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2018.

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ESTATUTO DO DESARMAMENTO – LEI 10.826/2003 2018.1
APRESENTAÇÃO .......................................................................................................................... 4
PARTE GERAL ............................................................................................................................... 5
1. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA ..................................................................................................... 5
2. NOÇÕES PRELIMINARES ...................................................................................................... 5
3. CLASSIFICAÇÃO DAS ARMAS DE FOGO ............................................................................. 6
3.1. ARMAS DE FOGO DE USO PERMITIDO ........................................................................ 6
3.2. ARMAS DE FOGO DE USO RESTRITO .......................................................................... 6
3.3. ARMAS DE FOGO DE USO PROIBIDO ........................................................................... 6
4. REGISTRO E PORTE DE ARMA DE FOGO ........................................................................... 6
4.1. 1ª ETAPA: AQUISIÇÃO DA ARMA DE FOGO .................................................................. 7
4.2. 2ª ETAPA: REGISTRO ..................................................................................................... 7
4.3. 3ª ETAPA: AUTORIZAÇÃO PARA O PORTE................................................................... 8
4.4. AUSÊNCIA DO REGISTRO OU DE AUTORIZAÇÃO PARA O PORTE E ADEQUAÇÃO
TÍPICA ........................................................................................................................................ 9
4.5. REGISTRO DE ARMA DE FOGO E LEI MARIA DA PENHA .......................................... 12
DOS CRIMES E DAS PENAS....................................................................................................... 13
1. POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO ....................................... 13
1.1. PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES INCIAIS ........................................................ 13
1.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA............................................................................................. 13
1.3. SUJEITOS DO DELITO .................................................................................................. 13
1.3.1. Sujeito ativo ............................................................................................................. 13
1.3.2. Sujeito passivo ........................................................................................................ 13
1.4. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA ...................................................................................... 13
1.5. GUARDA DE ARMA DE FOGO COM REGISTRO VENCIDO ........................................ 14
1.6. AÇÃO PENAL ................................................................................................................. 15
1.7. ABOLITIO CRIMINIS TEMPORÁRIA .............................................................................. 15
1.8. PENA .............................................................................................................................. 16
2. OMISSÃO DE CAUTELA ....................................................................................................... 16
2.1. PREVISÃO LEGAL ......................................................................................................... 16
2.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA............................................................................................. 17
2.3. SUJEITOS DO DELITO .................................................................................................. 17
2.3.1. Sujeito ativo ............................................................................................................. 17
2.3.2. Sujeito passivo ........................................................................................................ 17
2.4. ELEMENTO SUBJETIVO ............................................................................................... 17
2.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA ...................................................................................... 17
2.6. FIGURA EQUIPARADA À OMISSÃO DE CAUTELA ...................................................... 17
2.6.1. Objetividade jurídica ................................................................................................ 18
2.6.2. Sujeitos do delito ..................................................................................................... 18
2.6.3. Observações importantes ........................................................................................ 18
2.6.4. Consumação e tentativa .......................................................................................... 18
3. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO................................................ 18
3.1. PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES...................................................................... 19
3.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA............................................................................................. 19
3.3. SUJEITOS DO DELITO .................................................................................................. 19
3.3.1. Sujeito ativo ............................................................................................................. 19
3.3.2. Sujeito passivo ........................................................................................................ 19
3.4. ELEMENTO NORMATIVO.............................................................................................. 19

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3.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA ...................................................................................... 19
3.6. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES .................................................................................. 20
3.6.1. Crime de perigo abstrato ......................................................................................... 20
3.6.2. Porte simultâneo de duas ou mais armas de fogo ................................................... 20
3.6.3. Porte simultâneo: arma de fogo de uso restrito e de uso permitido .......................... 20
3.6.4. Porte de arma de brinquedo .................................................................................... 21
3.6.5. Tipo misto alternativo ............................................................................................... 21
3.6.6. Porte ilegal de arma de fogo desmuniciada ............................................................. 21
3.6.7. Porte de munição e lesividade da conduta............................................................... 21
3.6.8. Uso de munição como pingente e atipicidade .......................................................... 21
4. DISPARO DE ARMA DE FOGO ............................................................................................ 22
4.1. PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES...................................................................... 22
4.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA............................................................................................. 22
4.3. SUJEITOS DO DELITO .................................................................................................. 22
4.3.1. Sujeito ativo ............................................................................................................. 22
4.3.2. Sujeito passivo ........................................................................................................ 22
4.4. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA ...................................................................................... 22
4.5. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES .................................................................................. 23
4.5.1. Pluralidade de disparos ........................................................................................... 23
4.5.2. Veracidade do projétil .............................................................................................. 23
4.5.3. Crime mais grave e absorção .................................................................................. 23
4.5.4. Porte ilegal e disparo de arma de fogo .................................................................... 23
4.6. PENA .............................................................................................................................. 23
5. POSSE E PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO ................................. 24
5.1. PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES...................................................................... 24
5.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA............................................................................................. 24
5.3. SUJEITOS DO DELITO .................................................................................................. 24
5.3.1. Sujeito ativo ............................................................................................................. 24
5.3.2. Sujeito passivo ........................................................................................................ 25
5.4. ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO .............................................................................. 25
5.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA ...................................................................................... 25
5.6. FIGURAS EQUIPARADAS ............................................................................................. 25
5.6.1. (I) Suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de indicação de arma de
fogo ou artefato...................................................................................................................... 25
5.6.2. (II) Modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a
arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir
a erro autoridade policial, perito ou juiz .................................................................................. 26
5.6.3. (III) Possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar ............................... 26
5.6.4. (IV) Portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração,
marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado ................. 26
5.6.5. (V) Vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório,
munição ou explosivo a criança ou adolescente .................................................................... 27
5.6.6. (VI) Produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer
forma, munição ou explosivo ................................................................................................. 27
5.7. ROL DOS CRIMES HEDIONDOS .................................................................................. 27
5.8. PENA .............................................................................................................................. 27
6. COMERCIO ILEGAL DE ARMA DE FOGO ........................................................................... 27

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6.1. PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES...................................................................... 27
6.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA............................................................................................. 28
6.3. SUJEITOS DO DELITO .................................................................................................. 28
6.3.1. Sujeito ativo ............................................................................................................. 28
6.3.2. Sujeito passivo ........................................................................................................ 28
6.4. OBJETO MATERIAL....................................................................................................... 28
6.5. ELEMENTO NORMATIVO.............................................................................................. 28
6.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA ...................................................................................... 28
6.7. PENA .............................................................................................................................. 29
7. TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO ............................................................... 29
7.1. PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES...................................................................... 29
7.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA............................................................................................. 29
7.3. OBJETO MATERIAL....................................................................................................... 29
7.4. SUJEITOS DO DELITO .................................................................................................. 29
7.4.1. Sujeito ativo ............................................................................................................. 29
7.4.2. Sujeito passivo ........................................................................................................ 29
7.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA ...................................................................................... 29
7.6. TRÁFICO INTERNACIONAL DE MUNIÇÃO E PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA ........ 30

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APRESENTAÇÃO

Olá!

Inicialmente, gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja


útil na sua preparação, em todas as fases. Quanto mais contato temos com uma mesma fonte de
estudo, mais familiarizados ficamos, o que ajuda na memorização e na compreensão da matéria.

O Caderno Legislação Penal Especial – Estatuto do Desarmamento possui como base as


aulas do professor Cleber Masson, do Curso G7 Jurídico.

Dois livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial: a)
Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar),
ano 2016 e b) Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ano 2017, ambos da Editora
Juspodivm.

Na parte jurisprudencial, utilizamos os informativos do site Dizer o Direito


(www.dizerodireito.com.br), os livros: Principais Julgados STF e STJ Comentados, Vade Mecum de
Jurisprudência Dizer o Direito, Súmulas do STF e STJ anotadas por assunto (Dizer o Direito).
Destacamos: é importante você se manter atualizado com os informativos, reserve um dia da
semana para ler no site do Dizer o Direito.

Ademais, no Caderno constam os principais artigos de lei, mas, ressaltamos, que é


necessária leitura conjunta do seu Vade Mecum, muitas questões são retiradas da legislação.

Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.

Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante!! As bancas costumam repetir certos temas.

Vamos juntos!! Bons estudos!!

Equipe Cadernos Sistematizados.

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PARTE GERAL

1. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA

O primeiro diploma legislativo a tratar sobre armas de fogo foi a Lei de Contravenções
Penais, em seu art. 19, o qual foi parcialmente revogado (em relação às armas de fogo), mas
continua válido no que se refere às armas brancas (dotada de ponta ou gume).

Art. 19. Trazer consigo arma fora de casa ou de dependência desta, sem
licença da autoridade:
Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos
mil réis a três contos de réis, ou ambas cumulativamente.

Em 1997 editou-se a Lei 9.437, que tratava sobre armas de fogo. Note que o porte ilegal de
arma de fogo, a posse ilegal de arma de fogo, antes meras contravenções, a partir de 1997 passo
a ser considerados crimes.

Ressalta-se que todos os crimes estavam previstos no art. 10 da Lei (posse, porte, comércio,
disparo etc.), sujeitos a uma mesma pena. Ou seja, tínhamos condutas de gravidades totalmente
diferentes, submetidas a uma mesma pena. Era uma violação ao princípio da proporcionalidade e
da individualização da pena (que também se dirige ao poder legislativo). Vejamos a redação do art.
10 da Lei 9.437/97, revogado pela Lei 10.826/03.

Lei 9.437/97 Art. 10. Possuir, deter, portar, fabricar, adquirir, vender, alugar,
expor à venda ou fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda
que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda e
ocultar arma de fogo, de uso permitido, sem a autorização e em desacordo
com determinação legal ou regulamentar.

Por fim, em 2003 foi editada a Lei 10.826/03, conhecida como Estatuto do Desarmamento,
fruto de um processo de conscientização da retirada das armas de fogo de circulação, a qual
revogou integralmente a Lei 9.437/97.

O estatuto pune a posse (art. 12), porte (art. 14), posse/porte de uso proibido (art. 16),
disparo (art. 15), comércio (art. 17), tráfico internacional (art. 18). Agora, o Estatuto atende à
proporcionalidade e à individualização da pena.

2. NOÇÕES PRELIMINARES

O Capitulo I do Estatuto do Desarmamento regulamenta o SINARM – Sistema Nacional de


Armas, órgão instituído no Ministério da Justiça, no âmbito da Policia Federal, com circulação em
todo o território nacional.

Antes, o controle de armas era exercido por cada Estado através da Polícia Civil.

O art. 2º, parágrafo único é claro ao ressalvar que o Estatuto do Desarmamento não é
aplicado as Forças Armadas, observe:

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 5


Art. 2º, Parágrafo único. As disposições deste artigo não alcançam as armas
de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, bem como as demais que constem
dos seus registros próprios.

Destaca-se que o Decreto 5.123/2004 regulamenta o Estatuto do Desarmamento, eis que o


legislador optou por regulamentação da lei, conforme observamos, por exemplo, nos arts. 3º,
parágrafo único, 4º, III, 4º, §8º, dentre outros.

Art. 3o É obrigatório o registro de arma de fogo no órgão competente.


Parágrafo único. As armas de fogo de uso restrito serão registradas no
Comando do Exército, na forma do regulamento desta Lei.

3. CLASSIFICAÇÃO DAS ARMAS DE FOGO

O Estatuto separa as armas de fogo em três grandes grupos, a seguir veremos cada um
deles.

3.1. ARMAS DE FOGO DE USO PERMITIDO

São aquelas cuja utilização pode ser autorização tanto a pessoas físicas quanto a pessoas
jurídicas.

A relação das armas de fogo de uso permitido encontra-se no art. 17 do Decreto 3.665/2000
(nova redação do Regulamento para Fiscalização de Produtos Controlados – R. 105).

Por exemplo, revolveres até calibre 38 são de uso permitido.

3.2. ARMAS DE FOGO DE USO RESTRITO

São as de uso exclusivo das Forças Armadas, de Instituições de Segurança Pública e de


pessoas físicas ou jurídicas habilitadas, devidamente autorizadas pelo Comando do Exército, nos
termos do art. 11 do Decreto 5.123/2004, com relação contida no art. 16 do Decreto 3.665/2000.

Temos aqui: armas automáticas, K47.

3.3. ARMAS DE FOGO DE USO PROIBIDO

São aquelas em que há total vedação ao uso. Não foram definidas no decreto.

Cita-se, como exemplo, armas nucleares.

4. REGISTRO E PORTE DE ARMA DE FOGO

São necessárias três etapas: compra da arma de fogo (1ª etapa), registro da arma de fogo
(2ª etapa) e autorização para o porte (3ª etapa)

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 6


4.1. 1ª ETAPA: AQUISIÇÃO DA ARMA DE FOGO

A pessoa interessada na aquisição da arma de fogo, conforme disposto no art. 28 do


Estatuto, deve ter mais de 25 anos salvo quando a pessoa for:

• Integrante das Forças Armadas;

• Integrante dos órgãos definidos no art. 144 da CF (polícia civil, polícia militar, polícia
federal);

• Integrante das guardas municipais das capitais dos Estados (pouco importante a
população) e dos Municípios com mais de 500 mil habitantes;

• Agentes operacionais da ABI e os agentes do Departamento de Segurança do Gabinete


de Segurança Institucional da Presidência da República;

• Integrantes do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, das escoltas de presos
e as guardas portuárias;

• Integrantes das carreiras de Auditoria da Receita Federal e da Auditoria-Fiscal do


Trabalho, cargos de Auditor-Fiscal e Analista Tributário.

Art. 28. É vedado ao menor de 25 (vinte e cinco) anos adquirir arma de fogo,
ressalvados os integrantes das entidades constantes dos incisos I, II, III, V,
VI, VII e X do caput do art. 6o desta Lei.

Além da idade de 25 anos, é necessário atender determinados requisitos, são eles:

• Comprovação de idoneidade

• Ocupação lícita

• Residência

• Capacidade para manuseio da arma.

Quando os requisitos legais estiverem presentes, o SINARM emitira autorização para a


compra da arma de fogo. É uma autorização específica para a pessoa e para a arma. Igualmente,
a compra de munição é específica para a arma de fogo autorizada, vejamos os parágrafos 2º e 3º
do art. 4º do Estatuto:

Art. 4º (...)
§ 1o O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de fogo após
atendidos os requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do requerente
e para a arma indicada, sendo intransferível esta autorização.
§ 2o A aquisição de munição somente poderá ser feita no calibre
correspondente à arma registrada e na quantidade estabelecida no
regulamento desta Lei.

4.2. 2ª ETAPA: REGISTRO

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Após a aquisição da arma de fogo, o interessado deverá registrá-la perante o órgão
competente.

A definição do órgão competente está relacionada com a classificação da arma de fogo.


Assim:

• ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO: compete à Polícia Federal, após a anuência do


SINARM, com validade em todo o território nacional;

• ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO: compete ao Comando do Exército.

A finalidade do registro é autorizar o proprietário a manter a arma de fogo no interior de sua


residência, ou ainda em seu local de trabalho, desde que ele seja o titular ou responsável legal do
estabelecimento ou empresa.

4.3. 3ª ETAPA: AUTORIZAÇÃO PARA O PORTE

Para que a arma de fogo seja levada trazida consigo em via pública ou em local distinto,
será necessária a autorização para o porte, nos termos do art. 6º e seguintes do Estatuto do
Desarmamento.

Em regra, o porte é vedado em todo o território nacional, conforme se depreende do art. 6º,
in verbis:

Art. 6o É proibido o porte de arma de fogo em todo o território nacional, salvo


para os casos previstos em legislação própria e para:

Contudo, em casos excepcionais, a autorização para o porte poderá ser concedida em


algumas hipóteses, seja em caso de função do sujeito, seja em decorrência da obtenção de
autorização junto à Polícia Federal, após a anuência do SINARM, desde que preenchidos os
requisitos legais (art. 10)

Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido, em todo
o território nacional, é de competência da Polícia Federal e somente será
concedida após autorização do Sinarm.
§ 1o A autorização prevista neste artigo poderá ser concedida com eficácia
temporária e territorial limitada, nos termos de atos regulamentares, e
dependerá de o requerente:
I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de atividade
profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física;
II – atender às exigências previstas no art. 4o desta Lei;
III – apresentar documentação de propriedade de arma de fogo, bem como o
seu devido registro no órgão competente.
§ 2o A autorização de porte de arma de fogo, prevista neste artigo, perderá
automaticamente sua eficácia caso o portador dela seja detido ou abordado
em estado de embriaguez ou sob efeito de substâncias químicas ou
alucinógenas.

Obs.: Mesmo no caso de porte funcional é necessário o cumprimento da 1ª e da 2ª etapa.

Ressalta-se que o porte funcional, conforme entendimento do STJ (Info 554), não se estende
aos aposentados, eis que não exercem mais a função pública

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 8


Salienta-se que a autorização para o porte pode ser concedida com eficácia temporária e
territorial, e perderá sua eficácia se o portador for detido ou abordado em estado de embriaguez ou
sob o efeito de substâncias químicas ou alucinógenas.

Outrossim, a autorização para o porte não permite o porte ostensivo da arma de fogo, ou de
entrar ou com ela permanecer em locais públicos ou com aglomeração de pessoas, conforme
dispõe o art. 26 do Decreto 5.123/2004. Quando se viola tal regra haverá a cassação da autorização
e apreensão da arma de fogo.

Decreto 5.123/2004 Art. 26. O titular de porte de arma de fogo para defesa
pessoal concedido nos termos do art. 10 da Lei no 10.826, de 2003, não
poderá conduzi-la ostensivamente ou com ela adentrar ou permanecer em
locais públicos, tais como igrejas, escolas, estádios desportivos, clubes,
agências bancárias ou outros locais onde haja aglomeração de pessoas em
virtude de eventos de qualquer natureza. (Redação dada pelo Decreto nº
6.715, de 2008).
§ 1o A inobservância do disposto neste artigo implicará na cassação do Porte
de Arma de Fogo e na apreensão da arma, pela autoridade competente, que
adotará as medidas legais pertinentes.
§ 2o Aplica-se o disposto no §1o deste artigo, quando o titular do Porte de
Arma de Fogo esteja portando o armamento em estado de embriaguez ou
sob o efeito de drogas ou medicamentos que provoquem alteração do
desempenho intelectual ou motor.

Há, ainda, o porte de trânsito para desportistas, colecionadores e caçadores, o qual é


concedido pelo Comando do Exército, nos termos do art. 32 do Decreto 5.123/2004.

Art. 32. O Porte de Trânsito das armas de fogo de colecionadores e


caçadores será expedido pelo Comando do Exército.
Parágrafo único. Os colecionadores e caçadores transportarão suas armas
desmuniciadas.

Por fim, o porte na categoria “caçador de subsistência” poderá ser concedido pela Policia
Federal aos residentes em áreas rurais que comprovem depender do emprego de arma de fogo
para prover a subsistência alimentar familiar, desde que se trate de arma portátil, de uso permitido,
de tiro simples, com um ou dois canos, de alma lisa e de calibre igual ou inferior a 16.

4.4. AUSÊNCIA DO REGISTRO OU DE AUTORIZAÇÃO PARA O PORTE E ADEQUAÇÃO


TÍPICA

Para melhor compreensão, reproduzimos o quadro elaborado pelo Prof. Cleber Masson,
observe:

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 9


ESPÉCIE DE ARMA TIPIFICAÇÃO

Arma permitida – ausência de registro Posse ilegal de arma de fogo (art. 12)

Arma permitida – ausência de Porte ilegal de arma de fogo (art. 14)


autorização para o porte

Arma de uso registro – ausência de Art. 16


registro ou ausência de autorização para
o porte Obs.: Com a Lei 13.497/2017 passou a ser
considerado crime hediondo

Atenção para o Info 597 do STJ, observe a explicação do Prof. Márcio Cavalcante (Dizer o
Direito):

Imagine a seguinte situação hipotética:

João é Delegado de Polícia. Durante uma busca e apreensão realizada em sua residência
para apurar crimes contra a administração pública, foi encontrada uma arma de fogo de uso
permitido. A arma encontrada estava registrada em nome de outra pessoa (que não João) na
"Divisão de Fiscalização de Armas e Explosivos do Rio de Janeiro". Vale ressaltar, no entanto, que
a arma não possuía registro na Polícia Federal nem cadastro no SINARM, conforme exige o Decreto
nº 5.123/2004, que regulamenta o Estatuto do Desarmamento.

Diante disso, o Ministério Público denunciou João pela prática de posse irregular de arma
de fogo, conduta prevista no art. 12 da Lei nº 10.826/2003.

A defesa alegou que João, por ser Delegado de Polícia, possui porte de arma e que a falta
de registro na Polícia Federal e cadastro no SINARM seria mera irregularidade administrativa.
Argumentou-se também que poderia ser aplicado ao caso o princípio da adequação social. Por fim,
afirmou-se que não existiu crime porque não houve ofensa ao princípio da lesividade.

O STJ concordou com os argumentos da defesa?

NÃO. Segundo decidiu o STJ:

É típica e antijurídica a conduta de policial civil que, mesmo autorizado a portar ou possuir
arma de fogo, não observa as imposições legais previstas no Estatuto do Desarmamento, que
impõem registro das armas no órgão competente.

Não se pode aplicar ao caso o princípio da adequação social. O princípio da adequação


social, desenvolvido por Hanz Welzel, afasta a tipicidade dos comportamentos que são aceitos e
considerados adequados ao convívio social. De acordo com o referido princípio, os costumes
aceitos por toda a sociedade afastam a tipicidade material de determinados fatos que, embora

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 10


possam se subsumir a algum tipo penal, não caracterizam crime justamente por estarem de acordo
com a ordem social em um determinado momento histórico.

A adequação social é um princípio dirigido tanto ao legislador quanto ao intérprete da norma.

Quanto ao legislador, esse princípio serve como norte para que as leis a serem editadas não
punam como crime condutas que estão de acordo com os valores atuais da sociedade.

Quanto ao intérprete, esse princípio tem a função de restringir a interpretação do tipo penal
para excluir condutas consideradas socialmente adequadas. Com isso, impede-se que a
interpretação literal de determinados tipos penais conduza a punições de situações que a sociedade
não mais recrimina.

Assim, de acordo com este princípio, não se pode reputar como criminosa uma ação ou
omissão aceita ou tolerada pela sociedade, ainda que formalmente subsumida a um tipo legal
incriminador.

Possuir arma de fogo sem registro no órgão competente e que somente foi descoberta após
cumprimento de mandado de busca e apreensão não é conduta socialmente tolerável e adequada
no plano normativo penal, mesmo que tenha sido praticada por um Delegado de Polícia.

Por fim, analisando o fato sob a ótica do princípio da lesividade, tem-se que houve sim perigo
à incolumidade pública, considerando que o objetivo do Estatuto do Desarmamento foi o de ter
absoluto controle sobre as armas de fogo existentes no país.

Dessa forma, não se pode aplicar, ao caso concreto, o princípio da insignificância.

Cuidado para não confundir com este outro julgado na prova:

A Polícia, ao realizar busca e apreensão na casa de Pedro (Conselheiro do Tribunal de


Contas do Estado), lá encontrou uma pistola, de uso restrito (pistola calibre 9mm). Pedro não tinha
autorização para possuir e guardar essa arma de uso restrito, mas argumentou que, por ser
Conselheiro do TCE, é equiparado a magistrado e que, portanto, possui porte de arma. O Ministério
Público não concordou com o argumento e denunciou Pedro pela prática do art. 16 do Estatuto do
Desarmamento.

Segundo a denúncia, Pedro, mesmo sendo equiparado a magistrado, não poderia possuir
uma pistola calibre 9mm. Isso porque, de acordo com a Portaria ComEx n. 209 de 14.3.2014 (do
Comando do Exército), os magistrados somente poderão adquirir, para uso particular, armas de uso
restrito limitadas aos calibres ponto 357 Magnum e ponto 40. Logo, a pistola calibre 9mm está fora
da autorização concedida pela Portaria.

A questão foi julgada pelo STJ. Para o Tribunal, houve crime? NÃO.

O Conselheiro do Tribunal de Contas Estadual que mantém sob sua guarda arma ou
munição de uso restrito não comete o crime do art. 16 da Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do
Desarmamento). STJ. Corte Especial. APn 657-PB, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
21/10/2015 (Info 572).

Ressalta-se que o Estatuto do Desarmamento prevê tipos penais preventivos, que criam
uma espécie de obstáculos, o legislador antecipa a tutela penal. Assim, o legislador incrimina de

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 11


forma autônoma um ato preparatório de determinado crime. Por exemplo, o porte ilegal de arma de
fogo, isoladamente considerado, é um ato preparatório para o roubo ou para o homicídio.

4.5. REGISTRO DE ARMA DE FOGO E LEI MARIA DA PENHA

Observe o disposto no art. 22 da Lei Maria da Penha:

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e (OU) familiar contra a


mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor,
em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de
urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao
órgão competente (Polícia Federal), nos termos da Lei no 10.826, de 22 de
dezembro de 2003;

Caso continue com a arma, estará praticando o crime de posse ilegal de arma de fogo.

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 12


DOS CRIMES E DAS PENAS

1. POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO

1.1. PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES INCIAIS

O art. 12 do Estatuto do Desarmamento dispõe sobre o crime de posse irregular de arma de


fogo de uso permitido, vejamos o dispositivo legal:

Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou
munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda
no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do
estabelecimento ou empresa:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

Destaca-se que a conduta descrita no art. 12 está relacionada à ausência de registro da


arma de fogo, não há que se falar em porte, uma vez que a arma está na residência ou no local de
trabalho.

1.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA

Protege-se a incolumidade pública, mais especificamente a segurança pública. Além disso,


tutela-se o controle sobre a propriedade de armas de fogo.

1.3. SUJEITOS DO DELITO

1.3.1. Sujeito ativo

Qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo, inclusive o proprietário da arma (pagou, mas não
possui registro).

Trata-se de crime comum ou geral.

1.3.2. Sujeito passivo

É a coletividade. Portanto, estamos diante de um crime vago, ou seja, o sujeito passivo é


um ente destituído de personalidade jurídica.

1.4. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

É crime permanente, tendo em vista que a consumação se propaga no tempo, em razão


da vontade do agente.

Obs.: Por conta da permanência, devemos lembrar que: a) será possível a prisão em flagrante,
enquanto não cessada a permanência; b) o curso do prazo prescricional somente se inicia com a

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 13


cessação da permanência; c) sobrevindo lei penal mais gravosa enquanto não cessada a
permanência, poderá ser aplicada ao caso.

Nesse sentindo, destacamos o Info 506 do STJ:

Não é ilegal a prisão realizada por agentes públicos que não tenham
competência para a realização do ato quando o preso foi encontrado em
estado de flagrância. Os tipos penais previstos nos arts. 12 e 16 da
Lei n. 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) são crimes
permanentes e, de acordo com o art. 303 do CPP, o estado de
flagrância nesse tipo de crime persiste enquanto não cessada a
permanência. Segundo o art. 301 do CPP, qualquer do povo pode prender
quem quer que seja encontrado em situação de flagrante, razão pela qual a
alegação de ilegalidade da prisão - pois realizada por agentes que não tinham
competência para tanto - não se sustenta. HC 244.016-ES, Rel. Min. Jorge
Mussi, julgado em 16/10/2012.

Assim como outros crimes previstos no Estatuto do Desarmamento, a posse irregular de


arma de fogo de uso permitido é crime de perigo abstrato/perigo presumido. Ou seja, o crime se
consuma com a mera exposição do bem jurídico a uma probabilidade de dano, não se reclama o
dano efetivo. Como a lei presume de forma absoluta o perigo ao bem jurídico, não cabe prova em
contrário.

Obs.: Apenas para relembrarmos, tratando-se de crime de perigo concreto é necessário a


comprovação, não se presume.

Além disso, é um crime de mera conduta ou de simples atividade, eis que o tipo penal
se limita a descrever uma conduta, não há resultado naturalístico. O crime se consuma com a mera
posse irregular, não importa a finalidade.

É perfeitamente possível a tentativa.

1.5. GUARDA DE ARMA DE FOGO COM REGISTRO VENCIDO

A cada três anos, o titular da arma de fogo deve renovar o seu registro, nos termos do art.
5º, § 2º do Estatuto do Desarmamento, in verbis:

Art. 5º, § 2o Os requisitos de que tratam os incisos I, II e III do art. 4o deverão


ser comprovados periodicamente, em período não inferior a 3 (três) anos, na
conformidade do estabelecido no regulamento desta Lei, para a renovação
do Certificado de Registro de Arma de Fogo.

Nos casos em que o agente mantém a arma de fogo, sem renovar o registro, o STJ entende
que não há o crime do art. 12, mas mera infração administrativa. Vejamos, a sempre excelente,
explicação do Prof. Márcio Cavalcante (Dizer o Direito) sobre o tema, no Info 572 do STJ:

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 14


Argumentos:

• Não há dolo do agente que procede ao registro e, depois de expirado o prazo, é


apanhado com a arma nessa circunstância.

• Trata-se de uma irregularidade administrativa. Isso porque se a pessoa possui o registro


da arma de fogo de uso permitido, significa que o Poder Público tem completo
conhecimento de que ele possui o artefato em questão, podendo rastreá-lo, se
necessário. Logo, inexiste ofensividade na conduta.

• A mera inobservância da exigência de recadastramento periódico não pode conduzir à


incriminação penal. Cabe ao Estado apreender a arma e aplicar a punição administrativa
pertinente, não estando em consonância com o Direito Penal moderno deflagrar uma
ação penal para a imposição de pena tão somente porque o indivíduo - devidamente
autorizado a possuir a arma pelo Poder Público, diga-se de passagem - deixou de ir de
tempos em tempos efetuar o recadastramento do artefato. Portanto, até mesmo por
questões de política criminal, não há como submeter o paciente às agruras de uma
condenação penal por uma conduta que não apresentou nenhuma lesividade relevante
aos bens jurídicos tutelados pela Lei nº 10.826/2003, não incrementou o risco e pode ser
resolvida na via administrativa.

• O direito penal possui caráter subsidiário e de ultima ratio.

1.6. AÇÃO PENAL

É crime de ação penal pública incondicionada.

1.7. ABOLITIO CRIMINIS TEMPORÁRIA

O Estatuto do Desarmamento estabeleceu, em seu art. 30, um prazo de 180 dias para que
os possuidores e proprietários de armas de fogo de uso permitido fizessem a solicitação de registro.
Após sucessivas prorrogações, o prazo limite foi estipulado em 31 de dezembro de 2009, nos
termos do art. 20 da Lei 11.922/20.

Com base neste dispositivo, passou-se a entender que houve uma abolitio criminis
temporária para o crime de posse irregular de arma de fogo de uso permitido. De fato, se o cidadão

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 15


foi flagrado com uma arma dessa espécie em sua residência, por exemplo, entre a entrada em vigor
do Estatuto do Desarmamento e o dia 31 de dezembro de 2009, não poderia ser punido, pois ainda
possuía prazo para efetuar a solicitação do registro da arma.

Em sua redação originária, o Estatuto do Desarmamento autorizava essa abolitio criminis


temporária também para as condutas relacionadas às armas de uso restritos e àquelas que lhes
são equiparadas por Lei, como as armas de numeração raspada, suprimida ou adulterada. Em
relação a este tipo de arma, porém, a abolitio criminis temporária cessou no dia 23 de outubro de
2005.

Nesse sentindo, a Súmula 513 do STJ:

Súmula 513-STJ: A abolitio criminis temporária prevista na Lei n.


10.826/2003 aplica-se ao crime de posse de arma de fogo de uso permitido
com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado,
suprimido ou adulterado, praticado somente até 23/10/2005.

1.8. PENA

A pena será de um a três anos e multa.

Trata-se de crime de médio potencial ofensivo (pena de um a três anos), admitindo-se a


suspensão condicional do processo, prevista no art. 89 da Lei 9.099/95.

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a
um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a
denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam
a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).

Salienta-se que, como a pena não ultrapassa quatro anos, o próprio delegado poderá arbitrar
a fiança.

Por fim, estando presentes os requisitos do art. 44 do CP, é perfeitamente possível que a
pena seja convertida em restritiva de direitos, pois cabe a conversão quando a pena aplicada, ao
crime doloso, sem violência ou grave ameaça, não ultrapassa quatro anos.

2. OMISSÃO DE CAUTELA

2.1. PREVISÃO LEGAL

O crime de omissão de cautela está previsto no art. 13 do Estatuto do Desarmamento,


observe:

Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor
de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere
de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade:
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 16


2.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA

Tutela-se a segurança pública, bem como a integridade física do menor de 18 anos e do


portador de doença mental.

2.3. SUJEITOS DO DELITO

2.3.1. Sujeito ativo

Pode ser qualquer pessoa, trata-se de crime comum ou geral.

2.3.2. Sujeito passivo

São sujeitos passivos:

• A coletividade

• O menor de 18 anos

• O portador de doença mental

2.4. ELEMENTO SUBJETIVO

Os crimes do Estatuto do Desarmamento, em geral, são dolosos. Contudo, o crime de


omissão de cautela é culposo, eis que é um típico caso de negligência.

O proprietário da arma deixa de adotar as cautelas necessárias. Cita-se, como exemplo


recente, o caso do adolescente de Goiânia que teve acesso à arma da mãe e atirou contra seus
colegas de escola.

2.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

É crime material, o qual depende da produção do resultado naturalístico. Assim, não basta
que o agente seja negligente, é necessário que o menor ou que o portador de transtorno mental se
apodere da arma.

É crime de perigo abstrato.

É crime omissivo impróprio.

Por fim, não admite tentativa.

2.6. FIGURA EQUIPARADA À OMISSÃO DE CAUTELA

O parágrafo único traz um crime diferente em que é aplicado a mesma pena do art. 13,
vejamos:

Art. 13, Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor
responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 17


de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto,
roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição
que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de
ocorrido o fato.

Nos casos em que ocorre a perda, furto, roubo ou outra forma de extravio de arma de fogo,
a empresa de segurança tem a obrigação de comunicar à autoridade competente em 24h, sob pena
de responder pelo delito do art. 13, parágrafo único.

2.6.1. Objetividade jurídica

Protege-se a veracidade dos cadastros de arma de fogo perante o SINARM e o registro


perante o órgão competente (em regra, Polícia Federal).

2.6.2. Sujeitos do delito

a) Sujeito ativo

Trata-se de crime próprio ou especial, uma vez que somente pode ser praticado pelo
proprietário da empresa ou pelo diretor responsável.

b) Sujeito passivo

É a coletividade (crime vago)

2.6.3. Observações importantes

• As armas de fogo utilizadas pelas empresas de segurança e de transporte de valores


deverão pertencer a elas, ficando também sob sua guarda e responsabilidade;

• O registro e autorização para o porte, expedido pela Polícia Federal, deverão ser
elaborados no nome da empresa.

• A empresa deve apresentar ao SINARM, semestralmente, relação dos empregados


habilitados a portar as armas, restrita ao serviço.

Obs. Caso o funcionário da empresa seja surpreendido com a arma de fogo, fora do horário de
trabalho, responderá por porte ilegal de arma de fogo.

2.6.4. Consumação e tentativa

É um crime a prazo, em que o tipo penal condiciona a consumação do delito ao transcurso


de determinado tempo.

Assim, a consumação ocorrerá após o transcurso das 24h sem que haja a comunicação.

Não admite tentativa, pois se trata de um crime omissivo próprio.

3. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 18


3.1. PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES

O delito de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido está previsto no art. 14 do Estatuto
do Desarmamento, vejamos:

Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar,
ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob
guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem
autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a
arma de fogo estiver registrada em nome do agente. (Vide Adin 3.112-1)

Trata-se de crime de elevado potencial ofensivo, incompatível com os benefícios da Lei


9.099/95.

Ressalta-se que o STF, na ADI 3.112/1, considerou o parágrafo único inconstitucional, pois,
atualmente, apenas a CF pode dizer, de forma genérica e abstrata, que um crime é inafiançável.

3.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA

Tutela-se a incolumidade pública, mais especificamente a segurança pública.

3.3. SUJEITOS DO DELITO

3.3.1. Sujeito ativo

É crime comum ou geral, podendo ser praticado por qualquer pessoa.

Cuidado com o disposto no art. 20 do Estatuto do Desarmamento que traz uma causa de
aumento de pena, quando o crime é praticado por um dos integrantes dos órgãos e empresas
constantes nos arts. 6º, 7º e 8º da Lei.

Art. 20. Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é
aumentada da metade se forem praticados por integrante dos órgãos e
empresas referidas nos arts. 6o, 7o e 8o desta Lei.

3.3.2. Sujeito passivo

É a coletividade, trata-se de crime vago.

3.4. ELEMENTO NORMATIVO

O tipo penal do art. 14 contém um elemento normativo, qual seja: “sem autorização e em
desacordo com determinação legal ou regulamentar”.

Desta forma, conclui-se que é possível portar legalmente uma arma de fogo.

3.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 19


É crime de mera conduta, pois se esgota no porte ilegal da arma de fogo.

É crime de perigo abstrato.

É possível a tentativa quando, por exemplo, o agente inicia os atos de execução, mas não
logra êxito em adquirir a arma de fogo de uso permitido.

3.6. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES

3.6.1. Crime de perigo abstrato

Significa que a lei presume, de forma absoluta, que a arma de fogo representa um perigo à
segurança pública.

O STJ, no Info 570, entendeu que é atípica a conduta de portar arma de fogo ineficaz.
Vejamos a ótima explicação do Prof. Márcio Cavalcante (Dizer o Direito):

3.6.2. Porte simultâneo de duas ou mais armas de fogo

Prevalece o entendimento que o agente responde apenas por um crime, sendo que a
pluralidade de armas influi na dosimetria da pena.

Nesse sentindo, o HC 148.349/SP:

HC 148.349/ SP – Informativo 448 STJ: O crime de manter sob a guarda


munição de uso permitido e de uso proibido caracteriza-se como crime único,
quando houver unicidade de contexto, porque há uma única ação com lesão
de um único bem jurídico, a segurança coletiva, e não concurso formal.

3.6.3. Porte simultâneo: arma de fogo de uso restrito e de uso permitido

Igualmente, prevalece o entendimento que irá responder por um único crime (o mais grave),
a pluralidade de armas influirá na dosimetria da pena.

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 20


3.6.4. Porte de arma de brinquedo

O mero porte de arma de brinquedo não é considerado crime, não houve a incriminação pelo
Estatuto do Desarmamento, proíbe a fabricação, a importação, a exportação de réplicas de arma
de fogo, nos termos do art. 26.

Art. 26. São vedadas a fabricação, a venda, a comercialização e a


importação de brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que com
estas se possam confundir.
Parágrafo único. Excetuam-se da proibição as réplicas e os simulacros
destinados à instrução, ao adestramento, ou à coleção de usuário autorizado,
nas condições fixadas pelo Comando do Exército.

3.6.5. Tipo misto alternativo

É aquele que contém dois ou mais núcleos, configurando um único crime quando for
praticado contra o mesmo objeto material.

3.6.6. Porte ilegal de arma de fogo desmuniciada

Entende-se que, por ser um crime de mera conduta, haverá crime.

Nesse sentindo, o HC 95.073/MS (Info 699 do STF):

Info 699 STF: Asseverou-se que o tipo penal do art. 14 da Lei 10.826/2003
comtemplaria crime de mera conduta, sendo suficiente a ação de portar
ilegalmente a arma, ainda que desmuniciada.

3.6.7. Porte de munição e lesividade da conduta

A posse ou o porte apenas da munição (ou seja, desacompanhada da arma) configura crime.
Isso porque tal conduta consiste em crime de perigo abstrato, para cuja caracterização não importa
o resultado concreto da ação. O objetivo do legislador foi o de antecipar a punição de fatos que
apresentam potencial lesivo à população, prevenindo a prática de crimes. STF. 2ª Turma.HC
119154, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 26/11/2013. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp
1442152/MG, Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 07/08/2014.

Obs.: O STJ possui julgado, de 2012, considerando atípico o porte de apenas um projetil, analisou
o caso concreto.

3.6.8. Uso de munição como pingente e atipicidade

O STF considerou atípica a conduta do agente que portava uma munição como pingente,
sem possuir arma de fogo.

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 21


4. DISPARO DE ARMA DE FOGO

4.1. PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES

O art. 15 do Estatuto do Desarmamento consagra o delito de disparo de arma de fogo,


vejamos:

Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em


suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa
conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

O crime se aperfeiçoa com o disparo de arma de fogo ou, simplesmente, com o acionamento
da munição (engatilhar a arma).

Importante destacar a expressão “desde que essa conduta não tenha como finalidade a
prática de outro crime”, a qual configura um crime expressamente subsidiário. Trata-se do princípio
da subsidiariedade expressa na solução do conflito aparente de normas.

Observe as seguintes hipóteses:

• Agente dispara arma de fogo sem nenhum intuito, responderá pelo art. 15 do Estatuto
do Desarmamento;

• Agente dispara arma de fogo para matar outra pessoa, responderá por homicídio (art.
121 do CP). O disparo será absorvido pelo homicídio.

4.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA

Protege-se a incolumidade pública, mais especificamente a segurança pública.

4.3. SUJEITOS DO DELITO

4.3.1. Sujeito ativo

É crime comum ou geral, tendo em vista que pode ser praticado por qualquer pessoa.

Lembrar da causa de aumento do art. 20, vista acima.

4.3.2. Sujeito passivo

É a coletividade, mas também serão vítimas as pessoas que suportaram o perigo.

4.4. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

É crime de mera conduta. Assim, será consumado com o disparo da arma de fogo ou com
o acionamento da munição.

Igualmente, é um crime de perigo abstrato.

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 22


É, perfeitamente, cabível a tentativa.

4.5. OBSERVAÇÕES IMPORTANTES

4.5.1. Pluralidade de disparos

Havendo pluralidade de disparos, no mesmo contexto fático, configura crime único. O


número de disparos será utilizado para a dosimetria da pena.

4.5.2. Veracidade do projétil

É preciso que realmente ocorra o disparo de uma arma de fogo. Assim, disparo de arma de
borracha não configura este crime.

4.5.3. Crime mais grave e absorção

O agente irá responder apenas pelo crime mais grave. O disparo fica absorvido.

4.5.4. Porte ilegal e disparo de arma de fogo

Para determinar os crimes que o agente irá responder, é necessário analisar o contexto
fático, a fim de determinar se há ou não ligação entre as condutas. Observe a seguir as seguintes
hipóteses:

1ª HIPÓTESE – João está em sua residência, assistindo ao jogo de seu time de futebol.
Após o gol, dirige-se até a rua e efetua um disparo para o alto. Em seguida, retorno para sua casa.
Perceba que João portou ilegalmente a arma de fogo apenas com a finalidade de efetuar o disparo.
Assim, o disparo irá absorver o porte ilegal.

2ª HIPÓTESE – João saiu de sua residência, com a arma de fogo, atravessou a cidade
inteira para chegar ao estádio de futebol, após o jogo, novamente, atravessou a cidade para voltar
para casa. Ocasião em que efetuou um disparo para o alto. Nesta hipótese, temos dois contextos
distintos, por isso João irá responder pelos dois delitos (porte e disparo) em concurso material de
crimes.

4.6. PENA

A penas é de dois a quatro anos. Portanto, trata-se de um crime de elevado potencial


ofensivo.

Assim, podemos concluir que:

• Não é possível a transação penal, pois a pena máxima supera os dois anos;

• Não é possível a suspensão condicional do processo, pois a pena mínima prevista para
o crime ultrapassa um ano;

• É muito provável que a pena seja convertida em restritiva de direitos, desde que
cumpridos os requisitos legais;

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 23


• Tendo em vista que a pena máxima não ultrapassa o patamar de quatro anos, o próprio
delegado poderá arbitrar a fiança.

Obs.: o parágrafo único foi declarado inconstitucional pelo STF. Cabe sim fiança.

5. POSSE E PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO

5.1. PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES

A posse e porte ilegal de arma de fogo de uso restrito estão previstas no art. 16 do Estatuto
do Desarmamento. Há nos incisos do parágrafo primeiro uma série de figuras equiparadas (veremos
abaixo). Observe o dispositivo:

Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar,
manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso
proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal
ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação
de arma de fogo ou artefato;
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la
equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar
ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar;
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com
numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado,
suprimido ou adulterado;
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo,
acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de
qualquer forma, munição ou explosivo.

Quando a arma de fogo é de uso restrito, o crime será o mesmo tanto para a posse ilegal
quanto para o porte ilegal. De outra banda, quando se trata de arma de fogo de uso permitido, os
crimes serão distintos: posse ilegal (art. 12) e porte ilegal (art. 14)

5.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA

Assim, como nos demais crimes do Estatuto protege-se a incolumidade pública, mais
especificamente a segurança pública.

5.3. SUJEITOS DO DELITO

5.3.1. Sujeito ativo

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 24


Qualquer pessoa poderá praticar o delito do art. 16, pois se trata de crime comum ou geral.

Aqui, novamente, aplica-se a regra do art. 20 do Estatuto, segundo a qual a pena será
aumentada quando o crime for praticado por integrantes dos órgãos e empresas referidas nos arts.
6º, 7º e 8º.

5.3.2. Sujeito passivo

É crime vago, assim o sujeito passivo será a coletividade.

5.4. ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO

O tipo penal contém um elemento normativo, qual seja: sem autorização e em desacordo
com determinação legal ou regulamentar. Ou seja, são possíveis o porte legal e a posse legal de
arma de fogo de uso restrito quando o agente possuir autorização para tanto (porte) ou registrar
(posse).

A aquisição de arma de fogo de uso restrito deve ser concedida pelo Comando do Exército,
e seu registro também será feito nesse órgão.

Obs.: O porte funcional é válido para qualquer arma de fogo. Assim, é perfeitamente possível que
porte uma arma de fogo de uso restrito.

5.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

É crime de perigo abstrato, a lei presume o perigo com a prática de qualquer uma das
condutas descritas no art. 16.

Igualmente, é um crime de mera conduta. Ou seja, basta a prática da conduta que se


presume o perigo.

O tipo penal limita-se a descrever a conduta, sem prever o resultado naturalístico.

5.6. FIGURAS EQUIPARADAS

Estão descritas nos incisos do parágrafo único do art. 16.

Tratam-se de crimes autônomos com condutas e objetos materiais próprios, para os quais
se aproveitou a pena do art. 16, caput.

Obs.: As condutas não precisam ser relacionadas a arma de fogo de uso restrito ou proibido.

5.6.1. (I) Suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de indicação de arma de
fogo ou artefato

É um dos incisos mais cobrados em prova.

O tipo penal pune o responsável pela supressão (eliminação completa) ou alteração


(mudança) da marca ou numeração.

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 25


Na prática, é quase impossível identificar quem fez a supressão, por isso o legislador criou
o inciso IV.

5.6.2. (II) Modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a


arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer
modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz

Note que, aqui, há duas condutas distintas, vejamos:

1ªCONDUTA - Modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente


a arma de fogo de uso proibido ou restrito. Cita-se, como exemplo, a conduta do agente que serra
o cano de uma arma calibre 12.

Pune-se apenas o responsável pela modificação, qualquer outra pessoa que a porte ou
possua irá responder pelo caput do art. 16.

2ªCONDUTA - Modificar as características de arma de fogo para fins de dificultar ou de


qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz.

Aqui, tem-se um crime formal. Não incide o art. 347 do CP, que pune o crime de fraude
processual.

5.6.3. (III) Possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar

Em relação aos artefatos explosivos, este dispositivo prevalece sobre o art. 253 do CP.

Art. 253 - Fabricar, fornecer, adquirir, possuir ou transportar, sem licença da


autoridade, substância ou engenho explosivo, gás tóxico ou asfixiante, ou
material destinado à sua fabricação:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

Quando for gás tóxico ou asfixiante aplica-se o CP.

No tocante ao artefato incendiário, a exemplo do coquetel molotov, não é punível a mera


posse de seus componentes.

5.6.4. (IV) Portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração,
marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado

Quem suprime ou modifica responde pelo inciso I.

Quem porta, possui, adquiri, transporta ou fornece responde pelo inciso IV.

Ressalta-se que pode ser qualquer tipo de arma de fogo, isto é, de uso restrito ou permitido.
Não há vinculação ao caput.

Nesse sentindo, o HC 99.582/RS, noticiado no Informativo 558 do STF:

Info 558 STF – Para a caracterização do crime previsto no art. 16, parágrafo
único, IV, da Lei 10.826/2003, é irrelevante se a arma de fogo é de uso
permitido ou restrito, bastando que o identificador esteja suprimido.

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 26


5.6.5. (V) Vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório,
munição ou explosivo a criança ou adolescente

Pode ser qualquer arma, de uso restrito ou permitido, acessório, munição ou explosivo.

Se o apoderamento por parte de menor de idade ou doente mental for culposo, incide o
crime do art. 13 (estudado acima).

5.6.6. (VI) Produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer
forma, munição ou explosivo

Aplica-se apenas às munições e explosivos.

5.7. ROL DOS CRIMES HEDIONDOS

A Lei 13.497/2017 alterou a redação do parágrafo único do art. 1º da Lei nº 8.072/90


prevendo que também é considerado como crime hediondo o delito de posse ou porte ilegal de
arma de fogo de uso restrito, previsto no art. 16 do Estatuto do Desarmamento.

A referida Lei já entrou em vigor, de forma que, se a pessoa praticar o crime do art. 16 da
Lei nº 10.826/2003 de hoje em diante, estará submetido às consequências penais e processuais
inerentes aos crimes hediondos, sendo a mais gravosa delas a existência de requisitos objetivos
diferenciados para progressão de regime (art. 2º, § 2º).

A Lei nº 13.497/2017 é mais gravosa e, por isso, não tem efeitos retroativos, de forma que,
quem cometeu o delito até o dia de ontem (26/10/2017), não é abrangido pelo tratamento
dispensado aos crimes hediondos.

5.8. PENA

A pena será de três a seis anos e multa. Novamente, trata-se de crime de elevado potencial
ofensivo (aplica-se tudo o que foi dito acima)

6. COMERCIO ILEGAL DE ARMA DE FOGO

6.1. PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES

Encontra-se previsto no art. 17 do Estatuto do Desarmamento, vejamos:

Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em


depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou
de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou munição, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Parágrafo único. Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito
deste artigo, qualquer forma de prestação de serviços, fabricação ou
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência.

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 27


O parágrafo único possui uma norma explicativa.

O dispositivo deixa claro que a atividade não precisa ser formal, mas deve ser habitual.

6.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA

Tutela-se, mais uma vez, a segurança pública. Visando evitar que armas de fogo, acessórios
ou munições circulem livremente na sociedade.

6.3. SUJEITOS DO DELITO

6.3.1. Sujeito ativo

É crime próprio, ou seja, exige-se qualidade especial do agente, que deve exercer atividade
comercial ou industrial, ainda que de forma irregular ou em residência.

Lembrar da causa de aumento do art. 20 do Estatuto do Desarmamento.

6.3.2. Sujeito passivo

É a coletividade (crime vago).

6.4. OBJETO MATERIAL

O tipo penal do art. 17 não faz distinção entre arma de fogo de uso permitido e arma de fogo
de uso restrito. Assim, o crime será o mesmo.

Cuidado, contudo, com o disposto no art. 19 da Lei, o qual configura uma causa de aumento
quando for de uso restrito ou proibido.

Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada da
metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou
restrito.

6.5. ELEMENTO NORMATIVO

O elemento normativo é a falta de autorização ou o desacordo com determinação legal ou


regulamentar. Desta forma, o comercio de arma de fogo que atenda aos requisitos legais será
considerado lícito.

6.6. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

É crime de perigo abstrato.

É crime de mera conduta.

Então, podemos concluir, que se consuma com a prática de qualquer uma das condutas
previstas em lei, presumindo-se, de forma absoluta, o perigo ao bem jurídico.

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 28


É possível a tentativa.

6.7. PENA

A pena é de reclusão de quatro a oito anos, e multa. Por isso, não é possível aplicação dos
institutos despenalizadores, como a transação penal e a suspensão condicional do processo.

7. TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO

7.1. PREVISÃO LEGAL E CONSIDERAÇÕES

Por fim, o último crime previsto no Estatuto do Desarmamento está previsto no art. 18 e trata-
se do tráfico internacional de arma de fogo, observe o dispositivo legal:

Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do território nacional,


a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização
da autoridade competente:
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Destaca-se que o tipo penal prevê o tráfico internacional de arma de fogo. Não existe, aqui,
o tráfico interestadual, que entrará em outra conduta.

7.2. OBJETIVIDADE JURÍDICA

Protege-se a segurança pública, a fim de evitar o comércio internacional clandestino de


arma de fogo, acessório ou munição.

7.3. OBJETO MATERIAL

Pode ser qualquer arma de fogo, acessório ou munição, tanto de uso restrito ou permitido.

Quando for de uso restrito, incide o art. 19, aumentando-se a pena de metade.

7.4. SUJEITOS DO DELITO

7.4.1. Sujeito ativo

É crime comum ou geral, portanto, qualquer pessoa pode praticá-lo.

Incide, aqui, o art. 20 (aumento de pena).

7.4.2. Sujeito passivo

É a coletividade.

7.5. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

CS – ESTATUTO DO DESARMAMENTO 2018.1 29


É crime de perigo abstrato.

É crime de mera conduta.

A lei presume de forma absoluta o perigo à segurança pública com a entrada de uma arma
clandestina.

É, perfeitamente, possível tentativa.

7.6. TRÁFICO INTERNACIONAL DE MUNIÇÃO E PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

Não se aplica o princípio da insignificância para o tráfico internacional de munição, segundo


o entendimento do STF. Vejamos o HC 97.777/MS, noticiado no Informativo 606.

A 1ª Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus em que se pretendia a


aplicação do princípio da insignificância para trancar ação penal instaurada
contra o paciente, pela suposta prática do crime de tráfico internacional de
munição (Lei 10.826/2003, art. 18). A defesa sustentava que seria objeto da
denúncia apenas a apreensão de 3 cápsulas de munição de origem
estrangeira, daí a aplicabilidade do referido postulado. Aduziu-se que o
denunciado faria do tráfico internacional de armas seu meio de vida e que
teriam sido encontrados em seu poder diversos armamentos e munições que,
em situação regular, não teriam sido objeto da peça acusatória. Nesse
sentido, não se poderia cogitar da mínima ofensividade da conduta ou da
ausência de periculosidade social da ação, porquanto a hipótese seria de
crime de perigo abstrato, para o qual não importaria o resultado concreto.
Vencido o Min. Marco Aurélio, que deferia a ordem por reputar configurado
no caso o crime de bagatela, tendo em vista que a imputação diria respeito
tão-somente às 3 cápsulas de origem estrangeira, mas não a todo o material
apreendido. HC 97777/MS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 26.10.2010. (HC-
97777)

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