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A importância dos Índices Financeiros e Econômicos para

o Administrador: uma análise preliminar.

Roberto Brazileiro Paixão∗

Dentre os muitos tópicos analisados quando nos referimos a Finanças, podemos


destacar os Índices Financeiros e Econômicos como norteadores no contexto da tomada de
decisão. A correta análise e interpretação destes indicadores, incluindo a comparação com
Índices de outras organizações do mesmo setor, torna-se imprescindível ao Administrador.
Sabemos que não é função do Administrador a elaboração das Demonstrações
Contábeis, pois essas são de competência do contador! Mas saber analisar os Relatórios
Contábeis que o Contador da empresa divulga é uma obrigação do Administrador. Podemos
ir um pouco além ao citar a importância dos Índices para os Empresários, Investidores,
Acionistas, funcionários, etc.
A avaliação econômico-financeira de uma empresa baseia-se no seguinte tripé1:

SITUAÇÃO ESTRUTURA
FINANCEIRA DE CAPITAL

Liquidez Endividamento

SITUAÇÃO
ECONÔMICA

Rentabilidade


Pós-graduando em Finanças corporativas, pela Fundação Getúlio Vargas. Administrador de
Empresas formado pela Faculdade Ruy Barbosa.

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MARION (2002)

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Logo, para analisarmos a saúde financeira de uma empresa, seu “fôlego” financeiro,
sua real situação financeira, temos que estudar este tripé. Com números que reflitam a
realidade da empresa, sem dados mascarados, com Demonstrações Contábeis fidedignas, o
Administrador poderá, através da comparação com outras empresas do setor e pela sua
própria experiência, constatar como está a Administração Financeira da empresa.
Um primeiro passo, e também importante, é a análise da Situação Financeira da
empresa. Quando falamos em Situação Financeira estamos basicamente nos referindo a
Liquidez da mesma. Queremos saber as condições que a empresa possui para pagar suas
dívidas a curto prazo (podendo também analisar a longo prazo). Será que a empresa tem
dificuldades de quitar suas dívidas correntes? Ou será que recorre constantemente a
empréstimos bancários de curto prazo para pagá-las?
Sendo assim, analisamos o Ativo Circulante (AC)2 e o Passivo Circulante (PC)3. O
AC é também chamado de Capital de Giro da empresa, valor que está em fluxo constante
na organização. Subtraindo-se o PC do AC encontraremos o Capital de Giro Próprio
(CGP), que é o “fôlego” financeiro da empresa; é um número importante, pois indica o
valor que a empresa tem livre no AC, após pagar todas as suas dívidas de curto prazo (se
este fosse o caso). Se este valor for negativo, indica que a empresa está precisando recorrer
a empréstimos de Capital de Giro, incorrendo em despesas financeiras devido à má
Administração.
Já dividindo o AC pelo PC encontraremos um importante indicador: a Liquidez
Corrente. Através de sua análise observamos que sendo superior a 1, a empresa tende a ter
um bom índice de liquidez, caso contrário é preciso rever as necessidades de Capital de
Giro. Vale ressaltar que o resultado deve ser sempre comparado com índices de outras
empresas do mesmo ramo. Digamos que uma empresa encontrou o resultado de 1,17.
Significa que para cada R$ 1,00 de dívida de curto prazo (PC), ela dispõe de R$ 1,17 no
AC; situação esta que, a depender do ramo, pode ser considerada boa.

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Entende-se por Ativo Circulante, todos os bens e direitos de propriedade da empresa, que se converterão em
dinheiro em menos de um ano ou, antes do Ciclo Operacional da empresa.
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Entende-se por Passivo Circulante, todas as obrigações da empresa perante terceiros, exigíveis em menos de
um ano ou, antes do Ciclo Operacional da empresa.

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Ainda falando de liquidez, podemos ter outros índices como a Liquidez Seca (retira-se
o valor dos estoques do AC) a Liquidez Imediata e a Liquidez Geral (analisa curto prazo e
longo prazo).
O segundo componente a ser analisado é a Estrutura de Capital, no qual analisaremos
o Endividamento, tanto no âmbito quantitativo quanto no âmbito qualitativo. As dívidas da
empresa encontram-se no PC e no Exigível a Longo Prazo (ELP)4, chamados de Capital de
Terceiros (CT), e no Patrimônio Líquido (PL)5, este também chamado de Capital Próprio
(CP). A diferença do CP e do CT está na exigibilidade da dívida, visto que, praticamente,
não há exigência de pagamento do capital próprio.
Quando analisamos a proporção de CT em relação ao Capital Total (PC + ELP + PL),
estamos analisando quantitativamente as dívidas da empresa. A média internacional de
endividamento é de 60%, ou seja, existe 60% de CT na empresa. No Brasil, essa média é de
aproximadamente 48%, o que não quer dizer que o Brasil tem uma situação favorável em
relação aos padrões internacionais.
Para analisarmos a Qualidade do Endividamento, fazemos uma relação entre o PC e o
CT, ou seja, relacionamos as dívidas de curto prazo com a totalidade de Capital de
Terceiros dentro da empresa. Digamos que uma empresa obteve um índice de 0,70.
Significa que 70% de suas dívidas são de curto prazo (PC), o que é um péssimo
endividamento, pois vai exigir da empresa um capital de giro proporcional ao mesmo.
O endividamento não deve ser visto como algo negativo para a empresa, visto que é
importante para o seu crescimento. O que se deve existir é o endividamento saudável, de
longo prazo. O endividamento de curto prazo, além de mais caro (no Brasil), exige uma
parcela de Capital de Giro maior. Quanto mais dívidas a longo prazo, melhor para a
empresa! Daí a importância de um endividamento de qualidade; assim, tendo mais tempo
para gerar recursos e quitar suas dívidas.
E, enfim, temos a análise do último componente do tripé, a Situação Econômica da
empresa. Quando falo em situação econômica, refiro-me à Rentabilidade da empresa. Será
que podemos analisar uma empresa apenas pelo seu lucro? Certamente que não!

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Entende-se por Exigível de Longo Prazo, todas as obrigações da empresa perante terceiros, exigíveis em um
período superior a um ano ou, superior ao Ciclo Operacional da empresa.
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Recursos dos proprietários aplicados no empreendimento.

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Analisar rentabilidade significa comparar o lucro com o ativo, visto que é o ativo da
empresa que gera receita, e conseqüentemente o lucro.
Da relação entre lucro e ativo é que se chega a Taxa de Retorno sobre Investimentos
(TRI ou ROI). Se uma empresa possui uma TRI de 25%, significa que para cada R$ 1,00
investido no ativo, R$ 0,25 viram lucro. Seguindo a análise, serão necessários quatro anos
para que o empresário receba de volta o valor que investiu (PayBack ou Tempo de
Retorno). Existe ainda a Taxa de Retorno sobre o Patrimônio Líquido (TRPL), utilizada
para analisar a rentabilidade para o empresário.
Este ponto merece uma atenção especial, visto que nem sempre o que é melhor para o
empresário é também o melhor para a empresa. Isto pode ficar mais claro em uma decisão
de investimento. Digamos que a empresa analisa um projeto X que irá incrementar seu
lucro em 50 unidades financeiras, mas exigirá um investimento no ativo de 300 unidades
financeiras, captado de terceiros. O aumento no ativo foi maior que o do aumento do lucro,
o que significa que a relação lucro/ativo vai ser reduzida, ou seja, o resultado obtido no
cálculo da TRI vai ser menor. Porém, o resultado da TRPL vai ser maior, já que o lucro
aumenta e o Patrimônio Líquido continua o mesmo. Este exemplo mostra claramente uma
decisão que pode ser benéfica para o empresário (aumento da TRPL), mas não incorrerá em
benefícios para a empresa (redução da TRI).
Podemos desmembrar a Taxa de Retorno sobre Investimento na relação de Preço X
Quantidade. Existem empresas que “ganham” no preço, logo têm maiores margens de
lucro. E existem empresas que “ganham” na quantidade vendida, ou seja, no giro do seu
estoque. Fazendo uma relação entre a Margem de Lucro e o Giro do Ativo chegamos ao
resultado da TRI. Observe que a Margem de Lucro é uma relação entre o Lucro Líquido e o
valor total das vendas, e que o Giro do Ativo é uma relação entre o total das vendas e o
valor do ativo. Sendo assim, o Administrador necessita saber se a sua empresa “ganha”
mais na Margem ou no Giro. Isto não é apenas relevante, como é um fato definidor de
estratégias! A partir da definição entre Margem / Giro traçam-se estratégias para maximizar
a rentabilidade da empresa, conseqüentemente reduzir o Payback e o risco para os
Administradores, Acionistas, Investidores, Parceiros, etc.
Esta é uma pequena análise do tripé sobre avaliação econômico-financeira de uma
organização. Logicamente, que um estudo mais detalhado sobre cada item torna-se

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imprescindível para uma análise crítica mais aprofundada. Esta não deve ser a visão apenas
do Administrador Financeiro, e sim, de todos da empresa que buscam ter uma visão geral
do negócio no qual atuam. Assim, todos poderão focar suas decisões no sentido maximizar
a Rentabilidade, melhorar a Situação Financeira ou melhorar a Estrutura de Endividamento
da empresa.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ANGELO, Cláudio Felisoni de, SILVEIRA, José Augusto Giesbrecht da. Finanças
no Varejo: Gestão Operacional. São Paulo: Atlas, 1996.
GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira. 7ª ed. São Paulo:
Harbra, 1997.
MARION, José Carlos. Contabilidade Empresarial. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.
MARION, José Carlos. Análise das Demonstrações Contábeis. São Paulo: Atlas,
2002.
MARION, José Carlos. Curso de Contabilidade para não Contadores. São Paulo:
Atlas, 2001.

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