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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE – UNIVALE 

FACULDADE DE DIREITO, CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E ECONÔMICAS – 
FADE 

DIEGO TORRES MAFRA 
GILBERTO DE OLIVEIRA 
RAFAEL MOURA DUARTE 

A PARTICIPAÇÃO NO SUICÍDIO SEGUNDO 
O CÓDIGO PENAL BRASILEIRO 

GOVERNADOR VALADARES­MG 
2008

DIEGO TORRES MAFRA 
GILBERTO DE OLIVEIRA 
RAFAEL MOURA DUARTE 

A PARTICIPAÇÃO NO SUICÍDIO SEGUNDO 
O CÓDIGO PENAL BRASILEIRO 

Monografia  apresentada  ao  curso  de  Direito  da 


Universidade  Vale  do  Rio  Doce  –  UNIVALE,  como 
requisito  indispensável  à  obtenção  do  título  de 
Bacharel em Direito. 

Orientador: Fabrinny Neves Guimarães 

GOVERNADOR VALADARES­MG 
2008

DIEGO TORRES MAFRA 
GILBERTO DE OLIVEIRA 
RAFAEL MOURA DUARTE 

A PARTICIPAÇÃO NO SUICÍDIO 
SEGUNDO O CÓDIGO PENAL BRASILEIRO 

Monografia  apresentada  ao  curso  de  Direito  da 


Universidade  Vale  do  Rio  Doce  –  UNIVALE,  como 
requisito  indispensável  à  obtenção  do  título  de 
Bacharel em Direito. 

Aprovados (   ) 
Aprovados com louvor (  ) 
Aprovados com restrições (   ) 
Reprovados (   ) 

Professor:                               ______________________________________ 
Orientador:  Fabrinny Neves Guimarães 

Professor (a):  _______________________________________ 

Professor (a):  _______________________________________ 

GOVERNADOR VALADARES­MG 
2008

Dedicamos  esta  monografia  às  nossas  famílias,  pela  luta,  amor  e 


dedicação a nós oferecidos.

Nossos  profundos  agradecimentos  a  Deus,  aos  nossos  pais  e  avós 


pela educação e atenção dedicada; 
Agradecemos  ao  nosso  amigo  Lélio  Braga  Calhau  pela  amizade  e 
oportunidades  de  estudos,  que  só  vieram  a  enriquecer  e  abrilhantar 
nossos conhecimentos jurídicos.

‘A  prisão  não  são  as  grades,  e  a  liberdade  não  é  a  rua;  existem 
homens  presos  na  rua  e  livres  na  prisão.  É  uma  questão  de 
consciência”. Ghandi.

RESUMO 

DUARTE,  Rafael  Moura,  MAFRA,  Diego  Torres,  OLIVEIRA,  Gilberto  de.  A 


participação  no  suicídio  segundo  o  Código  Penal  Brasileiro,  2008.  Monografia 
(Graduação  em  Direito).  Faculdade  de  Direito,  Ciências  Administrativas  e 
Econômicas da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE, Governador Valadares, 
MG. 

O presente estudo justifica­se pela complexidade do ato de tirar a própria vida, pelas 
limitações  e  impasses  que  envolvem  o  suicida  e  os  participantes  do  suicídio, 
particularidades  estas,  pouco  evidentes  e  de  grande  importância  para  o 
conhecimento da sociedade. Fazer com que referidas ações tenham por escopo ser 
ponte  para  a  aplicação de  medidas preventivas, educativas,  e  didáticas,  tanto para 
os profissionais  do âmbito  jurídico,  como  para  os  profissionais da  saúde  pública,  é 
uma  questão  que  deve  imperar.  Nesse  sentido,  embora  o  suicídio  no  Brasil  seja 
taxativamente  o  menor  a  nível  mundial,  uma  das  grandes  preocupações  nos  dias 
atuais, e requisito do trabalho, é objetivar vertentes sociológicas, filosófica e jurídica 
no  que  tange  ligação  direta  ao  suicídio,  visando  não  somente  conceitos  valiosos, 
mas também a valia aos costumes e ao bem estar, benefício estes, importantes no 
tratamento e auxílio dos indivíduos, muitas vezes encontrados em estados caóticos 
ou depressivos, ou, àqueles que vivenciam um dia­a­dia sob alto nível de stress ou 
problemas  inteiramente  ligados  ao suicídio e  suas  diferentes vertentes. Leva­nos  a 
diferentes mundos ou classes, demonstrando mais uma vez, que os fatos geradores 
do  suicídio  e  sua  origem  sob  a  ótica  penal  podem  e  devem  alcançar  patamares 
valorosos  e  enriquecidos  de  matéria  e  instrumentação,  com  a  resultante  na 
incessante  busca  à  finalidade  primordial  para  se  fazer  valer  um  dos  princípios 
constitucionais  tão  bem  expressos  e  tão  escasso  no  nosso  ordenamento  jurídico, 
principalmente nas classes mais baixas, a dignidade humana. 

Palavras­chave: Suicídio, suicida, vida, sociedade, participantes.

ABSTRACT 

DUARTE,  Rafael  Moura,  MAFRA,  Diego  Torres,  OLIVEIRA,  Gilberto  de.  The 
participation  in  the  suicide  according  to  Brazilian  Criminal  Code,  2008. 
Monograph (Right Graduation). Administrative and Economic Law School, Sciences 
of the University Vale do Rio Doce – UNIVALE, Governador Valadares/MG, Brazil. 

The present study it is justified for complexity of the act to take off the proper life, for 
the limitations and impasses that they involve the suicidal and the participants of the 
suicide, particularitities these, little evident and of great importance for the knowledge 
of  the  society,  being  that  such  actions  have  for  purpose,  to  be  bridge  for  the 
application  of  writs  of  prevention,  educative,  and  didactics,  as  much  for  the 
professionals  of  the  legal  scope,  as  much  for  the  professionals  of  the  medicine.  In 
this direction, even so the suicide  in Brazil  is taxing the minor  the world­wide level, 
the  great  concern  in  the  current  days,  and  one  of  the  requirements  of  the  present 
work, it is to bring sociological and legal knowledge in what it refers to direct bonding 
to the suicide, aiming at not only related concepts valuable, but as the delivery to the 
depressive  individuals  or  to  that  they  live  under  high  level  of  stress  and  litigations, 
exposing to these classrooms the different on aspects to the criminal type in screen, 
so that thus, they reach the basic and safe knowledge, having as primordial purpose, 
a necessity that today reveals very scarce, fullness, human dignity. 

Key­words: Suicide, suicidal, life, society, participants.

SUMÁRIO 

1 INTRODUÇÃO………………………………………………………………….  11 
2 BREVES APONTAMENTOS ACERCA DO SUICÍDIO.............................  12 
2.1 ANÁLISE HISTÓRICA............................................................................  14 
2.2 O SUICÍDIO E A SOCIEDADE...............................................................  18 
2.3 A SOCIOLOGIA E FILOSOFIA NO SUICÍDIO.......................................  22 
2.3.1 O suicídio sob o ponto de vista de Émile Durkheim......................  23 
2.3.2 O suicídio sob o ponto de vista de Cesare Beccaria.....................  24 
2.3.3 O suicídio sob o ponto de vista de Albert Camus..........................  25 
3 SUICIDOLOGIA .......................................................................................  27 
3.1 PRINCIPAIS CAUSAS DO SUICÍDIO....................................................  28 
3.2 INDICADORES DE RISCO....................................................................  29 
4 INDUZIMENTO E INSTIGAÇÃO AO SUICÍDIO.......................................  31 
4.1 ELEMENTOS NORMATIVOS DO TIPO................................................  33 
4.1.1 O induzimento como forma de participação moral.......................  33 
4.1.2 A instigação como forma de participação moral..........................  34 
4.2 SUJEITO ATIVO...................................................................................  35 
4.3 SUJEITO PASSIVO..............................................................................  35 
4.4. PRESTAÇÃO DE AUXÍLIO POR OMISSÃO – IMPOSSIBILIDADE NA  36 
VISÃO MINORITÁRIA .......................................................................... 
4.5 PRESTAÇÃO DE AUXÍLIO POR OMISSÃO – POSSIBILIDADE NA  38 
VISÃO MAJORITÁRIA........................................................................... 
4.6 CONDIÇÕES DE PUNIBILIDADE.........................................................  40 
4.7 FORMAS QUALIFICADAS DO DELITO...............................................  42 
4.7.1 Motivo egoístico...............................................................................  42 
4.7.2 Vítima menor de idade.....................................................................  43 
4.7.3 Capacidade de resistência da vítima diminuída por qualquer  44 
causa: art. 122, parágrafo único, inciso II ..................................... 
4.8 PACTO DE MORTE..............................................................................  45 
4.9 TESTEMUNHAS DE JEOVÁ.................................................................  46 
4.10 GREVE DE FOME...............................................................................  47 
4.11 ROLETA RUSSA.................................................................................  48 
5. CONCLUSÃO..........................................................................................  49
10 

REFERÊNCIAS...........................................................................................  51
11 

1 INTRODUÇÃO 

A  presente  pesquisa  busca  o  espelhamento  de  um  assunto  escasso  e 


pouco  discutido  no  Brasil;  tal  seja  o  suicídio.  Faremos  menção  ao  fenômeno, 
explanando  conceitos,  abordando  o  quadrante  histórico,  sociológico  e  filosófico, 
diferenciando  paralelamente  as  visões  de  grandes  pensadores  como  Émile 
Durkheim,  Cesare  Beccaria  e  Albert  Camus.  Por  seu  turno,  será  externada  a 
questão  das  causas  e  indicadores  de  risco,  evidentes  e  relevantes  acerca  do 
suicídio. 
Além disso, serão expostas as condutas malogradas no delito tipificado no 
artigo  122,  do  Código  Penal  Brasileiro,  que  dispõe  de  três  tipos,  duas  de  caráter 
moral e outro material, reflexos da participação no suicídio; são elas: induzir, instigar 
e prestar auxílio. 
No  que  tange  ao  suicídio,  sabemos  que  é  um  enigma  que  se  dá  por 
diversos  fatores,  sejam  eles  sociais,  econômicos,  psicológicos,  ou  até  mesmo  em 
virtude de doenças graves, reações estas que serão explicadas mais adiante. 
O  enfoque  principal  do  trabalho  será  a  figura  dos  divergentes 
entendimentos  doutrinários;  tais  sejam  aqueles  que  prevêem  a  possibilidade  de 
participação por omissão, como também, o entendimento minoritário e contrário, que 
entende  a  não  possibilidade  de  auxílio  por  omissão,  questões  que  de  fato  são 
controvertidas  e  motivo  de  discussões  em  Tribunais  e  doutrinas,  e  também  serão 
enfocados com veemência no estudo proposto. 
Sendo  assim,  pela  natureza  do  crime,  o  trabalho  se  atentará  a  aspectos 
fundamentais,  sem  os  quais  não  poderia  ser  possível  aludido  crime,  onde  não 
poderemos  também  deixar  de  olvidar  a  essência  e  importância  característica  do 
sujeito  ativo  e  passivo  referente  ao  artigo  legal  em  comento,  configurando  e 
complementando a estrutura do elemento objetivo e subjetivo do crime. 
Por  fim,  ao  concurso  de  pessoas  e  a  tentativa  culposa,  serão 
detalhadamente expostos, de maneira hábil e consistente, demonstrando o papel de 
cada  um  dentro  do  campo  do  suicídio.  Além  disso,  apresentaremos  as  formas 
agravadas  dentro  da participação do suicídio,  buscando o  teor de cada  uma,  e  por 
sua vez, a figura do suicídio assistido, tema de enorme relevância, para a posterior e 
definitiva conclusão do combatente estudo.
12 

2 BREVES APONTAMENTOS ACERCA DO SUICÍDIO 

Aparentemente,  parece  fácil  distinguir  o  verdadeiro  conceito  para  o 


suicídio, porém, essa não é a realidade. No Brasil, muitos pensadores e estudiosos 
da área possuem opiniões conceituais  diversas.  Não obstante,  o  suicídio  é  um ato 
verdadeiramente  complexo  e  pouco  debatido  no  Brasil  e  nessa  linha  chega­se  a 
uma conclusão que o tema suicídio se revela altamente escasso, seja em livros, ou 
quaisquer meios da mídia no nosso país. Assim, temos que além das dificuldades de 
levar  o  conteúdo  para  a  pertinente  interação  à  sociedade  e  a  outros  fatos  sociais 
considerados  mais  pertinentes,  é  extremamente  reunir  elementos  hábeis  para 
formular uma cadeia de estudos e propostas positivas sobre o suicídio, mas em que 
pese  essa  atual  situação,  cremos  que  num  futuro  próximo  o  tema  estará 
desmistificado e sob o altere de todos os cidadãos no país. 
O suicídio (do latim sui caedere), termo criado por Desfontaines, matar­se, 
é  um  ato  que  consiste  em  tirar  intencionalmente  à  própria  vida.  Tal  termo  foi 
descoberto em 1737, sob a análise de que a pessoa, pelo próprio desejo de escapar 
de  uma  situação  negativa,  decide  tirar  a  própria  vida.  No  país,  a  figura  do  suicida 
com a preemente idéia de por fim à própria vida, nos tem revelado vários aspectos 
enigmáticos, que não poderiam deixar de serem postos em análise. 
Sendo assim, atentar­se­á primeiramente à natureza do lugar, forma como 
foi  encontrada  a  vítima,  vestigíos  na  cena  do  crime,  para  chegarmos  a  duas 
possíveis  conclusões  atinentes  ao  caso,  ou  seja,  se  houve  suicídio  ou  se  houve 
participação  no  suicídio.  A  perícia  e  testemunhas  nesse  tipo  de  situação  é 
fundamental  para se chegar à conclusão referente  à possibilidade  de  ter  havido ou 
não indícios de autoria ou materialidade por parte do participante. 
Para Bromberg, Kovács, e Carvalhos, (1996, p. 80 apud KOVÁCS,  1992, 
p. 167) o suicídio é: 
Um  ato  muito  complexo,  portanto  não  pode  ser  considerado  em 
todos  os  casos  como  psicose  ou  como  decorrente  de  desordem 
social.  Também  não  pode  ser  ligado  de  forma  simplista  a  um 
determinado acontecimento, como rompimento amoroso ou perda de 
emprego. Trata­se de um processo que pode ter tido o seu início na 
infância, embora os motivos alegados sejam tão somente os fatores 
desencadeantes.
13 

Nessa mesma esteira, para Nucci, (2007 p. 561): 

É  a  morte  voluntária,  que,  segundo  Durkheim,  “resulta,  direta  ou 


indiretamente, de um ato positivo ou negativo, realizado pela própria 
vítima,  a  qual  sabia  dever  produzir  este  resultado”,  chamando­se, 
ainda, autocídio e autoquiria. (Odon Ramos Maranhão, Curso básico 
de medicina legal, p. 222). 

Em virtude disso, o suicídio é o ato complexo decorrente de um fator social 
negativo  ou  positivo  que  leva  o  indivíduo  a  ser  induzido,  instigado  ou  auxiliado  de 
modo material ou omissivo a tirar intencionalmente sua própria vida. A conceituação 
popular, frequentemente afirma que o suicídio é ato único de ceifar a própria vida. 
Segundo Costa Júnior, (1999 p. 261) o “suicídio é a destruição intencional 
da própria vida”. 
Entende­se,  por  suicídio,  supressão  voluntária  e  consciente  da  própria 
vida.  Constitui  estranho  fenômeno  de  patologia  social,  que  em  vários  de  seus 
aspectos tem desafiado os observadores. Muitos autores adotam este pensamento, 
mas  o  que  também  não  podemos  deixar  de  observar,  são  as  causas,  se  no  caso 
concreto  é  evidente  algum  transtorno  social,  ou  qualquer  outra  informação  que 
possa influenciar o suicida, ou até mesmo o induzidor, instigador e aquele que tem a 
vontade de participar materialmente no crime, que muitas vezes levam o indivíduo a 
transformar facilmente a vida em morte. 
No entendimento conceitual de Grecco, (2005 p. 223): 

O  suicídio,  também  denominado  pela  medicina  de  autocídio  e 


autoquiria,  é  um  dos  enigmas  que  envolvem  a  humanidade.  A  falta 
de  esperança,  a  ausência  completa  de  qualquer  resposta  aos  seus 
problemas,  o  desconhecimento  da  pessoa  de  Deus  podem  levar 
alguém a eliminar a própria vida. O suicida, em virtude do desespero 
de que é acometido, pratica o ato extremo de matar­se, entendendo­ 
o como única e última resposta a tudo que enfrenta. 

E  ainda  mais  afundo  percebemos  que  um  dos  principais  tabus  da 
sociedade é o suicídio, pois este demonstra a necessidade de aprofundamentos no 
que diz respeito ao crime do art. 122 do CP, o estudo jurídico e psicológico na figura 
do crime e do criminoso, pois o Direito enxerga na figura do suicídio uma afronta aos 
costumes,  à  religiosidade,  à  vida  em  conjunto,  justamente  por  ser  um  fato  de 
resultados drásticos, que causa abalo na sociedade em geral.
14 

Para Cassorla (1992, p. 20): 

O  indivíduo  suicida,  ou  se  mata,  ou  (geralmente  com  ajuda 


profissional) se permite pensar e controlar seus impulsos, e assim se 
humaniza. A  humanidade  também,  ou  pensa  e se  humaniza,  ou  se 
exterminará. 

Nesse  enfoque,  é  bem  verdade,  e  não  podemos  deixar  de  polemizar  a 


importância  do  suicídio,  principalmente  no  que  se  refere  à  saúde  pública,  basta 
direcionarmos nossa atenção e compreendermos os índices de mortes por suicídio, 
seus paradigmas, as tentativas infrutíferas na prática a si mesmo a autoquiria (termo 
usado para o suicídio). 
Far­se­á  necessária  a  apuração  das  causas  que  levam  o  indivíduo  a 
participar  do  suicídio,  e  mesmo  que  a  participação  seja  mínima,  deve  haver  um 
controle  mais  rígido,  para  se  saber  a  origem  ou  se  houver,  as  causas.  Será  que 
podemos afirmar se essas causas são diretamente causadas pelo que a mídia nos 
propõe?  Que  embora  muitas  vezes,  influenciam  sim,  a  sociedade  de  maneira 
estrondosa  em  determinados  assuntos,  com  ideologias  vis  e  publicidades 
enganosas? Ou se são outras as causas, buscando­se trabalhar efetivamente estas, 
incentivando a busca pela prevenção, e não à repressão, ou o preconceito, visando 
apurar  a  realidade  social  de  determinadas  regiões,  onde  o  nível  de  suicídios  e 
questões  ligadas  esteja  acontecendo  crescentemente,  para  assim,  alcançar  com 
tranqüilidade  e  efetivo  controle  o  campo  da  prevenção  e  definição  razoável  dos 
fatores numéricos ligado ao índice de suicídios. 

2.1 ANÁLISE HISTÓRICA 

O  processo  histórico  do  suicídio  inaugurou­se  na  antiguidade,  naquela 


época  o  suicídio  era  considerado  crime.  Em  outros  países  como  a  Inglaterra,  este 
ato  se  estendia  aos  membros  da  família  do  suicida,  e,  por  conseqüência,  tinham 
punições  indiretas  como,  a  exposição  do  cadáver  nas  ruas,  ridicularizações  com  o 
corpo em público, etc.
15 

Na  história  do  Egito,  temos  o  suicídio  de  Cleópatra.  Em  Cartago  eram 
também  freqüentes  os  suicídios.  Amílcar  matou­se  humilhado  por  uma  derrota  e 
Aníbal suicidou­se para não cair nas mãos dos seus inimigos. Código, rei de Atenas, 
se matou para livrar o seu país dos horrores da guerra. 
Na  idade  média,  surgiam  com  mais vigores  as "punições"  aos cadáveres 
dos suicidas, como a negativa de sepultamento em solo consagrado, as mutilações, 
e  rituais  especiais,  derivados  de  várias  superstições,  como  o  vampirismo.  Outra 
conseqüência  era  que  naquela  forma  de  Estado,  a  punição  recaía  sobre  os 
cadáveres  dos  autoquiristas  (pessoas  voltadas  para  o  suicídio),  já  que  cortavam 
seus membros, e em determinadas ocasiões, cabeças eram erguidas a público, ou, 
partes do corpo humano, como: braços e  pernas eram enterrados em longínquos e 
diferentes  locais,  para  que  a  família  do  “infrator” não pudesse  oferecer  orações  ou 
adorações. 
Contudo,  em algumas  regiões  e  épocas  diversas  o  suicídio  era  tolerado, 
inclusive  sendo  considerado  um  ato  corajoso  e  nobre  nas  batalhas,  ou  ainda, 
considerado forma de negativa de rendição ou traição de seu povo. Referentemente 
ao  islamismo,  religião  fundada  pelo  profeta  Maomé,  o  suicídio  é  fortemente 
repudiado, mais  do que em  qualquer  outra  religião, sendo penalizada  até  a  família 
do suicida, que passa a ser desonrada e marginalizada pelas ações do autoquirista. 
No ocidente, o renascimento, com seu apelo à razão, e o Iluminismo, por 
seu igual apelo à razão, a tolerância e o liberalismo tenderam a diminuir a repressão 
ao suicídio, considerando equivocadas as censuras religiosas a esse fenômeno. As 
regras acerca do suicídio na Antiga Roma, durante o seu período republicano, eram 
semelhantes às dos gregos, e o suicídio era consideravelmente reprovado e tratado 
como forma de enfraquecimento do grupo social, devendo os interessados em tirar a 
própria vida apresentar as razões do suicídio, para que o senado viesse a analisar o 
caso. 
Tem­se, que o cristianismo influenciou diretamente na questão do suicídio, 
pois  compreendia  o  mandamento  ‘Não  matarás’  (Êxodo  20.13),  era  considerado 
como um crime gravíssimo, equiparado ao homicídio. Em determinadas regiões,  as 
punições  chegavam  ao  extremo,  com  o  arrastamento  de cadáveres  pelas  ruas,  de 
modo cruel e torturoso. Não podemos deixar de mencionar, que o suicídio vai contra 
o 5º mandamento na Lei de Deus.
16 

Nesse  diapasão,  Capez,  (2003,  p.  84)  nos  tece  algumas  lições  que 
merecem ser vistas: 

O Direito Canônico equiparou o homicídio ao suicídio a ponto de, sob 
as  Ordenações  de  São  Luís,  ser  instaurado  processo  contra  o 
cadáver  do  suicida,  sendo  seus  bens  confiscados.  Em  algumas 
cidades,  o  cadáver  do  suicida,  segundo  os  estatutos,  devia  ser 
suspenso pelos pés e arrastado pelas ruas, com o rosto voltado para 
o chão. 

Com  relação  às  Escrituras  divinas,  temos  os  registros  dos  suicídios  de 
Abimileque,  de  Saúl,  de  Aquitofel,  de  Zambri  e  alguns  outros.  Prosseguindo  no 
exame  do  processo  histórico,  durante  a  Revolução  Francesa,  a  mesma 
desencadeou a primeira "desincriminação" do suicídio pela Europa Moderna. Tanto 
que não há qualquer referência dessa conduta no Código Penal Francês de 1791 ou 
no Código Napoleônico de 1810. 
Oportuno  salientar,  que  os  questionamentos  de  ordem  econômica  e 
política  deslegitimavam  o  suicídio.  Os  escravos  eram  proibidos  de  suicidar­se  pelo 
prejuízo  (eram  comprados  ou  dados  em  garantias  de  dívida)  que  causavam  aos 
seus  donos­senhores.  Sob  a  concepção  de  um  Estado  –  "cidade­estado"  –  de 
caráter racional, o indivíduo não tinha mais decisão pessoal sobre a vida dele, não 
podendo  se  suicidar  sem  a  prévia  autorização  da  comunidade.  O  suicídio  era 
inautorizado e considerado uma transgressão. 
No  Oriente,  as  tradições  e  as  culturas  são  peculiares  e  demonstram 
diferenças  claras  em  relação  a  outras  regiões  do  mundo.  O  suicídio  é  comum  no 
Japão  Moderno,  sendo  adotado  o  método  haraquiri  (ritual  de  suicídio  usado  pela 
espada  nos  momentos  de traição,  indignidade  e  deslealdade  para com  o  próximo). 
No  Japão  Antigo  havia  a  tradição  do  seppuku  (espécie  de  suicídio  praticado  para 
defender a dignidade e a honra dos samurais nas batalhas). 
Na  África, quando os  filhos  nasciam  mortos,  as  mães se suicidavam,  em 
razão  da  dor  e  do  impacto  infeliz  pela  perda  de  um  filho.  No  passado,  não  muito 
distante,  precisamente  nos  momentos  de  guerras  e  confrontos,  havia  a  figura  dos 
camicases (membros do corpo de voluntários da aeronáutica japonesa), que no final 
da 2.ª Guerra Mundial foram treinados para o combate aéreo e oferecer pelo país, a 
qualquer  custo,  as  suas  vidas  contra  os  inimigos  de  guerra,  que  eram,  na  sua 
maioria os navios.
17 

Nesse  mesmo  aparato,  podemos  citar  o  filme  “A  Conquista  da  Honra” 
(2007,  Clint  Eastwood),  que  nos  conta  a  guerra  entre  americanos  e  japoneses  na 
Ilha de Iwo Jima, na 2ª Guerra Mundial, revelando­nos uma situação que por certo, 
causou  choque  à  população  mundial  que  assistiu  ao  filme,  pelo  impacto  que  a 
guerra causou e até hoje causa, direta e indiretamente. 
No  aspecto  decisivo  das  guerras,  os  soldados  não  poderiam se  suicidar, 
pois enfraqueceria o batalhão. Curiosamente, nesse último caso, o suicídio equivalia 
à  deserção,  e  o soldado que não lograsse  êxito ao se  matar,  ele  próprio era  morto 
pelo  pelotão  de fuzilamento, essa  era  a  pena  para  o  desertor.  Nesse contexto,  um 
dos  primeiros  projetos  do  Código  Penal  a  inserir  o  delito de  auxílio  ao  suicídio 
ocorreu  em  1822  e  teve  grande  influência  sobre  o  Código  Criminal  Brasileiro  de 
1830.  Em  seu  artigo  196  punia­se  o  auxílio ao  suicídio com  a  pena de  prisão de 2 
(dois) a 6 (seis) anos. 
Assim  era  a  definição:  "Ajudará  alguém  a  suicidar­se  ou  fornecer­lhe 
meios para este fim como conhecimento de causa". Nosso Código Penal do  Império 
não previa a incriminação do suicídio ou da tentativa do suicídio. O Código Penal de 
1890 já incluía na definição do delito a forma de induzir: "Induzir ou ajudar alguém a 
suicidar­se, ou para esse fim fornecer lhe meios com conhecimento de causa" (art. 
299). A pena era a prisão celular, por dois a quatro anos. Não havia o crime sem a 
superveniência do resultado da morte. 
Na  configuração  do  delito,  o  legislador  brasileiro  inspirou­se  no  Código 
Penal  italiano  de  1930  (art.  580),  adotando,  porém  técnica  superior.  Desprezou  o 
modelo  do Código  Penal  suíço (art.  115), segundo o qual  o  auxílio  ou  induzimento 
ao suicídio só é punível se a ação for praticada por motivo egoístico. Nossa lei fez de 
tal fim de agir apenas uma agravante. 
O  Código  Penal  de  1969  mantendo  basicamente  as  disposições  da  lei 
anterior introduziu como crime menos grave a "provocação indireta ao suicídio", que 
se  configura  quando  o  agente,  desumana,  e  reiteradamente  inflige  maus  tratos  a 
alguém sob sua autoridade ou dependência, levando­a, em razão disso, à prática do 
suicídio (art. 123, 2º). 
Na  idade  contemporânea,  o  fenômeno  do  suicídio  mereceu  as  mais 
variadas formas de pesquisa e interpretação psiquiátrica, sociológica e filosófica. No 
que  compete  à  religiosidade,  a  postura  da  Igreja  Católica  também  se  modifica:  o
18 

suicídio  passa  a  ser  encarado  como  uma  decorrência  de  problemas  psicológicos, 
retirando a "responsabilidade moral" do suicida. 
Os  códigos  penais  das  nações  deixam  de  considerar  o  suicídio  como  a 
figura delitiva, tendo como último país ocidental a abolir a criminalização da conduta 
a Inglaterra, em 1961. Ressalte­se, que o que foi abolido foi o suicídio propriamente 
dito, convindo dizer que o agente responde criminalmente, acaso cometa o crime de 
assistência, sendo normalmente punível. 
Assim,  o  contexto  histórico  sobre  o  tema  em  estudo,  tem  evoluído  de 
maneira  gradativa,  pois  cada  país  possui  seus  sistemas  de  político­criminal  e 
sanções diversificados. 
Cumpre  salientar,  que  as  mudanças  têm  sido  positivas,  apesar  dos 
progressos e aceleração incontrolada que o mundo de hoje nos traz, ou impõe, sob 
todos os reflexos dele originados. 

2.2 O SUICÍDIO E A SOCIEDADE 

Dentro  do  contexto  atual  do  suicido,  presenciamos  nas  sociedades, 


grande tolerância, e embora não seja considerado, o ato em si, crime; ainda é muito 
repreendido  nas  religiões  católica  e  judaica.  Os  tempos  modernos  revelam 
especificamente  no  Brasil,  que  o  suicídio  tem  crescido  gradativamente, 
principalmente na classe mais jovem. 
Vários  fatores  estão  ligados  a  essa  crescente,  em  primeiro  lugar  está  à 
depressão,  causa  esta  ligada  desde  o  momento  da  criação  do  ato  cogitação  ao 
suicídio,  até  a  intenção  de  fato.  Porém,  deve­se  deixar  claro  que  existem  outras 
propostas ligadas à suicidologia, campo que estuda a concepção e projetos ligados 
ao domínio e investigação do suicídio e as condutas suicidas. 
No tocante ao aspecto atual religioso do suicídio, vale citarmos Bromberg, 
Kovács, e Carvalhos, (1996, p. 88): 

No Brasil, atualmente, o suicídio não  é ilegal, mas dar assistência a 
ele  é  crime.  O  Código  Penal  Brasileiro,  no  Art.  122,  propõe  como 
ações  criminosas  o  induzir,  o  instigar  e  o  auxiliar  o  suicídio.  Mas  o 
suicida não é considerado um criminoso e sim um doente. Do ponto 
de vista religioso, no entanto, ainda existem condenações, como, por
19 

exemplo, nas religiões católica e judaica, as quais dão um tratamento 
diferencial ao suicida nos funerais. 

No  Brasil,  em  que  pese  grande  parte  da  população  entender  que  a 
depressão afeta somente a classe adulta; entendem erroneamente, pois o mal desta 
doença, requisito indicador de risco ao suicídio, afeta consideravelmente aos jovens. 
A depressão, em muitos casos inicia­se desde a fase da adolescência, e agrava­se 
na  fase  adulta,  acarretando  isolamentos,  e  até  desencadeamento  de  outras 
doenças. 
Sob esse enfoque, várias são as doenças mentais que estão conectadas 
na  vítima,  inclusive  o  participante  de  suicídio,  pois  o  último  é  munido  dessas 
motivações negativas para influenciar ou interferir na vida de uma pessoa, a saber: 
transtorno de conduta, problemas sentimentais, reações na família, fracasso escolar, 
timidez, religião, drogas e fatores de ordem sexual. 
No tocante ao suicida ou a vítima, por diversas causas entende haver para 
si a desnecessidade em viver, e o participante, por sua vez, em também não estar 
vivendo o melhor dos momentos, deseja o infortúnio alheio. 
Significativo esclarecer, no que toca à questão técnico­jurídica, o crime de 
participação no suicídio é acessório, ele depende da ação da vítima, que é a figura 
principal,  se  esta  se  permanecer  inerte  diante  das  ações  do  partícipe,  o  caso  é 
atípico e não haverá crime. 
A participação no crime descrito no art. 122 do CP, pelo fenômeno que é, 
tem  características  diversas,  é  um  crime  comum,  que  pode  ser  praticado  por 
qualquer  pessoa,  instantâneo  de  efeito  permanente,  e  no  nosso  entendimento,  de 
certa forma, é cogitado, preparado, e executado até mesmo mais de uma vez, caso 
a  tentativa  seja  perfeita  ou  inacabada,  tendo  duas  possíveis  resultantes,  a 
consumação com a morte ou a tentativa infrutífera. 
Não  obstante,  dependendo  da  complexidade  do  caso,  o  suicídio  é 
elaborado em detalhes e procedimentos a serem seguidos à risca pelo suicida, como 
um ritual. 
Como  se  sabe,  os  sintomas  mais  presentes  nos  dias  de  hoje, 
principalmente  nos  adolescentes  é  racionado  de  maneira  infeliz  ou  angustiante, 
muitos pensam que a vida não tem mais sentido, ou que não há razão para viver. Há 
também há questões ligadas à família, como  o sentimento de culpa por algum fato, 
ou de estar sendo um fardo ou empecilho para os pais.
20 

De acordo com estes fatores, depuramos que são indicadores de risco de 
extrema gravidade, que deveriam chamar a atenção dos órgãos públicos de saúde, 
a atentar e estudar mais zelosamente estes casos. 
Os  suicidas,  em  sua  grande  maioria,  não  se  matam  simplesmente  por 
nada,  por  plena  vontade,  e  o  que  tem acontecido  em  muitas  regiões  pelo  Brasil  é 
que  na  maioria  dos  casos  registrados,  os  suicidas  se  encontram  em  desespero,  e 
procuram não  enfrentar com  razoabilidade  os  problemas que a sociedade  e  a vida 
lhes impõem. 
Segundo o autor italiano Cesare Pavese (1908­1950), o suicídio pode ser 
compreendido  como  uma  solução  falida  e  mal  adaptada  de  uma  crise  provocada 
pelo estresse real em uma pessoa psiquiatricamente predisposta. Esta descrição é 
retirada  da  própria  biografia  de  Pavese,  o  qual  cometeu  suicídio  no  pico  de  sua 
carreira, mas, segundo seu diário, vinha refletindo sobre isso por muitos anos antes 
(Scherbaum, 1997). 
É  relevante  considerar,  demonstrando  a  atual  situação  do  suicídio  no 
Brasil,  temos  que  4,9  de  pessoas  a  cada  100  mil  morrem  por  suicídio.  Inegável 
dizer  que  felizmente  é  uma  das  menores  médias  do  mundo,  o  que  deveria  atrair 
mais  a  atenção  das  pessoas,  com  relevado  foco  e  alcance,  já  que  estamos 
literalmente com um índice razoável para o país em que vivemos. 
A  título de  índices,  no  estado  do Rio  Grande do  Sul,  o  qual  se  revela  o 
maior  em  mortes  por  suicídios,  o  número  é  expressivo  (11  para  cada  100  mil 
habitantes),  sendo  Porto  Alegre  a  capital  com  maior  taxa  de  suicídios  (11,9  para 
cada 100 mil habitantes). Já a cidade brasileira com elevado índice de suicidas é o 
Município de Venâncio Aires­RS, com mais de 40 casos a cada 100 mil habitantes. 
Ao  estudarmos  o  suicídio  no  Brasil  depreendemos  um  fator  revelador, 
qual  seja  a  não  punição  da  pessoa  do  suicida  por  razões  político­criminais,  pois 
como se pode punir uma coisa que já está morta? Ou uma pessoa que já não tolera 
mais  as  inconstâncias  e  paradigmas  da  vida?  É  bem  sabido  que  a  conduta  de 
penalizar  um  cadáver,  ou  mesmo  uma  pessoa  em  patente  angústia  e  desespero 
não existe há séculos. 
Outro  motivo,  nessa  mesma  linha  de  raciocínio,  seria  não  reprimir 
criminalmente  o  suicida,  por  caráter  meramente  solidário  e  social,  para  que  o 
mesmo não se sinta ameaçado por uma possível ação penal, ou seja, caso tente se
21 

matar, seria invocar um conflito moral, senão contra a dignidade humana, princípio 
tão combatido em nosso ordenamento jurídico. 
A pena não pode passar da pessoa do delinqüente (art. 5º, XLV, da CF), 
é o que dispõe a CF. Mais que isso, se houvesse a penalização do ato de dispor da 
própria  vida,  sem  dúvidas  a  situação  iria  se  agravar  a  partir  do  momento  que 
alguém estivesse em total desespero, imbuído de uma dor inexorável, conduzido a 
ceifar  a  própria  vida.  Cremos  que  a  referida  criminalização  só  iria  aumentar  a 
vontade do indivíduo no gesto de autodestruição. 
O suicídio na verdade tem um propósito, tirar a própria vida. Mas por quê? 
Qual a razão? A resposta é simples, o ato de tirar a própria vida pode decorrer como 
fator  de última  instância,  de caráter secundário, e  um dos aspectos  ligados a  esse 
ato pode decorrer de um quadro grave, como a carência de estabilidade econômico­ 
financeira,  afetividade,  família,  saúde,  motivação,  requisitos  importantes  para 
qualquer pessoa. 
É preciso mudar, trabalhar políticas criminais, prevenir e atuar em conjunto 
com  o  campo  da  saúde  pública,  especificamente  o  autocídio  (suicídio),  bem  como 
prevenir  e  reprimir  o  partícipe,  para  que  não  continue  crescendo  o  número  de 
“soldados da morte”. 
A  verdade  é  que  os  indivíduos,  ao  cogitarem o  cometimento  de  suicídio, 
são  levados  por  situações,  que  por  si  só,  chegaram  aos  seus  limites,  ou  seja,  as 
chances  de se  reerguerem na  sociedade  estão se  esgotando,  de  modo  que  já  não 
consegue se ter uma solução mínima. 
É assunto bastante controverso a questão da participação do suicídio, mas 
a  solução,  consoante  dito  está  em deixar  de  lado  os  fatores  negativos  e  focarmos 
em  ações  positivas  e  solidárias,  dedicando­nos  a  uma  única  força  objetiva,  tais 
sejam trazer a restauração de vidas. 
Outra  questão  a  ser  considerada,  em  relação  ao  suicídio,  é  que  há 
variações consideráveis de um país para outro, que parecem depender da índole e 
cultura de cada povo, onde algumas correlações e aspectos gerais têm sido fixados 
pelos  estudiosos,  como  exemplo,  a  estatística  referente  aos  países  altamente 
industrializados e prósperos tendentes a apresentar taxas de suicídio mais elevadas. 
Destaca­se,  que  a  taxa  de  suicídio  se  torna  bastante  regredida  nas 
classes  inferiores,  conforme  relato  em  algumas  pesquisas.  As  vítimas  do  suicídio 
encontram­se principalmente entre os membros das profissões liberais, os militares
22 

e os funcionários públicos. Os operários ocupam, curiosamente, o último posto nas 
estatísticas reveladoras do número de suicídios. 
As  tentativas  de  suicídios  ocorrem  mais  comumente  entre  as  mulheres, 
sendo  que  2/3  têm  menos  de  35  anos,  entre  as  classes  menos  favorecidas,  em 
zonas  urbanas  e  más  condições  de  habitação,  sendo  o  método  o  auto­ 
envenenamento. 
Com  essas  concepções,  não  nos  cabe  julgar,  mas  o  suicídio  tem  se 
revelado com uma ofensa aos ideais religiosos e, por que não dizer aos ditames da 
ética e moralidade. 
Entretanto,  podemos  dizer  que  o  suicídio  ou  sua  tentativa  são  condutas 
não  puníveis,  postas  não  serem  proibidas  por  razões  de  política  criminal,  assunto 
este raramente debatido, não seria ético, e até mesmo  moralmente justo  a punição 
do suicida. 
Olhando sob dois aspectos, se o suicida tem por finalidade ceifar a própria 
vida,  se  fosse  legal  a  reprimenda  penal  levantada  em  tese,  o  suicida  se 
decepcionaria  ainda  mais  em  viver,  ou  seja,  transformar­se­ia  numa  forma  de 
incentivo à intenção deste de retirar a própria vida. 
E ainda mais além, no caso da vítima no auxílio ao suicídio, esta também 
não  há  de  ser  punida  criminalmente,  devendo  a  sanção  recair,  caso  preencha  os 
requisitos  da  lei,  sob  o  participante  do  crime.  Ressalte­se  que,  se  da  tentativa  de 
suicídio não houver a morte, mas dano a algum bem público ou particular, poder­se­ 
á processar criminalmente o suicida por crime de dano (art. 163 do Código Penal). 

2.3 A SOCIOLOGIA E FILOSOFIA NO SUICÍDIO 

No  que diz  respeito  ao  suicídio,  grande  problema  da  medicina  e  da área 
suicidológica, carecedor de esforços gerais, eis que necessário um breve paralelo do 
ponto  de  vista  sociológico  e  filosófico  dos  grandes  pensadores,  que  exerceram  e 
exercem grande influência no mundo. 
Logo  abaixo,  tem­se  a  visão  adotada  por  Émile  Durkheim  acerca  do 
suicídio, onde este se baseia em teorias psicológicas, reflexos diretos das doutrinas 
de Freud, que dizem respeito às causas do suicídio, relacionadas e derivadas com a
23 

depressão  e  estados  emocionais  de violência  familiar,  medo,  sentimento  de  culpa, 


frustrações sociais, ódio e vingança. 
Encontra­se também, a visão de Cesare Beccaria, onde em seu livro “Dos 
Delitos  e  das  Penas,  (1764)”  retrata  bem  alguns  pontos  relacionados  ao  suicídio, 
principalmente quando diz que a pena não pode passar do cadáver, tampouco recair 
sobre a família do ente perdido, pois seria destruidora e uma agravante. 
Mencionar­se­á  a  visão  do  filósofo  Albert  Camus,  o  qual  precisa  com  a 
importância  do  suicídio,  teorizando  o  paralelo  entre  a  vida  e  a  morte,  as 
conseqüências, os dramas e o choque que a morte pode causar. 

2.3.1  O suicídio sob o ponto de vista de Émile Durkheim 

Sociólogo francês (15/04/1858), fundador da sociologia, ramo das ciências 
humanas que estuda a organização e os fenômenos sociais. Nasceu em Épinal, em 
uma família judia pobre, e conseguiu estudar graças à ajuda de amigos. 
Dentre as  investigações  de Durkheim,  entendia  que  o suicídio, fenômeno 
tão aparentemente individual  seria motivado e desenvolvido a partir da resposta da 
sociedade, seja ela negativa ou positiva. 
Assim, sob a ótica de Durkheim, seria concreto afirmar que toda sociedade 
possui uma taxa anual de suicídios  e, em verdade, o suicídio é a conseqüência de 
algum tipo de loucura ou de disfunção mental. 
No que toca às taxas de suicídios, merece guarida a observação feita por 
Durkheim,  no  que  concerne aos  graus  de instrução,  demonstrativo  de  uma  relação 
de  proporção  direta,  ou seja,  a  constatação  de  que  o  indivíduo  mais  instruído  tem 
mais  probabilidade  ao  suicídio,  por  estar  sujeito  a  uma  quantidade  maior  de 
problemas. 
Importante  observar,  nos  levando  a  uma  conclusão,  que  determinada 
característica social pode conduzir em ações claras e distintas dentre os indivíduos e 
o  modo  como  isso  ocorre  fica  mais  claro  quando  Durkheim  examina  os  tipos  de 
suicídio. 
Daí  então,  Durkheim  faz  a  distinção  entre  suicídio  altruísta  e  suicídio 
egoísta. O suicídio é um ato que se produz no marco de situações desorganizadas
24 

em  que  os  indivíduos  se  deparam  em  situações,  que  se  vêem  forçados  a  tirar  a 
própria  vida,  evitando  os  conflitos  e  tensões  sociais,  para  eles  insanáveis  e 
totalmente destrutíveis. 
Tal  pensador  expressava  que  a  causa  do  suicídio  só  poderia  ser 
sociológica. Assim, em suas pesquisas e estudos descreveu três tipos de suicidas: 
a)Suicida  egoísta.  A  pessoa  se  mata  para  não  sofrer  mais; 
b) Suicida altruísta.  A  pessoa se mata para  não  dar  trabalho aos  outros 
(geralmente pessoas de idade); 
c)  Suicida  anômico.  A  pessoa se  mata  por  causa  dos  desequilíbrios  de 
ordem  econômica  e  social.  Exemplo:  a  dispensa  de  um  humilde  trabalhador,  que 
sustenta sozinho sua família, estimulou­lhe o suicídio. 
Dessa forma, cada estrutura constante em determinado meio social, pode 
gerar o suicídio, dependendo do fator histórico­cultural e econômico. 
Faleceu  o  sociólogo  em  15  de  novembro  de  1917  em  Paris,  carregando 
influências primorosas como a sociologia, o Direito, suicídio, ética, entre outras. 

2.3.2  O suicídio sob o ponto de vista de Cesare Beccaria 

Nascido  em  15  de  março  de  1738  em  Milão  na  Itália,  jurista,  filósofo, 
economista  e  literato  italiano,  Beccaria  propunha  que  o  suicídio  não  poderia  de 
forma  alguma  ser  punido,  não  enxergava  a  viabilidade  de  uma  pena,  pois  como 
poderíamos punir o que já estava morto? 
A única sensação que poderia se ter, caso houvesse alguma punição, é de 
uma  infeliz  aplicação  de  sanção  a  um  corpo  falecido,  observando  a  contorção  e 
fustigamento ineficaz do referido corpo. 
Beccaria  lecionava  que  a  punição,  caso  recaísse  sobre  determinada  e 
inocente  família,  seria  um  tanto  maldosa  e  maléfica,  possuidora  de  caráter 
meramente  repressivo  e  punitivo  retirando  total  liberdade  sobre  determinado  grupo 
familiar. 
Ademais, pregava que o homem traidor à sua pátria, ou, que abandonasse 
seu lar, estaria praticando um mal dobrado àquela sociedade, muito mais do que um 
suicida na ação pretensiosa e infeliz de ceifar a própria vida.
25 

Veja­se os lídimos ensinamentos de Beccaria, (1996, p. 78): 

O  suicídio  é  um  crime  que  parece  não  poder  receber  uma  pena 
propriamente dita, já que a pena só poderia recair sobre um inocente 
ou  sobre  um  corpo  insensível  e  frio.  Se  esta  não  faz  qualquer 
impressão  sobre  os vivos,  como não  o  faria  o  açoitar  uma  estátua, 
aquela  é  injusta  e  tirânica,  porque  a  liberdade  política  dos  homens 
supõe necessariamente que as penas sejam pessoais. 

Desta forma, a pena para o suicídio, na visão do mestre Beccaria era inútil 
e  injusta,  pois  se  houvesse  tal  pena,  recairia  sobre  a  família  do  suicida, 
demonstrando que somente Deus detinha representatividade para castigá­lo após a 
morte, e não o ser humano. 
Cesare Beccaria faleceu em Milão, Itália em 24 de novembro de 1794. 

2.3.3  O suicídio sob o ponto de vista de Albert Camus 

Nascido na Argélia, precisamente em Mondovi em 7 de novembro de 1913 
, escritor e filósofo, tinha por principais interesses: a justiça, ética, amor, humanidade 
e política. 
Com isto, ensinava que o verdadeiro problema filosófico seria o suicídio, e 
ainda,  tinha  o  entendimento  que  o  julgamento  da vida seria  um  tanto  subjetivo,  ou 
seja,  se  ela  merece ser  vivida  ou  não,  é  responder  uma  difícil  pergunta  acerca  da 
Filosofia. 
Todavia, o mundo nos trás idéias, ilusões, e Camus dizia que se o mundo 
nos  oferece  tantas razões para viver,  estas também  poderiam  se  tornar ao mesmo 
tempo oportunidades de morrer. 
Sendo assim, o suicídio é um fenômeno social e individualizado, premente 
na idéia e no gesto (suicídio); gesto este a imagem de uma grande obra, que cala o 
coração humano. Assim, o veneno estaria no próprio coração do homem, o qual nos 
consume e mata aos poucos, pois em cada pensamento, gesto de aflição e angústia 
interior, estes sentimentos acabam nos remetendo a sermos consumidos por dentro. 
Por estes aspectos, Camus afirmava várias as causas existentes para se 
cometer  um  suicídio,  e  dentre  as  mais  praticadas,  são  as  mais  ineficazes,
26 

demonstrando que o descontrole, que leva a ação praticada, se torna cada vez mais 
falho, gerando inúmeras tentativas infrutíferas. 
Matar­se para o filósofo em estudo, em sentido objetivo é confessar, tanto 
os  dramas  que  a  vida nos  trás,  como  ser  ultrapassado  por  uma  vida  sem  sentido, 
sem caminhos. 
A  vida  não  é  fácil,  referenciava  Camus,  obviamente  que  a  vida,  a 
convivência,  o  perdão,  a  solidariedade  do  ser  humano,  nem  sempre  é  uma  tarefa 
fácil. O que não podemos deixar de esquecer é que o sentido da vida é este, em nos 
colocar diante de diversos tipos de situações, as quais muitas se tornam hábitos, é 
isso que a existência ordena. 
Noutro  cerne,  distinguia  o  absurdo  e  o  suicídio,  sendo  que  ambos  estão 
interligados, de tal forma que o suicídio seria a solução para o absurdo. 
Enfim,  a  corrida  cotidiana  direciona  as  pessoas  um  pouco  mais  para  a 
morte, onde o corpo guarda esse avanço inadiável. As pessoas se destroem porque 
a vida já não vale mais a pena ser vivida, em decorrência do absurdo, contrapondo­ 
se à esperança, ao sentimento de prosseguir, de continuar lutando pela vida. 
Albert Camus faleceu em 4 de janeiro de 1960 em Villeblevin, na França. 
Três anos antes ganhou o prêmio Nobel de literatura pelo o Absurdismo.
27 

3 SUICIDOLOGIA 

O  campo  da  suicidologia  retrata  a  figura  do  “suicida”,  foco  de  maior 
desenlace  na  existência  humana,  que  nos  revela  várias  origens  e  culturas.  Em  tal 
decorrência, podemos identificar e evidenciar os padrões característico psicológico e 
jurídico do autoquirista, chegando a uma conclusão técnica e elementar acerca das 
pessoas que se levam ao suicídio. 
No  Brasil,  não  há  uma  sociedade  que  trata  única  e  especificamente  do 
campo suicidológico, combatendo efetivamente  os gravames que o suicida, pessoa 
desequilibrada e psicologicamente abalada possui. 
Entretanto,  em Portugal,  existe  a  Sociedade  Portuguesa  de  Suicidologia, 
fundada em 2000, que vem cuidando e debatendo a questão do suicídio com muita 
perspectiva  e  combatividade,  prevenindo  e  cuidando  do  suicídio  e  suicida, 
respectivamente, com determinação e amparo. 
Desta forma, o instituto da suicidologia, se debatido e divulgado no Brasil, 
viria em boa hora, já que referido instituto  preocupa­se em desenvolver palestras e 
estudos relacionados ao suicídio e suas tendências no mundo atual. 
Seria  importante  contextualizar  a  suicidologia  em  nosso  país,  pois  traria 
enormes vantagens, como  controle  efetivo  dos suicídios, principalmente  dentro  dos 
padrões  econômico,  político  e  cultural  de  cada  região,  como  forma  de  reflexo 
negativo e positivo das ações do suicida, e ainda, a redução de seus índices e apoio 
assistencial em todos os setores. 
Abrindo  margens  a  várias  idéias  e  diagramas,  a  suicidologia  pode  ser 
campo  e  oportunidade  para  todos  que  estão  ligados  direta  e  indiretamente  a  ela, 
onde todos têm a ganhar. 
A  seara  da  suicidologia,  pela  sua  característica  objetivo­preventivo  e 
psicossocial,  ajuda  desequilibrados,  tendentes  ou  voltados  para  o  suicídio, 
procurando ao máximo,  pragmaticamente, de  maneira  organizada,  reduzir  as  taxas 
de mortes por suicídio solucionando problemas que eventualmente ocorrerem. 
Finalizando  o  parâmetro  suicidológico,  o  mesmo  se  instituído  em  nosso 
país,  com  as  finalidades  expostas,  procuraria  sempre  colocar  à  disposição  da 
população, especificamente, o Brasil, opções eficazes para uma vida mais segura e 
equilibrada, longe de qualquer ameaça que atente contra seus ideais anti­suicidas.
28 

3.1 PRINCIPAIS CAUSAS DO SUICÍDIO 

Nesse  contexto, o suicídio  é  um  mistério  para  os cientistas  e  psiquiatras 


no  campo  criminal,  social  e  suicidal  (campo  que  trata  do  suicídio).  Importante 
salientar com uma pergunta: Porque as pessoas cometem suicídios? Várias são as 
respostas,  ou  talvez  única,  pois  cada  pessoa  é  reflexa  de  uma  estrutura  que  a 
sociedade nos traz, seja positivo ou negativo. 
Sendo assim, se o indivíduo possui um respaldo negativo da sociedade e 
envolto numa série de fatores negativos, certamente que terá algum motivo para se 
sentir  abalado.  Nesse  discorrer,  desse  sentimento  infeliz,  sem  religiosidade,  sem 
amor,  sem  família,  sem  amigos,  sem  trabalho,  por  fim,  aquele  que  possui 
“máscaras”, que não vive  a  própria vida, pode  acabar  mergulhado na instabilidade, 
na autodestruição. 
Nessa seara, Cassorla (1996, p. 89) diz que “ninguém se mata só porque 
brigou com o marido, ou perdeu o emprego. Estes fatos contribuem, mas é o elo final 
de uma longa rede de fenômenos e têm uma importância limitada”. 
Assim,  inexiste  um  traço  específico  que  demonstra  a  personalidade 
voltada ao suicídio. Porém, no geral, as características do suicida são impulsividade 
e personalidade conturbada, associada aos problemas sociais. Ademais, o que leva 
ao suicídio pode ser determinado pela cultura, sociabilidade de cidades e regiões, de 
modo  que  venha  ou  não  influenciar  a  mente  de  uma  pessoa  que  sequer  cogite  o 
pensamento de autolesão. 
Sob  esse  foco,  vários  são  os  fatores  resultantes  de  um  suicídio,  ou  sua 
tentativa, a saber: 
a) Situação de extrema aflição, entendendo não haver solução; 
b) doenças físicas incuráveis; 
c) estado psicótico; 
d) por se acharem envolvidas com um fato grave, sem alternativa de fuga; 
e) depressão; 
f) drogas ou substâncias que causam dependência. 
Tentando compreender o suicídio, no aspecto jurídico, sabemos que pode 
ser um fator predominante em muitas cidades do mundo, e diante de tal fato, é uma 
realidade complexa e chocante, já que seu poder de impacto perante a sociedade é
29 

significante, em que muitas vezes causa dor e comoção, devido à estrutura do caso 
concreto. 
Diante  disso,  se  a  ocorrência  de  suicídio  ocorrer  em  uma  família,  onde 
este  fato  afete  indiretamente  outros  de  seus  membros,  gerando  durante  as 
gerações,  desgraças,  doenças  psíquicas  inabaláveis,  as  conseqüências  poderiam 
ser devastadoras e extensivas por várias gerações. 
Vale  asseverar,  corroborando  o  aspecto  causador  do  suicídio,  o 
ensinamento  do  reverendíssimo  escritor  e  falecido sacerdote  Léo,  Padre  (2007,  p. 
128/129): 
Os  ensinamentos  de  Jesus  postulam  a  entrega  generosa  e 
consciente  da  própria  vida.  A  droga  implica,  ao  contrário,  a 
confirmação  do  mais  egoísta  dos  desenlaces  que  pode  ocorrer  a 
uma existência humana: o suicídio. 

3.2 INDICADORES DE RISCO 

A experiência cotidiana nos faz acreditar que o suicídio é algo imprevisível. 
No  entanto,  há  indicadores,  os  quais  são  aptos  a  revelarem  as  probabilidades  de 
suicídio em determinado indivíduo. São eles: 
a) tentativas anteriores infrutíferas de suicídio; 
b) disponibilidade de criação e prática do suicídio; 
c) conversas abertas em relação ao suicídio; 
d) preparação de um testamento; 
e) perda um ente querido; 
f) histórico de suicídio na família; 
g) alcoolismo; 
h) homossexuais; 
i) desesperança, pessimismo, e outros. 
Com isto, perceba que os indicadores deveriam ensejar e despertar meios 
de  prevenção,  tal  como  criação  de  núcleos,  em  cidades  poucos  afetadas  pelo 
número  de  suicídios,  para  que  desta  forma,  os  suicídios  não  evoluam  tal 
enormemente como nas grandes capitais.
30 

O  escritor  Léo,  Padre  (2007,  p.  207/208)  novamente  nos  narra,  em  seu 
livro, Jovens Sarados, que: 

A dependência química é a oitava causa de solicitação de internação 
hospitalar, revela a Organização Mundial da Saúde (OMS). Dados da 
mesma  fonte  apontam  a  doença  como  responsável  por  64%  dos 
homicídios,  39%  dos  estupros, 80%  dos  suicídios, 60%  dos  casos 
de agressão a crianças, de 35% a 64% dos acidentes de trânsito e 
como o  terceiro  motivo  para  afastamento  do  trabalho.  O  abuso das 
substâncias psicoativas  causa danos  de  proporções alarmantes e  a 
medicina se desdobra para conter o avanço dessa tragédia. (Negrito 
nosso). 

Nesse  sentido,  a  idéia  de  núcleos  de  prevenção  ao  suicídio,  tratamento 
psiquiátrico  aos  portadores  de  doenças  indicadoras  de  suicídio,  bem  como, 
acompanhamento  familiar  e  social  ao  suicida,  deveriam  ser  medidas  a  serem 
tomadas  por  alguns  estados  e  municípios,  para  que possam  efetivamente  ajudar  e 
combater o suicídio e suas vertentes. 
Ressalte­se, por oportuno, que embora a mente de uma pessoa tenha por 
premente  a  idéia  de  suicídio,  eis  que  a  mente  do  suicida  é  imprevisível,  ou  seja, 
pode ser alterada repentinamente.
31 

4 INDUZIMENTO E INSTIGAÇÃO AO SUICÍDIO 

Adentrando  na  questão  jurídica  atual  do  induzimento  e  da  instigação  no 
crime  disposto  no art.  122  do  CP,  dos  crimes  contra  a  vida,  a  legislação  brasileira 
não puniu o suicida, por questões de política criminal e solidariedade àquela pessoa 
que tenha em mente o animus do suicídio, ou à vontade de suicídio, porém a figura 
daquele que instiga, induz e auxilia é perfeitamente passível de sanção penal. 
Para  Prado,  (2007,  p.  82) “a  proteção da vida  humana  –  bem  jurídico  de 
incontestável  magnitude  justifica  a  previsão  insculpida  no  artigo  122  do  Código 
Penal”. 
Porém,  existem  condutas  puníveis  no  tipo  penal,  sob  a  forma  de 
participação  moral,  a  saber:  induzimento  e  instigação.  Os  verbos  penais  são 
uníssonos  e  possui  quase  que  o  mesmo  objetivo,  diversificando  em  um  aspecto, 
como veremos adiante. 
O  crime  em  destaque  é  classificado  como  crime  comum,  comissivo  que 
implica  ação  causal  e  eficaz,  podendo  ser  praticado  por  qualquer  pessoa,  de 
natureza  comissiva  ou  omissiva,  questão  não  pacificada  na  doutrina  e 
jurisprudência, e com a resultante morte ou lesão corporal de natureza grave. 
Indispensável  que  haja  na  conduta  do  agente  que  induz  ou  instiga  a 
seriedade, pois, se o agente diz em tom de brincadeira a uma pessoa que ela deve 
se matar,  e  a  mesma  recebe  a  ordem,  o  fato é  atípico  pela  ausência  de dolo, não 
sendo admitido a culpa. 
O dolo eventual nesse crime é possível, desde que, por exemplo, o marido 
que pratica maldade reiteradamente contra a esposa, não esperando que a mesma 
vá se suicidar em virtude dos maus­tratos, mas mesmo assim continua a seviciá­la, 
estará esse marido participando e responderá pelo delito. 
Veja­se a jurisprudência: 

“Ora,  induzir  e  instigar  são  verbos  diferentes,  empregados  no  texto 


legal, para traduzir ações delituosas diversas. Já teve o relator deste, 
ocasião  de  observar,  em  artigo  de  doutrina,  que  o  induzimento  ao 
suicídio  significa  a  persuasão,  para  incutir  no  espírito  de  outrem  o 
desígnio  de  eliminar  voluntariamente  a  própria  vida.  A  instigação, 
porém, é de caráter dinâmico, traduzindo um acoroçoamento ao ato 
de  dar­se  alguém  à  morte’  (v.  “Induzimento,  instigação  e  auxílio  ao
32 

suicídio”,  na  RJTJSP  5/9)”  (TJSP  –  HC  –  Rel.  Adriano  Marrey  – 


RJTJSP 11/408). 

Imperioso acrescentar que o suicida deve possuir pleno discernimento de 
sua  conduta,  e  entender  o  caráter  ilícito  introduzido  pelo  participante  do  suicídio 
(induzir ou instigar), pois se a vítima for criança, idoso, doente mental, ou qualquer 
outra pessoa que tenha o discernimento reduzido o crime será o de homicídio. 
Nesse  sentido,  são  os  escólios  jurisprudenciais  que  nos  revelam  as 
condutas típicas do delito em comento: 

SENTENÇA  DE  PRONÚNCIA  ­  FUNDAMENTAÇÃO  ­  TEOR.  “A 


sentença  de  pronúncia  deve  consubstanciar  a  certeza  quanto  à 
materialidade do delito e a revelação de indícios sobre a autoria. Não 
lhe é própria a utilização de tintas fortes quer relativamente à autoria, 
ou  à  personalidade  do  acusado,  simples  acusado,  quer  às 
circunstâncias  em  que  ocorrido  o  crime,  sob  pena  de  vício  grave, 
capaz de maculá­la, isto tendo em conta a competência dos jurados 
para  o  julgamento  e  a  necessidade  de  manutenção,  pelo  Juiz 
Presidente  do  Tribunal  do  Júri,  da  eqüidistância  desejável.  A 
sentença  de  pronúncia  não  pode  servir  de  argumento  à  acusação, 
influenciando  o  ânimo  dos  jurados.  O  comedimento  e  a  sobriedade 
no emprego dos vocábulos hão de ser constantes. Descabe, a título 
de  fundamentação,  tomar  de  empréstimo  peça  apresentada  pela 
acusação.  Precedente:  habeas­corpus  nº  69.133,  relatado  pelo 
Ministro  Celso  de  Mello  perante  a  Primeira  Turma.  SUICÍDIO  ­ 
TIPICIDADE  ­  ELEMENTO  SUBJETIVO  ­  O  tipo  do  artigo  122  do 
Código  Penal  deve  estar  configurado  em  uma  das  três  formas 
previstas  na  norma  ­  o  induzimento,  a  instigação  ou  o  auxílio  ao 
suicídio,  exsurgindo  daí  o  dolo  específico.  SUICÍDIO  ­  MAUS 
TRATOS ­ LESÕES CORPORAIS. Em toda ciência, e o Direito o é, 
os  vocábulos,  as  expressões  e  os  institutos  têm  sentido  próprio, 
cumprindo  àqueles  que  deles  se  utilizam  o  apego  à  maior 
tecnicidade possível. Ao contrário do que preceituado no artigo 207, 
§  2º,  do  Código  Penal  Militar,  o  Diploma  Penal  Comum  não 
contempla  como  tipo  penal  a  provocação  indireta  ao  suicídio,  de 
resto cogitada no § 2º do artigo 123 do que seria o Código Penal de 
1969,  cuja  vigência,  fixada  para  1º  de  agosto  de  1970,  jamais 
ocorreu”.(STF –  2ª. T.  – HC 72049­MG –  Rel. Marco Aurélio –  DJU 
18.05.2001, p. 64). 

“Sem  ocorrência  de  suicídio  ou  de  tentativa  de  suicídio,  não  há 
possibilidade de tipificação do delito do art. 122 do CP” (TJSP – HC – 
Rel. Azevedo Franceschini – RT 531/326). 

“O simples rompimento de um namoro não  pode jamais ser havido, 
de  per  si,  como  ato  tendente  a  induzir  ou  instigar  o  parceiro  a 
cometer o suicídio” (TJSP – HC – Rel. Adriano Marrey – RT 410/88).
33 

4.1 ELEMENTOS NORMATIVOS DO TIPO 

O tipo penal é composto pelos verbos induzir, instigar e auxiliar. O agente 
que comete uma, ou  mais ações descritas, incorre em um só crime. A participação 
moral  consiste  em  induzir  e  instigar.  Temos  também  a  conduta  material,  o  auxílio 
classificado na conduta de agir, ou seja, em prestar elementos concretos e materiais 
à vítima. 

4.1.1 O induzimento como forma de participação moral 

Passemos  então  a  analisar  os  verbos  nucleares  citados  do  tipo 


especificamente. Mirabete, (2006, p. 51/52): 

Embora o induzimento e a instigação sejam situações semelhantes, 
pode­se distinguir o ato de induzir, que traduz a iniciativa do agente, 
criando na  mente da vítima  o  desejo  do  suicídio  quando  esta ainda 
não  pensara  nele,  do  ato  de  instigar,  que  se  refere  à  conduta  de 
reforçar,  acoroçoar,  estimular  a  idéia  preexistente  de  suicídio  (RT 
410/88). 

Diante disso, ainda no tocante ao ato de induzir a vítima, entende­se ser a 
conduta de cogitar, trazer à tona idéias que possam influenciar o indivíduo a tirar a 
própria vida.
A título de exemplo, com o intuito de evidenciar ainda mais o ato induzir; o 
caso  de  uma  adolescente  brasileira  que  engravida,  e  diante  de seu  desespero  em 
contar  aos  pais,  e  receio  do  repudio  as  necessidades  futuras  da  criança,  que  em 
tese, poderia não suportar, é sugerida por um indivíduo a pular de uma ponte. 
Percebe­se, que no aludido caso acima, houve uma iniciativa por parte do 
participante em conduzir a idéia de suicídio a outrem. 
Nesse sentido é o entendimento de Capez, (2003, p. 86): 
Induzir  significa  suscitar  a  idéia,  sugerir  o  suicídio.  Ocorre  o 
induzimento  quando  a  idéia  de  autodestruição  é  inserida  na  mente 
do suicida, que não havia desenvolvido o pensamento por si só.
34 

Portanto,  induzir  é  criar  na  mente  de  um  indivíduo  a  idéia  de  morte,  ou 
seja, suicídio, de  levantar a  possibilidade  de  se chegar  ao suicídio  por  iniciativa  da 
própria pessoa, que de momento sequer pensasse ou cogitasse tal coisa. 

4.1.2 A instigação como forma de participação moral 

Sob  o  espectro  da  instigação,  trata­se  de  ação  livre,  deliberada  e  de 
caráter finalístico,  ou seja,  de produzir  a  autodestruição  do ser  humano, vejamos  o 
posicionamento abaixo: 
O ilustre doutrinador Nucci, (2007, p. 562) diz que: “Instigação é fomentar 
uma  idéia  já  existente.  Trata­se,  pois,  do  agente  que  estimula  a  idéia  suicida  que 
alguém anda manifestando”. 
Desse  modo,  adotamos  entendimento  semelhante  ao  sábio  doutrinador, 
no sentido de nos referirmos que a instigação pode alimentar, ou seja, fomentar uma 
idéia preexistente na mente de uma determinada pessoa. 
Assim, é criada uma idéia de suicídio a alguém (induzir), posteriormente, a 
pessoa, cuja qual sugeriu tal fato, monitora ou persegue a pessoa visada, reforçando 
as  manifestações  de  suicídio  que  referido  indivíduo  propõe.  Ex.:  A  diz  para  B  que 
realmente possui o propósito de se matar, ingerindo veneno para rato, momento que 
B  lhe  reforça  por  vários  dias,  de  maneira  gradativa  para  que  o  faça,  para  assim, 
acabar com toda a sua ilusão e descrença para com a vida. 
A corroborar, Costa Júnior (1999, p. 261): “Instigação é reforçar propósito 
existente”. 
Nessa  seara,  veja­se  a  jurisprudência  paulista:  “Induzimento  é  a 
persuasão  para incutir  o desígnio  de suicidar­se;  instigação é  o  acoroçoamento  ao 
ato de suicidar­se”. (TJSP, RT 410/88).
35 

4.2  SUJEITO ATIVO 

As  partes  no  crime  em  estudo  podem  ser  divididas  em  sujeito  ativo  e 
passivo.  O  sujeito  ativo  deve  ser  obrigatoriamente,  para  a  configuração  do  crime, 
qualquer pessoa com plena capacidade civil, sanidade mental, com o puro objetivo 
de induzir, instigar ou auxiliar a vítima ao suicídio. 
Para Bitencourt, (2003, p. 119) “o sujeito ativo do crime de participação em 
suicídio  pode  ser  qualquer  pessoa,  não  requerendo  nenhuma  condição  particular, 
pois se trata dos chamados crimes comuns”. 
Note­se,  ainda,  que  para  configurar  as  condutas  aludidas,  a  vítima 
necessitará demonstrar a mínima capacidade de resistência e discernimento. 
Caso  não  haja  capacidade  de  resistência  por  parte  do  ofendido,  o  crime 
passará  a  ser  o  de  homicídio  simples.  Ex.:  Deficiente  mental  sendo  auxiliado 
materialmente  pelo  criminoso,  que  entrega  uma  arma  de  fogo  e  o  orienta  a  atirar 
contra si, oportunidade que o mesmo, em virtude de seu estado mental o consente. 

4.3  SUJEITO PASSIVO 

Caracteriza­se, o sujeito passivo, como aquela pessoa capaz, que ofereça 
mínima resistência à ação do sujeito ativo. 
Portanto,  o  delito  não  restará  evidenciado  se  as  vítimas  forem  várias 
pessoas determinadas. Ex.: Filme brasileiro que por questões sociais faz apologia ao 
suicídio,  onde  em  decorrência  de  seus  personagens  e  história,  leve  determinado 
grupo de pessoas a um suicídio em massa. 
Não obstante, às diretrizes acima adotadas, vale a advertência de Grecco 
(2005, p. 225): 
O  sujeito  passivo,  da  mesma  forma,  poderá  ser  qualquer  pessoa, 
desde  que  a  vítima  tenha  capacidade  de  discernimento,  de  auto­ 
determinação,  pois,  caso  contrário,  estaremos  diante  do  delito  de 
homicídio.
36 

Por tais razões, livros, filmes, espetáculos teatrais incitando o suicídio, não 
caracterizam  o  tipo  em  revista,  pois  o  ofendido  para  se  enquadrar  como  sujeito 
passivo,  deverá  ser  induzido,  instigado  e  auxiliado  materialmente,  não  valendo  a 
diretriz coletiva, a conduta deve ser determinada e singular. 

4.4  PRESTAÇÃO  DE  AUXÍLIO  POR  OMISSÃO  –  IMPOSSIBILIDADE  NA  VISÃO 


MINORITÁRIA 

Questão  relevante  e  muito  controvertida  nas  doutrinas  e  entendimentos 


acerca  da  possibilidade  ou  não  do  auxílio  por  omissão  no  suicídio,  é  que  a 
jurisprudência tem se  manifestado no sentido de que para se configurar o auxílio a 
suicídio deve a conduta do agente ser tão­somente material. 
Por  isto,  conforme  dispõe  o  tipo  penal  do  art.  122  do  CP,  no  dispositivo 
referente  ao  auxílio,  poder­se­á  entender  que  se  refere  a  uma  conduta  de  franca 
atividade  por  parte  do criminoso,  ou seja,  mediante  uma  ação comissiva.  Exemplo: 
fornecer um punhal ou uma corda a vítima. 
Nesta conduta o agente tem uma atividade secundária ou acessória, posto 
que  não participe  da execução ou consumação  do  delito. O  próprio  tipo é claro  ao 
inferir  a  conduta  “prestar  auxílio”,  que  induz  ação,  o  agir  do  agente  em  contribuir 
materialmente para uma determinada finalidade. 
Nessa linha, Marques, (1997, p. 76), entende que: 

A  conduta  ativa  tem  “fisicidade”.  O  “facere”.  O  “facere”  é  um 


acontecimento  do  mundo  natural  que  cai  sob  a  percepção  do 
homem.  A  omissão,  todavia,  é  uma  abstração,  um  conceito  de 
linhagem  puramente  normativa,  sem  naturalística.  Ela  aparece, 
assim,  no  fluxo  causal  que  liga  a  conduta  ao  evento,  porque  o 
imperativo jurídico determina um “facere” para evitar a ocorrência do 
resultado  e  interromper  a  cadeia  de  causalidade  natural,  e  aquele 
que  deveria  praticar  o  ato  exigido,  pelos  mandamentos  da  ordem 
jurídica,  permanece  inerte  ou  pratica  ação  diversa  da  que  lhe  é 
imposta. (Grifo nosso). 

Nesse mister, tem­se que a proteção ao auxílio por omissão, como se tem 
deparado na corrente majoritária, e, possuindo como pressuposto para configurar a 
punibilidade  do  agente,  o  dever  jurídico  de  impedir  o  resultado,  e  não  o  faz,  tal
37 

circunstância caracteriza­se, tão somente, omissão de socorro, conforme o disposto 
no art. 135, o mesmo se faz nos crimes que omissivos puros. 
Sobre  a  mesma  linha,  não  obstante  a  participação  sem  a  questão  da 
omissão, o verbo omitir não está expresso dentre as condutas típicas em comento, 
mas  sim  no  núcleo  do  artigo  299  do  Código  Penal.  De  tal  forma,  está  fora  da 
competência do artigo 122 do CP a ampliação de sua interpretação, ou seja, não se 
aplica  a  extensão da norma  infraconstitucional,  já  que é vedada analogia  in malam 
partem,  não  devendo ser  interpretada  a  norma  para  prejudicar  o  agente,  isso  é,  o 
conseqüente poder de punir do Estado. 
Portanto, inadmissível é  a ação omissiva  do agente para com a figura do 
suicida.  Nesse  sentido,  veja­se  o  julgado,  Salles  Júnior  (1996,  p.  325),  apto  a 
demonstrar estreme de dúvidas o pensamento da doutrina minoritária: 

Auxílio  ao  suicídio.  Delito  que  não  pode  ser  cometido  por  omissão. 
Decisão  que  rejeita  a  queixa,  consequentemente  mantida.  Não  há 
auxílio  por  omissão.  Prestar  auxílio  é  sempre  conduta  comissiva.  A 
expressão usada do núcleo do tipo (“a prestar­lhe auxílio para que o 
faça”)  do  art.  122  do  Código  Penal,  impede  a  admissão  do  auxílio 
omissivo (RT, 491:285). 

Nessa  perspectiva,  podemos  afirmar  que  o  vínculo  entre  autor  e  vítima, 


nesse  caso  específico,  está  no  fornecimento  de  subsídios  materiais  para  a 
consumação  com  a  morte  ou  lesão  corporal  de  natureza  grave.  Nas  palavras  de 
Jesus, (1997, p. 98),  indagado se há a possibilidade auxílio por omissão, o mesmo 
replicou: 
Entendemos  que  não.  A  expressão  empregada  pelo  CP,  prestar 
auxílio  para  o  suicídio,  é  indicativa  de  conduta  de  franca  atividade. 
Assim,  não  cremos  possa  existir  participação  em  suicídio  praticada 
por intermédio de comportamento negativo. 

O  dever  jurídico  de  impedir  o  resultado,  tão  apascentado  na  doutrina 


majoritária,  entende  ser  um  tanto  subjetivo,  pessoal,  a  consciência  e  vontade  do 
agente em auxiliar a vítima é que evidencia e predomina a essência do dolo. Assim, 
o auxílio ao suicídio deve ser material e não pela omissão. 
Sustentam  o  entendimento,  de  que  não  há  relevância  a  prestação  de 
auxílio por omissão, grandes mestres como Damásio de Jesus, Frederico Marques, 
Bento de Faria e Celso Delmanto.
38 

4.5  PRESTAÇÃO  DE  AUXÍLIO  POR  OMISSÃO  ­  POSSIBILIDADE  NA  VISÃO 


MAJORITÁRIA 

Ao  tecermos  algumas  considerações  sobre  o  tópico  em  destaque, 


devemos dizer que a maioria dos autores na ativa acrescenta que a omissão é válida 
se o agente estiver na posição de garantidor, ou seja, se devia ou possuía ao tempo 
da ação o dever jurídico de impedir ou evitar resultado. 
Visualizam os pensadores que o crime em questão pode se dar omissiva 
ou  comissivamente,  sendo  indispensável  o  dever  jurídico  de  evitar  que  alguém 
cometa o suicídio. Sendo assim, conclui­se que aludido dever jurídico é estreme de 
dúvidas uma possível forma de prestação de auxílio para o evento danoso. 
Ademais,  concluem  de  maneira  fundamental  que  o  dever  jurídico  de 
impedir  o  resultado  consiste,  não  só  na  inércia  do  agente  em  não  fazê­lo,  mas 
também  no  dever  do  autor  em  agir  para  evitar  o  resultado,  não  o  fazendo, 
contribuindo  conclusivamente  para  o  resultado  morte  ou  tentativa  resultante  em 
lesão corporal de natureza grave, o último elencado no artigo 129 do Código Penal 
Brasileiro. 
Acerca do auxílio por omissão, ensina­nos Bitencourt, (2004, p. 123) que: 

Deixar de impedir um evento que se tem o dever jurídico de evitar é, 
sem  sombra  de  dúvida,  uma  forma  de  prestar  auxílio  (contribuir, 
concorrer, auxiliar etc) para a ocorrência de tal evento. 

Demonstra  o  entendimento  acima,  que  se  consegue  visualizar  uma 


espécie  de  pirâmide,  iniciando  a  mesma  na  figura  do  suicida,  bem  ao  seu  lado  o 
auxiliador, logo acima a hipótese do crime, ou a iminência do crime, posteriormente, 
o dever jurídico de impedir ou evitar o resultado, estendendo­se até a omissão como 
forma de prestar auxílio. 
Na doutrina, o posicionamento favorável diz que se o agente tem o dever 
jurídico de impedir o resultado e sua ação omissiva venha a causar o evento lesivo, 
então  mister  se  faz  em  enquadrar  o  entendimento  de  que  é  possível  o  auxílio 
através da omissão.
39 

De  caráter  exemplar,  veja­se  o  caso  da  enfermeira  que  abandona  o 


paciente,  e  sabendo  que  o  mesmo  pretende  o  suicídio,  nada  o  faz  para  impedir, 
praticando assim, a participação no suicídio por omissão. 
Em  poucas  palavras,  apto  a  complementar  o  referido  entendimento, 
Prado,  (2003,  p.  122)  afirma  que  “o  auxílio  a  suicídio  por  omissão  é,  em  tese, 
admitido, se o omitente ocupa posição de garante”. 
O  garante  é  o  indivíduo  que  está  no  local  da  iminência  do  suicídio,  na 
posição  de  responsável,  e  imbuído  do  dever  jurídico  de  impedir  que  o  resultado 
consumativo aconteça ao suicida. 
Nessa luz, o auxílio por omissão nesta visão poderia se caracterizar, tanto 
na modalidade comissiva, como  também  na  omissiva  e seu  elemento  subjetivo  é  o 
dolo, ou seja, a livre e espontânea vontade em auxiliar, ou assumir o risco inerente 
ao suicídio. 
Não há, no delito malogrado, previsão culposa, e a consciência e vontade 
deverá  estar  presente,  não  bastando  o  simples  participar  do  agente  sem  a 
exteriorização ou atividade do suicida. 
Portanto,  ao  se  analisar  a  prestação  de  auxílio  por  omissão,  tem­se  a 
figura do garantidor e o especial fim de agir, com a produção do resultado, mesmo 
que seja tentado. 
Vale elucidar o artigo 13, no parágrafo que trata da relevância da omissão 
no crime em mostra: 
(...) §2º A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia 
agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: 
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; 
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado 
(..). 

Comungam  da  prestação  de  auxílio  mediante  omissão  renomados 


doutrinadores,  como  Cezar  Roberto  Bitencourt,  Maggiori,  Nélson  Hungria,  Julio 
Fabbrini Mirabete, Fernando Capez, Maggiori e Manzini.
40 

4.6  CONDIÇÕES DE PUNIBILIDADE 

Inicialmente vale citar um ensinamento de Beccaria, (1996, p. 90), sobre o 
aspecto da prevenção de crimes ao infrator. Vejamos: 

Quereis prevenir os crimes? Fazei que as leis sejam claras, simples, 
e  que toda a força  da nação  se  concentre  na  sua  defesa,  sem  que 
qualquer  parte  sua  se  empenhe  em  destruí­las.  Fazei  que  as  leis 
favoreçam  menos  as  classes  dos  homens  do  que  os  próprios 
homens. Fazei com que os homens as temam e somente a elas. 

Pondere­se, que o Código Penal prevê a punição para o injusto culpável, 
e,  diante  disso,  a  condição  de  punibilidade  ao  agente,  ficará  caracterizada  em 
virtude  de  conseqüências  bastante  específicas  para  o  cerne  da  questão,  cabendo 
logo  destacar  que,  a  punibilidade  do  indivíduo,  pela  ocorrência  de  quaisquer  dos 
verbos do tipo, deve ter uma finalidade bastante específica, ou seja, satisfativo, para 
a conseqüente aplicação de pena. 
A esse ponto, diante da previsão legal, o crime só é punido com a  morte 
ou  a  ocorrência  de  lesão  corporal  de  natureza  grave  à  vítima.  Nesse  aspecto, 
vejamos as divagações de Andrade, (2003, p. 27): 

Uma conduta não é criminal em si (qualidade negativa ou nocividade 
inerente) nem  seu autor  um  criminoso por concretos traços  de  sua 
personalidade  ou  influências  do  meio ambiente. A  criminalidade  se 
revela,  principalmente,  como  um  status  atribuído  a  determinados 
indivíduos mediante um duplo processo: a definição legal do crime, 
que atribui à conduta o caráter criminal, e a seleção que etiqueta e 
estigmatiza  um  autor  como  criminoso  entre  todos  aqueles  que 
praticam tais condutas. 

Nesse diapasão, o crime é material e só restará caracterizado, se o agente 
movido  por  dolo  em  relação  à  vítima,  tiver  por  efetiva  finalidade,  a  incursão  do 
suicídio.  No crime  em  tela  não  existe  tentativa,  pois  ninguém tenta  induzir,  instigar, 
ou  auxiliar  o  suicida,  a  tentativa,  atributo  da  vítima,  só  conduzirá  uma  sanção  ao 
agente  colaborador,  se  da  sua  ação  restar­se­á  confirmada  a  ocorrência  do 
resultado  morte  ou  lesão  corporal  grave,  ausente  tais  requisitos,  não  haverá 
punibilidade ao agente.
41 

A  tentativa  de  suicídio  é  atribuída  somente  à  vítima,  pois  se  ela  tentou 
cometer suicídio e não obteve seu intento, dar­se­á  a tentativa. Vejamos o preceito 
de Jesus, (1997, p. 101): 

Não  existe  tentativa  de  participação  em  suicídio.  Trata­se  de 


hipótese  em  que  o  legislador  condiciona  a  imposição  da  pena  à 
produção  do  resultado,  que  no  caso  pode  ser  a  morte  ou  a  lesão 
corporal de natureza grave. A simples conduta de induzir, instigar ou 
prestar  auxílio  para  que  alguém  se  suicide,  não  vindo  a  ocorrer  o 
resultado  morte  ou  lesão  corporal  de  natureza  grave,  não  constitui 
delito. 

Alimentando­nos  do  entendimento  de  Damásio  de  Jesus,  cremos  que  o 


suicídio,  se  de  sua  resultante,  for  tão  somente  lesão  de  natureza  leve,  ou  a  não 
ocorrência de morte, o fato é atípico. 
Constatada  a  tentativa  de  suicídio,  sem  a  participação  do  agente, 
resultando lesão corporal leve, pressupomos que uma tipificação a esse nível seria 
desnecessária, inútil, posto que a pessoa necessite não de uma punição legal, mas 
de tratamento médico especializado ao caso concreto. 
A pena para o participante, seja por meios morais (induzir ou instigar), ou 
materiais  (auxílio  franco)  no  suicídio  é  de  2  (dois)  a  6  (seis)  anos,  se  o  suicídio  é 
consumado; ou reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, se dessa participação, venha a 
causar na vítima, uma tentativa de suicídio resultante em lesão corporal de natureza 
grave. 
Assim é o entendimento da jurisprudência que “sem que a vítima se mate 
ou tente se matar, não pode haver tipificação do art. 122”. (TJSP, RT 531/326). 
Na  mesma  ocasião,  o  fundamento  da  punibilidade  da  participação  no 
suicídio  não  é  a  inalienabilidade  do  direito  à  vida.  Não  existe  um  direito  sobre  a 
própria vida,  ou seja,  um  direito  de  dispor da própria vida, consentido validamente. 
Não há direitos e deveres jurídicos perante si mesmo. 
Na realidade, o fato de o suicídio não ser considerado crime, não significa 
que  o  suicídio  seja  indiferente  para  o  direito,  contribui  negativamente  e  vai  contra 
interesses morais, éticos e aspectos demográficos de interesses do Estado.
42 

4.7  FORMAS QUALIFICADAS DO DELITO 

Na  espécie  fundada  no  art.  122  do  Código  Penal  Brasileiro,  temos  dois 
incisos, referentes à aplicação duplicada de pena ao cúmplice em suicídio, são elas: 
A pena de 2 (dois) a 6 (seis) anos de reclusão, será duplicada: 
I ­ se o crime é praticado por motivo egoístico; 
II  ­  se  a  vítima  é  menor  ou  tem  diminuída,  por  qualquer  causa,  a 
capacidade de resistência. 
Com  efeito,  passemos  à  análise  individual  das  espécies  de  aumento  de 
pena. 

4.7.1  Motivo egoístico 

Esta  espécie  de  aumento  de  pena  demonstra  a  questão  do  ganho 
material, ou vantagem pessoal com a morte da vítima, ou seja, há a vontade de agir, 
por parte do participante em cometer qualquer dos verbos do tipo, sendo necessário, 
para  restar  configurada,  a  morte  da  vítima  (consumação)  e  a  obtenção  do  lucro 
visado pelo participante. 
O egoísmo pode se caracterizar também pelo ódio e vingança por parte do 
participante, em querer a total desconsideração com a sorte alheia. 
O egoísta tem por objetivo, tirar, seja por quaisquer meios, a pessoa fitada 
que é a sua afronta, para conseguir algum propósito pessoal ou benefício. 
Na visão de Nucci, (2007, p. 563): 

Motivo  egoístico:  trata­se  do  excessivo  apego  a  si  mesmo  o  que 


evidencia  o  desprezo  pela  vida  alheia,  desde  que  algum  benefício 
concreto  advenha  ao  agente.  Logicamente,  merece  maior  punição. 
Exemplos  típicos:  induzir  alguém  a  se  matar  para  ficar  com  a 
herança ou para receber valor de seguro.
43 

4.7.2  Vítima menor de idade 

A  menoridade tem  sido assunto  muito  discutido no  Brasil,  pois  as  idades 


revelam  gêneros  diferentes,  para  a  aplicação  e  relevância  para  configuração  do 
crime,  e  em relação  ao  propósito  do  participante  em  estimular  o  suicídio  na vítima 
menor, o Código Penal Brasileiro não expressa uma idade certa, mas faz menção a 
idade  em  outros  dispositivos,  relativos  a  outros  critérios,  mas  por  certo,  como  se 
referem  algumas  correntes  doutrinárias,  que  a  faixa  etária  mais  aceita,  é  a 
compreendida entre os 14 e 18 anos de idade. 
Portanto, nessa espécie de aumento de pena, se a vítima for menor de 14 
anos  de idade, seu consentimento  é  inválido,  ou seja,  irrelevante, uma  criança não 
possui  o  discernimento mental  para saber  o tamanho da  gravidade  do suicídio,  por 
sua autoria ou iniciativa. 
Em razão disso, se o participante comete quaisquer dos verbos do tipo em 
tela em face da vítima menor de 14 anos, por esta não ter qualquer capacidade de 
resistência e discernimento do que é certo ou errado, o mesmo estaria cometendo o 
crime de homicídio doloso. 
Com  relação  à  idade  máxima  adotada,  18  anos  de  idade,  se  deu  pela 
questão do Código Civil Brasileiro, que tem como critério, a maioridade civil a partir 
dessa  idade,  sendo,  portanto,  plenamente  apta  e  matura  aos  atos  da  vida  civil,  e 
também suficientemente capaz de enfrentar as responsabilidades da vida. 
Se a vítima do crime tiver mais de 18 anos de idade, se aplicará o caput 
do artigo. 
Nesse sentido, Salles Júnior, (1996, p. 324/325): 

Ser a vítima menor –  porém, com discernimento, para hipótese não 
se  transmude  em  homicídio.  Fala­se  em  idade  entre  14  e  18  anos, 
com  base  na  sistemática do  Código  Penal,  que contém dispositivos 
relativos a outros critérios nessa faixa etária. 

Desta feita, essa agravante se refere somente ao ato de induzir ou instigar 
vítima menor.
44 

4.7.3  Capacidade de  resistência da  vítima  diminuída  por  qualquer  causa:  art. 


122, parágrafo único, inciso II 

Essa  terceira  espécie  de  aumento  de  pena  nos  denota  que  a  vítima 
necessita ter reduzida sua capacidade de resistência para se configurar a agravante 
especial. Dessa forma, interpretando tal resistência, a título ilustrativo, podemos citar 
a enfermidade física, indivíduo possuidor de deficiência física, utilizando uma cadeira 
de  rodas,  como  também  o  deficiente  mental  ou  pessoas  com  idade  avançadas 
(idosos), tudo isso são causas que contribuem para o evento danoso. 
Para Jesus, (1997, p. 102/103): 

A  terceira  qualificadora  prevê  a  hipótese  de  a  vítima  ter  diminuída, 


por qualquer causa, a capacidade de resistência, como enfermidade 
física ou  mental, idade  avançada etc. Ex.: induzir  ao  suicídio vítima 
embriagada.  Nesta  hipótese,  a  embriaguez  deve  apenas  diminuir  a 
capacidade  de  resistência  da  vítima.  Anula­se  completamente  tal 
capacidade, terá o sujeito cometido homicídio e não participação em 
suicídio. 

Essa  terceira  agravante  de  pena  faz  menção  à  resistência  da  vítima  em 
face do participante, ou seja, para que se concretizem as condutas típicas, a vítima 
deve  demonstrar  a  capacidade  e  o  discernimento  de  resistir  e  entender  o  que  lhe 
está  sendo  ilicitamente  proposto  pelo  cúmplice.  Deve  compreender  que  o 
participante está oferecendo se indução, instigação ou auxílio. 
Entretanto,  o  texto  legal é claro  ao dizer  diminuição  de  resistência  e não 
eliminação  de  resistência,  ou  seja,  se  o  participante  eliminar  totalmente  a 
capacidade  de  resistência  da  vítima,  ou  forçá­la  a  se  matar,  como  por  exemplo,  o 
participante fornece uma arma de fogo à vítima, que forçada, atira contra si, ou até 
mesmo  afirmando  fraude  em  sua  conduta  entregando  uma  arma  para  a  vítima, 
dizendo  que  a  mesma  está  sem  munição,  com  a  conseqüente  morte  da  vítima, 
restará  evidenciado  então,  a  prática  do  homicídio,  devido  à  eliminação  do  agir  da 
vítima em se defender. 
No  que  se  refere  à  diminuição  de  resistência  expressa  no  referido  tipo 
legal, pode se dar por vários motivos, o fato de a vítima estar embriagada no  meio 
da rua, onde se aproxima uma inimizade, fazendo com que a mesma, sob os efeitos 
de álcool venha a se matar.
45 

Haja  vista  também  outros  efeitos,  como  angústia,  drogas,  alguma 


enfermidade grave, fatores redutores e não eliminadores da resistência da vítima. 
Portanto, se a vítima tem sua capacidade de resistência diminuída, o crime 
será o do artigo 122 do Código Penal, e não o de homicídio. 

4.8  PACTO DE MORTE 

Sobre  o  tema,  no  que  se  refere  ao  induzimento,  instigação  ou  auxílio  ao 
suicídio,  não  poderíamos  deixar  de  olvidar  a  questão  do  suicídio  em  conjunto,  tal 
seja, pacto de morte. 
Desta  forma,  a  título  de  exemplificativo,  um  casal  de  amigos  que 
indignados  e  incompreensíveis  por  terem  seus  pais  falecidos,  e  não  possuírem 
nenhum  tipo  de  sustentabilidade  material  e  financeira  resolve  se  suicidar,  obtendo 
total êxito na empreitada trágica. 
Por  entendimento  doutrinário,  podemos  dizer  que  se  ambos  os  amigos, 
estando  cada  qual  com  uma  arma  de  fogo,  e  um  deles  vem  a  morrer  e  o  outro 
sobrevive,  por  erro  em  sua  auto­execução,  estaríamos  diante  do  delito  de 
induzimento, instigação e auxílio ao suicídio. 
Se  estivermos  diante  de  um  caso  de  suicídio  a  dois,  sob  a  hipótese  de 
ambos  decidirem  eliminar  suas  vidas  dentro  de  um  carro  completamente  fechado, 
com uma mangueira guarnecida dentro deste, exalando monóxido de carbono, com 
o  fito  de  asfixia,  havendo  apenas  um  sobrevivente,  responderá  pelo  crime  de 
homicídio  (art.  121  do  CP)  aquele  que  abriu  a  mangueira  com  a  fumaça  tóxica. 
Contudo,  se  houver  um  sobrevivente,  e  não  for  este  o  autor  da  abertura  da 
mangueira, responderá pelo delito do art. 122 do codex. 
Caso  os  dois  sobrevivam  ao  suicídio,  e  haja  lesão  corporal  de  natureza 
grave,  quem  abriu  a  mangueira  contendo  o  gás  responderá  por  homicídio  tentado 
(art. 121, caput, c/c art. 14, inciso II, do CP) e quem não abriu responde pelo crime 
do art. 122 do CP. 
Diante  da  sobrevivência  dos  suicidas,  não  decorrer  lesão  corporal  de 
natureza  grave, responderá  por  homicídio tentado  o  agente que abriu  o gás,  e  não
46 

responderá  por  nenhum  crime  àquele  que  sobreviveu  à  ação  daquele  que  abriu  a 
mangueira no interior do carro, pois se trata de fato atípico. 
Ocorrendo o não êxito dos agentes na ocorrência suicida, e estes tiverem 
acionado a mangueira, responderão, tão­somente, por homicídio tentado, conforme 
tipificação acima citada. 

4.9  TESTEMUNHAS DE JEOVÁ 

Em breves linhas, as testemunhas de Jeová é uma seita que teve origem 
em 1872, na Pensilvânia por Charles Taze Russel, tendo como premissa objetiva, a 
não  aceitação  de  sangue,  como  forma  de  transfusão,  ou  seja,  acreditavam,  sob  a 
Palavra de Deus, conforme descrito na bíblia sagrada em Deuteronômio, capítulo 12, 
versículos  15  e 16, que o sangue  de terceiros  não  poderia ser colocado  em nosso 
organismo. 
Desta forma, acreditavam que a alma de outra pessoa estaria adentrando 
em  suas  vidas,  tendo  por  alternativa,  nesse  caso,  a  morte.  Atualmente,  temos 
dezenas  de  denúncias  e  centenas  de  mortes  ao  ano  de  pessoas  dessa  seita,  em 
razão  da  não  aceitação  de  transfusão  de  sangue,  palavreado  pelos  líderes  do 
referido grupo religioso. 
Analisando sob o espeque jurídico, se diante da hipótese de um enfermo, 
agrego à testemunha  de Jeová,  necessitando  da  transfusão  de sangue, se  nega a 
aceitá­la, o médico então, fundamentado no artigo 146, inciso I, parágrafo 3º do CP, 
poderá  intervir,  de  maneira  médica  ou  cirúrgica,  para  o  resguardo  da  vida  do 
paciente. 
Ressalte­se,  que  tal  intervenção  é  efetivamente  capaz  de  ser  feita,  sem 
qualquer  anuência  do  paciente  ou  de  seu  representante  legal,  obviamente, 
justificado pelo fator perigo de vida do paciente.
47 

4.10  GREVE DE FOME 

Questão muito discutida no Brasil, principalmente no público jovem, onde 
sua  ocorrência  é  maior,  é  a  greve  de  fome,  momento  este  e  denominação  muito 
utilizada por pessoas que possuem certos ideais, geralmente por reformas políticas 
e reivindicações de certos direitos. 
Entendemos que a greve de fome é nada mais que a “fome de direitos”, ou 
seja,  a  busca  para  um  fim,  para  a  conseqüente  saída  de  uma  situação  indigna  ou 
insatisfatória,  visando  cessar  o  paradoxo  controverso  dos  direitos  e  almejos 
lançados  pelo  cidadão.  A  greve  de  fome  em  forma  de  protesto  pode  acarretar 
conseqüências  desastrosas  com  a  real  morte  do  reivindicante  ou protestante,  para 
então,  servir  de  exemplo,  como  forma  de  sensibilização  e  abalo  às  autoridades 
locais. 
Note­se, por exemplo, que se alguns manifestantes resolvam pular de uma 
ponte,  simultaneamente,  o  caso  será  de  pacto  de  morte,  pois  todos  agiram  em 
decorrência do outro, por estímulo recíproco. De qualquer modo, a caráter exemplar, 
podemos citar o caso do bispo Luiz Flávio Cappio, que em 2005 protestou contra o 
projeto de transposição do Rio São Francisco, se mantendo em greve de fome. 
Temos também o caso de Anthony Garotinho, que 2006 se fez em greve 
de  fome  por  11  dias,  em  razão  de  perseguições  políticas  e  vorazes  tentativas  por 
parte da mídia em destruir a imagem política e social perante a sociedade brasileira. 
Por fim, podem existir diversas situações nas quais poderá constar a greve 
de  fome,  porém  devem­se  analisar  minuciosamente  as  situações  nas  quais  se 
enquadram  os  fatos  sociais,  o  contexto  em  questão,  para  se  chegar  a  uma 
conclusão,  de  se  saber  realmente  o  que  pode  chegar  a  ser  suicídio  ou  se 
porventura,  continue  tal  greve,  ou  simplesmente,  uma  mera  ação  protelatória,  no 
sentido  de  somente  chamar  a  atenção  da  mídia  e  do  público  alvo  para  obter  a 
finalidade perseguida.
48 

4.11 ROLETA RUSSA 

A  Roleta  Russa,  termo  muito  empregado  nos  filmes  “hollywoodianos”  à 


ação  utilizada  com  arma  de  fogo,  tem  por  característica  um  só  disparo  válido, 
efetivamente desferido pelo participante suicida (aquele que se junta a outrem para 
praticar  o  suicídio  usando  uma  arma  de  fogo)  ou  àquele  que  está  sendo  coagido 
fisicamente ou moralmente para tal conduta. 
Vale  salientar  que  a  roleta  russa  é  muito  empregada  e  utilizada  por 
traficantes,  chefes  de  quadrilha  e  assassinos  frios  e  calculistas  como  forma  de 
tortura moral às vítimas. Como forma de coação e sofrimento moral, a roleta russa é 
o  meio  dos  chamados  “carrascos”  de  se  utilizarem  desta,  para  que  ao  invés  de 
matarem  alguém  de  forma,  digamos  “simples”,  agem  de  forma  cruel  e 
manifestamente  insana,  colocando  esses  instrumentos  de  fogo  em  punho  das 
vítimas, para que as mesmas venham consequentemente a ceifar suas vidas. 
Há  também  os  participantes,  que  em  conjunto,  tramam  suas  mortes,  por 
meio  da  roleta  russa,  municiando  a  arma  com  uma  só  bala,  e  disparando  esta, 
sucessivamente, até que se chegue a um efetivo disparo resultando o óbito.
49 

5 CONCLUSÃO 

O  presente  estudo,  na  medida  de  suas  limitações,  procurou  avaliar  e 


demonstrar  os  aspectos  conceituais  acerca  do  suicídio,  evidenciando  sua 
complexidade,  bem  como  expandido  a  essência  sobre  o  assunto,  que  tem  se 
demonstrado escasso perante aos olhos da sociedade. 
Ressaltamos oportunamente no referido tema, a integração entre preceitos 
históricos  e  elementos  atuais,  tais  quais  presenciamos cotidianamente,  relatando a 
importância  em  remetermos  o  leitor  ao  passado,  onde  passo  a  passo  narramos  a 
origem do suicídio e sua evolução com o decorrer dos tempos. 
Tentamos  expandir  ao  máximo  nossas  visões  aos  leitores,  tanto  para  o 
passado,  presente  e  futuro  com  algumas  ações  visadas,  tendo  como  simplório 
intuito, manifestar aludidas idéias para os indivíduos  da sociedade brasileira para o 
alcance de uma melhor compreensão sobre a figura do suicida, suicídio, e da figura 
delituosa tipificada no art. 122 do Código Penal Brasileiro. 
Com o objetivo de dinamizar o trabalho no campo sociológico e filosófico, 
pesquisamos com extrema cautela estudos referenciais deixados por Émile Durkeim, 
Cesare Beccaria e Albert Camus, estudiosos estes, que tão­somente enriqueceram 
o bojo do trabalho. Em decorrência destes valorados homens, transpomos algumas 
de suas idéias com o fulcro de pluralizar conceitos, ações e entendimentos sobre o 
suicídio, levando tais ditames a diversos especialistas e estudiosos da área, não só 
do ramo do Direito, mas também da psicologia, medicina, serviço social, sociologia e 
filosofia. 
Trouxemos no cerne da pesquisa o instituto da Suicidologia, carecedor de 
conhecimento  em  nosso  país,  fundado  em  Portugal,  objetivando,  sucintamente, 
contribuir  e  elencar  seu  objeto,  finalidade  e  a  forma  como  o  mesmo  tem  sido 
trabalhado em Portugal, não deixando de olvidar um simples e ousado paralelo com 
a Criminologia, relativizando a análise física e comportamental do suicida, e o último 
a figura do criminoso nato. 
Caracterizamos  minuciosamente,  visando  um  entendimento  célere, 
questões relacionadas às causas e indicadores de risco, pois tais incidentes podem 
ser  de  grande  valor  para  formações  de  núcleos  preventivos  e  psicossociais  de 
reintegração voltado para a pessoa com fortes tendências suicidas.
50 

Sistematizamos,  no  tocante  ao  crime  de  participação  ao  suicídio  e  suas 
peculiaridades jurídicas, o sujeito ativo, passivo, relatando a desenvoltura no tipo em 
comento,  salientando  também  a  posição  das  correntes  doutrinárias  com  relação  à 
possibilidade  e  impossibilidade  de  auxílio  por  omissão,  ressalvando  que  o  nosso 
entendimento  pessoal  fica  guarnecido  na  corrente  que  não  apóia  o  auxílio  por 
omissão,  direcionando  ao  leitor  que  a  participação  no  suicídio,  sustentada  pela 
corrente minoritária, deve ser franca ou ativa. 
Pesquisamos  elementos  suficientes  para  narrar  às  condições  de 
punibilidade  do  agente  e  os  momentos  adequados,  ou  seja,  nas  hipóteses 
determinadas pela ação deste. 
Evidenciamos as circunstâncias agravantes para o crime em tela, ou seja, 
vítima  menor,  capacidade  de  resistência  diminuída  e  motivo  egoístico,  onde 
conseguimos reforçar conceitos e diversos entendimentos doutrinários. 
Tratamos,  de  maneira  ímpar,  mecanismos  especiais  acerca  do 
induzimento,  instigação  e  auxílio  ao  suicídio,  que  são  greve  de  fome,  pacto  de 
morte, testemunha  de  Jeová  e  a roleta russa,  e, por conseguinte,  retrair  a atenção 
das  pessoas para  essas questões que a  todo  o  momento  surge  na  mídia,  gerando 
diversas polêmicas, para que, após uma eventual reflexão e interesse amplo, possa 
corroborar questões pertinentes, escrever e colocar em prática um pouco mais sobre 
a parte filosófica, histórica e jurídica sobre o suicídio, bem como suas características 
criminais e sociais. 
Levando em consideração os aspectos acima citados, cremos que nossos 
ideais  e  valores,  acerca  do  estudo  em  análise  foram  alcançados,  onde  nos 
justificamos  inicialmente  em  elevar  nosso  entusiasmo  e  atenção  para  expressar  e 
concretizar  nossos  pensamentos  aqui  instituídos,  que  pela  escassez  do  tema,  na 
seara  jurídica,  certa  forma  limitada,  não nos trouxe  em  nenhum  momento  qualquer 
barreira ou empecilho que pudesse nos desviar do foco. 
Assim,  dentro  de  nossas  limitações,  trouxemos  algumas  considerações 
que mereciam ser feitas, expandindo à máxime visionária dos estudiosos do Direito, 
professores das ciências criminais, sociólogos, suicidólogos e especialistas em geral 
as propostas tecidas.
51 

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