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de forma primordial o bloco das ciências, aliadas dos iluministas na luta contra os
valores tradicionais do Antigo Regime na França, e opostas às letras, identificadas com
as instituições sociais, políticas e intelectuais desse contexto, a Matemática figurará com
posição privilegiada.
D’Alembert, ao lado de Condorcet (1743-1794), é, sem dúvida, o representante
dos matemáticos mais ilustre do movimento iluminista. Alguns de seus textos, como o
Ensaio sobre os Elementos de Filosofia (d’Alembert, 1986) e alguns verbetes da
Enciclopédia (Diderot & d’Alembert, 1751, 1753, 1755, 1757, 1765), apresentam
concepções sobre diferentes aspectos da educação matemática que atestam essa posição
privilegiada da Matemática nas idéias sobre a instrução na França do Século das Luzes.
Com efeito, a Matemática ocupa lugar especial nas reflexões sobre os conhecimentos
humanos empreendidas por esse matemático, nas quais identificamos duas
características principais – uma visão empirista, que situa a fonte de qualquer
conhecimento nas sensações, juntamente com a crença na existência de uma ligação
entre todos os objetos de nossos conhecimentos. Neste trabalho, apresentamos e
comentamos as idéias de d’Alembert sobre a Geometria e seu ensino sob o ponto de
vista de sua teoria do conhecimento1. É preciso ter em vista que a Geometria figura, nos
trabalhos do enciclopedista da Matemática, como modelo para exemplificar tanto sua
concepção empirista sobre a origem dos conhecimentos, quanto o seu ideal de
encadeamento dos saberes.
Na exposição das concepções de d’Alembert procuraremos evidenciar aspectos
ligados à natureza e à validade do conhecimento geométrico, bem como aos modos de
acesso a esse conhecimento (dimensões epistemológica e psicológica); aspectos
relacionados às finalidades e aos valores do conhecimento geométrico (dimensão
teleológico-axiológica); aspectos referentes aos meios a serem usados no ensino da
Geometria (dimensão didático-metodológica).
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Um estudo mais completo sobre as idéias de d’Alembert em relação à educação matemática constitui o
terceiro capítulo de minha tese de doutorado, intitulada Quatro visões iluministas sobre a educação
matemática: Diderot, d’Alembert, Condillac e Condorcet (Gomes, 2003).
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noções consideradas como puro produto do intelecto não têm outra origem senão a
sensação, que ele explica ser apenas uma expressão comum a todas as idéias que
recebemos pelos sentidos (d’Alembert, 1986, p. 207). D’Alembert toma como base o
pensamento de John Locke (1632- 1704), que nega a existência de idéias inatas e
constrói toda a sua teoria do conhecimento com fundamento em dois princípios: a
sensação, impressão que os objetos exteriores deixam nos nossos sentidos, e a reflexão,
que designa o conjunto das operações de nossa mente em conseqüência dessas
impressões.
Também no Ensaio sobre os Elementos de Filosofia, publicado originalmente
em 1759, d’Alembert reitera a sua concepção de fundamento lockiano ao afirmar que os
verdadeiros princípios de cada ciência são os fatos simples e reconhecidos, que “não se
podem nem explicar, nem contestar” (d’Alembert, 1986, p. 27), porque são atestados
pelos nossos sentidos. Em particular, os verdadeiros princípios da Geometria2 são “as
propriedades sensíveis da extensão” (Idem, p. 19). A visão da Geometria como o
estudo das propriedades da extensão repete-se em duas outras passagens de d’Alembert,
a primeira retirada do Discurso Preliminar e a segunda do verbete Geometria da
Enciclopédia:
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Lembremos que no século XVIII, a Matemática é identificada com a Geometria, e a palavra “geômetra”
é aplicada ao matemático. O verbete Geômetra da Enciclopédia, escrito por d’Alembert, começa
precisamente por esse enfoque: “Diz-se propriamente de uma pessoa versada na Geometria, mas aplica-
se, em geral, esse nome a todo matemático porque, sendo a Geometria uma parte essencial das
Matemáticas, que tem sobre quase todas as outras uma influência necessária, é difícil ser-se versado
profundamente em qualquer que seja a parte das matemáticas sem sê-lo ao mesmo tempo na Geometria.
Assim, diz-se de Newton que era grande geômetra para dizer que era grande matemático” (Diderot &
d’Alembert, 1757, p. 627).
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Locke (1952, p. 134) também chama a extensão de idéia simples, mas ao mesmo tempo a considera
uma qualidade primária dos corpos, isto é, uma qualidade totalmente inseparável deles, a qual se mantém
mesmo que o corpo sofra mudanças. Ao dizer que as qualidades primárias dos corpos, como a extensão,
produzem em nós idéias simples, entre as quais a própria extensão, Locke identifica realidade objetiva e
realidade subjetiva, isto é, expressa-se de modo ambíguo, como se as idéias estivessem, ao mesmo tempo,
nas coisas e em nossa mente. Esta é, do mesmo modo, a escolha de d’Alembert.
subjetiva, isto é, expressa-se de modo ambíguo, como se as idéias estivessem, ao mesmo tempo, nas
coisas e em nossa mente. Esta é, do mesmo modo, a escolha de d’Alembert.
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“Não se poderia melhor exprimir as idéias simples senão pelo termo que as expressa: uma definição
apenas as obscureceria” (d’Alembert, 1986, p. 29).
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algumas de suas propriedades, sem prestar atenção às outras5. Leiamos o trecho em que
o enciclopedista explica como chegamos à idéia simples abstrata de extensão ou espaço:
“Em lugar de dizer, por exemplo, como se faz no início de quase todos os
elementos de Geometria – a linha é uma extensão sem largura nem profundidade, a
superfície uma extensão sem profundidade, o corpo uma extensão com largura,
comprimento e profundidade – eu preferiria proceder da seguinte maneira. Suponho
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Essa referência de d’Alembert ao sentido comum da palavra “abstração” na conversação parece nos
indicar sua percepção de que o termo pode, para muitos, evocar a idéia de algo que exige muito esforço.
Em contrapartida, ele procura esclarecer que usa essa palavra para denominar uma operação simples da
mente, a de isolar uma determinada propriedade de um objeto mediante a desconsideração de outras
propriedades do mesmo objeto.
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que tenho entre as mãos um corpo sólido qualquer; distingo primeiro três coisas:
extensão, limites em todos os sentidos e impenetrabilidade; faço abstração dessa
última e restam-me a idéia de extensão e a de limites, e essa idéia constitui o corpo
geométrico, que difere do corpo físico pela idéia da impenetrabilidade, essencial a este
último. Em seguida, faço abstração da extensão ou do espaço que esse corpo encerra,
para não considerar senão seus limites em todos os sentidos, e esses limites me dão a
idéia de superfície, que se reduz, como é visível, a uma extensão de duas dimensões.
Enfim, na idéia de superfície faço ainda abstração de uma das duas dimensões que a
compõem, e resta-me a idéia de linha.” (d’Alembert, 1986, p. 208, destaques no
original).
Essa conceituação por meio de abstrações sucessivas, as quais reduzem cada vez
mais as qualidades a serem consideradas na idéia já abstrata de corpo, torna o objeto de
estudo dos geômetras simplificado ao máximo, fato este que constitui, segundo
d’Alembert, uma vantagem que se apresenta aos geômetras em relação aos outros
cientistas (d’Alembert, 1986, p. 34). E como se percebe, a metodologia proposta por
d’Alembert privilegia a abordagem da Geometria a partir do espaço tridimensional. Mas
há mais: d’Alembert diz que é para determinar mais facilmente as propriedades da
extensão que se considera primeiro uma única dimensão – o comprimento ou a linha,
em seguida duas dimensões, que constituem a superfície, e enfim as três dimensões
juntas, das quais resulta a solidez. O matemático acentua que a consideração das linhas
como sem largura e das superfícies como sem profundidade, empreendida mediante
uma abstração simples do espírito, faz com que as verdades que a Geometria demonstra
sobre a extensão sejam verdades de pura abstração, ou verdades hipotéticas. Todavia, o
valor dessas verdades não é menor – elas são muito úteis pelas conseqüências práticas
que daí resultam.
As proposições da Geometria são, para d’Alembert, “o limite intelectual das
verdades físicas, o termo do qual essas últimas podem se aproximar tanto quanto se
deseje, sem jamais aí chegar exatamente” (d’Alembert, 1986, p. 109). Além disso:
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Considerando os problemas envolvidos na busca de boas definições, d’Alembert chega a se referir à
definição e às propriedades da linha reta e das linhas paralelas como tropeço e escândalo dos elementos
de Geometria (d’Alembert, 1986, p. 318).
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“... obtemos a idéia de espaço tanto pela visão quanto pelo tato, o que é tão
evidente, penso eu, que seria tão desnecessário provar que os humanos percebem, por
sua visão, uma distância entre corpos de cores diferentes, ou entre as partes do mesmo
corpo, como que eles vêem as próprias cores; nem é menos óbvio que podem fazer isso
no escuro pelo toque e pelo tato” (Locke, 1952, p. 131).
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No verbete Geometria, d’Alembert considera que a Geometria elementar divide-se naturalmente em
geometria das linhas retas e das linhas circulares, geometria das superfícies e geometria dos sólidos. No
Ensaio sobre os Elementos de Filosofia, d’Alembert afirma que o círculo é a única figura curvilínea que
deve fazer parte da Geometria elementar, em virtude da facilidade de sua descrição e do uso que dele se
pode fazer para resolver a maior parte dos problemas dessa Geometria (d’Alembert, 1986, p. 116).
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Eis duas versões dessa noção:
“E as coisas que se ajustam uma sobre a outra são iguais entre si” (Bicudo, 2001).
“As coisas congruentes entre si são iguais entre si” (Vera, 1970).
No segundo enunciado, o tradutor de Euclides explica que no original, a palavra utilizada é
έφαρµοζειν, cujo significado é ajustar, encaixar. Assim, coisas congruentes são coisas que se ajustam
umas às outras sem se deformarem.
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princípio da medida dos ângulos, pois este último se deduz facilmente do primeiro.
Entretanto, ambos devem ser considerados princípios de primeira ordem, porque há
verdades sobre a medida e a relação dos ângulos que, além de dependerem do princípio
da superposição, demandam um pouco mais de combinações de idéias (d’Alembert,
1986, p. 221). Dessa maneira, por exemplo, têm-se como conseqüências do princípio da
medida dos ângulos o conhecimento da medida dos ângulos cujo vértice está sobre uma
circunferência e o da igualdade dos três ângulos de um triângulo a dois ângulos retos.
Vale a pena contrastar o grande destaque dado por d’Alembert ao princípio da
superposição com a atitude de Euclides em relação ao mesmo método. Szabó (1960)
toma como referência importante o trabalho de Kurt von Fritz, o qual aponta a
transformação sofrida pela Matemática grega no sentido de não se contentar mais com a
simples evidência visível que havia representado um papel importante nos primórdios
dessa ciência. Os gregos teriam se esforçado para excluir, tanto quanto possível,
elementos empírico-ilustrativos de sua Matemática e Euclides, por exemplo, muito
raramente usou o método da superposição. Em casos nos quais esse método não podia
ser evitado, ele teria tentado, pelo menos, dar a suas operações uma fundamentação
axiomática, procurando, ainda, camuflar as características empírico-ilustrativas de tal
método. D’Alembert, ao contrário, ao colocar a superposição como princípio
fundamental, acentua, coerentemente com sua posição empirista, a importância da
evidência visual: a mente fica satisfeita porque esse método, afinal, fala aos olhos.
D’Alembert não se propõe a compor elementos de Geometria, mas apresenta
vários exemplos de outros princípios de segunda ordem para exemplificar sua proposta
metodológica de representação em uma espécie de árvore genealógica, da dependência
entre as verdades da ciência geométrica. Sublinha ele que a elaboração de elementos de
Geometria não requereria que se detalhassem todas as proposições – bastaria que se
demonstrassem as proposições principais, e que se indicassem as que delas decorrem.
Vamos agora abordar outras indicações de d’Alembert para o ensino da
Geometria; embora relacionadas com o conteúdo abordado até aqui, preferimos tratá-las
separadamente, não somente para maior clareza da exposição, mas também para dar-
lhes maior destaque.
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No original, “aune”, que significa vara de medir. Segundo Houaiss (2001), a alna é uma antiga medida
de comprimento, que varia de acordo com a região em que é usada.
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que por isso mesmo são incapazes de fazer um livro útil nesse gênero” (d’Alembert,
1986, p. 115).
Estreitamente ligado à questão dos livros elementares, foco privilegiado das
atenções de d’Alembert, encontra-se um segundo ponto que passamos a comentar.
Trata-se dos destinatários da instrução, particularmente da educação matemática.
D’Alembert crê na possibilidade de ensinar a Geometria elementar a todas as
crianças, pois estas são capazes de a ela se aplicar; destaca que os elementos, sendo
pouco complicados, não exigem senão “uma concepção comum”, embora tais
qualidades medíocres não sejam suficientes ao estudo das Matemáticas transcendentes.
Com efeito, d’Alembert, como outros autores do século XVIII, distingue as pessoas
segundo talentos naturais diferentes: se todos podem aprender a Geometria elementar,
para que alguém seja um especialista em Geometria10, e mesmo para que seja apenas
isso, é preciso um grau de inteligência menos comum; para ser mais do que isso, isto é,
para ser um inventor, é preciso mais do que inteligência: é preciso gênio, ou seja, talento
para inventar. Ele acrescenta que a inteligência do geômetra é diferente daquela que
produz a poesia, a eloqüência e a história (Diderot & d’Alembert, 1757, verbete
Geômetra).
No verbete Geometria, d’Alembert indica diferentes possibilidades para a
educação geométrica, de acordo com os objetivos daqueles que se propõem a recebê-la:
“... uns querem limitar-se à prática, e para esses um bom tratado de geometria
prática basta, acrescentando, caso se deseje, alguns raciocínios que esclareçam as
operações até um certo ponto, e que as impeçam de se limitar a uma rotina cega;
outros querem ter uma tintura de Geometria elementar especulativa, sem pretender
levar mais longe tal estudo; para esses, não é necessário colocar grande rigor nos
elementos: podem-se supor verdadeiras muitas proposições, cuja verdade se percebe
bastante por si própria, e se demonstra nos elementos comuns. Há, enfim, os estudantes
que não têm a força de espírito necessária para dominar de imediato os diferentes
aspectos de uma demonstração complicada, e para esses são necessárias
demonstrações mais fáceis, ainda que menos rigorosas. Mas para os espíritos
verdadeiramente adequados a essa ciência, para aqueles que estão destinados a fazer
os seus progressos, acreditamos que só há uma maneira de tratar os elementos: aquela
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No original, “savant géometre”.
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que unirá o rigor à clareza, e que ao mesmo tempo levará ao caminho das descobertas,
pela maneira com que se apresentarão as demonstrações. Para isso, é preciso mostrá-
las, tanto quanto possível, sob a forma de problemas a resolver mais que sob a forma
de teoremas a provar, dado que de um outro lado, esse método não prejudique a
genealogia natural das idéias e das proposições, e que ele não leve a supor como
verdadeiro aquilo que em rigor geométrico precisa de prova” (Diderot & d’Alembert,
1757, p. 635, negritos meus).
Transcrevemos essa longa passagem, porque ela nos revela muito do ideário de
d’Alembert quanto à instrução – ela torna claro que, embora o matemático-filósofo
considere que a única maneira de tratar bem, nos livros, os elementos de uma ciência
exata e rigorosa como a Geometria é colocar neles todo o rigor e exatidão possíveis, as
diferenças entre os estudantes podem levar a graus diferenciados de rigor na
apresentação das demonstrações. Todavia, a despeito dessa diversidade de
possibilidades, devemos observar que d’Alembert tem uma preocupação constante – a
de que a educação matemática não seja autoritária e repetidora de rotinas sem
fundamentação: que seja, ao contrário, clara, compreensível e rigorosa na medida das
capacidades e dos interesses dos alunos.
Um terceiro aspecto que queremos comentar é o que diz respeito às finalidades e
aos valores do ensino da Geometria, de acordo com d’Alembert. É forte a argumentação
em favor do potencial formativo desse conhecimento em seus escritos. Criticando
ferozmente a instrução dos jesuítas, assentada sobre o Latim, a Retórica e a Religião, ele
propõe mudanças no sentido de inversão das prioridades no ensino. Deseja que a
Filosofia preceda a Retórica, já que é preciso aprender a pensar antes de aprender a
escrever. A Filosofia idealizada por ele para a educação dos jovens inclui a Geometria,
“que é de todas as lógicas e as físicas a melhor” (Diderot & d’Alembert, 1753, p. 635).
É no verbete Geômetra que o enciclopedista mais enaltece as virtudes da
educação matemática, sempre se referindo à Geometria. Assim, a justeza e a ligação de
idéias a que acostuma o estudo dessa ciência favorece a escrita até em outros gêneros
como a moral, a literatura e a crítica. Mais: o espírito geométrico, que é o espírito do
método e da justeza pode, para d’Alembert, ser usado com igual sucesso em outras
matérias que não a Geometria. E finalmente, o estudo da Geometria pode “preparar
como que insensivelmente as vias para o espírito filosófico e para dispor toda uma
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nação a receber a luz que esse espírito pode nela difundir” (Diderot & d’Alembert,
1757, p. 628).
Para concluir, observemos que para d’Alembert é inestimável o valor da
Geometria: além de suas utilidades práticas e de seu papel de via de acesso a outros
campos da ciência, ela tem a potencialidade de contribuir para a formação do bom
pensamento. No espírito iluminista francês, essa contribuição está associada ao ideal de
esclarecer os povos para que as nações ganhem a batalha contra os preconceitos e as
superstições que geram as injustiças, para caminhar na direção de mudanças radicais na
ordem política, social e econômica. Ainda que seja um otimista pedagógico, por
acreditar que os conhecimentos são acessíveis a todos, d’Alembert acredita que há
desigualdades naturais entre os indivíduos e que essas desigualdades só podem ser
diminuídas até certo ponto pela educação. A análise de seus trabalhos sobre a Geometria
e seu ensino que quisemos apresentar precisa ser situada na perspectiva de que a
instrução pode, sim, aperfeiçoar todos os espíritos, e esse aperfeiçoamento precisa ser
assegurado pelo Estado, para que as nações possam trilhar o caminho do progresso, ao
qual é imprescindível a difusão dos conhecimentos.
Referências Bibliográficas
D’Alembert, Jean. Essai sur les Éléments de Philosophie ou Sur les Principes des
Connaissances Humaines. Texte revue par Catherine Kintzler. Tours : Fayard, 1986.
Diderot, Denis & d’Alembert, Encyclopédie ou Dictionnaire Raisonné des Sciences, des
Arts et des Metiers. Tome VII. Par une Societé des Gens de Lettres. Paris : Briasson,
David, Lebreton, Durand, 1757. Edição Fac-Simile de Pergamon Press.
Szabó, Arpad. The Transformation of Mathematics into Deductive Science and the
Begginings of its Foundation on Definitions and Axioms. Part One. In: Scripta
Mathematica, volume XXVII, n. 1, p. 20-48 a, 1960.