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Estudo para o sistema de calibração do experimento Neutrinos Angra:

Proposta do espectro de interesse para os LEDs


Luis Fernando Gomez Gonzalez
3 de julho de 2015

Resumo
Nesse trabalho utilizamos dados da literatura e de documentos da própria colaboração para estabelecer
qual a região de interesse, em comprimento de onda, dos LEDs a serem instalados no sistema de calibração do
Detector Central do experimento Neutrinos Angra. Com essa finalidade, iniciaremos o estudo com o espectro
Cherenkov esperado dentro da região do visı́vel, convoluindo este com a atenuação da água e de GdCl3 , bem
como com a eficiência quântica esperada (dados do fabricante) da fotomultiplicadora Hamamatsu R5912
utilizada no detector central. Por último serão discutidas as regiões do espectro mais importantes para
verificação da estabilidade da mistura do sal de Gadolı́nio e a qualidade da água do detector central.

1 O espectro de emissão Cherenkov


O Detector Central do experimento Neutrinos Angra utiliza como princı́pio de detecção a geração de luz
Cherenkov, que ocorre pela passagem de partı́culas carregadas com a velocidade maior que a da luz no meio.
O espectro da luz Cherenkov é muito bem conhecido na literatura, sendo a intensidade de sua emissão linear
com a frequência da luz. Usando uma simulação computacional que tem como entrada um cubo simétrico com
volume de 1 m3 , reflexão tı́pica do Tyvek nas paredes laterais, a atenuação de água pura e geração de luz em
posições aleatórias no volume, encontramos o espectro que atinge as faces superiores e inferiores do cubo pode
ser observado na Figura 1 extraı́da da referência [1].

Pode-se observar na Figura 1 que o espectro ainda é bastante linear tendo seu maior desvio na região do
vermelho, que é mais fortemente atenuada na água. Como veremos no próximo tópico, a fotomultiplicadora
utilizada é pouco sensı́vel na região do vermelho, sendo a previsão teórica linear adequada para se utilizar nesse
modelo.

2 A fotomultiplicadora R5912
As fotomultiplicadoras utilizadas no detector central são do modelo R5912 da empresa Hamamatsu. Elas
possuem uma curva de Eficiência Quântica com o máximo na região do Azul e Violeta, entrando um pouco
dentro do Ultravioleta próximo, sendo pouco sensı́veis ao vermelho. Um gráfico da Eficiência Quântica dela
com pontos extraı́dos do Datasheet [2] e interpolados por uma Spline de Grau 3, pode ser observado na Figura 2

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Figura 1: Espectro da radiação Cherenkov simulado para o detector central da referência [1]. As cores repre-
sentam a cor correspondente do espectro visı́vel.

Figura 2: Interpolação utilizando um Spline de Grau 3 (Spline3 no software Root [3]) da Eficiência Quântica
da fotomultiplicadora R5912.

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3 Atenuação causada pelo sal GdCl3
O último componente cujo o espectro de absorção deve ser determinado é o do sal utilizado no detector central
para detecção de nêutrons provenientes do efeito Beta-Inverso, o GdCl3 . Com essa finalidade foi medida
a atenuação de diferentes concentrações de sal dissolvido em água Mili-Q no Laboratório Nacional de Luz
Sı́ncrotron (LNLS), trabalho discutido em detalhes na referência [4]. O resultado da transmitância, para as
concentrações de 0, 25%, 0, 5%, 0, 75% e 1, 0% (em massa) pode ser observado na Figura 3. É importante
observar que a transmitância medida foi feita em relação a uma amostra semelhante de água Mili-Q, sendo o
resultado obtido devido exclusivamente ao sal.

Figura 3: Transmitância obtida para diferentes concentrações de GdCl3 em água. Figura retirada da referência
[4].

Como esperado teoricamente, pode-se observar na Figura 3 que a diferença da atenuação entre as diferentes
concentrações se dá apenas por um fator de escala, mantendo o formato constante. Como nesse trabalho não
buscamos por um espectro calibrado em amplitude (absoluto), pode-se adotar qualquer uma das concentrações
para utilizar no cálculo da convolução.

4 Espectro final da luz gerada no Detector Central


O espectro com o qual a luz é detectada nas fotomultiplicadoras será uma convolução do espectro Cherenkov
gerado com os efeitos observados nas Figuras 2 e 3. Como já citado anteriormente, foi utilizado o espectro teórico
linear para a radiação Cherenkov, uma vez que, no intervalo relevante, há pouco desvio entre o encontrado por
Monte Carlo para atenuação em água, mostrado na Figura 1, e o modelo teórico. O resultado da convolução
entre a luz gerada e os dois efeitos supracitados pode ser visto na Figura 4. Nessa Figura, pode-se observar
uma curva para cada uma cada concentração de sal GdCl3 testada experimentalmente, além do percentual de
eficiência médio para cada concentração. Um ponto importante é que esses percentuais devem ser utilizados
apenas para comparação entre as diferentes concentrações, pois a eficiência real deve levar em consideração

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também a distância tı́pica percorrida, elemento esse que fora do escopo desse trabalho.

Figura 4: Espectro final Cherenkov após a convolução com os efeitos mostrados nas Figuras 2 e 3. Figura
retirada da referência [4].

5 Análise e Conclusões
O sistema de calibração do Detector Central deve ter a capacidade de informar mudanças no ganho das foto-
multiplicadoras, na opacidade da água bem como mudanças locais na concentração de sal de Gadolı́nio, como
ocorrida, por exemplo por decantação ou adsorção. Com essa finalidade, é importante cobrir completamente
o espectro esperado da radiação Cherenkov que atinge as fotomultiplicadora, do ultravioleta ao vermelho, com
LEDs com diferentes comprimentos de onda.

Um artefato particularmente importante de ser monitorado é a concentração de organismos unicelulares


como bactérias e algas.
A diversidade de bactérias torna mais difı́cil essa análise, porém dados da literatura a respeito de algas
verdes e azuis [5], mostram um comprimento de onda de absorção bastante intenso na região do Violeta e Azul
(entre 400 e 500nm), como ilustrado na Figura 5.
Utilizando-se todos os dados listados nesse trabalho, pode-se dividir o espectro em 4 intervalos de interesse,
cada qual com ao menos um LED para monitoramento. Esses intervalos são:

• De 330 à 400 nm: Essa região dentro do Ultravioleta tem uma boa separação entre as diferentes concen-
trações de GdCl3 e por esse motivo pode ser usada para medir a concentração local de Gadolı́nio. Nessa
região encontramos LEDs comerciais com os seguintes comprimentos de onda: 350nm, 365nm, 370nm e
395nm. O mais comum deles é o de 395nm.

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Figura 5: Espectro de absorção caracterı́stico de algas verdes e azuis, retirado da referência [5].

• De 400 à 470 nm: Essa região que vai do Violeta ao Azul, possui uma grande atenuação causada por algas
e pode ser usada para monitoramento do crescimento de organismos dentro do detector central. Ela ainda
tem uma boa separação entre as diferentes concentrações de GdCl3 permitindo um segundo ponto de
calibração. Nessa região encontramos LEDs comerciais com os seguintes comprimentos de onda: 428nm,
430nm e 458nm. O mais comum deles é o de 458nm.

• De 470 à 530 nm: Essa região que vai do Azul ao Verde, se encontra aproximadamente no comprimento
de onda a partir do qual a fotomultiplicadora tem sua eficiência quântica reduzida. Pode ser usado,
juntamente com os pontos anteriores, para mediar a estabilidade das fotomultiplicadoras. Nessa região
encontramos LEDs comerciais com os seguintes comprimentos de onda: 502nm, 515nm, 518nm, 520nm e
530nm, sendo os mais comuns deles de 520nm e 530nm.

• De 550 à 600 nm: Essa região que vai do Amarelo até o Laranja/Vermelho é interessante por ter a menor
atenuação causada pelo GdCl3 dentro do espectro detectado. Como ela está no limite de detecção das
fotomultiplicadoras, pode ser usada como um ponto de âncora principal na calibração, ou seja, pode-se
usar ele como ponto principal e todos os demais como um percentual deste. Nessa região encontramos
LEDs comerciais com os seguintes comprimentos de onda: 572nm, 580nm, 585nm, 590nm e 600nm.

Um resumo dos itens acima pode ser observado na Figura 6, ilustrando as regiões de interesse com uma
breve explicação. Um ponto importante de se observar é que a própria estabilidade dos LEDs pode influenciar
diretamente no resultado, motivo pelo qual, seria importante ter redundância na emissão de luz. Nesse caso,
pode-se montar dois LEDs idênticos um ao lado do outro (mantendo a mesma região iluminada) e se utilizar o
segundo LED por um tempo muito inferior ao LED principal (evitando desgaste deste), para validar as medidas
feitas com o primeiro. Dessa forma pode-se encontrar e compensar por desgastes que gerem ineficiência no LED
principal.

Outra medida que poderia complementar as medidas ópticas discutidas nesse trabalho são medidas de
resistência elétrica em diferentes pontos do Detector Central, que poderiam medir diretamente o gradiente de
GdCl3 com bastante precisão. Esse método é discutido em detalhes, incluindo o esquemático de um protótipo,
no Trabalho de Conclusão de Curso da Referência [4].

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Figura 6: Regiões de Interesse desenhadas sobre o gráfico da Figura 4.

Referências
[1] Luis Fernando Gomez Gonzalez. Estudo da Resolução em Energia do Detector de Neutrinos do Projeto
ANGRA para Medidas de Composição do Combustı́vel Nuclear. Dissertação de mestrado, Instituto de
Fı́sica Gleb Wataghin, Campinas - Brasil, 2009.
[2] Hamamatsu R5912 Datasheet.
[3] ROOT Reference Guide.

[4] Ohana Benevides Rodrigues. Medidas de transmitância para o experimento Neutrinos Angra. Trabalho de
conclusão de curso, Instituto de Fı́sica Gleb Wataghin, Campinas - Brasil, 2014.
[5] Qiao WANG Wei GAO Di WU, Maosi CHEN. Algae (microcystis and scenedesmus) absorption spectra and
its application on chlorophyll a retrieval. Frontiers of Earth Science, 7(4):522, 2013.

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