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RESPONSABILIDADE CIVIL

autor
MARCELO OLIVEIRA CÂMARA

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2018
Conselho editorial  roberto paes e gisele lima

Autor do original  marcelo oliveira câmara

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  gisele lima, paula r. de a. machado e aline karina


rabello

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  bfs media

Revisão de conteúdo  renata furtado de barros

Imagem de capa  edwardolive | shutterstock.com

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2018.

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário
Prefácio 7

1. Elementos basilares de Responsabilidade Civil 9


Conceitos de responsabilidade 11

Previsões normativas 12

A responsabilidade civil e suas ramificações 12


A responsabilidade penal e Civil 12
A responsabilidade contratual e extracontratual 14
A responsabilidade subjetiva e objetiva 15
A responsabilidade objetiva 16

Quadro-geral da responsabilidade civil 18

Elementos da responsabilidade civil 19


Ato ilícito 19
Do uso de entendimentos jurídicos sedimentados 22
Nexo causal (provas) 22
Dano 24

Fontes online de estudos – breves comentários 26

2. O alto ilícito 33
Conceito de ato ilícito 34

Previsões normativas 35

Tipos de atos ilícitos 35


Ato ilícito gênero 36
A responsabilidade objetiva 38
Ato ilícito puro 43
Ato ilícito pelo abuso do direito 45
Excludentes de ilicitude 49
Estrito cumprimento do dever legal 50

Estado de necessidade 50

Legítima defesa 51

O ato ilícito na prática jurídica 51

3. O nexo causal 57
Nexo causal 58
Teorias 59

Exclusão do nexo causal 61

A provas e seus aspectos práticos do Poder Judiciário 65


O empoderamento endonormativo sumular 65
Demandismo versus Processismo 70

Entendimentos 75
Enunciados administrativos do STJ 76

Enunciados da Jornada de Direito Civil do Centro de Estudos da


Justiça Federal 77

Enunciados do fórum permanente de processualistas civis 77

Enunciados da I Jornada de Direito Processual Civil do Centro de


Estudos da Justiça Federal 79

O nexo causal na prática jurídica 79

4. O dano 85
O dano – conceito 86

Danos típicos 90
Do Dano material (ou patrimonial) 90
Dano emergente (ou dano eventual ou dano positivo) 92
Lucro cessante (ou dano negativo ou lucro cessante frustrado) 93
Do dano moral (ou não material ou imaterial ou extrapatrimonial) 94
Dano à imagem 103
Danos atípicos 104
Dano pela perda de uma chance 104
Dano estético (ou morfológico) 104
Dano reflexo ou em ricochete 105
Dano existencial 106

O dano na prática 106

5. A responsabilidade civil em espécies 113


Direitos dos usuários de serviços públicos 114
Fundamentação 115
Aspectos relevantes 115
Conexão com outras normas – “Diálogo das fontes” 118
Princípios aplicáveis 119
Considerações finais – Código de proteção e defesa do
usuário de serviços públicos 128

Drones 129
Fundamentação 130
Aspectos relevantes 131
Considerações finais – drones 142
Prefácio

Prezados(as) alunos(as),

A sociedade atual é complexa, imediatista e mutável como nunca foi. Neste con-
junto de relações tais interações acabam violando a integridade constitucionalmente
prevista, criando um cenário em que a responsabilidade civil deve ser ao mesmo
tempo firme em seus princípios e flexível quanto à aplicação. Sendo assim, ousamos
transcrever algumas reflexões basilares dentro de um contexto principiológico consa-
grado. E também, oxigenarmos os temas que envolvem os ilícitos atuais.
Nosso primeiro capítulo estuda os institutos fundamentais da responsabilidade
civil, ato ilícito, nexo causal e dano, em uma perspectiva geral. Contextualizando e
refletindo a necessidade do preenchimento de todos os institutos com fins de gerar,
tecnicamente, a responsabilidade civil, dentro de um olhar eminentemente positivista.
O segundo capítulo busca uma reflexão do que vem a ser o ato ilícito. Seu con-
ceito positivado, suas distinções entre ato ilícito gênero e puro, tipos e excludentes.
Já no terceiro capítulo trataremos do nexo causal, que ao nosso sentir é o “co-
ração” da responsabilidade civil. Uma vez que todo o direito depende (seja pelo
autor ou pelo réu) da constituição de provas. Buscamos uma reflexão da situação
do aceso ao Judiciário sob uma perspectiva precedentalista do CNJ e dos tribunais.
No quarto capítulo refletiremos sobre o dano, sua positivação e múltiplas fa-
ces, sejam os danos típicos (material, moral, imagem) e atípicos (perda de uma
chance, estético, reflexo, existencial).
O quinto e último capítulo apresenta dois temas de pouca doutrina e inexis-
tente jurisprudência. O código de proteção e defesa do usuário de serviços públi-
cos, positivada principalmente pela lei 13.460 de 2017 e a temática dos “drones”.
Neste capítulo nosso grande objetivo é o de estabelecer reflexão crítica de temas
que “nasceram em 2017”. Temas estes que certamente introduzirão na responsa-
bilidade civil novos conceitos.
Agradeço à Universidade Estácio de Sá pela oportunidade de publicar minhas
reflexões acerca da responsabilidade civil. Em especial à Professora Renata Furtado
de Barros pelas orientações de ordem técnica e redacional. E também, à gestora
Aline Karina Tostes Rabello Teixeira, pela tramitação administrativa que possibi-
litou a execução e publicação.

Bons estudos!

7
1
Elementos
basilares da
Responsabilidade
Civil
Elementos basilares da Responsabilidade Civil
O direito civil é um dos ramos do direito privado. Sua função é a de regular as
relações sociais entre pessoas privadas. A lei 10.406 de 2002 é a principal lei que
fundamenta tais relações. Mas a vida em sociedade gera inevitáveis conflitos de in-
teresses e condutas. Na eventual judicialização dessas relações, o seu principal me-
canismo de pacificação é a responsabilidade civil. Prevista (positivada) no Código
Civil no seu título IX, divididos entre dois capítulos: o I - “Da Obrigação de
Indenizar” (arts. 927 a 943) e o II - “Da Indenização” (arts. 944 a 954). Contendo
27 artigos que se relacionam com outros da mesma lei e tantas outras como a lei
8.078 de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), lei 13.105 de 2015 (Código
de Processo Civil), lei 8.987 de 1995 (Regula as Concessões), entre outras forman-
do um vasto sistema ao qual deve ser incluído as demais fontes do direito, como
os precedentes judiciais, a doutrina, os costumes.
Por tais motivos, a responsabilidade civil é a disciplina que estuda as poten-
ciais consequências jurídicas das condutas de todas as pessoas (naturais ou jurídi-
cas) que por ação ou omissão, negligência ou imprudência venham a causar danos
a outra pessoa.
Para isso refletiremos sobre aspectos introdutórios do ato ilícito, do nexo cau-
sal e do dano. Tais elementos formam a estrutura fundamental da responsabilida-
de civil. Nosso estudo envolverá, também os aspectos processuais com vistas ao
entrosamento do binômio teoria/prática.
Seja bem-vindo à Responsabilidade Civil, vamos começar!

OBJETIVOS
•  Conceituar a responsabilidade civil;
•  Estudar os aspectos que sedimentam a responsabilidade civil;
•  Refletir sobre a necessidade da associação com a prática;
•  Avaliar o quadro gráfico da responsabilidade civil.

capítulo 1 • 10
Conceitos de responsabilidade

O direito tem um ditame que atravessa eras e deve ser profundamente refletido:

Juris praecepta sunt haec: honeste vivere, neminem laedere, suum quique tribuere.

(Tais são os preceitos do direito: viver honestamente, não lesar a ninguém, dar
a cada um o que é seu).
Este texto é de lavra de Eneu Domicio Ulpiano[1], que pode ser analisado
da seguinte forma: se uma pessoa (natural ou jurídica) vive honestamente, com
uma conduta reta, proba e escorreita, significará que nada deve a outrem, pois
não lesou ninguém. Entretanto, em uma interpretação inversa, lê-se que ao viver
desonestamente causará dano a outrem e deverá dar a esta pessoa algo, a título de
indenização (aqui em sentido amplo).
A responsabilidade civil incorre justamente neste condão. Ao sofrer algum
tipo de dano, oriundo de um ato ilícito deve o causador deste (dano) indenizar a
pessoa que a sofreu.
Neste contexto, iniciamos o estudo da responsabilidade civil com uma análise
de seu conceito perpassando pelos entendimentos de renomados juristas.
O doutrinador Pablo Stolze[2] cita José de Aguiar Dias, “Toda manifestação
da atividade humana traz em si o problema da responsabilidade”.
Temos como um dos precursores da sua sistematização o Professor e
Desembargador aposentado pelo PJERJ Sérgio Cavalieri Filho[4] em sua obra
Programa de Responsabilidade Civil assim prenuncia:

Em seu sentido etimológico, responsabilidade exprime a ideia de obrigação, encargo,


contraprestação. Em sentido jurídico, o vocábulo não foge dessa ideia. Designa o dever
de alguém ter de reparar o prejuízo decorrente da violação de outro dever jurídico. Em
apertada síntese, responsabilidade civil é um dever jurídico sucessivo que surge para
recompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico originário.

Sendo assim, a responsabilidade civil é um ramo do direito que impõe a parti-


cipação de uma pessoa em um processo instrumentalizado por meio de uma peti-
ção inicial distribuída por outrem, que sofreu um dano, oriundo de um ato ilícito
devidamente provado. E que após o devido processo legal (com ampla defesa e
contraditório), pode gerar a obrigação de indenizar.

capítulo 1 • 11
Previsões normativas

Temos, in casu, as seguintes previsões normativas mínimas pertinentes à res-


ponsabilidade civil de uma forma geral:
a) Constituição Federal de 19884 – artigos: 1, III; 5, V, VI, VIII, IX, X, XI, XII,
XXI, XXII, XXXII, XXXV, XLVII, XLIX, LXVII, §2o, 3o; 37 e seu parágrafo 6o;
220 entre outros;
b) Lei 10.406 de 2002[5] – artigos: 186; 187; 188; 927 ao 954 e outros.
c) Lei 8.078 de 1990[6] – artigos: 12 ao 20 e outros

A responsabilidade civil e suas ramificações

As ramificações da responsabilidade civil são a consequência da liberdade de


ação do ser humano (como pessoa natural ou jurídica) e a consequente apuração
da responsabilidade de seus atos.

A responsabilidade penal e Civil

De início, há um divisor de águas entre a responsabilidade civil e a penal. A


ilicitude pode ser civil ou penal. Vamos estudá-las:

A responsabilidade penal

A responsabilidade diz respeito as normas jurídicas protetivas dos interesses


sociais que objetivam o resguardo da integridade de bens de valores elevados e
indisponíveis, dentre os quais, os direitos da personalidade do homem: a vida, a
liberdade, a honra, a saúde física e mental, entre outros.
A sanção à violação das regras de conduta de não lesar a integridade física e a
propriedade de outrem são “pesadas”, justamente por serem infrações considera-
das pela sociedade como de maior potencial ofensivo, por exemplo, no crime de
homicídio do art. 121 do CP – Pena: reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.
Como a descrição da conduta penal é sempre uma tipificação restrita, em
princípio a responsabilidade penal ocasiona o dever de indenizar.
Por essa razão, a sentença penal condenatória faz coisa julgada no cível quanto
ao dever de indenizar o dano decorrente da conduta criminal, na forma dos arti-
gos: 91, I do Código Penal; 63 do CPP e 515, VI do NCPC, a seguir transcritos:

capítulo 1 • 12
Decreto-lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal[7].
Art. 91 – São efeitos da condenação:
I. Tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;
Decreto-lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal[8].
Art. 63 – Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a exe-
cução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante
legal ou seus herdeiros.

Lei 13.105 de 2015 – Código de Processo Civil[9]:


Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os
artigos previstos neste Título:
VI. A sentença penal condenatória transitada em julgado;

Sendo assim, as jurisdições penal e civil em nosso país são independentes, mas
há reflexos no juízo cível, não só sob o mencionado aspecto da sentença penal
condenatória como também porque não podemos discutir no cível a existência do
fato e da autoria do ato ilícito, se essas questões foram decididas no juízo criminal
e encontram-se sob o manto da coisa julgada, art. 64 do CPP e 935 do CC:

Decreto-lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal[10]:


Art. 64 – Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do
dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o
responsável civil.
Parágrafo único. Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso
desta, até o julgamento definitivo daquela.

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil[11].


Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo ques-
tionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas
questões se acharem decididas no juízo criminal.

De outro modo, a sentença penal absolutória, por falta de provas quanto ao


fato, quanto à autoria ou a que reconhece uma dirimente ou justificativa, sem es-
tabelecer a culpa, por exemplo, não tem influência na ação indenizatória que pode
resolver autonomamente toda a matéria em seu bojo.

A responsabilidade civil

A responsabilidade civil é uma conduta ilícita de repercussão menos gravosa.


Sendo certo que nem toda conduta gera um ilícito civil é punível, descrita pela
lei penal, já a recíproca é verdadeira, embora em ambas haja a responsabilidade.

capítulo 1 • 13
A responsabilidade civil é assim considerada de menor gravidade e o interesse de
reparação é privado, embora com interesse social, não afetando, a princípio, a
segurança pública.
Para o ilícito civil, embora se possam equacionar modalidades de reparação
em espécie, o denominador comum será sempre, ao final a reparação em dinheiro
como o lenitivo mais aproximado que existe no direito para reparar ou minorar
um mal causado, seja ele de índole patrimonial ou exclusivamente moral, como
atualmente permite expressamente a Constituição.
A responsabilidade civil leva em conta, primordialmente, o dano, o prejuízo,
o desequilíbrio patrimonial, embora em sede de dano exclusivamente moral o que
se tem em mira é a dor psíquica ou o desconforto comportamental da vítima. No
entanto, é básico que, se não houver dano ou prejuízo a ser ressarcido, não temos
por que falar em responsabilidade civil: simplesmente não há por que responder.

A responsabilidade contratual e extracontratual

Existe uma distinção tradicional entre a responsabilidade contratual, que de-


corre do inadimplemento de obrigação assumida no contrato, e a responsabilidade
extracontratual (delitual ou aquiliana) que deflui da violação de obrigação ema-
nada da lei.
Na realidade, os fundamentos são os mesmos em ambas as hipóteses, como
veremos a seguir.

A responsabilidade contratual (ou negocial)

Esta responsabilidade tem desempenhado importante papel para facilitar a


prova da culpa do inadimplente.
Entende a doutrina e a jurisprudência que, no caso da obrigação de resultado,
assumida por uma das partes, o simples fato de ter ocorrido o inadimplemento
importa em presunção de culpa, cabendo ao devedor que não cumpriu a sua obri-
gação fazer a prova da ocorrência de força maior, caso fortuito, culpa do outro
contratante ou outro fato que possa excluir a responsabilidade.

capítulo 1 • 14
Para tanto, vejamos o arts. 389 e 390 da Lei 10.406 de 2002[12]:

Título IV – Do Inadimplemento das Obrigações.


Capítulo I – Disposições Gerais

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros
e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e hono-
rários de advogado.
Art. 390. Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde o dia em
que executou o ato de que se devia abster.

A responsabilidade extracontratual (ou extranegocial)

As cláusulas gerais na responsabilidade extracontratual são extraídas do siste-


ma jurídico civil para a responsabilidade extracontratual.
Há o direito de o prejudicado ser indenizado e o dever de o ofensor indenizar
quando:
a) a ofensa se der a qualquer direito (patrimonial, material ou imaterial – como
o moral, à imagem, da personalidade etc.);
b) a ofensa ocorrer em desrespeito à norma de ordem pública imperativa (v.g.
abuso de direito – CC, 187); direito protegido por norma imperativa constitucio-
nal (penal, administrativa etc.);
c) o dano causado for apenas moral;
d) por expressa especificação legal, ou quando a atividade normalmente desen-
volvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem, independentemente de dolo ou culpa (responsabilidade objetiva – CC,
927 parágrafo único);
e) a ofensa se der por desatendimento não especificado da boa-fé e dos
bons costumes.
Logo, a responsabilidade extracontratual deflui de um imperativo genérico de
não causar dano.

capítulo 1 • 15
A responsabilidade subjetiva e objetiva

Examinando-se a atuação do causador do dano, a responsabilidade pode ser:

A responsabilidade subjetiva

Com base na culpa em sentido lato, culpa ou dolo. É a análise integral do art.
186 da lei 10.406 de 2002[13] que define o ato ilícito:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Tema este que foi analisado de maneira pormenorizada no capítulo 2


(ato ilícito).
Destacamos que nesta modalidade temos a explícita utilização, para fins da
apuração da responsabilidade, do art. 373 do NCPC[14], vejamos:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I. Ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II. Ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do
autor.

A análise deve ser sob a óptica de que o ônus da prova incumbe em que
polo da ação se encontra, há o dever, sempre, de provar (estabelecendo o nexo
de causalidade).
Logo, por fim, na responsabilidade subjetiva o ônus da prova é, para a consti-
tuição do direito, da parte Autora.

A responsabilidade objetiva

Independe de qualquer falha humana (culpa) ou desejo de causar dano (dolo)


e decorre de uma simples relação de causalidade (nexo causal).
Tal modalidade não necessita da prova efetiva para a constituição dos direitos
do autor, flexibilizando assim o descrito no artigo 373 do NCPC anteriormen-
te descrito.

capítulo 1 • 16
Entretanto, tal modalidade de apuração não desonera de forma absoluta o
dever do autor de constituir a prova, minimamente, do alegado. Conforme o art.
319, VI do NCPC[15]:

Lei 13.105 de 2015 – NCPC

Art. 319. A petição inicial indicará: (...)


VI – as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;
(...)

Obs.:
Provas – indicação, relevância, qualificação, eventual produção (Ex: perícia):
Sedimenta o tema, por amostragem, o enunciado de súmula 330 do PJERJ[16]:

Enunciado TJRJ no 330 – "Os princípios facilitadores da defesa do consumidor em juízo,


notadamente o da inversão do ônus da prova, não exoneram o autor do ônus de fazer, a
seu encargo, prova mínima do fato constitutivo do alegado direito:

No tocante à responsabilidade civil objetiva no CC, temos como principal


expoente o art. 927[17], parágrafo único do CC. Pois tal dispositivo é uma cláu-
sula geral, ou seja, a responsabilidade civil será objetiva por determinação legal ou
quando a atividade normalmente desenvolvida implicar risco. Desta resultando as
demais previsões legais.

Art. 927:
Aquele que por ato ilícito causar dano a outrem fica obrigado a repará-lo.

Agora vamos ler o parágrafo único do artigo 927 CC[18]:

Art. 927
Parágrafo único – haverá obrigação de reparar o dano independentemente de culpa,
nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano, implicar por sua natureza risco para os direitos de outrem.

Então há casos em que a responsabilidade civil será objetiva porque a natureza


da atividade envolve risco. A lei não diz que a responsabilidade civil é objetiva,
mas ela permite que o juiz examinando o caso concreto conclua que determinada
natureza da atividade é de risco e passe a responsabilidade civil a ser objetiva.

capítulo 1 • 17
Sendo assim, há responsabilidade civil objetiva quando a lei disser e quando
no caso concreto você concluir que a natureza da atividade desenvolvida envol-
ve risco. Como, por exemplo, quando quem causa o dano o exerce em ativida-
de profissional.
Tudo gira em torno da palavra atividade. Se a ação causar um dano, só isso é
suficiente, a pessoa sabe que a ação dela é uma ação de risco. Se a ação dela é uma
ação de risco, se a ação dela causar um dano, ela vai responder.
Logo, apesar da responsabilidade objetiva desonerar o autor do ônus da prova,
pois não se discute a culpa, isso não o desobriga de provar, minimamente o alegado.

Quadro-geral da responsabilidade civil

Pela figura a seguir, temos uma visão geral da responsabilidade civil em con-
junto com os seus elementos:
Responsabilidade Civil – art. 927 da Lei 10.406 de 2002:

NEXO
CAUSAL
ATO ILÍCITO Lei 13.105/2015 DANO

Lei 10.406/2002 ARTIGOS: Lei 10.406/2002


Arts.: 186 e 187 -319 Arts.: 944
-320
-373

A responsabilidade civil nesta imagem deve ser interpretada à luz do raciocí-


nio de que o ato ilícito é a mola propulsora da responsabilidade civil. O primeiro
passo a ser dado é a caracterização de sua existência e consequente enquadramento
e que tal ato ilícito deve ter uma consequência, nominada de dano, seja este típi-
co (previsto em norma) ou atípico (criação doutrinária). E, por fim, não menos
importante, ou o mais importante (como consequência de que o direito depende
de provas para a sua constituição e desconstituição) o nexo causal, que como já
citado, é efetivado por meio das provas.
Sendo assim, o ato ilícito e o dano somente serão considerados como uteis à
caracterização da responsabilidade civil diante da existência dos meios de prova
necessários à sua existência ( nexo causal).

capítulo 1 • 18
Elementos da responsabilidade civil

Considerando o estudado, iremos pormenorizar os elementos da responsabi-


lidade civil, destacando que será realizado o estudo pormenorizado destes temas
nos capítulos seguintes assim divididos:
Capítulo 2 – Ato ilícito
Capítulo 3 – Nexo causal
Capítulo 4 – Dano
A principal fundamentação que esteia a ideia da responsabilidade civil é o art.
927 da lei 10.406 de 2002[19]:

Título IX – Da responsabilidade civil


Capítulo I – Da obrigação de indenizar
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obri-
gado a repará-lo.

(grifo nosso)
O estudo aprofundado das expressões ato ilícito e dano são dois dos três prin-
cipais objetos de estudo deste trabalho, em que incluímos o nexo causal, previsto
na lei 13.105 de 2015, previsto, em especial, no art. 373[20]:

Capítulo XII – Das provas


Seção I – Disposições gerais
Art. 373. O ônus da prova incumbe:

I. Ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;


II. Ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do
autor.

A que passamos a apresentar, a título introdutório, nos itens a seguir.

Ato ilícito

É a conduta necessária para termos o início da possibilidade da responsabili-


zação jurídica de alguém que comete ato que violente o direito de outrem de não
ter violado o direito à sua própria incolumidade.

capítulo 1 • 19
Sua expressa previsão está nos artigos 186 e 187 da Lei 10.406 de 2002[21]:

Título III – Dos Atos Ilícitos:


Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes.

O ato ilícito na petição inicial

Na confecção de uma petição inicial em sede de responsabilidade civil, deve-


se adotar uma postura de análise de uma conjugação de leis. Em especial, mas
não exclusivamente, a Lei 13.105 de 2015 – Código de Processo Civil (também
chamado de Novo Código de Processo Civil ou NCPC ou ainda CPC/2015).
Citamos os artigos 319, 320, 321 entre outros.
Temos no art. 319[22], considerando o objetivo de nosso trabalho:

Art. 319. A petição inicial indicará:


(...)

III. O fato e os fundamentos jurídicos do pedido;

No tocante ao inciso III, temos que o fato é a situação jurídica que é tec-
nicamente denominada de ato ilícito. Ao passo que os fundamentos jurídicos
do pedido são uma complementação dos fatos, só que “convertida nas normas
ofendidas” que têm uma variação beirando à infinitude, que pode variar desde a
própria lei 10.406/2002 (principal objeto de nosso estudo), passando pela outra
principal lei das relações privadas, lei 8.078/1990 (Código de Proteção e Defesa
do Consumidor), “dialogando com outras fontes” (Claudia Lima Marques) em
que, por mera amostragem, exemplificamos:

•  Lei 8.987 de 1995 – Dispõe sobre o regime de concessão e permissão de serviços


públicos[23].
•  Lei 9.503 de 1997 – Código de Trânsito Brasileiro[24].
•  Lei 9.656 de 1998 – Plano de Saúde[25].
•  Lei 12.965 de 2014 – Marco Civil na internet[26].

capítulo 1 • 20
•  Lei 13.460 – Código de proteção e defesa dos direitos do usuário dos serviços públi-
cos da administração pública[27].
•  Normativo ABECS 006 – Envio de Cartão de Crédito[28].
•  Circular BACEN 3.115 de 2002 – Regula a TED e a TEA[29].
•  Circular BACEN 3.335 de 2006 – Regula o tempo de crédito da TED[30].
•  CFM - Resolução 1.931 de 2009 – Código de Ética Médica[31].
•  CFM - Resolução 1.621 de 2001 – Regula a cirurgia plástica[32].
•  Código de Autorregulação Bancária[33].
•  Circular SUSEP 215 de 2002 – Seguro stop loss[34].

Acrescentamos ao tema as regras estabelecidas na lei 10.406 de 2002 que tam-


bém tem influência processual, destacando o prazo prescricional da responsabilidade
civil, o art. 206, §3o, inciso V, que prevê o prazo de três anos para a reparação civil.
Destacando o enunciado 419 do CJF (Conselho da Justiça Federal)[35], que
atribui o prazo citado à responsabilidade contratual e extracontratual:

Enunciado do CJF no 419


Art. 206, § 3o, V: O prazo prescricional de três anos para a pretensão de reparação civil
aplica-se tanto à responsabilidade contratual quanto à responsabilidade extracontratual.

Em detrimento do princípio da especialidade (ou especificidade), a lei 8.078


de 1990[36] aplica-se, apenas, às relações de consumo. E considerando o art. 27
desta lei, temos o prazo de cinco anos:

Seção IV – Da Decadência e da Prescrição


Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por
fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a conta-
gem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.

É interessante observar um entendimento do PJERJ acerca do prazo deca-


dencial/prescricional, quando o ilícito decorrente de um vício do serviço (logo
prazo decadencial previsto no art. 26 e incisos) é contabilizado em quinquenal em
decorrência da súmula 207 do TJRJ[37]:

Súmula TJRJ no 207 – Indenização por danos morais relação de consumo vício do ser-
viço prescrição quinquenal.
"A pretensão indenizatória decorrente de dano moral, deduzida com base em relação
de consumo, ainda que fundada no vício do serviço, se sujeita ao prazo de prescrição
quinquenal."

capítulo 1 • 21
Referência: Processo Administrativo no 0013685-89.2011.8.19.0000 – Julgamento
em 22/11//2010 - Relator: Desembargadora Leila Mariano. Votação unânime.

Do uso de entendimentos jurídicos sedimentados

Desde a confecção da petição inicial, considerando a atual determinação pro-


cessual (lei 13.105/201538), é imprescindível que façamos uma análise do evento
para seu enquadramento junto às proposições de entendimentos jurídicos sedi-
mentados. A sua não tipificação fatalmente acarretará a sua improcedência liminar
(art. 332) ou entendimento obstativo do recurso (art. 932).

Capítulo III – Da improcedência liminar do pedido


Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da
citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar:
I. enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça;
II. acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justi-
ça em julgamento de recursos repetitivos;
III. entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência;
IV. enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.
Capítulo II - Da ordem dos processos no tribunal
Art. 932. Incumbe ao relator:
IV. Negar provimento a recurso que for contrário a:
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do pró-
prio tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de
Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência;

A que se pode concluir que todos os envolvidos na gestão do processo (advo-


gados, defensores, ministério público e magistrados) deverão implementar junto
aos documentos jurídicos de sua responsabilidade (petição inicial, contestação,
denúncias, despachos, sentenças, acórdãos) em pleno alinhamento com os já cita-
dos entendimentos. Tema este que será mais bem estudado no capítulo 3.

capítulo 1 • 22
Nexo causal (provas)

Temos no nexo causal um dos pontos mais importantes da responsabilidade


civil. Pois é justamente o ponto que irá convergir o ato ilícito e o dano. Sem os
quais inexistirá a responsabilidade civil, cuja exteriorização é a petição inicial.
Na confecção de uma petição inicial em sede de responsabilidade civil, deve-
se adotar uma postura de análise de uma conjugação de leis. Em especial, mas
não exclusivamente, a lei 13.105 de 2015 – Código de Processo Civil (também
chamado de Novo Código de Processo Civil ou NCPC ou ainda CPC/2015[39]).
Citamos os artigos 319, 320, 321 entre outros.
Temos no art. 319, considerando o objetivo de nosso trabalho:

Art. 319. A petição inicial indicará:


(...)
VI. As provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;

O nexo causal na petição inicial

Tanto que prepondera na confecção de uma petição inicial, aliás, prepondera


para a existência do próprio direito materializado na petição inicial são as provas.
A sua inserção, existência, qualidade e origem direcionarão o rumo do deslinde do
processo. “Sem provas, sem direito.”.
Para tanto seguimos a determinação no mandamento da “lei de ritos” que
determina às partes que integram o processo o ônus de constituição e desconsti-
tuição dos seus direitos. Na sequência temos a constituição do direito pelo autor e
pela desconstituição do direito do autor que incumbe ao réu. Tudo devidamente
fundamentado no art. 373 da Lei 13.105/2015[40]:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:

I. Ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;


II. O réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito
do autor.
§ 1o Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à
impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou
à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da
prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá
dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.

Em que teremos uma reflexão mais aprofundada por conta do capítulo 3


(Nexo Causal).

capítulo 1 • 23
Dano

É a consequência do ato ilícito, configurado de forma típica o dano pode ser,


por exemplo moral material, imagem etc. ou de forma atípica, dano pela perda de
uma chance, dano reflexo etc.
Danos típicos:
Como já dito, estão previstos em lei. São eles:
a) Do Dano material ou patrimonial (dano emergente, lucro cessante);
b) Do Dano moral;
c) Dano à imagem.

a) Do Dano material (ou patrimonial):


É a lesão ao patrimônio material da pessoa. Facilmente configurável por meio
do dano à “coisa”. Modifica a qualidade e a realidade e, por consectário, a valora-
ção do patrimônio material e extramaterial da pessoa.
b) Do Dano moral (ou imaterial ou extrapatrimonial):
Consiste na lesão ao bem jurídico da pessoa em detrimento (por singela amos-
tragem), em detrimento da liberdade, honra, família, profissão, sociedade, tristeza,
do abalo psicológico etc.
c) Dano à imagem:
A imagem é o conjunto de traços e caracteres de uma pessoa que a individua-
liza no meio social – logomarca, rosto, por meio da qual projeta-se, identifica-se e
individualiza-se no meio social.
Facilmente confundível com o dano estético ou morfológico. São completa-
mente diversos. Neste dano, a consequência são amputações, marcas, cicatrizes ou
correlacionados. Enquanto que no dano à imagem a pessoa é constrangida pelo
ato ilícito da exposição danosa ao público/sociedade de cunho vexatório.

Danos atípicos:
Apresentamos alguns de tipo de danos cuja construção é de origem
não positivada.
a) Dano pela perda de uma chance;
b) Dano estético (ou morfológico);
c) Dano reflexo ou em ricochete;
d) Dano existencial.

capítulo 1 • 24
Vamos estudá-los brevemente:
a) Dano pela perda de uma chance:
Originário da doutrina francesa que costumeiramente vem sendo aplicada em
nossos tribunais (perte d’une chance) se dá nos casos em que o ato ilícito praticado
pelo agente retira do lesado a real possibilidade de o mesmo obter uma situação
futura melhor, isto é, uma possibilidade, uma chance de obter alguma vantagem
ou ainda a chance de evitar algum prejuízo.
b) Dano estético (ou morfológico):
Construção jurisprudencial. Decorre de restrições nas relações sociais. São as
deformidades físicas no corpo humano que provocam repulsa de ordem externa
(perante a sociedade) e interna (perante a si). Podendo acarretar redução em sua
capacidade laborativa (amputações e restrições).
São as lesões perpetradas à vítima em função do ato ilícito que evidenciam
inquestionáveis dores e sofrimentos que afetam sua esfera jurídica interna, carac-
terizando-se como causa dos danos morais.
c) Dano reflexo ou em ricochete:
Criação doutrinária. Surge com o dano imposto à pessoa do lesado di-
reto de tamanha gravidade que “reflete” nas pessoas de seu íntimo convívio
sociofamiliar/relacional.
d) Dano existencial:
Criação doutrinária. Lesão à impossibilidade de viver o vínculo afetivo com a
existência de pessoa natural. Acidente provocado que gera a morte de filhos, cau-
sando aos seus familiares a impossibilidade de viver a sua existência.
A principal fundamentação do dano é o art. 944 da lei 10.406 de 2002[41]:

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

Indagamos, desde já (embora será aprofundado no capítulo 4) qual seria a in-


terpretação da expressão “mede-se pela extensão do dano”. Para tanto, nos valemos
de uma das principais fones de consulta quanto à lei 10.406 de 2002, os enuncia-
dos do Centro de Estudos do Conselho da Justiça Federal, que, entre vários temos
o seguinte:

Enunciado do CJF no 379[42]:


O art. 944, caput, do Código Civil não afasta a possibilidade de se reconhecer a função
punitiva ou pedagógica da responsabilidade civil.

capítulo 1 • 25
Podemos refletir e concluir que a função punitiva e pedagógica tenha o escopo
de punir o evento dano de tal forma que, pedagogicamente, desestimule o autor
do dano a reincidir sobre a sua própria conduta.
Em que teremos uma aproximação maior no capítulo 4 (O Dano).

Fontes online de estudos – breves comentários

a) Supremo Tribunal Federal– STF[43]:

Navegação obrigatória de todo profissional do direito. Destacamos os estudos


das súmulas vinculantes e sua interpretação pelo STF.

b) Conselho Nacional de Justiça – CNJ[44]:

Apesar de recente criação (14/06/2005) o CNJ assume uma posição de con-


trole da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento
dos deveres funcionais dos magistrados, entre outros.
Destacamos suas resoluções, v.g., a Resolução CNJ 175 de 2013 – Normatiza
a união estável entre Pessoas do mesmo Sexo45.

c) Superior Tribunal de Justiça – STJ[46]:

Com um repertório que atende diretamente às necessidades do profissional


do direito que atua na seara da responsabilidade civil. É difícil destacar um único
ponto, pois todo o site é relevante, mas a pesquisa de jurisprudência, bem como

capítulo 1 • 26
suas súmulas são de navegação obrigatória para o entendimento da “última instân-
cia” prática das demandas que versam sobre normas de cunho federal.

d) Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro – TJRJ[47]:

Neste excelente site, sugerimos uma navegação em especial na página que


permite uma pesquisa das jurisprudências, súmulas etc.

e) TV Justiça[48]:

Um dos melhores e confiáveis sites relacionados a temas jurídicos. Aulas, pro-


gramas, notícias entre tantas outras possibilidades. Destacamos que pode ser apre-
ciado em diversas plataformas. Como emissora pública, transmite pelo sistema a
cabo, satélite (DHT), antenas parabólicas e internet, foi a primeira a transmitir ao
vivo os julgamentos do Plenário da Suprema Corte brasileira.

f ) Câmara dos Deputados[49]:

Excelente navegabilidade para a busca de normas de cunho federal.

g) Jornada de Direito Civil do Centro de Estudos Judiciários – CEJ[50] :

A I Jornada de Direito Civil que o Conselho da Justiça Federal promovida


em Brasília, nos dias 12 e 13 de setembro de 2002, deu início a uma das mais

capítulo 1 • 27
relevantes fontes de estudo do direito civil. Seu principal objetivo é o debate da
principal lei que regula as relações entre pessoas privadas, a lei 10.406 de 2002
– Código Civil. A leitura de seus 612 enunciados (VII Jornada) é matéria obri-
gatória para o civilista em geral e o que atua na responsabilidade civil de uma
forma específica.
Disponível em: <www.cjf.jus.br/cjf/CEJ-Coedi/jornadas-cej>. Acesso em:
out. 2017.

h) INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e


Tecnologia[51]:

É uma autarquia federal, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento,


Indústria e Comércio Exterior, que tem como umas das missões prover confiança
à sociedade brasileira nas medições e nos produtos, por meio da metrologia e da
avaliação da conformidade, promovendo a harmonização das relações de consu-
mo, a inovação e a competitividade do País. O conhecimento de suas normas são
obrigatórias por conta da ilicitude na desobediência às suas normatizações.

i) BACEN – Banco Central do Brasil52:

Certamente um dos sites correlacionados à responsabilidade civil das institui-


ções financeiras de maior relevância. Destacamos a sua farta normatização atinen-
te a sua atividade fim.

capítulo 1 • 28
ATIVIDADES
Considerando nosso estudo, vamos aplicá-los sob a forma de um caso concreto:
Salvador Moretti propôs ação de responsabilidade civil em face de Irmãos Marconi &
Cia Ltda, argumentando que fez o seguro de seu veículo e este sofreu danos em decorrên-
cia de sinistro envolvendo o desmoronamento de caixas enquanto aguardava para carregar
produtos em determinado local no dia 27/6/2009. Destaca-se que a ação foi ajuizada em
10/10/2012.
Considerando o texto, reflita sobre as seguintes proposições:
1. Início da contagem da vigência do prazo prescricional;
2. Existência de relação de consumo;
3. Norma adequada a ser aplicada e sua correspondente fundamentação;
4. Posicionamento do STJ.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Disponível em: <http://direitopucpr.blogspot.com.br/2008/08/ulpiano-e-suas-trs-premissas.html>.
Acesso em 17 de agosto de 2017.
[2] GAGLIANO, Pablo Stolze, Novo Curso de Direito Civil - Responsabilidade Civil - v. III – 9. ed.,
Editora Saraiva, 2011, p. 43.
[3] CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil – 8. ed., Editora Atlas, 2008, p. 2.
[4] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>.
Acesso em 17 de agosto de 2017.
[5] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso
em: 17 de agosto de 2017.
[6] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em 18 de agosto
de 2017.
[7] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm>. Acesso em 18
de agosto de 2017.
[8] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm>. Acesso em: 18
de agosto de 2017.
[9] Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 19 de agosto de 2017.
[10] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm>. Acesso em: 19
de agosto de 2017.

capítulo 1 • 29
[11] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 19
de agosto de 2017.
[12] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 19
de agosto de 2017.
[13] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 19
de agosto de 2017.
[14] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 19 de agosto de 2017.
[15] Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 19 de agosto de 2017.
[16] Disponível em: <http://portaltj.tjrj.jus.br/documents/10136/18187/sumulas.pdf?=10>. Acesso
em: 20 de agosto de 2017.
[17] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 20
de agosto de 2017.
[18] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 20
de agosto de 2017.
[19] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 20
de agosto de 2017.
[20] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 20 de agosto de 2017.
[21] Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em 20 de
agosto de 2017.
[22] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 20 de agosto de 2017.
[23] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8987cons.htm. Acesso em 20: de
agosto de 2017.
[24] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9503.htm>. Acesso em: 20 de
agosto de 2017.
[25] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9656.htm>. Acesso em: 20 de
agosto de 2017.
[26] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm>.
Acesso em: 21 de agosto de 2017.
[27] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13460.htm>.
Acesso em: 21 de agosto de 2017.
[28] Disponível em: <http://www.abecs.org.br/app/webroot/files/
media/4/1/8/0951498cb462a07c370f8fcc45ca7.pdf>. Acesso em: 22 de agosto de 2017.

capítulo 1 • 30
[29] Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/circ/2002/pdf/circ_3115_v3_L.pdf>.
Acesso em: 22 de agosto de 2017.
[30] Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/downloadNormativo.
asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/48167/Circ_3335_v1_O.pdf>. Acesso em 22 de
agosto de 2017.
[31] Disponível em: <http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/2009/1931_2009.htm>.
Acesso em: 22 de agosto de 2017.
[32] Disponível em: <http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/2001/1621_2001.htm>.
Acesso em 22 de agosto de 2017.
[33] Disponível em: <http://cms.autorregulacaobancaria.com.br/Arquivos/documentos/PDF/
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[34] Disponível em: <http://www2.susep.gov.br/bibliotecaweb/docOriginal.
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[35] Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-
judiciarios-1/publicacoes-1/jornadas-cej/vii-jornada-direito-civil-2015.pdf>. Acesso em: 22 de agosto
de 2017.
[36] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 22 de
agosto de 2017.
[37] Disponível em: <http://portaltj.tjrj.jus.br/documents/10136/18187/sumulas.pdf?=10>. Acesso
em: 22 de agosto de 2017.
[38] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 22 de agosto de 2017.
[39] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 22 de agosto de 2017.
[40] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em 22 de agosto de 2017.
[41] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 22
de agosto de 2017.
[42] Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-
judiciarios-1/publicacoes-1/jornadas-cej/vii-jornada-direito-civil-2015.pdf>. Acesso em: 23 de agosto
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[43] Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/pesquisarSumula.asp>. Acesso em:
23 de agosto de 2017.
[44] Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/>. Acesso em: 23 de agosto de 2017.
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[46] Disponível em: <http://www.stj.jus.br/sites/STJ>. Acesso em: 23 de agosto de 2017.

capítulo 1 • 31
[47] Disponível em: <http://www4.tjrj.jus.br/ejuris/ConsultarJurisprudencia.aspx>. Acesso em: 23 de
agosto de 2017.
[48] Disponível em: <www.tvjustica.jus.br>. Acesso em: 23 de agosto de 2017.
[49] Disponível em: <http://www2.camara.leg.br>/. Acesso em: 23 de agosto de 2017.
[50] Disponível em: <www.cjf.jus.br/cjf/CEJ-Coedi/jornadas-cej>. Acesso em: 23 de agosto de 2017.
[51] Disponível em: <http://inmetro.gov.br/>. Acesso em: 23 de agosto de 2017.
[52] Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/buscaNormativo.asp>. Acesso em:
23 de agosto de 2017.
[53] Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/
mediado/?componente=MON&sequencial=73909002&num_
registro=201701266733&data=20170801&tipo=0&formato=PDF>. Acesso em: 24 de agosto de
2017.

capítulo 1 • 32
2
O alto ilícito
O ato ilícito
O ato ilícito é o primeiro dos três pressupostos necessários para a caracte-
rização da responsabilidade civil. Neste capítulo estudaremos o seu conceito e
previsões normativas.
Em um segundo momento, avaliaremos os tipos de atos ilícitos e suas divisões
em “gênero, puro e por abuso do direito” e seus desdobramentos. Também refle-
tiremos sobre as excludentes de ilicitude como item descaracterizador da própria
ilicitude. Ainda que o evento danoso exista factualmente.
Por fim, teremos uma breve análise sob a óptica da prática jurídica e proces-
sual e uma atividade que visa identificar os temas estudados.

OBJETIVOS
•  Conceituar o ato ilícito;
•  Distinguir os seus tipos;
•  Estudar as excludentes de ilicitude;
•  Correlacionar o ato ilícito à prática jurídica.

Conceito de ato ilícito

É a conduta necessária para termos o início da possibilidade da responsabili-


zação jurídica de alguém que comete ato que violente o direito de outrem de não
ter violado o direito à incolumidade, por meio de ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência.
Para que o ato ilícito não seja configurado, visto que é o primeiro requisito da
responsabilidade civil a ser preenchido, temos a chamada excludente de ilicitude,
que não deve ser confundida com excludente de responsabilidade, eis que são
institutos diversos e serão aprofundados ao longo deste capítulo.

capítulo 2 • 34
Previsões normativas

Considerando o tema, temos nos artigos 927; 186; 187 e 188 da lei 10.406 de
2002[1], as mais relevantes previsões legais pertinentes ao tema.

Título IX – Da responsabilidade civil


Capítulo I – Da obrigação de indenizar
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obri-
gado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor
do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Título III – dos atos ilícitos


Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes.
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I. os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II. a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remover
perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstân-
cias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável
para a remoção do perigo.
Pelos quais passamos a estudar.

Tipos de atos ilícitos

A responsabilidade civil tem o seu início no cometimento do ato ilícito, que


ao ser identificado nos artigos 186 e 187, exceto se houver uma excludente de
ilicitude (art. 188) gerando a obrigação de reparar o dano.
Para o tema, necessitamos da conjugação de todas as suas fundamentações.
Iniciando pelo art. 927 que é complementado pelos arts. 186 e 187.

capítulo 2 • 35
Ato ilícito gênero

Sua tipificação está prevista no art. 927. Entretanto temos uma divisão dou-
trinária envolvendo o seu caput e o parágrafo único. Vamos identificar e tratar de
forma diferenciada. Considerando a sua natureza completamente diversa quanto
ao tipo de responsabilidade subjetiva e objetiva.
O art. 927 caput, e exclusivamente a este, nos traz a percepção da responsa-
bilidade na modalidade subjetiva (estudada no capítulo 1, item 3.3.1), eis que o
seu entendimento depende da conjugação com o art. 186 para a configuração da
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência (e que serão estudados
no item 3.2).

Como dito o art. 927 é a ponta de lança da responsabilidade civil. Vamos fazer
sua pormenorização:
a) “Aquele que (...)”
Qualquer pessoa natural ou jurídica. Atentando ao fato de a pessoa natural
ser incapaz e sua alteração nos arts. 3o e 4o por meio da lei 13.146/2015 que fez
mudanças substanciais. A pessoa natural é o melhor vocábulo para a seara jurídica
do direito civil. Eis que a expressão “pessoa física” apesar de ser usada comumente
é mais bem posta no direito tributário em especial quanto às normas de declaração
de imposto de renda. A lei 10.406 de 2002[2] consagrou a denominação pessoa
natural quando assim determinou o legislador no seu particionamento. Parte geral
– Livro I – Das pessoas – Título I – Das pessoas naturais.
Corrobora esta assertiva o fato de que a doutrina reconhece e diz preponderar
a teoria natalista, por força do art. 2o do CC[3]: “Art. 2o A personalidade civil da
pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção,
os direitos do nascituro”.
Por outro lado a pessoa jurídica tem a sua previsão legal à partir do art. 40 do
Código Civil, especialmente no art. 44[4]:

Título II – Das pessoas jurídicas


Capítulo I – Disposições gerais
Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito
privado.

capítulo 2 • 36
(...)
Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:
I. as associações;
II. as sociedades;
III. as fundações.
IV. as organizações religiosas;
V. os partidos políticos;
VI. as empresas individuais de responsabilidade limitada.

b) “... por ato ilícito...”:


Sua caracterização será estudada nos itens 3.2 e 3.3
c) “... causar dano a outrem...”
O dano é a consequência do ato ilícito imposto (de forma típica ou atípica)
que será estudado no capítulo 4.
A expressão outrem envolve a necessidade, até por óbvio, de que o dano deve
ser imposto à pessoa diversa da do seu causador. O “autodano” não é punível. Ao
contrário, é causa de excludente de responsabilidade, nos termos do art. 945 do
CC[5];

Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indeni-
zação será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do
autor do dano.

Considerando que a conduta da vítima foi a única capaz de impor a si mes-


ma o seu dano, não há que se atribuir o dever de indenizar a quem quer que
seja. É o caso, por exemplo, do automedicamento adicionado à superdosagem.
Contrariando, in casu, não apenas a necessidade da devida prescrição médica,
como o estipulado na bula oriunda do laboratório.
d) “... fica obrigado a repará-lo.”
Esta singela expressão alterou substancialmente o curso da responsabilidade ci-
vil. Eis que, ainda que passados mais de 15 anos na lei 3.071 de 1916[6] – Código
Civil estipulava à época (antes de sua revogação pela atual lei, a 10.406/2002),
tínhamos uma única fundamentação que expressava toda a ideia não direta-
mente da responsabilidade civil, mas do ato ilícito. E apenas a título ilustrati-
vo colacionamos:

capítulo 2 • 37
Título II – Dos atos ilícitos
Art. 159. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar
direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano.

O atual códex inseriu no contexto dos direitos das obrigações, além da obri-
gação de dar (coisa certa/incerta), fazer e não fazer a obrigação de reparar (por
consequência do ato ilícito), assim figurado:

- de fazer (arts. 247 a 249 e outros)


- Positivas
- coisa certa (arts. 233 a 242 e outros)
- dar
- coisa incerta (arts. 243 a 246 e outros)

- Negativa - não fazer (arts. 250 a 251 e outros)


- Reparativa - ato ilícito (art. 927 e outros)

A lei 10.406 de 2002 inseriu todo um título (IX) para referir-se à responsabili-
dade civil, tendo como seu marco principal, inicial e positivado o art. 927. Tendo
a “reparação” integrada ao rol das obrigações.
Vamos refletir sobre a expressão reparação. Esta palavra significa “ato ou efeito
de reparar, retratação de palavras injustas ou ofensivas”1. Podemos interpretar esta
expressão no sentido amplo, mas que pode se desdobrar em espécies nas expressões
indenizar, ressarcir e compensar, mas significará, sempre a consequência de ato
ilícito. Em sede de sentença judicial, com a procedência da ação de responsabili-
dade civil, condenará o réu em “reparar” (gênero) a, dependente do pedido, em
uma obrigação de indenizar, ressarcir ou ainda compensar. Embora, na prática, as
sentenças empregam, em vez da expressão “julgo procedente ação e condeno o réu
a reparar” o usual é “julgo procedente ação e condeno o réu a indenizar.”

A responsabilidade objetiva

O art. 927 é uma fundamentação contraditória. Enquanto no seu caput temos


a apuração da responsabilidade na modalidade subjetiva, temos no seu parágrafo
único a responsabilidade objetiva. Basta algumas linhas para termos essa crucial

capítulo 2 • 38
diferença. Em que devemos tomar muito cuidado ao “escrever/digitar” com base
neste. Ao invocarmos a responsabilidade subjetiva, melhor escrever “caput do art.
927”. Ao que passo que ao nos referirmos à responsabilidade objetiva devemos nos
expressar com “parágrafo único do art. 927”. Assim não há possibilidade de haver
erros no uso deste artigo ambíguo.
Passemos à análise da responsabilidade objetiva. Como já dito, está funda-
mentado no parágrafo único do art. 927[8]:

Art. 927. (...)


Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente
de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente de-
senvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem.
Façamos uma análise minuciosa de suas palavras:
a) “Haverá obrigação de reparar o dano...”:
Nesta parte do texto temos uma absoluta congruência com caput. Haverá a
“obrigação” quando identificado, demandado (com todo o devido processo legal)
e sentenciado de forma procedente temos a reparação do dano.
b) “... independentemente de culpa, ...”:
Temos nesta expressão o “núcleo do tipo”, que justifica a responsabilidade
objetiva. Em que na análise do dano não haverá ponderação sob a culpa. Inexistirá
análise da ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência. Não deve
haver preocupação com estes elementos subjetivos da culpa, mas deve haver ob-
servância cuidadosa com o nexo de causalidade.
O autor do dano (réu na ação/integrante do polo passivo da demanda) é que
deverá desconstituir o direito do autor, art. 373, II do CPC (analisaremos no
item 5). Bastando ao autor da ação (vítima do dano/integrante do polo ativo da
demanda) estabelecer o nexo de causalidade a correlação entre o ato ilícito e o
dano, como dita o caput do art. 927. Devendo provar de forma mínima, como
preceitua, por analogia, ao enunciado 330 do PJERJ[9]:

Súmula TJRJ no 330 – "Os princípios facilitadores da defesa do consumidor em juízo,


notadamente o da inversão do ônus da prova, não exoneram o autor do ônus de fazer, a
seu encargo, prova mínima do fato constitutivo do alegado direito."

capítulo 2 • 39
c) “... nos casos especificados em lei, ...”:
Aponta a principal lei que regula a relação entre particulares que, por óbvio, é
impossível prever de todas as hipóteses da interação relacional da sociedade. Para
tanto permite um verdadeiro “diálogo entre a fontes” (Claudia Lima Marques).
Abrangendo, precipuamente a lei 10.406/2002, mas tantas outras. Nas palavras
de Fabrício Zamprogna Matiello[10] temos:
Quando a responsabilidade civil não estiver fundada na culpa, diz-se que é
objetiva, ou seja, decorrente da simples verificação existência do evento e da lesão a
direito alheio. Como fonte principal da responsabilidade objetiva tem-se a lei, pois
dela é que emana o comando destinado a eliminar a culpa como fator necessário
de vinculação entre a conduta e o resultado lesivo. É o que acontece em se tratan-
do de responsabilidade civil do Estado, prevista como objetiva na Constituição da
República (art. 37, §6o).
Além do parágrafo único do artigo civilista em questão, temos:

FUNDAMENTAÇÃO MOTIVAÇÃO
187 Abuso do direito

928 Fato da coisa

932/933 Fato de outrem

936 Animal

937 Ruína de coisa

938 Queda/lançamento de coisa

Podemos pretensamente exemplificar hipóteses de responsabilidade objetiva


em outras normas:

FUNDAMENTAÇÃO MOTIVAÇÃO
Lei 8.078/90, art. 12 Fato do produto

Lei 8.078/90, art.14 Fato do serviço

Lei 6.938/81, art. 14, §1o Dano ao meio ambiente

capítulo 2 • 40
Ressaltamos que qualquer atividade não tipificada como crime (princípio
da reserva legal ou da legalidade da pena) é lícita. Se eventualmente o negócio
jurídico se enquadrar em alguma cláusula de nulidade jurídica, nos termos do
art. 166 do CC, será passivo de responsabilização. Mas fora isso, como já ventila-
do, a atividade é lícita. Tanto que a lei 8.078 de 1990[11] prevê, em seu art. 3, §2o,
com bastante diversidade quem é o fornecedor e, também, a não especificidade da
qualificação como serviço:

Art. 3o Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou es-
trangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produ-
ção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribui-
ção ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 2o Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remu-
neração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as
decorrentes das relações de caráter trabalhista.

O raciocínio de James Eduardo Oliveira[12] nos ensina que:

O exercício de uma atividade de risco não é ato ilícito. A elaboração de medicamentos,


o transporte aéreo, as atividades nucleares, o fornecimento em massa de produtos e
serviços, a administração pública, a relação de emprego, a criação de filhos, dentre ou-
tras são consideradas pelo nosso legislador como atividades de risco, mas não ilícitas.
Pelo contrário, a sociedade é conivente com tais atividades porque delas se beneficia
de alguma forma.

d) “... ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano


implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”.
As expressões “atividade e risco” são palavras centrais na interpretação des-
ta fundamentação, tanto que gerou a chamada “teoria do risco pela atividade”.
Consistindo que a atividade deve ser avaliada sobre o prisma do profissionalismo.
Enquanto o risco tem sua origem no entendimento de que quanto maior o risco,
maior o retorno financeiro. Por consectário, no desenvolvimento de uma atividade
com intuito profissional quanto maior o risco, maior o lucro. Considerando que
toda e qualquer atividade profissional envolve riscos, temos apenas que aferir qual
o risco envolvido.
Exemplificamos com o motorista profissional, o médico, o piloto de aeronave,
entre outros. Cada uma detém certo nível de risco. Em ocorrendo o dano deve-
se avaliar se o profissional nesta atividade está devidamente habilitado (licença,

capítulo 2 • 41
diploma, curso, especialização) e qual o grau de zelo com fins de se evitar o evento
dano, pois, de uma forma ou de outra, este é o responsável. E considerando a mo-
dalidade da responsabilidade (objetiva), como já citado, deverá este profissional
(no devido processo legal) se desincumbir ônus seu dos argumentos apresentados
e minimamente provados pelo autor da ação (vítima do dano).
Nas palavras de James Eduardo Oliveira[13], temos:

Muito embora a redação se mostre, a rigor, um tanto quanto imprecisa, deve-se entender
que o legislador desejou referir-se àquelas atividades que impliquem alto risco, ou um
risco maior que o normal, e que geralmente correspondem a uma taxa maior de lucro,
justificando um sistema mais severo de responsabilização.

Façamos uma análise do mesmo entendimento oriundo dos enunciados do


Conselho da Justiça Federal:

Enunciado do CJF nº 448[14]:


Art. 927. A regra do art. 927, parágrafo único, segunda parte, do CC aplica-se sempre
que a atividade normalmente desenvolvida, mesmo sem defeito e não essencialmente
perigosa, induza, por sua natureza, risco especial e diferenciado aos direitos de outrem.
São critérios de avaliação desse risco, entre outros, a estatística, a prova técnica e as
máximas de experiência.

Convém apresentar que no caráter da função social do contrato, em que não


apenas as partes contratantes detêm legitimidade para exigir o cumprimento do
negócio jurídico realizado, mas a própria sociedade (de forma individual, coletiva
ou difusa), pode e deve intervir quando há um ato ilícito que lhe tenha imposto
um dano, como prevê o art. 421 do CC[15] interpretado em conjunto com o
enunciado 446 do CJF[16].

Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social
do contrato.
Enunciado do CJF no 446:
Art. 927. A responsabilidade civil prevista na segunda parte do parágrafo único do art.
927 do Código Civil deve levar em consideração não apenas a proteção da vítima e a
atividade do ofensor, mas também a prevenção e o interesse da sociedade.

Dado, em especial ao caráter da socialidade como princípio da lei 10.406


de 2002.

capítulo 2 • 42
Por fim, neste item temos que a responsabilidade objetiva inscrita nesta fun-
damentação abrange a reparação em diversos planos, seja de ordem material ou
imaterial, como aponta o enunciado 555 do CJF[17].
Enunciado do CJF no 555:
Os “direitos de outrem” mencionados no parágrafo único do art. 927 do
Código Civil devem abranger não apenas a vida e a integridade física, mas tam-
bém outros direitos, de caráter patrimonial ou extrapatrimonial.

Ato ilícito puro

Estudaremos o primeiro artigo que fundamenta a responsabilidade civil, con-


ceituando o que vem a ser o próprio ato ilícito, assim prevê o art. 186 da lei
10.406 de 2002[18]:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou impru-
dência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,
comete ato ilícito.
Tal fundamento gera a responsabilidade civil, visto na leitura do art. 927 a
configuração do ato ilícito é pressuposto para a sua própria existência. Sem o ato
ilícito sequer teríamos a responsabilidade civil e por óbvio o dano.

O art. 186 é, em regra, o elencado para qualificar o ato ilícito. Decorre de uma
conduta humana (comitiva ou omissiva), eivada de culpa (lato sensu), a qual se faz
contrária ao ordenamento jurídico (ilicitude), e que causou dano a outrem.
Destaca-se que a conduta humana não exime a pessoa não humana (pessoa ju-
rídica). Ocorre que a pessoa jurídica é uma ficção que resulta da volição humana.
De fato a situação concreta de reparação civil, tem como ponto comum o cenário
criado com o preenchimento de sua tipificação.
Vamos ao nosso estudo pormenorizado nesta importante fundamentação:
a) Comete ato ilícito aquele (...):
O legislador, pela redação dada ao dispositivo em análise, impede maiores e di-
versas discussões em torno da definição de ato ilícito para fins civis. Considerando
como tal todas as condutas que, ferindo o direito subjetivo alheio de não sofrer
dano, foram praticadas com culpa pelo agente que contaria a lei, do que resulta o
dever de indenizar.
b) (...) que por ação (...):
Ato comissivo, vontade deliberada de causar dano.

capítulo 2 • 43
c) (...) omissão voluntária (...):
Ato omissivo, ausência pessoal do dever de cuidar para evitar o dano.
d) (...) negligência (...):
Falta de atenção no momento em que lhe era exigida.
e) (...) imprudência (...):
Atitude irrefletida, intempestiva.
f ) (...) e causar dano a outrem (...):
Considerando a expressão “outrem” qualquer pessoa diferente da do próprio
causador do dano. Pois se assim ocorresse haveria a ingerência da excludente de
responsabilidade culpa exclusiva da vítima, nos termos do art. 945 do CC (estu-
dado no item 3.1 “c”)
g) (...) ainda que exclusivamente moral (...):
Dano extrapatrimonial. CRFB/1988, art. 5, X c/c capitulo II do CC, Direitos
da Personalidade.
Orientamos-nos pelos enunciados do Conselho da Justiça Federal[19]:
Enunciado do CJF no 159
Art. 186. O dano moral, assim compreendido todo dano extrapatrimonial,
não se caracteriza quando há mero aborrecimento inerente a prejuízo material.
Enunciado do CJF no 411
Art. 186. O descumprimento de contrato pode gerar dano moral quando en-
volver valor fundamental protegido pela Constituição Federal de 1988.
h) (...) Comete ato ilícito:
Temos então o conceito de ato ilícito. Como consequência da articulação en-
tre todos os demais itens.

A imperícia no cenário do ato ilícito

Questão que merece uma indagação é a que diz respeito à ausência da expres-
são “imperícia” como tipificador do ato ilícito no art. 186 da lei 10.406.
A imperícia então seria causa de não tipificação do ato ilícito?
Cremos que não, pois o legislador assim não o desejou. E o profissional do di-
reito não pode criar texto no lugar em que este inexiste. E o Estado Juiz não pode
interpretar aquilo que o legislador não escreveu, pois estaria julgando extra petita.
Entretanto isso não significa que a imperícia não gere responsabilidade civil. Tanto
que no art. 951 da lei 10.406 de 2002[20] temos:

capítulo 2 • 44
Lei 10.406 de 2002:
Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de
indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por
negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o
mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.
O CJF assim se pronuncia sob a forma do enunciado 460[21]:

Enunciado do CJF no 460


Art. 951. A responsabilidade subjetiva do profissional da área da saúde, nos termos
do art. 951 do Código Civil e do art. 14, § 4o, do Código de Defesa do Consumidor,
não afasta a sua responsabilidade objetiva pelo fato da coisa da qual tem a guarda,
em caso de uso de aparelhos ou instrumentos que, por eventual disfunção, venham a
causar danos a pacientes, sem prejuízo do direito regressivo do profissional em relação
ao fornecedor do aparelho e sem prejuízo da ação direta do paciente, na condição de
consumidor, contra tal fornecedor.

Destacando que a imperícia é falta de conhecimento, ignorância, inabilidade.


Entretanto, temos importantes vozes que afiançam que a imperícia integra o
rol do art. 186 por via transversa. É o caso, por exemplo, de Sergio Branco[22]
que cita outros autores:

Para GUILHERME CALMON, deve ser registrado que, já que o Código cita expressa-
mente as modalidades culposas da negligência e da imprudência, melhor seria deixar
claro também a hipótese da imperícia. Tal lacuna, contudo, não permite que se considere
também a imperícia no âmbito do ato ilícito do art. 186, já referido.
Por outro lado, no entendimento de CARLOS ROBERTO GONÇALVES, o termo negli-
gência, usado no art. 186, é amplo e abrange a ideia da imperícia, pois possui um sentido
lato de omissão ao cumprimento de um dever.

Apesar de tamanha celeuma, considero no tema que a imperícia é causa de res-


ponsabilidade civil do profissional da saúde. Apenas. Quando causa dano ao seu
paciente, nos termos do artigo já citado. Fora isso nos termos da Lei 10.406/2002
do art. 186 não pode ser tipificado como ato ilícito puro. Tanto que em exaustiva.

Ato ilícito pelo abuso do direito

Diferentemente do ato ilícito gênero (ou puro), em que a conduta por si é


qualificada como ilícita, no ato ilícito espécie (ou equiparado) o agente que causa
o dano é parte legítima para o exercício do direito que poderia ser exercido sem

capítulo 2 • 45
nenhum tipo de impedimento. Entretanto ao exercê-lo ultrapassa os limites táci-
tos impostos pela lei, no que tange ao seu exercício.
A licitude do exercício do direito não deve servir como pretexto para que o
cerne do próprio direito sirva ao seu despropósito de tal forma que implique ato
ilícito. Posto que empregado de forma anormal.
Vamos à leitura de sua fundamentação, o art. 187 da lei 10.406 de 2002[23]:

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes.

Como se pode ler, não há impedimento legal para o exercício do direito. Mas
quando o seu exercício ultrapassa as amarras da boa relação social, muitas vezes
com o claro intuito de causar prejuízo a outrem. O uso desnecessário do sistema
ao qual o direito se apoia em que se busca a retidão, a clareza, tudo objetivando à
justiça, fica maculado quando empregado de forma contrária.
Nas palavras de Sergio Cavalieri Filho[24] temos:

“... não é necessária a consciência de se excederem, com o seu exercício, os limites im-
postos pela boa-fé, pelos bons costumes ou pelo seu fim social ou econômico do direito;
basta que se excedam esses limites. Filiou-se o nosso Código à doutrina de Saliciles,
a quem coube definir o abuso do direito como exercício anormal do direito, contrário à
destinação econômica ou social do direito subjetivo, que, reprovado pela consciência
pública ou social, excede, por consequência, o conteúdo do direito...”

Tal assertiva doutrinária nos conduz ao entendimento de igual conclusão pelo


enunciado 139 do CJJF[25]:

Enunciado do CJF no 139


Art. 11. Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, ainda que não especifica-
mente previstas em lei, não podendo ser exercidos com abuso de direito de seu titular,
contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons costumes.

Convém afiançar que tal instituto é fruto de fundamento constitucional pre-


visto na cláusula geral de inviolabilidade (a intimidade, a vida privada, a honra
e a imagem das pessoas) inserta o art. 5, X, que assegura a indenização no plano
moral ou material quando existente. Adiciona-se a esta ideia o caráter de artigo de
aplicabilidade supra legal. Eis que aplicável em todos os ramos do direito. Por isso,
muito acertado os enunciados 414 e 539 do CJF[26]:

capítulo 2 • 46
Enunciado do CJF no 414:
Art. 187. A cláusula geral do art. 187 do Código Civil tem fundamento constitucional nos
princípios da solidariedade, devido processo legal e proteção da confiança, e aplica-se
a todos os ramos do direito.

Enunciado do CJF no 539


O abuso de direito é uma categoria jurídica autônoma em relação à responsabilidade
civil. Por isso, o exercício abusivo de posições jurídicas desafia controle independente-
mente de dano. Artigo 187 do Código Civil.

Outro ponto de extrema relevância é o fato de que há construção jurispruden-


cial e doutrinária sedimentada quanto à apuração do abuso do direito sob a forma
da responsabilidade objetiva. A 1a Jornada de Direito Civil, datada de 12 a 13 de
setembro de 2002, resultou no enunciado 37[27]. E o PJERJ em 2006 editou a
súmula 127[28]. Estes com entendimentos idênticos:
Desatacamos a exposição de motivos da súmula 127 do TJRJ[29]:

Enunciado do CJF no 37:


Art. 187. A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e
fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico.

Súmula TJRJ no 127 – Abuso do direito configuração prova da culpa dispensabilidade.


“Para a configuração do abuso do direito é dispensável a prova da culpa”.
Referência: Súmula da Jurisprudência Predominante no 2006.146.00007 – Julgamen-
to em 21/12/2006 – Relator: Desembargador Antonio José Azevedo Pinto. Votação
unânime.

Sobre o tema que constitui o cerne do enunciado em referência, vale lembrar


a afirmação de Heloisa Carpena, quando afirma que “de acordo com a noção de
abuso introduzida pelo Código de 2002, o exercício de cada direito deve respeitar
seu espírito próprio, buscando assim a realização do ideal de justiça além da letra
da lei. O critério do abuso não está apenas na intenção de causar danos, mas no
desvio do direito de sua finalidade ou função social”
Tal qual como no ato ilícito gênero, passemos a sua análise:
a) Também comete ato ilícito (...):
É considerado como ato ilícito, nos termos do próprio art. 186.
b) (...) o titular de um direito que, ao exercê–lo, (...):
Legitimidade ativa e passiva para o pleno exercício de algo que lhe seja garan-
tido pelo direito.

capítulo 2 • 47
c) (...) excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico (...):
Ultrapassa os limites da razoabilidade econômica (cobrança vexatória) ou so-
cial (uso desmesurado do conhecimento técnico sobre algo). O interesse para ser
legítimo deve ser efetivado pelas vias apropriadas. Como uma execução (de con-
trato, de cheque, de nota promissória, de aluguel, etc.).
d) ou social (...):
A socialidade é um dos pilares principiológicos da lei 10.406/2002 (junto
com a eticidade e operabilidade). Ultrapassar os fins sociais significa que no exer-
cício do direito o seu titular deve considerar o quanto custaria à pessoa ao qual
se exige considerando os critérios da paz, ordem, solidariedade e harmonia na
coletividade.
e) (...) pela boa-fé (...):
Confiança na realização contratual ausência de desconfiança na relação extra-
contratual. Deve ser entendida sob o prisma da boa-fé objetiva (e não da subjetiva
– de ordem psicológica), logo reta, proba, esperável, leal e correta. Eis que em todas
as manifestações de vontade a conduta esperada é a mesma daquela que se oferta.
Considerando o caráter de subjetividade deste instituto, é prudente que fa-
çamos uma ponderação diferenciada. Para tanto colacionamos com o enunciado
412do CJF[30]:

Enunciado do CJF no 412:


Art. 187. As diversas hipóteses de exercício inadmissível de uma situação jurídica sub-
jetiva, tais como supressio , tu quoque , surrectio e venire contra factum proprium, são
concreções da boa-fé objetiva.

Tais institutos serão utilizados para suprir lacunas dos deveres implícitos nos
contratos, para tanto ampliamos seu texto sob a forma de análise dos textos lati-
nos empregados.

•  Supressio: é a extinção de um direito pelo seu não exercício.


•  Surrectio: ao contrário da supressio é o direito que nasce pela prática reiterada de
um ato.
•  Tu quoque: é um termo latim equivalente em português a “você também”. Quem des-
cumpriu uma normal legal/contratual, não pode exigir que o outro a cumpra.
•  Venire contra factum proprium: significa “vir contra um fato próprio”. Ou seja, não é
razoável que uma pessoa pratique determinado ato ou conjunto de atos e, em seguida,
adote uma conduta diametralmente oposta.

capítulo 2 • 48
f ) (...) pelos bons costumes:
Aquilo que a sociedade entende como moralmente correto, com fins de boa
convivência. Aplicável ao tempo, lugar, hábitos e pessoa. Da mesma forma que a
boa-fé, este instituto é de possível interpretação dúbia. Analisemos sob a óptica do
enunciado 413 do CJF[31]:

Enunciado do CJF no 413:


Art. 187. Os bons costumes previstos no art. 187 do CC têm natureza subjetiva, desti-
nada ao controle da moralidade social de determinada época, e objetiva, para permitir a
sindicância da violação dos negócios jurídicos em questões não abrangidas pela função
social e pela boa-fé objetiva.

Um costume de nossa sociedade que busca nas “redes sociais” uma exposição de
seus hábitos, não pode considerar como ilícita a utilização de uma imagem obtida
em um meio público e sem nenhuma intenção a não ser a sua mera “socialização”.

Excludentes de ilicitude

A excludente de ilicitude (diversa de excludente de responsabilidade) visa ex-


cluir a tipificação do primeiro dos requisitos da responsabilidade civil, o ato ilí-
cito. Neste tipo, a conduta ilícita tem uma justificativa que permite justamente a
sua exclusão.
Neste tema abordaremos a exclusão do item que dá o início à responsabilidade
civil, atentemos ao caput do art. 188 da lei 10.406 de 2002[32], verbis:
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
Em havendo o enquadramento da conduta do agente ao qual se pretende
impedir a responsabilidade, temos as excludentes das ilicitudes apontadas em seus
incisos na mesma lei[33], vamos apresentá-las:

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:


I. os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconheci-
do;
II. a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remo-
ver perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circuns-
tâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispen-
sável para a remoção do perigo.

capítulo 2 • 49
Após a sua apresentação, vamos estudá-las de forma pormenorizada:

Estrito cumprimento do dever legal

Comecemos seu estudo por meio do art. 188 da lei 10.406 de 2002[34]:

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:


I. os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

O agente que tem o dever proveniente da lei como obrigação de agir, não
responderá pelos atos praticados, ainda que constituam um ilícito, pois o estrito
cumprimento de dever legal constitui outra espécie de excludente de ilicitude, ou
causa justificante.
Para tal tipificação é necessário que o agente atue dentro da sua esfera de atri-
buição. E que também não atue de forma abusiva, pois a incompetência judicial e
a abusividade do dever de agir não gerarão tal excludente.

Estado de necessidade

Da mesma forma, temos no CC, em seu art. 188[35]:

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:


II. A deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remover
perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstân-
cias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável
para a remoção do perigo.

Trata-se de uma excludente de ilicitude que constitui no sacrifício de um bem


jurídico protegido, visando salvar de perigo atual e inevitável direito próprio do
agente ou de terceiro – desde que no momento da ação não for exigido do agente
uma conduta menos lesiva.
A conduta deve ser proporcional ao evento de forma que não se ultrapasse
um limite considerado razoável. O bem tutelado que é deteriorado, destruído ou
removido deve ser inferior em relação ao que é salvo.

capítulo 2 • 50
Legítima defesa

Finalizando o tema no art. 188[36]:

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:


I. os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

O conceito de legítima defesa tem base no fato de que os agentes que têm o de-
ver legal de atuar não podem estar presentes em todos os lugares protegendo os direi-
tos dos indivíduos. Neste tipo o agente pode, em situações restritas, defender direito
seu ou de terceiros. Nada mais é do que a ação praticada pelo agente para repelir in-
justa agressão a si ou a terceiro, utilizando-se dos meios necessários com moderação.
Logo, tal excludente deve ser de tal forma que a incolumidade daquele que
está em perigo se utiliza de todos os meios necessários para salvaguardá-lo.

O ato ilícito na prática jurídica

Tendo em vista o caráter teórico normativo e prático de nosso trabalho, pro-


pomos um olhar processual no tema ato ilícito. Ele começa na confecção da peti-
ção inicial, sob a previsão legal da lei 13.105 de 2015[37] (CPC) e fundamentação
nos termos do seu art. 320.

Art. 320. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à proposi-
tura da ação.

Eis que na sua confecção deverá haver a caracterização do ato ilícito e todos os
demais pressupostos da responsabilidade civil (nexo causal e dano).
Isso implica a apresentação e inserção de todas as provas disponíveis. E as que
eventualmente deverão ser produzidas deverão ser alvo de informação ao Estado
Juiz para que as defira, pois existe a possibilidade do seu indeferimento no mo-
mento de sua distribuição. Nos termos do art. 321 do CPC[38]:

Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts.
319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julga-
mento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a
complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado.
Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.

capítulo 2 • 51
Tendo como sanção à sua eventual emenda insatisfatória o seu indeferimento.
Ainda que se possa distribuir mais de uma vez, considerando que não é causa de
indeferimento com julgamento do mérito. Em comarcas que tenham vara única
ou poucas varas cíveis, é possível que seja distribuída mais uma vez ao mesmo
magistrado. Embora, de uma forma ou de outra, considerando o alerta inicial esta
petição deve ser ajustada nos moldes que evitem nova determinação de emenda.
A petição inicial deverá ser redigida (além de instruída) com um texto que de-
corra logicamente e que permita ao Estado Juiz o prosseguimento do feito dentro
da normalidade esperada, determinando a citação e todos os atos subsequentes,
pois caso a petição não seja bem redigida ela pode ser considerada como inepta e
indeferida de plano. Assim prevê o art. 330[39]

Art. 330. A petição inicial será indeferida quando:


I. for inepta;
§ 1o Considera-se inepta a petição inicial quando:

III. da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;

Caracterizado o ato ilícito como uma obrigação e ultrapassado todas as fases


do processo (ampla defesa, contraditório entre outros) chega a fase de liquidação
de sentença. Uma vez que esta é título executivo judicial, nos termos do art. 515,
I do CPC[40]:

Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os
artigos previstos neste título:

I. as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obriga-


ção de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa;

Por fim, devemos nos acautelar no momento da confecção de uma inicial. Em


plena consonância com as normas e os precedentes jurídicos vigentes na melhor
literatura possível com fins de caracterizar o ato ilícito.

ATIVIDADE
01. O. R. G. ajuizou ação de indenização por danos morais em face do SBT – Sistema Bra-
sileiro de Televisão e de A. A. M. L., haja vista que, no programa "Domingo Legal", de 7 de
setembro de 2003, apresentado pelo segundo réu, foi veiculada reportagem com supostos

capítulo 2 • 52
integrantes (encapuzados e armados) da facção criminosa denominada PCC – Primeiro Co-
mando da Capital, na qual foram proferidas ameaças de morte contra diversos jornalistas,
autoridades e apresentadores de televisão, entre eles, o autor, então apresentador do pro-
grama "Cidade Alerta" da Rede Record de Televisão, cujo foco era o jornalismo policial, tendo
requerido, em razão dos danos morais sofridos, a quantia de 1 milhão de reais.
Isso porque se constatou que tudo não passou de uma farsa – os entrevistados não eram
integrantes da facção criminosa –, e foram contratados pela produção do programa dirigido
e apresentado pelo segundo réu, tão somente para angariar "ibope" nas pesquisas de au-
diência, sendo que, em razão de tal fato, foi instaurado inquérito policial, bem como houve a
propositura de ação civil pública pelo Parquet de São Paulo, o que culminou com pedido de
desculpas, em rede nacional, no programa da apresentadora Hebe Camargo.

REFLEXÃO
Considerando o texto, reflita e responda às seguintes indagações:
1. É caso de algum ato ilícito?
2. Qual seria e em qual modalidade?
3. Qual(is) seria(m) a(s) fundamentação(ões) aplicável(is)?
4. Existe algum enunciado de súmula pertinente ao tema?
5. É aplicável alguma norma pertinente à atividade profissional dos envolvidos?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso
em: 27 de agosto de 2017.
[2] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso
em: 27 de agosto de 2017.
[3] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso
em: 27 de agosto de 2017.
[4] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso
em 27 de agosto de 2017.
[5] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso
em: 27 de agosto de 2017.

capítulo 2 • 53
[6] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L3071.htm>. Acesso em: 27 de agosto
de 2017.
[7] Disponível em: <https://www.dicio.com.br/reparacao/>. Acesso em: 28 de agosto de 2017.
[8] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso
em: 28 de agosto de 2017.
[9] Disponível em: <http://portaltj.tjrj.jus.br/documents/10136/18187/sumulas.pdf?=10>. Acesso
em: 29 de agosto de 2017.
[10] MATIELLO, Fabrício Zamprogna. Código Civil Comentado – 3. ed. 2007, Editora LTR, p. 579.
[11] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 29 de
agosto de 2017.
[12] OLIVEIRA, James Eduardo. Código Civil Anotado e Comentado – Doutrina e Jurisprudência –
2. ed. 2010, p. 808.
[13] OLIVEIRA, James Eduardo. Código Civil Anotado e Comentado – Doutrina e Jurisprudência –
2. ed. 2010, p. 808.
[14] Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-
judiciarios-1/publicacoes-1/jornadas-cej/vii-jornada-direito-civil-2015.pdf>. Acesso em: 29 de agosto
de 2017.
[15] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>.
Acesso em: 29 de agosto de 2017.
[16] Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-
judiciarios-1/publicacoes-1/jornadas-cej/vii-jornada-direito-civil-2015.pdf>. Acesso em: 29 de agosto
de 2017.
[17] Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-
judiciarios-1/publicacoes-1/jornadas-cej/vii-jornada-direito-civil-2015.pdf>. Acesso em: 29 de agosto
de 2017.
[18] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>.
Acesso em: 29 de agosto de 2017.
[19] Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria–da–justica–federal/centro–de–estudos–
judiciarios–1/publicacoes–1/jornadas–cej/vii–jornada–direito–civil–2015.pdf>. Acesso em: 29 de
agosto de 2017.
[20] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>.
Acesso em: 29 de agosto de 2017.
[21] Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-
judiciarios-1/publicacoes-1/jornadas-cej/vii-jornada-direito-civil-2015.pdf>. Acesso em: 29 de agosto
de 2017.

capítulo 2 • 54
[22] BRANCO, Sergio. Tópicos de Direito Civil, 2. ed. 2009, 409. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em: 29 de agosto de 2017.
[23] CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil – 8. ed., Editora Atlas, 2008,
p. 152.
[24] Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-
judiciarios-1/publicacoes-1/jornadas-cej/vii-jornada-direito-civil-2015.pdf>. Acesso em: 29 de agosto
de 2017.
[25] Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-
judiciarios-1/publicacoes-1/jornadas-cej/vii-jornada-direito-civil-2015.pdf>. Acesso em: 29 de agosto
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[26] Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-
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[27] Disponível em: <http://portaltj.tjrj.jus.br/documents/10136/18187/sumulas.pdf?=10>. Acesso
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[28] Disponível em: <http://www1.tjrj.jus.br/gedcacheweb/default.
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[29] Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-
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[30] Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-
judiciarios-1/publicacoes-1/jornadas-cej/vii-jornada-direito-civil-2015.pdf>. Acesso em: 29 de agosto
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[31] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>.
Acesso em: 29 de agosto de 2017.
[32] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>.
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[33] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>.
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Acesso em: 29 de agosto de 2017.
[36] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015–2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 29 de agosto de 2017.

capítulo 2 • 55
[37] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015–2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 29 de agosto de 2017.
[38] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015–2018/2015/lei/l13105.htm>.
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[39] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015–2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 29 de agosto de 2017.
[40] Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/
mediado/?componente=ATC&sequencial=66966261&num
_registro=201303568064&data=20161123&tipo=5&formato=PDF>. Acesso em: 29 de agosto de
2017.
[41] Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/
documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=65551935&num_
registro=201303568064&data=20161123&tipo=91&formato=PDFAcesso em: 29 de agosto de
2017.

capítulo 2 • 56
3
O nexo causal
O nexo causal
O nexo de causalidade ou nexo axiológico é o ponto nevrálgico da responsabi-
lidade civil, pois temos a necessidade do seu preenchimento, com as provas, com
fins de unir os outros dois requisitos de admissibilidade da responsabilidade civil
(o ato ilícito e o dano). Sem os quais inexiste o direito nos termos do art. 373 e
incisos da lei 13.105 de 2015.
Por isso o direito material insculpido na lei 10.406/2002 deve cotejar, dialo-
gar com o códex processual e alinhar-se com entendimentos vigentes. Pelos quais
apresentamos alguns temas controvertidos de nosso interesse para uma moderna
interpretação do direito, e consequente uma melhor atividade profissional.
Todo o estudo não terá vida útil se estiver desassociado com a prática jurídica,
pela qual fazemos questão de estar em perfeita sintonia teórica e prática.

OBJETIVOS
•  Conceituar o nexo causal;
•  Estudar as principais normas processuais;
•  Refletir sobre temas processuais controvertidos;
•  Apresentar entendimento aplicáveis;
•  Correlacionar o estudado com a prática jurídica.

Nexo causal

É também nominada de nexo de causalidade, nexo etiológico ou relação de


causalidade das leis naturais. Devemos raciocinar que o nexo causal é o liame que
une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame da relação causal que
concluímos quem foi o causador do dano. Trata-se de um elemento indispensável.
Destacamos que a responsabilidade dispensa a culpa, mas nunca dispensará o nexo
causal. Se a vítima do dano não identificar o nexo causal que leva o ato danoso ao
responsável, não há como ser “indenizada”.
Sendo assim, para que ocorra obrigação de indenizar, é preciso que se demons-
tre a relação entre a ação (ou omissão) do agente e o dano. Sem que se estabeleça
esse vínculo de causa e efeito, o Estado Juiz não pode julgar um pedido procedente
em sede de uma ação de responsabilidade civil.

capítulo 3 • 58
Para tanto, ainda que inexista de maneira típica, em sede de responsabilidade
civil, uma expressa previsão legal, vemos nos termos do art. 13 do CP1 uma fun-
damentação por analogia, como se lê:

Decreto-lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – CP:


Título II – Do Crime
Relação de causalidade
Art. 13 – O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a
quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não
teria ocorrido.

O art. 403 do CC[2] estabelece, na seara civil, capitulada não em sede de


responsabilidade civil, mas em sede de perdas e danos, temos a tipificação para o
estabelecimento do nexo causal:

Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só in-
cluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem
prejuízo do disposto na lei processual.

Ainda que não reflita diretamente como fundamentação, temos no art. 373
do CPC[3] a lógica necessária ao seu entendimento:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I. ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;
II. ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do
autor.

Podemos concluir que a prova é o centro que une o fato ao dano. Caso não
ocorra a sua demonstração inexiste relação de causalidade, por consequência obri-
gação de indenizar. Como consequência, em havendo o estabelecimento do nexo
causal passamos a observar a extensão do dano.

Teorias

A seguir iremos apresentar duas teorias que justificam o estabelecimento do


nexo causal, em que a maioria doutrinária entende como principal a chamada “teo-
ria da causa adequada”. Mas não podemos deixar de apresentar a teoria da equivalên-
cia da causa. Minimamente para estabelecer um entendimento para a sua distinção.

capítulo 3 • 59
Teoria da equivalência da causa – "conditio sine qua non" – Direito Penal

Como o próprio nome diz, essa teoria não faz distinção entre causa (aquilo
de que uma coisa depende quanto à existência) e condição (o que permite à causa
produzir seus efeitos positivos ou negativos). Se várias condições concorrem para
o mesmo resultado, todas têm o mesmo valor, a mesma relevância, todas se equi-
valem. Não se indaga se uma dela foi mais ou menos eficaz mais ou menos ade-
quada. Causa é a ação ou a omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido, sem
distinção da maior ou menor relevância que cada uma teve. Por isso, essa teoria
é também chamada da conditio sine qua non, ou da equivalência das condições.
Para se saber se determinada condição é causa, elimina-se mentalmente essa
condição, por meio de processo hipotético. Se o resultado desaparecer, a condição
é causa, mas se persistir, não o será. Destarte condição é todo antecedente que não
se pode ser eliminado mentalmente sem que venha a ausentar-se o efeito.
Critica-se essa teoria pelo fato de conduzir a um exagero da causalidade e a
uma regressão infinita do nexo causal. Por ela, teria que se indenizar a vítima de
atropelamento não apenas quem dirigia o veículo, mas, também a concessionária
que vendeu o bem, a montadora que produziu o mesmo e assim sucessivamente.
Por esta teoria se equivalem-se a causa, estabelecendo que todas as circuns-
tâncias que concorreram para o dano se equivalem das causas que efetivamente
produziram efeitos capazes de gerar o evento. Pouco se importando se há uma
condição preexistente, concomitante ou superveniente.

Teoria da causalidade adequada – Direito Civil

Por esta teoria, a causa é não apenas o antecedente necessário à causação do


evento, mas também, adequado à produção do resultado. Nem todas as condições
serão causa, mas apenas aquela que for a mais apropriada a produzir o evento.
Aquela que colaborou de forma preponderante e mais apropriada para o evento.
A situação tem como revés em saber, exatamente, quem, entre as várias con-
dições ser a mais adequada. Tem-se por praxe considerar, como já descrito, aquela
que de acordo com a experiência comum, for a mais idônea para gerar o evento.
Não se limita que a causa seja condição preponderante para o prejuízo, é preciso,
ainda que o fato constitua, no caso concreto, uma causa adequada e eficiente para
a causação do dano.

capítulo 3 • 60
Assim, por exemplo, se um agente de viagens retém, de forma desnecessária e
ilícita um passageiro impedindo-o de embarcar em um determinado navio e, por
consequência embarca em um segundo que vem a afundar esta retenção, por mais
que seja ilícita, que não é a causa para o desastre. Por mais que o primeiro barco
tenha chegado incólume ao seu destino (diferente do segundo).
A doutrina assim deverá correlacionar de forma adequada o fato e o dano
(nexo de causalidade) de forma a atribuir de forma legítima causa e efeito. Deverá
o Estado Juiz, no caso concreto, ir ao momento da conduta que foi capaz de pro-
duzir o evento danoso, colocando-se no lugar do causador (agente) e com base
nas provas apresentadas, regras de experiência e condições particulares estabelecer
seu juízo de forma consciente sobre a legítima causa do evento e seu responsável.
Nossos doutrinadores entendem que enquanto a teoria da equivalência pre-
pondera na esfera penal, a da causalidade se ajustou à civil. Por consequência não
apenas as condições que concorrem para o evento são capazes para se atribuir
responsabilização (como na esfera penal), mas sim aquela que, dentre as demais,
seja capaz de ser a causa mais adequada (preponderante) a causar concretamente o
resultado e por consequência o dano.
Sendo assim, e de forma mais simples, observemos as palavras de Roberto de
Abreu e Silva[4]:
A teoria da causalidade adequada conduz à verificação se os fatos ocorreram
em condições normais ou extraordinárias. Essa consubstancia-se na previsibili-
dade humana do acontecimento. Atropelamento de um pedestre na calçada por
derrapagem ou defeito mecânico do automóvel, por ser de previsibilidade hu-
mana implica responsabilidade civil. O mesmo fenômeno não ocorre se a víti-
ma, inopinadamente, atravessa pista de rolamento de veículos, causando seu pró-
prio atropelamento.

Exclusão do nexo causal

Causas de exclusão de nexo de causalidade são as impossibilidades superve-


nientes do cumprimento da obrigação que não pode ser imputável ao devedor ou
ao agente. Assim, alguém não pode responder por um resultado a que não tenha
dado causa. Logo, ausente como causa de exclusão da causalidade, não há que se
falar em responsabilidade.

capítulo 3 • 61
Fato exclusivo da vítima

Para a isenção de responsabilidade do pretenso autor, basta que a “vítima” te-


nha colaborado de forma decisiva para o evento danoso. Logo o comportamento
da “vítima” é que determina a exclusão da responsabilidade, v.g. uma pessoa que
atravessa a Av. Brasil pela pista em vez de utilizar a passagem de pedestres (eleva-
do). Neste exemplo, pode-se observar que fica eliminado a causalidade em relação
ao terceiro interveniente no evento (aquele a quem se imputaria responsabilida-
de). Para tanto, lemos o art. 945 do CC[5], com sua devida interpretação:

Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indeni-
zação será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do
autor do dano.

Destaca-se a Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990[6], CDC nas excluden-


tes de responsabilidade.

Art. 12. (...)


§ 3o – O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado
quando provar:
III. a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Art. 14– ...(..)


§ 3o – O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
II. a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Fato de terceiro

O terceiro é, segundo Sergio Cavalieri, citando Aguiar Dias[7] “... qualquer


pessoa que além da vítima e o responsável, alguém que não tem nenhuma ligação
com o causador aparente do dano e o lesado”, pois, não raro acontece que é o ato
de terceiro é a causa exclusiva do evento, afastando qualquer relação de causali-
dade entre a conduta do autor aparente e a vítima. É o endereçamento errado da
ação. A atribuição no polo passivo de forma errônea.
Exemplo: alimento adquirido em um supermercado e consumido pelo seu ad-
quirente que vem a falecer após o consumo deste. Após perícia fica constatado que
o produto foi mal conservado enquanto sob responsabilidade do vendedor. Outro
exemplo. Uma pessoa atropelada por um ônibus e vem a falecer em momento

capítulo 3 • 62
posterior. Após perícia fica comprovado que esta se desequilibrou e cambaleante
foi atropelada pelo ônibus em questão.
Para tanto, lemos o art. 930 do CC8, para a sua devida interpretação:

Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra
este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido
ao lesado.

Destaca-se, mais uma vez, a lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990[9],


CDC nas excludentes de responsabilidade.

Art. 12. (...)


§ 3o – O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado
quando provar:
III. a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Art. 14 – ...(..)
§ 3o – O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
II. a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Caso fortuito e força maior

Antes de qualquer coisa, destacamos que até hoje não se definiu, exatamente,
a sua diferença, porém o que é ponto central e que tanto um como o outro estão
fora dos limites da culpa, fala-se neles quando se trata de acontecimento que esca-
pa toda diligência, inteiramente estranho à vontade do causador.
Tradicionalmente são cláusulas de exoneração devida a atos humanos (revo-
lução, guerras, greve), enquanto a força maior decorreria de fatos da natureza
(inundação, tufão temporal).
O caso fortuito ou de força maior excluem o nexo causal e, por via de conse-
quência, eximem o devedor da responsabilidade pelo não cumprimento do dever
de não lesar alguém, como fundamenta o art. 393 do CC/2002[10]:

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força
maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos
efeitos não era possível evitar ou impedir.

capítulo 3 • 63
Para uma melhor definição, explicitaremos o caso fortuito e a força
maior amiúdes.
O CC/2002, como se vê no parágrafo único do art. 393, praticamente os
considera sinônimos, na medida em que se caracteriza o caso fortuito ou a força
maior como sendo o fato necessário, cujos efeitos não se era possível evitar ou
impedir. Entendemos, todavia, que há uma diferença. No caso fortuito, temos um
evento imprevisível. Entende-se a imprevisibilidade específica, relativa a um fato
concreto, e não a genérica ou abstrata de que poderão ocorrer, assaltos, acidentes,
atropelamentos etc., porque se assim não for tudo passará a ser previsível. Em que
se subdivide em fortuito interno e externo.

Fortuito interno e fortuito externo

Fortuito interno: o fato imprevisível e, por isso, inevitável, que se liga à ati-
vidade da entidade. Como, por exemplo, o estouro de um pneu de um ônibus,
incêndio de um veículo e outros.
Fortuito externo: é também fato imprevisível e inevitável. Todavia em nada
tem correlação com a atividade da empresa. Como, v.g., roubo a carro forte, em
que se procura tomar todas as precauções possíveis.
O que realmente interessa é que ambos excluem o nexo causal por constituírem,
também, causa estranha à conduta do aparente agente, ensejadora direta do evento.
Eis a razão pela qual a jurisprudência tem entendido que o defeito mecânico em veí-
culo salvo caso excepcional de total imprevisibilidade, não caracteriza o caso fortui-
to, por ser possível prevê-lo, evitá-lo por meio de periódica e adequada manutenção.
O mesmo entendimento tem sido adotado no caso de derrapagem, e dia de
chuva, porquanto, além de previsível, pode ser evitada pelo cuidado. É necessário
verificar a casuística para se determinar a qualificação mais adequada.
No contrato de transporte, v.g., a obrigação principal do transportador, emer-
gente de contrato, é levar o passageiro incólume ao seu destino. Se no curso da
viagem ocorre um acidente e o passageiro sofre algum dano, fica caracterizado o
inadimplemento, o ilícito contratual, em razão do qual terá o transportador que
indenizar. Conforme Aguiar Dias[11]:

Se o contrato é uma fonte de obrigações, a sua inexecução também o é. Quando ocorre


a inexecução, não é a obrigação contratual que movimenta o mundo da responsabilida-
de. O que se estabelece é uma obrigação nova, que se substitui à obrigação preexisten-
te no todo ou em parte: a obrigação de reparar o prejuízo consequente à inexecução da
obrigação assumida.

capítulo 3 • 64
Essa verdade se afirmará com mais vigor se observamos que primeira obrigação (con-
tratual) tem origem na vontade comum das partes, ao passo que a obrigação que a
substitui por efeito da inexecução, isto é, a obrigação de reparar o prejuízo, advém, muito
ao contrário, contra a vontade do devedor: este não quis a obrigação nova, estabelecida
com a inexecução da obrigação que contratualmente consentira. Em suma: a obrigação
nascida do contrato é diferente da que nasce de sua inexecução.

Força maior

Se o evento for inevitável, ainda que previsível, por se tratar de fato superior às
forças do agente, com normalmente são os fatos da natureza, com as tempestades,
enchentes etc. Os ingleses o denominam de act of God. A inevitabilidade, por sua
vez, deve ser considerada dentro de certa relatividade, tendo-se o acontecimento
como inevitável em função do que seria razoável exigir-se, como, por exemplo,
enchentes, inundações.

A provas e seus aspectos práticos do Poder Judiciário

Considerando o foco de nosso trabalho, apresentamos uma exposição acerca


da implementação prática dos institutos da responsabilidade civil ao cotidiano dos
estudantes de direito.

O empoderamento endonormativo sumular

Vivemos uma época em que há o permissivo legislativo previsto na lei


13.105/2015 possibilita a criação ilimitada de entendimentos sumulares visando
a pseudo “celeridade processual”. O Poder Judiciário ainda que de forma “legal”,
“legisla” de forma atípica. Visando, entre outros, à obtenção da “celeridade da
prestação jurisdicional” por meio da criação dos enunciados de súmulas e sua
aplicabilidade. Leonardo Greco[12] pondera:

O método lusitano, por nós adotado, oriundo dos assentos da Casa de Suplicação, de
cristalização da jurisprudência em súmulas, que são enunciados sintéticos extremamen-
te redutores da complexidade fático-jurídica das causas que os originaram, acaba por
transformar os tribunais em verdadeiros legisladores, formuladores de teses jurídicas
abstratas que passam a ser aplicadas aos casos futuros, desprendidas dos casos con-
cretos e, muitas vezes, com eles inconciliáveis ou formuladas com bases em poucos
julgados ou em argumentos secundários.

capítulo 3 • 65
Por consequência temos o “emprego gerencial” das súmulas gerando um efei-
to nefasto. Com fins de se atingir metas estatísticas favoráveis junto ao CNJ, são
formuladas súmulas que atendam os ideais do “processismo” da improcedência
liminar do pedido e da súmula obstativa de recursos com fins de que por meio de
um único texto potencialize a improcedência e a obstação da demanda, limitando
(para não dizer impedindo) o acesso à justiça.

A meta 2 do CNJ e dados estatísticos das súmulas.

Com a criação do CNJ e o desenvolvimento de suas atividades, precisamen-


te em seu 2o encontro, datado de 16 de fevereiro de 2009, em Belo Horizonte
(MG) foi estabelecida a “Meta 2” na qual foi determinada aos tribunais brasileiros
10 metas que o Judiciário deveria atingir naquele ano para proporcionar maior
agilidade e eficiência à tramitação dos processos, melhorar a qualidade do serviço
jurisdicional prestado e ampliar o acesso do cidadão brasileiro à justiça. Dentre
estas metas temos a já citada “Meta 2”[13], que assim definiu:

Metas de Nivelamento 2009.


Confira as 10 metas nacionais de nivelamento que deveriam ser alcançadas pelo Judi-
ciário no ano de 2009:
(...)

2. Identificar os processos judiciais mais antigos e adotar medidas concretas para o


julgamento de todos os distribuídos até 31/12/2005 (em 1o, 2o grau ou tribunais supe-
riores). (...)

Como consequência, apresentamos alguns dados estatísticos do TJRJ e do


STJ que, logo após o início da vigência desta meta, apresenta uma produção su-
mular nos termos visualizados:

SÚMULAS DATA SÚMULAS


ANOS DE PUBLICAÇÃO ANOS MÉDIA
1976 1 – 27/4/1976 145
4,39
2009 145 – 20/7/2009 33

2009 145 – 20/7/2009 236


29,5
2017 381 – 16/10/2017 8

Tabela 3.1  –  Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro

capítulo 3 • 66
Uma singela leitura nos conduz ao raciocínio de que o TJRJ teve “empo-
deramento endonormativo” absurdo. Desde a sua primeira súmula (datada de
27/04/1976) até o início da vigência da meta 2 em 2009, ao longo de 33 anos
foram criadas 145 súmulas. Em uma divisão simples temos a média de 4,39 ao
ano. Já após o início da meta até a última súmula (381) datada de 16/10/2017,
temos 236 súmulas que em 8 anos aumento a média para 29,5 súmulas por ano
(datado de 16/10/2017):
Apenas para fins de mera apresentação, o TJRJ em 2017 editou, até o dia
16/10/2017 14 enunciados de súmulas, que, conforme quadro, gerou uma média
de 2 súmula / mês:

SÚMULAS DATA SÚMULAS


ANOS MÉDIA
DE PUBLICAÇÃO ANOS
367 – 20/3/2017 10
2017 2
381 – 16/10/2017 8

Tabela 3.2  –  Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro

No ano de 2017 (até o dia 11/12) temos um acréscimo de 14 súmulas, em


torno de 3 vezes mais do que em 33 anos. Considerando a média de 4,39 súmulas
por ano entre os anos de 1976 e 2009.
Acerca do tema o Doutrinador Klever Filpo[14], expõe:

Bater recordes é garantir direitos. Esse lema foi adotado pelo CNJ para uma campanha
publicitária veiculada há alguns anos, alusiva à Meta 2 instituída por esse conselho, (...).
Ele dá o tom acerca da produtividade hoje exigida dos funcionários do Poder Judiciário,
em todos os níveis. (...) Contudo, é provável que não sejam percebidos os efeitos deleté-
rios desse tipo de política de metas e seus impactos sobre o processo e sobre os atores
a quem compete operar o sistema de justiça em geral, e a mediação em particular.

Logo advogar, no Rio de Janeiro, é compreender e aplicar suas súmulas.


Apresentamos alguns enunciados de súmulas que representam tal afirmação:
a) Enunciado de súmula 75 do TJRJ[15]:

O simples descumprimento de dever legal ou contratual, por caracterizar mero aborreci-


mento, em princípio, não configura dano moral, salvo se da infração advém circunstância
que atenta contra a dignidade da parte. Julgamento em 22/11/2004 – Relator: Des.
Luiz Zveiter:

capítulo 3 • 67
b) Enunciado de súmula 343 do TJRJ[16]:

A verba indenizatória do dano moral somente será modificada se não atendidos pela
sentença os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade na fixação do valor
da condenação.
Julgamento em 14/9/2015 – Relator: Desembargadora Ana Maria Pereira de Oliveira.

c) Enunciado de súmula 350 do TJRJ[17]:

Nos contratos de promessa de compra e venda decorrentes de incorporação imobiliária,


é válida a cláusula de tolerância de prorrogação de 180 dias para a entrega do imóvel,
pactuada expressamente pelas partes.
Julgamento em 31/10/2016 – Relator: Desembargador Nagib Slaibi

d) Enunciado de súmula 373 do TJRJ[18]:

Para a configuração da responsabilidade por danos morais à pessoa jurídica, é impres-


cindível que a conduta do agente viole sua honra objetiva.

Apenas para não firmamos entendimentos exclusivos do TJRJ, colacionamos


a mesma ideia junto ao STJ (atualizado até o dia 11/12/2017):

SÚMULAS SÚMULAS
ANOS MÉDIA
DATA DE PUBLICAÇÃO MESES
1990 1 – 25/4/1990 386
20,31
2009 386 – 26/8/2009 19

2009 386 – 26/8/2009 214


26,75
2017 600 – 11/12/2017 8

Tabela 3.3  –  Para a configuração da responsabilidade por danos morais à pessoa jurídica, é
imprescindível que a conduta do agente viole sua honra objetiva.

E ainda que não tenhamos a impressionante estatística do TJRJ, temos no STJ


a média de 38 súmulas / ano no biênio 2016/2017. Logo temos a edição de mais
de um enunciado de súmula por mês. Para ser mais exato, 1,80.

capítulo 3 • 68
Superior Tribunal de Justiça

SÚMULAS SÚMULAS
ANOS DATA DE MÉDIA
MESES
PUBLICAÇÃO
2016 562 – 24/02/2016 38
1,80
2017 600 – 27/11/2017 21

Tabela 3.4  – 

Mecanismos “estimuladores” do CNJ

A Resolução CNJ no 106 de 6/4/2010[19] criou mecanismos objetivos para a


promoção por merecimento do Magistrados do 1o Grau ao 2o Grau de jurisdição.
Tal provimento administrativo aperfeiçoou a ideia de que o juiz deixa de ser la
bouche de la loi (a boca da lei – Montesquieu) e passa a ser la bouche de la cour (a
boca do tribunal).
Tal assertiva é constatada a partir do momento em que um dos cinco critérios
na avaliação do parâmetro de qualidade das decisões (entre os demais 6 existentes)
é o respeito às súmulas do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores.

Resolução CNJ no 106 de 06/04/2010[19]


Ementa: Dispõe sobre os critérios objetivos para aferição do merecimento para promo-
ção de magistrados e acesso aos Tribunais de 2o grau.
Art. 1o As promoções por merecimento de magistrados em 1o grau e o acesso para o 2o
grau serão realizadas em sessão pública, em votação nominal, aberta e fundamentada,
observadas as prescrições legais e as normas internas não conflitantes com esta reso-
lução, iniciando-se pelo magistrado votante mais antigo.
Art. 5o Na avaliação da qualidade das decisões proferidas serão levados em consideração:
(...)

e) o respeito às súmulas do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores.

Pelo que entendemos ser o respeito às súmulas mais do que um critério obje-
tivo de promoção do Estado Juiz, mas sim um parâmetro que deve ser apreciado
com a máxima atenção pelos advogados no seu atuar.

capítulo 3 • 69
Demandismo versus Processismo

Considerando a verdade real dos eventos que ocorrem em nossos tribunais,


faremos uma breve apresentação de um tema de extrema relevância na vida do
profissional do direito.

O sufixo “ismo”

Vamos a uma análise do sufixo “ismo”. Esta expressão vem do grego e indica
uma ideologia, um sistema a ser seguido, algo consolidado como regra ou, que
se acredita ser uma regra. Designa um conjunto de crenças ou doutrinas de um
determinado grupo, v.g.: escolar, religioso, filosófico, profissional, político e mu-
sical. Ex: iluminismo, feudalismo entre outros. Dando justificativa às expressões
demandismos e processismo, que significam ato de demandar em conflito com o
ato de se evitar o processo.

Demandismo

O sistema judicial brasileiro possibilita o seu acesso de diversas maneiras. Seja


o tradicional por meio de um patrono (advogado particular, defensor público,
núcleo de prática jurídica universitário), ou de forma “cidadã” (juizados especiais
cíveis com valor de causa se limitando a 20 salários mínimos, núcleo de atendi-
mento dos tribunais).
Considerando nosso tema, podemos conceituar que a expressão “demandis-
mo” é a manifestação volitiva do interessado na propositura efetiva de uma de-
manda, materializada por meio de um processo, sem que tenha qualquer possi-
bilidade técnica e jurídica de êxito. Eis que se esteia no acesso e não no emprego
do melhor conhecimento técnico dos institutos jurídicos, gerando uma demanda
irresponsável e transformando, em regra, o Poder Judiciário em verdadeiro balcão
de negócios, inflando a “máquina” com processos irrelevantes para todos.

Processismo

Objetivando seu legítimo acesso o Poder Judiciário, de forma atípica, legis-


la de forma endonormativa e cria mecanismos obstaculizadores ao seu sistema.

capítulo 3 • 70
Tais quais como regimentos internos, enunciados (de súmulas e administrativos),
avisos, provimentos, atos, resoluções etc. Em especial quanto aos enunciados
de súmulas.
Ao refletir sobre o tema, temos que o acesso constitucional à justiça é tolhido
por inúmeros mecanismos legais e normativos. Tais mecanismos variam desde a
legalidade da principal norma de ritos, a lei 13.105 de 2015 (Novo Código de
Processo Civil) até institutos endonormativos de todos os tribunais.
Entretanto, ainda que estes mecanismos sejam oriundos do Poder Judiciário, é
extremamente criticável, assim temos, Marcelo Pereira de Almeida[20] que reflete:

A implementação dos mecanismos que compõem esse modelo é justificado pela ne-
cessidade de se promover a efetivação das garantias constitucionais do processo, con-
sistentes na segurança jurídica, isonomia e celeridade processual, mas escondem um
modelo neoliberal de tutela jurídica embasado na eficiência e nas práticas de mercado,
como indicado no capítulo 2 desta investigação.
A doutrina que aplaude esse modelo o enxerga como o microssistema, que teria o po-
tencial de solucionar o problema do congestionamento dos processos e, assim, efetivar
as apontadas garantias do acesso à justiça.

Mas o que será das garantias constitucionais? A Constituição Federal garante a


não exclusão da apreciação do pelo Poder Judiciário de lesão ou ameaça a direito,
bem como a razoável duração do processo. Estes devidamente sedimentados como
direitos e garantias fundamentais (art. 5, incisos XXXV e LXXVIII). E são inabo-
líveis por expressa determinação constitucional (art. 60, §4, inciso IV). Da mesma
sorte, temos a lei 13.105 de 2015 com previsões idênticas nos seus artigos 3 e 4.

Mecanismos do processismo

O grande objetivo do “processismo” seria o de atingir as metas numéricas/


estatísticas propostas pelo CNJ. Com fins de apresentar um falso retrato do “aces-
so ao Judiciário”. Tais mecanismos deveriam ser debatidos pela sociedade e não
impostos, pois o Poder Judiciário carece de legitimidade legislativa.
Leonardo Greco[21] prenuncia:

capítulo 3 • 71
5.1.3. Uma das mais graves deformações da justiça civil contemporânea em países da
chamada civil law é a tendência incontrolável à hipertrofia da jurisprudência dos tribunais
superiores, à sua imposição autoritária aos juízos e tribunais inferiores e à criação de obs-
táculos quase intransponíveis à sua superação: súmulas vinculantes, súmulas impeditivas
de recursos, sentença liminar de improcedência.

Considerando o tema central, apresentamos alguns mecanismos pelo qual o


“processismo” é operacionalizado. Iniciaremos pela lei 13.105 de 2015 – NCPC.
Já “o empoderamento endonormativo” é materializado pelos enunciados de
súmulas, jurisprudências e atos administrativos.

Mecanismo legal – lei 13.105/2015

A lei 13.105 de 2015, Código de Processo Civil, contribui de forma sistemá-


tica para o “processismo”. Os institutos positivados que mais se destacam são a
sentença de improcedência liminar do pedido (art. 332) e a súmula obstativa de
recursos que passamos a tratar (art. 932).

Sentença de improcedência liminar do pedido (art. 332)

A denominada sentença liminar de improcedência passou a fazer parte do


sistema processual brasileiro por intermédio da lei no 11.277/06, responsável pela
introdução do artigo 285-A ao Código de Processo Civil” (da lei 5.869/1973).
Com o advento da já citada lei 13.105/2015[22], o sistema se manteve, po-
rém positivado no art. 332, considerando o objeto de nosso estudo, precisamente
no seu inciso IV:

Capítulo III – Da Improcedência Liminar do Pedido


Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da
citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar:

IV. enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.

Destacamos que este instituto finalizará a demanda com julgamento do mé-


rito, de forma liminar, na forma do art. 241. Caso o recurso de apelação não seja
interposto conforme os artigos 219, 724, 1009, 1003 §5o e 1010, todos da lei
13.105 de 2015[23], que resultam em um prazo de 15 dias úteis após a intimação

capítulo 3 • 72
da sentença. Caso ocorra a apelação, o Estado Juiz deve se manifestar em 5 dias,
retratando-se ou não. Caso ocorra este último, haverá o prosseguimento do feito
com a intimação do réu para manifestar-se em sede de contrarrazões no prazo de
15 dias.

Art. 332. (...)


§ 2o Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença,
nos termos do art. 241.
§ 3o Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias.
§ 4o Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do processo, com a ci-
tação do réu, e, se não houver retratação, determinará a citação do réu para apresentar
contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias.

A alegada celeridade processual alcança um dos seus pontos máximos com este
instituto, pois empodera o Magistrado em prolatar uma sentença, sem o devido
contraditório, que firmaria a sua livre e real convicção. Bastando para isso, singe-
lamente, se valer de enunciados e acórdãos dos tribunais (regionais ou superiores).
Atentando-se que no caso do PJERJ, figura 1, que houve uma construção sumular
em progressão quase geométrica com fins de orientar e dar subsídios aos magistra-
dos de piso para atingir o objetivo de atingir “a razoável duração do processo”, por
meio deste meio artificial que acelera a tramitação da demanda, porém colide com
o ideário da justiça participativa.
O Doutrinador Marcelo Pereira de Almeida[24] assim crítica:

O desejo de resultados funcionais, almejados pelo movimento reformista, que se re-


vela de forma muito clara no teor da norma em exame, macula a efetividade normati-
va do sistema, da qual o contraditório de caráter participativo representa sua principal
manifestação.
Infere-se que o principal objetivo do legislador ao implementar essa regra é prestigiar a
celeridade processual e a pseudossegurança jurídica, no intuito de fortalecer a eficiên-
cia da atividade jurisdicional, mas que, na verdade, visa consolidar os anseios da política
neoliberal, conforme apontado no capítulo 2.

Não devemos confundir este instituto com o positivado no art. 321, pois este
possibilita a emenda à petição inicial e ainda que a emenda não esteja a conten-
to, o seu indeferimento será sem o julgamento do mérito, possibilitando a sua
nova propositura.

capítulo 3 • 73
Entendimento obstativo de recursos (art. 932)

Ultrapassado o devido processo legal com a ampla defesa e o contraditório em


sede de primeiro grau, a sentença decide inicialmente o curso do processo. Após
eventuais embargos de declaração (art. 1.022 e seguintes da lei 13.105/2015[25])
é cabível o recurso de apelação, que desde a sua propositura é passivo de sofrer obs-
taculização da apreciação dos seus argumentos. Iniciando no art. 1.011, inciso I:

Art. 1.011. Recebido o recurso de apelação no tribunal e distribuído imediatamente,


o relator:

I. decidi-lo-á monocraticamente apenas nas hipóteses do art. 932, incisos III a V;

Dentre os incisos do art. 932, destacamos o inciso IV, principal objeto de nos-
so estudo. Mas antes é de bom alvitre expor que o art. 932 da lei 13.105/2015[26]
teve sua gênese na lei 11.276/2006[27] que alterou e integrou à lei 5.869/1973[28]
o art. 518, assim redigido:

Lei no 11.276, de 7 de fevereiro de 2006.


Art. 518. (...)
§ 1o O juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver em confor-
midade com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal.
§ 2o Apresentada a resposta, é facultado ao juiz, em cinco dias, o reexame dos pressu-
postos de admissibilidade do recurso.

Marcelo Pereira de Almeida[29] afirma o seguinte: “Com a potencialidade do


uso do recurso de apelação para tentar conduzir a matéria à apreciação do tribunal,
a proposta de otimização processual impregnada nessa norma poderia se frustrar”.
Por este motivo, o legislador, praticamente no mesmo momento, criou um
dispositivo destinado a obstar a tramitação do recurso de apelação, ainda na pri-
meira instância, por intermédio da lei no 11.276/06, que introduziu no artigo
518 do Código de Processo Civil, o §1o, tratando do que se convencionou deno-
minar e súmula impeditiva ou obstativa de recurso”. Esse parágrafo prevê que o
juiz prolator da sentença não receberá o recurso de apelação se esta for fundamen-
tada em súmula do STJ ou STF. Tal previsão da lei 5.869/1973 manteve esta ideia
no art. 932, inciso IV[30]:

capítulo 3 • 74
Art. 932. Incumbe ao relator: (...)

IV. negar provimento a recurso que for contrário a:


a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio
tribunal;

O “entendimento obstativo de recursos” possibilita que o julgador recursal


tenha a “incumbência” de negar o provimento do recurso que colidir com tese
pacificada dos tribunais (local e superior) materializada pelas suas súmulas.
Merece destaque a expressão “incumbência”, que significa “tarefa, encargo,
obrigação”, logo o julgador recursal, de forma monocrática tem a obrigação, e
não mera possibilidade de julgar improcedente o recurso que assim confrontar o
entendimento sumular seja do tribunal local, seja superior.
Como se já não bastasse a expressa previsão positivada oriunda do Poder
Legislativo, posto que este, ainda que sob severas críticas, tem legitimidade para
legislar de forma típica, o STJ publicou o enunciado de súmula 568[31]:

Súmula STJ no 568 – O relator, monocraticamente e no Superior Tribunal de Justiça,


poderá dar ou negar provimento ao recurso quando houver entendimento dominante
acerca do tema. (Publicada em 17/3/2016)

Logo, temos uma súmula que autoriza a aplicação de outras súmulas, e


com base nelas mesmas de negar (monocraticamente) o provimento recursal.
Contrariando a Colegialidade que era (e devia assim permanecer) a regra opera-
cional dos julgamentos em sede recursal.

Entendimentos

Considerando todo o estudo, iremos consolidar (por exemplificação) o mes-


mo com entendimentos que muitas vezes fogem ao nosso cotidiano forense. Mas
que são vitais para a sua aplicabilidade. Considerando que consubstanciam-se na
prática dos tribunais pátrios.

capítulo 3 • 75
Enunciados administrativos do STJ[32]

Enunciados aprovados pelo Plenário do STJ na Sessão de 2 de março de 2016.


Enunciado administrativo STJ no 1:
O Plenário do STJ, em sessão administrativa em que se interpretou o art. 1.045 do novo
Código de Processo Civil, decidiu, por unanimidade, que o Código de Processo Civil
aprovado pela lei no 13.105/2015, entrará em vigor no dia 18 de março de 2016.

Enunciados aprovados pelo Plenário do STJ na Sessão de 9 de março de 2016.


Enunciado administrativo STJ no 1:
O Plenário do STJ, em sessão administrativa em que se interpretou o art. 1.045 do novo
Código de Processo Civil, decidiu, por unanimidade, que o Código de Processo Civil
aprovado pela lei n. 13.105/2015, entrará em vigor no dia 18 de março de 2016.
Enunciado administrativo do STJ no 2:
Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publi-
cadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade
na forma nele prevista, com as interpretações dadas, até então, pela jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça.
Enunciado administrativo do STJ no 3:
Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publica-
das a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade
recursal na forma do novo CPC
Enunciado administrativo do STJ no 4:
Nos feitos de competência civil originária e recursal do STJ, os atos processuais que
vierem a ser praticados por julgadores, partes, Ministério Público, procuradores, serven-
tuários e auxiliares da Justiça a partir de 18 de março de 2016, deverão observar os
novos procedimentos trazidos pelo CPC/2015, sem prejuízo do disposto em legislação
processual especial.
Enunciado administrativo do STJ no 5:
Nos recursos tempestivos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a deci-
sões publicadas até 17 de março de 2016), não caberá a abertura de prazo prevista no
art. 932, parágrafo único, c/c o art. 1.029, § 3o, do novo CPC.
Enunciado administrativo STJ do no 6:
Nos recursos tempestivos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a de-
cisões publicadas a partir de 18 de março de 2016), somente será concedido o prazo
previsto no art. 932, parágrafo único, c/c o art. 1.029, § 3o, do novo CPC para que a
parte sane vício estritamente formal.
Enunciado administrativo STJ do no 7:
Somente nos recursos interpostos contra decisão publicada a partir de 18 de março de
2016, será possível o arbitramento de honorários sucumbenciais recursais, na forma do
art. 85, § 11, do novo CPC.

capítulo 3 • 76
Enunciados da Jornada de Direito Civil do Centro de Estudos da
Justiça Federal[33]

Enunciado do CJF no 173


A formação dos contratos realizados entre pessoas ausentes, por meio eletrônico, com-
pleta-se com a recepção da aceitação pelo proponente.
Enunciado do CJF no 363
Os princípios da probidade e da confiança são de ordem pública, sendo obrigação da
parte lesada apenas demonstrar a existência da violação.
Enunciado do CJF no 368
O prazo para anular venda de ascendente para descendente é decadencial de dois anos
(art. 179 do Código Civil).
Enunciado do CJF no 443
Arts. 393 e 927. O caso fortuito e a força maior somente serão considerados como
excludentes da responsabilidade civil quando o fato gerador do dano não for conexo à
atividade desenvolvida.
Enunciado do CJF no 459
Art. 945. A conduta da vítima pode ser fator atenuante do nexo de causalidade na res-
ponsabilidade civil objetiva.

Enunciados do fórum permanente de processualistas civis[34]

Enunciado do FPPC no 11
Arts. 116 e 124. O litisconsorte unitário, integrado ao processo a partir da fase ins-
trutória, tem direito de especificar, pedir e produzir provas, sem prejuízo daquelas já
produzidas, sobre as quais o interveniente tem o ônus de se manifestar na primeira
oportunidade em que falar no processo.
Enunciado do FPPC no 22
Art. 218, § 4o; art. 1.003. O tribunal não poderá julgar extemporâneo ou intempestivo re-
curso, na instância ordinária ou na extraordinária, interposto antes da abertura do prazo.
Enunciado do FPPC no 50
Art. 369; art. 370, caput. Os destinatários da prova são aqueles que dela poderão fazer
uso, sejam juízes, partes ou demais interessados, não sendo a única função influir efi-
cazmente na convicção do juiz.

capítulo 3 • 77
Enunciado do FPPC no 51
Art. 378; art. 379. A compatibilização do disposto nestes dispositivos com o art. 5o, LXIII,
da CF/1988, assegura à parte, exclusivamente, o direito de não produzir prova contra si
em razão de reflexos no ambiente penal.
Enunciado do FPPC no 52
Art. 372. Para a utilização da prova emprestada, faz-se necessária a observância do con-
traditório no processo de origem, assim como no processo de destino, considerando-se
que, neste último, a prova mantenha a sua natureza originária.
Enunciado do FPPC no 107
Arts. 7o, 139, I, 218, 437, §2o. O juiz pode, de ofício, dilatar o prazo para a parte se ma-
nifestar sobre a prova documental produzida.
Enunciado do FPPC no 297
Art. 355. O juiz que promove julgamento antecipado do mérito por desnecessidade de
outras provas não pode proferir sentença de improcedência por insuficiência de provas.
Enunciado do FPPC no 301.
Art. 369. Aplicam-se ao processo civil, por analogia, as exceções previstas nos §§1o e 2o
do art. 157 do Código de Processo Penal, afastando a ilicitude da prova.
Enunciado do FPPC no 340
Art. 972. Observadas as regras de distribuição, o relator pode delegar a colheita de
provas para juízo distinto do que proferiu a decisão rescindenda.
Enunciado do FPPC no 366
Art. 1047. O protesto genérico por provas, realizado na petição inicial ou na contestação
ofertada antes da vigência do CPC, não implica requerimento de prova para fins do art.
1047.
Enunciado do FPPC no 514
Art. 370. O juiz não poderá revogar a decisão que determinou a produção de prova de
ofício sem que consulte as partes a respeito.
Enunciado do FPPC no 516
Art. 371; art. 369; art. 489, §1o. Para que se considere fundamentada a decisão sobre
os fatos, o juiz deverá analisar todas as provas capazes, em tese, de infirmar a conclu-
são adotada.
Enunciado do FPPC no 517
Art. 375; art. 489, §1o. A decisão judicial que empregar regras de experiência comum,
sem indicar os motivos pelos quais a conclusão adotada decorre daquilo que ordinaria-
mente acontece, considera-se não fundamentada.
Enunciado do FPPC no 518
Art. 396. Em caso de exibição de documento ou coisa em caráter antecedente, a fim de
que seja autorizada a produção, tem a parte autora o ônus de adiantar os gastos neces-
sários, salvo hipóteses em que o custeio incumbir ao réu.
Enunciado do FPPC no 632.

capítulo 3 • 78
Arts. 373, §1o e 10. A redistribuição de ofício do ônus de prova deve ser precedida
de contraditório.
Enunciado do FPPC no 656
Art. 966, VII. A expressão “prova nova” do inciso VII do art. 966 do CPC/2015 engloba
todas as provas típicas e atípicas.

Enunciados da I Jornada de Direito Processual Civil do Centro de


Estudos da Justiça Federal[35]

Enunciado Processual Civil do CJF no 1. A verificação da violação à boa-fé objetiva


dispensa a comprovação do animus do sujeito processual.
Enunciado Processual Civil do CJF no 2. As disposições do CPC aplicam-se supletiva
e subsidiariamente às leis no 9.099/1995, 10.259/2001 e 12.153/2009, desde que
não sejam incompatíveis com as regras e princípios dessas Leis.
Enunciado Processual Civil do CJF no 19. O prazo em dias úteis previsto no art. 219
do CPC aplica-se também aos procedimentos regidos pelas leis no 9.099/1995,
10.259/2001 e 12.153/2009.
Enunciado Processual Civil do CJF no 22. Em causas que dispensem a fase instrutória,
é possível o julgamento de improcedência liminar do pedido que contrariar decisão do
Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade ou enun-
ciado de súmula vinculante.
Enunciado Processual Civil do CJF no 30. É admissível a prova emprestada, ainda que
não haja identidade de partes, nos termos do art. 372 do CPC.

O nexo causal na prática jurídica

Estudados os temas que envolvem o nexo causal, vamos à sua análise junto à
principal lei de ritos, a lei 13.105 de 2015. Posto que existem outras normas de
ordem processual específica como a lei 8.078 e 1990, art. 6, VIII entre outros.
Desde a confecção da petição inicial o profissional do direito deverá abordar,
considerando o nexo causal, em que as provas deverão ser destacadas a diver-
sos títulos. Seja pela sua indicação, relevância, qualificação e eventual produção
(ex: perícia), como determina o art. 319, VI do CPC[36]:

capítulo 3 • 79
Lei 13.105 de 2015 – NCPC
Art. 319. A petição inicial indicará: (...)
VI. as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;

Seja pela juntada física/eletrônica. Eis que são documentos indispensáveis à


sua propositura, como prevê o art. 320 do CPC[37]:

Lei 13.105 de 2015:


Art. 320. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à proposi-
tura da ação.

Caso contrário, existe a possibilidade de o Estado Juiz determinar o seu retor-


no ao advogado peticionante, na forma do art. 321 do CPC[38].

Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts.
319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julga-
mento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a
complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado.
Parágrafo único. (...)

Caso contrário, haverá o seu indeferimento. E ainda que assim o seja, poderá o
peticionante propor a mesma. Pois no indeferimento o sem resolução do mérito o
Patrono poderá distribuir a demanda, obviamente com as devidas alterações. Tudo
em consonância com os artigos 321, 485 e 486 do CPC[39]:

Art. 321. (...)


Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:

I. indeferir a petição inicial;


Art. 486. O pronunciamento judicial que não resolve o mérito não obsta a que a parte
proponha de novo a ação.

capítulo 3 • 80
No contexto da sua produção, as provas encontram positivação no art.
369[40] do CPC:
Capítulo XII – Das provas

Seção I – Disposições gerais


Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os
moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verda-
de dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção
do juiz.
O capítulo XII da lei 13.105 de 2015[41] que regulamenta as provas é assim particionado:
Seção II – Da Produção Antecipada da Prova (arts. 381 a 383)
Seção III – Da Ata Notarial (art. 384)
Seção IV – Do Depoimento Pessoal (arts. 385 a 388)
Seção V – Da Confissão (arts. 389 a 395)
Seção VI – Da Exibição de Documento ou Coisa (arts. 396 a 404)
Seção VII – Da Prova Documental (arts. 405 a 438)
Seção VIII – Dos Documentos Eletrônicos (arts. 439 a 441)
Seção IX – Da Prova Testemunhal (arts. 442 a 463)
Seção X – Da Prova Pericial (arts. 464 a 480)
Seção XI – Da Inspeção Judicial (arts. 481 a 484)

Temos em sede de considerações finais que as provas (nexo causal) são de alta
relevância para a “felicidade” no processo. Com o julgamento procedente, em se
tratando do autor. Mas que pode ser igualmente julgada improcedente caso ocor-
ra uma obstaculização pelo réu que emprega os meios legítimos e idôneos. Tudo
dentro da boa-fé processual que devem pautar as condutas dos seus participantes.

ATIVIDADES
JOAQUIM AMARAL DE SOUZA (JOAQUIM) ajuizou ação de reparação por danos
morais e materiais contra GUSA NORDESTE S.A. (SIDERÚRGICA), julgada parcialmente
procedente para condenar a demandada ao pagamento de determinada quantia a título de
danos morais em favor do autor e do valor do imóvel, a título de danos materiais, quantia
essa a ser apurada em liquidação por artigos, nos termos do art. 475-E do CPC/73); e, (3)
de honorários advocatícios fixados em 12% sobre o valor da condenação. Destaca-se que
o recurso especial em questão foi proposto antes de 17 de março de 2017. Sendo assim,
questiona-se:

01. Qual a lei processual aplicável ao caso?

capítulo 3 • 81
02. Existe algum entendimento sumulado pelo STJ no tocante às datas de publicação to-
mando por base o dia 17 de março de 2016?

03. Caso o STJ tenha que avaliar o caso analisando as provas já discutidas no Tribunal Esta-
dual, existe algum posicionamento já consolidado por este tribunal superior?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto–lei/Del2848.htm>. Acesso em: 31
de agosto de 2017.
[2] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso
em: 31 de agosto de 2017.
[3] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015–2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 31 de agosto de 2017.
[4] SILVA, Roberto de Abreu. A Falta Contra a Legalidade Constitucional. 2. ed., Editora Lumen
Jures, 2002, p. 162, 163.
[5] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso
em: 31 de agosto de 2017.
[6] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 31 de agosto
de 2017.
[7] CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 8. ed., Editora Atlas, 2008, p.
64 e 65.
[8] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso
em: 31 de agosto de 2017.
[9] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 31 de agosto
de 2017.
[10] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>.
Acesso em: 31 de agosto de 2017. apud Cavalieri Filho, 2008, p. 278.
[11] GRECO, Leonardo. Novas Perspectivas da Efetividade e do Garantismo Processual. In: MITIDIERO,
[12] Daniel; AMARAL, Guilherme Rizzo. Processo Civil: Estudos em homenagem ao Professor Doutor
[13] Carlos Alberto Alvaro de Oliveira. São Paulo: Atlas. 2012. p. 144.
[14] Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/gestao-e-planejamento/metas/metas-de-exercicios-
anteriores/metas-2009>. Acesso em: 31 de agosto de 2017.
[15] FILPO, Klever Paulo Leal. Mediação Judicial: discursos e práticas. Rio de Janeiro: Mauad X
FAPERJ, 2016. p. 166.

capítulo 3 • 82
[16] Disponível em: <http://portaltj.tjrj.jus.br/documents/10136/18187/sumulas.pdf?=10>. Acesso
em: 31 de agosto de 2017.
[17] Disponível em: <http://portaltj.tjrj.jus.br/documents/10136/18187/sumulas.pdf?=10>. Acesso
em: 31 de agosto de 2017.
[18] Disponível em: <http://portaltj.tjrj.jus.br/documents/10136/18187/sumulas.pdf?=10>. Acesso
em: 31 de agosto de 2017.
[19] Disponível em: <http://portaltj.tjrj.jus.br/documents/10136/18187/sumulas.pdf?=10>. Acesso
em: 31 de agosto de 2017.
[20] Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/images/stories/docs_cnj/resolucao/rescnj_106.pdf>.
Acesso em: 31 de agosto de 2017.
[21] ALMEIDA, Marcelo Pereira de. Precedentes Judiciais – Análise Crítica dos Métodos
Empregados do Brasil para a Solução de Demandas de Massa. 1. ed, Curitiba, Ed. Juruá, 2014. p. 143.
[22] GRECO, Leonardo. Novas Perspectivas da Efetividade e do Garantismo Processual. In: MITIDIERO,
[23] Daniel; AMARAL, Guilherme Rizzo. Processo Civil: Estudos em homenagem ao Professor Doutor
[24] Carlos Alberto Alvaro de Oliveira. São Paulo: Atlas. 2012. p. 14.
[25] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 1 de setembro de 2017.
[26] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 1 de setembro de 2017.
[27] ALMEIDA, Marcelo Pereira de. Precedentes Judiciais – Análise Crítica dos Métodos
Empregados do Brasil para a Solução de Demandas de Massa 1. ed, Curitiba, Ed. Juruá, 2014. p. 144.
[28] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm.
Acesso em: 1 de setembro de 2017.
[29] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 1 de setembro de 2017.
[30] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11276.htm>.
Acesso em: 1 de setembro de 2017.
[31] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869.htm>. Acesso em: 1 de
setembro de 2017.
[32] ALMEIDA, Marcelo Pereira de. Precedentes Judiciais – Análise Crítica dos Métodos
Empregados do Brasil para a Solução de Demandas de Massa. 1. ed, Curitiba, Ed. Juruá, 2014. p. 145.
[33] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 1 de setembro de 2017.
[34] Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=@num=%27568%27>.
Acesso em: 1 de setembro de 2017.

capítulo 3 • 83
[35] Disponível em: <http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Institucional/Enunciados-
administrativos>. Acesso em: 1 de setembro de 2017.
[36] Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/cjf/CEJ-Coedi/jornadas-cej/
compilacaoenunciadosaprovados134jornadadircivilnum.pdf/view>. Acesso em: 2 de setembro de
2017.
[37] Disponível em: <http://www.cpcnovo.com.br/wp-content/uploads/2017/05/FPPC-Carta-de-
Florianopolis.pdf?inf_contact_key=d7cef03802afe2c25acb93ce56a44e47>. Acesso em: 2 de
setembro de 2017.
[38] Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/cjf/noticias/2017/setembro/cej-divulga-enunciados-da-i-
jornada-de-direito-processual-civil>. Acesso em 3: de setembro de 2017.
[39] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 3 de setembro de 2017.
[40] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em 3 de setembro de 2017.
[41] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 3 de setembro de 2017.
[42] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 3 de setembro de 2017.
[43] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 3 de setembro de 2017.
[44] Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>.
Acesso em: 3 de setembro de 2017.
[45] Disponível em: < https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/
documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1575071&num_
registro=201502841694&data=20170309&formato=PDF>. Acesso em: 3 de setembro de 2017.
[46] Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/
documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=68902838&num_
registro=201502841694&data=20170309&tipo=91&formato=PDF>. Acesso em: 3 de setembro
de 2017.

capítulo 3 • 84
4
O dano
O dano
O dano é a consequência da ação ou omissão voluntária, seja por negligencia
ou imprudência pelo ato ilícito da pessoa (natural ou jurídica). Que em sendo de-
vidamente provado (com o estabelecimento do nexo de causalidade) gera direito
subjetivo da vítima de buscar a tutela satisfativa de “indenização” junto ao Poder
Judiciário. Seja no plano material, moral ou qualquer violação do direito pela ga-
rantia da inviolabilidade Constitucional. Danos esses de natureza típica (legislada)
ou atípica (construída pelas demais fontes do direito)

OBJETIVOS
•  Conceituar dano;
•  Apresentar os danos típicos e atípicos;
•  Estudar os tipos de danos existentes no ordenamento jurídico pátrio;
•  Correlacionar o dano à prática jurídica;

O dano – conceito

No plano constitucional temos o art. 5, nos incisos V e X[1] como suas fun-
damentações iniciais:

Art. 5o. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por
dano material, moral ou à imagem;
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, asse-
gurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

Já de maneira infraconstitucional a lei 10.406 de 2002 tem um capítulo com dez


artigos exclusivamente dedicados ao tema. A principal fundamentação e o art. 944[2]:

Capítulo II – Da indenização
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

capítulo 4 • 86
A correlação entre a indenização e a extensão do dano é a de que a “indeniza-
ção” não deve servir como forma de alteração do status social das partes envolvidas
na lide. O hipossuficiente não ficará rico e o hipersuficiente não ficará pobre. E o
valor indenizatório imposta ao devedor não poderá ser de de tal forma que altere
a sua vida social normal.
Segundo Fabrício Zamprogna Matiello[3], temos:

2. A orientação básica da responsabilidade civil no direito pátrio é esta. Todo aquele


que culposamente causar danos à terceiro fica obrigado a repará-los. Em algumas si-
tuações, nem mesmo a culpa é elemento necessário, pois o ordenamento dá ensanchas
à responsabilização objetiva do agente do dano. Entrementes, seja qual for o modo de
apuração do dever de indenizar este poderá servir de fonte de enriquecimento ilídimo ou
de locupletamento indevido do lesado em detrimento de quem está obrigado a reparar.
Em razão disso é que a indenização mede-se pela extensão do dano, não o superando
economicamente em hipótese alguma, e apenas como exceção ficando aquém de seus
limites. Como regra geral, portanto, o dever impingido ao agente do dano consiste em
repará-lo na exata medida de sua expressão econômica.

Mas, ainda que a indenização tenha como principal papel o de reparar o dano
imposto, casuisticamente, em especial em condutas repetitivas/reiteradas, pode-se
ter a indenização financeira objetivando a punição didática e pedagógica. Como
prevê o enunciado 379 do CJF[4]:

Enunciado Civil do CJF no 379


O art. 944, caput, do Código Civil não afasta a possibilidade de se reconhecer a função
punitiva ou pedagógica da responsabilidade civil.

Estende-se a indenização à todas as possibilidades de um lesado. Seja indivi-


dual, difuso ou coletivo, os termos do enunciado 456 do CJF[5]:

Enunciado Civil do CJF no 456


Art. 944. A expressão “dano” no art. 944 abrange não só os danos individuais, materiais
ou imateriais, mas também os danos sociais, difusos, coletivos e individuais homogê-
neos a serem reclamados pelos legitimados para propor ações coletivas.

Assim como temos a indenização esta pode ser reduzida em caráter de excep-
cionalidade. Quando há grandes danos impostos e baixo grau de responsabilidade
do seu autor. Nestes termos, preconiza o parágrafo único do art. 944 do CC[6]:

capítulo 4 • 87
Art. 944. (...)
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa
e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.
Destacamos que tal redução encontra amparo apenas na excepcionalidade,
como entende o o enunciado 457 do CJF[7]:

Enunciado Civil do CJF no 457


Art. 944. A redução equitativa da indenização tem caráter excepcional e somente será
realizada quando a amplitude do dano extrapolar os efeitos razoavelmente imputáveis à
conduta do agente.

Se o dano imposto gerar resultado pelo qual o ofendido não mais possa exercer
sua atividade laborativa (incluindo a “do lar”), o valor terá incluso a indenização
de per se bem como os danos impostos pela inabilitação. Em que a vítima poderá
exigir o imediato e total valor da indenização pago em uma única parcela. Assim
preconiza o art. 950 do CC[8] sendo ratificado pelo enunciado 381 do CJF[9].

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu
ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das
despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pen-
são correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação
que ele sofreu.
Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitra-
da e paga de uma só vez.

Enunciado Civil do CJF no 381


O lesado pode exigir que a indenização sob a forma de pensionamento seja arbitrada
e paga de uma só vez, salvo impossibilidade econômica do devedor, caso em que o juiz
poderá fixar outra forma de pagamento, atendendo à condição financeira do ofensor e
aos benefícios resultantes do pagamento antecipado.

Nesta especificidade, o STJ[10] sumulou que:

Súmula STJ no 313:


Em ação de indenização, procedente o pedido, é necessária a constituição de capital ou
caução fidejussória para a garantia de pagamento da pensão, independentemente da
situação financeira do demandado.

Se a demanda for proposta em sede de “juizado” (Juizado Especial Cível), com


rito diferenciado ditado pela lei 9.099 de 1995, com limitador de valor de causa
em 40 salários mínimos, com a possibilidade de qualquer do povo demandar (com

capítulo 4 • 88
limitação de 20 salários mínimos) temos, considerando uma especificidade do
TJRJ trazida pelo Aviso TJRJ 23 de 2008[11], apresentar pedido exclusivamente
pela lesão extrapatrimonial (danos morais):

Enunciado no 14.4.1 – Indenização


É possível, em sede de juizados especiais cíveis, apresentar pedido de indenização ex-
clusivamente por dano moral, devendo sua concessão ser graduada, considerando-se
o princípio da razoabilidade e a extensão do dano, independente de o réu ser pessoa
física ou jurídica.

Já em sede recursal, independente do rito (comum ou juizado) temos que a


alteração somente ocorrerá se houver uma dissociação entre os princípios da pro-
porcionalidade e razoabilidade, devidamente sumulado pelo TJRJ[12]:

Súmula TJ no 343:
A verba indenizatória do dano moral somente será modificada se não atendidos pela
sentença os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade na fixação do valor da
condenação.

Tratando de fase de execução, temos a recente Jornada de Direito Processual


Civil (1a), promovida pelo centro de Estudos da Justiça Federal que entende um
diferencial no tramite da suspensão condicional do processo:

Enunciado Processual Civil do CJF no 87[13]:


O acordo de reparação de danos feito durante a suspensão condicional do processo,
desde que devidamente homologado por sentença, é título executivo judicial.

Por fim, neste item, temos mais uma especificidade trazida pela Escola
da Magistratura do Rio de Janeiro – EMERJ – pelo Ato EMERJ no SN1, de
25/11/2003[14]:

Enunciado no 12 – Na quantificação da indenização por danos morais, devem ser con-


sideradas a gravidade da conduta da lesão, a intensidade da falta (ou culpa do agente)
e as circunstâncias de fato, no arbitramento da indenização (art. 944, parágrafo único
e 945, do NCC).

Feitas estas considerações acerca do significado e qualificação do “dano”, va-


mos abordar suas formas típicas e atípicas.

capítulo 4 • 89
Danos típicos

São aqueles oriundos do legislador pátrio com função típica para isso nos
termos do art. 59 da CRFB/1988. Convêm informar que o Poder Executivo tam-
bém legisla, de forma atípica híbrida, eis que tal legislatura se faz em sede de
operacionalização/execução de leis tipicamente criadas. Assim preconiza o art. 87
da CRFB/1988[15]:

Art. 87. Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores de vinte e
um anos e no exercício dos direitos políticos.
Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de outras atribuições estabele-
cidas nesta Constituição e na lei:

II. expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos;

Como é o caso do Decreto 6.523 de 2008[16] (Regulamenta em linhas o SAC


– Serviço de Atendimento ao Consumidor, por telefone, no âmbito dos serviços
públicos federais) que traz uma especificidade da lei 8.078 de 1990.
Analisaremos o seu conteúdo nos termos a seguir.

Do Dano material (ou patrimonial)

É a lesão ao patrimônio material da pessoa. Facilmente configurável por meio


do dano à “coisa”, modificando a qualidade e a realidade e, por consectário, a va-
loração do patrimônio material da pessoa.
O “bem” objeto do dano material, segundo a lei 10.406 de 2002[17], é apre-
sentado da seguinte forma, adotando a tipificação à partir do artigo 79 e seguintes:

Livro II – Dos bens


Título Único – Das Diferentes Classes de Bens
Seção I – Dos Bens Imóveis – arts. 79 a 81
Seção II – Dos Bens Móveis – arts. 82 ao 84

À pouca tinta, os bens são imóveis “de raiz”, por não serem transportáveis
sem a alteração de sua natureza. Ex.: apartamento, terreno, prédio, casa. Os bens
imóveis por acessão intelectual são mantidos no imóvel para a sua comodidade e
exploração, como exemplo, uma árvore frutífera com intuito empresarial.

capítulo 4 • 90
Em sede de bens móveis são aqueles cuja mobilidade não altera a sua natureza
e, por consequência, o seu valor econômico. Semoventes (animais) e móveis de per
se (veículo, aparelho celular etc.).
Como leciona Maria Helena Diniz[18], ao conceituar dano material:

CONCEITO
Para se definir o dano patrimonial ter-se-á que partir do conceito de patrimônio, visto que
o termo “dano patrimonial” vincula a noção de lesão ao conceito de patrimônio. O patrimô-
nio é uma universalidade jurídica constituída pelo conjunto de bens de uma pessoa, sendo
portanto, um dos atributos da personalidade e como tal intangível, ou melhor, como pondera
Fischer, patrimônio é a totalidade dos bens economicamente úteis que se encontram dentro
do poder de disposição de uma pessoa.

Os danos materiais e morais são acumuláveis, desde que oriundos do mesmo


fato. É o que preconiza a súmula 37 do TJRJ[19]:

Súmula TJ no 37
São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo
fato.

No que diz respeito diretamente ao nosso tema, suas previsões legais estão na
lei 10.406/2002[20]– Art. 402 e 403, a seguir colacionados:

Capítulo III – Das perdas e dos danos


Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e os danos de-
vidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente
deixou de lucrar.
Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só in-
cluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem
prejuízo do disposto na lei processual.

Estudaremos a sua divisão em dano emergente (art. 402) e o lucro cessante


(art. 403).

capítulo 4 • 91
Dano emergente (ou dano eventual ou dano positivo)

Perda e/ou lucro daquilo que deixou de receber. Gerando despatrimonializa-


ção. Seja pela perda do ativo, seja pelo aumento do passivo.
Incluirá, também, tudo aquilo que a vítima despendeu com vistas a evitar a
lesão ou o seu agravamento, bem como outras eventuais despesas relacionadas ao
dano sofrido, conforme o art. 402 do CC[21].

Capítulo III – Das Perdas e dos Danos


Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e os danos de-
vidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente
deixou de lucrar.

Estamos em um campo que não comporta flexibilização na valoração do


patrimônio ofendido, pois o patrimônio é mensurável. Existe certeza absoluta.
Facilmente avaliável considerando as características do caso concreto.
Ex.: motorista profissional que teve o veículo de sua propriedade abalroado.
Houve uma diminuição direta em seu patrimônio, aferível pelo valor de mer-
cado. Ex: Tabela FIPE ou MOLICAR.
Nas palavras de Maria Helena Diniz[22] temos um trecho pertinente à con-
denação pelo dano emergente:

Na condenação relativa a dano emergente, a indenização poderá processar-se de duas


formas: o lesante será condenado a proceder à restauração do bem danificado ou a
pagar o valor das obras necessárias a essa reparação. A indenização relativa ao dano
emergente pretende restaurar o patrimônio do lesado no estado em que anteriormente
se encontrava.

As atualizações da correção monetária e dos juros têm o início de sua contabili-


zação a partir da ocorrência do ato ilícito, nos termos das súmulas 4343 e 54 do STJ:

Súmula STJ no 43. Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data
do efetivo prejuízo.
Súmula STJ no 54. Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de
responsabilidade extracontratual.

Sendo assim, a exatidão do dano aferível acrescida da correção monetá-


ria e juros moratórios são o suficiente para contemplar a satisfação material do
dano emergente.

capítulo 4 • 92
Lucro cessante (ou dano negativo ou lucro cessante frustrado)

Perda do lucro daquilo que sabia que receberia, que era esperável. Quebra do
ganho pela “chance perdida” aferível com expectativa real.
Temos no art. 403 do CC[26] sua positivação:

Capítulo III – Das Perdas e Danos


Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só in-
cluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem
prejuízo do disposto na lei processual.

Mais uma vez nos alicerçamos nas palavras de Maria Helena Diniz[27], temos
uma ideia de sua lavra:

Para se computar o lucro cessante a mera possibilidade é insuficiente, embora não se


exija uma certeza absoluta, de forma que o critério mais acertado estaria em condicio-
ná-lo a uma probabilidade objetiva, resultante do desenvolvimento normal dos aconteci-
mentos, conjugado às circunstâncias peculiares do caso concreto.

De forma diversa do dano emergente, temos que avaliar o “bem” com fins de
atingirmos a valoração na totalidade do patrimônio lesionado.
Ex.: na promessa de compra e venda de um imóvel, são devidos os aluguéis
pela sua não utilização até o dia em houve a entrega efetiva das chaves (pressupon-
do que neste ato incorre os efeitos do habite-se).
O art. 952 do CC[28] é uma excelente positivação do lucro cessante e sua
ponderação junto ao enunciado civil 561 do CJF[29]:

Lei 10.406/2002:
Art. 952. Havendo usurpação ou esbulho do alheio, além da restituição da coisa, a inde-
nização consistirá em pagar o valor das suas deteriorações e o devido a título de lucros
cessantes; faltando a coisa, dever-se-á reembolsar o seu equivalente ao prejudicado.
Parágrafo único. Para se restituir o equivalente, quando não exista a própria coisa, es-
timar-se-á ela pelo seu preço ordinário e pelo de afeição, contanto que este não se
avantaje àquele.

Enunciado Civil do CJF no 561


No caso do art. 952 do Código Civil, se a coisa faltar, dever-se-á, além de reembolsar o
seu equivalente ao prejudicado, indenizar também os lucros cessantes. Artigo: 952 do
Código Civil

capítulo 4 • 93
Nas palavras de James Eduardo Oliveira[30], temos:

A apuração desse valor não é feita hipoteticamente, muito menos levando-se em conta
o estado original das coisas, verifica-se o estado em que a coisa foi recuperada em con-
traste com o seu estado imediatamente anterior à usurpação ou esbulho.

Destacando que usurpar é apoderar-se de maneira violenta fraudulenta,


artificial de res (coisa), móvel ou imóvel sem que esta pessoa lhe tenha posse
ou propriedade.

Do dano moral (ou não material ou imaterial ou extrapatrimonial)

Consiste na lesão ao bem jurídico da pessoa em detrimento (por singela amos-


tragem), em detrimento da liberdade, honra, família, profissão, sociedade, tristeza,
abalo psicológico etc.
Apresentamos algumas previsões legais:

CRFB/88 – Art. 5, V e X;
Lei 8.078/1990 – Art. 6, VI e VII;
Lei 10.406/2002– Art. 12 ao 21, 52, 186;

Delimitando o tema por autores temos:


Segundo Maria Helena Diniz[31]:

“c.3.1 Definição:
O dano moral vem a ser a lesão de interesses não patrimoniais de pessoa física ou jurí-
dica (CC, art. 52; Súmula 227 do STJ), provocada pelo fato lesivo”.

Já Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona[32] aduzem que o dano moral:

Consiste na lesão de direitos cujo conteúdo não é pecuniário, nem comercialmente


redutível a dinheiro. Em outras palavras, podemos afirmar que o dano moral é aquele
que lesiona a esfera personalíssima da pessoa (seus direitos da personalidade), violan-
do, por exemplo, sua intimidade, vida privada, honra e imagem, bens jurídicos tutelados
constitucionalmente.

Independente da tese doutrinária abordada, é ponto pacífico que sua carac-


terização é fixação devem ser subordinadas ao prudente arbítrio. Tudo com fins
de impedir, ou ao menos evitar, o enriquecimento sem causa aliada à custa do
empobrecimento alheio. Mas tal valoração não pode ser irrisória, dado a outro

capítulo 4 • 94
critério, o caráter pedagógico e punitivo. Tudo com o fim último de se evitar que
o causador do dano cometa novos atos da mesma grandeza.
A doutrina avalia, diante da legislação interna, que o sistema adotado é o
aberto. Neste o Estado Juiz pondera elementos essenciais, tais como, por exemplo:
as condições econômicas e sociais das partes, a gravidade da lesão, sua repercus-
são, as circunstâncias reais e fáticas, a intensidade de sua conduta, entre outras.
E, ao contrário, não configura danos morais os meros dissabores inerentes à vida
social normal.
Como consequência de sua absoluta relatividade e fluidez doutrinária, e o sistema
de precedentes judiciais elencado no capítulo 3, adotamos a ideia do ponto de vista
dos tribunais (STJ e TJRJ), enunciados do Fórum Nacional dos Juizados Especiais
Estaduais (RJ) e do Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais e, também, do
Centro de Estudos do Conselho da Justiça Federal e para delimitar o tema.

Superior Tribunal de Justiça – STJ[33]

Súmula STJ no 221. São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorren-
te de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo
de divulgação.
Súmula STJ no 227. A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.
Súmula STJ no 281. A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação prevista
na lei de imprensa.
Súmula STJ no 326. Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montan-
te inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca.
Súmula STJ no 359. Cabe ao órgão mantenedor do cadastro de proteção ao crédito a
notificação do devedor antes de proceder à inscrição.
Súmula STJ no 362. A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide
desde a data do arbitramento.
Súmula STJ no 370. Caracteriza dano moral à apresentação antecipada de cheque
pré-datado.
Súmula STJ no 385. Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe
indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito
ao cancelamento.
Súmula STJ no 387. É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.
Súmula STJ no 388. A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.
Súmula STJ no 402. O contrato de seguro por danos pessoais compreende danos mo-
rais, salvo cláusula expressa de exclusão.
Súmula STJ no 498. Não incide imposto de renda sobre a indenização por danos morais.
Súmula STJ no 532. Constitui prática comercial abusiva o envio de cartão de crédito
sem prévia e expressa solicitação do consumidor, configurando-se ato ilícito indenizável
e sujeito à aplicação de multa administrativa.

capítulo 4 • 95
Súmula STJ no 537. Em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada, se
aceitar a denunciação ou contestar o pedido do autor, pode ser condenada, direta e
solidariamente junto com o segurado, ao pagamento da indenização devida à vítima, nos
limites contratados na apólice.
Súmula STJ no 543. Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e
venda de imóvel submetido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a imedia-
ta restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador – integralmente, em caso
de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido
o comprador quem deu causa ao desfazimento.
Súmula STJ no 548. Incumbe ao credor a exclusão do registro da dívida em nome do
devedor no cadastro de inadimplentes no prazo de cinco dias úteis, a partir do integral e
efetivo pagamento do débito.

Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro[34]

Súmula TJRJ no 45. "É devida indenização por dano moral sofrido pelo passageiro, em
decorrência do extravio de bagagem, nos casos de transporte aéreo."
Súmula TJRJ no 75. “O simples descumprimento de dever legal ou contratual, por carac-
terizar mero aborrecimento, em princípio, não configura dano moral, salvo se da infração
advém circunstância que atenta contra a dignidade da parte.”
Súmula TJRJ no 87. “A mera recusa ao pagamento de indenização decorrente de seguro
obrigatório não configura dano moral.”
Súmula TJRJ no 96. “As verbas relativas às indenizações por dano moral e dano estético
são acumuláveis”.
Súmula TJRJ no 97. “A correção monetária da verba indenizatória de dano moral, sempre
arbitrada em moeda corrente, somente deve fluir do julgado que a fixar”.
Súmula TJRJ no 128. “Imputação ofensiva, coletiva, não configura dano moral”.
Súmula TJRJ no 174. "Caracteriza dano moral a indevida apropriação pelo advogado de
valores pertencentes ao mandante."
Súmula TJRJ no 216 – "A tenra idade, a doença mental e outros estados limitadores da
consciência de agressão não excluem a incidência do dano moral."
Súmula TJRJ no 274. "A competência para conhecer e julgar pedido indenizatório de
dano moral decorrente de casamento, união estável ou filiação é do juízo de família."
Súmula TJRJ no 280. "O simples disparo do alarme antifurto em estabelecimentos co-
merciais, só por si, não caracteriza lesão extrapatrimonial, ressalvados os episódios de
desnecessária e inconveniente exposição ou grosseira abordagem da pessoa, a serem
aferidos caso a caso."
Súmula TJRJ no 285. "Qualquer interrupção de prestação de serviço essencial decor-
rente de ligação clandestina não configura dano moral."
Súmula TJRJ no 294. "É indevido e enseja dano moral inscrever em cadastro restritivo
de crédito o não pagamento de tarifa bancária incidente sobre conta inativa."

capítulo 4 • 96
Súmula TJRJ no 323. "Não cabe a condenação do Detran à indenização de danos mo-
rais quando os transtornos sofridos pelo autor decorrerem do descumprimento do dis-
posto no artigo 134 do Código de Trânsito Brasileiro por parte do próprio demandante."
Súmula TJRJ no 333. "Nas demandas em que se discute atraso na entrega das chaves,
não configura bis in idem a condenação de multa contratual cumulada com indenização
por danos morais, verbas de origem e natureza jurídicas distintas."
Súmula TJRJ no 337. "A recusa indevida, pela operadora de planos de saúde, de inter-
nação em estado de emergência/urgência gera dano moral in re ipsa."
Súmula TJRJ no 339. "A recusa indevida ou injustificada, pela operadora de plano de
saúde, de autorizar a cobertura financeira de tratamento médico enseja reparação a
título de dano moral."
Súmula TJRJ no 343. "A verba indenizatória do dano moral somente será modificada se
não atendidos pela sentença os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade na
fixação do valor da condenação."
Súmula TJRJ no 352. “É abusiva a cláusula contratual que exclui internação domiciliar e
sua recusa configura dano moral.”
Súmula TJRJ no 373. “Para a configuração da responsabilidade por danos morais à pes-
soa jurídica é imprescindível que a conduta do agente viole sua honra objetiva.”

Fórum Nacional dos Juizados Especiais Federais – FONAJEF[35]

Enunciado FONAJEF no 114. Havendo cumulação de pedidos, é ônus da parte autora


a identificação expressa do valor pretendido a título de indenização por danos morais, a
ser considerado no valor da causa para fins de definição da competência dos Juizados
Especiais Federais.
Enunciado FONAJEF no 140. A fixação do valor do dano moral deve representar quan-
tia necessária e suficiente para compensar os danos sofridos pelo autor da demanda,
como também para desestimular futuras violações de mesma natureza (Aprovado no XI
FONAJEF).

Fórum Nacional dos Juizados Especiais – FONAJE[36]

Enunciado do FONAJE no 69. As ações envolvendo danos morais não constituem, por
si só, matéria complexa.
Enunciado do FONAJE no 108. A mera recusa ao pagamento de indenização decorren-
te de seguro obrigatório não configura dano moral (XIX Encontro – Aracaju/SE).
Enunciado do FONAJE no 170. No Sistema dos Juizados Especiais, não se aplica o
disposto no inc. V do art. 292 do CPC/2015 especificamente quanto ao pedido de
dano moral; caso o autor opte por atribuir um valor específico, este deverá ser compu-
tado conjuntamente com o valor da pretensão do dano material para efeito de alçada e
pagamento de custas (XLI Encontro – Porto Velho-RO).

capítulo 4 • 97
Enunciado Civil do Centro de Estudos do Conselho da Justiça Federal [37]

Enunciado Civil do CJF no 159 – Art. 186. O dano moral, assim compreendido todo
dano extrapatrimonial, não se caracteriza quando há mero aborrecimento inerente a
prejuízo material.
Enunciado Civil do CJF no 189 – Art. 931. Na responsabilidade civil por dano mo-
ral causado à pessoa jurídica, o fato lesivo, como dano eventual, deve ser devidamen-
te demonstrado.
Enunciado Civil do CJF no 192. Os danos oriundos das situações previstas nos arts.
949 e 950 do Código Civil de 2002 devem ser analisados em conjunto, para o efeito de
atribuir indenização por perdas e danos materiais, cumulada com dano moral e estético.
Enunciado Civil do CJF no 445 – Art. 927. O dano moral indenizável não pressupõe
necessariamente a verificação de sentimentos humanos desagradáveis como dor
ou sofrimento.
Enunciado Civil do CJF no 454 – Art. 943. O direito de exigir reparação a que se refere o
art. 943 do Código Civil abrange inclusive os danos morais, ainda que a ação não tenha
sido iniciada pela vítima.
Enunciado Civil do CJF no 455 – Art. 944. Embora o reconhecimento dos danos morais
se dê, em numerosos casos, independentemente de prova (in re ipsa), para a sua ade-
quada quantificação, deve o juiz investigar, sempre que entender necessário, as circuns-
tâncias do caso concreto, inclusive por intermédio da produção de depoimento pessoal
e da prova testemunhal em audiência.
Enunciado Civil do CJF no 458 – Art. 944. O grau de culpa do ofensor, ou a sua even-
tual conduta intencional, deve ser levado em conta pelo juiz para a quantificação do
dano moral.
Enunciado Civil do CJF no 550 – Artigos: 186 e 944. A quantificação da reparação por
danos extrapatrimoniais não deve estar sujeita a tabelamento ou a valores fixos.
Enunciado Civil do CJF no 588 – Art. 927, parte – O patrimônio do ofendido não pode
funcionar como parâmetro preponderante para o arbitramento de compensação por
dano extrapatrimonial. Parte da legislação: art. 927 do Código Civil – Da obrigação
de indenizar
Justificativa:
O modelo de responsabilidade civil por dano extrapatrimonial previsto no Código Civil
atribuiu ao juiz alguma discricionariedade na fixação da indenização.
Para tanto, deverá ele se valer de critérios previstos no Código, como a extensão do
dano (art. 944).
No exercício deste arbitramento, pode o magistrado valer-se da condição econômica do
ofendido, mas de maneira moderada. Não deve ser esse o critério preponderante, sob
pena de se infringir o princípio da reparação integral do prejuízo.
Enunciado Civil do CJF no 589 – Art. 927, parte – A compensação pecuniária não é o
único modo de reparar o dano extrapatrimonial, sendo admitida a reparação in natura,
na forma de retratação pública ou outro meio.

capítulo 4 • 98
Justificativa:
Não há, no Código Civil, norma que imponha a indenização pecuniária como meio ex-
clusivo para reparação do dano extrapatrimonial. Causado dano desta natureza, nasce
para o ofensor a obrigação de reparar (art. 927), o que deverá ocorrer na forma de uma
compensação em dinheiro e/ou de ressarcimento in natura, conforme tem admitido a
doutrina (por todos: SCHREIBER, Anderson. Reparação Não-Pecuniária dos Danos Mo-
rais. In: Gustavo Tepedino e Luiz Edson Fachin (Org.). Pensamento crítico do Direito Civil
brasileiro. Curitiba: Juruá Editora, 2011).
No plano constitucional, tal entendimento revela-se compatível com o quanto dispõe o
art. 5o, inc. V, que, dirigido ao ofendido, assegura o direito de resposta, além de indeniza-
ção em função do dano causado.
Por último, o ressarcimento in natura revela-se compatível com uma lógica de despatri-
monialização da responsabilidade civil, de modo a garantir ao ofendido a reparação inte-
gral do dano, o que nem sempre é alcançado mediante simples pagamento em dinheiro.

Dano moral à pessoa jurídica

A pessoa jurídica é uma criação de ordem legal, não tem capacidade de sentir
emoção e dor. Entretanto, ao sofrer uma perturbação de sua imagem perante a
sociedade, é legitima a sua pretensão em buscar a compensação por danos morais.
Especialmente o seu bom nome.
Embora despida de certos direitos que são próprios da personalidade hu-
mana – integralidade física, psíquica e da saúde, esta é titular de alguns direi-
tos especiais da personalidade – v.g. o bom nome, a imagem, a reputação, sigilo
de correspondência.
Honra objetiva: inerente à pessoa (natural ou jurídica e é externa ao sujeito.
É a visão que a sociedade faz da pessoa que sofreu o dano.
Honra subjetiva: inerente à pessoa natural. É a ofensa ao psiquismo que atin-
jam a sua dignidade, respeito próprio autoestima etc. É a visão interna que o ser
humano faz de si próprio.
Temos nas seguintes previsões legais as fundamentações que justificam o dano
moral à pessoa jurídica:

CRFB/1988[38]:
Art. 5 (...)
X – São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, asse-
gurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

capítulo 4 • 99
Lei 10.406 de 2002 (CC)[39]:

Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos
da personalidade.
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e
reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou
representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja inten-
ção difamatória.
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manu-
tenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publi-
cação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a
seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a
boa fama ou a respeitabilidade, ou se destinarem-se a fins comerciais.

Convergindo no entendimento da já citada sumula do STJ[40] materializado


da seguinte forma:

Súmula 227 do STJ. A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

Logo, as pessoas jurídicas, ao terem a sua honra objetiva ofendida, detêm legi-
timidade ativa para propor a competente ação de responsabilidade civil visando à
compensação por danos morais.

Legitimação para pleitear o dano moral

Em detrimento da sua enorme carga de subjetividade, temos na legitimação


de seu pleito algo que ultrapassa a pessoalidade. Possibilitando, também, a ter-
ceiros que não seja o próprio sofredor do dano, a legitimidade ativa para a sua
propositura. Podemos indagar:
A quem é devida tal compensação? Quem pode pleiteá-la, além da própria
vítima? Dizem as seguintes previsões legais inscritas na lei 10.406 de 2002[41]:

Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:
II. Na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em
conta a duração provável da vida da vítima (homicídio).
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e
reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

capítulo 4 • 100
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida pre-
vista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral
até o quarto grau.
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manu-
tenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publi-
cação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a
seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a
boa fama ou a respeitabilidade, ou se destinarem-se a fins comerciais.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para
requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.

Pela simples leitura, temos um rol que segue o previsto no art. 1.829 do CC.
Assim se pronuncia o Conselho da Justiça Federal[42] a respeito da legitimi-
dade para pleito do dano moral por pessoa diversa do próprio:

Enunciado Civil do CJF no 275 – Arts. 12 e 20. O rol dos legitimados de que tratam os
arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo único, do Código Civil também compreende
o companheiro.
Enunciado Civil do CJF no 398 – Art. 12, parágrafo único: as medidas previstas no art.
12, parágrafo único, do Código Civil podem ser invocadas por qualquer uma das pes-
soas ali mencionadas de forma concorrente e autônoma.
Enunciado Civil do CJF no 399 – Arts. 12, parágrafo único e 20, parágrafo único: os
poderes conferidos aos legitimados para a tutela post mortem dos direitos da perso-
nalidade, nos termos dos arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo único, do CC, não
compreendem a faculdade de limitação voluntária.
Enunciado Civil do CJF no 400 – Arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo único: os
parágrafos únicos dos arts. 12 e 20 asseguram legitimidade, por direito próprio, aos
parentes, cônjuge ou companheiro para a tutela contra lesão perpetrada post mortem.

Temos então consolidada a matéria em termos de legitimidade ativa para a


demanda que envolve a responsabilidade civil em nome de pessoa falecida.

Arbitramento da verba indenizatória:

Desde a sua existência legal, os magistrados de todo o país somam, divi-


dem e multiplicam para chegar a um padrão no arbitramento das indenizações.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem a palavra final para esses casos e, ainda
que não haja uniformidade entre os órgãos julgadores, está em busca de parâme-
tros para readequar as indenizações.

capítulo 4 • 101
O valor do dano moral tem sido enfrentado no STJ sob a óptica de atender
uma dupla função. Reparar o dano buscando minimizar a dor da vítima e punir o
ofensor para que não reincida.
Como é vedado ao Tribunal reapreciar fatos e provas e interpretar cláusulas
contratuais, o STJ apenas altera os valores de indenizações fixados nas instâncias
locais quando se trata de quantia irrisória ou exagerada.
A dificuldade em estabelecer com exatidão a equivalência entre o dano e o res-
sarcimento se reflete na quantidade de processos que chegam ao STJ para debater
o tema. Com relação à subjetividade, o juiz tem liberdade para apreciar, valorar e
arbitrar a indenização dentro dos parâmetros pretendidos pelas partes.
De acordo com o ministro Salomão[43], não há um critério legal, objetivo
e tarifado para a fixação do dano moral. “Depende muito do caso concreto e da
sensibilidade do julgador”, explica. “A indenização não pode ser ínfima, de modo
a servir de humilhação à vítima nem exorbitante, para não representar enriqueci-
mento sem causa”, completa. Tantos fatores para análise resultam em disparidades
entre os tribunais na fixação do dano moral. É o que se chama de “jurisprudência
lotérica”.
O ministro explica: para um mesmo fato que afeta inúmeras vítimas, uma
Câmara do Tribunal fixa um determinado valor de indenização e outra turma
julgadora arbitra, em situação envolvendo partes com situações bem assemelha-
das, valor diferente. “Esse é um fator muito ruim para a credibilidade da Justiça,
conspirando para a insegurança jurídica”, pois a “A indenização não representa um
bilhete premiado”.
Mas quanto vale o dano moral? É inequívoco que há uma gigantesca dose de
subjetividade, entretanto, temos um precedente válido na turma recursal dos jui-
zados especiais federais do RJ[44] que entende e tabela o dano moral:

Súmula das Turmas Recursais do JEF/RJ no 8. A quantificação da indenização por


dano moral levará em consideração, ainda que em decisão concisa, os critérios a seguir,
observadas a conduta do ofensor e as peculiaridades relevantes do caso concreto:
I. Dano moral leve – até 20 SM;
II. Dano moral médio – até 40 SM;
III. Dano moral grave – até 60 SM.

Sem sombra de dúvidas, a situação envolve justificar, motivar e convencer


(fora o livre arbítrio do Estado Juiz) o que vem a ser dano “leve, médio e grave”.

capítulo 4 • 102
Dano à imagem

A imagem é o conjunto de traços e caracteres de uma pessoa que a individua-


liza no meio social – logomarca, rosto, olhos, cabelos, perfil etc. É um bem per-
sonalíssimo, emanação de uma pessoa, por meio da qual projeta-se, identifica-se e
individualiza-se no meio social.
Facilmente confundível com o dano estético ou morfológico. São completa-
mente diversos. Neste dano, a consequência são as amputações, marcas, cicatrizes
ou correlacionados. Enquanto que no dano à imagem, a pessoa é constrangida
pelo ato ilícito da exposição danosa de cunho vexatório.
Exemplo: uso de imagem de pessoa natural em programa populista sem auto-
rização e de forma vexatória.
Para tanto, com fins de sedimentar nossos conhecimentos, nos valemos dos
entendimentos dos enunciados do CJF45:

Enunciado Civil do CJF no 279 – Art. 20. A proteção à imagem deve ser ponderada com
outros interesses constitucionalmente tutelados, especialmente em face do direito de
amplo acesso à informação e da liberdade de imprensa. Em caso de colisão, levar-se-á
em conta a notoriedade do retratado e dos fatos abordados, bem como a veracidade
destes e, ainda, as características de sua utilização (comercial, informativa, biográfica),
privilegiando-se medidas que não restrinjam a divulgação de informações.
Enunciado Civil do CJF no 587 – Art. 927, parte – O dano à imagem restará configurado
quando presente a utilização indevida desse bem jurídico, independentemente da con-
comitante lesão a outro direito da personalidade, sendo dispensável a prova do prejuízo
do lesado ou do lucro do ofensor para a caracterização do referido dano, por se tratar de
modalidade de dano in re ipsa.
Justificativa:
Ainda que o Código Civil aparentemente não tenha atribuído uma tutela autônoma ao
direito à imagem, condicionando, salvo exceções, a possibilidade de sua compensação
à concomitante lesão da honra de seu titular, este entendimento parece questionável, se
analisado de acordo com as disposições constitucionais previstas no art. 5o, incs. V e X,
que conferiram autonomia à compensação pelo dano à imagem. Na legalidade constitu-
cional, torna-se necessário valorizar a vontade da pessoa humana, que deverá expressar
o seu consentimento de forma expressa ou tácita, mas sempre inequivocamente.
Conforme entendimento majoritário do Superior Tribunal de Justiça, em regra, diante da
violação do direito à imagem nascerá para o seu titular o direito à compensação pelo
dano moral na modalidade in re ipsa. Nessa hipótese, não seria necessário prova con-
creta do prejuízo de ordem moral para a vítima nem do efetivo lucro do ofensor, bastando
a própria violação à exteriorização da personalidade da vítima.

capítulo 4 • 103
Danos atípicos

Passamos a tratar dos danos cuja construção é de origem não positivada.

Dano pela perda de uma chance

Neste passo, a doutrina francesa que costumeiramente vem sendo aplicada em


nossos tribunais (perte d’une chance) se dá nos casos em que o ato ilícito praticado
pelo agente retira do lesado, a real possibilidade de o mesmo obter uma situação
futura melhor, isto é, uma possibilidade, uma chance de obter alguma vantagem
ou ainda a chance de evitar algum prejuízo.
Exemplo: pessoa natural que em questionamento em programa de perguntas
e respostas pela televisão. Questão sem viabilidade de resposta lógica. Impondo o
dever de ressarcir o participante pela perda da oportunidade de obtenção da tota-
lidade do valor. Na qual recebe parte, pois não se sabe se iria acertar a proposição.
Mas, de uma forma ou de outra lhe foi retirado esta oportunidade, esta chance”.
O tema é consolidado em sua aplicabilidade pelo enunciado CJF 444[46]:

Enunciado Civil do CJF no 444


Art. 927. A responsabilidade civil pela perda de chance não se limita à categoria de
danos extrapatrimoniais, pois, conforme as circunstâncias do caso concreto, a chance
perdida pode apresentar também a natureza jurídica de dano patrimonial. A chance deve
ser séria e real, não ficando adstrita a percentuais apriorísticos.

Dano estético (ou morfológico)

Construção jurisprudencial. Decorre de restrições nas relações sociais. São as


deformidades que provocam repulsa de ordem externa (perante a sociedade) e
interna (perante a si). Podendo acarretar redução em sua capacidade laborativa
(amputações e restrições).
As lesões perpetradas à vítima em função do ato ilícito evidenciam inquestio-
náveis dores e sofrimentos que afetam sua esfera jurídica interna, caracterizando-se
como causa dos danos morais.
Por outro lado, o que sofre paraplegia perpetrada ao corpo físico da vítima
implica dependência permanente de pessoas, para atender as suas necessidades
básicas, limitando sobremaneira sua vida de relação e o gozo dos prazeres da vida.

capítulo 4 • 104
Essa situação caracteriza o dano estético, na medida em que proporciona re-
flexos negativos evidentes na sua relação social, passível de arbitramento em sepa-
rado, como assinala a norma do art. 949 da lei 10.406 de 2002[47]:

Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002


Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das
despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de
algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.

Temos súmulas do STJ, 387[48] e 96[49] que tratam o tema:

Súmula 387 do STJ. É possível a acumulação das indenizações de dano estético e moral.
Súmula 96 do TJRJ. “As verbas relativas às indenizações por dano moral e dano estético
são acumuláveis”.

Mais uma vez podemos contar com o entendimento do CJF, em seu enuncia-
do 192[50] temos:

Enunciado Civil do CJF no 192 – Arts. 949 e 950. Os danos oriundos das situações
previstas nos arts. 949 e 950 do Código Civil de 2002 devem ser analisados em con-
junto, para o efeito de atribuir indenização por perdas e danos materiais, cumulada com
dano moral e estético.

E como exemplo a amputação equivocada de membro inferior (lado direito),


por consequência de “diabetes”. Enquanto que a perna correta seria a esquerda.

Dano reflexo ou em ricochete

Criação doutrinária. Surge com o dano imposto à pessoa do lesado direto de


tamanha gravidade que “reflete” nas pessoas de seu íntimo convívio sociofamiliar/
relacional. Eis que também não apenas sofrem danos diretos pela alteração da si-
tuação social do seu ente querido, como também, tem alterada a sua própria vida.
Uma vez que não raro tem que se dedicar exclusivamente aos cuidados prementes
das limitações da pessoa que sofreu o dano principal.
Em sede de exemplo, temos que a ofensa dirigida a um morto, que apesar de
não ser ofendido em sua personalidade, pois os direitos da personalidade surgem
com a concepção e se extinguem com a morte, portanto, não são transmitidos aos
herdeiros, que só poderão entrar com ação de indenização em razão de sofrerem o
dano reflexo da ofensa.

capítulo 4 • 105
Acerca do tema, temos o seguinte nos enunciados do CJF[51]:

Enunciado Civil do CJF no 552


Constituem danos reflexos reparáveis as despesas suportadas pela operadora de plano
de saúde decorrentes de complicações de procedimentos por ela não cobertos. Artigo:
786, caput, do Código Civil.
Enunciado Civil do CJF no 560
No plano patrimonial, a manifestação do dano reflexo ou por ricochete não se restringe
às hipóteses previstas no art. 948 do Código Civil. Artigo: 948 do Código Civil.

Dano existencial

Criação doutrinária. Lesão à impossibilidade de viver o vínculo afetivo com a


existência de pessoa natural. Acidente provocado que gera a morte de filhos, cau-
sando aos seus familiares a impossibilidade de viver a sua existência normalmente
prevista. Considerando a vida dos próprios responsáveis.
Exemplificando, diante da morte de filho seus pais perderam eventos exis-
tenciais normais para a sua realidade socionormal, tais quais como aniversários,
crescimento, formatura, casamento, netos etc.

O dano na prática

Estamos diante do último pressuposto do trinômio da responsabilidade civil


o dano. Neste elemento devemos fazer unir ao ato ilícito através do nexo causal
(prova). Vamos avaliá-lo sob a óptica da inversão do ônus da prova previsto no art.
373 §1o da lei 13.105 de 2015[52]:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


(...)
§ 1o Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à
impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput
ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o
ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em
que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.

O Estado Juiz tem a possibilidade de alterar a regra da distribuição dinâmica


do ônus da prova, atribuindo-a ao réu, e não ao autor, nos termos do art. 373 e
seus incisos. Desde as peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou

capítulo 4 • 106
à excessiva dificuldade da parte autora de cumprir o seu ônus, ou, ainda, diante
do fato de o réu deter os melhores meios (fático ou técnicos) de tê-las como prova
do fato contrário. E distribuindo de modo diverso, desde motivada. Sempre antes
do despacho saneador, nos termos do enunciado no 9 da 6ª Câmara Civel do
TJRJ[53]:

Enunciado da 6a Câmara Cível TJRJ no 9:


De regra, determina-se a inversão do ônus da prova no saneador.

Deste modo, temos com conteúdo complementar a súmula 91[54] do TJRJ:

Súmula TJRJ no 91. “A inversão do ônus da prova, prevista na legislação consumerista,


não pode ser determinada na sentença”.
Referência: súmula da Jurisprudência Predominante no 2005.146.00006 – Julgamen-
to em 10/10/2005 – Votação: unânime – Relator: Desembargador Silvio Teixeira – Re-
gistro de Acórdão em 29/12/2005 – fls. 011317/011323.

Assim justificado:

A inversão do ônus da prova, em favor do consumidor, não é legal mas judicial, pelo
que o fornecedor seria surpreendido, se fosse considerada a sentença como momento
processual da inversão, em afronta ao princípio do contraditório.

Temos um entendimento óbvio, a inversão nos termos do art. 373 §1o do


CPC pode ser deferida em determinadas situações específicas, mas sempre antes
do despacho saneador. Com o claro objetivo de oportunizar a parte contrária exer-
cer o contraditório. Em especial com fins de se desincumbir deste ônus.
Estando em plena consonância com o enunciado 632 do Fórum Permanente
dos Processualista Civis[55]:

Fórum Permanente de Processualistas Civis Enunciado no 632. (arts. 373, §1o e 10) –
A redistribuição de ofício do ônus de prova deve ser precedida de contraditório. (Grupo:
Direito probatório)

Concluímos que a inversão da dinâmica das provas pode sofrer alteração em


certas e específicas situações, desde que anterior ao despacho saneador, em abso-
luto respeito ao contraditório para que aquele a que foi determinado a produção
desta prova possa se desincumbir.

capítulo 4 • 107
ATIVIDADES
Reinaldo e Fabíola de Souza Freitas, filhos de Ciclano de Souza Freitas (falecido) pro-
puseram ação de responsabilidade civil em face de GEAP Autogestão em Saúde. Ficou de-
monstrado nos autos que houve negativa de atendimento resultando no evento morte de seu
genitor. Sendo assim, questiona-se:

01. Os filhos do de cujos têm legitimidade para pleitear algum dano?

02. Em caso positivo, fundamente e justifique;

03. Que tipos de danos seriam aplicáveis ao caso?

04. Qual seria o valor a ser arbitrado a título de dano(s), considerando precedentes judiciais?

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[31] - DINIZ, Maria Helena, Curso de direito civil brasileiro, 7º volume: responsabilidade civil - 21ª
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[49] – http://portaltj.tjrj.jus.br/documents/10136/18187/sumulas.pdf?=10 Acesso em 15 de
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[50] - http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-judiciarios-1/
publicacoes-1/jornadas-cej/vii-jornada-direito-civil-2015.pdf Acesso em 15 de setembro de 2017.
[51] - http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-judiciarios-1/
publicacoes-1/jornadas-cej/vii-jornada-direito-civil-2015.pdf. Acesso em 15 de setembro de 2017.
[52] - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em 15 de
setembro de 2017.
[53] - http://www.tjrj.jus.br/web/guest/jurisprudencia2/enunciados-camaras Acesso em 15 de
setembro de 2017.
[54] - http://www1.tjrj.jus.br/gedcacheweb/default.aspx?UZIP=1&GEDID=0003494393C3C95C8
6613441E115CEF8B3F4E44DC3314A08&USER=dad4cd86e7c8542fbb9c67f47402d976
Acesso em 15 de setembro de 2017.
[55] – http://www.cpcnovo.com.br/wp-content/uploads/2017/05/FPPC-Carta-de-Florianopolis.
pdf?inf_contact_key=d7cef03802afe2c25acb93ce56a44e47. Acesso em 15 de setembro de 2017.
[56] - https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/
mediado/?componente=MON&sequencial=70675119&num_
registro=201601994502&data=20170616 Acesso em 15 de setembro de 2017.

capítulo 4 • 111
capítulo 4 • 112
5
A responsabilidade
civil em espécies
A responsabilidade civil em espécies
A responsabilidade civil pode se apresentar sob diversas faces. Desde as mais
consagradas, como o dano moral, dano material, dano à imagem, dano estético
(ou fisiológico), entre outros. Entretanto, sentimos a necessidade de oxigenar a
matéria. Por isso, optamos em apresentar e discutir temas não consagrados, de
pouca doutrina. E até mesmo de inexistente jurisprudência. Tudo com o claro
objetivo de obedecer a uma das diretrizes do curso de direito que é o de formar
profissionais críticos e aptos a resolver demandas de sua atualidade.
Com este capítulo, convidamos nossos leitores a novos desafios. Pensar em
como resolver demandas potenciais sem o devido amparo das fontes do direito,
no caso, doutrina e jurisprudência.
Sendo assim, vamos refletir sobre os seguintes temas:
•  Direitos dos usuários de serviços públicos na lei 13.460 de 2017 e nor-
mas correlatas.
•  Drones na Resolução 419 de 2017 da ANAC e normativos correspondentes.

OBJETIVOS
•  Estudar os aspectos da responsabilidade civil em espécie;
•  Conhecer os temas propostos sob a óptica normativa e de aspectos relevantes;
•  Avaliar o conhecimento em uma atividade.

Direitos dos usuários de serviços públicos

Trataremos das normas que se correlacionam com os usuários dos serviços


públicos. Neste contexto, temos diversas leis que tratam de forma específica o
tema proposto.
Entretanto, com o advento da lei 13.460 de 2017[1], temos uma situação
paradigmática. Esta lei trata da proteção do usuário dos serviços públicos da ad-
ministração direta e indireta, que por meio de uma entidade concessionária ou
permissionária, mediante contrato ou convênio deve cumprir com seus deveres
e direitos.
Sempre na pessoa do interessado (usuário) com fins de prestar a ele o me-
lhor atendimento, visando melhorar as suas informações, foi instituída também

capítulo 5 • 114
a criação de ouvidoria e a comissão de ética. Via procedimento administrativo,
tudo pelo devido processo administrativo, punindo, se for o caso, o agente públi-
co infrator.

Fundamentação

Podemos citar, por singela amostragem, as seguintes previsões legais:

•  Constituição Federal de 1988 [2].


•  Lei 8.987 de 1995 [3] – lei que regula o contrato de concessões.
•  Lei 8.078 de 1990 [4] – Código de Proteção e Defesa do Consumidor.
•  Lei 12.527 de 2011[5] – regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do
art. 5o, no inciso II do § 3o do art. 37 e dá outras providências.
•  Lei 13.460 de 20176 – código de proteção e defesa dos direitos do usuário dos
serviços públicos.
•  Decreto 9.094 de 20177– dispõe sobre a simplificação do atendimento prestado aos
usuários dos serviços públicos, ratifica a dispensa do reconhecimento de firma e da au-
tenticação em documentos produzidos no país e institui a Carta de Serviços ao usuário.

Aspectos relevantes

Considerando a pouca (ou quase inexistente) doutrina acerca do tema, iremos


comentar os aspectos relevantes dos seus principais artigos. Tomaremos por base
as ponderações existentes no relatório da exposição de motivos que integram a sua
juridicidade e técnica legislativa empregados[8].

Aplicação às esferas da administração pública e legitimidades processuais:

Inicialmente devemos constitucionalizar nosso tema. A primeira fundamen-


tação a ser avaliada é o art. 175, parágrafo único, inciso II da CRFB/19889, as-
sim descrita:

Dos Direitos dos Usuários – O art. 175, § único II:


Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de con-
cessão ou permissão, sempre por meio de licitação, a prestação de serviços públicos.

capítulo 5 • 115
(...)
Parágrafo único. A lei disporá sobre:
(...)

II. Os direitos dos usuários;

A lei a ser disposta em linhas gerais toma especificidade no texto do art. 37


em comento encontra sua fundamentação inicial no inciso I do § 3o do art. 37 da
CF[10], abaixo reproduzido:

Art. 37 (...)
§ 3o A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública
direta e indireta, regulando especialmente:

I. As reclamações relativas à prestação dos serviços públicos em geral, asseguradas


a manutenção de serviços de atendimento ao usuário e a avaliação periódica, externa e
interna, da qualidade dos serviços;

A lei foi finalmente promulgada sob o número 13.460 de 2017[11]. Já em


seu art. 1o torna positiva a legitimidade passiva. Não deixando dúvidas acerca de
seus limites e possibilidades de aplicabilidade. Ao utilizar a expressão “normas
básicas” temos o seu próprio emprego e a abertura para outras normas correlatas
e que visam à proteção e à defesa do usuário (ver item 1.1). Temos como abran-
gência de aplicabilidade desta lei todas as entidades que integram a administração
pública. Seja de qualquer dos integrantes da República (União, Estado Membro
e do Distrito Federal) ou dos poderes que a integram (Executivo, Legislativo e
Judiciário). Assim temos o seu texto:

Art. 1o Esta Lei estabelece normas básicas para participação, proteção e defesa dos
direitos do usuário dos serviços públicos prestados direta ou indiretamente pela admi-
nistração pública.
§ 1o O disposto nesta Lei aplica-se à administração pública direta e indireta da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nos termos do inciso I do § 3o do art.
37 da Constituição Federal.

A parte final do parágrafo primeiro do art. 1 discrimina uma obediência ao


mandamus do já citado art. 37 §3[12], I da Constituição Federal. Em que uma
lei discriminará a participação do usuário no que tange às reclamações relativas à
prestação de serviços

capítulo 5 • 116
Assim, considerando tal determinação legal, nos resta saber quem é a pessoa
que detém a legitimidade para integrar os polos nesta relação? No polo ativo,
temos o “usuário”. O seu conceito está insculpido no seu art. 2, I da Lei 13.460
de 2017[13]:

Art. 2o Para os fins desta Lei, consideram-se:


I. Usuário – pessoa física ou jurídica que se beneficia ou utiliza, efetiva ou potencial-
mente, de serviço público;

Já no polo passivo, apesar do seu art. 1o, temos uma consideração do que é
serviço público. Nos termos do art. 2, II, III e IV da Lei 13.460 de 2017[14].

Art. 2o Para os fins desta lei, consideram-se:


(...)

II. Serviço público – atividade administrativa ou de prestação direta ou indireta de


bens ou serviços à população, exercida por órgão ou entidade da administração pública;
III. Administração pública – órgão ou entidade integrante da administração pública de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, a
Advocacia Pública e a Defensoria Pública;
IV. Agente público – quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil
ou militar, ainda que transitoriamente ou sem remuneração;

Temos então estabelecidos os polos que integram esta relação legal e pro-
cessual. No polo ativo, o usuário e no passivo, o serviço público prestado pela
administração pública exercido fisicamente pelo agente público, seja este inte-
grante da administração pública pura ou por meio de uma concessionária de ser-
viços públicos.
Para encerramos este item, temos a ingerência da lei 8.987 de 1995[15] (dis-
põe sobre o regime de concessão de serviços públicos) que considera/define o que
é poder concedente e concessão.

Art. 2o Para os fins do disposto nesta lei, considera-se:


I. Poder concedente: a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Município, em cuja
competência se encontre o serviço público, precedido ou não da execução de obra
pública, objeto de concessão ou permissão;

capítulo 5 • 117
II. Concessão de serviço público: a delegação de sua prestação, feita pelo poder con-
cedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou con-
sórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e
risco e por prazo determinado;

Conexão com outras normas – “Diálogo das fontes”

Nenhuma norma que integra um sistema legislativo tão complexo como é o


brasileiro pode se dizer autônoma no que diz respeito à sua aplicação ao seu des-
tinatário. Existe, no máximo, um sistema subordinativo como o da Constituição
Federal. Mas, ainda que assim o seja a “Lei Maior”, carece de normas subordi-
nadas dado ao caráter de materialidade e executabilidade efetiva. Neste contexto
leis modernas se autodeterminam “dialogar com outras fontes”. Permeando-se e
conectando-se com normas que a complementam e lhe dão um sentido mais ade-
quado ao caso concreto.
Esta temática foi desenvolvida na Alemanha por Erik Jayme, e no Brasil por
Cláudia Lima Marques, a doutrinadora brasileira teoriza que para um verdadeiro
sentido de complementaridade o Código Civil de 2002 e o Código de Defesa do
Consumidor, não se excluem, mas ao contrário, “dialogam”, sobretudo nas ma-
térias de direito contratual e responsabilidade civil. Claudia Lima Marques assim
descreve[16]:

Na belíssima expressão de Erik Jayme, é o atual e necessário “diálogo das fontes”, a


permitir a aplicação simultânea, coerente e coordenada das plúrimas fontes legislativas
convergentes. Diálogo porque há influências recíprocas, “diálogo” porque há aplicação
conjunta das duas normas ao mesmo tempo e ao mesmo caso, seja complementarmen-
te, seja subsidiariamente, seja permitindo a opção voluntária das partes sobre fontes
prevalentes (especialmente em matéria de convenções internacionais e leis-modelos),
ou mesmo permitindo uma opção por uma das leis em conflito abstrato. Uma solução
flexível e aberta, de interpenetração, ou mesmo a solução mais favorável ao mais fraco
da relação (tratamento diferente dos diferentes).

Assim, prevê a lei 13.460/2017[17]em seu art. 2, §1, II:

Art. 1o (...)
§ 2o A aplicação desta lei não afasta a necessidade de cumprimento do disposto:

I. Em normas regulamentadoras específicas, quando se tratar de serviço ou atividade


sujeitos a regulação ou supervisão;

capítulo 5 • 118
II. Na lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, quando caracterizada relação de
consumo.
§ 3o Aplica-se subsidiariamente o disposto nesta lei aos serviços públicos prestados por
particular.

Temos na lei 8.078 de 1990 (Código de Proteção e Defesa do Consumidor),


art. 7[18], texto idêntico quanto ao seu objetivo:

Art. 7o Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados
ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordi-
nária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem
como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade.

Por conta da inafastabilidade de outras normas aplicáveis, temos um verdadei-


ro mix de possibilidades que permitem a aplicação de normas vigentes e de outras
tantas que ainda venham a ser criadas.

Princípios aplicáveis

Pode-se conceituar o princípio jurídico como pensamento inexorável resul-


tante das interações humanas, dentro do direito, no qual é gerado um microssis-
tema cujos macrosistemas deverão, para ter credibilidade e segurança, recorrer,
assim prevê a lei 13.460/2017[19].

Art. 4o Os serviços públicos e o atendimento do usuário serão realizados de forma ade-


quada, observados os princípios da regularidade, continuidade, efetividade, segurança,
atualidade, generalidade, transparência e cortesia.

a) Serviço adequado
Seu conceito está muito bem descriminado nos termos da lei 8.987 de
1995[20], e remete a uma série de outros princípios que iremos pormenorizar ao
longo deste título.

Lei 8.987/1995:
Art. 6o (...)
§ 1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade,
eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade
das tarifas.

capítulo 5 • 119
b) Regularidade
Significa que o serviço público deve ser prestado de acordo com as condi-
ções estabelecidas contratualmente pelo Poder Público, como necessárias ao pleno
atendimento das necessidades do usuário. Pois foram explicitamente discrimina-
das no processo licitatório. Tanto que um dos elementos essenciais na existência
do contrato, por exemplo de concessão, a Lei 8.987/1995[21] prevê, em seu art.
23, incisos II e III:

Art. 23. São cláusulas essenciais do contrato de concessão as relativas:


(...)

II. Ao modo, forma e condições de prestação do serviço;


III. Aos critérios, indicadores, às fórmulas e aos parâmetros definidores da qualidade
do serviço;

c) Continuidade
A interrupção ou não continuidade deve ser motivada pelos critérios legais.
Quais sejam, aqueles previstos na lei 8.987/1995[22], são eles:

Art. 6o (...)
§ 3o Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação
de emergência ou após prévio aviso, quando:

I. Motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações;


II. Por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade.

d) Efetividade
Afere se os resultados de uma ação trazem benefício real aos usuários, se
aquele objetivo trouxe melhorias reais para a população visada. A própria lei
13.460/2017[23] fundamenta no seu art. 23, inciso I, V e parágrafo 1:

Art. 23. Os órgãos e entidades públicos abrangidos por esta lei deverão avaliar os servi-
ços prestados, nos seguintes aspectos:

I. Satisfação do usuário com o serviço prestado;


(...)

V. Medidas adotadas pela administração pública para melhoria e aperfeiçoamento da


prestação do serviço.

capítulo 5 • 120
§ 1o A avaliação será realizada por pesquisa de satisfação feita, no mínimo, a cada um
ano, ou por qualquer outro meio que garanta significância estatística aos resultados.

e) Segurança
O Estado deverá prestar o serviço público de forma a não colocar em perigo
a integridade física com observância às regras básicas de segurança que porão à
salvo, sempre, a vida do usuário. Mais uma vez a própria lei 13.460/2017[24], em
seu art. 5, VIII fundamenta tal princípio:

Art. 5o O usuário de serviço público tem direito à adequada prestação dos serviços,
devendo os agentes públicos e prestadores de serviços públicos observar as seguintes
diretrizes:
(...)
VIII. Adoção de medidas visando à proteção à saúde e à segurança dos usuários;

f ) Atualidade
A tecnologia deve estar em consonância com as possibilidades técnicas a favor
da necessidade dos usuários, que pode variar desde a forma do pagamento de
pedágios (sistema “sem parar”) até mesmo à conservação das vias concedidas ao
particular para exploração. Tudo na forma da lei 8.987/1995[25]:

Art. 6o (...)
§ 2o A atualidade compreende a modernidade das técnicas, do equipamento e das ins-
talações e a sua conservação, bem como a melhoria e expansão do serviço.

g) Generalidade (ou universalidade)


O serviço público ou pelos seus concessionários devem ser disponibilizados,
abertos e contratáveis por qualquer pessoa que tenha interesse. Sendo prestado
erga omnes, sem qualquer discriminação, de forma igualitária, impessoal, bene-
ficiando o maior número possível de indivíduos, a lei 9.472 de 1997[26] – Lei
Geral das Telecomunicações assim prevê:

Art. 79. A Agência regulará as obrigações de universalização e de continuidade atribuí-


das às prestadoras de serviço no regime público.
§ 1o Obrigações de universalização são as que objetivam possibilitar o acesso de qual-
quer pessoa ou instituição de interesse público a serviço de telecomunicações, indepen-
dentemente de sua localização e condição socioeconômica, bem como as destinadas a
permitir a utilização das telecomunicações em serviços essenciais de interesse público.

capítulo 5 • 121
h) Transparência
O prestador do serviço deve trazer ao conhecimento público e geral dos ad-
ministrados a forma como o serviço foi prestado, os gastos e a disponibilidade
de atendimento. Eis que direta ou indiretamente o usuário remunera por estes
serviços. Ainda que eventualmente subsidiados pela administração pública. Como
é o caso de passagens de ônibus. Qualquer do povo pode requerer, por meio, por
exemplo, da CGU – Controladoria Geral da União informações acerca de temas
envolvendo a esfera federal[27]. A lei 12.527/2011[28] (Regula o acesso a infor-
mações previsto no inciso XXXIII do art. 5o, no inciso II do § 3o do art. 37 e dá
outras providencias), prevê em seu arts. 3 e 4:

Art. 3o Os procedimentos previstos nesta lei destinam-se a assegurar o direito funda-


mental de acesso à informação e devem ser executados em conformidade com os prin-
cípios básicos da administração pública e com as seguintes diretrizes:

I. Observância da publicidade como preceito geral e do sigilo como exceção;


II. Divulgação de informações de interesse público, independentemente de solicita-
ções;
III. Utilização de meios de comunicação viabilizados pela tecnologia da informação;
Art. 4o Para os efeitos desta Lei, considera-se:
I. Informação: dados, processados ou não, que podem ser utilizados para produção e
transmissão de conhecimento, contidos em qualquer meio, suporte ou formato;

i) Cortesia
O destinatário do serviço público deve ser tratado com cortesia e urbanidade.
Frise-se que o serviço prestado é decorrente de um dever do Poder Público, ou de
quem lhe faça às vezes, devidamente pago, de forma direta ou indireta pelo usuá-
rio/contribuinte, que tem o direito ao serviço. Assim prevê a lei 13.460/2017[29]:

Art. 5o O usuário de serviço público tem direito à adequada prestação dos serviços,
devendo os agentes públicos e prestadores de serviços públicos observar as seguintes
diretrizes:

I. Urbanidade, respeito, acessibilidade e cortesia no atendimento aos usuários;

capítulo 5 • 122
Dos direitos à adequada prestação de serviço dos direitos básicos e deveres
dos usuários

A adequada prestação dos serviços envolve uma série de direitos e obrigações


impostas aos usuários. A definição do que venha a ser “serviço adequado” foi es-
tabelecida no item 1.2.3. Agora iremos desenvolver o tema por exemplificação do
art. 5o da lei 13.460/2017[30]:
a) Da boa fé na documentação apresentada pelo usuário e autenticada pelo
agente público
O usuário tem a presunção de boa-fé na sua conduta. Isso inclui a apresenta-
ção de qualquer documento por ele apresentado sob a forma de original. E, caso se
tenha necessidade, o agente público não poderá exigir o reconhecimento de firma.
Bastando simples confrontação entre o original e a cópia apresentada, exceto, se
houver dúvida quanto à sua autenticidade o que deverá ser devidamente provado
pela administração pública. Eis que há presunção de boa-fé do usuário. Tal condu-
ta está diretamente fundamentada na lei 13.460/2017[31], art. 5, incisos II, IX e
XV e corroborada pelo Decreto 9.094 de 2017[32], em seus arts. 9 e 10.

Lei 13.460/2017:
Art. 5o O usuário de serviço público tem direito à adequada prestação dos serviços,
devendo os agentes públicos e prestadores de serviços públicos observar as seguin-
tes diretrizes:
(...)
II – presunção de boa-fé do usuário;
(...)
IX. Autenticação de documentos pelo próprio agente público, à vista dos originais apre-
sentados pelo usuário, vedada a exigência de reconhecimento de firma, salvo em caso
de dúvida de autenticidade;
(...)
XV. Vedação da exigência de nova prova sobre fato já comprovado em documentação
válida apresentada.

Decreto 9.094/2017:
Art. 9o Exceto se existir dúvida fundada quanto à autenticidade ou previsão legal, fica
dispensado o reconhecimento de firma e a autenticação de cópia dos documentos ex-
pedidos no país e destinados a fazer prova junto a órgãos e entidades do Poder Execu-
tivo federal.
Art. 10. A apresentação de documentos por usuários dos serviços públicos poderá ser
feita por meio de cópia autenticada, dispensada nova conferência com o documento
original.

capítulo 5 • 123
§ 1o A autenticação de cópia de documentos poderá ser feita, por meio de cotejo da
cópia com o documento original, pelo servidor público a quem o documento deva ser
apresentado.
§ 2o Constatada, a qualquer tempo, a falsificação de firma ou de cópia de documento
público ou particular, o órgão ou a entidade do Poder Executivo federal considerará não
satisfeita a exigência documental respectiva e, no prazo de até cinco dias, dará conhe-
cimento do fato à autoridade competente para adoção das providências administrativas,
civis e penais cabíveis.

b) Dos direitos básicos do usuário


A expressão direitos básicos é consagrada na lei 8.078 de 1990, que elenca em
seu art. 6, dez incisos (sendo um deles vetado), direitos que lhe sejam inerentes e
absolutamente indissociáveis, é impossível (tecnicamente) argumentar qualquer
direito do consumidor sem elencar um e fatalmente mais de um dos seus incisos,
que apenas por amor à docência (e um pouco de curiosidade) tem no seu inciso X
um perfeito exemplo ao tema discutido. Eis o seu texto:

Lei 8.078/1990[33]:
X. A adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

Como já fortemente discutido no item 1.2.3, o serviço adequado é aquele (lei


8.987/1995, art. 6o, § 1º[34])

(...) satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualida-


de, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.

Por consectário óbvio, é indiscutível a sua aplicabilidade por ser um direito


básico. Estabelecido em uma relação de associação entre o consumidor/usuário
e a administração pública. Eis que o consumidor tem o direito e o fornecedor
(prestador de serviço público) deve fazê-lo de forma a cumprir o princípio do
serviço adequado.
Em sede da lei 13.460 de 2017[35] temos o mesmo sentido de ser indissociá-
vel pelo fato de ser um direito básico, mas correlacionado ao usuário. E que assim
se apresenta, por exemplificação.

Art. 6o São direitos básicos do usuário:


(...)

capítulo 5 • 124
Podemos, resguardada as devidas proporções estabelecer um parâmetro entre
os direitos básico e o art. 5o da CRFB/1988[36], pois temos um verdadeiro siste-
ma de supra proteção que supera a contumaz proteção das previsões legais estatuí-
das nas mais diversas normas. Comparamos os “Direitos Básicos” aos “Direitos e
Garantias Fundamentais” da Constituição.

CRFB/1988:
Art. 5o Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

Em uma singela figura, podemos dizer que os direitos básicos contêm toda
a essência e motivação de existência da própria norma. Assim como o é na
Constituição Federal.

Art. 6º Art. 5º

CPDUSP/2017* CF/1988

Figura 5.1  –  Código de Proteção e Defesa do Usuário de Serviço Público de 2017.

Considerando o tema central deste item, temos no art. 6, II da Lei


13.460/2017[37] o seguinte texto:

Art. 6o São direitos básicos do usuário:


(...)

II. Obtenção e utilização dos serviços com liberdade de escolha entre os meios ofere-
cidos e sem discriminação;

Tal direito básico possibilita, em um diálogo com a Lei 8.078/1990 em seus


arts. 6, II e 39, I, combinado com a Lei 8.987/1995, art. 7o, estabelecer dois di-
reitos. O primeiro diz respeito à liberdade de escolha diante da “venda casada”.
Aquela que condiciona a venda de um produto a outro ou um serviço a outro
sem que possa ter a liberdade de opção. O segundo direito lhe é conferido pela
lei 8.987/1995, pela qual é direito do usuário optar por uma dentre seis datas de

capítulo 5 • 125
vencimento para fins de pagamento da prestação de serviços. Tudo em conformi-
dade com as seguintes transcrições.

Lei 8.078/1990[38]:
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
II. A educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asse-
guradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;

Art. 39[39]. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práti-


cas abusivas:
I. Condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produ-
to ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos;

Lei 8.987/1995[40]:
Art. 7o A As concessionárias de serviços públicos, de direito público e privado, nos Esta-
dos e no Distrito Federal, são obrigadas a oferecer ao consumidor e ao usuário, dentro
do mês de vencimento, o mínimo de seis datas opcionais para escolherem os dias de
vencimento de seus débitos.

c) Dos deveres dos usuários


Indo além do dever óbvio do usuário que é o de adimplir para com a obriga-
ção do pagamento (art. 6, §3o, II da lei 8.987/1995), que pode gerar uma hipótese
legal de descontinuidade (interrupção/corte) do respectivo serviço, temos ainda,
nos termos da lei 13.460/201741 o seguinte dever pertinente ao usuário:

Art. 8o São deveres do usuário:


(...)
IV. Preservar as condições dos bens públicos por meio dos quais lhe são prestados os
serviços de que trata esta lei.

Preservar tais bens significa nada mais do que zelar pelos equipamentos pú-
blicos que se prestam para servir a todos os usuários. Exemplo singelo é o do
cabeamento, transformadores, tubulações entre tantos outros e o interessante que,
desde 1985, a lei 8.987[42] assim prevê:

Art. 7o Sem prejuízo do disposto na lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, são direitos
e obrigações dos usuários:
(...)

VI. Contribuir para a permanência das boas condições dos bens públicos através dos
quais lhes são prestados os serviços.

capítulo 5 • 126
Como se lê, excetuado o inciso, temos texto idêntico que certamente serviu
de base para a confecção da lei atual. Eis que é dever de todo usuário manter os
equipamentos e agregados em bom funcionamento para o seu próprio interesse.

Das sanções e responsabilidade civil

Toda lei para que tenha a sua efetiva aplicabilidade, deve ter uma sanção ra-
zoável e que efetivamente puna o ofensor pela sua conduta. Não poderia ser di-
ferente nos termos das normas que estão sendo estudadas. O Decreto 9.094 de
2017[43], que regulamenta a lei 13.460/2017 prevê, no seu art. 16, as sanções
pelo descumprimento no decreto propriamente dito e, por analogia, à lei citada.

Decreto 9.094/2017:
Capítulo V – Das sanções pelo descumprimento
Art. 16. O servidor público ou o militar que descumprir o disposto neste Decreto estará
sujeito às penalidades previstas, respectivamente, na lei 8.112, de 11 de dezembro de
1990, e na lei 6.880, de 9 de dezembro de 1980.
Parágrafo único. Os usuários dos serviços públicos que tiverem os direitos garantidos
neste Decreto desrespeitados poderão representar ao Ministério da Transparência e
Controladoria-Geral da União.

Temos então a correlação entre o decreto e as leis que preveem as penalidades.


A lei 8.112 de 1990[44] – Lei dos Servidores Federais – tipifica as condutas que
podem variam entre a advertência e a demissão do agente público federal.

Capítulo V – Das penalidades


Art. 127. São penalidades disciplinares:

I. Advertência;
II. Suspensão;
III. Demissão;
IV. Cassação de aposentadoria ou disponibilidade;
V. Destituição de cargo em comissão;
VI. Destituição de função comissionada.

Não será objeto de análise a lei 6.880, de 9 de dezembro de 1980 – Estatuto


dos Militares, pelo fato de nos centrarmos aos ilícitos civis.

capítulo 5 • 127
Por outro lado, a lei 8.112/1990 se restringe aos servidores públicos federais.
Entretanto a lei 13.460/2017 estabelece em seu art. 1o §1o que o disposto nesta,
e por consequência no Decreto 9.094/2017, a ampliação a todos os servidores
da própria União, Estados, Distrito Federal e Município. Devendo ser avalia-
da casuisticamente.
Complementando o texto das sanções, ou melhor, até mesmo superando, o
art. 37, §6o da CRFB/1988[45] fundamenta a responsabilidade civil da admi-
nistração pública. Esta é bifurcada em bifurcação e nos conduz à necessidade de
sabermos a diferença entre os serviços públicos (uti universi) e os serviços de uti-
lidade pública (uti singuili).

CRFB/1988:
Art. 37 (...)
§ 6o As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de ser-
viços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem
a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo
ou culpa.

Os serviços públicos propriamente ditos (ou uti universi), são os que a


Administração presta diretamente à comunidade, por reconhecer a sua essenciali-
dade e necessidade para a sobrevivência do grupo social e do próprio Estado. Neste
sentido só a Administração deve prestá-los, sem delegação a terceiros, pois exigem
atos de império em relação aos administrados. Exemplos desses serviços são os de
defesa nacional, os de polícia, os de preservação da saúde pública.
Já os serviços de Utilidade Pública (ou uti singuili), são os que a Administração,
reconhecendo a sua conveniência (não essencialidade, nem necessidade) para os
membros da coletividade, presta-os diretamente, ou aquiesce em que sejam pres-
tados por terceiros (concessionários ou permissionários). Nas condições regula-
mentadas e sob seu controle, mas por conta e risco dos prestadores, mediante re-
muneração dos usuários. São exemplos dessa modalidade os serviços de transporte
coletivo, energia elétrica, gás, telefone.

Considerações finais – Código de proteção e defesa do usuário de serviços


públicos

Por fim, neste primeiro tema, devemos refletir sobre a aplicação da lei
13.460/2017 no cenário específico e a sua conjugação com outro sem número de

capítulo 5 • 128
normas. Destacamos a sua breve existência (em sede de alguns meses) nos remete
a um sem limites de possibilidades sequer avaliados. Tanto que inexiste, até o mo-
mento, sua aplicabilidade fática resulta em alguma demanda que resulta em uma
jurisprudência.

Drones

Drones são veículos aéreos, não tripulados, guiados remotamente por con-
troles a fim de realizar diversas tarefas. Cada vez mais presentes no cotidiano de
diversas pessoas ao redor do mundo, seus usos variam desde aplicações de hobby
até operações comerciais. Algumas empresas já contam com esta tecnologia para
desenvolver seus negócios.
Dentre as muitas possibilidades que os drones trazem à sociedade está a de
apresentar soluções para diferentes setores do mercado e indústria. Empresas por
exemplo, trabalham com o desenvolvimento à fabricação e operação de drones
para diversos públicos, desenvolvendo tecnologia para tornar o seu uso mais fácil
e seguro.
Os equipamentos são amplamente aplicados em inspeções, em áreas de difícil
acesso ou de risco, devido a sua grande eficiência, principalmente na área de ener-
gia e de segurança pública e privadas governamentais. No Brasil, os drones preci-
sam alcançar áreas extensas, diferentemente de aparelhos produzidos no exterior.
Um exemplo é o setor agrícola. Para obter maior precisão, a tecnologia oferece
soluções que ajudam a realizar o mapeamento precoce de pragas e doenças da
região até a pulverização de agentes químicos.
Outra área que também pode usufruir os equipamentos aéreos é a da topografia.
Entre as funcionalidades apresentadas, está a capacidade de calcular a exten-
são, variações e fotografias do terreno. Na área de mineração, a utilização de dro-
nes é um caminho moderno, seguro e preciso para inúmeros fins, entre eles o
cálculo de volume de terra, sem descuidar da segurança do profissional em áreas
de risco e de difícil acesso. Na segurança pública, o drone tem ajudado no mapea-
mento das áreas, tornando mais fácil a identificação de rotas de fuga no momento
da invasão da polícia, também ajudando a identificar os locais onde os criminosos
jogam as drogas e objetos de furtos.
A utilização dos drones no cotidiano, sem dúvida, fomenta inúmeros debates.
Há um campo teórico aberto. A nova geração destas máquinas voadoras poderá

capítulo 5 • 129
ver tudo, ao mesmo tempo em que permanece confortavelmente invisível, literal
e metaforicamente.
Vamos estudar as fundamentações de suas normas.

Fundamentação

Apresentamos, por simples exemplificação, as seguintes previsões legais:

•  Constituição Federal de 1988[46].


•  Lei 7.565 de 1986[47] – Código Brasileiro de Aeronáutica.
•  Lei complementar 97 de 1999[48] – dispõe sobre as normas gerais para a organiza-
ção, o preparo e o emprego das Forças Armadas.
•  Decreto-lei 2.848 de 1940[49] – Código Penal.
•  Decreto-lei 3.688 de 1941[50] – Lei das Contravenções Penais.
•  Lei 10.406 de 2002[51] – Código Civil.
•  Lei 8.078 de 1990[52] – Código de Proteção e Defesa do Consumidor.

De uma forma específica trataremos das seguintes normas:

•  ANAC – Resolução 419 de 2017[53] – Aprova o Regulamento Brasileiro da Aviação


Civil Especial (RBAC–E) no 94 de 2015.
•  RBAC–E no 94 de 2015[54] – Regulamento Brasileiro da Aviação Civil Especial.
•  Resolução ANATEL 242 de 2000[55] – Aprova o Regulamento para Certificação e
Homologação de Produtos para Telecomunicações.
•  RBAC 175 de 2009[56]–Instrução Suplementar – Cargas Perigosas em aeronaves
civis.
•  CA 100-40 de 2016[57] – Trata dos Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas
e o Acesso ao Espaço Aéreo Brasileiro.

Antes de avançarmos sobre o tema propriamente dito, é de suma importância


frisar que a competência para regulamentar a matéria é exclusiva da União, por
ser indelegável. Tal caráter normativo de exclusividade se deve ao fato de haver ne-
cessidade de uma base nacional territorial de condutas. Tais como de fiscalização,
planos de voo, manutenção, infraestrutura, aeroportos etc. como se vê no art. 21
da CRFB/88[58].

capítulo 5 • 130
Art. 21. Compete à União:
(...)
XII. Explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
(...)

c) A navegação aérea, aeroespacial e a infra–estrutura aeroportuária.

Aspectos relevantes

As normas que iremos apresentar e refletir estão alinhadas a conceitos regula-


tórios de ordem internacional e tem como objetivo o de estabelecer uma seara de
conduta para o desenvolvimento do mercado, com segurança para toda a socieda-
de e respeitando o seu livre arbítrio como cidadão.
O regulatório é justificado pela perspectiva de que no futuro ocorrerão signi-
ficativos avanços neste produto/serviço. E que deverão ser devidamente normati-
zados, especialmente quanto à responsabilidade civil.
Vamos estudar seus aspectos jurídicos sob os seguintes eixos:

2.2.1– Drone, aeromodelo/RPA (ou VANT)


2.2.2 – Definição do usuário/explorador/piloto
2.2.3 – Responsabilidades

Drone

Partiremos do principal objetivo de discussão do tema, o drone, destacando


que todos os critérios são eminentemente técnicos.

VANT / RPA – Definição e matrícula

Por uma questão popular, talvez centrada na usabilidade e popularização da


expressão, atribui-se o nome do equipamento em debate de “drone”.
Em português, o drone também pode ser chamado de VANT (veículo aéreo
não tripulado), sigla para veículo aéreo não tripulado. A origem do nome “drone”
vem do inglês, que significa “zangão”. Originalmente criado e utilizado na in-
dústria bélica, o dispositivo vem ganhando diversas aplicações úteis na sociedade
como mapear, inspecionar e apresentar soluções.

capítulo 5 • 131
Destacamos que a nomenclatura RPA (Remotely-Piloted Aircraft) e VANT
podem ser considerada para a responsabilidade civil, como expressões sinônimas.
Entretanto, vamos às nomenclaturas expressas na óptica técnica, como abai-
xo descrito:

RBAC-E no 94/2015 – Regulamento Brasileiro da Aviação Civil Especial[59]


E94.3 Definições
(a) Para os propósitos deste Regulamento Especial são válidas as definições a seguir:
(1) aeromodelo significa toda aeronave não tripulada com finalidade de recreação;
(2) Aeronave Remotamente Pilotada (Remotely-Piloted Aircraft – RPA) significa a
aeronave não tripulada pilotada a partir de uma estação de pilotagem remota com
finalidade diversa de recreação.
ICA 100-40 de 2016 – Trata dos Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilota-
das e o Acesso ao Espaço Aéreo Brasileiro[60]:
2. Definições e abreviaturas
2.1.6 Aeronave Remotamente Pilotada (RPA)
Aeronave não tripulada pilotada a partir de uma estação de pilotagem remota, utilizada
com propósitos não recreativos.

Considerando a existência fática do RPA este deverá, para ter uma existência
jurídica que permita a sua identificação, individualização, nacionalidade entre ou-
tros dados, ser matriculado, tal qual como as marcas de uma aeronave tripulada.

ICA 100-40 de 2016 – Trata dos Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilota-


das e o Acesso ao Espaço Aéreo Brasileiro[61]
6 Registro da RPA
6.1 O Código Brasileiro de Aeronáutica prevê, em seu artigo 20, que, “salvo permis-
são especial, nenhuma aeronave poderá voar no espaço aéreo brasileiro, aterrissar no
território subjacente ou dele decolar, a não ser que tenha marcas de nacionalidade e
matrícula…”

Resolução Anatel 242 de 2000 – Aprova o Regulamento para Certificação e Ho-


mologação de Produtos para Telecomunicações

Considerando que os drones (sejam aeromodelos ou RPA) caracterizam-se


pela condução por meio de um piloto desembarcado. Para tanto, é necessária
uma operação de rádio-controle que necessitará de um equipamento que trans-
mita o comando de um ponto (controle remoto) para o equipamento que está
em aeronavegação. Esta transmissão de dados deve ser feita em um faixa que

capítulo 5 • 132
permita, concomitantemente, exatidão e não interferência no comando. Daí
a obrigatoriedade da chancela de homologação pela Anatel (Agencia Nacional
de Telecomunicações).
A matéria é regulada pela Resolução Anatel 242/2000[62] – apro-
va o Regulamento para Certificação e Homologação de Produtos para
Telecomunicações, vamos aos seus principais aspetos relativos ao tema.

Resolução Anatel 242/2000 – aprova o Regulamento para Certificação e Homologa-


ção de Produtos para Telecomunicações.
Art. 2o Constituem princípios gerais dos processos de certificação e de homologação de
produtos para telecomunicação:

I. Assegurar que os produtos comercializados ou utilizados no país estejam em con-


formidade com os Regulamentos editados ou com as normas adotadas pela Anatel;
II. Assegurar que os fornecedores dos produtos atendam a requisitos mínimos de
qualidade para seus produtos;
III. Assegurar que os produtos para telecomunicação comercializados no país, em
particular aqueles ofertados pelo comércio diretamente ao público, tenham um padrão
mínimo de qualidade e adequação aos serviços a que se destinam;

Considerando a o princípio Constitucional Fundamental da livre iniciativa


(CRFB/1988 art. 1, IV), qualquer pessoa pode se habilitar em fornecer produtos
correlacionados aos drones. Mas para tanto este deverá passar pelo crivo da Anatel
quanto à sua homologação e consequente certificação.

Resolução Anatel 242/2000 – Aprova o Regulamento para Certificação e Homologa-


ção de Produtos para Telecomunicações[63].
Art. 3o Para os efeitos deste Regulamento aplicam-se as seguintes definições:
(...)

IV. Certificação: conjunto de procedimentos regulamentados e padronizados que re-


sultam na expedição de Certificado ou Declaração de Conformidade específicos para
produtos de telecomunicação;
VIII. Homologação: ato privativo da Anatel pelo qual, na forma e nas hipóteses previstas
neste Regulamento, a Agência reconhece os certificados de conformidade ou aceita as
declarações de conformidade para produtos de telecomunicação;
XIV. Terceira parte: pessoa ou organismo que age com total independência de fabrican-
tes, fornecedores, prestadoras de serviços de telecomunicações ou potenciais compra-
dores do produto;

capítulo 5 • 133
XVI. Telecomunicação: transmissão, emissão ou recepção, por fio, radioeletricidade,
meios ópticos ou qualquer outro processo eletromagnético, de símbolos, caracteres,
sinais, escritos, imagens, sons ou informações de qualquer natureza;
XVII. Produto para telecomunicação: equipamento, aparelho, dispositivo ou elemento
que compõe meio necessário ou suficiente à realização de telecomunicação;

Definição do usuário/explorador/piloto

A definição da pessoa que utiliza um RPA ou aeromodelo é relevante para a


responsabilidade civil, independentemente do seu uso profissional ou recreativo.
Destacamos que o peso, a altura e o ambiente por onde ele navegará são pontos a
serem avaliados para a tipificação dos pressupostos da responsabilidade.

Pessoa que utiliza um drone

A pessoa humana é o “piloto” do RPA. Considerando que este equipamento


tem como uma de suas características a condução da aeronave de forma desembar-
cada, esta nomenclatura é substituída pelo termo técnico explorador (ou operador).
Caso o explorador seja funcionário de uma empresa, por força legal, a empresa
responderá pelos seus atos (art. 932, III do CC). Devido ao seu uso com intuito
profissional, sua responsabilidade será objetiva (parágrafo único do art. 927 do
CC). Para isso nos servimos das seguintes definições da ICA 100-40 de 2016[64].

ICA 100-40 de 2016 – Trata dos Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas e o


Acesso ao Espaço Aéreo Brasileiro
2. Definições e abreviaturas
2.1.24 Explorador
Pessoa, organização ou empresa que se dedica ou se propõe a se dedicar à
exploração de aeronaves.
7 Responsabilidades do explorador/operador de RPAS
7.1 O explorador (também definido como operador em algumas legislações) é a pessoa,
organização ou empresa que se dedica ou se propõe a se dedicar à exploração de ae-
ronaves. No contexto de Aeronaves Remotamente Pilotadas, a exploração da aeronave
inclui todo o Sistema de Aeronaves Remotamente Pilotadas.

capítulo 5 • 134
O operador de um aeromodelo (drone de uso recreativo) não necessita de
treinamento ou licença específica. Mas isso não o exime da responsabilidade. A
responsabilidade poderá ser objetiva, se a navegação foi efetivada de forma abusiva
(art. 187 do CC), ou subjetiva (art. 186 do CC) em sendo culposa.
O tema responsabilidade será abordado no item 2.2.3.

Pessoa anuente

Uma pessoa que se relacione ao voo do drone (por recreação ou profissional-


mente), desde que concorde que este equipamento seja operado próximo de si ou
de terceiros sob a sua responsabilidade é denominado de pessoa anuente. Assim
define o RBAC-E no 94/201565

RBAC-E no 94/2015 – Regulamento Brasileiro da Aviação Civil Especial


E94.3 Definições
(11) pessoa anuente significa uma pessoa cuja presença não é indispensável para que
ocorra uma operação de aeronave não tripulada bem-sucedida, mas que por vontade
própria e por sua conta e risco concorde, expressamente, que uma aeronave não tripu-
lada opere perto de sua própria pessoa ou de seus tutelados legais sem observar os
critérios das áreas distantes de terceiros.
Nota: considerando o princípio da autonomia e que o cidadão tem o direito de assumir
e administrar o próprio risco quando somente ele ou seus tutelados legais (no caso de
menores de idade) estarão expostos, a ANAC permite a operação de aeronaves não
tripuladas perto de pessoas sem observar os critérios das áreas distantes de terceiros,
desde que essas pessoas tenham dado expressamente a sua anuência, manifestan-
do dessa forma a sua vontade. Contudo, a ANAC esclarece àqueles que livremente
optarem por dar essa anuência que não é possível garantir um nível de risco aceitável
de segurança operacional e que o controle da exposição a esse risco é de sua inteira
responsabilidade.

Documentos

O RPA e o aeromodelo, com limitação de 250 g, considerando o seu uso ex-


clusivamente recreativo não necessita de documentação, como prevê o RBAC-E
no 94/2015. Isso perante a ANAC, em se tratando de outro órgão poderá haver a
necessidade de outras documentações.

capítulo 5 • 135
RBAC–E no 94/2015 – Regulamento Brasileiro da Aviação Civil Especial[66]
E94.701 Contravenções
(b) Todos os operadores de aeromodelos e de RPA até 250 gramas de peso máximo
de decolagem são considerados como devidamente licenciados, para os efeitos de apli-
cação do art. 33 do Decreto-Lei no 3.688, de 3 de outubro de 1941, por força deste
Regulamento Especial, sem necessidade de ter documento emitido pela ANAC.
Nota: os documentos anteriormente listados abrangem somente os que são requeridos
possuir por parte da ANAC. Outros documentos podem ser necessários por parte do
DECEA, da Anatel, ou de outros órgãos competentes.

Por outro lado, o RPA com peso acima de 250 g necessita de documentação
para seu emprego. Destacamos que a documentação é obrigatória e abrange não
apenas a relativa ao equipamento como também ao explorador (ou operador) que
consiste em uma licença/habilitação para a pilotagem do RPA. Como determina
o RBAC-E no 94/2015[67].

RBAC-E no 94/2015 – Regulamento Brasileiro da Aviação Civil Especial


E94.19 Porte de documentos
Somente é permitido operar uma RPA de peso máximo de decolagem acima de
250 gramas se, durante toda a operação, estiverem disponíveis na RPS os seguin-
tes documentos:
(a) a Certidão de Cadastro, o Certificado de Matrícula ou o Certificado de Marca Expe-
rimental, conforme aplicável, todos válidos;
(b) o certificado de aeronavegabilidade válido, se aplicável;
(c) o manual de voo;
(d) a apólice de seguro ou o certificado de seguro com comprovante de pagamento,
dentro da validade, se aplicável;
(e) documento que contém a avaliação de risco a que se referem os parágrafos
E94.103(f)(2) e E94.103(g)(2) deste Regulamento Especial;
(f) licença, habilitação e extrato do CMA, válidos e conforme aplicáveis segundo este
Regulamento Especial.
Nota: os documentos anteriormente listados abrangem somente os que são requeridos
ter por parte da ANAC. Outros documentos podem ser necessários por parte do DE-
CEA, da Anatel, ou de outros órgãos competentes.

Responsabilidades

Após a definição do operador e do drone (RPA/Aeromodelo), estudaremos a


relação entre estes e a responsabilidade civil. Estes institutos já foram analisados
nos capítulos 1, 2, 3 e 4. Agora iremos a apresentar parte das normas específicas
que regulam o tema principal.

capítulo 5 • 136
Convém afirmar que a temática é nova e carece de doutrina jurídica especiali-
zada. Inexistindo, inclusive, decisões jurídicas a respeito. Nosso principal objetivo
é o de apresentar o tema à reflexão.

Regras Gerais

A própria nomenclatura afirma que são regras gerais. Uma característica das
normas pertinentes à aviação, como consequência de suas multioperações (nacio-
nais, estrangeiras, com piloto, com explorador, civis, recreativas, não recreativas,
militares etc.). Isso sem contar os diversos órgãos que têm gerenciamento direto
sobre o tema (ANAC, DECEA, Anatel, SRFB etc.) que possibilitam é um número
absurdo de normas e subnormas, todas com aplicabilidade concomitante. Sendo
assim iremos apresentar apenas o regramento geral, sendo necessário o devido
estudo com a sua especificidade ao caso concreto.

RBAC-E no 94/2015 – Regulamento Brasileiro da Aviação Civil Especial[68]


E94.103 Regras gerais para a operação de aeronaves não tripuladas
(a) É proibido o transporte de pessoas, animais, artigos perigosos referidos no RBAC no
175 ou carga proibida por autoridade competente, em aeronaves não tripuladas.
(b) É vedado operar uma aeronave não tripulada, mesmo não sendo com o propósito de
voar, de maneira descuidada ou negligente, colocando em risco vidas ou propriedades
de terceiros.
(c) É proibida a operação autônoma de aeronaves não tripuladas.

Destacamos que o drone com peso menor ou maior de 250 g define a ne-
cessidade de uma série de itens agregados. Como o seguro, decolagem, pouso
e emprego.

RBAC-E no 94/2015 – Regulamento Brasileiro da Aviação Civil Especial[69]


E94.103 Regras gerais para a operação de aeronaves não tripuladas
(d) Todas as operações de aeronaves não tripuladas de uso não recreativo acima de
250 gramas de peso máximo de decolagem devem ter seguro com cobertura de danos
a terceiros, exceto as operações de aeronaves pertencentes a entidades controladas
pelo Estado.
(e) A operação de aeromodelos de peso máximo de decolagem acima de 250 gramas
somente é permitida pela ANAC em áreas distantes de terceiros, sob total responsabili-
dade do seu operador, conforme permitido o uso do espaço aéreo pelo DECEA.

capítulo 5 • 137
(f) A operação de RPA de peso máximo de decolagem acima de 250 gramas somente
é permitida pela ANAC em áreas distantes de terceiros, conforme permitido o uso do
espaço aéreo pelo DECEA, sob total responsabilidade do seu operador, nas seguin-
tes condições:

E94.17 Descumprimento às regras estabelecidas


(a) O não cumprimento dos requisitos estabelecidos neste Regulamento Especial será
apurado e os infratores estarão sujeitos às sanções previstas na lei 7.565/86 (CBA).

Ambientes de área e operações do RPA

Um RPA opera nas seguintes condições[70]:


•  Operação BVLOS: operação na qual o piloto não consegue manter a RPA
dentro de seu alcance visual, mesmo com a ajuda de um observador.
•  Operação VLOS: operação na qual o piloto mantém o contato visual direto
com a RPA (sem auxílio de lentes ou outros equipamentos).
•  Operação EVLOS: operação na qual o piloto remoto só é capaz de manter
contato visual direto com a RPA com auxílio de lentes ou de outros equipamentos
e de observadores de RPA.
•  Piloto remoto: pessoa que manipula os controles e conduz o voo de uma
aeronave não tripulada.
TIPOS DE OPERAÇÃO
BVLOS VLOS EVLOS

Considerando o ambiente de emprego do drone, é necessário conhecer e


definir os conceitos de área perigosa, proibida e restrita, confinadas, próximas a
obstáculos, sobre áreas povoadas, distante de terceiros e remotamente pilotada.
Tudo nos termos do ICA 100-40 de 2016[71] e do RBAC-E no 94/2015[72]
como a seguir transcrito.

capítulo 5 • 138
ICA 100-40 de 2016 – Trata dos Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilota-
das e o Acesso ao Espaço Aéreo Brasileiro
2. Definições e abreviaturas
2.1.8 Área perigosa
Espaço aéreo de dimensões definidas, dentro do qual possam existir, em momentos
específicos, atividades perigosas para o voo de aeronaves.
2.1.9 Área proibida
Espaço aéreo de dimensões definidas, sobre o território ou mar territorial brasileiro, den-
tro do qual o voo de aeronaves é proibido.
2.1.10 Área restrita
Espaço aéreo de dimensões definidas, sobre o território ou mar territorial brasileiro, den-
tro do qual o voo de aeronaves é restringido conforme certas condições definidas.
11.2.2 Operações RPAS em áreas confinadas
11.2.2.1 Os voos no interior de prédios e construções fechadas, mesmo que
parcialmente, incluindo ginásios, estádios e arenas a céu aberto (até o limite vertical da
sua estrutura lateral) são de total responsabilidade do proprietário da estrutura ou do
locatário do imóvel e deverão estar autorizados pelo mesmo, já que não são consi-
derados “espaços aéreos” sob a responsabilidade do DECEA, não sendo regulados
por esta Instrução.
11.2.3 Operações RPAS próximas a obstáculos
11.2.3.1 Conforme representado na figura 1, em se tratando de espaço ao ar livre, não
serão considerados “espaços aéreos”, sob a responsabilidade do DECEA, a porção de
espaço em torno da maior estrutura ou obstáculo, quer seja artificial ou natural, limitada
verticalmente pela altura da estrutura e distante até 30 m dela e distante, no mí-
nimo, 3 NM (5 km) de aeródromos cadastrados, sendo de total responsabilidade do
proprietário ou locatário da estrutura e deverão estar autorizados pelo mesmo.
11.2.4 Operação RPAS sobre áreas povoadas
11.2.4.1 A operação RPAS sobre aéreas povoadas ou aglomerações de pessoas, não
anuentes, terá a análise da autorização condicionada às certificações de todo o sistema,
em especial a de aeronavegabilidade, cabendo ao explorador/operador a obtenção da
mesma junto às agências reguladoras.

RBAC-E no 94/2015 – Regulamento Brasileiro da Aviação Civil Especial


E94.3 Definições
(3) área distante de terceiros significa área, determinada pelo operador, considerada a
partir de certa distância horizontal da aeronave não tripulada em operação, na qual pes-
soas não envolvidas e não anuentes no solo não estão submetidas a risco inaceitável
à segurança. Em nenhuma hipótese a distância da aeronave não tripulada poderá ser
inferior a 30 metros horizontais de pessoas não envolvidas e não anuentes com a opera-
ção. O limite de 30 metros não precisa ser observado caso haja uma barreira mecânica
suficientemente forte para isolar e proteger as pessoas não envolvidas e não anuentes
na eventualidade de um acidente;
Nota: O limite de 30 m, neste caso, é critério para a aplicação das regras da ANAC.
O acesso ao espaço aéreo é de competência do DECEA, o qual poderá estabelecer
limites inferiores de maior magnitude.

capítulo 5 • 139
Com fins de melhor ilustração, deste conceito, colacionamos a seguinte
figura[73]:

30 METROS

ALTURA DA
ESTRUTURA ARTIFICIAL
OU NATURAL

Caso ocorra alguma falha na operação de controle realizada pelo explorador,


o drone é equipado com um sistema que permite o seu retorno ao ponto no qual
este se encontra. É a chamada operação remotamente pilotada, conforme acentua
o RBAC-E no 94/2015[74].

RBAC-E no 94/2015 – Regulamento Brasileiro da Aviação Civil Especial


(10) operação remotamente pilotada significa a operação normal de uma aeronave não
tripulada durante a qual é possível a intervenção do piloto remoto em qualquer fase do
voo, sendo admitida a possibilidade de voo autônomo somente em casos de falha do
enlace de comando e controle, sendo obrigatória a presença constante do piloto remoto,
mesmo no caso da referida falha do enlace de comando e controle.

Uso do espaço aéreo brasileiro

Além do local, o acesso e a trajetória são relevantes. Uma vez que a “estrada
virtual” por onde percorrerá o drone tem uma série de limitações, principalmente,
em linhas gerais, não voar próximo a outra aeronave (tripulada ou não). Como se
lê no ICA 100-40 de 2016[75].

ICA 100–40 de 2016 – Trata dos Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilota-


das e o Acesso ao Espaço Aéreo Brasileiro
11 Regras de acesso ao espaço aéreo
11.1.1 Uma Aeronave Remotamente Pilotada somente poderá acessar o Espaço Aéreo
Brasileiro, após a emissão, por parte do Órgão Regional do DECEA responsável pelo
espaço aéreo onde ocorrerá o voo, de uma autorização especial, em consonância com
o art. 80 da Convenção de Chicago.

capítulo 5 • 140
11.1.4 O voo de uma RPA deverá manter-se afastado da trajetória de outra aeronave,
tripulada ou não, evitando passar à frente, por baixo ou por cima. Não terá, portanto,
prioridade no direito de passagem sobre uma aeronave tripulada.

Responsabilidade pelo RPA

a) Responsabilidade direta do explorador/operador do RPA


O explorador (piloto) do drone tem uma inequívoca responsabilidade pela
condução do seu equipamento, pois existe a possibilidade de estas operações sejam
mais complexas que aquelas da aviação tripulada, requerendo que os exploradores
possuam um certificado emitido por autoridade competente que garanta respon-
sabilidades específicas. Nos seguintes termos.

ICA 100–40 de 2016 – Trata dos Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilota-


das e o Acesso ao Espaço Aéreo Brasileiro[76]
7 Responsabilidades do explorador/operador de RPAS
7.3 O explorador RPAS é responsável pela condução segura de todas as operações,
bem como pelo gerenciamento do seu pessoal (incluindo programa de treinamento,
composição da equipe, procedimentos de transferência de pilotagem, controle de fa-
diga etc.), pela manutenção (programa de manutenção, registros pela documentação
(manuais, certificados, licenças, registros, log book, informações etc.), pelos contratos
prestados pelos provedores de serviços (por exemplo, prestadores de serviços de co-
municação) e pela proteção e salvaguarda da operação (segurança da Estação de Pilo-
tagem Remota, preservação dos dados etc.).
7.4 No Brasil, a Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC é o Órgão responsável por
certificar os exploradores/operadores, abrangendo as responsabilidades sobre o voo, o
cumprimento das regras de tráfego aéreo, voo em baixas altitudes, operações de pouso
e decolagem, voo sobre áreas povoadas, dentre outras.

b) Salvaguarda e investigação
Em termos práticos, a salvaguarda significa que o explorador é integralmente
responsável pelo emprego do drone. Seja sob critérios físicos do equipamento do
sistema ou da aeronave. Em qualquer ambiente, seja pousado ou mesmo em plena
operação. Tanto que é necessário um seguro para o emprego de drones com mais
de 250 g (conforme RBAC-E no 94/2015 – E94.19 Porte de documentos, item
2.2.2.3 – documentos).

capítulo 5 • 141
ICA 100–40 de 2016 – Trata dos Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilota-
das e o Acesso ao Espaço Aéreo Brasileiro[77]
15.2 Responsabilidade pela salvaguarda
15.2.1 O explorador/operador do RPAS é o responsável por garantir a salvaguarda físi-
ca dos equipamentos do sistema, bem como da aeronave, no solo, embarcado e no ar.

Considerações finais – drones

Avaliando este recente tema, o emprego do drone resulta em uma infinidade


normativa. Na mesma razão de proporção quantos aos órgãos que têm legitimi-
dade de legislar sobre esta matéria. Devido ao fato de ser um tema recente, como
consectário óbvio, inexiste uma doutrina específica e muito menos uma jurispru-
dência que dê amparo à interpretação das normas que lhe são correlatas.

ATIVIDADES
01. Caso 1
Funcionários de uma empresa de prestação de serviços de energia elétrica se dirigem à
residência de uma pessoa com fins de proceder uma verificação no medidor de energia. Sem
o devido aviso prévio de tal visitação e emitem um TOI (Termo de Ocorrência de Irregularida-
de), interrompem o serviço e lacram o medidor. Desesperado, o usuário se dirige ao posto de
atendimento presencial com uma cópia simples de seus documentos de qualificação (identi-
dade, CPF e comprovante de residência) e da conta paga. Estando de posse dos documen-
tos originais para confirmação das informações, o funcionário da empresa argumenta que a
reclamação administrativa tem que ser feita, exclusivamente, com cópias autenticadas e que
nada mais pode fazer. Como patrono da causa, quais seriam seus argumentos jurídicos na
distribuição de uma petição inicial?

02. Caso 2
Durante uma partida de futebol realizada em um estádio particular entre o time da casa e
um adversário, foi realizado antes e durante o intervalo uma ação publicitária com um drone.
Este portava equipamentos de filmagem de alta capacidade e a bandeira do time proprietário
da estrutura com um peso de 500 g. O “piloto”, filho do presidente do clube com 16 anos de
idade, realizava rasantes na torcida que ia à loucura. Ao passar a 15 metros da torcida adver-
sária, o equipamento foi atingido por um objeto que o derrubou em cima dos espectadores.
Causando lesões e uma confusão generalizada que acabou em pancadaria entre as torcidas

capítulo 5 • 142
e consequente paralisação do evento. Todos os fatos descritos foram comprovados por meio
de provas testemunhais e de vídeos oriundo das redes de TV, celulares e câmeras de segu-
rança do estádio. Como patrono de um dos torcedores feridos diretamente pelo drone, quais
seriam seus argumentos jurídicos em uma ação competente visando à responsabilidade civil?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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capítulo 5 • 143
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GABARITO
Capítulo 1
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL No 1.110.283 - PR (2017/0126673-3)53
RELATOR: MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA
AGRAVANTE: SALVADOR MORETTI
ADVOGADO: NEWTON MORETI ABARCA – PR055275
AGRAVADO: IRMAOS MARCONI & CIA LTDA
ADVOGADOS: EDIVAL MORADOR – PR024327
LÚCIO RICARDO RUIZ – PR039760
EIDINALVA DA SILVEIRA MORADOR – PR051168
DECISÃO
Trata-se de agravo nos próprios autos (CPC/2015, art. 1.042), interposto contra decisão
que inadmitiu o recurso especial, diante da incidência das Súmulas n. 7 e 83, do STJ, e au-
sência de demonstração do dissídio interpretativo (e-STJ fls. 442/443).

capítulo 5 • 146
O TJPR proferiu acórdão assim ementado (e-STJ fls. 359/360):
APELAÇÃO CÍVEL DO AUTOR/RECONVINDO – AÇÃO DE COBRANÇA E DE RE-
PARAÇÃO DE DANOS (ACIDENTE DE VEÍCULO) – IMPOSSIBILIDADE DO MANEJO DA
RECONVENÇÃO POR FALTA DE CONEXÃO COM A AÇÃO PROPOSTA. MATÉRIA VEN-
CIDA NO CURSO DA LIDE. DECISÃO IRRECORRIDA ADMITINDO O PROCEDIMENTO.
PRECLUSÃO. NÃO CONHECIMENTO – DENUNCIAÇÃO DA LIDE. INDEFERIMENTO NO
CURSO DO PROCESSO. INEXISTÊNCIA DE RECURSO PRÓPRIO. PRECLUSÃO OPE-
RADA. NÃO CONHECIMENTO – PRESCRIÇÃO. ACIDENTE ENVOLVENDO VEÍCULO DO
APELADO. DESMORONAMENTO DE CAIXAS ENQUANTO AGUARDAVA PARA CARRE-
GAR OS PRODUTOS ADQUIRIDOS. INAPLICABILIDADE DO PRAZO PRESCRICIONAL
OU DECADENCIAL PREVISTO NA LEGISLAÇÃO CONSUMERISTA. TÍPICA AÇÃO DE RE-
PARAÇÃO DE DANOS. PRETENSÃO QUE NÃO É CALCADA EM ACIDENTE DE CONSU-
MO OU DE VÍCIOS DE PRODUTO. PRESCRIÇÃO TRIENAL PREVISTA NO ARTIGO 206, §
3o V DO CÓDIGO CIVIL. PROCESSO EXTINTO EM FACE DA PRESCRIÇÃO. SENTENÇA
REFORMADA. ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA REDISTRIBUÍDO – RECURSO CONHECIDO
EM PARTE E PROVIDO. APELAÇÃO ADESIVA – AÇÃO DE COBRANÇA. PAGAMENTOS
NÃO COMPROVADOS. AUSÊNCIA DE QUITAÇÃO. PRESUNÇÃO DE PAGAMENTO PELA
JUNTADA DE DUPLICATAS INOCORRENTE. AUTOR/CREDOR QUE DETÉM A PRIMEI-
RA VIA DOS TÍTULOS DE CRÉDITO. OUTRAS VIAS DO TÍTULO QUE NÃO PROVAM O
PAGAMENTO DA DÍVIDA – DEMAIS TEMAS PROPOSTOS PREJUDICADOS DIANTE DO
RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO EM FACE DO PEDIDO DE REPARAÇÃO DE DA-
NOS – RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
Os embargos de declaração opostos foram rejeitados (e-STJ fls. 388/400).
No especial (e-STJ fls. 404/418), fundamentado no art. 105, III, alíneas "a" e "c", da CF,
o recorrente alegou afronta aos arts. 12, 14 e 27 do CDC e 189 e 206, § 3o, do CC/2002,
assim como divergência jurisprudencial, argumentando que deveria ser aplicado o prazo
prescricional quinquenal e não o trienal na hipótese dos autos.
Sustentou que o termo inicial para contagem desse prazo deveria ser da data em que a
parte recorrida teve ciência da extensão dos danos.
No agravo (e-STJ fls. 447/462), afirma-se a presença de todos os requisitos de admis-
sibilidade do especial.
Contraminuta apresentada (e-STJ fls. 473/475).
É o relatório.
Decido.
Nota-se que a Corte local, ao julgar a causa, deixou registrado que (e-STJ, fl. 368):
A pretensão do réu-reconvinte é indenizatória e submetida às regras do Código Civil que
prevê no art. 206, § 3o, V, a prescrição para reparação de danos no prazo de três anos.
Vez que o sinistro ocorreu em 27/6/2009 e a reconvenção foi ajuizada apenas
10/10/2012, imperioso o reconhecimento da prescrição, já que não há nos autos indicação
de interrupção ou suspensão deste prazo.

capítulo 5 • 147
Nesse contexto, para se concluir de modo diverso do decidido pelo tribunal de origem,
quanto ao momento em que o autor efetivamente teve ciência inequívoca da extensão dos
danos, seria necessário o reexame do acervo fático-probatório da causa, o que não se admite
em âmbito de recurso especial, consoante a Súmula n. 7 desta Corte.
É de se observar que a decisão proferida pelo Tribunal a quo está em consonância com
a jurisprudência do STJ, a qual se orienta no sentido de que, em se tratando de responsabi-
lidade civil extracontratual, aplica-se o prazo de prescrição trienal da pretensão indenizatória
(art. 206, § 3o, do Código Civil).
Sobre o tema, confiram-se os seguintes julgados:
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZA-
ÇÃO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. PRESCRIÇÃO. ART. 206, § 3o,
V, DO CÓDIGO CIVIL.
1. Tendo o evento danoso ocorrido antes da vigência do atual Código Civil, "é de se aplicar
a prescrição trienal prevista no artigo 206, §3o, inciso V, do Código Civil de 2002, isso por-
que, conforme assentou a jurisprudência desta Corte Superior, se não houver o transcurso de
mais de metade do prazo prescricional da lei anterior, impõe-se a incidência das disposições
do Novo Código Civil (REsp 1.131.125/Rj, Rel. ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TUR-
MA, DJe de 18.5.2011).
2. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no AREsp 569.511/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,
QUARTA TURMA, julgado em 05/02/2015, DJe 13/02/2015.)
DIREITO CIVIL. INDENIZAÇÃO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. PRESCRIÇÃO. ART. 2.028.
REGRA DE TRANSIÇÃO. PRAZO. TERMO INICIAL. DATA DE VIGÊNCIA DO CÓDIGO CIVIL.
1. Em se tratando de responsabilidade civil extracontratual decorrente de acidente de trân-
sito, a jurisprudência do STJ é tranquila quanto a ser trienal o prazo de prescrição da preten-
são indenizatória (art. 206, § 3o, do Código Civil), tendo início na data em que o novo diploma
entrou em vigor, nos termos da regra de transição prevista no art. 2.028.
2. A tese recursal no sentido de que o prazo prescricional deveria se iniciar na data da ciên-
cia inequívoca da extensão do dano não socorre o recorrente. Consta da inicial que tal ciência
teria ocorrido em 6/1/2003, quando os médicos legistas atestaram o grau de lesão. Porém,
no caso, está sendo considerada uma data até posterior a isso, que é o dia 11/1/2003,
quando o Código Civil de 2002 entrou em vigor, o que é mais benéfico ao recorrente e, ainda
assim, não tem o alcance de afastar a prescrição.
3. Agravo não provido.
(AgRg no AREsp 444.375/ES, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 27/03/2014, DJe 07/04/2014.)
No caso dos autos (e-STJ, fl. 368), deve ser mantido o julgado recorrido, pois o sinistro
ocorreu em 27/6/2009 e a reconvenção foi ajuizada apenas 10/10/2012, quando já con-
sumado o prazo prescricional de três anos, tal como decidiu o Tribunal de origem.

capítulo 5 • 148
Ademais, cabe anotar que a aplicação do art. 27 do Código de Defesa do Consumidor, o
qual prevê o prazo de 5 (cinco) anos para ajuizamento da demanda, restringe-se às hipóteses
de responsabilidade decorrente de fato do produto ou do serviço, que não é o caso dos autos,
conforme concluiu o Tribunal a quo.
A propósito, vejam-se os seguintes precedentes:
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDA-
DE CIVIL. INSCRIÇÃO INDEVIDA. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. TERMO INICIAL DA
PRESCRIÇÃO. RECONHECIMENTO PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. CARÊNCIA SUPER-
VENIENTE DE INTERESSE RECURSAL. RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL. EX-
TINÇÃO PELA PRESCRIÇÃO TRIENAL. SÚMULA 83/STJ.
AGRAVO IMPROVIDO.
1. Tendo o acórdão recorrido reconhecido que o termo inicial para contagem do prazo pres-
cricional seria a partir da ciência da inscrição, nesse ponto, carece de interesse processual
a recorrente.
2. No que se refere ao prazo prescricional da ação de indenização por danos morais decor-
rente da inscrição indevida em cadastro de inadimplentes, promovida por instituição financei-
ra ou assemelhada, como no caso dos autos, por tratar-se de responsabilidade extracontra-
tual, incide o prazo de 3 (três) anos previsto no art. 206, § 3o, V, do CC/2002.
3. A aplicação do art. 27 do Código de Defesa do Consumidor, que prevê o prazo de 5
(cinco) anos para ajuizamento da demanda, restringe-se tão somente às hipóteses de res-
ponsabilidade decorrente de fato do produto ou do serviço.
4. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no AREsp 586.219/RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, julgado em 09/12/2014, DJe 15/12/2014.)
CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ES-
PECIAL. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO CPC/73. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO
POR DANO MORAL. INSCRIÇÃO INDEVIDA EM ÓRGÃO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO.
PRESCRIÇÃO TRIENAL. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. Inaplicabilidade do NCPC a este julgamento ante os termos do Enunciado Administra-
tivo no 2 aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos recursos inter-
postos com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março
de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com
as interpretações dadas até então pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.
2. A jurisprudência desta Corte estabelece que a prescrição quinquenal prevista no art. 27
do CDC somente se aplica às demandas nas quais se discute a reparação de danos causa-
dos por fato do produto ou do serviço (AgRg no REsp 1.518.086/RS, Rel. Ministro JOÃO
OTÁVIO DE NORONHA, Terceira Turma, DJe 13/8/2015).
3. Agravo regimental não provido.
(AgRg no AREsp 731.525/RS, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA

capítulo 5 • 149
TURMA, julgado em 23/06/2016, DJe 01/07/2016.)
Verifica-se que não ficou configurada a divergência jurisprudencial, diante da ausência
de similitude entre os arestos comparados. Portanto, é de rigor o não conhecimento do re-
curso especial com fundamento no art. 105, III, "c", da CF.
Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao agravo.
Nos termos do art. 85, § 11, do CPC/2015, majoro em 20% o valor atualizado dos ho-
norários advocatícios arbitrados na origem, observados os limites dos §§ 2o e 3o do referido
dispositivo.
Publique-se e intimem-se.
Brasília-DF, 21 de junho de 2017.
Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA – Relator

Capítulo 2

RECURSO ESPECIAL Nº 1.473.393 – SP (2013/0356806–4)


RELATOR: MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
RECORRENTE: A A DE M L
ADVOGADOS: DANIELA RODRIGUES TEIXEIRA – DF013121
CARLOS EDUARDO FARNESI REGINA E OUTRO(S) – SP168711
FELIPE ADJUTO DE MELO – DF019752
FABIANA DO NASCIMENTO SILVA MOURA – SP367645
RECORRENTE: TV SBT CANAL 4 DE SÃO PAULO S/A
ADVOGADO: MARCELO MIGLIORI E OUTRO(S) – SP147266
RECORRIDO: O R G
ADVOGADO: LÚCIO PALMA DA FONSECA E OUTRO(S) – SP090479

EMENTA:
RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. PROGRAMA TE-
LEVISIVO. TRANSMISSÃO DE REPORTAGEM INVERÍDICA (CONHECIDA COMO "A FAR-
SA DO PCC"). AMEAÇA DE MORTE POR FALSOS INTEGRANTES DE ORGANIZAÇÃO
CRIMINOSA. EFETIVO TEMOR CAUSADO NAS VÍTIMAS E NA POPULAÇÃO. ABUSO DO
DIREITO DE INFORMAR. ACTUAL MALICE. QUANTUM INDENIZATÓRIO. CRITÉRIOS DE
ARBITRAMENTO EQUITATIVO PELO JUIZ.
MÉTODO BIFÁSICO. VALORIZAÇÃO DO INTERESSE JURÍDICO LESADO E CIR-
CUNSTÂNCIAS DO CASO.
1. A liberdade de informação, sobretudo quando potencializada pelo viés da liberdade de
imprensa, assume um caráter dúplice. Vale dizer, é direito de informação tanto o direito de

capítulo 5 • 150
informar quanto o de ser informado, e, por força desse traço biunívoco, a informação veicu-
lada pelos meios de comunicação deve ser verdadeira, já que a imprensa tem a profícua
missão de "difundir conhecimento, disseminar cultura, iluminar as consciências, canalizar
as aspirações e os anseios populares, enfim, orientar a opinião pública no sentido do bem e
da verdade".
2. Se, por um lado, não se permite a leviandade por parte da imprensa e a publicação de
informações absolutamente inverídicas que possam atingir a honra da pessoa, não é menos
certo, por outro lado, que da atividade jornalística não são exigidas verdades absolutas, pro-
vadas previamente em sede de investigações no âmbito administrativo, policial ou judicial.
3. Nesta seara de revelação pela imprensa de fatos da vida íntima das pessoas, o digladiar
entre o direito de livre informar e os direitos de personalidade deve ser balizado pelo interes-
se público na informação veiculada, para que se possa inferir qual daqueles direitos deve
ter uma maior prevalência sobre o outro no caso concreto.
4. A jurisprudência do STJ entende que "não se exige a prova inequívoca da
má-fé da publicação (actual malice), para ensejar a indenização" (REsp 680.794/
PR, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 17/06/2010, DJe
29/6/2010).
5. Apesar do aparente interesse público, inclusive por trazer à baila notícia atemorizando
pessoas com notoriedade no corpo social, percebe-se, no caso, que, em verdade, o viés públi-
co revelou-se inexistente, porquanto a matéria veiculada era totalmente infundada, carreada
de conteúdo trapaceiro, sem o menor respaldo ético e moral, com finalidade de publicação
meramente especulativa e de ganho fácil.
6. Na hipótese, verifica-se o abuso do direito de informação na veiculação da matéria, que,
além de não ser verdadeira, propalava ameaças contra diversas pessoas, mostrando–se de
inteira responsabilidade dos réus o excesso cometido, uma vez que – deliberadamente
– em busca de maior audiência e, consequentemente, de angariar maiores lucros, sabedores
da falsidade ou, ao menos, sem a diligência imprescindível para a questão, autorizaram a
transmissão da reportagem, ultrapassando qualquer limite razoável do direito de se comuni-
car.
7. Na espécie, não se trata de mera notícia inverídica, mas de ardil manifesto e rasteiro
dos recorrentes, que, ao transmitirem reportagem sabidamente falsa, acabaram incidindo em
gravame ainda pior: percutiram o temor na sociedade, mais precisamente nas pessoas desta-
cadas na entrevista, com ameaça de suas próprias vidas, o que ensejou intenso abalo moral
no recorrido, sendo que o arbitramento do dano extrapatrimonial em R$ 250 mil, tendo em
vista o critério bifásico, mostrou-se razoável.

capítulo 5 • 151
8. O método bifásico, como parâmetro para a aferição da indenização por danos morais,
atende às exigências de um arbitramento equitativo, pois, além de minimizar eventuais ar-
bitrariedades, evitando a adoção de critérios unicamente subjetivos pelo julgador, afasta a
tarifação do dano, trazendo um ponto de equilíbrio pelo qual se consegue alcançar razoável
correspondência entre o valor da indenização e o interesse jurídico lesado, bem como esta-
belecer montante que melhor corresponda às peculiaridades do caso.
9. Na primeira fase, o valor básico ou inicial da indenização é arbitrado tendo-se em conta
o interesse jurídico lesado, em conformidade com os precedentes jurisprudenciais acerca da
matéria (grupo de casos).
10 . Na segunda fase, ajustasse o valor às peculiaridades do caso com base nas suas cir-
cunstâncias (gravidade do fato em si, culpabilidade do agente, culpa concorrente da
vítima, condição econômica das partes), procedendo-se à fixação definitiva da indenização,
por meio de arbitramento equitativo pelo juiz.
11. Recurso especial não provido.
Julgado em 04/10/2016, DJe 23/11/2016.

Capítulo 3

AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL No 820.193 – MA (2015/0284169-4)


RELATOR: MINISTRO MOURA RIBEIRO
AGRAVANTE: GUSA NORDESTE S/A
ADVOGADOS: ADROALDO SOUZA – MA002055
BRENO FREDERICO COSTA ANDRADE E OUTRO(S) – MG096380
MARCOS MARTINS SOUZA E OUTRO(S) – MA010980
AGRAVADO: JOAQUIM AMARAL DE SOUZA
ADVOGADOS: ELIAS DA SILVA DINIZ E OUTRO(S) – MA003981
VERA ALVES CARVALHO – MA004872

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE


DO CPC/73. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANO MORAL E MATERIAL. OFENSA AO ART. 267,
VI, DO CPC/73. ILEGITIMIDADE ATIVA. NÃO OCORRÊNCIA. SIDERÚRGICA. DANO
AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. NEXO DE CAUSALIDADE COMPROVA-
DO. REFORMA. SÚMULA No 7 DO STJ. JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA.
TERMO INICIAL. SÚMULAS No 54 E 362 DO STJ. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. RE-
DUÇÃO. DESNECESSIDADE. VERBA FIXADA COM RAZOABILIDADE.

capítulo 5 • 152
1. Inaplicabilidade de o NCPC neste julgamento ante os termos do Enunciado no 2 apro-
vado pelo Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos recursos interpostos com funda-
mento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser
exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações
dadas até então pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.
2. Impossibilidade de análise da ilegitimidade ativa, porquanto reconhecida pela Corte de
origem com base nos fatos da causa. Incidência do óbice contido da Súmula no 7 do STJ.
3. Tendo o Tribunal local comprovado o ato ilícito, o dano e o nexo de causalidade, ficou
configurado o dever de indenizar. Refutar tal entendimento esbarra na já citada Súmula no 7
desta Corte.
4. Consolidou-se nesta Corte o entendimento de que, em se tratando de responsabilida-
de extracontratual, como é o caso dos autos, os juros de mora fluirão a partir do evento
danoso (Súmula no 54 do STJ) e o termo inicial da atualização da indenização fixada a título
de dano moral situa-se na data do arbitramento (súmula no 362 do STJ).
5. Embora a matéria atinente ao termo inicial dos juros de mora tenha sido afetada como
recurso repetitivo (tema 925), o entendimento firmado nesta Corte é no sentido de que
a suspensão dos feitos afetados no regime do recurso repetitivo não alcança os recursos
anteriormente em trâmite no Superior Tribunal de Justiça.
6. É possível a revisão do valor fixado a título de verba honorária desde que ela tenha
sido arbitrada de forma irrisória ou exorbitante, fora dos padrões da razoabilidade, o que não
ocorre no caso vertente.
7. Não se conhece do recurso especial interposto pela divergência jurisprudencial na hi-
pótese em que o dissídio é apoiado em fatos e não na interpretação da lei. Isso porque a
súmula no 7 do STJ também se aplica aos recursos especiais interpostos pela alínea c,
do permissivo constitucional. Precedente: AgRg no Ag 1.276.510/SP, Rel.
8. Agravo regimental não provido.

Capítulo 4

RECURSO ESPECIAL No 1.660.189 – RJ (2016/0199450–2)


RELATOR: MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO
RECORRENTE: REINALDO DE SOUZA FREITAS
RECORRENTE: FABIOLA DE SOUZA FREITAS
RECORRIDO: GEAP AUTOGESTAO EM SAÚDE

capítulo 5 • 153
RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL.
PLANO DE SAÚDE. NEGATIVA DE COBERTURA. DANO MORAL. FALECIMENTO DO GE-
NITOR. COMPENSAÇÃO COM O VALOR ARBITRADO A TÍTULO DE CONDENAÇÃO POR
DANO MORAL EM AÇÃO PROPOSTA PELO GENITOR. IMPOSSIBILIDADE. DANO MORAL.
PREJUÍZO DE AFEIÇÃO. PARCELAS INDIVIDUAIS PARA CADA VÍTIMA POR RICOCHETE.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CABIMENTO. PRECEDENTES.
RECURSO DE APELAÇÃO. Relação jurídica de consumo. A temática que nutre a de-
manda está afeta a contrato de plano de assistência à saúde. Ação de conhecimento dire-
cionada ao propósito compensatório a título de danos morais. Autores jurisdicionados que,
na qualidade de filhos, reclamam verba compensatória em razão dos danos morais reflexos.
Sentença proferida nesta demanda que arbitra a verba de R$ 10.000,00 (dez mil reais), para
cada autor. Insurgência da operadora de plano de saúde. Típica hipótese de dano indireto,
danos morais reflexos, por ricochete, em que, independentemente do dano causado à vitima
direta, ocorre outro dano, tendo em vista aquele primeiro ocasionado, devendo-se indenizar
todos, já que todos os lesados possuem o seu direito à reparação de forma autônoma. Preté-
rita demanda ajuizada pelo genitor dos autores, almejando a cobertura da integralidade dos
materiais necessários à consecução de procedimento cirúrgico prescrito e o recebimento de
verba reparatória.

RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.


Em seu recurso especial, os recorrentes alegam violação aos arts. 12, 927 e 944 do
CC, sustentando que o fato de seu genitor, que veio a falecer, ter obtido êxito em ação de
indenização pela recusa de internação, não lhes retira o direito, enquanto filhos, de receber
indenização pelo dano extrapatrimonial decorrente da morte de seu pai.
Sustentam que Houve, portanto, a violação do art. 12, caput. A demanda não resta jungi-
da ao seu parágrafo único, como se manifestou o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro: de fato, inexiste qualquer violação à tutela geral dos direitos da personalidade
e à legitimação de terceiros para defesa destes direitos do morto, preceituadas nos artigos
6o e 12 do Código Civil, porquanto o decisum objurgado não partiu da premissa equivocada
de que os autores carecem de legitimidade, pois se assim o fosse, a decisão colegiada seria
de extinção do processo, sem resolução do mérito, com arrimo no artigo 267, inciso VI da
Lei de Ritos.
A violação aos artigos 12 e 927 ocorre com a negativa de indenização pelo dano moral
sofrido pelos autores, uma vez que de modo transverso adota o recebimento de indenização
de dano sofrido pelo pai dos autores (de cujos no processo que determinou a realização da
intervenção médica) como fundamento para improcedência desta ação.

capítulo 5 • 154
Ou seja, o il. Julgador contraria o art. 927, não obrigando a reparar o dano gerado, criando
por outro lado uma nova hipótese não contida na lei de excludente de responsabilidade. Vale
dizer que não é permitido ao intérprete, na realização da exegese, de restringir direitos onde
a própria lei assim não o fez. Trata-se de regra comezinha de hermenêutica jurídica. O art.
12, parágrafo único trata da legitimidade para requerer a medida prevista no caput no caso
de violação de direitos do morto, devendo esta conduta ser dirigida finalisticamente contra
o direito do morto (o que não é o caso dos autos), transferindo a titularidade de defesa do
direito (legitimidade extraordinária) ao cônjuge sobrevivente ou qualquer parente em linha
reta, até mesmo colateral até o quarto grau.
Entretanto, repita-se, esta não é a hipótese dos autos. O dano foi praticado contra vivo,
ainda que tenha resultado em sua morte, e o que se pleiteia pelos descendentes do morto
(autores) é a indenização por dano moral em ricochete, em pleno exercício da legitimação
ordinária. Deduz em juízo direito próprio em nome próprio. Não se trata de reclamação de
dano praticado contra morto ou muito menos o dano moral sofrido pelo pai dos autores, com
fundamento no art. 943.
É o relatório.
Passo a decidir.
Merece provimento a pretensão recursal.
A controvérsia dos autos situa-se em torno da possibilidade de os filhos pedirem inde-
nização por dano extrapatrimonial decorrente da morte do pai, quando o genitor teve êxito
em outra ação de indenização pela recusa de internação, vindo a indenização ser atribuída
ao espólio.
O tribunal de origem, apesar de confirmar a legitimidade dos autores para requererem
a indenização e de ter reconhecido a ocorrência do dano e do ato ilícito cometido pela Re-
corrida, adotou como justificativa para a negativa de indenização pelo dano moral sofrido
pelos autores, o recebimento de indenização de dano sofrido pelo pai dos autores (de cujus
no processo que determinou a realização da intervenção médica), fundamentando, assim, a
improcedência desta ação, nesses termos:
Noutro passo, indene de incerteza que os fatos geradores em ambas as ações são idên-
ticos: a recusa injustificada da operadora de plano de saúde em disponibilizar a integralidade
dos materiais cirúrgicos a serem empregados em procedimento médico, que redundou no
evento morte do beneficiário.
Destarte, não parece razoável admitir a "personalização do espólio" como instrumento
de multiplicação da dor, considerando a identidade do fato gerador e a prévia e expressiva
compensação. Impende apontar que os predicados da boa-fé, como sabido, são bilaterais
em qualquer espécie de relação jurídica, sendo possível inferir, no caso em exame, que os

capítulo 5 • 155
autores buscam com o ajuizamento de inédita ação, a obtenção de vantagem exagerada, pre-
tensão que não há de ser acolhida, sob pena de enriquecimento ilícito. Nesse passo, tem-se
que os danos extrapatrimoniais suportados pelos autores em decorrência do evento narrado
na exordial já foram adequadamente compensados nos autos do processo no 0432957–
64.2012.8.19.0001, razão pela qual deve ser reformada a sentença vergastada, para julgar
improcedente o pedido deduzido exordial. (e–STJ fls. 422/423).
Na origem, os recorrentes ajuizaram ação de indenização por danos morais sofridos em
decorrência do falecimento de seu genitor que veio a óbito em razão de complicações de
cirurgia que ocorreu em face de decisão judicial, uma vez que houve a negativa da recorrida
quanto à realização do procedimento.
Anteriormente a esta demanda, fora ajuizada pelo genitor dos recorrentes ação de in-
denização pelos danos sofridos em razão da indevida negativa do procedimento cirúrgico,
vindo o autor a falecer e a condenação da demanda pertencer ao espólio, cujo os recorrentes
são herdeiros.
O acórdão, ao traçar o entendimento de que as demandas se compensariam, realizou
uma inovação legislativa que não comporta no ordenamento jurídico. O traçado pelo acórdão
recorrido revela a tentativa de aplicação da coisa julgada, o que na situação não é possível.
No caso, o pai dos recorrentes ajuizou, primeiramente, ação indenizatória contra a recor-
rida postulando danos morais em razão da negativa de realização de procedimento cirúrgico,
vindo posteriormente a falecer e a condenação pertencer ao espólio.
Por sua vez, os recorrentes, em ação autônoma, ajuizaram pedido indenizatório pelo dano
morte de seu genitor. Dessa forma, não está configurado o instituto da coisa julgada, pois em
nenhuma das ações há a tríplice identidade.
Portanto, não há falar em coisa julgada.
O denominado prejuízo de afeição (préjudice d' affection) é a modalidade de dano extra-
patrimonial que atinge as vítimas por ricochete, ou seja, os parentes da vítima direta, buscan-
do reparar a dor ensejada pela morte do cônjuge, do pai, do filho.
A dor ou sofrimento, que são peculiares a essa modalidade de prejuízo extrapatrimonial,
não se restringem aos danos causados à integridade física da vítima direta, aparecendo,
também, no padecimento psicológico das vítimas por ricochete.
A dimensão da dor dos familiares com a perda de um ente querido em consequência
de uma morte violenta ou repentina é incomensurável, bastando pensar na dor dos filhos
menores com a perda do pai em acidente de trabalho; no sofrimento psíquico da esposa com
a morte do marido em um desastre aéreo; no vazio existencial dos pais com o óbito de um
filho em um acidente.

capítulo 5 • 156
No magistério de Judith Martins Costa, cada um dos familiares têm um duplo dano, pois
além dos prejuízos patrimoniais indiretos (alimentos), sofrem também um dano extrapatri-
monial direto pelo "prejuízo de afeição" (MARTINS–COSTA, Judith. Os danos à pessoa no
direito brasileiro e a natureza da sua reparação. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p.
354-355.).
A fixação da legitimidade para postulação da indenização por danos extrapatrimoniais
exige vínculo de parentesco ou de afinidade com a vítima direta, independente de classe
social ou de condição econômica, sendo, inclusive presumida nas hipóteses de pais e filhos.
A orientação predominante na jurisprudência, que se mostra a mais consentânea com
o princípio da reparação integral, é a concessão de parcelas indenizatórias individuais para
cada vítima por ricochete. Não há, finalmente, necessidade de as pretensões indenizatórias
da várias vítimas por ricochete serem veiculadas em único processo, podendo cada uma
delas demandar individualmente.
No caso dos autos, reconhecida a legitimidade dos autores demandarem em ação au-
tônoma seu direito indenizatório pelo prejuízo de afeição sofrido pela morte de seu genitor,
a ocorrência do dano e do ato ilícito cometido pela Recorrida, deve ser reformado o acórdão
recorrido, reconhecendo-se o cabimento da indenização por danos morais que atenda aos
princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, evitando-se o enriquecimento sem causa
dos autores da ação indenizatória e observando-se o caráter preventivo inerente ao instituto
da responsabilidade civil.
Dessa forma, atento a tais princípios e aos parâmetros estabelecidos por esta Corte,
fixo em R$ 10.000,00 (dez mil reais), para cada autor, o quantum indenizatório, em razão de
injusta negativa de cobertura de plano de saúde, levando em conta as condições socioeco-
nômicas das partes, o bem jurídico lesado, a gravidade da lesão e o grau de culpa do ofensor.
Arcará a recorrida com o pagamento das custas processuais e dos honorários advocatí-
cios do patrono da parte adversa, os quais arbitro em 15% (quinze por cento) sobre o valor da
condenação. Advirta-se que eventual recurso interposto contra este decisum estará sujeito
às normas do CPC/2015 (cf. Enunciado Administrativo n. 3/STJ).
Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial para julgar procedente o pedido,
arbitrando a indenização para reparação por dano moral em R$ 10.000,00 (dez mil reais),
para cada autor, incidindo correção monetária desde a data do presente arbitramento e juros
moratórios desde a citação.
Intimem–se.
Brasília (DF), 1o de junho de 2017.
MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO, 16/6/2017

capítulo 5 • 157
Capítulo 5

Considerando o fato de inexistir jurisprudência do STJ em torno dos temas propostos, nos
limitamos a propor um gabarito exclusivamente com base nas normas correlatas existentes.

Proposta de gabarito 1
Acerca do TOI (Termo de Ocorrência de Irregularidade), este deve ser precedido de for-
malidade legal de informação da sua realização no prazo mínimo de 48 horas, conforme
determina a lei 4.724/200678. Em sendo realizado, ainda que assinado pelo usuário não
ostente o atributo da presunção de legitimidade, ainda que subscrito pelo usuário, configu-
rando tal conduta como possível de condenação por danos morais. Nos termos das seguintes
previsões legais.
Lei no 4.724, de 15 de março de 200678.
Determina as concessionárias de serviço público fornecedora de energia elétrica a expe-
dir notificação com aviso de recebimento para realizar vistoria técnica no medidor do usuário.
Art. 1o As empresas concessionárias de serviços públicos fornecedoras de energia elé-
trica, no estado do Rio de Janeiro, quando da realização de vistoria técnica no medidor do
usuário residencial, deverão expedir notificação pessoal com aviso de recebimento (AR) a ser
enviada para o endereço do consumidor, apresentando dia e hora da vistoria, salvo quando do
registro da queixa-crime de furto de energia na delegacia competente.
Parágrafo único. A vistoria técnica deverá ser marcada em prazo superior a 48 (quarenta
e oito) horas da entrega do Aviso de Recebimento pelo usuário.
Art. 2o. A não observância à regra do caput do art. 1o ocasionará a nulidade absoluta do
laudo de vistoria técnica realizada no medidor do usuário residencial, salvo as hipóteses de
denúncias expressas de furto de energia elétrica.
Súmula TJRJ no 19279. A indevida interrupção na prestação de serviços essenciais de
água, energia elétrica, telefone e gás configura dano moral.
Súmula TJRJ no 25680. O termo de ocorrência de irregularidade, emanado de concessio-
nária, não ostenta o atributo da presunção de legitimidade, ainda que subscrito pelo usuário.
No tocante à necessidade de autenticação dos documentos, em sede de reclamação
administrativa, esta é completamente descabida. Se considerarmos as seguintes previ-
sões legais:
Lei 13.460/201781:
Art. 5o O usuário de serviço público tem direito à adequada prestação dos serviços, deven-
do os agentes públicos e prestadores de serviços públicos observar as seguintes diretrizes:
II Presunção de boa-fé do usuário;

capítulo 5 • 158
IX. Autenticação de documentos pelo próprio agente público, à vista dos originais apresen-
tados pelo usuário, vedada a exigência de reconhecimento de firma, salvo em caso de dúvida
de autenticidade;
XV. Vedação da exigência de nova prova sobre fato já comprovado em documentação válida
apresentada.
Decreto 9.094/201782:
Art. 9o Exceto se existir dúvida fundada quanto à autenticidade ou previsão legal, fica dis-
pensado o reconhecimento de firma e a autenticação de cópia dos documentos expedidos
no país e destinados a fazer prova junto a órgãos e entidades do Poder Executivo federal.
Art. 10. A apresentação de documentos por usuários dos serviços públicos poderá ser
feita por meio de cópia autenticada, dispensada nova conferência com o documento original.
§ 1o A autenticação de cópia de documentos poderá ser feita, por meio de cotejo da cópia
com o documento original, pelo servidor público a quem o documento deva ser apresentado.
Logo, pelo contexto geral a empresa pode e deve ser responsabilizada pela sua conduta
abusiva e contrária a diversas determinações legais expressas.

Proposta de gabarito 2
O proprietário do estádio (time de futebol) é integralmente responsável pelo evento. Seja
destacando que o explorador (piloto) é menor de idade e, por consequência sem a devida
habilitação obrigatória. Agrava-se ao fato de que o equipamento tem seu peso superior a
250 g e navegava a uma distância inferior a 30 metros de pessoas não anuentes. Tudo nos
seguintes termos legais.

ICA 100-40 de 2016 – Trata dos Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas


e o Acesso ao Espaço Aéreo Brasileiro83
11.2.2 Operações RPAS em áreas confinadas
11.2.2.1 Os voos no interior de prédios e construções fechadas, mesmo que par-
cialmente, incluindo ginásios, estádios e arenas a céu aberto (até o limite vertical da sua
estrutura lateral) são de total responsabilidade do proprietário da estrutura ou do locatário do
imóvel e deverão estar autorizados pelo mesmo, já que não são considerados “espaços
aéreos” sob a responsabilidade do DECEA, não sendo regulados por esta Instrução.

RBAC-E no 94/2015 – Regulamento Brasileiro da Aviação Civil Especial84


E94.3 Definições
(3) área distante de terceiros significa área, determinada pelo operador, considerada a
partir de certa distância horizontal da aeronave não tripulada em operação, na qual pessoas

capítulo 5 • 159
não envolvidas e não anuentes no solo não estão submetidas a risco inaceitável à segu-
rança. Em nenhuma hipótese, a distância da aeronave não tripulada poderá ser inferior a
30 metros horizontais de pessoas não envolvidas e não anuentes com a operação. O limite
de 30 metros não precisa ser observado caso haja uma barreira mecânica suficientemente
forte para isolar e proteger as pessoas não envolvidas e não anuentes na eventualidade de
um acidente;
Nota: o limite de 30 m, neste caso, é critério para a aplicação das regras da ANAC. O
acesso ao espaço aéreo é de competência do DECEA, o qual poderá estabelecer limites
inferiores de maior magnitude.
E94.19 Porte de documentos
Somente é permitido operar uma RPA de peso máximo de decolagem acima de 250 gra-
mas se, durante toda a operação, estiverem disponíveis na RPS os seguintes documentos:
(a) a Certidão de Cadastro, o Certificado de Matrícula ou o Certificado de Marca Experi-
mental, conforme aplicável, todos válidos;
(b) o certificado de aeronavegabilidade válido, se aplicável;
(c) o manual de voo;
(d) a apólice de seguro ou o certificado de seguro com comprovante de pagamento,
dentro da validade, se aplicável;
(e) documento que contém a avaliação de risco a que se referem os parágrafos
E94.103(f)(2) e E94.103(g)(2) deste Regulamento Especial;
(f) licença, habilitação e extrato do CMA, válidos e conforme aplicáveis segundo este
Regulamento Especial.
Nota: os documentos acima listados abrangem somente os que são requeridos possuir
por parte da ANAC. Outros documentos podem ser necessários por parte do DECEA, da
anatel, ou de outros órgãos competentes.

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