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15 Set
2016. ArchDaily Brasil. Acessado 30 Jul 2017. <http://www.archdaily.com.br/br/795322/a-
imagem-fala-ou-por-que-precisamos-ir-alem-dos-renders>
Na arquitetura não há quem não tenha fracassado. Dito de outro modo, não há arquiteto ou
arquiteta que tenha conseguido, todas as vezes, transformar as ideias em espaço concreto,
construído. Aliás, essa espécie de “fracasso” é muito recorrente na profissão; o longo e
intrincado processo necessário para trazer uma ideia ao mundo das concretudes faz com que a
maior parte de nossos projetos permaneça apenas projeto. Assim, lidamos boa parte do tempo
com representações – ou apresentações, já que não existe um referencial concreto a ser re-
apresentado.
Em plataformas virtuais como o ArchDaily os tipos mais usuais de representação de projeto são
os desenhos técnicos, textos, fotografias e imagens computadorizadas, com prevalência destas
duas últimas que são as maiores responsáveis por seduzir o público e apresentar os projetos –
sejam construídos ou ainda apenas ideias. A fotografia, como já foi dito em outro
artigo publicado no ArchDaily Brasil, representa de modo bastante fiel a arquitetura; embora
possam ser manipuladas e editadas à exaustão, às vezes transformando radicalmente alguns
aspectos da arquitetura, elas necessitam de uma referência concreta a qual re-apresentam, isto
é, só existem após o edifício ou objeto.
Não, não é. E logo a ausência de pessoas, o excesso de brilho e a insipidez dos ambientes revelam
que se trata de um logro, uma imagem cuidadosamente composta para parecer uma fotografia
de algo que já foi construído, mas que ainda habita o plano das ideias. O render enquanto
ferramenta vem sendo usado em concursos de arquitetura e em apresentações de projeto para
seduzir júri, público e investidores, e obtém sucesso nisso, já que apresenta a arquitetura como
um momento estático, insípido, organizado. Nos renders a arquitetura não está sujeita ao uso
coletivo e suas consequências: desgaste material, desorganização, sujeira, enfim, aspectos que
humanizam a arquitetura.
Quais são aqueles livros no canto do quarto? Seriam de poesia, ou thrillers policiais? E dentro
daquele frasco de remédio, o que há? Quando foi a última vez que lavaram a louça nessa
cozinha? Dúvidas como essas surgem silenciosas em nossas mentes ao passo que detemos nossa
atenção nos detalhes meticulosamente plantados nas imagens.
Questões como essas não se mostram tão latentes em renders que simulam fotografias porque
lhes faltam justamente esses detalhes: a xícara com café pela metade, as migalhas de torrada
sobre a mesa, o gato olhando pela janela. Às imagens fotorrealistas falta o que de sobra há nas
representações do FALA: realidade.
E não é exagero dizer que na arquitetura, importa menos a técnica empregada na representação
que as imagens que ela cria em nossas mentes.