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Direito
Teoria Política
Gabriel Garcia Rafaelli Rigoni – gabrielgarciarigoni@gmail.com
Com efeito, cada indivíduo (como homem) pode ter interesses particulares
contrários ou dessemelhantes com a vontade geral. A existência dele é
naturalmente independente do contrato, e ele encara o que deve a causa comum
como uma contribuição gratuita. O Estado sendo um ser moral de razão e não
humano, ele gostará de gozar de todos direitos do cidadão, mas não de cumprir
as obrigações como vassalo. Com o objetivo de que não seja inútil o pacto social
(que contém tacitamente esta obrigação), será constrangido pelo corpo aquele
que se recusa a obedecer a vontade geral, o que apenas significa que será
forçado a ser livre.
Pela mesma razão que a torna alienável, a soberania é indivisível, por que
a vontade é geral ou não é. A declaração da vontade geral é um ato soberano e
é confirmado como lei. A declaração de uma parte é uma vontade particular ou
ato de magistratura (um decreto, no máximo). Como a soberania não é divisível,
a princípio, os políticos a dividem em seus fins e objeto, em força e vontade, em
poder executivo, legislativo, etc., ora confundindo as partes, ora separando-as.
Fazem do soberano um ser fantástico formado de peças ajustadas. Após
desmembrar o corpo social com habilidade e prestígio ilusórios, unem as
diferentes partes não se sabe como. Este erro é proveniente da inexistência de
noções exatas da autoridade soberana, como partes integrantes da autoridade
o que eram apenas emanações dela. Sobre esta ótica o direito de guerra foi visto
como um ato de soberania, o que é falacioso, pois estes atos não constituem
uma lei, se tratando de aplicação da lei. Observado assim as outras divisões, o
mesmo erro ocorre novamente. É ilusória a divisão da soberania. Os direitos
tomados como parte da soberania lhe são subordinados e sempre supõe
vontades supremas, dos quais esses direitos só dão a execução.
A vontade geral é sempre reta e tende à utilidade pública, mas nem todas
as deliberações possuem sempre a mesma retitude. Sempre se quer o próprio
bem, mas nem sempre o vê. Não se corrompe um povo, mas o pode enganar.
Há diferenças entre a vontade geral e a vontade de todos. A vontade geral olha
o interesse comum e a outra o interesse privado, soma de vontades particulares.
A vontade geral é o resultado da soma das vontades particulares subtraídas das
vontades que reciprocamente se destroem. O povo quando delibera
suficientemente informado será bom e a vontade geral se dará pela soma das
pequenas diferenças se os cidadãos permanecerem incomunicáveis. Porém,
quando há brigas e formações de facções e associações parciais as custas da
associação geral, a vontade de cada uma destas se torna a vontade geral dos
seus membros, e particular perante ao Estado. Pode se afirmar que não há
tantos votantes quanto são os homens. As diferenças serão mais numerosas e
o resultado menos geral. Se a vontade de uma destas associações excederem
a geral, o resultado será a diferença e não a somas das diferenças. Afim de se
ter o perfeito enunciado da vontade geral não pode haver sociedade parcial e
todo o cidadão deve manifestar o próprio pensamento. Se houver sociedades
parciais será necessário multiplicar o seu número e prevenir a desigualdade
entre elas.
Quando se diz que o objeto da Lei é sempre geral é porque a Lei considera
os vassalos e as ações de forma abstrata, nunca como indivíduos e ações
particulares. Deste modo a lei pode estabelecer perfeitamente que haverá
privilégios, mas não nominar a quem. Pode estabelecer um governo real e uma
sucessão hereditária, mas não pode eleger um rei ou nomear uma família real.
Toda função que se relacione com o objeto individual não pertence de nenhum
modo ao poder legislativo. As leis (conforme esta ideia disposta) constituem aos
atos da vontade geral. Emanam da vontade popular. Nem o príncipe está acima
da lei, dado que é membro do Estado. Nem se a lei pode ser injusta, dado que
ninguém é injusto consigo mesmo; nem em que sentido nós somos livres e
sujeitos às leis, dado que estas são apenas registros de nossas vontades. É
evidente que tudo que um homem ordena de sua cabeça, seja ele quem for, não
é lei; também, o que o corpo soberano ordena sobre um objeto particular não é
lei. É um decreto, não uma lei. É ato de magistratura, não ato de soberania.
República é todo Estado redigido por leis, pois então somente o interesse
público governa, e a coisa pública algo representa. Todo governo legitimo é
republicano. As leis são as condições de associação civil. O povo que se
submete às leis deve ser o autor das mesmas. São elas que dão as diretrizes da
vida social e do modo de organização. Surge então a necessidade de um
legislador.