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17/09/2017 O suicídio na literatura.

Por Luísa Gadelha

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O suicídio na literatura. Por Luísa Gadelha


Por Luísa Gadelha - 7 de agosto de 2016

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Ilustração de Andrea Dezsö

(Atenção: contém spoilers de livros)

No antigo império romano, Plínio, o Velho, já dizia que “em todas as misérias de nossa vida
terrena, poder abranger nossa própria morte é o melhor presente de Deus ao homem”, louvando
o suicídio como uma possível escolha, dentre as poucas que possuímos.

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17/09/2017 O suicídio na literatura. Por Luísa Gadelha

Para o filósofo francês Albert Camus, “só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o
suicídio”. Antes de Camus, muitos outros pensadores se debruçaram sobre a problemática, desde
Schopenhauer e Nietzsche ao sociólogo Durkheim, para quem o suicídio era um fenômeno
puramente social.

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Na ficção, o suicídio também está presente desde as tragédias gregas, passando pelas peças de
Shakespeare. No final do século XVIII, com a publicação do romance Os sofrimentos do jovem
Werther, de Goethe, uma onda de suicídios tomou conta da Alemanha e da Europa como um
todo, numa homenagem romântica ao personagem.

O episódio pode ser explicado pelo fato de que o suicídio é contagioso. Segundo Andrew Salomon,
em seu livro O demônio do meio-dia – uma anatomia da depressão,

“Suicídio gera o suicídio também em sociedade. O contágio do suicídio é incontestável. Se uma


pessoa comete suicídio, um grupo de amigos ou pares com frequência o seguirá. (…) As mesmas
localidades são usadas repetidamente, carregando a maldição daqueles que morreram: a ponte x
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17/09/2017 O suicídio na literatura. Por Luísa Gadelha

Golden Gate, em San Francisco, o monte Mihara, no Japão, trechos especiais de estradas de ferro,
o Empire State Building.”

Nos grandes romances realistas do século XIX, o suicídio parece ser uma alternativa para as
heroínas adúlteras de Tolstói e Flaubert, Anna Karenina e Emma Bovary (de Madame Bovary) que,
desesperadas, recorrem à morte como única saída: a primeira joga-se à frente de um trem; a
segunda se envenena.

Independentemente dos motivos, razões ou circunstâncias que levam uma pessoa a tirar a
própria vida, seja um fator social ou individual, desespero, depressão, impulsividade ou
premeditação, esse fenômeno, por vezes idealizado, também está presente na literatura
contemporânea, conforme as obras que listamos a seguir.

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Suicídios Exemplares (Enrique Vila-Matas) – Cosac Naify, 2009

Uma coletânea de dez contos sobre personagens suicidas que não levam a cabo suas tentativas –
ao menos não como nós, leitores, esperamos. Como diz o escritor espanhol no início do livro,
parafraseando Fernando Pessoa, “viajar, perder suicídios; perdê-los todos. Viajar até que se
esgotem no livro as nobres opções de morte que existem”. Seus personagens flertam com o
suicídio, arquitetam cada passo, mas fracassam em suas tentativas. Tais tentativas podem,
inclusive, acabar dando sentido ao absurdo da existência. Destaque para o conto “O colecionador
de tempestades”, em que o protagonista, ironicamente, morre de um ataque do coração minutos
antes de executar seu próprio suicídio.

Norwegian Wood (Haruki Murakami) – Alfaguara, 2008

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A melancolia e a solidão são temas recorrentes na obra do escritor japonês Haruki Murakami. Em
Norwegian Wood acompanhamos a trajetória do jovem universitário Toru Watanabe, que carrega
no passado o suicídio do seu melhor amigo, Kizuki. Toru reencontra Naoko, antiga namorada de
Kizuki, uma alma também atormentada por um inexplicável vazio existencial, que acaba por se
internar em um hospital psiquiátrico. O título faz referência à música dos Beatles, que os três
amigos adolescentes costumavam ouvir.

A elegância do ouriço (Muriel Barbery) – Companhia das Letras, 2008

Romance filosófico cheio de ironia e bom-humor, A elegância do ouriço tem como protagonistas
uma mulher de meia-idade, zeladora de um prédio em Paris, aparentemente sem instrução mas
surpreendentemente culta e a moradora de um de seus apartamentos, uma jovem de 12 anos,
Paloma. Impetuosa, Paloma decide que irá se matar no seu aniversário de 13 anos, pois não vê
sentido na vida senão como uma sucessão de fracassos e pousa um olhar cínico sobre toda a
hipocrisia de sua família, rica e tradicional.

O céu dos suicidas (Ricardo Lísias) – Alfaguara, 2012

O protagonista/autor desta auto-ficção, do escritor brasileiro Ricardo Lísias, é pego de surpresa


pelo suicídio do melhor amigo, e inicia uma viagem, tanto física quanto mental, pelo passado,
atormentado pela culpa de não ter podido salvar o amigo e buscando brechas no passado que
poderiam tê-lo mudado. “Retomando o estilo nervoso de seus livros anteriores, desta vez a
ansiedade vem ao primeiro plano, e o que vemos é uma pessoa completamente ferida a buscar
uma resposta, mas a procurar também uma redenção impossível. É um sujeito que expia sua
culpa dividindo-a com o leitor”, diz Pedro Meira Monteiro, professor da Universidade de
Princenton, na orelha do livro.

Uma longa queda (Nick Hornby) – Rocco, 2006

O britânico Nick Hornby é conhecido por seu romance Alta fidelidade, adaptado aos cinemas com
John Cusack no papel de um dono de uma loja de discos fissurado em elaborar listas. O enredo de
Uma longa queda é construído em torno de quatro pessoas que se encontram por acaso no
terraço de um prédio de Londres, na noite de réveillon, com a intenção de se suicidar. O livro é
narrado pelos quatro suicidas que descrevem suas experiências e anseios e, juntos, buscam um
sentido para viver.

Agosto (Rubem Fonseca) – Companhia das Letras, 1990

Rubem Fonseca já é consagrado e conhecido por seus romances e contos rápidos, diretos, como
filmes de suspense. Em Agosto, o autor mistura realidade e ficção, numa trama policial e política
que envolve assassinatos e o suicídio do presidente Getúlio Vargas, em agosto de 1954.

Os bons suicidas (Toni Hill) – Tordesilhas, 2014


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Segundo volume do Inspetor Héctor Salgado, que se iniciou com o romance O verão das bonecas
mortas, do escritor espanhol Toni Hill, em Os bons suicidas o inspetor Héctor Salgado é chamado
para investigar um aparente suicídio: uma funcionária de uma fábrica de cosméticos havia se
jogado nos trilhos do metrô. Ao investigar a fundo o ocorrido, o inspetor se depara com uma
complexa rede de mentiras formada pelos funcionários da referida empresa.

Nove noites (Bernardo Carvalho) – Companhia de bolso, 2006

O romance do brasileiro Bernardo de Carvalho também mistura história e ficção: no final da


década de 30, o antropólogo norteamericano Buell Quain se matou de maneira brutal em uma
aldeia indígena no coração do Brasil. Sessenta anos depois, o narrador lê por acaso uma notícia
de jornal contando a história de Quain e torna-se obcecado em investigar a vida do antropólogo e
as razões que o levaram ao suicídio.

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17/09/2017 O suicídio na literatura. Por Luísa Gadelha

Luísa Gadelha
Luísa é graduada e mestra em Letras, graduanda em Filosofia, ama literatura desde sempre e quadrinhos há
alguns anos, tem preferência por romances (longos), sejam clássicos ou contemporâneos e se esforça - ou nem
tanto - para ler mais poesia. Isso quando não está vendo séries.

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