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IMPLICAÇÕES BIOPSICOSSOCIAIS DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

*Sandra Agrelli

Psicóloga Clínica

De acordo com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) a


adolescência começa aos 12 e vai até os 18 anos de idade, onde
acontecem diversas mudanças físicas, psicológicas e comportamentais.A
adolescência é um período de mudanças, ocasionadas por sua especial
sinergia de fatores biológicos, psíquicos, sociais e culturais. Neste
período da vida, o indivíduo jovem se vê em meio a novas relações com a
família, o meio em que vive, consigo mesmo e com os outros indivíduos.

A experiência de gravidez,entre seres humanos, adquire um caráter


social, ou seja, pode possuir significados diferenciados para cada povo,
cada cultura, cada faixa etária. No Brasil, onde não há controle de
natalidade e onde o planejamento familiar e a educação sexual ainda são
assuntos pouco discutidos, a gravidez acaba tornando-se, muitas vezes,
um problema social grave de ser resolvido. É o caso da gravidez na
adolescência.

A gravidez na adolescência tem sido motivo de grande preocupação das


autoridades e dos profissionais da área da saúde, não só pelo seu
aumento constante ao longo dos anos, mas também pelas inúmeras
implicações que dela advêm. Implicações essas, que têm um peso maior
porque não se referem apenas ao aspecto físico, ao risco de vida a que a
adolescente grávida e seu filho estão expostos, mas também aos
aspectos emocional,social, cultural, econômico e familiar, uma vez que a
gravidez precoce compromete a vivência saudável da adolescência,
compromete a escolaridade e o nível melhor de emprego, de salário e
qualidade de vida.Portanto,a gravidez na adolescência geralmente traz
conseqüências graves, uma vez que a adolescente interrompe seu
desenvolvimento global, desorganiza totalmente sua vida, acarretando
problemas psicossociais desastrosos.
Cabe enfatizar que a gravidez precoce não é um problema exclusivo das
meninas. Não se pode esquecer que embora os rapazes não possuam as
condições biológicas necessárias para engravidar, um filho não é
concebido por uma única pessoa. E se é à menina, que cabe durante toda
a gestação, enfrentar as dificuldades,as dores do parto ,a
amamentação,os cuidados pós parto, o rapaz não pode se eximir de sua
parcela de responsabilidade. Por isso, quando uma adolescente
engravida, não é apenas a sua vida que sofre mudanças. O pai, assim
como as famílias de ambos também passam pelo difícil processo de
adaptação a uma situação imprevista e inesperada.
O despertar da sexualidade na adolescência é acompanhado por uma
grande leva de desinformação. Os pais, por não disporem de informação
ou por constrangimento em falar sobre sexo com seus filhos, acabam não
cumprindo seu papel de educador. Assim, as famílias não transmitem a
orientação sexual adequada, deixando o jovem em desvantagem

Acredito que devido às transformações do mundo moderno,cujo o


surgimento de uma geração com valores éticos e morais tão
desgastados,somado ao excesso de informações e liberdade recebida por
esses jovens, os levam à banalização de assuntos como o sexo, por
exemplo. Essa liberação sexual, acompanhada de certa falta de limite e
responsabilidade é um dos motivos que favorecem a incidência de
gravidez na adolescência.

Outro fator que deve ser ressaltado é o afastamento dos membros da


família e a desestruturação familiar. Seja por separação, seja pelo corre-
corre do dia-a-dia, os pais estão cada vez mais afastados de seus filhos.
Isso além de dificultar o diálogo de pais e filhos, dá ao adolescente uma
liberdade sem responsabilidade. Ele passa, muitas vezes, a não ter a
quem dar satisfações de sua rotina diária, vindo a procurar os pais ou
responsáveis apenas quando o problema já se instalou.Um outro
problema é a rejeição das famílias. Ainda são muito comuns pais que
abandonam seus filhos nesse momento tão difícil, quando deveriam
propiciar toda atenção e assistência
As perdas vivenciadas vão repercutir emocionalmente podendo levar a
adolescente à somatização psicológica de alguns sinais e sintomas que
porão em risco a gestação saudável

.É preciso também ressaltar a importância da prevenção da gravidez


precoce. E essa só se faz com orientação, conhecimento e diálogo.
Diálogo não é uma conversa de entendimento simples. Diálogo é a
conversa de pessoas com pontos de vista opostos. Diálogo não é só
passar informações, “dar conselhos” ou ordens. Diálogo é
ouvir,compreender os anseios, dúvidas e desejos. E a partir daí iniciar um
trabalho lento de orientações e esclarecimentos, para que o jovem possa
viver intensamente esse período de sua vida, e assim contribuir para que
chegue a ter uma vida adulta mais feliz.
Trabalhar com adolescentes grávidas implica em desafios para
compreender este mundo repleto de subjetividade e contradições. Por
isso, os profissionais que lidam com esta problemática precisam de um
olhar mais apurado, detalhado e sensibilizado, para melhor aplicar os
programas existentes e cri
ar outros necessários para a resolução deste quadro que se agrava a
cada dia. É preciso que os profissionais de saúde interajam com respeito
e dignidade que exige uma postura humana livre de preconceitos; um
olhar compreensivo tentando estabelecer uma relação de empatia e de
ajuda, o que pode amenizar a situação vivenciada.

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