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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CFCH-CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
DOCENTE: THIAGO AQUINO
DISCENTE: LEANDRO JANUÁRIO RODRIGUES DE SANTANA

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo explicitar o conceito de angústia e sua relação e
descoberta de si próprio, dentro da constituição do Ser-no-mundo. Analisaremos a disposição na
constituição da Angst, ou seja, angústia como acessibilidade ao Ser-aí, conforme o § 40 de Ser e
Tempo e partes do texto O que é Metafísica em Marcas no Caminho e textos complementares da
História da Filosofia.

CONCEITO DE ANGÚSTIA
Heidegger nos irá propor que tal experiência de distanciamento será proporcionada pelo
Ser-no-mundo à angústia “Angst”. O mesmo é conhecido de modo costumeiro ao conceito de
angústia; sendo conhecido na história da filosofia contemporânea como um existencialismo da
angústia. Ora esta abordagem do tema sobre a angústia abriu novas perspectivas para a pesquisa
sobre este fenômeno; todavia, a angústia não conceberá no pensamento heideggeriano um tema
sombrio e de especulação teórica? Pois a angústia possui um tema central no papel na análise
fenomenológica do Ser-aí. A angústia assumiu um termo particular de “tonalidade afetiva”. Tal
tonalidade assumiu ao lado de outras tantas possibilidades ao Ser-aí como, por exemplo: o anseio, a
alegria, o temor, a tristeza etc., determinações de modos com as quais são encontradas no mundo
circundante onde se encontra o “Dasein”. Isto significa que, o Ser-aí além de está
compreensivamente aberto para o mundo, o Ser-aí se percebe “afinado” com estas possibilidades
acima descritas que as definem o modo como estes se encontram no mundo e este junto aos entes
nas demandas do cotidiano. Ou seja, o modo do Ser-aí se encontra no mundo como compreensivo
afetivo.
Em uma linguagem mais simples: as possibilidades ou tonalidades afetivas darão o tom em
que o Ser-no-mundo se projeta no mundo, isto é, constitui o seu “caráter de possibilidades ou
disposição” (Befindlichkeit).1
A angústia é uma disposição fundamental na constituição do Ser-aí. O que isto significa?
Significa que, ao ser afetado o Ser-aí, entra em contato imediato com o seu ser, quer dizer, ao
suportar a angústia, o Ser-aí se predispõe a si mesmo na abertura de seu próprio Ser. Mas como isto
se dá? Como Heidegger conceberá esta disposição do Ser para com seu mundo circundante? Ao
iniciar o §40 de Ser e Tempo Heidegger nos dirá que é: “Uma disponibilidade ontológica do Ser-aí

1Retirado do: GLOSSÁRIO: ALEMÃO-PORTUGUÊS de Ser e tempo, Petrópolis Vozes, 2009, p. 583, coleção
pensamento humano.
que deverá” “descortinar o horizonte” ôntico e explicar o próprio Ser-aí como ente” (HEIDEGGER,
2009, p. 250). Prosseguindo com seu discurso Heidegger nos dirá que este descortinar só será
possível dentro de uma abertura constitutiva do Ser-aí.
Quando o Ser-aí se vê afinado pela angústia, este se encontra com seus sentidos projetados
no mundo. Ou seja, retraídos uma vez que sem projetos existenciais de sentido, o movimento
realizado pelo Ser-aí existencial lançado duvida ante a abertura do mundo e, neste espaço
vivenciado pelo Ser-no-mundo, encontra-se esvaziado e sem sentido, mesmo os valores deste
mundo se apresentam como indiferentes e toda sua expressão e realização acabam sendo
inviabilizada. O que queremos dizer é que a crise instaurada pela angústia, não há como
movimentar-se no campo da ocupação e ação do mundo, no exato momento em que os sentidos que
sustentariam qualquer uma das operações se encontram dispensado, demonstrando um
comportamento desprovido de um agir de um “em-virtude-de” e, por isso mesmo tornando-se
improcedente.
Heidegger não poupará em descrever os recursos que há no mundo, quando desnudado em
seu horizonte pela angústia, se fazendo estranha ao Dasein. O que se tem presente é um mundo
cheio de utensílios, mas nada há para se fazer nele; em que outros Dasein comparece, mas o
convívio se encontra inibido; em que os códigos da língua estão lá, mas comunicar o que for sobre
algo é indiferente, ou seja, “A angústia corta-nos a palavra” (Heidegger, Marcas no Caminho, p.
122).Torna-se uma indiferença fenomenológica radicalizando o que o Ser-no-mundo experimenta à
angústia originária quando se abate sobre a existência. O Ser-aí suspenso em suas conjunturas
ocupacionais e significativas em seu mundo fático sedimentado e, desobrigado de seus percalços da
existência cotidiana, o Ser-aí agora se vê obrigado ao encontro com sigo mesmo. Neste seu
encontro, se faz aberto a sua miséria ontológica, isto é, o Ser-aí se torna consciente de sua
indeterminação originária, de sua determinação positiva, de seu estado de ente essencial.
Autocompreendendo-se como um ente que pode vir a ser, o Ser-no-mundo pode se deparar com o
não vir a ser, ou seja, com o nada. “A angústia torna manifesto o nada” (Heidegger, Marcas no
Caminho, p. 122). Com isto Heidegger acaba nos revelando que a angústia expõe o Ser-aí a sua
insignificância em seu mundo sedimentado e lhe revela a negatividade constituída de seu próprio
Ser, falando-lhe de outro modo que, esta angústia acaba-lhe por lhe mostrar evidências
fenomenológicas ao Ser-aí a fundamentação inexistente do nada que este é, o que, em Heidegger
tem como consequência a angústia existencial.
Heidegger procurou em seu pensamento filosófico, partir de uma crítica radical à tradição
da metafísica ocidental, que tem em sua origem no pensamento de Platão o seu grande expoente dar
um novo sentido ou rumo, à Filosofia, na busca de algo mais originário, mais fundamental, ou seja,
o retorno da discussão da Ontologia, na busca por uma superação do esquecimento do “Ser”, de
tudo aquilo que havia sido produzido ao longo dos mais de dois mil anos de Filosofia. Heidegger
segue com sua crítica a tradição filosófica, partindo para uma caracterização legada pela tradição
como essencialista, contudo ao confundir Ser e Ente, no que resultará na divisão do Ser em
substância e acidente, assim como em Aristóteles, bem como classificando e categorizando o Ser, e
objetificando-o. A pergunta feita por Heidegger sobre o ser acabou se transformando na indagação
sobre os tipos de coisa que existem no mundo que circunda Dasein. Posicionando-se contra esta
predisposição predominante da tradição, Heidegger coloca como necessário a recuperação da
ontologia, indicando para o homem que passe a se orientar no caminho da verdade, o que não havia
ocorrido com o pensamento na Modernidade, responsabilizando-a de ter colocado as suas
expectativas na epistemologia, em um pensar da consciência colocando o homem sob um jugo que
acabou lhe direcionando ao erro, pelo falso, pela ilusão, na centralização de uma preocupação com
o conhecer e com a ciência. E assim a questão do Ser colocada na abertura de Ser e Tempo são de
maneira bastante precisa a questão da busca pelo sentido do Ser deve ser retomada na discussão
com a tradição.
Segundo Heidegger, a tradição acabou por esquecer o ser dos entes, não obstante todo ente
se encontra presente no Ser. Os entes caracterizam-se pelo mostrar-se, aparecer, por manifestar-se,
mas também pelo seu dissimular, desaparecer, sendo às vezes ausentes e errantes no mundo. Os
entes se encontram sempre no Ser e no não Ser. Heidegger na busca da verdade do ser desenvolve
uma alteração de profunda análise do sentido do conceito grego de verdade ou (alétheia), que
perpassará toda a tradição da metafísica do mundo ocidental. O conceito de Alétheia teria sua
origem na língua grega, em especial na tradição poética e mítica, sendo o seu sentido de
manifestação, desvelamento do Ser. Heidegger segue a interpretação de esta palavra possui em seus
radicais gregos os seguintes significados, alétheia é formada pelo alpha privativo grego,
significando uma negação, que servirá de prefixo para o termo lethe, ou seja, véu, encobrimento.
Alétheia significa em seu sentido literal “desvelamento”, “descobrimento” a remoção do véu que
encobri, isto é, Verdade esta verdade possui em seu sentido mais primordial e ontológico, o revelar
do Ser, o mostrar-se. Dentro da discussão com a tradição Heidegger faz referência com a alegoria da
caverna de Platão, uma descrição da libertação de um prisioneiro, ao se libertas dos grilhões da
escuridão que simboliza a verdade encoberta, se sente atônito ao libertar-se, sente-se desorientado
pela visão que toma do fogo e depois da luz mundo externo a obscurecer os seus olhos. É necessário
diz Platão que, o prisioneiro se adapte, a sua capacidade de enxergar gente à nova realidade, para
enxergar corretamente esta sua nova condição. Esta noção de “visão correta” segundo Heidegger,
inaugura a tradição metafísico-epistemológica. A verdade agora passa a ser compreendida como
adequação deste olhar para o objeto, havendo uma correspondência entre o modo de enxergar e ver
a natureza da coisa em si, descoberta, assim como no modelo aristotélico-escolástica, segundo a
qual a verdade estaria adequada ao intelecto com a coisa. Para Heidegger isto desencadeou à perda
de sentido originário de manifestação, revelação do Ser. A verdade toma agora um sentido de
relação sujeito-objeto, fundamento de toda concepção epistemológica no pensamento Moderno, mas
segundo o pensamento heideggeriano, originando-se conforme sua interpretação, na teoria do
conhecimento de Platão.
Contra esta posição dominante de pensamento, Heidegger visa transportar à luz o Ser,
perscrutar o sentido do ser enquanto desvela-se e manifesta-se. É necessária uma análise exegética
da Ontologia-Hermenêutica, ou seja, uma compreensão e interpretação de sentido na manifestação
do Ser-no-mundo, do Ser-aí, do Dasein. Para Heidegger, o homem é o único ente que se preocupa
pela busca do Ser. Na sua terminologia, Dasein deverá substituir os conceitos criados pelo
pensamento moderno, ou seja, sujeito, ou eu, devido às classificações que estes termos adquiriram
na filosofia da consciência e subjetividade no período do pensamento moderno.
Como já havíamos descrito logo de início, a angústia oferta ao Ser-aí à oportunidade de
experienciar no horizonte compreensivo do mundo enquanto tal, um rearranjo possível dos sentidos
que o Ser-no-mundo possui em sua existência. Este novo arranjo, em seguida procura retomar a
dinâmica projetiva do existir, pode simplesmente ser excessivo na busca por um retorno aos antigos
projetos de sentido, o que tornaria a um retorno ao modo com que naturalmente o Ser-aí atua no
mundo em que o circunda, e neste caso uma recaída ainda mais drástica nas lidas anteriores, ou
ainda escolher uma superação da experiência de uma não verdade ao reinterpretar a facticidade do
mundo a partir de novos projetos de sentidos, torna-se à maneira particular do Ser-aí no mundo.
O que Heidegger nos diz em Ser e tempo é bastante convincente sobre a angústia e que
esta não é somente angústia:
A angústia retira, pois, do Ser-aí a possibilidade de, na decadência, compreender a si
mesma a partir do “mundo” e da interpretação pública. Ela remete ao Ser-aí para aquilo por
que a angústia se angústia, para o seu próprio poder-ser-no-mundo. A angústia singulariza o
Ser-aí em seu próprio ser-no-mundo que, em compreendendo, se projeta essencialmente
para possibilidades. Naquilo por que se angústia, a angústia abre o Ser-aí como Ser-
possível e, na verdade, como aquilo que, somente a partir de si mesmo, pode singularizar-se
na singularidade. 2

Assim fica esclarecida que não é a essência que dá sentido a existência, mas a existência à
essência. A metafísica desde os gregos com Platão até Hegel é removida. Para Heidegger a missão
da filosofia será a de desvelar a existência, revelando ao determinar o Ser da existência. É o Dasein
sempre um Ser-no-mundo, um Estar-em, ou seja, um ser aqui, lá, agora. Com isso a sua condição
inicial na sua existência é de ser limitado, e decaído; “lançado ou atirado” no mundo. Existência
para Heidegger é “ser no mundo”, onde o homem realmente encontra-se com seu Ser, mergulhado
nas possibilidades de sua existência.

2HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Tradução revisada e apresentação de Márcia Sá Cavalcante Shuback; pósfácio de
Emanuel Carneiro Leão. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2009, p. 254 (Coleção Pensamento Humano).
A angústia segundo Heidegger, acaba por revelar toda a absoluta problematicidade do Ser,
de suas infinitas possibilidades que jamais se esgotam perante a sua existência que perenemente as
suas agonias o aflige no tempo. No entanto, as possibilidades se manifestam e compromete
sacrificando outros Dasein pois cada determinação vive da morte de outras possíveis
determinações. Então em cada um de nós em cada momento se cumpre ao realizar-se sacrificando
outras possibilidades, isto é, outros Ser-aí no mundo. A pergunta que se faz é o que fazer diante do
mundo finito? Ao perguntarmos a Heidegger sobre o que fazer diante deste limite em que o Ser se
encontra, mergulhado em finitudes ao mesmo tempo enxergamos uma possível resposta as
problematizações oriundas da existência finita, em que devemos responder aceitando a
temporalidade e historicidade, ou seja, permanecermos fiéis à nossa historicidade e ao tempo
elementos essenciais à nossa condição finita e mortal. Sendo a última destas a possibilidade da
morte.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da filosofia: Dos Pré-socráticos a Wittgenstein. - 2ª


edição revista e ampliada: 2007 13ª reimpressão: 2012.

SCIACCA, Michele Federico. História da Filosofia. Tradução de: Lúiz Washington Vita. São
Paulo: Editora Mestre Jou, primeira edição em português, 1962.

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