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‘livia Lages de Caztro Ja 0 Conselno de Justiga ficaria responsivel pelo conhecimento e decisdo dos processos criminais cujos réus tivessem direito a foro nnilitar @ também deveria ser submetide ao Conselhu de Justiga: todes os Conselhos de Guerra, que se for ‘marom nos Corpos Militares desta Capitania, ede todas as mais do Brazil, a excopyio do Para, ¢ Ma. Fanhao, e dos Dominios Ultramarinos, pela gran- de distancia 0 dificuldade da navegagao para esta Capital (..) lexcepcionalmente reuninde-sc] has quintas feiras, quando para este fim for avisado, e requeride pelo Juiz Relator co mesimo Conselho, para julgar em ultima Instancia da validade das prezas foitas por Emibareagées de Guerra da Anmeda Real, ou por Armadores Portuguezes”.s24 No tocante a tribunais superiores o gaverno do Regente fundiu os dois principais Tibunais Portugueses, ao invés de um Desembargo do Pago ¢ uma Mesa da Consciéncia fot instituido a "Meza do Desembaryo do Pago, e da Consciéncia e Ordens", isto sem acabar com os tribunais j/oxistontes em Portugal. O tribunal no Brasil era composto de um presidente e de desembargadores nomeados pelo regente (depois rei) edeputades da Meza da Consciéneia que se reunisiam todas as manhas de dias titeis ‘Nao havia nenhuma utilidade om fechar a Casa da Suplicagao de Lisboa. Embora este tribunal tivesse acompanhado, tradicionalmente, ‘a pessoa do monarca, havia ja alguns séculos que nao era presidico por ele, funcionando, em verdade, sob um regador. De fato, este tribunal em Lisboa acabou por se transformar em uma Corte de Justiga profis sionalizada, onde se julgava conforme as leis © que nao se diferenciava essencialmente ~ a ndo ser nas dimensdes e na proximidade com a Coroa — das outras Relagdes do Reino, Assim, som lovar em conta 0 seu valor simbélico como expresso da sobrovivencia das instituigdes, feché-la seria como fechar a Relagao do Porto ou a da Bahia, Deixaria uma regiéo da maior importancia dosprovida do seu tribunal. Mas ndo se compreondia uma Corte sem uina Casa de Suplicagao e a Corte estava no Rio de Janeiro, Mas 0 Rio de Janeiro ja tinha uma Relago © simplesmente im- plantar uma Casa de Suplicagao acabaria por sobrepor fungoes. Desta forma criou-se por alvara em 10 de maio de 1808 a Casa de Suplicagao ‘elevando a hierarquia da Relagio do Rio de Janeiro e completando seus quadros com magistrados e outros que a nova condigéo oxigia, A composigao da Casa 6 doserita pelo alvaré: ‘Eu, 0 Principe Regente, fago saber aos que o pro- ‘sonte Alvar’ com forga de lel vitem, que tomando ‘em consicieragao o muito quo intoressa o estado @ © bem comum e particular dos mous leais vas- salos om que a administragio da Justiga nao tenha embaragos, que a retardem e estorvem, se faga com a prontidio ¢ exatidio que corvém, ¢ que afianga a seguranga pessoal ¢ dos sagrados direitos de propriodade, que muito desojo manter como a mais segura base da sociedade civil; e exigindo as atuais circunstancias novas provi- déncias, nao sé por estar intexrompida a comu- nicagdo com Portugal, © ser por isto impraticavel seguirem-se os Agravos Ordinirios @ Apelagdes que até aqui se interpunham para a Casa da Suplicagao de Lisboa, vindo a ficar os pleitas sem Gecisio ditima com manifesto detrimente doz ltigantes, e do puiblico, que muito interessam em que nao haja incerteza de dominios, e se findem os pleitos quanto antes; como também por me achar residindo nesta cidade que deve par isso ser considerada a minha Corte atual; quarendo providenciar de um modo seguro estes incon- venientes e os que podem recrescer para 0 futuro em beneficio do aumento © prosperidade da causa piiblica, sou servide determinar o seguinte: LA telagio desta cidade se denominara Casa da Suplicagao do Brasil, © sera considerada como ‘Superior Thibunal de Justiga; para se findazem ali todos os pleitos em altima instincia, por maior que seja o seu valor, sem que das ultimas sentengas proferidas em qualquer das Mezas da sobredita Gasa se possa interpor outro recurso que ndo soja o das revistas, nos termos restritos do que se acha disposto nas minhas orcenagées, a5 ea ee ae ee CO OOOO OO OOOO OOOOH OOCHEHHOOHOHHHHHGE ae ‘iivia ages do Castro leis © mais disposigdes @ terio os Ministros a mesma algada que tém os da Casa da Suplicagio de Lisboa, IL Todos os Agravos Ordindrios ¢ Apelagées do Pard, Maranho, Mas dos Agores e Madeira, ¢ da Relagao da Bahia, que se conservard no estado ‘em que se acha, ¢ se considerara como imediata, desta cidade, os quais se interpunham para a Casa da Suplicagao de Lisboa seréo daqui em diante intorpostos para a do Brasil, ¢ nela se decidirao finalmente pela mesma forma que 0 eram até agora, segundo as determinagdes das, minhas ordenagées e mais disposigées régias. IIL Todos aquoles pleitos em que howe inter posigao de Agravos ou Apelagdes que se no Femeteram e todos os que, sendo remetidos, no tiveram ainda final decisio, serie julgados na Casa da Suplicagao do Brasil, uns pelos préprios utes @ outros polos traslados, que ficario, pela maneira com que o seriam, na de Lisboa por juizes da Casa, quo 0 ndo foram nas primeiras sentengas. E os Embargos, que na execugio se tiverem mandado remeter, se decidiram pelos mesmos juizes, que ordenaram a remessa, sem atengio ao despacho que a decretara, a fim de haverem final decisio, como cumpre 20 bem pitblico, IV. A Casa da Suplicagao do Brasil se compord, além do Regedor que cu houver por bem nomear, do Chanceler da Casa, de oito Desembargadores dos Agravos, de um Coregedor do Crime da Corte e Casa, de um Juiz dos Foites da Coroa Fazenda, de um Procurador dos Feitos da Coroa e Fazenda, de um Corregecor do Civel da Corte, de um Juiz da Chancelaria, de um Ouvider do Crimo, de um Promotor da Justiga @ de mais seis Extravagantes. V. Governar-se-io todos pelo Regimento da Casa da Suplicagdo, segundo @ contetico nos Titulos respectivos das Ordenagdes do Reino, leis, decretos assentos, guardando-se na ordem e forma do despacho o mesmo que ali se praticava, Misiria do Dicko Gera e Brosh guardar-s0-4 também quanto esta determinado no Regimento de 13 de outubro de 1751 dado para a Relaglo desta cidade, em tudo que nio for revogado por este Alvard, @ nao for incompativel com a nova ordem de coisas. VL Os lugares dos Ministros da Casa nio sordo mais, como até agora exant os da Relagio desta cidade, contemplados de igual gracuagio, antes haverd a mesma distingo que ha na de Lisboa, para serem promovides aos mais dlistintos, © graduados, os Ministios que forem de maior graduagio 0s despachos que a tinham e tiverem maior antiguidade, préstimo servigos. Vil, Atondendo a que nem a multiplicidade dos negécios 0 exige, nem cumpre aumentar 0 nimero dos magistrados, tendo além disso mostrado a experiéneia fazer-se som dificuldade e inconvenientes; servirdo todos os Ministroe de ‘Adjuntos uns dos outros, como for necessirio no de juizes o jurados, oF quais terao lugar assim no civel como no crime, nos casos, € pelo modo, que os cédigos determinarem.” Os juizes eram nomeados pelo Imperador como chefe do Poder Executivo: “Art, 102. O imperador 6 0 Chofo do Podor Exe: cutive ¢ 0 exercita pelos seus ministros de Estado, GAO Wa Gonstivigio americana e no Codigo Civil de Napoledo se 0 execusivo no prizo fstipuloda nf 2e prominelagze a Tes entra om vigor, no Haat 26 0 aval do nner fu # amrovagio por ds epslaturas seas de um mosno projeto vtado pada fer ‘igor na ie livia Layee de Castro Sao suas principais atribuigoes: () 38) Nomear magistrados." Hoje em dia, algumas garantias institucionais sao imprescindiveis ara que se considere o Poder Judiciario como independente. Sia clas: independéncia orgamentiia, vitaliciedade, irredutibilidade de subsi- dios e inamovibilidado.s17 © Judicidtio de fato inclependente nao deve estar atrelado & dependéncia de pagamento ou a possibilidade de ver reduzido seus vencimentos pois isso poderia ser utilizado como forma de pressio, Neste item a Constituicdo de 1824 nao é muito clara, indica que o Legislative é quem estabelece ordenados para os empregos publicos (artigo 15 inciso 16) sem apontar exatamonte se nestes estabelecimen- tos de ordenados estao incluides os juizes. Quanto & vitaliciedade, a Constituigdo Imperial, no contando oficialmente com aposentadoria, decreta a “perpetuidade”, é preciso salientar, entretanto, que om 1850, por exomplo, varios juizes foram aposentados compulsoriamente apés terem inocentado traficantes de escravos. E ainda, caso houvesse uma dentincia ¢ 0 juiz soja julgado polo Imperador ¢ pelo Conselho de Estado ele pode ser afastado de seu cargo: “Art, 154. O Imperador poder suspendé-tos por ‘queixas contra eles feitas, precedendo audiéncia dos mosmos juizes, informagdo necessiria, © ‘ouvido © Gonsolho de Estado. Os papéis, que hes ‘so concernentes, serdo remetidos & relagio do respectivo distrito, para proceder na forma da toi rt. 155. $6 por sentenca poderdo estes juizes porder 0 lugar.” Por fim, na questo da inamovibilidade ocorre um dos maiores “pecados” da Constituicao de D. Pedro I. Alexandre Moraes comenta a importéncia da inamovibilidade para a independéncia do juz citando a FAT MORAES, Atenandio de, Drsito Constitucional. 0. ed Sto Paula Alar, 2000, p. 454-430 os stra Direita Gaal Brasi doutrina norte-americana que hd muito aponta a nacessidade de permanéncia do magistrado no cargo como forma de minimizar a ressao politica que este oudesse vir a softor.S48 A partir de 1824 os juizes podem ser transteridos sempre que se “achar necessario’ “Art. 183. Os juizes de direito serdo perpétuos, 0 que todavia se nao entende que nao possam ser ‘mudados de uns para outros lugares pelo tempo, fe maneira, que a lei determina." Est: judiciario, nem tZo independente quanto se desojaria, estava assim formado pela Constituigdo: haveria jutzes e jurados, aos pric meiros caberia a aplicago da lei, aos segundos © pronunciamento + acerca do fato: “An. 182, Os jurados pronunciam sobre 0 fato, 8 juizes aplicam a lei "549 Seria cobrada responsabilidade dos membros do judiciétio no tocante a abusos de poder, suborno, peculato ¢ concussao: "Art, 188. Todos os juizes do dircito @ o# oficiais do justiga sdo responsiveis pelos abusos de po- dere prevaricagées que cometerom no exercicio do sous empregos; esta responsabilidade se fara cefetiva por lei regulamentar." "Art, 157. Por suborno, peita, peculato e concus- sao haverd contra eles agao popular, que poder ser intentada dentro de ano e dia pelo proprio 8 do Tibunot do isi teve sua orem ni Lol de 18 de fo de 1822, sobre os ‘do imprensa, tendo side estondide paca ea dowais ckmee com © Chigo 1. Apetar da provisdo aa Constituigao de 1824, inttulgto do Tibual dodo oj exten pra ocivl. Como Cédigo do Procsisa Ctiminal, de 29 te mover lo 1812, ficou consagrada a iesttuigdo. O Contelba do dirt so desdebrava om Jil da Acusagio (para decidir sobre a pronincia do acusade, tendo sido aboldo oe fil Drévio pela Let e251, de 1841) Jnl do Julgamonto, Eva presi por umn juts eal ' composto por usados elotes pola Cimmara Musicipal denise 60 jurado tes caps 0 uradov ane exdader sw. 369 ROR ROR RAMBO RAAF A AMAA AAAA ARO Onn OOO OOOO OOOO OOOO OOOHHOHOCHEHOHHHIIVE Fidsia ages de Castro ‘queixeso, ou por qualquer do povo, guardada a ordem do processo estabelecida ma lei.” Esta responsabilidade, entretanto, nao era cobrada de quem mais concentrava poder no pais. Com tanto poder nas maos clo Imperador seria justo imaginar quo a Constituigdo desse a quem ocupasse tal ‘cargo responsabilidade por seus atos, mas era 0 contrario: “Art. 99. A Pessoa do Imperader ¢ invioldvel ¢ le nao esta sujeito a responsabitidado Haverla no judiciério Relagdes como Tribunais de segunda e Ultima insténcia em todas as provincias: . 188, Para julgar as causas em segunda e iltima instancia, haveri nas provincias do Império as relagdes que forem necessarias para comodidacle dos povas.” Eram previstas a publicidade, a possibilidade de arbitragem @ a nocessidade de tentativa de reconciliagdo antes do proceso. Esta reconciliagao deveria ser feita por Juizes de Paz, eleitos nos municipios: “Art, 159. Nas causas crimes, a inquirigao das testemunhas e todos os mais atos do processo, depois da proniincia, serao pilblicos deste ia.” “Art, 160. Nas civeis ¢ nas penais civilmente in- . tentadas, poderio as partes nomear juizes ai bitros. Suas sentengas serdo executadas sem re- curso, se assim o convencionarem as mesmas partes.” “Art. 161, Sem se fazer constar que se tom intentado 0 meio ‘da reconciliagéo, ndo se co- megaré processo algun.” “Art, 162. Para este fim haverd julzes de paz, os quais serio eletivos pelo mesmo tempo, @ ma- neira, por que se elegem os vereadores das cAmaras. Suas atribuigdes @ distrito serio regulados por lei." Havia ainda a proviséo de um Supremo Tribunal de Justiga, em. substituigdo & Mesa da Consciéncia ¢ Ordens e a Casa de Suplicagao. ‘Mas este seria apenas responsavel pelos recursos de revista que Ihe eram oferecidos com hase exclisivamente na nulidade manifesta ou injustiga notéria: “Art, 163. Na Capital do Império, além da relacéo, que deve existir, assim como nas demais provin- clas, haverd também um tribunal com a denomi nagdo de Supremo Tribunal de Justica, composto de juizes letrados, tirados das relagSes por suas antigdidades; ¢ serao condecorades com 0 titulo do Consetho. Na primeira organizagao poderao ser empregados neste tribunal os ministros, daqueles, que se houverem de abolir.” "Art. 164, A este tribunal compete: 49) Conceder ou denegar revistas nas causas, ¢ pela maneira, que a lei determinar. 2) Conhecer dos delitos ¢ erros de oficio que cometerem os seus ministros, os das relagdes, os empreqados’ nd Gompo/alplonigtico da! pra dontes das provincias. 38) Conhecer e decidir sobre os contflitos de juris- digo e competéncia das relagées provinciais.” O papel de interpretagao da lei caberia a0 Legislativo, entretanto, como isso nao desse corto esta funcao passou, a partir de 1841, para o Coaselho de Estado, érg40 composto por pessoas indicadas pelo Im- perador. O Supremo Tribunal de Justiga teve suas fungées regulamen- tadas por lei om 1628, Outros pontos a serem destacados na Constituigéo de 1824 so aqueles que existiram apenas por existir, j& que, na pratica, néo eram. sequer levados em consideraciio.550 Seno, como explicar um artigo, 580 Alguns autores caem na armada preparada por D, Pedro I de chamar esta Const twigio de “Liberal” este & 0 e220, ont outioe, de Jon Henrique Pevangel (op cl,» 15) e JOnatas de Paula (op ei, P. 222),lfolizmente que est excite conto fr eae 205

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