é minha”, dizem a D’us, “e
a propriedade sob sua guarda for é consumida e vinho é bebido, farei com ela o que bem entender”.
danificada, perdida ou roubada, enquanto dizem; ‘Comei e bebei, Vivem como um dos Quatro
terá de recompensar o proprietário porque amanhã morreremos’! ” Guardiães, o tomador: só tomam –
por perdas e danos. (Isaías 22:13). de D’us e de Seu Mundo –, mas não
pagam nem retribuem de alguma
Os Quatro A maioria daqueles que apenas se maneira.
Guardiães do Mundo preocupam consigo próprios não
se sentem agradecidos a D’us pelo Segundo as leis dos Quatro
Um dos princípios fundamentais que recebem, pois do contrário Guardiães, como D’us Se relaciona
do Judaísmo é que cada versículo teriam menos liberdade de fazer o com tais pessoas? Vejamos
e palavra da Torá contém infinitas que quisessem, quando quisessem. as leis referentes ao grau de
camadas de significados. O mesmo As pessoas cujo único interesse na responsabilidade do tomador: ele é
é válido para o Talmud. Não se vida é aquilo que os beneficia e dá totalmente responsável pelos danos
trata apenas de uma enciclopédia
sagrada de leis, discussões,
análises e relatos. Cada uma de Portão de Beit El Yeshivá, em Jerusalém
suas passagens e ensinamentos
contém ensinamentos profundos e
esotéricos.
O Tomador
29 abril 2018
nossas leis
e perdas, mesmo se não tiver culpa se e não pensavam duas vezes antes universo pessoal. Ele cumpre os
pelo ocorrido. Praticamente, isso de usar de desonestidade, violência mandamentos Divinos com o
significa que como o “tomador” ou imoralidade para obter o que mesmo sentimento com que as
tomou a seu encargo a sua vida e desejavam. Sabemos bem como pessoas pagam seus impostos – ele
se fechou completamente a D’us, termina a história. Veio o dilúvio os vê como um mal inevitável que
ele assume total responsabilidade e matou todos. Como aquela geração ele preferia não ter que cumprir.
por tudo o que lhe acontecer. tinha afastado D’us de
Se ele tiver perdas ou danos em sua vida, pereceram todos e eles eram Na Torá, Noé simboliza o locatário.
sua vida, ele terá que assumir a os únicos culpados. Mais ninguém. Comparado a seus contemporâneos
responsabilidade pelos mesmos. Eram todos tomadores, e, como que personificam o tomador, Noé
Se um trovão, um furacão ou um ensina o Talmud, um tomador é era um homem justo, íntegro.
terremoto o atingir – literal ou responsável por todos os danos e Contudo, a bem da verdade, ele não
figurativamente –, é problema e perdas – mesmo se se importava muito com o mundo
responsabilidade totalmente seu, e estes forem consequência de de D’us. Quando o Todo Poderoso
o único culpado é ele mesmo. desastres naturais – como foi o lhe ordena construir uma arca, ele
Dilúvio. o faz para salvar a si e aos seus – e
D’us dá o livre arbítrio a todos não se empenha em salvar os outros.
nós, mas cada um de nós tem O Locatário Quando D’us lhe ordena cuidar dos
que aprender a viver com as suas animais na Arca, ele o faz porque
escolhas. Se escolhermos ser o Contrariamente ao tomador, o percebe que essa tarefa difícil era
tomador – tomando e recebendo, locatário está disposto a pagar o o preço que ele teria que pagar por
sem dar nada em troca –, os Céus preço pelo uso da propriedade de viver e desfrutar do mundo de D’us.
nos tratarão de acordo a isso. um terceiro. Quando se trata do Em outras palavras, a construção
Como o tomador escolhe ser dono relacionamento entre o homem da Arca e o cuidado dos animais é
exclusivo de seu destino, quando os e o Todo Poderoso, o locatário é o aluguel que ele deveria pagar ao
problemas baterem à sua porta, ele aquele que, como o tomador, quer Proprietário.
não terá ninguém a quem recorrer, desfrutar do mundo Divino, mas,
mas a si próprio. Como ele optou contrariamente a ele, o locatário Noé não é tomador, mas ele é
pela total independência – como percebe que terá que pagar o seu meramente um locatário. Ele
ele não crê em nenhuma forma de preço. O dilema enfrentado pelo não se importa se D’us destruir
reciprocidade –, ele será totalmente locatário é saber o preço que terá que o Seu mundo e todos os seus
responsável por danos e perdas, pagar para desfrutar deste mundo de contemporâneos morrerem, desde
mesmo se estes surgirem do nada D’us. Algumas pessoas querem pagar que ele e sua família estejam a salvo.
e ocorrerem por culpa de terceiros. um pouco, mas não muito. Talvez o Seu relacionamento com D’us é
Ele não terá ninguém com quem preço que queiram pagar é jejuar em quase “comercial”: O Senhor me
compartilhar a perda. Ele expulsou Yom Kipur. Outros acreditam que deixa viver no Seu mundo e eu
D’us de sua vida quando tudo D’us espera um pouco mais. Para cumprirei Suas ordens.
lhe sorria. Quando as coisas estes, o preço a pagar talvez inclua Qual a lei do locatário? Ele é
desandarem, ele terá que arcar ir à sinagoga algumas vezes por ano, responsável pelos “danos evitáveis”
sozinho com tudo. ouvir o Shofar em Rosh Hashaná e – roubo e perda. É isento de
participar em um Seder de Pessach. responsabilidade apenas pelos
A geração que pereceu no dilúvio Outros, ainda, acreditam que D’us “danos inevitáveis” – eventos que
de Noé personifica o tomador. espera ainda mais, mas talvez seja estão além de seu controle, como
A Torá nos relata que à exceção suficiente eles irem à sinagoga em os desastres naturais. Como Noé
de Noé, toda aquela geração era todas as festas e nas sextas-feiras à era um locatário, não um tomador,
egoísta e corrupta; envolvia-se noite para cantar Lechá Dodi junto no tocante a D’us, ele não pereceu
em roubo e violência, e praticava com a congregação. em um desastre natural – o Dilúvio.
atos imorais. Não tinham respeito No entanto, como ele é nada mais
algum por D’us, por Seu mundo Como o tomador, a preocupação do que um locatário, quando ele
nem pelos outros seres humanos. de vida do locatário é seu bem- emerge da Arca e vê um mundo
Para eles, a vida era para divertir- estar. Ele está no centro de seu em escombros, D’us não ouve seu
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O Guardião
Remunerado
31 abril 2018
nossas leis
cuidá-lo, e como pagamento por (perda) pela Serpente. Ambos próprio, mas apenas em cumprir
seus serviços, ele podia aproveitar os danos evitáveis. Poderiam a Vontade de seu Mestre, e o faz
de tudo o que o Jardim tinha para ter ignorado a Serpente e sua sem esperar qualquer recompensa,
oferecer – à exceção do fruto da oferta tentadora. Poderiam ter material ou espiritual, que seja.
Árvore Proibida. Infelizmente, optado por não comer o fruto Maimônides descreve tais seres
Adão e Eva não foram guardiães proibido. Consequentemente, humanos: “Aquele que serve a D’us
remunerados confiáveis – eles como guardiães remunerados, por puro amor altruísta – ele estuda
não cumpriram a sua parte no foram responsáveis pela quebra do a Torá e cumpre as Mitzvot e anda
acordo porque a Serpente lhes contrato. E D’us os expulsou do nos caminhos da sabedoria — não
prometeu um pagamento ainda Jardim do Éden. por temer o mal (castigo), e não para
melhor do que o oferecido por herdar o bem (recompensa). Mas
D’us. A Serpente – personificação ele age de acordo com a verdade
do Yetzer haRá, Inclinação para O Guardião não apenas por ser a verdade. No fim,
o Mal, mestre das mentiras e da remunerado o bem virá ao seu encontro. Essa
enganação – não cumpriu sua virtude é enorme e grandiosa, e nem
promessa. Como Adão e Eva eram O Guardião não remunerado todos os sábios a merecem, e esse é o
guardiães remunerados, eles eram é singular. Contrariamente aos nível alcançado por Avraham, nosso
responsáveis por perda e roubo, outros três guardiães, ele não está Patriarca, a quem D’us chamou de
ou seja, tomaram e consumiram interessado em receber, mas apenas ‘Aquele que Me ama’, porque ele
o fruto proibido, proscrito por em dar. Em seu relacionamento serviu a D’us unicamente por amor”
D’us (roubo), e foram enganados com D’us, ele não pensa em si (Leis do Arrependimento, 102).
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REVISTA MORASHÁ i 99
33 abril 2018
SHOÁ
A Resistência Judaica
durante o Holocausto
Recentemente os historiadores passaram a considerar o número
de judeus brutalmente assassinados pelo Terceiro Reich em
torno de 7milhões – e não mais 6 milhões. A pergunta muitas vezes
feita é por que estes não resistiram? Por que não lutaram? Por
que se deixaram levar “como ovelhas”? Quem pergunta tem a
objetividade do tempo transcorrido desde então e nenhuma
vivência pessoal de um horror que a mente humana não
consegue assimilar. Mas a pergunta precisa ser respondida.
U
ma guerra sem fronteiras havia sido ação armada? Historiadores concordam que há duas
declarada pela Alemanha de Hitler categorias básicas: a resistência civil, não violenta, e
contra o Povo Judeu, sem restrição a armada. E, mesmo a armada é subdividida entre
de homens ou armamentos. O fato a ofensiva e a chamada acorrentada. A resistência
colocava os judeus numa situação ofensiva inclui operações armadas não convencionais,
extremamente difícil. Eles não possuíam um Estado, ações de guerrilheiros ou de sabotagem. Um exemplo
tampouco forças de combate treinadas; e nem aliados. da resistência ofensiva foi a luta dos partisans1 nos
Eram uma minoria civil desarmada, espalhada em territórios sob domínio alemão. A acorrentada, por sua
todos os países da Europa. No Leste Europeu eram vez, implica em ações armadas em situações em que
desprezados. Hoje, temos provas e testemunhos de são praticamente nulas as esperanças de sobrevivência.
que houve centenas de atos, individuais e de grupo, de O Levante do Gueto de Varsóvia, há 75 anos, em abril
resistência judaica aos nazistas nos países da Europa de 1943, assim como os levantes ocorridos em outros
Ocidental e Oriental. Essa resistência se manifestou guetos e campos de concentração, são exemplos de
de forma diferente dependendo do país, do grau de resistência acorrentada.
antissemitismo da população local e do momento
histórico. Há testemunhos sobre centenas de atos individuais de
mulheres e homens judeus, que, sendo levados à morte,
Um dos grandes desafios na historiografia da tentaram ferir seus algozes com facadas e até mesmo
resistência judaica durante o Holocausto é a definição mordidas. E, é um fato histórico de que dezenas de
do que deve ser considerado como “resistência” a milhares de judeus participaram da resistência armada,
um poder opressor. Deve-se considerar apenas a engrossando as fileiras dos movimentos nacionais
de resistência, os partisans, na luta contra o inimigo
comum. (Apenas em território polonês, com raríssimas
1
A expressão é geralmente usada para se referir aos grupos
armados organizados que combatiam o domínio nazista exceções, os grupos de resistência não aceitavam judeus
na Europa ocupada, durante a 2ª Guerra Mundial. em suas fileiras).
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yad vashem, israel. memorial em homenagem aos partisans e soldados judeus na 2ª guerra mundial
Nunca é demais enfatizar que os Na Polônia, trancafiados em França, Bélgica e assim por diante.
partisans operavam apenas em ações guetos, isolados e sem qualquer Sem ajuda era quase impossível se
de guerrilhas.Um enfrentamento meio de comunicação com o esconder, e sobreviver. A população
aberto, com armas em punho, contra exterior, os judeus criaram uma não judaica muitas vezes era hostil;
os alemães ocorreu em apenas ativa resistência civil, entre outras, no melhor dos casos, indiferente a
três ocasiões – em Varsóvia, Paris organizações assistenciais, religiosas eles e à sua sorte. Em sua caça aos
e Eslováquia, no final do verão e educacionais clandestinas. E judeus, os nazistas contavam com a
europeu de 1944. Nas três ocasiões conseguiram realizar levantes ajuda entusiasmada de ucranianos,
os resistentes sabiam que as forças armados em cinco dos principais lituanos e poloneses. E aquele que
Aliadas estavam próximas. guetos, em 45 dos menores, em decidisse ajudar um judeu, sabia que,
cinco campos de concentração e se descoberto, seria executado.
Em toda a Europa sob domínio extermínio, e em 18 campos de
nazista foram muito frequentes os trabalhos forçados. Ademais, qualquer tipo de
casos de ajuda por parte de judeus a resistência por parte de uma
seus correligionários “em perigo ou A fuga era uma maneira de resistir. nacionalidade qualquer era
em fuga”, de salvamento de crianças, Mas, mesmo quando os judeus fortemente inibido pela polícia
de proteção aos que se escondiam. tinham os meios e a oportunidade, nazista e seus métodos de terror.
E, enquanto aumentavam os as dificuldades eram enormes. Porém, aos judeus os nazistas
esforços nazistas para erradicar os A pergunta era “para onde ir? ”. reservavam um “tratamento
judeus da História, dia após dia eles Praticamente nenhum país lhes especial”. A punição a um não judeu
registravam a vida sob ocupação abrira suas portas. Os que tiveram suspeito de um ato de resistência
nazista, inclusive nos campos de tempo de escapar para outros países era, em muitos casos, a execução
concentração. Escrever era uma da Europa não foram rápido ou sumária; a tortura era usada para
forma de resistir, era deixar a prova longe o suficiente; judeus alemães extrair informações. Porém, para
dos crimes nazistas. e austríacos foram capturados na um resistente judeu a execução
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A resistência não
armada no Leste
Europeu
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cadáveres. Suas conclusões foram da política alemã em relação aos silenciada. Dia após dia, cidade
publicadas após a guerra, em Paris. judeus. Com a invasão, dá-se início à após cidade, os nazistas destruíram
matança rápida e indiscriminada de sistematicamente comunidades
Sob domínio nazista era “ilegal” que todo e qualquer judeu, independente judaicas inteiras. Não foram poucas
os judeus possuíssem rádio, telefone de idade ou sexo. Crianças de colo as vezes em que foram “ajudados”
ou que publicassem um jornal. não eram poupadas. pela população local. Os alemães
No entanto, a maioria dos grupos sabiam e exploraram ao máximo o
políticos clandestinos lutava contra A velocidade, e sigilo e ardis usados antissemitismo reinante no Leste
o isolamento judaico publicando pelos alemães e seus colaboradores europeu.
jornais e boletins clandestinos. eram essenciais para o “bom
As notícias eram compiladas de andamento das operações”. Quando Apesar do esforço alemão para
transmissões soviéticas ou da BBC, havia qualquer tipo de resistência, manter a “Solução Final” em sigilo
em rádios escondidos. esta era brutal e imediatamente absoluto, alguns judeus rastejaram
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um policial alemão, e ameaçaram Os que optaram pela fuga, que viviam no lado “ariano” tinham
destruir o gueto inteiro se ele procuraram abrigo nas florestas. que comprar ou roubar armas, e
não se rendesse – o que acabou Alguns juntaram-se às unidades contrabandeá-las para dentro dos
acontecendo... de partisans soviéticos, outros guetos sem serem detectados.
conseguiram formar grupos
Os movimentos juvenis e os partidos separados. Mas, muitos morreram No entanto, estavam preparados
de esquerda e o Judenrat – que de fome ou pelas mãos de partisans para lutar e morrer; sua honra e a
diferiam em muitos assuntos – ou camponeses poloneses: o ódio honra do Povo Judeu estavam em
estavam de acordo em que uma da população em relação aos judeus jogo. Sabiam que não sobreviveriam,
resistência armada só poderia era mais forte do que o ódio que mas “por que não resistir quando a
acabar em morte para os judeus. E, nutriam pelos alemães. alternativa era a morte em momento
enquanto houvesse a possibilidade e local escolhidos pelos nazistas?”,
de sobrevivência, ainda que para uma A situação dos que ficaram para escreveu um dos combatentes do
minoria, teriam que aguardar. Mas lutar era desesperadora e o tempo Levante do Gueto de Varsóvia,
eles se preparariam... corria contra eles. Rodeados por “Estamos sendo impelidos pelo
uma força militar alemã treinada e desespero aliado ao desejo de
Em 1942 são criadas organizações equipada estavam em inferioridade vingança. Nossos familiares foram
de resistência armada. A primeira numérica e seu “armamento” abatidos como gado e atirados
delas, a FPO, Organização dos era irrisório; e era extremamente em covas sem nome. O simples
Partisans Unidos, foi formada em difícil e perigoso obter armas. pensamento de dar um fim à vida de
Vilna. Um de seus comandantes, Os combatentes judeus não recebiam alguns alemães, que fosse, já é um
o poeta Abba Kovner, foi um dos armas, alimentos ou remédios poderoso incentivo”.
primeiros a entender as intenções “caídos dos céus”, jogados pelos
nazistas. Num discurso inflamado Aliados, como os demais grupos de Nos guetos maiores, os combatentes
em uma reunião underground, resistência. Os couriers ou os judeus das organizações clandestinas sabiam
Kovner conclama seus irmãos, que não podiam contar, de modo
judeus, a resistir. “Não acredite geral, com o apoio dos Judenrat, nem
naqueles que pretendem enganar- com a população geral do gueto.
nos.... O plano de Hitler é eliminar Muitos líderes desses conselhos
todos os judeus da Europa. eram ambivalentes quanto a ajudar a
É melhor cair como guerreiros do resistência porque esperavam que a
que viver à mercê dos assassinos. maior parte da população do gueto
Levantem-se! Ergam-se com suas pudesse ser salva com seu trabalho,
últimas forças!” e viam a rebelião armada como um
plano suicida. Apenas em Kovno
O ZOB (Zydowska Organizacja e Minsk, os líderes do Judenrat
Bojowa, Organização de cooperaram com o movimento
Combatentes Judeus, em polonês) clandestino.
deu seus primeiros passos em
Varsóvia, em 1942, após a Grande A resistência mais bem-sucedida,
Deportação. Esse movimento uma fuga em massa, ocorreu em
de resistência seria decisivo na Minsk. Entre 6 mil a 10 mil judeus
organização do Levante do Gueto de fugiram para as densas matas, e
Varsóvia. alguns milhares sobreviveram
até o final da guerra. Em muitos
A finalidade e velocidade da guetos menores, nos territórios
Solução Final deixava duas ocupados no leste da Polônia
opções aos grupos de resistência e da então URSS, os membros
– que sobreviveram às deportações: dos Judenrat eram atuantes no
organizar fugas em massa ou ficar movimento ou cooperavam com a
nos guetos e lutar. brit milá no gueto de varsóvia, 1943 resistência. Em muitos desses guetos
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DESTAQUE
A Polônia e a
negação do passado
POR JAIME SPITZCOVSKY
U
m “ato de obscuridade histórica e e, no começo de fevereiro, foi sancionada pelo
um ataque à democracia”, definiu presidente Andrzej Duda. O governo da Polônia
o Congresso Judaico Mundial. disparou também campanhas para defender sua
O primeiro-ministro Binyamin iniciativa e registrou aumento de popularidade no
Netanyahu descreveu a lei polonesa cenário doméstico. O índice de aprovação do premiê
como “distorção da verdade, um reescrever da história Mateusz Morawiecki, na pesquisa do instituto
e uma negação do Holocausto”. polonês IBRiS, subiu de 55% para 57%, enquanto
o presidente Andrzej Duda testemunhou sua taxa
Em Israel, sobreviventes do Holocausto protestaram alcançar 57%, um aumento de 8 pontos percentuais
diante da Embaixada da Polônia. Uma mulher em relação à sondagem do mês anterior.
segurava um cartaz: “Ainda tenho pesadelos
lembrando o que os poloneses fizeram”. Dos Desde 2015, a Polônia é governada pelo Partido
Estados Unidos, partiram pedidos para Washington da Lei e Justiça, dono de uma cartilha ideológica
suspender relações diplomáticas com Varsóvia. baseada no nacionalismo e no conservadorismo
católico. Seus líderes defendem plataformas anti-
A primeira votação da lei polonesa ocorreu na Câmara imigração e xenófobas, além de surfarem na onda
dos Deputados no dia 26 de janeiro, exatamente antiglobalização, em curso sobretudo na Europa
véspera do Dia Internacional em Memória das e nos Estados Unidos, após a crise financeira
Vítimas do Holocausto. A data foi escolhida pelas internacional de 2008-9.
Nações Unidas porque, a 27 de janeiro de 1945,
tropas soviéticas libertaram o campo de extermínio de No cenário europeu, o avanço de grupos de extrema
Auschwitz, localizado no sul da Polônia. direita, baseados em ideologias de exacerbado
nacionalismo, se verificou nas eleições presidenciais
Depois de aprovada pelo Sejm, a câmara baixa do francesas, nas quais, apesar da vitória de Emmanuel
Parlamento, a lei passou por aprovação do Senado, Macron, Marine Le Pen amealhou uma votação
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histórica para seu partido, a Frente ascendente: Patryk Jaki, 32 anos, e argumenta que o projeto busca
Nacional. Áustria e Hungria, entre vice-ministro da Justiça e com acabar com a “cultura enganosa
outros países do velho continente, manifestas ambições de crescer na de vergonha” sobre o tratamento
também testemunharam o política local. Jaki é descrito como “a reservado aos judeus na Polônia
fortalecimento de partidos com figura por trás” da lei do Holocausto durante a 2ª Guerra Mundial.
plataformas anti-imigração, anti-
islâmica e antissemita. “Quem acusar, publicamente e
contra os fatos, a nação polonesa,
O governo polonês entrou em ou o Estado polonês, de ser
choque recentemente com outros responsável ou cúmplice dos
países europeus, que criticaram crimes nazistas cometidos pelo
uma série de medidas voltadas a Terceiro Reich alemão...ou
limitar a liberdade de imprensa outros crimes contra a paz e a
e a tentar restringir a autonomia humanidade, ou crimes de guerra,
do poder judiciário. Apesar dos ou, ao contrário, diminuir de
atritos, o Partido da Lei e Justiça forma extensiva os verdadeiros
deseja manter a Polônia na perpetradores, estará sujeito a
União Europeia, à qual Varsóvia uma multa ou a uma pena de
aderiu em 2004, mas critica o que prisão de até três anos”, sustenta
define como “excesso de poderes um dos trechos da lei patrocinada
concentrados” em Bruxelas. por Patryk Jaki.
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DESTAQUE
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COMUNIDADES
F
ez é localizada no Centro-norte do consigo o idioma árabe e o Islã, surgido por volta do
atual Marrocos, entre as cordilheiras do ano 630. Embora fazendo parte do Império Islâmico,
Rife e Médio Atlas. Juntamente com Marrocos era uma província subsidiária da província de
Rabat, Meknès e Marraquesh, é uma Ifríquia1.
das Cidades Imperiais, assim chamadas
por terem sido capital das dinastias islâmicas que Para os judeus, a conquista árabe da região foi um
governaram o Reino de Marrocos através dos séculos. período de grande sofrimento. Inúmeras comunidades
foram devastadas, provocando a fuga de milhares de
A história da comunidade judaica de Fez se inicia judeus, que somente retornariam no início do século
no século 9, logo após a fundação da cidade. Mas a seguinte.
presença de judeus na região do atual Marrocos é bem
mais antiga. Há provas de que eles lá viviam a partir A primeira dinastia islâmica sunita estabelecida
da destruição do Segundo Templo, em 70 E.C., e há surgiu quando Idris I (Idris ibn Abdullah) tomou o
pesquisadores que acreditam que a presença judaica poder, em 788, e fundou o reino do Marrocos. Ele foi
remonte ao período do Primeiro Templo. fundamental para a islamização de seus domínios, não
poupando esforços na conversão de seus súditos ao Islã.
No século 7, quando o Norte da África foi Foi Idris I quem fundou a cidade de Fez, num wadi2 à
conquistado por exércitos árabes, certamente havia margem direita do Rio Fez, tornando-a capital de seu
judeus na região. A conquista muçulmana trouxe reino.
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margem à esquerda do Rio Fez. de 30 mil dinares – uma verdadeira tributos eram a maior fonte de
A chegada de 2 mil famílias árabes fortuna à época – referente ao jizya, ingresso nos cofres públicos e essa
atribuiu à cidade seu caráter árabe. a taxa anual que tinham que pagar. situação fiscal explica o interesse dos
A lei islâmica obrigava os não- governantes na prosperidade judaica.
Lá sediando seu governo, muçulmanos, os dhimmis, a pagar
Idris II começa a unificar o altos impostos para terem permissão Após a morte de Idris II, em 828,
Marrocos. Permite que os súditos de viver em terras islâmicas. Tais seu reino é dividido entre seus
judeus vivam em Fez e abre as herdeiros. Com a fragmentação do
portas da capital a judeus vindos de poder idríssida, o Marrocos entra
outros pontos do Norte da África, num período turbulento. Com isso,
e para um grande contingente a vida dos judeus se torna mais
vindo de Andaluzia, cujas aptidões difícil e, em várias ocasiões, eles são
comerciais e ampla rede de contatos alvo de violência.
regionais foram instrumentais para
enriquecer seu reino. Cedeu-lhes No decorrer dos séculos seguintes,
um bairro próprio, chamado de a região é palco de períodos de
al-Funduq al-Yahud, o Mercado instabilidade política e militar.
Judeu – garantindo-lhes proteção Com espantosa regularidade,
mediante pagamento de substancial uma dinastia suplantava outra e, na
quantia em ouro. transição de poder, os períodos
de paz eram substituídos por outros
Não tardou para que a comunidade de turbulência e matança.
judaica se tornasse numerosa, Caixa, com tampa arredondada. Toda a população era sujeita a
próspera e respeitada. Um sinal da Possivelmente utilizada para grande sofrimento, mas eram
guardar texto religioso.
riqueza dos judeus de Fez foi o valor Museu do Quai Branly, Paris os judeus os que mais sofriam.
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COMUNIDADES
No mundo islâmico, os conflitos no século 11. Seu sobrenome Al- precária, mas, eventualmente
entre as dinastias eram exacerbados Fassi significa, em árabe, “o natural conseguiram reconquistar o
por disputas doutrinárias quanto de Fez”. tratamento favorável.
ao rigor da aplicação da lei islâmica.
E quando uma dinastia liberal era O RIF nasceu em 1013, em Kalat A relativa tranquilidade, porém,
substituída por uma mais extremista, ibn Hamad, uma aldeia próxima a chega ao fim, em 1147, quando os
os judeus eram expostos aos Fez, e, em 1045, mudou-se para a almôadas derrotam os almorávidas
riscos inerentes à sua condição de cidade, tornando-se líder e juiz da e conquistam o Marrocos. Tomam,
dhimmis. Sua vida e seu bem-estar comunidade judaica de Fez. Rabi sucessivamente, o Magrebe, grande
estavam sempre à total mercê dos Al-Fassi revolucionou a erudição parte da Península Ibérica e se
governantes, e o Marrocos e Fez não judaica e escreveu o Sefer haHalachot mantêm no poder até 1269.
foram exceções a essa regra. (Código de Leis), o primeiro códice
fundamental sobre as Leis da Torá. As invasões causaram destruição
Por volta do ano de 987, os Judeus vindos de todo o Norte e sofrimento para os judeus sob
governantes deportam parte da África acorriam para com ele domínio dos almôadas, (em
da comunidade judaica de Fez estudar na Yeshivá que portava seu árabe, al-Muwahhidun, ou seja,
para Ashir, na Argélia. E, em nome. Mas o Rabi Al-Fassi não “os monoteístas”), totalmente
1033, quando a tribo berbere dos passaria o restante de sua vida em intolerantes com os não-
Maghrawa, originária da região Fez. No ano de 1088, com 75 anos muçulmanos. Relatos da época
que hoje é o Norte do Marrocos de idade, foi forçado a fugir de sua falam de massacres, destruição e
e a Argélia, conquista a cidade, terra natal. conversões forçadas.
seis mil judeus são massacrados,
as mulheres judias deportadas e as Os Almorávidas Durante o terror dos almôadas Rabi
propriedades da população judaica e os Almôadas Moshe ben Maimon, Maimônides,
roubadas. Idêntica sorte caberia deixa Córdoba e vai para Fez, onde
aos que residiam em outras cidades Em 1068, os almorávidas permanece por cinco anos. Em um
marroquinas. conquistaram e saquearam Fez, de seus poemas, Rabi Ibn Ezra4
matando muitos judeus. De descreve a desgraça que se abateu
No entanto, a comunidade judaica temperamento violento, queriam sobre os judeus marroquinos, a quem
de Fez se reergue rapidamente. De aplicar com severidade a Lei os almôadas davam como opção
acordo com uma estimativa, 90 mil Islâmica (Sharia). Por algum tempo, a conversão, a morte ou o exílio.
judeus viviam na cidade no século a situação dos judeus se tornou Foi o único período na história
11. O viajante árabe al-Bakri3 relata marroquina em que os judeus
em sua obra que a cidade tem mais não podiam praticar sua religião.
judeus do que qualquer outra no Milhares deixam a região, muitos
Magrebe - em árabe, Al-Maghrib, encontrando refúgio em aldeias,
que significa “poente” ou “ocidente”, ao sul de Marrakesh, onde podiam
é a região noroeste da África. praticar o judaísmo abertamente.
Centenas dos que permaneceram
Um maiores Talmudistas de todos os sob julgo almôada, optam pela
tempos, Rabi Yitzhak Al- Fassi ha- morte.
Cohen, o RIF, viveu em Fez,
A maioria, no entanto, para salvar
a vida, aceita proforma o Islã,
3
Al-Bakri (c. 1014-1094) foi um enquanto secretamente continua
historiador árabe de Andaluzia. praticando o judaísmo. Um dos
Considerado o maior geógrafo do mundo momentos mais dramáticos para
muçulmano.
a comunidade judaica marroquina
4
Rabi Ibn Ezra – Abraham ben Meir Ibn foi quando, consultado sobre a
Ezra (1089- 1167) viveu na Espanha e foi
grande erudito em Torá, conhecimento escolha feita, um sábio que vivia
artísticos e seculares. maimônides fora do Marrocos deu uma resposta
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COMUNIDADES
A situação se torna insustentável jihad, “uma guerra santa”, contra Os sefaraditas, chamados de
quando em 1438, as massas Aaron ben Batash, vizir judeu megorashim,, “exilados” ou “expulsos”,
muçulmanas atacam, uma vez nomeado primeiro ministro pelo se estabelecem principalmente no
mais, a população judaica da cidade, Sultão Abu Muhammad Abd Al- litoral Norte, onde se tornam a
provocando muitas mortes. Haqq para colocar no prumo as maioria. Um grande número de
Os judeus são falsamente acusados finanças públicas. O Sultão e ben sefaraditas se estabelece em Fez. A
de ter introduzido garrafas de vinho Batash são assassinados e quase princípio, os toshavim, “habitantes
em uma mesquita. O sultão intervém toda a comunidade judaica, do lugar”, como eram chamados
e, para protegê-los de distúrbios dizimada. Esta somente iria se os judeus que viviam na região
recorrentes, realoca-os em Fez Jdid, recuperar com a chegada dos há séculos, tratam os megorashim
na parte murada da cidade, próxima refugiados da Espanha. com desconfiança. Estranham seus
ao palácio real. O bairro, construído hábitos, seus min’haguim; até o
sobre uma antiga mina de sal, era A chegada dos idioma era diferente, pois enquanto
chamado de mellah (sal, em árabe), Sefaradim os sefaraditas falavam espanhol
numa referência a jazidas de sal ou português, os toshavim se
ou pântanos de sal. As residências Em virtude da proximidade do comunicavam em judeu-árabe.
dentro do mellah se distinguiam das Marrocos com a Península Ibérica,
muçulmanas por suas janelas para seus governantes eram intimamente A sinagoga Ibn Danan, recentemente
o exterior e varandas de madeira e ligados aos acontecimentos na restaurada, foi fundada no século 17
de ferro batido. Durante um longo Espanha, onde, na Idade Média, vivia pelos megorashim e, de acordo com
período o mellah de Fez continuou a maior e mais próspera população uma tradição local, eles decidiram
a ser o único existente no Marrocos. judaica do mundo. Mas, com o construir uma sinagoga própria
Somente na segunda metade do avanço da Reconquista pelo Reis pois os judeus locais se recusavam
século 16 (por volta de 1557) é Católicos, os judeus foram sendo a deixá-los frequentar as suas. A
criado o segundo em Marrakesh. cada vez mais perseguidos. Após sinagoga Slat Alfassiyine (Oração
uma onda de violência antissemita dos habitantes de Fez) foi fundada
Quando o bairro judeu foi criado, em 1391, muitos deles buscaram no século 17 pelos judeus da cidade.
não havia nada de depreciativo refúgio no Marrocos, onde a dinastia As duas sinagogas ficavam a uma
no termo mellah. Pelo contrário, reinante merínida os favorecia. quadra de distância, uma da outra.
suas casas grandes e belas eram
as residências preferidas pelos Com o passar do tempo, a influência
“agentes e embaixadores de príncipes dos sefaraditas espalha-se por todo
estrangeiros”. Posteriormente, o país e muitos de seus costumes
contudo, a palavra mellah assumiu se tornam a regra. Em Fez, cabia
conotações pejorativas. A etimologia aos sefaradim a importante função
popular “transformou-a” em “terreno de Naguid5, criada na cidade no
salgado e amaldiçoado”, ou o local início do século 16. A maioria das
onde os judeus “salgavam a cabeça ieshivot eram dirigidas por eruditos
dos rebeldes que decapitavam”. sefarditas, entre os quais Rabi
Nachman B. Sunbal, Rabi Samuel
Com a queda dos sultões merínidas, Chaguiz, Rabi Judah Uzziel, Rabi
volta a anarquia política e o Shaul Judah, Rabi Chayyim Ibn
fanatismo. E nem no mellah os Atar e Rabi Samuel Sarfaty. Havia,
judeus de Fez estão a salvo. também, famosos dayanim, juízes
Em 14 de maio de 1465, os líderes das cortes religiosas. Muitos de seus
religiosos islâmicos organizam um rabinos lecionaram em comunidades
do exterior.
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se estabelecem e produzem
importantes obras. As contribuições
mais duradouras à disseminação da
Cabalá se devem aos membros da
família Azulai, que se estabeleceu em
Fez após a expulsão da Espanha, em
especial a Abraham ben Mordechai
Azulai (l570-1644), já nascido na
cidade.
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COMUNIDADES
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1. 2. 3.
1. colar de múltiplas filas de coral, contas e moedas de prata 2. Vestido de casamento, em veludo verde, Fez 3. Colar
tipo peitoral “RIF”. Medalhão e contas em prata fundida
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COMUNIDADES
A 2ª Guerra Mundial
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confiscar seus bens e propriedades. nacional e uma constituição de Oujda. Já em Djerrada, são 39
Porém, Mohammed V não podia democrática. Mas, a França somente mortos e 44 feridos.
agir totalmente conforme sua abriria mão de seu protetorado no
vontade, pois estava à mercê dos Marrocos em 7 de abril de 1956. O Marrocos, que foi a pátria para
franceses de Vichy que controlavam mais de 250.000 judeus na primeira
seu reino. Com isso, acabaram por Em 1947 e 1948, em resposta à metade do século 20, hoje conta
ser aprovadas e postas em prática retórica árabe anti-judaica na esteira apenas com cerca de 3.000 judeus no
certas medidas discriminatórias e da criação do Estado de Israel, e a país, apenas 150 dos quais vivem na
os judeus foram deportados para irrupção do conflito árabe-israelense, outrora vibrante Fez.
campos de trabalho no Saara. o sultão Mohammed V alerta os
muçulmanos para que não Sem sombra de dúvidas, o Marrocos
Após a conclusão da Operação ataquem os judeus do Marrocos, é o país islâmico mais pró-Israel –
Tocha, em que as forças Aliadas lembrando-lhes que estes sempre apesar do fato de que vertentes
abrem uma nova frente de batalha tinham sido protegidos em seu cada vez mais expressivas da
contra os alemães ao desembarcarem reino e sempre haviam demonstrado sociedade conclamem à não-
na costa norte-africana, em sua devoção ao Trono. Enfatiza normalização das relações com o
novembro de 1942, que eles eram súditos respeitados governo de Jerusalém.
o Marrocos fica em mãos da França que apoiavam o Sultão. Seu
Livre, e as restrições contra os judeus pronunciamento é lido em todas as
são renovadas. sinagogas do país.
Bibliografia
Com o término da 2a Guerra, os Mas a tensão associada à Guerra dos Stillman, Norman A, The Jews of Arab
Lands: A History and Source, Jewish
marroquinos esperavam que as países árabes contra Israel e o início Publication Society of America
potências estrangeiras abandonassem da emigração marroquina para Israel Stillman, Norman A, Jews of Arab Lands
o Marrocos à sua independência. contribuem para a eclosão de pogroms in Modern Times, 2003
No entanto, isso não ocorre. Em nas cidades de Oujda e Djerrada, em Marglin, Jessica M., Across Legal Lines:
1944, o sultão Mohammed V apoia junho de 1948. Os ataques provocam Jews and Muslims in Modern Morocco,
2016. Ebook Kindle
um manifesto nacionalista, exigindo 8 mortes, 600 feridos e 900 pessoas Goldenberg, André, Art and the Jews of
independência plena, reunificação desabrigadas na comunidade judaica Morocco
61 abril 2018
arte
I
lya, filho de Naftali e Kradja Schor, nasceu humildade da vida tradicional Chassídica é refletida
em 16 de abril de 1904 em Zolochiv, um dos com vigor”.
tantos shtetls na Galícia, à época parte do
Império Austro-húngaro. Seu pai, Naftali, Depois do Tratado de Paz de Riga, de 1921, Zolochiv,
era um pintor dedicado à arte popular, tornou-se parte da recém-criada República da Polônia.
que ganhava a vida pintando cartazes ilustrados em Em 1928 Ilya vai para Varsóvia estudar pintura na
muitas cores para os comerciantes locais. Ilya deu seus Academia de Belas Artes. Lá, dois anos mais tarde, ele
primeiros passos no mundo da arte com apenas conhece Resia, uma jovem judia originária de Lublin
16 anos aprendendo a fazer gravura em metal. que tinha-se matriculado para estudar pintura na
mesma instituição. Em 1936 ele se forma e, no ano
Seus pais, assim como a maioria dos judeus de seguinte, ganha uma bolsa do governo polonês para
Zolochiv, seguiam o movimento Chassídico e a continuar seus estudos em Paris e na Itália.
infância e juventude de Ilya foram profundamente
embebidas no mundo religioso dos judeus da Europa Chega em Paris em abril de 1937. Logo começa a
Oriental, sendo que esse tipo de vida teve uma grande trabalhar com um de seus professores na criação de
influência em seu trabalho. Ao descrever sua forma de um grande mural para o Pavilhão Polonês na Feira
expressar a arte, sua filha Mira escreveu: Mundial de Paris, a se realizar naquele ano. Terminado
“Cada uma de suas pinceladas carrega um DNA o mural, o professor o aconselha a permanecer em
artístico pertencente ao passado, e em cada um Paris, pois eram escassas as oportunidades para um
de seus traços vê-se a influência da leveza da cor artista judeu, na Polônia.
fugidia em Pierre Bonnard1, mas, em seu trabalho, a
Resia também se mudara para Paris, a Cidade-Luz. Os
dois jovens artistas usufruíam juntos da efervescência
1
Pierre Bonnard (1867-1947) pintor de peso para o nascimento criativa de sua geração de judeus, que tinham atingido
da Arte Moderna. Fundador do grupo simbolista dos “nabis“,
sua contribuição é fundamental para se entender a passagem a maioridade no entre-guerras e entraram, de cabeça,
entre o pós-impressionismo e o simbolismo. no mundo artístico da Paris do final da década de 1930.
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sua morte prematura, com muito mostra Life of the Old Jewish Shtetl:
menos esforço do que respirava...”. Paintings and Silver by Ilya Schor,
no Museu da Yeshiva University.
Após a morte do marido, Resia Em 2000, é a vez da mostra Ilya
passa a trabalhar exclusivamente Schor and His Great Neck Patrons,
com metal, criando peças únicas de no Museu de Arte Judaica Elsie K.
joalheria e arte judaica, bem como Rudin, Great Neck, Nova York.
esculturas em multimídia – tudo
em seu ousado estilo abstrato- Suas obras fazem parte do acervo
modernista, com um grande senso do Museu Metropolitan de Arte,
pictórico de cor e textura. Ela só do Museu Judaico, da Grande
veio a falecer em 2006 Sinagoga de Nova York, da
Coleção de Mezuzot Jacob e Belle
broche em prata, ouro e brilhantes. Uma exposição retrospectiva da Rosenbaum, do Museu de Arte
coleção de mira schor, n. york. obra de Ilya foi realizada em 1965 da Carolina do Norte e do Museu
no Museu Judaico de Nova York. de Arte Judaica de Sidney, na
Dez anos depois, é realizada a Austrália, entre outros.
A Caixa de Casamento
é um dos trabalhos mais
representativos de Ilya
Schor. Feita em relevo em
ouro e prata, reproduz na
tampa a noiva, o noivo
e o rabino sob a chupá
erguida por crianças e
músicos klezmer. Na parte
da frente, um homem
e uma mulher carregam
bandejas também ladeados
por crianças. Em três círculos
há inscrições em iídiche: “Que
assim seja, com boa sorte”.
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O LEVANTE DO
GUETO DE VARSÓVIA
Varsóvia, abril de 1943, véspera de Pessach. Há 75 anos, jovens
judeus com poucas armas e sem experiência militar decidiram
não se curvar e enfrentar, de peito aberto, o poderio militar
alemão que colocara a Europa de joelhos. Sua escolha não
era entre viver ou morrer, mas “como morrer”. Lutaram até o
fim para preservar sua dignidade e a honra de nosso povo.
A
saga do Gueto de Varsóvia se inicia com escritores, rabinos e assistentes sociais. Hoje, a parte
sua criação, em 1939, e termina com descoberta dos Arquivos, com cerca de 6 mil documentos
o fim do Levante. Esse episódio foi e 35 mil páginas, está no Instituto Histórico Judaico, em
relatado infinitas vezes e o será muitas Varsóvia.
outras mais, pois o Gueto de Varsóvia se
tornou símbolo da tragédia e do heroísmo judeus. Nele, A criação do gueto
o mais numeroso dentre todos os guetos, os judeus – novembro de 1940
enfrentaram mais fome, mais falta de espaço, mais
doenças. E nenhum ato durante o Holocausto teve A saga teve início quando o exército alemão entra na
poder tão inflamatório quanto o levante que ocorreu Polônia, em 1º de setembro de 1939. Após romper as
dentro dos muros de Varsóvia, tornando-se símbolo da defesas polonesas, os alemães seguem rumo a Varsóvia e
resistência e determinação judaica. sitiam a cidade. O bairro judeu foi o mais assolado pelo
bombardeio alemão. No dia 29, as forças do Terceiro
Os acontecimentos durante o Levante e os que o Reich entram na cidade e Varsóvia se torna parte do
precederam estão relatados em inúmeros diários, relatos Governo Geral1 .
de sobreviventes, registros e estatísticas alemãs. As
informações mais detalhadas constam dos Arquivos A perseguição aos judeus é iniciada imediatamente,
“Oineg Shabbes”, em iídiche (Oneg Shabat, em hebraico) apesar dos comandantes da Wehrmacht terem
desenterrados após a 2ª Guerra. Este grupo, criado assegurado aos líderes comunitários que não havia o
pelo historiador Emanuel Ringelblum, incluía que temer. Decretos após decretos são promulgados,
todos visando humilhar, isolar e minar a capacidade de
sobrevivência judaica.
1
Após a invasão alemã e soviética, a Polônia é dividida em
três partes: uma é incorporada ao Reich (Wartheland), outra Uma das primeiras providências para garantir a
torna-se um protetorado alemão (Governo Geral) e a terceira é
incorporada à União Soviética. implementação de suas ordens é a criação, em Varsóvia e
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em outras cidades, do Judenrat2, um Para tentar entender a nova de Varsóvia é criada uma rede de
Conselho Judaico que seria dirigido realidade com que os judeus se instituições assistenciais e culturais,
por Adam Czerniakow, defrontavam, temos que ter em como uma “comunidade paralela”,
de outubro de 1939 até seu mente que o gueto nazista era independente do Judenrat, para
suicídio, em 23 de julho de 1943. um mundo por si só. Os nazistas tentar aliviar a vida da população.
No diário que manteve até seus haviam cortado qualquer meio A preocupação girava em torno
últimos momentos, ele revela que de comunicação com o mundo da sobrevivência física, moral
os Judenrat funcionavam em um exterior. Era uma situação além de e espiritual. A principal dessas
ambiente de incerteza, violência e qualquer imaginação: as pessoas instituições era Organização de
falta de poder. tentavam levar uma vida “normal” Autoajuda Judaica, que, no primeiro
para não enlouquecer ou perder ano, socorreu 160 mil judeus.
Devido aos interesses conflitantes as esperanças, ainda que as ruas (V. artigo “A Resistência Judaica”,
entre a administração civil alemã, o estivessem cheias de cadáveres. à pág. 34).
exército e as SS, o Conselho Judaico
consegue atrasar a criação do Gueto
por um ano.
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museu da história dos judeus poloneses, varsóvia. projeto do arquiteto finlandês rainer mahlamaki
em um ponto: enquanto houvesse comunidade paralela. Foram criadas executada pelos Einsatzgruppen.
possibilidade de sobrevivência, a células subterrâneas e estudados Apesar do “muro de silêncio” erguido
prioridade era salvar vidas ainda que os meios de romper o isolamento pelos alemães, chegam a Varsóvia
de uma minoria. Sabiam que um imposto pelos nazistas. Os esgotos, as primeiras notícias sobre o que
ato de violência provocaria a morte única via de saída do Gueto, foram ocorria com a população judaica em
de dezenas ou centenas de judeus, “mapeados” após dezenas de jovens Mielec, Lublin e Vilna.
e, talvez a liquidação “prematura” do terem morrido sufocados ou
Gueto. afogados. À custa de outras Os judeus não tinham como saber,
dezenas de vidas, estabeleceram mas na Conferência de Wannsee, em
Vamos ver, mais adiante, que em contatos com outros guetos através janeiro de 1942, os líderes nazistas
muitos aspectos a liderança do de couriers, em sua maioria haviam orquestrado o aniquilamento
Gueto passa para as mãos dos líderes mulheres ou jovens sem traços sistemático dos judeus da Europa –
dos movimentos juvenis. Altamente judaicos. A imprensa underground, tratava-se de um plano operacional
motivados, eles haviam retornado dirigida pelos movimentos juvenis coordenado em escala continental.
para Varsóvia. Eles haviam deixado e partidos políticos, desempenhou
a cidade antes de ser tomada pelos papel crucial no preparo dos Membros de movimentos juvenis
alemães, juntamente com as elites habitantes do Gueto para o levante de Vilna que chegam a Varsóvia
políticas polonesas e muitos líderes armado. Seus jornais foram os para conseguir fundos para a
da comunidade judaica. primeiros a noticiar os assassinatos organização de uma resistência
em massa em Treblinka, Sobibor, armada confirmam o massacre
Até que se dessem conta de que Chelmno e Maidanek. de 20 mil dos 57 mil judeus de sua
os nazistas visavam a aniquilação comunidade, na floresta de Ponar.
judaica, a preocupação dos A “Solução Final” Ele traziam, também, o alerta
movimentos juvenis era manter a de Abba Kovner,: um dos líderes
vida e a dignidade dos jovens. Seus A invasão da União Soviética, do Hashomer Hatzair: “Hitler
integrantes se reuniam em refeitórios em junho de 1941, deu início ao planeja destruir todos os judeus
e bibliotecas mantidos pela processo de matança sistemática da Europa”. As notícias são
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1. AS SS AGUARDAM JUDEU QUE SAI DE UM BUNKER. 2. JUDEUS CAPTURADOS NA REPRESSÃO AO LEVANTE 3. JUDEU PULA DO
4º ANDAR DE EDIFÍCIO EM CHAMAS
recebidas com cautela. As lideranças desperdiçados com trabalho cultural Apenas seriam poupados aqueles
comunitárias não acreditam que e educativo, quando podiam ter que trabalhavam no Gueto em
os massacres em Vilna eram o “treinado a juventude no manejo de indústrias alemãs ou os membros
prenúncio do cataclismo. armas”. do Judenrat. Ao receber a intimação,
Czerniakow se suicida, como vimos
As informações sobre campos de A Grande Deportação acima.
extermínio também chegam a
Varsóvia. Dois judeus, após fugir do A sexta-feira, 18 de abril, marca Milhares são levados diariamente
campo de Chelmno, revelam que o fim da relativa estabilidade no ao ponto de reunião, a
os nazistas estavam assassinando Gueto. Nessa “sexta-feira sangrenta”, Umschlagplatz, onde aguardam para
judeus em câmaras de gás. Era como passou a ser chamada, os serem jogados, sem água ou comida,
difícil acreditar e, mais difícil ainda, alemães assassinam 52 judeus, a nos vagões dos trens de gado.
assimilar a terrível verdade. O maioria envolvidos em publicações Em 7 de agosto, os nazistas levam
testemunho de um deles, tomado clandestinas. Em 12 de maio, quatro as 200 crianças do orfanato do
por um membro do Oineg Shabbes, o líderes da resistência são assassinados Dr. Janus Korczak. Apesar da
grupo de Ringelblum, é transmitido na prisão Paiwa. No mês seguinte, possibilidade de se salvar, o grande
para Londres, onde ficava o Governo mais dois são capturados e fuzilados, educador não abandonou “suas
Polonês no Exílio. sendo também capturadas as poucas crianças”. Marchou à frente dos
armas que a AFB conseguira juntar. órfãos, juntamente com sua equipe,
Os líderes do movimento até os trens da morte.
clandestino, no entanto, já não Estavam corretas as avaliações
nutriam ilusões sobre as intenções dos judeus de que aquelas ações Na época, o percurso entre Varsóvia
nazistas e compreenderam que a prenunciavam uma nova etapa. No e Treblinka, cerca de 78 km, levava
estratégia de não-provocação que início de julho, Heinrich Himmler, quase 12 horas. Ao chegar, os
vinha sendo adotada ajudava os comandante das SS, despacha aos judeus eram atirados dos vagões,
planos dos nazistas. Sionistas e comandantes em Varsóvia a ordem enfileirados, para passar por um
comunistas se unem para formar de “reinstalação” de toda a população portão, sobre o qual pendia a
o Bloco Anti-Fascista (AFB), de judaica até dezembro de 1942. cortina da Arca Sagrada da Grande
combate. Mordechai Anielewicz, Sinagoga de Varsóvia e onde se
do Hashomer Hatzair, era um dos A primeira fase da grande “Aktion”, lia “Por estes portões passam os
líderes. a deportação em massa dos judeus justos”. Em 12 de setembro as
de Varsóvia, tem início na noite de deportações cessam. De acordo
Anielewicz será lembrado para 22 de julho de 1942, véspera de 9 de com dados nazistas, 235.741
sempre por seu legado de coragem Av, dia de luto para o Povo Judeu. pessoas haviam sido enviadas ao
e idealismo, como veremos em Prossegue durante sete semanas. campo de extermínio de Treblinka.
seguida, e por sua liderança durante Os nazistas avisam ao Judenrat que Dez mil morreram nas ruas do
o Levante. Em suas anotações, “os judeus, sem distinção de idade Gueto e 12 mil foram enviadas
Ringelblum revela que Anielewicz ou sexo, salvo exceções específicas, a outros campos de trabalhos
lhe dissera lamentar os três anos serão deportados para o Leste”. forçados.
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Seu lema era “Nem mais um aquela noite: “Na esquina das ruas sempre na ofensiva. E, novamente,
judeu deverá encontrar seu fim em Zamenhof e Mila os combatentes ao anoitecer, os alemães se retiram.
Treblinka! Enquanto a vida de um atacaram a coluna alemã que entrara
único judeu estiver ameaçada - ainda no Gueto. Após o primeiro ataque No terceiro dia, os nazistas
que uma única vida - temos que bem-sucedido, com metralhadoras mudam de estratégia, não mais
estar prontos para lutar”. Contavam, e granadas sobre os SS, a rua ficou enfrentando os judeus de frente.
então, com 22 unidades de combate. deserta. .... Quinze minutos depois, O fogo se incumbiria de desalojá-
os tanques cruzaram o posto de los. Começam, sistematicamente,
Em fevereiro de 1943, espalha-se a controle, avançando com força total a incendiar o Gueto. O calor
notícia do reinício das deportações. sobre a posição dos combatentes. insuportável força muitos judeus a
Os alemães tentam convencer os Garrafas incendiárias foram deixarem seus esconderijos. Marek
judeus remanescentes a se reunir arremessadas com precisão e calma, Edelman descreveu: “Ruas inteiras
para a “reinstalação” em outro acertando em cheio um tanque. Uma ficaram bloqueadas por incêndios
lugar. Visando persuadi-los a partir, explosão. O tanque foi imobilizado. .... O mar de chamas inundava
nomeiam o gerente da fábrica Os outros dois tanques bateram casas e pátios ... Não havia ar,
Taebbens – e não a SS – para chefiar em retirada, seguidos por alemães uma fumaça preta sufocante e
o grupo de “reassentamento”. Em apressados, sob a mira de granadas um calor ardente irradiavam dos
represália, a ZOB incendeia a e artilharia certeiras. Eles perderam muros vermelho-incandescentes...”.
Fábrica de Marcenaria Habbermans, perto de 200 homens, entre mortos Centenas de judeus, aprisionados
atacando os guardas alemães, que e feridos. Nossas baixas: um nos edifícios em chamas, saltam
fogem, apavorados. Nenhum dos combatente”. para a morte.
3.500 operários daquela fábrica se
apresenta para o “reassentamento”. Às cinco da tarde, os alemães batem A ZOB viu-se forçada a também
em retirada. Naquela noite, os mudar de tática. Enquanto
O início do Levante combatentes e o remanescente da combatiam os nazistas, tentavam
comunidade judaica de Varsóvia salvar judeus que as chamas
A ação final contra o Gueto se inicia festejam. Os judeus haviam provado haviam levado às ruas. Ao fim
em 18 de abril de 1943. O plano era a si mesmos e ao resto do mundo da primeira semana, os alemães
apresentar Varsóvia como “Judenfrei” que enfrentariam os alemães com trazem artilharia pesada e aviões da
(livre de judeus) no dia 30 de abril, armas em punho. Luftwaffe e bombardeiam o Gueto.
aniversário de Hitler. Agora, todo o Gueto ardia em
Na madrugada do segundo dia, chamas.
Durante a madrugada, dois os alemães voltam ao Gueto. A
mil nazistas e colaboradores, ZOB explode as minas colocadas A ZOB adota, então, táticas de
pesadamente armados, cercam o anteriormente, matando uma guerrilha. Preparam emboscadas
Gueto com tanques e caminhões centena de nazistas. Os combates para os alemães; as batalhas
carregados de munição. Alertados seguem durante todo o dia, a ZOB alastram-se dia e noite. Forçam,
sobre os planos nazistas, 750 assim, os alemães a lutar rua por
combatentes judeus estão a postos rua, edifício por edifício, judeu por
para recebê-los à bala. À espreita, judeu...
concentram-se em três postos-chave
que controlam o acesso ao Gueto. Mas, após uma semana de luta
Os que não podem lutar escondem- ininterrupta, a situação se torna
se nos bunkers. insustentável para os combatentes.
Haviam sofrido poucas baixas, mas
O Levante do Gueto de Varsóvia estavam exaustos – combatentes
tem início assim que entram os e judeus. O fogo consumira as
alemães. A primeira batalha ocorre reservas de alimento e os escombros
na rua Nieweski, com vitória total entulhavam a maioria dos poços de
da ZOB. Yitzhack Zuckerman, água do Gueto. E, o pior, a munição
um dos sobreviventes, descreveu chegava ao fim.
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MONUMENTO AOS HERÓIS DO GUETO. CRIADO EM 1948 POR Nathan Jakow Rappaport. VARSÓVIA
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Morashá presta um grande serviço Tenho imenso prazer em receber Recebemos o material enviado a
cultural e humanitário ao Brasil e ao os números impressos da Morashá. esta Fundação, em cumprimento
mundo todo por seu conteúdo. Sinto Continuem com este trabalho de à legislação vigente de Depósito
falta de um link para fazer a tradução qualidade e produtividade. Shaná Tová! Legal. Agradecemos esta importante
das palavras para o português Tulio Bryk
contribuição para a preservação
para saber o seu significado, o que Beer Sheva - Israel e a guarda da Coleção “Memória
facilitaria muito a compreensão e não Nacional”, composta pela produção
interrupção das leituras. Parabéns, Queremos agradecer por receber esta intelectual do País.
D’us continue os abençoando. extraordinária revista. Seus artigos são Alessandra Moraes
Shalom! muitos significativos tanto na parte Chefe da Divisão de Depósito Legal
Fundação Biblioteca Nacional
Marcos Alexandre Kowarick
cultural, quanto no que diz respeito a Ministério da Cultura
Maranhão - MA nossa religião. Rio de Janeiro - RJ
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ANO XXV - edição 99 abril 2018